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Evolução das teorias da administração


- uma síntese histórica -

"... nascemos em organizações, somos educados por organizações, e quase todos nós passamos a vida a
trabalhar para organizações. Passamos muitas de nossas horas de lazer, a pagar, a jogar e a rezar em
organizações. Quase todos nós morreremos numa organização, e quando chega o momento do funeral, a maior
de todas as organizações — o Estado — precisa dar uma licença especial”.
Amitai Etzioni

Os primórdios da administração
O homem compreendeu, desde cedo, que se tratava de um animal social; ou seja, sua preservação
individual e felicidade estavam condicionadas ao convívio co o outro, com o grupo. A história está
recheada de fatos que comprovam a existência de grupos organizados de pessoas em torno de um
objetivo: proteger-se contra ataques inimigos, contra as intempéries do tempo, lazer, convívio social,
conseguir alimento (caça, pesca, etc). Podemos afirmar, por isso, que os princípios da convivência
social organizada são atávicos ao ser humano.

Além da convivência social, também o trabalho em grupos organizado parece ser algo atávico à
natureza humana, e a história nos mostra um sem-número de exemplos de competência dos nossos
antepassados na organização do trabalho e na realização de grandes obras, Exemplos que indicam ter
havido planos formais, organizações de trabalho, liderança e sistemas de avaliação, prática eficiente de
funções administrativas que se transformaram em ricos legados à humanidade, alguns dos quais, até
hoje defendidos e utilizados pelos grandes teóricos da administração. Façamios um breve retrospecto
na história dos grandes empreendimentos da humanidade.

Os egípcios criaram e aplicaram os princípios de administração em projetos arquitetônicos de


engenharia, além das pirâmides, como canais de irrigação, edificações de grande porte, entre outros.
Contribuíram com princípios de planejamento das atividades, criação da figura do comandante e
conselheiro dos trabalhos, organização do trabalho em grupos, divisão de atividades e
responsabilidades e a técnica da descrição detalhada de tarefas. A construção das pirâmides do Egito,
na qual foram envolvidos 100.000 trabalhadores durante 20 anos, atesta a competência de homens, que
sabiam não só como elaborar projetos, mas, também, possuíam habilidade em mobilizar e gerenciar
recursos humanos. Em assuntos de negócios e governamentais, os egípcios também demonstraram

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competência; seus documentos possuíam registros de quem, quando e por quem haviam sido emitidos,
e por quem e quando foram recebidos, o que demonstra alto grau de eficiência e organização.

Os babilônios deixaram à humanidade poderoso legado com O Código de Hamurábi (governador da


Babilônia - 2000 a 1700 a.C.). Tratava-se de um texto de leis orientadoras do povo no princípio do
trabalho; criaram o princípio da paga mínima, os primeiros modelos de contratos de trabalho e recibos
de pagamento que permitiam as transações comerciais da época. O Código de Hamurábi cobre
assuntos sobre vendas, empréstimos, contratos, sociedades, acordos e notas promissórias.

Os hebreus, através da Bíblia, demonstraram princípios básicos de administração. O êxodo de Moisés,


por exemplo, é uma grande deemonstração de competência gerencial, pois foi utilizado como políticia
de descentralização de decisões com as primeiros idéias de núcleos organizacionais. Os 10
Mandamentos, por sua vez, trazem regras de conduta e comportamento que preservam a possibilitam a
vida e a solidariedade do grupo.

Dos romanos, herdamos os princípios do sistema semi-industrial de produção, o sistema de manufatura


armamentista, a produção de cerâmica para o mercado mundial, a indústria têxtil para exportação, a
criação do sistema rodoviário para distribuição de bens. Destacaram-se como grandes administradores,
tendo relevante papel nas áreas de direito, administração e estratégias de guerra. O Império Romano e a
Igreja Católica são exemplos de administração e competência desse povo. O Estado romano regulava
todos os aspectos da vida econômica: determinava as tarefas comerciais, armazenagem, regulava
corporações e usava estes rendimentos para a guerra. Era um Estado autoritário e partia de dois
conceitos fundamentais: disciplina e funcionalidade; por isso, a grande contribuição romana está afeta
às leis, a ação governamental, manifesta no conceito de ordem. O código do direito romano ainda é
modelo para todas as civilizações.

Os gregos, cuja grande contribuição à humanidade se deu nas artes, na literatura, na dramaturgia, na
língua e na filosofia, copiaram modelos de administração, direito e disciplina dos romanos. Isso porque
sua filosofia de vida era ser contra a atividade econômica, considerada indigna para o ideal grego de
homem. Assim como o trabalho manual (suar, cansar-se era impóprio de um nobre grego!), o comércio
era inconcebível para a aristocracia e os filósofos gregos. Essas atividades eram consideradas inferiores
e, por isso, eram realizadas por escravos. Mas, foram pródigos em deixar exemplos de liderança, luta,
poder, hierarquia, todos aplicados à administração.

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A China foi sempre uma nação de homens sábios e proporcionou ao mundo grandes lições de
administração. A Constituição CHOW WU KING (fundador da dinastia CHOW), escrita entre 1122 a
1116 a.C. pelo seu fundador, foi um exemplo de competência administrativa. Continha a relação de
todo o quadro de pessoal do mais alto escalão até o mais baixo serviçal que trabalhava para o Império,
com nome, função e descrição detalhada de tarefas, deveres e responsabilidades de cada um. Chow
escreveu: A arte da guerra de Sun Tzu, obra que tem inspirado a administração ao longo dos séculos.
Mencius, 129 a.C. deixou sua contribuição através da elaboração de modelos de administração
(processos) e seleção científica de trabalhadores (habilidade, traços de personalidade, conhecimento,
experiência).

O sistema fabril
Do século XVI até meados do século XVIII, o mundo era essencialmente agrícola; a economia se
resumia ao cultivo do solo e à produção de alimentos para consumo próprio e familiar. Em plena Idade
Média, e os proprietários de terras, em geral religiosos ou políticos, contavam para o cultivo, plantio e
sustento de suas propriedades com a mão de obra barata e escrava do povo. A atividade industrial era
incipiente; restringia-se apenas a alguns poucos e rebeldes artesãos, que fugiam das propriedades e do
domínio dos senhores feudais para exercer uma atividade econômica independente. Esses artesãos se
reuniam em locais fora das propriedades feudais, nos quais montavam o seu próprio negócio, criavam
família e comercializavam sua mercadoria. Esses aglomerados de “incorformados” foram despontando
e crescendo rapidamente, ficando conhecidos como “cidades”. Esse crescimento foi incentivado pelo
crescimento da atividade econômica e pelo declínio do poder feudal do século XVII.

A organização industrial das “cidades” consistia, inicialmente, de um sistema domiciliar. O trabalho


era feito na casa de cada trabalhador, em áreas rurais, e entregue a um comerciante independente que
cuidava da sua comercialização. A ação de comercialização por alguém não pertencente ao núcleo de
produção gerou os princípios da intermediação. Esse comerciante, desde logo, aprendeu que não
precisava produzir; ele ganharia muito mais desenvolvendo e aperfeiçoando técnicas e habilidades para
vender um produto, ao invés de fabricá-lo. Para isso, ele teria que encomendar o produto a um
“mestre” (artesão que detinha a habilidade maior na fabricação) e responsabilizar-se pela sua venda.
Ao mestre cabia a tarefa de aglutinar outros artesãos para a tarefa encomendada, dividindo e
organizando o trabalho, determinando as diretrizes da produção e remunerando-os por peça trabalhada.
O trabalho era feito nas próprias casas dos artesãos colaboradores do mestre. Posteriormente, o mestre
descobriu que era mais eficaz levar os artesãos para trabalhar em sua própria casa, o que facilitaria a

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organização e o controle do trabalho. Esse modelo de atividade econômica contribuiu
significativamente para o surgimento do sistema fabril, redirecionando o domínio da terra para o
detentor do capital.

A sociedade econômica industrial


No final do século XVIII, James Watt (1736/1819) cria a máquina a vapor e projeta sua aplicação à
produção agrícola (moinhos de grãos). Esse novo sistema de produção incrementa a criação e o uso de
novos instrumentos, processos, fontes de energia (motor movido a carvão) e máquinas para a
fabricação.

O movimento renascentista foi um dos grandes responsáveis pelo avanço tecnológico da época; ele se
caracterizou pela volta do espírito científico, do direito à curiosidade, à investigação, à dúvida. Muitos
fatos contribuíram para o movimento renascentista. A navegação foi facilitada pela bússola magnética,
inventada pelos chineses no século XI e levada para a Europa um século depois. Inicia-se uma nova
fase de descobertas e de invenções: inventa-se a pólvora, se redescobre o moinho d´água, difundem-se
a bússola e os arreios modernos dos cavalos. São inventados os óculos, a imprensa, o relógio. No início
do século XV, os portugueses iniciaram um grande período de exploração, descobrindo os Açores em
1419 e, mais tarde, seguindo a costa ocidental da África. Foi aceita a idéia da Terra ser redonda e
poderem, assim, os navios partirem da Europa, atingir a Ásia, a Índia, a China, e voltar à Europa. Essas
descobertas alargaram o mundo conhecido e o espírito da humanidade. O aumento da circulação
monetária, o ouro e a prata elevando os preços e estimulando a indústria e o comércio, aumentaram a
riqueza e deram oportunidade ao lazer, ao estudo e à invenção.

Os últimos duzentos anos viram o mundo passar por um processo de transformação radical. Sob o
impulso do desenvolvimento industrial, a história acelerou-se, ganhou outro ritmo. E hoje, quando
comparamos o mundo industrial moderno com o mundo de há dois ou três séculos, verificamos que
muitos elementos, que então não existiam ou tinham pouca importância, ganharam importante
significado. No setor social, isto é particularmente verdadeiro em relação às organizações. Essas,
sabemos, existiam em épocas anteriores: não são uma criação da época industrial. Antes de constituir a
regra, porém, eram a exceção.

Hoje, as organizações são, indiscutivelmente, o tipo de sistema social predominante das sociedades
industriais. Se, em meados do século XVIII, a sociedade era constituída de um sem-número de
pequenos sistemas sociais desorganizados (a família, a tribo, o clã, o feudo, a pequena empresa

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familiar, de caráter agrário, artesanal, ou eventualmente comercial), no século XX, apenas a família
(embora muito modificada) conservou sua importância; as pequenas empresas tendem a desaparecer, e
aqueles outros tipos de sistema social já desapareceram, dando lugar às grandes empresas, ao Estado
moderno com toda a imensa gama de serviços que deve prestar à sociedade, aos clubes, às escolas, às
igrejas, às associações de classe. As organizações – e organizações cada vez maiores e melhor
estruturadas – dominam o panorama social contemporâneo.

A grande proliferação das organizações do tipo utilitárias é, portanto, um fenômeno característico do


século XX. O mundo se tornou complexo, a ciência e a tecnologia estão impondo novas realidades e
novas formas do fazer humano, quebrando barreiras à comunicação e ao acesso à informação. O ser
humano, diante de seus problemas e da incapacidade de resolvê-los sozinho, tem buscado, cada vez
mais, soluções para os seus problemas se vinculando a “organizações” especializadas. As
organizações, por sua vez, sobrevivem dessas “vinculações” feitas pela sociedade.

No mundo atual, raramente o homem trabalha, defende seus interesses e mesmo se diverte por conta
própria, de forma isolada. Ele está inserido em organizações que coordenam seu trabalho, seu estudo,
seus interesses, suas reivindicações. Ele depende das organizações, é controlado por elas e nelas passa
a maior parte do seu tempo. São organizações de caráter econômico, político, cultural, religioso, que se
justapõem, se interpenetram, entrecruzam, entram em relações de cooperação e conflito, dependência e
interdependência.

É, portanto, lícito afirmar que a sociedade moderna se caracteriza, sobrevive e realiza seus objetivos
através de organizações.

O que seriam organizações?


Não é fácil definir organizações. Pode-se criar definições teóricas várias, mas não é tão simples captar
o real sentido dessas definições. Vejamos, teoricamente, pode-se definir organizações como sendo
“sistemas sociais em que a divisão do trabalho é sistemática e coerentemente realizada, tendo em vista
os fins visados; como sistema social em que há procura deliberada de economizar os meios para se
atingir os objetivos”. O que se quer dizer com isso?

March e Simon, no seu livro Organization, dizem: “é mais fácil mostrar as organizações do que tentar
definí-las”. Tentemos entendê-las através de seus aspectos principais. Como um primeiro elemento de
análise, deve-se lembrar que de pessoas o principal motivo para a existência das organizações é o fato

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de que certos objetivos só podem ser alcançados por meio da ação coordenada de grupo. Ou seja,
objetivos e pessoas reunidas em torno desses objetivos são elementos essenciais para que haja uma
organização. Mais que isso, é necessário que essas pessoas estejam deliberadamente reunidas para o
atingimento desses objetivos, e que esses objetivos traduzam não apenas os interesses da organização,
como também das pessoas que a compõem. Os interesses do indivíduo e os da organização se
completam, garantindo a permanência das boas organizações no mercado e a satisfação das constantes
e renováveis necessidades do indivíduo.

Além dos objetivos e dos indivíduos, outros dois elementos de análise lhe característicos e devem ser
analisados: a divisão consciente e racional do trabalho e os processos de transformação, que, em
síntese, representa o esforço para transformar recursos em resultados. Essas características são fruto da
atividade humana nas organizações. Assim, objetivos, pessoas, divisão do trabalho e processos de
transformação podem ser destacados com sendo os principais quesitos para a caracterizar uma
organização.

Embora organizações, enquanto grupamento de pessoas reunidas em torno de objetivos comuns sempre
tenha existido, as organizações formais, somente no início do século XX, passaram a se referir aos
fundamentos teóricos desse ramo do conhecimento. Isto se deu em função da revolução industrial, da
evolução das teorias de administração e da organização do trabalho humano. Até então, a literatura
existente referia-se à prática administrativa e à narrativa de experiências de alguns empreendedores
bem-sucedidos.

Antes da Revolução Industrial, a história aponta exemplos (poucos) de teóricos (como Charles
Babbage) preocupados com a necessidade da administração procurar se profissionalizar e criar um
corpo teórico que pudesse servir-lhe de orientação. Como Babbage, Adam Smith (autor do livro: A
Riqueza das Nações, no qual já propunha a não-interferência do governo no comércio) acreditava na
importância de se criar uma ciência administrativa e realizou estudos importantes nessa linha, que não
foram, contudo, concretizados. Mesmo não tendo seus estudos publicados, Adam Smith conseguiu
plantar a semente para o surgimento do capitalismo, com a idéia da “mão invisível” do mercado
agindo no interesse da sociedade.

Evolução dos modelos teóricos de administração


A primeira fase da revolução industrial ocorreu na Inglaterra, em 1760 e consistiu na utilização de
máquinas no sistema produtivo, e gerou a nova doutrina econômica do “laissez-faire”, livre fazer,

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precursor da livre empresa. Seus efeitos se fizeram notar na mecanização da indústria e da agricultura,
na aplicação da força motriz à indústria, transporte, nas comunicações e no sistema fabril,
principalmente.

A segunda fase da revolução industrial, que pode ser caracterizada entre os anos de 1860 a 1914, é
também chamada a fase da revolução do aço, do petróleo e da eletricidade. Aparecem o ferro
substituindo o aço, a eletricidade (e depois o petróleo) substituindo o vapor, as máquinas se tornando
automáticas, exigindo conhecimento especializado para o seu uso. A ciência invade a indústria e
iniciam-se os primeiros estudos e teorias sobre a organização do trabalho.

A Revolução Industrial exerceu influência fundamental para o surgimento da ciência da administração.


Ela possibilitou a transformação da economia, até então essencialmente agrária, para a economia
industrial com sistemas operacionais mecanizados, refletindo em todas as áreas da vida humana, já que
representou, também, o deslocamento do homem do campo para as cidades, para as indústrias. Seus
conhecimentos se difundiram para os países da Europa continental, transformando a vida do homem
ocidental e seu relacionamento com o resto do mundo. Assim, nas fábricas, havia, de um lado, o
empregador, que fornecia o equipamento e supervisionava o seu uso, e, de outro, o trabalhador
reduzido à condição de operário. Nasce, daí, a necessidade de disciplinar e organizar tanto a relação
patrão x empregado, quanto os processos do trabalho.

Nesse contexto social, surgiu, em 1900, surgiu a Teoria da Administração Científica. Elaborada
nos Estados Unidos, por Frederick Winslow Taylor, essa teoria visava melhorar a eficiência do
trabalhador, através dos estudos de tempos e movimentos executados no trabalho, utilizando um
sistema de pagamento por peça produzida. A TAC tinha como princípio que sempre haveria uma
melhor forma, uma melhor ferramenta para se realizar o trabalho, com o menor esforço, menor
disperdício e menor tempo. A TAC recebeu esse nome porque partia do princípio de que o trabalho era
algo que podia ser organizado, racionalmente definido e aprendido.

Na Europa do íncio do século XX (1916), surgiu a Teoria Clássica da Administração, a partir


dos estudos de Henry Faoyl. A TC, também conhecida como Teoria da Gestão Administrativa, tinha
como maior preocupação a atuação do administrador e cuidou, na sua essência, de organizar as funções
do administrador (planejamento, organização, direção e controle), e os princípios gerais e as funções de
administração, aplicáveis a todas as organizações. Por ter dirigido seu foco de estudo para a função do
administrador, a Escola Fayolista é conhecida como a Escola de Chefes.

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Na década de 20, o mundo assistiu às primeiras grandes modificações nas áreas social, econômica,
política e tecnológica, provocadas, principalmente, pela Primeira Guerra Mundial. Os Estados Unidos
firmaram-se como potência mundial, reafirmando os pressupostos democráticos, que eram a base
principal da sociedade americana, enquanto em outros países, o liberalismo econômico foi sendo
substituído por uma crescente interferência do Estado na economia. Na depressão de 1929, a
preocupação com a eficiência das organizações aumentou e provocou uma reavaliação dos princípios
da administração, até então, totalmente aceitos pelo seu caráter dogmático e prescritivo.

Nesse cenário político e social, surgiu, a partir da década de 30, a Abordagem Humanística da

Administração, a partir das idéias de Elton Mayo. Mayo realizou várias experiências com os
trabalhadores da fábrica de Hawthorne, Chicargo (cerca de 20.000 pessoas) e utilizou seus resultados
para defender a influência de fatores psicológicos e sociais sobre a produtividade no trabalho. O
homem produziria mais e melhor se tivesse atendidas suas necessidades sociais e psicológicas; o
homem era mais do que apenas um instrumento, uma peça da engrenagem, como pregava a
Administração Científica. Os estudos de Mayo abriram espaços para uma nova visão da participação
do homem no trabalho. Suas idéias foram rapidamente difundidas no mundo inteiro e propiciaram a
intensificação da interação de outras ciências com a administração (psicologia, sociologia,
antropologia, entre outras).

A década de 40 foi encontrar as empresas em franco crescimento, tanto em número, como em tamanho
e complexidade, carecendo de um modelo sólido e abrangente, que pudesse orientá-las para sobreviver
nessa nova realidade. Estudiosos buscaram inspiração nos estudos de Max Weber (sociólogo alemão
vivido entre 1864 e 1920) para a nova teoria que viria definir o funcionamento de todas as

organizações da época e de épocas posteriores, a Teoria da Burocracia (bureaux + cracia ->


governo da mesa, da racionalidade, da ordem, da lei). Para Weber, a empresa era um sistema social, e,
como tal, funcionava como a sociedade, reproduzindo-lhe as mesmas características, mazelas e
problemas. Assim, uma empresa somente seria eficiente e sobreviveria se fosse organizada segundo os
aspectos atávicos da vida em sociedade; ou seja, deveria ser um organismo vivo, as tarefas deveriam
ser racionalmente divididas, e a convivência deveria disciplinada por meio de papéis hierárquicos e
normas de conduta e ação escritas e legais. Esses aspectos, segundo Weber, iriam garantir a
sobrevivência das organizações e possibilitar que elas fossem eficientes, impessoais, justas e
igualitárias, tanto para seus trabalhadores quanto para o público a que atendiam.

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Nos idos de 50, houve uma transformação no pensamento administrativo. A Teoria Neoclássica
surgiu como uma adaptação da Teoria Clássica às necessidades das empresas da época. Surge a
preocupação com as atividades fins da empresa, com os seus objetivos, antes focados na eficiência das
atividades meio. A preocupação, antes no “como” administrar, passara, agora, para o “por que”, “para
que” administrar.

Ao final da década de 50, a influência do estruturalismo no estudo das Ciências Sociais estendeu-se à

Administração. O Movimento Estruturalista, que teve como seu maior expoente o sociólogo
americano Amitai Etzioni, caracterizou-se pelo estudo das teorias já existentes, nos seus aspectos
globalizantes que compõem o todo organizacional. Grande contribuição para o campo da teoria
administrativa, essa abordagem buscou conciliar e integrar os conceitos clássicos e humanísticos, criar
uma visão crítica do modelo burocrático e estabelecer uma análise sobre tudo o que se tinha escrito, até
então, sobre teorias da administração, principalmente fazendo um paralelo entre a Escola Clássica e a
Escola de Relações Humanas. O movimento estruturalista não constituiu um corpo teórico de
inovações conceituais; procurou, antes, enxergar e analisar os mesmos problemas já vistos e abordados
por outros autores de forma integrada (antes feito de forma fragmentada).

Durante a Segunda Guerra Mundial, foram incentivados o estudo e a aplicação de técnicas matemáicas
para a defesa e resolução de problemas logísticos. Assim, após a guerra, as empresas passaram a
utilizar métodos quantitativos para solucionar questões complexas, envolvendo matemática, estatística,

física e outras ciências. Surgiu a Teoria Matemática da Administração, ou Pesquisa

Operacional, que enfatizava a aplicação da análise quantitativa aos problemas organizacionais e às


decisões administrativas, que muito contribuíram para o administrador no processo de tomada de
decisões na empresa.

À mesma época, durante a década de 50, a partir da evolução dos estudos da Teoria das Relações

Humanas, nasce a Teoria Comportamental da Administração, que teve como objetos principais
de estudos a motivação, o comportamento do indivíduo, a importância dos grupos de trabalho, o
processo organizacional e os fatores de desempenho e produtividade no trabalho. Maslow, McGregor,
Chris Arghyris, Likert, Kurt Lewin, Herzberg e outros representantes dessa teoria, defenderam a
importância de se investir no desenvolvimento dos recursos humanos como forma de alcançar a
produtividade. Nasce a idéia de que administrar é obter resultados através de pessoas.

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A partir da década de 60, ocorreu uma mudança radical na maneira de visualizar a organização. A

Teoria Geral de Sistemas, cujo maior expoente foi o biólogo Ludwig Von Bertalanffy, pregava a
importância da organização ser vista como um sistema, ou seja, um conjunto de partes interagentes e
interdependentes, orientadas para um fim único, dinâmico e mutante, que não fazem sentido se tratadas
isoladamente. Pela TGS, apenas compreendendo o todo pode-se explicar e entender suas partes. Essa
visão veio direcionar o foco de atenção para o tratamento globalizante das empresa e para o ambiente
externo e sua influência sobre elas. A empresa não pode ser mais entendida como um conjunto de
departamentos ou setores isolados; mas como um corpo uno, um sistema no qual suas partes internas
são interdependentes e mantêm contínua interação com o ambiente.

Em paralelo à TGS, surgiu a importância da Visão Holística nas empresas. A palavra “holismo”, de
origem grega, significa todo, inteiro. Essa teoria, bastante análoga à TGS, defende que o homem é um
ser indivisível, que não pode ser entendido através de uma análise separada de suas diferentes partes.
Na administração, o holismo aparece como consequência e extensão dos conceitos da teoria sistêmica.
Quanto ao indivíduo, a VH assume que há 3 corpos interagindo, com igual importância, no
trabalhador: seu corpo físico (que deve ser treinado e orientado), seu corpo mental (que deve ser
instruído e atualizado) e seu corpo espiritual ou emocional (que deve ser considerado e respeitado). O
tratamento holístico do indivíduo na organização pressupõe que todos os corpos devam ser
considerados para efeito do melhor desempenho do indivíduo na organização. A administração
holística não é um modelo inovador de administração. Ela é fruto de uma mudança na forma de se
encarar o mundo. Seus pressupostos vêm sendo difundidos e adotados em todas as áreas do
conhecimento científico: na biologia, na medicina, nas engenharias, entre outras.

Ainda na década de 60, pesquisas conduzidas por Alfred Chandler demonstraram que algumas
empresas sobreviveram à custa de contínuas mudanças e adaptações de seus objetivos e estratégias às
novas realidades. Essas pesquisas apontaram para que a estrutura organizacional das empresas procura
integrar e potencializar seus recursos financeiros, humanos e materiais para a estratégia do mercado e
para fazer face às necessidades e mudanças impostas pelo meio ambiente. Assim, a estrutura das
organizações não deve ser estável, fixa, única, universal, pois o mundo já não se comporta assim.

Conhecida como Teoria Contingencial, essa teoria prega que não há modelos organizacionais,
gerenciais, técnicas e processos de trabalho únicos e universais. Cada situação é única e deve ser
tratada contingencialmente, separadamente, em função das suas características, seu ambiente externo e
dos seus objetivos. Lawrence e Lorsch, seus maiores representantes, afirmaram que empresas com alto
desempenho ajustavam sua estrutura às necessidades do ambiente. Alvin Toffler (1973), em seu livro

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O choque do futuro, contribuiu para as idéias de Lawrence e Lorsch, salientando que, sendo a
sociedade dinâmica e mutável, as organizações, para poder acompanhar a turbulência ambiental,
precisavam ser inovadoras e as estruturas organizacionais flexíveis e dinâmicas.

Mais recente abordagem (década de 80) refere-se às “organizações inteligentes” (Learning

Organizations) e defende a idéia de que as empresas, assim como as pessoas, aprendem coisas novas
permanentemente e, dessa forma, evitam a obsolescência e antecipam-se às mudanças. Esta
abordagem, cujo grande representante foi Peter Senge, visa à evolução constante, através da filosofia
da aceitação e discussão do erro como condição de aprendizagem. Não se trata de um novo modelo de
gestão; apenas, a inserção de uma nova premissa: a aprendizagem pela experiência. Para isso, adotam
um sistema de direção moderno, proporcionando aos empregados um ambiente que estimula a
criatividade, a constante aceitação e discussão dos erros cometidos, promove oportunidades de
crescimento e aprendizagem, gera desafios e competição inovadora. Esse tipo de organização permite
novas idéias, estimula a geração de conhecimentos e a divulgação de informações, tão necessárias à
administração contemporâena.

A partir da década de 80, o enfoque do planejamento estratégico ganhou amplitude, profundidade e

complexidade, dando origem à Administração Estratégica. Estratégia pode ser definida como:
“regras e diretrizes para decisão, que orientam o processo de desenvolvimento de uma organização”
(Igor Ansoff). Esse modelo de administração tem como objetivo máximo o desenvolvimento dos
valores da empresa, sua capacidade gerencial, suas responsabilidades como organismos inseridos na
sociedade e seus sistemas administrativos que interligam o processo de tomada de decisão estratégica,
tática e operacional, em todos os níveis hierárquicos. Sua premissa maior é de que o foco nos objetivos
permite traçar ações que levem ao seu atingimento (estratégias). A AE é mais que um processo de
análise de informações; ela procura capacitar as pessoas a pensar estrategicamente, mudando seu
comportamento, sua visão do negócio, projetar o futuro, através do planejamento empresarial.

O Planejamento Estratégico é o processo de planejamento formalizado e de longo (relativo) alcance,


empregado para se definir e atingir os objetivos e metas das organizações. Ele é de responsabilidade do
nível estratégico da organização (geralmente a cúpula diretiva ou comitê da alta gerência), e tem o seu
foco nos problemas globais da empresa, no monitoramento ambiental e na relação da empresa com o
seu ambiente externo. Objetiva criar os princípios e nortear as atividades de planejamento dos demais
níveis hierárquicos inferiores. O Planejamento Estratégico somente é atingido em empresas que
praticam a administração estratégica.

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Já o Planejamento Empresarial não se resume ao PE; ele é o conjunto de atividades de planejamento
que se estendem a todos o níveis da empresa, a partir das políticas e princípios traçados no PE. A
Administração Estratégica surge, então, como uma evolução das idéias iniciais do planejamento
empresarial, buscando considerar a variabilidade de todos os elementos envolvidos no processo: a
configuração interna da empresa, as condições ambientais e as relações que se estabelecem dentro da
empresa e entre esta e o seu ambiente (econômico, social, político, etc).

A sociedade econômica pós-industrial


O final do século XX e o início do século XXI viram surgir uma nova proposta para a administração: a

administração pela Gestão do Conhecimento. Este modelo vem, de certa forma e segundo alguns
autores (CASTELLS, 1999), mudar os paradigmas da administração na sociedade industrial, na medida
em que defende que a grande transformação ocorrida na transição século XIX para o século XX é a
transformação da “cultura material” pelos mecanismos de um novo paradigma tecnológico, que se
organiza em torno da tecnologia da informação. Deve-se esclarecer que, por tecnologia entende-se
tanto os instrumentos quanto o uso de conhecimentos científicos necessários para especificar as formas
de se fazerem as coisas de uma maneira “reproduzível”.

A GC lida, principalmente, com os aspectos estratégicos críticos para a adaptação e sobrevivência da


empresa, diante de um ambiente em mudança crescente e descontínua. É comum encontrar, na
literatura especializada, as questões de gestão do conhecimento associadas ás organizações do
aprendizado, inovações tecnológicas, corporações virtuais, educação para o trabalho, criatividade e
tecnologia da informação. As empresas bem-sucedidas, porém, tratam essas questões como um dos
aspectos da sua cultura, buscando integrar em uma mesma missão a busca do aumento da
produtividade e do aprendizado, simultaneamente, incorporando a gestão do conhecimento como uma
característica da cultura administrativa ou organizacional e internalizando a visão de si como uma
comunidade humana, cujo conhecimento coletivo representa um diferencial competitivo em relação à
concorrência.

Ela trabalha com os princípios: a empresa vale conforme o seu capital intelectual; o conhecimento é o
grande capital das empresas; as pessoas que nela trabalham é que detém o conhecimento da
organização; o conhecimento individual ou tácito pode ser gerado, incentivado, compartilhado, criando
o conhecimento organizacional; esse conhecimento organizacional deve retomar o ciclo da geração,
compartilhamento e armazenamento em mídias. Portanto, o capital intelectual das empresas está nas

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pessoas e na capacidade delas de gerar e compartilhar conhecimento. Esse modelo recebeu forte
influência de Thomas A. Stewart, autor do livro Capital Intelectual – a nova vantagem competitiva das
empresas, no qual chamou a atenção para o crescente número de funcionários que possuem
participação acionária em empresas que fazem uso intensivo do conhecimento. Esta teoria tem,
também em Peter Drucker, um dos seus grandes incentivadores. Segundo Drucker: “na sociedade do
conhecimento, a premissa mais provavelmente correta para as empresas é que elas precisam dos
trabalhadores do conhecimento muito mais que os trabalhadores do conhecimento precisam delas”.

As empresas que praticam a GC criam redes formais e informais de pessoas que realizam trabalhos
afins e que, eventualmente, estejam dispersas na organização. Essas redes são incentivadas para a
discussão dos problemas, questões relevantes e soluções inovadoras para a empresa. O uso da
tecnologia de informação é um facilitador desse processo, proporcionando meios para que essas redes
interajam, presencial ou virtualmente, dando-lhes autonomia, flexibilidade e incentivo à discussão. A
gestão do conhecimento não reconhece as pessoas da empresa como seus recursos humanos da
organização. Recursos são instrumentos que se usa, propriedades que se dispõe, conforme se quer.
Pessoas são talentos, cérebros humanos, que podem gerar soluções inovadoras e de qualidade para os
objetivos organizacionais.

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