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Ucrânia aumenta ambições na guerra

e busca retomar todos os territórios


perdidos para a Rússia, diz Kiev
Recuperação da Crimeia e do Donbass entram nos planos após
entregas de armas da Otan; meta revista esfria mais negociações
e pode gerar situação inadmissível para Moscou
O Globo e agências internacionais - 10/05/2022 - 10:33

Marcha nesta segunda-feira em Sebastopol, na Crimeia, por ocasião do Dia da


Vitória soviética sobre o nazismo; homem carrega foto de soldado enquanto
usa camisa com Z, símbolo da agressão contra a Ucrânia Foto: ALEXEY
PAVLISHAK / REUTERS

KIEV — O chanceler da Ucrânia, Dmytro Kuleba, disse ao jornal


Financial Times que, após o recebimento de ajuda dos países da
Organização da Organização do Tratado do Atlântico
Norte (Otan), o país expandiu seus objetivos na guerra e agora
busca expulsar as forças russas de todo o território ucraniano.

Embora não tenha citado nominalmente a Península da Crimeia,


que a Rússia anexou em 2014, nem as regiões do Leste
controladas por separatistas pró-Moscou desde o mesmo ano, as
declarações indicam que Kiev tem a ambição de retomar essas
áreas.

Kuleba disse que “a imagem da vitória é um conceito em


evolução”.

— Nos primeiros meses da guerra, a vitória para nós parecia a


retirada das forças russas para as posições que ocupavam antes
de 24 de fevereiro e o pagamento pelos danos infligidos — disse
Kuleba na entrevista. — Agora, se formos fortes o suficiente na
frente militar e vencermos a batalha de Donbass, que será crucial
para a dinâmica seguinte da guerra, é claro que a vitória para nós
será a libertação do resto de nossos territórios.

Esta foi a primeira vez em que a Ucrânia citou a ambição de


retomar territórios perdidos em 2014, sobre os quais nunca
deixou de reivindicar soberania.

Essa meta torna uma saída negociada ainda mais distante. A Rússia, assim
como a maior parte da população do país, considera a Crimeia parte integral
de seu território, enquanto Kiev continua a reivindicar soberania sobre ele.
Analistas entendem que nenhum governo russo vai ceder a península.

Já nas regiões do Donbass controladas por rebeldes, as autoproclamadas


repúblicas populares de Donetsk e Luhansk, grande parte da população tem
passaportes russos, entregues nos últimos anos. Moscou acusa a Ucrânia de
oprimir a população dessas regiões e reiteradamente diz que um de seus
objetivos na guerra é protegê-la.

Em uma conversa por videoconferência com a Chatam House, um instituto


independente de política de Londres, há quatro dias, o presidente da
Ucrânia, Volodymyr Zelensky, citou somente a ambição de que a Rússia
devolva os territórios tomados após 24 de fevereiro, quando começou a
invasão.

Apesar dos comentários, Kuleba reconheceu que o derramamento de sangue


e a destruição podem ser muito altos, e a Ucrânia pode ter que negociar um
acordo. Nesse caso, Kiev gostaria de “chegar ao momento inevitável com as
cartas mais fortes possíveis”, disse.

Nas últimas semanas, após a descoberta de fortes indícios de crimes de


guerra em Bucha, perto de Kiev, e o aumento da ajuda militar ocidental à
Ucrânia, as negociações esfriaram, e possíveis pautas de acordo entre as
partes não são mais mencionadas.

Na entrevista, Kuleba voltou a pedir por mais armas do Ocidente,


e demandou entregas regulares. O ministro disse que a Ucrânia
queria um “mecanismo” permanente para coordenar promessas
e entregas de armas, e mencionou a necessidade de artilharia,
incluindo obuses, bem como sistemas de foguetes de lançamento
múltiplo que não foram fornecidos.

Segundo o Financial Times, o ministro disse estar convencido de


que os aliados da Ucrânia apoiarão o país até o fim, inclusive
expulsando a Rússia de Donbass e da Crimeia, porque a agressão
de Moscou renovou a aliança entre as potências do Ocidente.

— [A resistência da Ucrânia] uniu novamente os EUA e a UE — ele


afirmou. — Eles já sentem que nossa vitória também será a
vitória deles e é por isso que acredito que nos apoiarão.

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