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Botânica

O grão-de-bico é uma leguminosa, diploide (2n=16), autógama, em que a polinização é


completada antes da abertura das flores, fenômeno denominado de cleistogamia.
Pertence a família Fabaceae, subfamília Papilionoideae e da tribo Cicereae. O
gênero Cicer possui 43 espécies, sendo 9 anuais incluindo o grão-de-bico, 33 perenes e
uma não especificada. Possui uma ampla variação morfológica, devido a fatores genéticos
e ambientais e também a interação entre eles. 

Tabela 1. Composição nutricional do feijão e do grão-de-bico (por 100 g).

Componente Feijão-preto Feijão-carioca Grão-de-bico


Calorias (cal) 77 76 355
Proteínas (g) 45,5 4,8 21,2
Lipídeos (g) 0,5 0,5 5,4
olesterol (mg) 0,0 0,0 0,0
arboidrato (g) 14 13,6 57,9
Fibra (g) 8,4 8,5 12,4
Cálcio (g) 29 27 114
Ferro (mg) 1,5 1,3 5,4
Fonte: UNICAMP (2011).

Sua germinação é do tipo hipógea (Figura 2). As plântulas crescem de forma


ereta mostrando ao nível do solo as primeiras folhas que surgem fechadas, sendo que
os cotilédones permanecem sob o solo. As primeiras folhas verdadeiras têm dois ou três
pares além de uma folha  terminal. A maior parte da plântula é rica em pilosidade. A raiz
primária é comprida e ramifica com muita rapidez. Suas hastes apresentam ramificações,
sendo estas classificadas em: primárias, secundárias e terciárias. No entanto, a descrição
convencional remete a cinco classes de hastes:

 Primária basal (emerge das axilas foliares na parte inferior da haste principal);


 Primária apical (emerge das axilas foliares na parte superior da haste
principal);
 Secundária basal (emerge das axilas foliares da haste primária basal); 
 Secundária apical (emerge das axilas foliares da haste primária apical);
 Terciária (emerge das axilas foliares da haste secundária basal e apical).

Quanto a coloração, as hastes de grão-de-bico podem apresentar duas variações: verde e


com manchas de cor púrpura. Estas cores são utilizadas para diferenciar os dois tipos de
grão-de-bico, kabuli de cor verde, e desi de cor verde com manchas púrpuras. Pode-se
ainda citar cinco hábitos de crescimento baseados na
inclinação das hastes: ereto, semiereto, semi-inclinado, inclinado e prostrado. Os tipos
eretos e semieretos são mais adaptados para a colheita mecanizada, enquanto que os
tipos semi inclinado e inclinado são utilizados em áreas com baixa precipitação e
alta evapotranspiração.
Figura 2. Germinação hipógea do grão-de-bico. 
Foto: Warley Marcos Nascimento

A superfície da planta é densamente recoberta por tricomas glandulares e não


glandulares. Estas estruturas atuam como uma barreira mecânica contra vários fatores
externos como, por exemplo, ataque de herbívoros e patógenos, radiação
ultravioleta, calor extremo, perda excessiva de água e proteção química, através
de liberação de substâncias lipofílicas.

As folhas do grão-de-bico podem ser alternas, imparipinadas, com comprimento variando


de 5 cm a 10 cm, compostas por 9 a 19 folíolos também alternos, quase sempre sésseis,
ovalados ou oblongos, frequentemente obtusos, sendo os superiores serrados dentados e
os inferiores inteiros, denominados uni foliados (Figura 3). As flores são geralmente de cor
púrpura e branca e podem ser utilizadas para diferenciar os tipos de grão-de-bico (Figura
4). O florescimento continua por até 50 dias em condições favoráveis, porém em
condições adversas, pode ser paralisado após apenas 20 dias. Em condições de
temperaturas amenas, somente 20% a 50% das flores produzem vagens e a cultura
necessita de um maior tempo para a maturação.
Figura 3. Folhas superiores de grão-de-bico serradas e dentadas.
Foto: Warley Marcos Nascimento

 
Figura 4. Flores brancas de grão-de-bico
Foto: Warley Marcos Nascimento

As vagens são infladas e o número pode variar de algumas a até trezentas por planta


(Figura 5). O tamanho da vagem é uma característica importante na contribuição
da produção, sendo classificada em pequena, média e grande. Geralmente, as vagens
podem conter uma a duas sementes, embora até 4 sementes já foram observadas.Três
formatos da semente podem ser observados: angular (formato bicado ou cabeça
de carneiro), cilíndrico (formato da cabeça de coruja), e arredondado (formato da semente
de ervilha). A superfície da semente pode ser enrugada ou áspera que é característico
para o tipo desi e lisa ou ligeiramente enrugada, característica do tipo kabuli. O peso de
100 sementes pode variar de 8 g a 75 g. 

Introdução
O grão-de-bico (Cicer arietinum L.) é uma das mais importantes leguminosas
cultivadas, sendo a segunda mais consumida no mundo, atrás somente da soja. É uma
espécie que pode ser cultivada sob grande variedade de climas, desde o sub-tropical até
ao árido e semi-árido das regiões Mediterrânicas. É originário da região sudeste da
Turquia, nas adjacências com a Síria, de onde foi levado para a Índia e Europa, sendo
que a sua introdução no Brasil foi realizada por imigrantes espanhóis e do Oriente
Médio.
A produção mundial de grão-de-bico aumentou apenas marginalmente durante as
últimas três décadas devido à diminuição da área plantada, enquanto a produtividade
aumentou em torno de 37% durante o mesmo período. Este fato pode ser justificado
pelo desenvolvimento de novas cultivares de alto rendimento e também às
novas tecnologias de produção. No Brasil, a produção é praticamente
inexistente, levando o país a importar a quase totalidade do que é consumido,
principalmente da Argentina e do México. Há cinco anos, o volume importado era de
quatro mil toneladas. De janeiro a maio de 2013, foram consumidas 2,3 mil toneladas
no país. A Figura 1 apresenta os dados de importação  de grão-de-bico no período de
2011-2015. Observa se que em 2015 foram importadas cerca de 7 mil toneladas no
valor de 6,8 milhões de dólares.

Figura 1. Importações brasileiras de grão-de-bico entre os anos de 2011 - 2015.


Fonte:MDIC/SECEX, 2016
Variação: Incrementos percentuais entre os anos de 2015-2016

Além disto, no Brasil, há uma grande demanda pelo consumo do grão-de-bico, uma vez
que essa leguminosa apresenta um teor de proteína elevada, variando de 25,3% a 28,9%,
uma composição balanceada de aminoácidos (isoleucina, leucina, lisina, metionina,
fenilalanina, treonina, triptofano e valina) e um alto teor de lisina, além de cálcio,
fósforo, ferro, vitaminas A, B e B2. Estudos nutricionais demonstram que o grão-de-
bico possui muito mais nutrientes que o feijão, leguminosa mais consumida
pela população brasileira (Tabela 1). Seus brotos podem ser consumidos como vegetais
ou saladas. Seus grãos podem ser consumidos verdes, secos e fritos, torrados e cozidos
na forma de lanches, doces e condimentados.  Os grãos podem também ser moídos na
forma de farinhas e utilizados em sopas, pastas e para fazer pães e quando preparados
com sal, pimenta e limão podem ser servidos como acompanhamentos. 
Figura 5. Vagens de grão-de-bico.
Foto: Warley Marcos Nascimento

Como já mencionado anteriormente, são encontrados dois principais grupos distintos de


grão-de-bico: 
Tipo desi: suas sementes são coloridas e protegidas por um espesso tegumento (Figura
6A). As cores mais comuns incluem várias tonalidades e combinações de marrom,
amarelo, verde e preto. As sementes são geralmente pequenas e angulares
com superfície rugosa. As flores geralmente são de cor púrpura e as plantas mostram
diversos graus de pigmentação de antocianina nas hastes. O tipo desi corresponde a
aproximadamente 85% da área cultivada no mundo e o seu consumo é na forma de
farinhas e grãos partidos. 

Tipo kabuli: é caracterizado pela cor das sementes, podendo ser brancas ou beges com a
forma de cabeça de carneiro, tegumento fino e liso (Figura 6B). As flores são brancas com
ausência de pigmentação de antocianina na haste. Em comparação com o tipo desi, o
kabuli tem níveis mais elevados de sacarose e níveis mais baixos de fibra. Este
tipo geralmente apresenta as sementes de tamanho maiores sendo mais valorizado no
mercado. Possui vagens e folhas maiores e apresenta uma estatura mais alta. 
Figura 6. Sementes de grão-de-bico: tipo desi (A) e kabuli (B).
Fotos: Warley Marcos Nascimento

Há, ainda, um terceiro tipo de grão-de-bico no mercado mundial, conhecido como Gulabi,


variedade cujo tamanho se encontra entre o Kalubi e o Desi. Sua superfície é lisa, de
forma mais arredondada e parecida com uma ervilha.

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