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4.1.

Introdução

Conforme foi visto no Capítulo anterior, o profissional encarregado de


efetuar o projeto do sistema público de abastecimento de água cuidará de
selecionar um manancial cuja água seja potabilizável, ou seja, que possa tornar-
se potável após submetida à linha convencional de tratamento de água.
A linha convencional completa de tratamento de água, para fins de sua
potabilização, é a indicada na Figura 4.1.

Fig. 4.1 – Tratamento convencional para fins de potabilização - fluxograma

Evidentemente, algumas das fases aí mostradas poderão ser eliminadas,


temporária ou definitivamente, de acordo com a qualidade da água a ser tratada
e sua variação ao longo do ano.
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Apresentam-se, nos Itens a seguir, algumas considerações sobre as formas
usuais de tratamento de água, baseadas em publicação do professor Azevedo
Netto 2. Considerações devidas a outros autores estão assinaladas no texto.

4.2. Desinfecção simples e correção do pH

Assim, por exemplo, águas muito "puras" (desde que não sejam originárias
de manancial superficial, pois, neste caso, elas deverão ser filtradas, por força
de legislação – ver Anexo 15 desta publicação) necessitam apenas a adição de
um desinfetante que permita preservá-la contra a possibilidade de uma eventual
contaminação no sistema distribuidor de água.
Entretanto, muitas vezes as águas originárias de fontes e poços, em seu
estado bruto, mostram-se corrosivas ou, ao contrário (ou até simultaneamente)
incrustantes em vista da presença (ou ausência) de compostos em solução.
Em tais casos, não basta desinfetar. A água bruta deverá passar por um
sistema de tratamento capaz de adicionar à água os íons que lhe faltam ou, ao
contrário, remover os que estão presentes em excesso.
Citam-se, por exemplo, as águas dos lençóis subterrâneos existentes no
complexo cristalino mineiro.
Evidentemente, ao percolar pelo solo para atingir o lençol subterrâneo, a
água não terá encontrado muita coisa para dissolver, e estará ávida por dissolver
íons de diversas origens.
Tal água será, em conseqüência, agressiva.
Por seu turno, nos lençóis subterrâneos existentes nas regiões calcárias do
estado de Minas Gerais, a água bruta dissolverá, entre outros compostos, os
carbonatos de cálcio e magnésio. Tal água poderá tornar-se incrustante e dura,
e precisará ser abrandada (denomina-se abrandamento à remoção dos agentes
responsáveis pela dureza), antes de ser encaminhada ao sistema público de
abastecimento, sob pena de causar estranheza à população e prejuízos às
indústrias. Tais prejuízos poderão atingir o extremo de levar aquecedores e
caldeiras à explosão, tendo em vista que, com o aumento da temperatura, os
bicarbonatos passam à forma química de carbonatos. Estes compostos, por
serem menos solúveis que os primeiros, propiciam a formação de depósitos no
interior das canalizações, que poderão obstrui-la com o passar do tempo.
Essa transformação ocorre segundo a reação:

Ca +2 + 2HCO 3− → CaCO3 ↓ + CO2 ↑ +H 2O (1)
O termo correção do pH é, portanto, na realidade, empregado aqui para
designar um processo algumas vezes bem mais complicado que a simples
providência sugerida pelo termo.
Embora fuja ao objetivo central deste livro, algumas noções básicas sobre o
assunto serão tratadas no Item 5.7 do Capítulo 5.

4.3. Filtração

A primeira idéia que ocorre ao se lidar com uma água turva é a de filtrá-la, com o
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objetivo de remover as partículas em suspensão.
Como forma de tratamento doméstico, talvez só perca a primazia para a
decantação.
Atualmente, os filtros podem ser classificados em lentos ou rápidos,
conforme a vazão tratada por unidade de área do filtro. Nos primeiros,
destinados a águas de baixa turbidez, o processo de filtração é
predominantemente biológico, enquanto que nos filtros rápidos o processo é
físico e químico (ver Capítulo 10). Assim sendo, o tratamento químico prévio da
água a ser filtrada, dispensável nos filtros lentos (que, por seu turno, só se aplica
a mananciais cuja água seja de boa qualidade) é fundamental nos filtros rápidos.
Em vista da dificuldade cada vez maior de se encontrar mananciais
adequados aos filtros lentos, e à área relativamente grande que essas unidades
devem ter (a superfície filtrante é de quarenta a cento e vinte vezes superior à
dos filtros rápidos), a filtração lenta vem se tornando cada vez mais rara,
enquanto que os filtros rápidos constituem a opção mais utilizada nas estações
de tratamento.

4.4. Decantação

Uma solução natural para reduzir o conteúdo de partículas em suspensão


na água é deixa-la decantar durante certo tempo. Como resultado, ocorrerá a
sedimentação das partículas no interior do recipiente.
A decantação pode ser simples, para a remoção de sólidos grosseiros, ou
precedida de tratamento químico, para remover partículas mais finas que
levariam muito tempo para sedimentarem.
A decantação quase sempre precede a filtração rápida, salvo no caso de
águas brutas de baixa turbidez, quando então é possível efetuar a filtração
direta. Em alguns casos, a decantação é feita apenas em épocas do ano em que
a qualidade da água se torna incompatível com a filtração direta.
A decantação será estudada no Capítulo 9.

4.5. Coagulação e floculação

Nessa fase do tratamento, deseja-se tratar quimicamente a água, de modo


que as partículas coloidais sejam desestabilizadas e aglutinadas umas às outras,
para que possam sedimentar-se de modo mais rápido, facilitando a decantação,
e tornando mais fácil sua remoção nos filtros.
A desestabilização química das partículas denomina-se coagulação, sendo
efetuada em unidades de mistura rápida (Capítulo 7). A aglutinação e
coalescência das partículas previamente desestabilizadas, efetuada em
unidades de mistura lenta, denomina-se floculação (Capítulo 8).

4.6. A estação clássica de tratamento de água

A estação clássica efetua o tratamento convencional em compartimentos


separados uns dos outros.
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Nesse tipo de estação existem, portanto, os misturadores rápidos, os
floculadores, os decantadores, os filtros e o tanque de contato (onde a adequada
desinfecção é assegurada).
A Figura 4.2 apresenta alguns dos arranjos possíveis para os floculadores,
decantadores e filtros de uma estação clássica de tratamento de água, mais a
denominada casa de química.
Essa casa é, na realidade, um prédio no interior do qual são realizadas,
entre outras, as seguintes atividades: (a) armazenagem, preparo e dosagem de
produtos químicos;
(b) análises de qualidade da água;
(c) administração da estação de tratamento de água.
De acordo com esses processos, a floculação, a decantação e a filtração
podem ser realizadas no interior de meios granulares (e.g.: colunas contendo
seixos rolados).
A reunião dos três processos anteriores numa só coluna constitui o que se
denomina impropriamente de clarificador de contato (também impropriamente
denominado de filtro russo, ou ainda filtro ascendente, tendo em vista que essa
unidade não é apenas um filtro, mas a reunião dos três processos citados).
O estudo mais detalhado da hidráulica de cada fase de tratamento é o que
será visto nos capítulos 7, 8, 9, 1 e 11 desta publicação.

Fig. 4.2 – Estações clássicas de tratamento de água 2

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Questões para recapitulação
(Respostas no final deste Item)

Assinale a(s) alternativa(s) fala(s) ou verdadeira(s):

1. Ao procurar o futuro manancial abastecedor de uma comunidade urbana, o


profissional encarregado de efetuar o projeto do sistema público cuidará de
selecionar um manancial cuja água seja potabilizável.
2. Como forma de tratamento, águas muito “puras” poderão necessitar apenas
da adição de um desinfetante capaz de preserva-la contra a possibilidade de
uma eventual contaminação no sistema distribuidor de água.
3. As águas originárias de fontes e poços, em seu estado bruto, nunca se
mostram agressivas ou incrustantes em vista de sua pureza.
4. Águas duras deverão passar por sistemas de tratamento capazes de remover
certos íons que estão presentes em excesso.
5. Em tratamento de água, o termo correção de pH pode designar um processo
algumas vezes bem mais complicado que a simples providência sugerida pelo
termo.
6. A filtração terá sido o primeiro processo industrial de tratamento de água.
Como forma de tratamento doméstico, talvez só perca a primazia para a
decantação.
7. Os filtros lentos destinam-se a águas de turbidez elevada.
8. Nos filtros rápidos o processo de tratamento é físico e químico.
9. Em vista da facilidade cada vez maior de se encontrar mananciais adequados
aos filtros lentos, a filtração lenta vem se tornando cada vez mais utilizada.
10. Deixar decantar a água naturalmente durante certo tempo faz com que as
partículas em suspensão na água sedimentem-se em seu interior.
11. A decantação precedida de tratamento químico é desaconselhável para
remover partículas mais finas que levariam muito tempo para sedimentar
naturalmente.
12. A decantação quase sempre precede a filtração rápida, salvo no caso de
águas brutas de baixa turbidez, quando então é possível efetuar a filtração
direta.
13. Na coagulação e floculação deseja-se tratar quimicamente a água, de modo
que as partículas coloidais sejam desestabilizadas e aglutinadas umas às outras.
14. Se a água for previamente coagulada e floculada, dificilmente as partículas
que estiverem em suspensão em seu interior conseguirão sedimentar-se, ficando
prejudicadas a decantação e a filtração.
15. A desestabilização química das partículas denomina-se coagulação; a
aglutinação e coalescência das partículas previamente desestabilizadas
denomina-se floculação.
16. A estação clássica efetua o tratamento convencional em compartimentos
separados uns dos outros.

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Respostas:
1(v); 2 (v); 3(f); 4(v); 5(v); 6(v); 7(f); 8 (v); 9(f); 10(v); 11(f); 12(v); 13(v); 14 (f);
15(v); 16(v)

Referências bibliográficas

1. ADAD, Jesus M. T. Qualidade da água. Belo Horizonte, Edições Engenharia,


1972, 135p.
2. AZEVEDO NETTO, J. M. de. Processos gerais de tratamento de água. In:
_______________ Técnica de abastecimento e tratamento de água. São
Paulo: CETESB, 1974. v2, cap. 18, p.589-615.

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