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Capítulo 20

DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
DO ACIDENTE VASCULAR
ENCEFÁLICO
UANDERSON PEREIRA DA SILVA¹
LARISSA CRISTINA CLEMENTINO LARA CAIADO²
LAURA VICTORIA PEREIRA SANTOS COSTA³
CARLOS EDUARDO MARTINS ALVES⁴
JOSÉ SONGLEI DA SILVA ROCH ⁵
MATHEUS VALLIM MACHADO⁶
BRUNA COSTA QUERIDO²
STEPHANIE DE SOUSA⁷
IASMIN QUEIROZ NASCIMENTO⁸
BRUNA LARISSA PASSOS NUNES⁹
WALESKA MARIA LIMA¹⁰
ISABELLA SEQUETTO TERROR¹¹
RODRIGO MIRANDA GROBERIO¹²
LOUYSE ISABELLE VIEIRA GARCIA¹³
BEATRIZ MACIEL DE CARVALHO¹⁴
ROGÉRIO MARQUES GUIMARÃES¹⁵
THAYANI MION¹⁶
BÁRBARA VITÓRIA MARINHO MOREIRA E SANTOS¹⁷
LEONARDO WILNER BARROS SILVA¹⁸
GABRIEL CAMARGO DORIA RAMOS¹⁹
LAISA BRAZ STAZAUSKAS²⁰
GABRIEL ALVES ESTEVES DUARTE²¹
JOSÉ RICARDO BARACHO DOS SANTOS JÚNIOR²²
GABRIELLA AMÂNCIO MATOS²³

1. Médico - Universidade de Aquino Bolívia . 13. Médica – Faculdade Pernambucana de Saúde


2. Médica – Universidade de Rio Verde . 14. Médica – Universidade do Vale do Sapucaí
3. Fisioterapeuta– Faculdade Bahiana de Medicina e Saúde Pública 15. Médico – Universidade de Taubaté
4. Médico – Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro. 16. Médica – Universidade de Passo Fundo.
5. Médico – Universidade Federal de Mato Grosso 17. Médica – Universidade José do Rosário Vellano
6. Médico – Universidade Evangélica de Goiás 18. Médico – Universidade Federal do Ceará
7. Médica – Universidade de Rio Verde 19. Médico – Universidade Metropolitana de Santos
8. Médica – Associação Educacional Nove de Julho 20. Médica – Faculdade de Ciências Médicas da Santa
9. Médica – Centro Universitário São Lucas Casa de São Paulo.
10. Médica – Universidade de Cuiabá 21. Médico – Faculdade de Medicina de Petrópolis
11. Médica – Universidade do Grande Rio 22. Médico – Centro Universitário Maurício de Nassau.
12. Médico – Universidade Vila Velha 23. Médica _ Universidade Federal de Campina Grande

Palavras Chave: Acidente vascular encefálico; Hipertensão arterial; Tratamento.

10.59290/978-65-81549-93-0.20 177 | P á g i n a
dos do tipo revisão, meta-análise, disponibiliza-
INTRODUÇÃO dos na íntegra. Os critérios de exclusão foram:
O acidente vascular encefálico (AVE) cor- artigos duplicados, disponibilizados na forma de
responde a um complexo de enfermidades rela- resumo, que não abordavam diretamente a pro-
cionadas a suspensão focal e súbita da circula- posta estudada e que não atendiam aos demais
ção sanguínea do encéfalo, ocasionando déficits critérios de inclusão.
neurológicos. A dupla classificação do AVE é Após os critérios de seleção restaram 15 ar-
representada pela aparição isquêmica (o mais tigos que foram submetidos à leitura minuciosa
comum) e o hemorrágico, sendo ambas emer- para a coleta de dados. Os resultados foram
gências neurológicas, e a apresentação clínica apresentados de forma descritiva, divididos em
destes revelam notável superposição e urge por categorias temáticas abordando: descrever os
análises de imagem para distinguir essas ocor- subtítulos e pontos que foram mencionados na
rências. Ademais, têm se o ataque isquêmico discussão.
transitório (AIT), a qual se assemelha muito ao
acidente vascular cerebral (AVC) do tipo isquê-
RESULTADOS E DISCUSSÃO
mico, porém não cursa com injúria cerebral de- Encontram-se na literatura vários estudos
finitiva e a sintomalogia possui resolução em sobre o AVE. Há concepções mais restritas que
cerca de uma hora (OLIVEIRA, 2021). abordam apenas aspectos anatomopatológicos e
A condição de AVE ou popularmente co- epidemiológicos e outras mais amplas que inte-
nhecido como derrame, é uma situação que ne- ragem com os fatores de risco, fisiopatológicos
cessita ser precocemente identificada e tratada, e manejo clínico. Nas concepções mais restritas,
pois o déficit deste pode ocasionar lesões inca- o AVE não abrange a magnitude com relação
pacitantes, irreversíveis e até evoluir para o aos itens de prevalência e incidência, proporci-
óbito (ARAÚJO, 2008). onal aos aspectos epidemiológicos. O manejo na
O objetivo deste estudo foi descrever os fase aguda deve ser feito no período determi-
princípios que fundamentam o diagnóstico e tra- nado para impossibilitar a morte do tecido cere-
tamento do acidente vascular encefálico. bral (SANTOS, 2008).
Conforme estimativas da Organizar Mun-
MÉTODO dial da Saúde (OMS), o AVC tem a segunda co-
Trata-se de uma revisão narrativa realizada locação nos determinantes de óbito mundial, in-
no período de fevereiro a março de 2023, por cidindo principalmente em adultos de meia
meio de pesquisas nas bases de dados: PubMed idade e idosos (TRICHES, 2009).
e Medline. Foram utilizados os descritores: dé- Majoritamente, o AVC do tipo isquêmico é
ficit neurológico, acidente vascular encefálico e o mais comum, ocorrendo mediante déficit de
tratamento. Desta busca foram encontrados 16 suprimento sanguíneo cerebral, normalmente
artigos, posteriormente submetidos aos critérios oriundo do desenvolvimento de uma placa ate-
de seleção. rosclerótica ou existência de um coágulo pro-
Os critérios de inclusão foram: artigos nos vindo da circulação de outra região do corpo. A
idiomas português, inglês e espanhol; publica- aterosclerose promove o desenvolvimento de
dos no período de 2008 a 2022 e que abordavam placas e gradualmente estenose do vaso. A
as temáticas propostas para esta pesquisa, estu- trombose cerebral tange à estruturação ou for-
mação de um coágulo sanguíneo ou trombo no

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íntimo das artérias cerebrais, ou de seus ramos, com a tomografia computadorizada (TC) do crâ-
que migram efetuando a obliteração e isquemia. nio para diagnóstico diferencial (RANGEL,
O tipo hemorrágico menos comum, se dá por 2013).
pela rotura de um vaso sanguíneo e subsequente O rebaixamento do nível de consciência é
disseminação sanguínea. O foco hemorrágico há comum em intercorrências como a hemorragia
a possibilidade de ser intracerebral ou subarac- intracerebral junto do efeito expansivo e tam-
nóide, sendo que nos dois, a escassez de abaste- bém no acidente vascular isquêmico, conse-
cimento sanguíneo gera infarto na porção su- quentemente pode haver implicação do estado
prida pelo vaso e as células falecem (SANTOS, mental. Este evento pode ocasionar a aspiração
2008). de elementos orofaríngeos ou respiração inade-
No AVE do tipo isquêmico as complicações quada devido a oclusão das vias respiratórias
são correspondentes ao nível de isquemia, em (OLIVEIRA, 2001).
eventos leves, o acometimento é restrito e in- A hipertensão arterial é comum, sendo um
completo, mas com considerável injúria celular achado inespecífico á injúria cerebral, podendo
e altamente restaurável, mediante recuperação ocorrer no AVC do tipo isquêmico e hemorrá-
do fluxo sanguíneo denominado zona de pe- gico. No AVC do tipo isquêmico trata-se de um
numbra e em casos mais graves, incide uma ne- mecanismo compensatório, por propiciar a ele-
crose neural seletiva, caracterizado pelo óbito vação da perfusão cerebral para regiões de pe-
neuronal total (CARVALHO, 2022). numbra isquêmica, isto é para porções margina-
No que diz respeito aos agentes de risco do lizadas do cérebro, sendo um potencial de risco
AVE, estes são agrupados em uma dupla classi- induzir o declínio nas horas iniciais do AVC,
ficação, os tratáveis e os não tratáveis. Os não pois pode acentuar a deterioração do déficit neu-
tratáveis abordam a faixa etária superior a 60 ral. No entanto, em situações em que a PA sis-
anos, raça negra, histórico familiar de ocorrên- tólica for superior a 220 mmHg e a diastólica
cias e AVE prévio. Os tratáveis têm a hiperten- acima de 120 mmHg ou mediante evidência que
são arterial como principal representante, pato- os altos níveis pressóricos estejam acarretando
logias cardiovasculares, diabetes mellitus, taba- danos aos órgãos terminais. É indicado que o
gismo, etilismo, obesidade e sedentarismo alvo pressórico seja uma sistólica de 180 mmHg
(TRICHES, 2009). (RANGEL, 2013).
A intervenção precoce no AVE é transcen- O achado de fibrilação atrial com reação
dente, logo o foco no procedimento não deve se ventrícular abrupta ou demais taquiarritmias no
limitar a analisar indícios neurológicos sutis, in- começo é frequente e deve ser regularizada. A
comuns ou intrigantes, mas a identificação de 5 administração de diltiazem ou metoprolol é a
preferências comuns. Estas consistem em aferir conduta indicada, junto de um monitor cardíaco
o nível de consciência e assegurar a adequação para analisar a frequência cardíaca ou mediante
das vias aéreas, ventilação e circulação, realizar queixas de palpitações e dor torácica (OLI-
a anamnese, priorizando o início de surgimento VEIRA, 2021).
ou da revelação da sintomalogia e o cadastro dos A angústia respiratória exige a inserção de
fármacos atualmente manuseados, ofertar um um monitor de saturação de oxigênio e comple-
acesso intravenoso calibroso e colher amostras mento de oxigênio por cânula nasal. Destacando
sanguíneas para exame, estipular o escore na que os acometidos por vigorosa dispneia ou im-
National Institutes of Health (NIH) e proceder plicação do nível de consciência, como torpor

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ou coma devem ser intubados, justificado pelo bom prognóstico, em contraste pode também
descontrole das vias respiratórias culminar em pode representar um risco para conversão he-
parada respiratória ou aspiração substancial morrágica, principalmente nos indivíduos que
(CARVALHO, 2022). receberam tardiamente a medicação em relação
A sintomatologia geralmente existente no a aparição sintomatológica e em contextos de
AVC são assimetria facial, prostração ou inco- consideráveis modificações isquêmicas. Ade-
ordenação de um membro, dormência ou pares- mais, não só o intervalo temporal é uma contra-
tesias lateralizada, afasia, diplopias, tontura ou indicação para a terapia com ativador de plasmi-
vertigem, marchas instáveis, cefaleia e oscila- nogênio, mas também a elucidação de hemorra-
ções do nível de consciência (CARDOSO, gia na TC, indícios de infarto, histórico pre-
2008). gresso de coagulopatias ou utilização de antico-
Atualmente, o manejo da emergência do agulantes, trombocitopenia, altos índices pres-
AVE é equiparável ao direcionado ao portador sóricos, cirurgia de grande porte ou traumatismo
de traumatismo cranioencefálico, o propósito é expressivo. Ressaltando que a pressão arterial
atenuar o período de tempo entre a ascensão do de ser retida abaixo de 180/105 mmHg no mí-
paciente ao setor de emergência e a execução de nimo por 24 h pós administração de tPA para
uma da TC, devido ao manejo seguinte ser com- abrandar a conversão hemorrágica (CARVA-
pletamente vinculado aos resultados deste. Me- LHO, 2022).
diante o AVE isquêmico, o protocolo é realizar Os pacientes que não comportam tPA de-
a TC em até 20 minutos e principiar a infusão de vem receber o ácido acetilsalicílico o mais pre-
tPA nos 60 minutos desde a chegada ao depar- coce possível, em situações em que já houve
tamento de emergência (PEREIRA, 2009). manuseio de tPA, o AAS só deve ser estreado
A conduta terapêutica após o estudo das 24 h pós esse evento, minimizando o risco de
imagens da TC varia conforme a confirmação conversão hemorrágica (CABRAL, 2012).
da classificação do AVE. A apresentação he- Estima-se que a tPA é circunscrito em con-
morrágica fundamenta-se na contenção das de- junturas que envolvem a oclusão dos principais
sordens de patologias pré-existentes, como dia- vasos sanguíneos intracranianos por enormes
betes, hipertensão arterial, coagulopatias, poste- coágulos, limitando a porcentagem de recanali-
riormente a condução apropriada para a hiper- zação e o pior resultado. O procedimento se-
tensão intracraniana. Os níveis pressóricos de- guinte consiste na passagem da terapia interven-
vem ser reduzidos. Além do mais, é importante cionista intermediária para intervenção endo-
identificar a etiologia, a quais podem ser hiper- vascular no decorrer da infusão de tPA. Caso
tensão arterial ou aneurisma, ambas de interven- identificado, obliteração de um vaso calibroso,
ção distinta (BOTELHO, 2016). está é eleita para remover o coágulo através da
O tipo isquêmico, exige a instituição em um aspiração, dispositivo em saca-rolhas ou stent
curto intervalo de tempo da terapia de reperfu- recuperável (CARDOSO, 2008).
são, pois têm sua eficiência da trombólise com A angiotomografia computadorizada é re-
tPA por via intravenosa reduzida proporcional- quisitada para localizar a obliteração passível de
mente à média que a isquemia aguda progride terapêutica de algum vaso sanguíneo calibroso
para infarto. Quando este protocolo for estabe- ao longo do tratamento com tPA ou em casos
lecido nas 3 h pós início sintomatológico este agudos de AVE ou contraindicações ao uso
exponencia a possibilidade a restauração e o desta. A trombectomia mecânica efetuada nas 6

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horas iniciais depois do primórdio sintomatoló- CONCLUSÃO
gico aperfeiçoou a resolução clínica do AVE
Após a análise das informações levantadas
com oclusão determinada por vaso sanguíneo
neste estudo elucida-se que o acidente vascular
calibroso. A internação em unidade especiali-
encefálico é um complexo acometimento neuro-
zada ou para UTI específica em AVE, é uma op-
lógico, a qual cursa com exuberante quadro clí-
ção que varia conforme o contexto clínico, até
nico, mas que possui dupla classificação, a qual
mesmo patologias ativas e risco abrupto de de-
para o manejo precoce e adequado deve ser
clínio neurológico (BARELLA, 2019).
prontamente diagnosticado e tratado. Este tem
A conduta adequada no tempo ideal é cru-
sua importância representada pelo tempo limi-
cial para prevenir que o AVE seja um evento
tado, a qual é um obstáculo definir com precisão
alarmante, porém é imprescindível estabelecer
o início sintomatológico, e quando ultrapassado
medidas de suporte como a correção de febre,
resulta em incapacidades, inválida o padrão te-
desidratação, hiperglicemia, orientações volta-
rapêutico por trombolíticos e em alguns casos
das para cessação de etilismo e tabagismo (BO-
levar a óbito. Este desfecho, é altamente relaci-
TELHO, 2016).
onado ao AVE do tipo hemorrágico, a qual fe-
lizmente é, menos comum que o isquêmico.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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