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Quando estudamos Direito Penal, devemos aprender que o CRIME só

existe com a junção de três elementos.

Estes elementos são cumulativos e nesta ordem de aferição:

1) Fato típico (descrito em lei como crime);


2) Fato antijurídico (sua prática não ser de acordo com o direito);
3) Culpabilidade (a pessoa que praticou o fato típico e antijurídico ser
passível de ter contra si infligida uma pena).

Exemplo: João matou Maria. Matou porque gosta de matar.

João cometeu crime?

Reposta: DEPENDE.
Ana Amélia Vidal de Negreiros - anaameliavidal@gmail.com - CPF: 092.591.844-01
Para que digamos que João praticou crime precisamos responder a 3 perguntas:

1) Quando João matou Maria, ele praticou FATO TÍPICO?

SIM, mas ainda não temos crime. Precisamos fazer a próxima pergunta.

2) Quando João praticou o FATO TÍPICO de matar Maria, este fato típico foi,
também, um FATO ANTIJURÍDICO?

Sim, mas ainda não temos crime. Precisamos fazer a próxima pergunta.

3) João, quando praticou o FATO TÍPICO e ANTIJURÍDICO de matar Maria,


possuía, ao tempo de sua conduta, CULPABILIDADE?

Sim. Pronto, eis que foram respondidas as três perguntas com um SIM, podemos
dizer que João praticou CRIME.
Ana Amélia Vidal de Negreiros - anaameliavidal@gmail.com - CPF: 092.591.844-01
Sempre que alguém pratica um fato típico haverá crime?

Não.

Por quê?

Porque pode ser que o fato típico (previsto em lei como crime) tenha sido
praticado em alguma situação em que este não será antijurídico (contrário ao
direito).

E quando isso ocorre?

Quando o fato típico é praticado em alguma causa de exclusão de antijuridicidade/


ilicitude (justifica a prática do fato típico, tornando-o de acordo com o direito).

E quais são essas causas?

Ana Amélia Vidal de Negreiros - anaameliavidal@gmail.com - CPF: 092.591.844-01


Estado de necessidade, legítima defesa, estrito cumprimento de dever legal
e exercício regular de direito (art. 23, CPB).

Exemplo: João matou Maria, mas matou em legítima defesa.

Perceba: Ele praticou fato típico (matou alguém), mas este fato típico não foi
antijurídico (contrário ao direito) porque ele matou alguém em uma situação
permitida perante o direito (agiu amparado por uma causa de exclusão de
antijuridicidade), logo sua conduta está, portanto, justificada.

Perceba, também: João não praticou crime, pela ausência do elemento do


crime de número 2 (o fato não foi antijurídico). CRIME não houve (pela
ausência do elemento do crime de número 2: fato antijurídico), mas houve
FATO TÍPICO SEM ANTIJURIDICIDADE.

Sempre que alguém pratica um fato típico e antijurídico haverá crime?


Ana Amélia Vidal de Negreiros - anaameliavidal@gmail.com - CPF: 092.591.844-01
Não.

Por que? Porque pode ser que o fato típico e antijurídico tenha
sido praticado por uma pessoa que, ao tempo da conduta, não
possuía CULPABILIDADE.

E quando isso ocorre?

Quando o fato típico e antijurídico é praticado por alguma


pessoa que, ao tempo da conduta, agiu em alguma CAUSA DE
EXCLUSÃO DA CULPABILIDADE (dirimente penal).

E quais são essas causas?


Ana Amélia Vidal de Negreiros - anaameliavidal@gmail.com - CPF: 092.591.844-01
Doença ou mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado que deixou o
sujeito, ao tempo da conduta, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato
ou de se determinar de acordo com seu entendimento (artigo 26, caput, CP);
menoridade (artigo 27, CP); embriaguez completa proveniente de caso fortuito ou força
maior (artigo 28, § 1º, CP); erro de proibição inevitável (artigo 21, caput, 1ª parte, CP);
coação moral irresistível e obediência a ordem não manifestamente ilegal de superior
hierárquico (artigo 22, CP).

Exemplo: João matou Maria, porque gosta de matar, mas é menor de 18 anos.

Perceba: João praticou fato típico (matou alguém) e antijurídico (o fato típico não foi
praticado em alguma causa de exclusão da antijuridicidade), mas não possuía, ao
tempo da conduta, culpabilidade (é menor de 18 anos).

Perceba, também: João não praticou crime, pela ausência do elemento do crime de
número 3 (o fato, apesar de típico e antijurídico, foi praticado por quem não possuía
culpabilidade). CRIME não houve (pela ausência do elemento do crime de número 3:
culpabilidade), mas houve FATO TÍPICO e ANTIJURIDICIDADE sem ter havido
CULPABILIDADE.
Ana Amélia Vidal de Negreiros - anaameliavidal@gmail.com - CPF: 092.591.844-01
Conclusão: embora não haja CRIME sem estarem presentes os 3 elementos
(fato típico, fato antijurídico e culpabilidade) estarem presentes, é possível
(sem haver crime) que tenhamos fato típico (elemento 1) sem antijuridicidade
(elemento 2) e antijuridicidade sem culpabilidade (elemento 3).

À guisa de reforço: eu posso ter em um fato (que não será crime neste caso)
o elemento do crime de número 1 (fato típico) sem ter o 2 (fato antijurídico) e
ter o 2 (fato antijurídico) sem ter o 3 (culpabilidade).

Agora, lembra da ordem de aferição que ensinei lá no começo?

Eu não posso ter o elemento 3 (culpabilidade), sem ter o elemento 2 (fato


antijurídico) e não posso ter o elemento 2 (fato antijurídico) sem ter o
elemento 1 (fato típico).

Essa compreensão é MUITO importante!


Ana Amélia Vidal de Negreiros - anaameliavidal@gmail.com - CPF: 092.591.844-01

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