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Direitos Fundamentais nas Constituições

brasileiras

Paulo Vargas Groff

Sumário
Introdução. 1. Direitos Fundamentais na
Constituição de 1824. 2. Direitos Fundamentais
na Constituição de 1891. 3. Direitos Funda-
mentais na Constituição de 1934. 4. Direitos
Fundamentais na Constituição de 1937. 5. Di-
reitos Fundamentais na Constituição de 1946. 6.
Direitos Fundamentais na Constituição de 1967.
7. Direitos Fundamentais na Constituição de
1969. 8. Direitos Fundamentais na Constituição
de 1988. 9. Considerações finais.

Introdução
O Brasil já teve oito Constituições ao lon-
go da sua história como país independente.
Essas Constituições sempre trouxeram um
espaço para os Direitos Fundamentais. Esse
espaço foi sendo ampliado a cada nova
Constituição, num caminhar crescente, de
ampliação e introdução de novos direitos
fundamentais, acompanhando as mu-
danças que foram ocorrendo no cenário
mundial. Desse modo, essas Constituições
também foram recepcionando as diversas
gerações de direitos, na época em que esses
direitos apareceram nas primeiras Consti-
Paulo Vargas Groff é doutor em Direito pela tuições dos países democráticos.
Université de Paris I (PANTHÉON-SORBONNE),
Essa evolução dos direitos fundamentais
mestre em Ciência Política pela Université de
Paris III (SORBONNE NOUVELLE), bacharel
nas Constituições é o objeto deste trabalho,
em Direito pela UNISINOS, professor da Gra- e, para isso, trataremos separadamente das
duação, da Especialização e do Mestrado em diversas Constituições brasileiras, anali-
Direito da URI (Campus de Santo Ângelo-RS), sando diversos aspectos que têm relação
pesquisador e advogado. com os direitos fundamentais, em cada

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período político-constitucional em que as Poderes (art. 10): Moderador, Legislativo,
Constituições estavam em vigor. Portanto, Executivo e Judiciário.
trataremos da Constituição de 1824, 1891, O Poder Moderador, afirmava a Consti-
1934, 1937, 1946, 1967, 1969 e 1988. tuição, era a chave de toda a organização polí-
tica. Esse Poder era exercido pelo Imperador,
1. Direitos Fundamentais na e se destinava a velar pela independência,
Constituição de 1824 equilíbrio e harmonia dos outros Poderes
(art. 98). A pessoa do Imperador era inviolá-
A Constituição de 1824 foi influenciada vel e sagrada, não estando sujeito a respon-
pelas idéias liberais e pelo constitucio- sabilidade alguma (art. 99). Naturalmente,
nalismo em voga na Europa. Todavia, a tal instituição desfigurava a idéia de equi-
preocupação maior das elites brasileiras líbrio e controle recíproco entre os poderes.
era a construção de um Estado-nação, o O Poder Executivo era exercido por um
que relegava para um segundo plano a ministério, de livre nomeação e demissão
implantação de uma democracia liberal. O pelo Imperador, que era também o chefe
regime monárquico mesclava a adoção de do Poder Executivo (art. 102). Assim como
uma lógica e de uma prática liberal e auto- o Imperador não tinha qualquer respon-
ritária. A Monarquia era vista como a única sabilidade, os seus ministros não tinham
maneira de manter a unidade nacional (Cf. o dever de prestar contas, embora fossem
GROFF, 2002, p. 11). Nesse contexto, havia responsáveis por qualquer dissipação dos
grandes dificuldades para o avanço dos bens públicos (art. 133, § 6o).
direitos fundamentais. O Poder Legislativo era exercido pela
Assembléia Geral, composta por duas Câ-
1.1. A Constituição de 1824 e a
maras: Câmara de Deputados e Câmara de
monarquia centralizadora
Senadores ou Senado (art. 14). A Câmara
A Constituição foi outorgada por D. de Deputados era composta por deputados
Pedro I, em 1824. Ela foi elaborada por um eleitos por período temporário (art. 35) e
Conselho de Estado, que ocupou o lugar o Senado era composto de senadores vi-
deixado pela Assembléia Constituinte, talícios e de livre escolha do Imperador, a
que foi inicialmente convocada, mas partir de lista tríplice eleita pelas províncias
posteriormente dissolvida em função de (art. 40). As eleições eram indiretas, tanto
divergências com o Imperador. O projeto para senadores como para deputados, pois
de Constituição foi ainda submetido à os cidadãos elegiam em assembléias paro-
aprovação das Câmaras Municipais, o que quiais os eleitores das províncias (art. 90).
não lhe retirou a ilegitimidade. Havia também a possibilidade de o Poder
A Constituição realizou uma divisão Moderador exercer o direito de dissolução
administrativa do território brasileiro, di- da Câmara dos Deputados (art. 101).
vidindo-o em províncias, que substituíram O Poder Judiciário era composto de um
as capitanias (art. 2o), mantendo a forma Supremo Tribunal de Justiça, que era um
unitária de Estado, com a centralização do órgão superior localizado na capital do
poder político. A forma de governo adotada Império (art. 163). Esse Tribunal foi criado
foi a monarquia hereditária, constitucional pela Lei Complementar de 18 de setembro
e representativa (art. 3o). de 1828. Ainda existiam os Tribunais de Re-
A Constituição de 1824 sofreu a influên- lação nas Províncias, os juízes de direito, os
cia do pensamento político da época, preci- juízes de paz e os jurados. Esse Poder tam-
samente da teoria de Benjamin Constant, no bém era frágil, pois podia o Imperador, no
que se refere a criação do poder neutro ou exercício do Poder Moderador, suspender
moderador. Dessa maneira, havia quatro os magistrados (art. 101). Muitos membros

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do Supremo Tribunal de Justiça foram O art. 179 afirmava que a inviolabilida-
aposentados mediante decreto do Poder de dos direitos civis e políticos tinha por
Executivo (Cf. NOGUEIRA, 2001, p. 36-37). base a liberdade, a segurança individual e
O texto constitucional era contraditório, a propriedade. Inspirava-se para isso no art.
pois ao mesmo tempo em que afirmava que 2o da Declaração dos Direitos do Homem
os juízes seriam perpétuos (art. 153 c/c art. e do Cidadão, de 1789. Porém, diferente
155) acabava negando as garantias consti- da Declaração francesa, não fez menção
tucionais da magistratura: a vitaliciedade, a um quarto direito natural: o direito de
a inamovibilidade e a irredutibilidade de resistência à opressão.
vencimentos (art. 153 c/c art. 154). No art.179, constavam 35 incisos, con-
O controle de constitucionalidade não templando direitos civis e políticos. Entre
era atribuído ao Poder Judiciário. Essa os direitos, encontravam-se: a legalidade,
função foi destinada à Assembléia Geral, a irretroatividade da lei, a igualdade, a
que, nos termos do art. 15, n. 80, tinha a liberdade de pensamento, a inviolabilida-
faculdade de “fazer leis, interpretá-las, de de domicílio, a propriedade, o sigilo de
suspendê-las e revogá-las”, seguindo o correspondência, a proibição dos açoites,
modelo revolucionário francês. Consta que da tortura, a marca de ferro quente e ou-
o Legislativo fez esse controle em apenas tras penas cruéis, entre outros direitos e
duas oportunidades (Cf. NOGUEIRA, 2001, garantias.
p. 36-37). A função de uniformização da É interessante também assinalar a pre-
jurisprudência poderia ter sido atribuída ao sença de direitos sociais na Constituição de
Supremo Tribunal de Justiça, mas isso não 1824 no rol do art. 179: o direito aos socorros
constava no rol das suas atribuições (art. públicos (XXXI) e o direito à instrução pri-
163). Desse modo a jurisprudência não era mária gratuita a todos os cidadãos (XXXII),
uniformizada em todo o país, o que acabava apesar de os direitos sociais serem um
gerando uma aplicação desigual da lei entre evento próprio do século XX.
cidadãos de um mesmo país, sendo algo Em relação a proteção judicial dos
atentatório aos direitos fundamentais. direitos fundamentais, a Constituição de
Além dos aspectos constitucionais 1824 não criou instrumentos apropriados
analisados, a verdade é que a Constituição para a defesa dos direitos fundamentais. O
formal e a Constituição real estavam muito habeas corpus não foi criado explicitamente
distantes. O Brasil teve um governo que pela Constituição de 1824, muito embora
estava muito longe dos ideais liberais colo- Pontes de Miranda (1999, p. 170) sustente
cados em prática nos países desenvolvidos. que era possível extraí-lo da Constituição,
Tínhamos, em verdade, um governo autori- quando esta decretou a independência dos
tário, com fortes caracteres absolutistas. poderes e quando deu ao Poder Judiciário
o direito exclusivo de conhecer de tudo
1.2. Os Direitos civis e políticos quanto se entendesse como inviolabilida-
A Constituição de 1824 tinha como seu de penal. Pontes (1999) assinala ainda que
Título 8o: Das disposições gerais e garantias de nada adianta o direito material prever
dos direitos civis e políticos dos cidadãos um determinado direito sem um remédio
brasileiros. Este era o último título da Cons- processual capaz de garanti-lo, como é o
tituição. Também o art. 179, que trazia um caso do habeas corpus. Por outro lado, Pon-
extenso rol de direitos civis e políticos dos tes (1999) observa que o habeas corpus já
cidadãos brasileiros, era o último artigo existia no direito brasileiro mesmo antes da
da Constituição. Isso demonstra que a Constituição de 1824, com o Decreto de 23
Constituição não destinou um espaço de de maio de 1821, embora não com o nome
relevância para os direitos fundamentais. de habeas corpus, mas com a denominação

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de “ação de desconstrangimento”. Com o Apesar da declaração de direitos e ga-
nome de habeas corpus, essa ação foi criada rantias expressas na Constituição (art.179),
pelo Código de Processo Criminal do Im- resultante das idéias liberais da época, foi
pério de 1932. Pontes (1999) observa que o mantido o sistema escravocrata durante
habeas corpus é pretensão, ação e remédio. todo o Império, estando isso relacionado
Como pretensão estava no Código Criminal com a base econômica da época e a mo-
(arts. 183-188), de 1830, e como ação e remé- nocultura latifundiária. Somente no fim
dio estava no Código de Processo Criminal do Império, em 1888, é que foi abolida a
do Império de 1832. escravidão. Isso demonstra o quanto esse
Os direitos políticos dos cidadãos eram regime político-constitucional era contra-
graduados segundo suas rendas e status ditório.
social. A Constituição estabelecia clara-
mente a renda necessária para o cidadão 2. Direitos Fundamentais na
votar na escolha dos eleitores da província: Constituição de 1891
renda líquida anual de cem mil réis por
bens rurais, da indústria, do comércio ou A monarquia no Brasil teve o seu fim
de empregos (art. 92). Para ser candidato com a proclamação da República, em 1889.
a deputado, a renda líquida anual deveria Essa mudança foi formalizada pelo De-
ser de quatrocentos mil réis por bens rurais, creto n. 1, de 15-11-1889, que introduziu a
da indústria, do comércio ou de empregos República e o federalismo. A proclamação
(art. 95). Portanto, reinava o chamado voto da República representou um marco fun-
censitário, o que não consistia numa par- damental no constitucionalismo brasileiro,
ticularidade brasileira, mas algo também momento em que surgiam novas institui-
existente nos principais países europeus ções, baseadas na matriz constitucional
(Cf. NOGUEIRA, 2001, p. 60). Vedava-se norte-americana. Porém, essas instituições
também o voto aos analfabetos (art. 92), que passaram a conviver com uma cultura
representavam mais de 80% da população política conservadora e autoritária. Nesse
no fim do século XIX, e às mulheres, que contexto a garantia dos direitos fundamen-
constituíam em torno de 50% da população. tais, embora formalmente prevista na Cons-
Em todo o Brasil somente 1% da popula- tituição, ficava prejudicada na prática.
ção participava do processo eleitoral (Cf.
2.1. A Constituição de 1891
FURTADO, 1969, p. 150).
e o Estado oligárquico
No fim da Monarquia, houve importan-
tes alterações do processo político e eleito- Em 1891 surge a primeira Constituição
ral. A Lei n. 3.029, de 9/01/1881, conhecida republicana, promulgada em 24-02-1891.
como “Lei Saraiva”, aboliu as eleições Ela foi elaborada e promulgada pelo Con-
indiretas, introduzindo a eleição direta, e gresso constituinte, e teve como referência
adotou o voto do analfabeto. Apesar desse o projeto de Constituição elaborado por
passo importante, esta última inovação foi comissão nomeada pelo chefe do governo
em seguida confiscada pela Constituição de provisório, Marechal Deodoro da Fonseca.
1891 (art. 70, § 1o, item 2o). Os analfabetos A inovação constitucional ficou por conta
foram readquirir o direito ao voto quase da introdução da República, do federalismo
um século depois, por meio da Emenda (art. 1o), do presidencialismo e da separação
Constitucional n. 25, de 15/05/1985, que dos três Poderes, harmônicos e indepen-
alterou o art. 147 da Constituição de 1969. dentes entre si (art. 15). A Constituição
Para estes o voto passaria a ser facultativo. de 1891 seguiu o modelo constitucional
A Constituição de 1988 manteve essa mes- norte-americano e foi inspirada nos ideais
ma previsão. republicanos e liberais.

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A Federação e a República são elemen- (art. 17), e pelo Senado, integrado por se-
tos centrais do Estado brasileiro, afirmando nadores eleitos por nove anos, sendo 3 por
Geraldo Ataliba (apud ROCHA, 1996, p. 71) Estado, com renovação trienalmente por
que eles são os princípios mais importantes, um terço (art. 31).
exercendo um papel principal na exegese. O Poder Judiciário tinha o seu órgão
A forma federal de Estado, nessa primeira máximo que era o Supremo Tribunal Fe-
fase da República, foi a consagração das deral (art. 55), que substituiu o Supremo
oligarquias rurais, que detinham o contro- Tribunal de Justiça do Império. Foi criado
le de todos os níveis de poder, do central um Poder Judiciário federal e outro esta-
ao local. Essas elites se reuniam em torno dual. Os magistrados possuíam a garantia
de um partido único, com autonomia em constitucional da vitaliciedade, somente
nível estadual, o partido republicano, que podendo perder o cargo mediante sentença
nem sempre era homogêneo (Cf. CARONE, judicial, e irredutibilidade dos vencimentos
1976, p. 143). A forma federal aparece como (art. 57), e, além disso, não podiam mais ser
sinônimo de descentralização política, para suspensos como no período da Monarquia
dar maior autonomia e pacificar as pro- (Cf. BALEEIRO, 2001b, p. 38).
víncias, num país de território continental Os órgãos do Poder Judiciário podiam
e com diversidades culturais as mais va- realizar o controle de constitucionalidade
riadas possíveis. A República implantada sobre o caso concreto, seguindo o modelo
em 1889 é motivo de críticas por muitos norte-americano de controle difuso pela
autores. A República é acusada de não ter via indireta ou incidental. Mas os republi-
legitimidade popular, devido a inexistência canos brasileiros esqueceram de trazer o
de participação popular na proclamação efeito erga omnes daquele sistema, em que
da República. Carmem Rocha (1996, p. as decisões da Suprema Corte, em nível
48-53) afirma que o povo não resistiu ao recursal, têm efeito erga omnes. Durante
fim da Monarquia, sendo a apatia do povo toda a Primeira República, o nosso con-
talvez devido a desagregação progressiva trole de constitucionalidade tinha apenas
do antigo regime ligado ao fim da escravi- o efeito inter partes. Como a Constituição
dão e às questões religiosas e militares. A de 1891 não destinou ao STF um judicial
apatia do povo se explica ainda pela falta control pleno, mas apenas um judicial control
de mudança de elites políticas, das oligar- restrito ao controle da constitucionalidade
quias. Faoro (1977, p. 567) observa que a das leis estaduais diante da Constituição
República, após dez anos de vida, havia Federal, o STF se satisfez com o seu papel
deixado de lado o povo, como tinha feito o estabelecido nos restritos termos da Cons-
Império após 1840. tituição, negando-se a “criar e engrandecer
O Poder Executivo era exercido pelo um princípio que se não harmonizava com
Presidente da República, conjuntamente as nossas praxes políticas [...] qual o da
com o Vice-presidente (art. 41), acumu- jurisprudência a derrubar a lei, contra a
lando as funções de chefe de Estado e de autoridade, em favor dos direitos individu-
governo, caracterizando assim o sistema ais” (CALMON, 1937, p. 187). Nessa mesma
de governo presidencialista. As eleições linha, o STF entendeu que a Constituição
do Presidente e do Vice-presidente passa- não lhe havia atribuído a competência para
ram a se dar por eleições diretas, para um uniformizar a jurisprudência a respeito da
mandato de 4 anos (art. 43). norma constitucional, negando-se a alte-
O Poder Legislativo era representado rar a interpretação dada pelos Tribunais
pelo Congresso Nacional (art. 16), compos- estaduais. Foi preciso esperar a emenda
to pela Câmara dos Deputados, integrada constitucional de 3 de setembro, dentro da
por deputados federais eleitos por três anos reforma de 1926, que explicitou a atribuição

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do STF para uniformizar a interpretação da (art. 78). Isso representa uma inovação em
Constituição e das leis federais. A falta de comparação com a Constituição de 1824.
criatividade desse novo Tribunal devia-se Com isso, a Constituição de 1891 intro-
muito ao fato de ser composto por juízes do duz no constitucionalismo brasileiro um
velho regime, sem consciência do seu papel conceito materialmente aberto de direitos
no novo regime (Cf. NUNES, 1943, p. 59). fundamentais, surgindo também na dou-
A revisão ainda estendeu, expressamente, trina uma teoria dos direitos fundamentais
à Justiça dos Estados as garantias assegu- “implícitos e decorrentes” (Cf. SARLET,
radas à magistratura federal. 2007, p. 92).
Do mesmo modo que a Constituição de A Constituição de 1891 foi a primeira
1824, a Constituição de 1891 formal ficou a constitucionalizar a garantia do habeas
muito aquém da Constituição real. corpus, e fez isso no art. 72, § 22: “Dar-se-á
habeas corpus sempre que o indivíduo sofrer
2.2. Declaração de direitos e direitos políticos ou se achar em eminente perigo de sofrer
A primeira Constituição republica- violência, ou coação, por ilegalidade, ou
na tinha como título IV – Dos Cidadãos abuso de poder”. A previsão constitucio-
brasileiros, e nela a Seção II – Declaração nal do habeas corpus gerou um forte debate
de direitos. Nessa seção o artigo 72 trazia referente a interpretação do dispositivo in-
um rol de direitos e garantias individuais, troduzido na Constituição (Cf. MIRANDA,
ou seja, direitos da primeira geração, não 1999, p. 227-236). Existiam duas correntes,
muito diferentes daqueles previstos na sendo uma tradicional e outra renovadora.
Constituição de 1824. A tradicional, que foi recepcionada pelo
Ao rol de direitos da Constituição de STF, afirmava que o enunciado colocado
1824 foram acrescentados os seguintes na Constituição não tinha alterado em
direitos e garantias: extensão dos direitos nada aquele habeas corpus existente durante
aos estrangeiros; igualdade republicana; o Império, pelo Código Criminal de 1930,
liberdade de culto; casamento civil e gra- do Código de Processo Criminal de 1832
tuito; cemitérios seculares; ensino leigo nos e as demais leis do Império. A primeira
estabelecimentos públicos; fim da religião corrente admitia o habeas corpus somente
de Estado; direitos de reunião e associa- para amparar a liberdade de locomoção.
ção; ampla defesa; perda da propriedade A segunda corrente entendia que o cons-
em decorrência de desapropriação por tituinte foi mais longe que o legislador do
necessidade e utilidade pública, mediante Império, pois, segundo o enunciado da
indenização prévia; abolição das penas de Constituição, o habeas corpus seria dado
galés e do banimento judicial; abolição da sempre que alguém sofresse ou se achasse
pena de morte, reservadas as disposições em eminente perigo de sofrer violência, ou
da legislação militar em tempo de guerra; coação, por ilegalidade, ou abuso de poder.
habeas corpus; propriedade intelectual e de A revisão constitucional de 1926 mudou a
marcas e instituição do júri. É importante redação referente ao habeas corpus: “Dar-
destacar que alguns acréscimos se deram se-á o hábeas corpus sempre que alguém
em função da separação entre o Estado e sofrer ou se achar em iminente perigo de
a Igreja. sofrer violência por meio de prisão ou
A Constituição trazia um rol apenas constrangimento ilegal em sua liberdade
demonstrativo de direitos, deixando em de locomoção”. Portanto, foi explicitado
aberto a possibilidade do reconhecimento que o habeas corpus serviria para proteger
de outros direitos não-enumerados, “mas apenas a liberdade de locomoção. Todavia,
resultantes da forma de governo que ela foi simplesmente feita a restrição referente
estabelece e dos princípios que consigna” ao cabimento do habeas corpus, sem a criação

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de outro instrumento judicial apropriado aposentadoria aos funcionários públicos
para a defesa dos direitos individuais (Cf. em caso de invalidez no serviço do Esta-
BALEEIRO, 2001b, p. 63). do. Podemos constatar que a previsão de
A regulamentação do habeas corpus, aposentadoria aos funcionários públicos é
durante a primeira República, continuou somente para uma situação bem restrita. A
sendo pelo Código de Processo Criminal Constituição de 1824 nada referia a respeito
de 1832, que vigorou até a vinda do Código de aposentadoria. Na fase final da Primeira
de Processo Penal de 1941. República, surgiram algumas legislações
Pontes de Miranda (1999, p. 223) apon- de cunho social, embora apenas no nível
ta a função social do instituto do habeas infraconstitucional. Isso em decorrência
corpus: das idéias surgidas e expandidas pelas na-
“[...] o habeas corpus exerceu no Bra- ções vitoriosas da Primeira Grande Guerra
sil, após mais de século de adoção, (1914-1918). A primeira delas surgiu em
principalmente, até 1930 e entre 1919 e foi a primeira Lei de Acidentes do
1934 e 1937, extraordinária função Trabalho. Depois, em 1924, apareceu a Lei
coordenadora e legalizante. Se as Eloy Chaves, que criou o primeiro Institu-
nossas estatísticas fossem perfeitas, se to de Aposentadorias, o dos Ferroviários.
tivéssemos notícias e dados exatos de Posteriormente, em 1926, surgiu a primeira
nossa vida social e moral, estaríamos Lei de Férias para trabalhadores (Cf. BALE-
aptos a avaliar o grande bem que à EIRO, 2001b, p. 51).
evolução do país tem produzido o ha- No que se refere aos direitos políticos,
beas corpus. Nos territórios pobres, em poderemos apontar algumas particularida-
que a existência é penosa e o trabalhar des. A Constituição de 1891 introduziu o su-
árduo, com princípios de religião frágio direto para a eleição dos deputados,
formalista e autoritária e o inevitável senadores, presidente e vice-presidente da
resíduo do fato econômico-jurídico República. Também a eleição direta passou
da escravidão – nós ainda vivemos, a ser a regra em nível estadual e municipal.
no interior, como se coexistissem na Para ser eleito (candidato), era necessário
mesma forma social o presente da ter 21 anos de idade (art. 70). Não podiam
civilização universal e o passado da votar os mendigos, os analfabetos e as pra-
nossa realidade histórica. Há peque- ças de pré, excetuados os alunos das escolas
na minoria que explora, com o auxílio militares de ensino superior (art. 70). Em
do analfabetismo, da força policial e comparação com a Constituição de 1824, a
política, etc., a grande maioria dos Constituição de 1891 não fazia a exigência
indivíduos nascidos no Brasil”. de uma determinada renda para ser eleitor.
Porém, Baleeiro (2001b, p. 51) observa Contudo, o poder local continuava sob o
que o habeas corpus quase não existia, na domínio dos coronéis (fazendeiros), como
prática, no Rio Grande do Sul, em função no Império. Esses coronéis detinham o
da existência de governos alicerçados nas poder econômico e se favoreciam do voto
idéias do positivismo inspirado em Au- a descoberto, ficando, assim, prejudicada a
gusto Comte, e que pregava uma ditadura introdução do voto direto.
científica. Durante o governo de Júlio de Embora constasse na Constituição uma
Castilhos, este promoveu processos con- declaração de direitos e garantias, não
tra juízes que ousaram conceder habeas havia muita aplicação prática, pois a so-
corpus. ciedade civil era fragilmente organizada.
Apesar de ter sido uma Constituição Além disso, a descentralização vinda com
que não tenha trazido avanços sociais, a a Constituição de 1891, passando a magis-
Constituição (art. 75) tratava do direito de tratura ao domínio dos Estados e deixando

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o poder para as oligarquias, representou ações do governo na área social. Já haviam
uma regressão do sistema de garantias sido criados, no primeiro mês do governo
das liberdades individuais que o Império provisório, dois grandes Ministérios: o
havia começado a organizar (Cf. TORRES, Ministério do Trabalho, da Indústria e do
1965, p. 81). Comércio e o Ministério da Educação e da
Saúde Pública, dos quais decorreram diver-
3. Direitos Fundamentais na sos órgãos e ações de grande importância e
Constituição de 1934 repercussão nacional.
A Constituição de 1934 manteve os
A “revolução de 1930” rompe com o principais fundamentos constantes na
Estado oligárquico e introduz na prática um Constituição de 1891, como a República, o
Estado do tipo populista. Ela apresentou federalismo e o presidencialismo. Todavia,
renovação das estruturas e das instituições, no que se refere ao federalismo, houve um
apesar de as mudanças não terem sido aumento da enumeração das competências
muito profundas. É mais apropriado se da União.
falar de reforma do Estado do que em uma No Poder Legislativo houve inovação.
transformação (revolução) do Estado. A Câmara ou Assembléia Nacional era
Em 1934 foi promulgada uma nova o órgão legislativo por excelência, e era
Constituição, considerada avançada para composta por deputados eleitos, segundo
o seu tempo, que introduz novos direitos, o sistema proporcional, e deputados classis-
direitos de segunda geração, ou seja, direi- tas, profissionais diversos eleitos por suas
tos sociais, econômicos e culturais. respectivas categorias de trabalhadores. Ao
Senado cabia colaborar com a Câmara em
3.1. A Constituição de 1934
relação ao tratamento de algumas matérias,
e a Revolução de 30
e tinha também outras atribuições privati-
Instalado o governo provisório, sob o vas. Suas atribuições se relacionavam mais
comando de Getúlio Vargas, foi editado o com as matérias federativas. Portanto, a
Decreto n. 19.398, de 11 de novembro de Constituição mitigou consideravelmente as
1930. Essa norma alterou a Constituição de atribuições legislativas do Senado. A idéia
1891, e vigorou até a Constituição de 1934. do anteprojeto de Constituição elaborado
O Decreto concedeu plenos poderes ao pelo Poder Executivo era suprimir o Senado
governo provisório, inclusive com poderes e criar em seu lugar um Conselho Supremo,
legislativos, até a elaboração de uma nova que seria um órgão técnico consultivo e
Constituição. O decreto também dissolveu o deliberativo, com funções políticas e ad-
Congresso Nacional, as Assembléias legisla- ministrativas.
tivas dos Estados e as Câmaras dos Vereado- A Constituição de 1934 tinha a preocu-
res dos Municípios, previu a indicação dos pação em limitar o poder do Presidente da
governadores pelo governo provisório fede- República; por isso em matérias sensíveis,
ral e a magistratura perdeu suas garantias. a última palavra cabia sempre ao Poder
Em 16-07-1934, foi promulgada pelo Legislativo, como no caso de decretação do
Congresso constituinte uma Constituição estado de sítio (art. 56, n. 13 c/c art. 175) e
inspirada na Constituição alemã de Wei- na intervenção federal nos Estados (art. 56,
mar, de forte conotação social, introduzindo n. 12 c/c art. 12, § 1o).
matérias referentes a ordem econômica e Em matéria de controle de constitu-
social, à família, à educação, à cultura, e uma cionalidade, o avanço que pode ser con-
forte legislação trabalhista e previdenciária. siderado se deu na atribuição conferida
Nesse período ocorreu a elaboração ao Senado para suspender a lei declarada
de um grande numero de legislações e inconstitucional pelo STF, dando efeito erga

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omnes à decisão tomada dentro do controle incisos extenso rol de direitos individuais,
difuso. Com isso, a decisão do STF poderia além de terem sido acrescentados outros
passar a ter efeito erga omnes, mas não em incisos.
decorrência da força da sua decisão, como No rol dos novos direitos individuais,
ocorre no sistema norte-americano, mas sim constam: a lei não prejudicará o direito
por meio de um órgão do Poder Legislati- adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa
vo, o Senado. Foi ainda introduzida a ação julgada; explicitou o princípio da igualda-
direta de inconstitucionalidade interven- de; permitiu a aquisição de personalidade
tiva, que não é um controle em abstrato jurídica, pelas associações religiosas, e in-
puro, mas um meio termo entre o controle troduziu a assistência religiosa facultativa
em tese e o concreto, pois o controle é um nos estabelecimentos oficiais; instituiu a
pressuposto da intervenção federal. Pela obrigatoriedade de comunicação imediata
Constituição de 1934, o Procurador-Geral de qualquer prisão; instituiu o mandado de
da República submetia ao STF a própria segurança; vedou a pena de caráter perpé-
lei de intervenção e não a lei estadual tuo; proibiu a prisão por dívidas, multas
inquinada de inconstitucional por violar ou custas; impediu a extradição de estran-
princípio constitucional sensível (art. 7o). A geiros por crime político ou de opinião, e,
Constituição ainda criou o recurso extraor- em qualquer caso, a de brasileiros; criou a
dinário das decisões das causas decididas assistência judiciária para os necessitados;
pelas justiças locais em única ou última determinou às autoridades a expedição de
instância, quando se questionasse sobre a certidões requeridas para defesa de direitos
vigência ou validade de lei federal em face individuais ou para esclarecimento dos
da Constituição (art. 176, III). cidadãos a respeito dos negócios públicos;
A Constituição era uma Carta que isentou de imposto o escritor, o jornalista
inovou o constitucionalismo brasileiro e o professor; e atribuiu a todo cidadão
e era muito avançada para a época. Ela legitimidade para pleitear a declaração de
trazia como valor maior o bem comum nulidade ou anulação de atos lesivos do
(Cf. BONAVIDES; ANDRADE, 1991, p. patrimônio da União, dos Estados e dos
9). No entanto, a Constituição de 1934 teve Municípios.
uma duração muito curta e quase não foi É importante destacar a inovação em
aplicada. Em 1935 houve a tentativa de um nível da garantia dos direitos fundamen-
golpe de Estado pelos comunistas, chamada tais, com a criação do mandado de segu-
de “intentona comunista”. O Presidente rança, para proteção de direito “certo e
aproveitou esse momento e conseguiu a incontestável, ameaçado ou violado por
aprovação de Emenda Constitucional, em ato manifestamente inconstitucional ou
18 de dezembro de 1935, que lhe permitia ilegal de qualquer autoridade”. O fato
a declaração de Estado de sítio e de guerra. de ter previsto que o direito deveria ser
Em 1937 houve o golpe de Estado. Em ver- incontestável e inconstitucional serviu de
dade, entre 1933 e 1937, tinha-se a presença argumento para se criar obstáculo ao ca-
de duas ordens: uma revolucionária, con- bimento de mandado de segurança. Esse
duzida por Getúlio Vargas; outra constitu- remédio jurídico foi criado para proteger
cional, regulada pela Constituição de 1934. direito liquido e certo não amparado por
habeas corpus, que foi instituído pela Cons-
3.2. Os Direitos civis, políticos e sociais tituição de 1891 e era de larga abrangência,
A Constituição de 1934, dando conti- e que, a partir de 1926, tinha ficado restrito
nuidade à tradição das Constituições bra- a proteção da liberdade de locomoção.
sileiras, previu um capítulo sobre direitos e Ainda nesse período, surgiu a Lei n. 191,
garantias, e repetiu em seu art. 113 e seus 38 de 16/01/1936, que foi a primeira norma

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infraconstitucional a regulamentar esse do exercício de todas as profissões; reco-
novo remédio constitucional. nhecimento das convenções coletivas de
Foi ainda criado outro remédio, a trabalho; e obrigatoriedade de ministrarem
ação popular, surgindo assim o primeiro as empresas, localizadas fora dos centros
instrumento de defesa da cidadania, para escolares, ensino primário gratuito, desde
anular qualquer ato lesivo ao patrimônio da que nelas trabalhassem mais de 50 pessoas,
União, dos Estados e dos Municípios. havendo, pelo menos, 10 analfabetos. Para
Inovou ainda a Constituição no que se dirimir os conflitos resultantes das relações
refere ao direito de propriedade, afirmando trabalhistas, regidas pela legislação social,
que o direito de propriedade não poderia a Constituição criou a Justiça do Trabalho
ser exercido contra o interesse social ou (art. 122), vinculada ao Poder Executivo.
coletivo (art. 113, XVII). Em relação aos direitos culturais, a
O habeas corpus estava previsto no art. Constituição previa: direito de todos à
113, § 23. Todavia, fazia-se ressalva que educação, com a determinação de que esta
não cabia o habeas corpus em relação às desenvolvesse, num espírito brasileiro, a
transgressões militares. consciência da solidariedade humana (art.
Além dos tradicionais direitos individu- 149); obrigatoriedade e gratuidade do en-
ais, a Constituição de 1934 inovou ao intro- sino primário, inclusive para os adultos, e
duzir no constitucionalismo brasileiro os tendência à gratuidade do ensino ulterior
direitos sociais, de segunda geração. Esses ao primário (art. 150); ensino religioso fa-
direitos foram tratados separadamente dos cultativo, respeitada a confissão do aluno
direitos individuais, constando dentro do (art. 153); liberdade de ensino e garantia de
Título que tratava “Da Ordem Econômica cátedra (art. 155).
e Social”. Fruto da introdução desse Estado social,
No rol das normas de proteção social do havia ainda outras previsões na Constitui-
trabalhador, constavam: proibição de dife- ção. Quando tratava da ordem econômica,
rença de salário para um mesmo trabalho, afirmava que estava garantida a liberdade
por motivo de idade, sexo, nacionalidade econômica, dentro dos limites da Justiça
ou estado civil; salário mínimo capaz de e das necessidades da vida nacional, “de
satisfazer às necessidades normais do modo que possibilite a todos existência
trabalhador; limitação do trabalho a oito digna”. Afirmava ainda que “os poderes
horas diárias, só prorrogáveis nos casos públicos verificarão, periodicamente, o
previstos em lei; proibição de trabalho a padrão de vida nas várias regiões do País”
menores de 14 anos, de trabalho noturno a (art. 115).
menores de 16 e em indústrias insalubres a Essas matérias relacionadas aos direitos
menores de 18 anos e a mulheres; repouso sociais, econômicos e culturais até então
semanal, de preferência aos domingos; não eram consideradas matérias constitu-
férias anuais remuneradas; indenização ao cionais. Essa constitucionalização se deu
trabalhador dispensado sem justa causa; sob a influência da Constituição de Weimar,
assistência médica sanitária ao trabalhador; de 1919, e de outras Constituições daquele
assistência médica à gestante, assegurada a período, que também passaram a tratar
ela descanso antes e depois do parto, sem desse tipo de matéria.
prejuízo do salário e do emprego; institui- Em relação aos direitos políticos, houve
ção de previdência, mediante contribuição algumas alterações. Para a eleição de Pre-
igual da União, do empregador e do em- sidente da República, o sufrágio, além de
pregado, a favor da velhice, da invalidez, universal e direto, seria também secreto
da maternidade e nos casos de acidentes (art. 52). Apesar dessa previsão, a própria
de trabalho ou de morte; regulamentação Assembléia Nacional Constituinte elegeu,

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de forma indireta, o Presidente da Repú- lio não era candidato a reeleição. A versão
blica. As eleições que seriam diretas, em oficial do regime para o golpe foi a ameaça
1937, não ocorreram em função do golpe comunista e integralista que pairava sobre
de Estado. Também os membros do Senado a nação. O fundamento para o golpe foi
e os governadores foram eleitos de forma um plano que tratava de um projeto de
indireta, pelas Assembléias Constituintes golpe de Estado pelos comunistas, chama-
dos Estados (art. 3o, das Disposições Tran- do “plano Cohen”, mas que na verdade se
sitórias). tratava de um falso plano elaborado pelo
O sufrágio feminino estava assegura- governo. O regime imposto tentou angariar
do, em igualdade com o masculino (art. alguma legitimidade, apresentando uma
108): “São eleitores os brasileiros de um nova Constituição. Diante dessa conjuntura
e de outro sexo, maiores de 18 anos, que ditatorial, os direitos fundamentais ficam
se alistarem na forma da lei”. Idéia essa sem qualquer garantia.
também presente na declaração de direi-
tos da própria Constituição (art. 115), ao 4.1. A Constituição de 1937
estabelecer a igualdade e vedar quaisquer e a ditadura do Estado Novo
privilégios, distinções, por motivo de nas- A Constituição de 10-11-1937 institu-
cimento, sexo, raça, profissões próprias cionalizou um Estado autoritário, o Estado
ou dos pais, classe social, riqueza, crenças Novo. Ela concedeu amplos poderes ao
religiosas ou idéias políticas. Na verdade, Presidente da República, colocando-o como
o voto feminino já havia sido introduzido suprema autoridade estatal; restringiu as
pelo primeiro Código Eleitoral brasileiro, prerrogativas do Congresso e a autonomia
veiculado pelo Decreto n. 21.076, de 24 de do Poder Judiciário; retirou a autonomia
fevereiro de 1932. dos Estados-membros; dissolveu a Câma-
Outro avanço em nível eleitoral, trazido ra, o Senado, e as Assembléias Estaduais;
pela Constituição, foi a criação da Justiça restaurou a pena de morte; os partidos
Eleitoral, incorporando-a ao Poder Judici- políticos foram dissolvidos; a liberdade de
ário. Essa medida já constava no Código imprensa era inexistente; entre outras me-
Eleitoral de 1932. Entre as competências da didas ditatoriais. Houve inclusive um ato
Justiça Eleitoral estava a de “conceder habeas solene de queima das bandeiras dos Esta-
corpus e mandado de segurança em casos dos, para simbolizar a dominação do poder
pertinentes à matéria eleitoral” (art. 83, f). central e a unidade nacional, alegando-se
Reafirmando o compromisso da Cons- que os Estados estariam representados, a
tituição com os direitos fundamentais, partir daquela data, pela bandeira nacional
previa como crime de responsabilidade (Cf. CARONE, 1976, p. 164).
do Presidente da República os atos que A Carta de 1937 teve como referência
atentassem contra “o gozo ou o exercício a Constituição polonesa de 1935, por isso
legal dos direitos políticos, sociais ou indi- a oposição ironicamente a chamava de
viduais” (art. 43). “polaca”. Era uma Constituição de cunho
fascista, inspirada no regime fascista italia-
4. Direitos Fundamentais na no e alemão. Além do mais, a Constituição
de 1937 foi outorgada, assim como também
Constituição de 1937
foram as Constituições estaduais, pelos
Getúlio Vargas provocou um golpe de respectivos governos (art. 181).
Estado, em 1937, apoiado pelos militares, A Carta do Estado Novo não foi uma
para permanecer no poder, instalando o Constituição no sentido real do termo. Ela
denominado “Estado Novo”. Faltava um não passou de uma grande fraude política
mês para as eleições presidenciais, e Getú- ou até mesmo um estelionato político, de-
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vido aos diversos artigos que concederam de Segurança Nacional, para processar e
plenos poderes a Getúlio Vargas, e um julgar os crimes contra o Estado e a estrutura
mandato indefinido. Afirmava o art.187 das instituições (art. 172). As leis que fossem
que a Constituição entraria em vigor e declaradas inconstitucionais pelo Judiciário
vigoraria até a realização de plebiscito na- poderiam ser validadas pelo Presidente
cional, de acordo com forma estabelecida da República (art. 96, § único c/c art. 180).
por decreto do Presidente da República. Além disso, foi extinta a Justiça Federal e a
Todavia o decreto não foi expedido. Em Justiça Eleitoral, sendo apenas órgãos do
decorrência dessa omissão, não podiam Poder Judiciário o STF; os juízes e tribunais
ser aplicados outros dispositivos, como: dos Estados, Distrito Federal e dos territó-
“o atual Presidente da República tem re- rios (Tribunais de Apelação); e os juízes e
novado o seu mandato até a realização do tribunais militares (art. 90). A Justiça Eleito-
plebiscito a que se refere o art. 187” (art. ral foi recriada no fim do Estado Novo, pelo
175). Previa também a Constituição um Decreto-lei n. 7.586, de 28/05/1945.
Parlamento Nacional, todavia condiciona- Entre tantos abusos permitidos pela
va a realização das eleições para depois do Constituição de 1937, também em matéria
plebiscito, quando seriam marcadas pelo de controle constitucional houve retrocesso.
Presidente da República. Previa o controle difuso, mas não previa a
Autores como Fernando Whitaker da remessa para o Senado para dar efeito erga
Cunha (apud BARROSO, 1996, p. 13) negam omnes. Além disso, a Constituição previa
a existência jurídica da Constituição de que o Presidente da República poderia
1937, porque ela não teria sido submetida ao submeter ao Parlamento a lei declarada
plebiscito previsto no seu artigo 187. Nesse inconstitucional pelo STF, que, pelo quorum
caso, a Constituição teria “apenas um valor de dois terços, poderia revogar a decisão de
histórico”. O próprio Francisco Campos, inconstitucionalidade tomada pelo STF.
que foi o principal autor da Constituição Com o fim da Segunda Guerra Mun-
de 1937, quando do seu rompimento com dial, o Presidente foi pressionado a fazer
Getúlio em março de 1945, em entrevista a abertura política. Pelo Decreto n. 9, de
concedida à imprensa, disse que ela era 28/02/1945, o governo organizou as elei-
um documento que não podia “invocar ções presidenciais, para os governadores
em seu favor o teste da experiência”, pois dos Estados e para o Congresso Nacional,
não foi “posta à prova”, permanecendo tendo este ainda a atribuição de elaborar
“em suspenso desde o dia de sua outorga” uma nova Constituição. Porém, Getúlio é
(PORTO, 2001, p. 17). Afirmava ainda que afastado do poder antes das eleições, sob
a Constituição não tinha mais vigência, era suspeita de que desejava permanecer no
“de valor puramente histórico. Entrou para poder, como em 1937.
o imenso material que, tendo sido ou po-
dendo ter sido jurídico, deixou de o ser ou 4.2. Os Direitos civis, políticos e sociais
não chegou a ser jurídico por não haver ad- Em qualquer regime ditatorial, não há
quirido ou haver perdido sua vigência”. espaço para os direitos fundamentais, ou
Quanto ao Judiciário, aparentemente seja, são incompatíveis o regime ditatorial
independente, sofria o controle do gover- e os direitos fundamentais.
no, devido a um dispositivo constitucional José Afonso da Silva (2000, p. 169) afir-
que permitia ao Presidente da República ma que essa Constituição foi “ditatória na
a aposentadoria compulsória de qualquer forma, no conteúdo e na aplicação, com
agente (art. 177 e Lei Complementar no 2). integral desrespeito aos direitos do homem,
A magistratura perdeu suas garantias. Foi especialmente os concernentes às relações
criado um Tribunal de exceção, o Tribunal políticas”.

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A Carta de 1937 extinguiu o remédio que possuía os arts. 166-173, e no art. 186
heróico do mandado de segurança, criado anunciava: “É declarado, em todo o país,
pela Constituição de 1934. Apesar disso, o o estado de emergência”. O país viveu em
Decreto-lei n. 6, de 16/11/1937, restaurou o constante estado de emergência, e, nesse
mandado de segurança. Do mesmo modo, o ambiente, os direitos que, mesmo previstos
primeiro Código de Processo Civil nacional, na Constituição, não alcançam efetividade.
de 1939, refere-se ao mandado de segurança.
Em ambas as normas infraconstitucionais, o 5. Direitos Fundamentais na
mandado de segurança não era cabível contra Constituição de 1946
os atos do Presidente da República, Ministros
de Estado, Governadores e Interventores. Este período é chamado da “Redemo-
Foram instituídas a censura prévia e a cratização” ou da “Quarta República” por-
pena de morte. Esta última para os casos que vem após o regime ditatorial do Estado
expressamente especificados, inclusive Novo, e é uma tentativa de implantação da
para a subversão da ordem política e social democracia. Havia uma onda de democra-
por meios violentos e para o homicídio cia no mundo todo, após o fim da Segunda
cometido por motivo fútil e com extremos Guerra Mundial. Todavia, o fim da guerra
de perversidade. trouxe a “guerra fria”, geradora de grande
Apesar de tudo, a Constituição de 1937 instabilidade política no mundo, na Amé-
consagrou extenso rol de direitos e garan- rica Latina e, em especial, no Brasil.
tias individuais, prevendo 17 incisos em Esse período foi inaugurado com uma
seu art. 122. Além da tradicional repetição nova Constituição, que se espelha na Cons-
dos direitos fundamentais clássicos, trouxe tituição de 1934, inclusive em relação aos
algumas novidades: impossibilidade de direitos fundamentais.
aplicação de penas perpétuas; maior pos-
5.1. A Constituição de 1946
sibilidade de aplicação da pena de morte,
e a redemocratização
além dos casos militares; criação de um
tribunal especial com competência para A Constituição promulgada em 18-09-
o processo e julgamentos dos crimes que 1946 se propôs a ser uma Carta democrática,
atentarem contra a existência, a segurança tendo sido promulgada por uma Assem-
e a integridade do Estado, a guarda e o bléia Constituinte. A Constituição não foi
emprego da economia popular. Mas tudo baseada em nenhum pré-projeto, tendo
isso não teve qualquer efetividade. como referência as Constituições de 1889 e
Pontes de Miranda (1999, p. 300) assina- 1934, motivo pelo qual, para Silva (2000, p.
la que “A Carta de 1937, apenas outorgada, 87), ela teria voltado as costas para o futuro.
longe estava de aceitar a liberdade física A Assembléia constituinte era composta na
e as demais liberdades com direitos do sua maioria de conservadores, podendo ser
homem”. vistos em sua composição, pois mais de 90%
Esse regime ditatorial, no seu transcor- eram pessoalmente ou vinculados à pro-
rer, agiu contra as liberdades individuais, priedade, principalmente a imobiliária.
punindo e perseguindo os “adversários” do A forma federal de Estado foi restabele-
regime. Todavia muitas das ações gover- cida na Constituição de 1946, mas o poder
namentais vieram ao encontro da grande encontrava-se bastante centralizado na
massa de trabalhadores, como foi o caso da União, numa tendência que se verificava
criação da CLT – Consolidação das Leis do também em outras federações. A centrali-
Trabalho (BRASIL, 1943). zação do poder, principalmente financeira,
Nela estava previsto o habeas corpus (art. tornava os Estados dependentes do apoio
122, XVI), porém era uma Constituição da União.

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Houve uma preocupação especial com erga omnes (art. 64). Apenas em 1965, pela
o Município, em que se buscou resgatar a Emenda Constitucional n. 16, é que foi
sua autonomia. Para isso foi relevante a implantado no Brasil um modo de controle
mobilização proporcionada pelo movimen- de constitucionalidade em que a decisão do
to municipalista, o “municipalismo”, que STF tivesse efeito erga omnes.
reunia os municípios brasileiros em torno Todavia, houve uma alteração na for-
de reivindicações comuns, muitas delas ma da ação interventiva (representação).
consagradas pela Constituição de 1946. Diferentemente da previsão da Constitui-
O Senado voltou a ocupar a posição que ção de 1934, que submetia ao controle de
detinha na Constituição de 1891, como Casa constitucionalidade a própria lei federal
de representação dos Estados, como prevê a que autorizava a intervenção, com a Cons-
teoria clássica do federalismo. E, na Câmara tituição de 1946, o ato estadual inquinado
dos Deputados, desapareceu a representação de inconstitucional, por violar princípio
classista criada pela Constituição de 1934. constitucional sensível, é que era submetido
No Poder Judiciário, houve alteração na ao crivo do STF, por meio de ação proposta
estrutura. Foram mantidos o STF, os Juízes pelo Procurador-Geral da República. Isso
e Tribunais Militares (art. 94), bem como os era pré-requisito para a decretação de inter-
Juízes de Direito e Tribunais estaduais (art. venção federal pelo Presidente da Repúbli-
124). Foram restabelecidos os Juízes e Tri- ca. Essa configuração da ação interventiva
bunais Eleitorais. A partir da Constituição seria mantida nas próximas Constituições,
de 1946, os órgãos da Justiça Eleitoral irão inclusive na Constituição de 1988.
manter-se: Tribunal Superior Eleitoral, Tri-
bunais Regionais Eleitorais e Juntas e Juízes 5.2. Os Direitos civis, políticos e sociais
Eleitorais (art. 109). Os Juízes e Tribunais A Constituição de 1946, que veio dentro
do Trabalho foram colocados dentro da es- do contexto da democratização do país,
trutura do Poder Judiciário (art. 94), saindo também restabeleceu os direitos fundamen-
da estrutura do Poder Executivo. Também tais previstos na Constituição de 1934.
a estrutura da Justiça do Trabalho vai-se A Constituição previa capítulos refe-
manter nas Constituições ulteriores: Tribunal rentes à “Nacionalidade e Cidadania”, aos
Superior do Trabalho, Tribunais Regionais “Direitos e Garantias Individuais”, dentro
do Trabalho e Juntas e Juízes de Conciliação do Título IV – Da Declaração de Direitos
e Julgamento (art. 122)1. Foi criado o Tribunal (arts. 129 a 144).
Federal de Recursos, que seria o segundo No referente aos direitos individuais,
grau da Justiça Federal (art. 104), sem, no foi estabelecida a total liberdade de pen-
entanto, prever o primeiro grau dessa Justiça samento, podendo apenas haver censura a
Federal. O primeiro grau seria criado somen- respeito de espetáculos e diversões públicas
te em 1965, por norma infraconstitucional. (art. 141, 5o).
A Constituição de 1946 não trouxe A Constituição de 1946 introduziu o
qualquer avanço em matéria de controle princípio da ubiqüidade da Justiça (art.
de constitucionalidade. Ela se restringiu a 141, 4o) ao enunciar que: “A lei não poderá
resgatar o controle difuso da Constituição excluir da apreciação do Poder judiciário
de 1934, com a possibilidade de remessa qualquer lesão de direito individual”. Para
ao Senado, para ampliar os efeitos para Pontes de Miranda (Cf. HERKENHOFF,
1994, p. 79), essa foi a mais prestante criação
1
A Emenda Constitucional n. 45, de 8/12/2004, do constituinte de 1946.
alterou a Constituição de 1988, extinguindo as Jun-
Foi abolida a pena de morte, a não ser
tas de Conciliação e Julgamento, mantendo apenas
juízes singulares nas novas Varas de Trabalho (art. em caso de guerra, bem como a prisão
116, CF). perpétua (art. 141, § 31).

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Além disso foi estabelecida a soberania primário para os servidores e respectivos
dos veredictos do júri (art. 141, § 28) e a filhos; obrigatoriedade de ministrarem as
individualização da pena (art. 141, § 29). empresas, em cooperação, aprendizagem
Foram restaurados o habeas corpus (art. aos seus trabalhadores menores; instituição
141, § 23), o mandado de segurança (art. de assistência educacional, em favor dos
141, § 24), a ação popular (art. 141, § 31) e alunos necessitados, para lhes assegurar
os princípios da legalidade (art. 141, § 2o) e condições de eficiência escolar.
da irretroatividade da lei (art. 141, § 3o). A decretação do Estado de sítio ficou ao
Os direitos sociais, seguindo as Cons- encargo do Congresso Nacional (art. 206),
tituições anteriores, eram tratados fora do e não mais do Poder Executivo.
Título referente à Declaração de Direitos. Em relação aos direitos políticos, a
Eles eram tratados no Título referente à Constituição de 1946 reafirmou o sufrágio
Ordem Econômica e Social. universal, o voto direto e secreto, o siste-
No art. 157, foram arrolados diversos ma eleitoral proporcional, um regime de
direitos sociais relativos aos trabalhado- partidos nacionais e a Justiça Eleitoral (Cf.
res. Os novos direitos sociais introduzidos LIMA SOBRINHO, 2001, p. 49).
foram: salário mínimo capaz de satisfazer Os partidos políticos obtiveram liber-
conforme as condições de cada região, as dade de organização, e, pela primeira
necessidades normais do trabalhador e de vez no Brasil, tiveram caráter nacional.
sua família; proibição de diferença de sa- Foi também a primeira vez que surgiu no
lário para um mesmo trabalho por motivo Brasil o pluripartidarismo, podendo ser
de idade, sexo, nacionalidade ou estado contabilizado em 1964, às vésperas do golpe
civil; participação obrigatória e direta do militar, um total de 14 partidos políticos
trabalhador nos lucros da empresa; repouso (Cf. BALEEIRO, 2001a, p. 21).
semanal remunerado; proibição de trabalho Os demais direitos civis, políticos e so-
noturno a menores de 18 anos; fixação das ciais eram aqueles da Constituição de 1934
percentagens de empregados brasileiros que não haviam sido recepcionados pela
nos serviços públicos dados em concessão Constituição autoritária de 1937. Isso em
e nos estabelecimentos de determinados ra- função de que a Constituição de 1946 teve
mos do comércio e da indústria; assistência como referência a Constituição de 1934.
aos desempregados; previdência, mediante
contribuição da União, do empregador e 6. Direitos Fundamentais na
do empregado, em favor da maternidade Constituição de 1967
e contra as conseqüências da doença, da
velhice, da invalidez e da morte; obrigato- Os militares provocaram um golpe de
riedade da instituição, pelo empregador, do Estado em 1964, sob pretexto de defende-
seguro contra acidentes do trabalho; direito rem o interesse geral da nação brasileira
de greve (art. 158); e liberdade de associa- perante a ameaça que pesava sobre a ordem
ção profissional e sindical (art. 159). pública. A República foi duramente atin-
Além disso, a Constituição previu um gida com o regime militar. Rocha (1996, p.
Título especial (Título VI) para a proteção 31) observa que, durante esse período, não
à família, educação e cultura. houve nem República, nem Federação, e
Os direitos culturais foram ampliados: que se pode justamente falar da existência
gratuidade do ensino oficial ulterior ao de uma República nominal e de um Estado
primário para os que provassem falta ou federal formal. Para nós, o que desapareceu
insuficiência de recursos; obrigatoriedade foi o próprio regime constitucional, com
de manterem as empresas, em que tra- tudo que o representa, e, principalmente, a
balhassem mais de 100 pessoas, ensino garantia aos direitos fundamentais.

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6.1. A Constituição de 1967 ainda o Presidente da República decretar
e a ditadura militar estado de sítio sem ouvir o Congresso
A Constituição de 1946 foi oficialmente Nacional (art. 6o). O Congresso Nacional
substituída pela Constituição de 1967. No continuou a funcionar, mas tinha perdido
entanto, desde o golpe militar, em 31 de completamente a sua autonomia.
março de 1964, tinha-se encerrado o ciclo Os Atos Institucionais de n. 2, 3 e 4 segui-
constitucional capitaneado pela Consti- ram uma tendência cada vez mais centrali-
tuição de 1946. Portanto, ao tratarmos da zadora, e mais tarde eles foram incluídos na
denominada “Constituição” de 1967 estare- Constituição de 1967. Do mesmo modo que
mos tratando de todas as normas que eram no AI-1, os atos praticados pelo governo
materialmente constitucionais desde 1964. com fundamento nesses Atos Institucionais
Os militares quiseram manter uma apa- e Complementares estavam excluídos da
rência de legalidade na sua ação, para legi- apreciação pelo Poder Judiciário.
timar o regime ditatorial. Para isso, manti- O Ato Institucional n. 2, de 27 de outu-
veram formalmente a Constituição de 1946. bro de 1965, marca a ruptura com o regime
Contudo, a Constituição não tinha mais a político estabelecido pela Constituição de
supremacia na ordem jurídica do país. Os 1946. No Ato consta que a Constituição
“Atos Institucionais” (AI) ocuparam o lugar de 1946 e as Constituições estaduais e res-
central, como pode ser ilustrado pelo artigo pectivas Emendas seriam mantidas com
10 do Ato Institucional n. 5: “no interesse as modificações constantes do Ato. Os
da paz e da honra nacional, e sem as limita- poderes excepcionais do Ato n. 1 foram
ções previstas na Constituição, os chefes da mantidos. Os partidos políticos até então
revolução, que estabelecem o presente ato existentes foram extintos, surgindo no
[...]”. Somente a Emenda Constitucional no lugar deles apenas dois partidos, a ARE-
11/78 é que revogou os Atos Institucionais NA e o MDB, sendo o primeiro o partido
e Complementares “no que contrariassem oficial e o segundo a oposição consentida.
a Constituição Federal”. Ele dava ainda poderes ao Presidente da
O primeiro desses documentos, o Ato República para decretar o recesso do Con-
Institucional n. 1, de 9 de Abril de 1964, gresso Nacional. Esse novo documento era
manteve a Constituição de 1946 e já pro- o símbolo do início de um novo regime,
moveu algumas modificações: a eleição o regime militar-autoritário, ou, de acor-
indireta do Presidente da República e do do com a expressão do cientista político
Vice-Presidente da República, pelo Con- argentino Guillermo O’Donnell, regime
gresso Nacional; a suspensão das garantias “burocrático-autoritário”. Esse Ato vigorou
de postos vitalícios e de estabilidade; a até a Constituição de 1967.
possibilidade de demissão, licenciamento O Ato Complementar n. 23, de 20 de
ou aposentadoria dos funcionários federais, outubro de 1966, permitia ao regime a decre-
estaduais e municipais; a possibilidade de tação da suspensão temporária do Congresso
suspensão dos direitos políticos durante Nacional até 22 de novembro do mesmo ano.
dez anos e a revogação dos mandatos parla- Em virtude do Ato Institucional n. 4, de
mentares federais, estaduais e municipais. 7 de dezembro de 1966, o primeiro Presi-
Em função deste último, eram concedidos dente do regime militar, o Marechal Hum-
poderes aos editores do Ato e ao próximo berto Castello Branco, fez uma convocação
Presidente da República para, até 60 dias extraordinária do Congresso Nacional para
depois da posse, cassar mandatos eletivos votar o projeto de Constituição, entre 12
populares e suspender direitos políticos. de dezembro e 24 de Janeiro de 1967. Isso
Tais atos não estavam sujeitos a apreciação visava a dar uma maior legitimidade para
pelo Poder Judiciário (art. 7o, 4o). Poderia o regime ditatorial. Mas o que ocorreu foi

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a instauração de um processo totalmente Os direitos fundamentais sofreram res-
ilegítimo. Por um lado, o Congresso não trições com os Atos Institucionais. Herke-
estava investido do poder constituinte nhoff (1994, p. 81) afirma que os Atos n. 1
originário (Cf. BARROSO, 1996, p. 34). Por e 2 não se compatibilizam com as franquias
outro lado, tratava-se de uma convocação presentes na Declaração Universal dos Di-
autoritária, com todos os meios de pressão reitos Humanos, pelas seguintes razões:
e de repressão que não permitiam a livre “a) os punidos, a muitos dos quais
expressão. O texto da Constituição foi im- se imputaram atos delituosos, não
posto, dado que os deputados não tiveram tiveram o direito de defesa previsto
tempo de examiná-lo. Como conseqüência, no art. 11 da Declaração;
o texto da Constituição foi aprovado com b) o direito de receber dos tribunais
pequenas alterações. nacionais competentes remédio
Essa Constituição se baseou na Carta de efetivo para os atos eventualmente
1937, e teve preocupação fundamental com violadores dos direitos reconhecidos
a segurança nacional. Ela centralizava todo o pela Constituição e pela lei – previsto
poder na União, e o seio da União no Poder no art. 8o da Declaração – também
Executivo (Cf. CAVALCANTI, 2001, p. 37). foi desrespeitado pelo artigo que re-
A Constituição de 24-01-1967 trocou o vogou o princípio da ubiqüidade da
nome da Constituição e do Estado brasilei- Justiça e excluiu de apreciação judici-
ro. As Constituições anteriores portavam o ária as punições da Revolução;
título de “Constituição dos Estados Unidos c) o tribunal independente e impar-
do Brasil”; a nova Constituição passou a se cial, a que todo homem tem direito,
chamar “Constituição do Brasil”. não o é aquele em que o próprio juiz
No que se refere ao controle de consti- está sujeito a punições discricionárias.
tucionalidade, a única alteração se deu em Assim, a total supressão das garantias
1965, com a Emenda Constitucional n. 16, da magistratura viola o art. 10;
quando foi implantado no Brasil um modo d) a exclusão discricionária do grêmio
de controle de constitucionalidade em que a político (suspensão de direitos de ci-
decisão do STF passou a ter efeito erga omnes. dadão) contraria o art. 21, que confere
Parece um paradoxo o fato de uma ação di- a todo homem o direito de participar
reta de inconstitucionalidade genérica, que do governo de seu país.”
se presta a proteção dos direitos fundamen- A Constituição de 1967 previa um capí-
tais, ter sido criada por um regime ditatorial, tulo sobre direitos e garantias individuais
que fora implantado em 1964. Por outro (art. 153) e um artigo (165) com um rol de
lado, isso pode ser entendido como uma direitos sociais dos trabalhadores, para a
maneira de se ter um maior controle sobre a melhoria das suas condições sociais.
constitucionalidade das leis, evitando as de- No que se refere aos direitos e garan-
cisões judiciais por meio do controle difuso. tias individuais, em comparação com a
Nesse aspecto o único com titularidade ativa Constituição de 1946, houve as seguintes
para a ação direta era o Procurador-Geral limitações: o acesso ao Poder Judiciário
da República, que era cargo de confiança poderia ser limitado pela lei, que poderia
do Presidente da República. condicionar esse direito a que fossem
exauridas as vias administrativas; houve
6.2. Os Direitos e suas limitações restrição da liberdade de publicação de
Como em qualquer regime ditatorial, livros e periódicos, ao afirmar que não
os direitos fundamentais foram duramente seriam tolerados os que fossem conside-
afetados desde as primeiras horas do golpe rados como de propaganda de subversão
militar, em 31 de março de 1964. da ordem, bem como as publicações e

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exteriorizações contrárias à moral e aos 7. Direitos Fundamentais na
bons costumes; foi restringido o direito de Constituição de 1969
reunião, facultando à Polícia o poder de
designar o local para ela; foi estabelecido O regime militar tornou-se ainda mais
o foro militar para os civis (art. 122, 1o); violento a partir de 1968, tendo sido simbo-
criou-se a pena de suspensão dos direitos lizada a ampliação da agressividade pelo
políticos, declarada pelo STF, para aquele Ato Institucional n. 5. Embora fique difícil
que abusasse dos direitos políticos ou dos falar em norma constitucional num regime
direitos de manifestação do pensamento, autoritário, não podemos desconsiderar
exercício do trabalho ou profissão, reunião que, mesmo num regime autoritário, exis-
e associação, para atentar contra a ordem tem algumas normas que são consideradas
democrática ou praticar a corrupção (art. superiores às demais. Desse modo o AI-5 é
151); e foram mantidas todas as punições, uma norma de natureza superior, que trouxe
exclusões e marginalizações políticas alteração na maneira de agir do Estado, as-
decretadas sob a égide dos Atos Institu- sim como a nova “Constituição”, de 1969.
cionais – isso só terminaria com a Anistia 7.1. O AI-5 e a “Constituição” de 1969
em 1979.
Em contraste com o acima mencionado, O regime constitucional da Constituição
a Constituição de 1967 determinou que se de 1967 terminou, em rigor, com o Ato Ins-
impunha a todas as autoridades o respeito titucional n. 5, em 13 de dezembro de 1968.
à integridade física e moral do detento e Ele manteve a Constituição de 1967, mas in-
do presidiário. troduziu profundas mudanças em relação
Em matéria de direitos sociais, houve ao poder e aos direitos individuais.
os seguintes retrocessos: a redução para O ano de 1968 é marcado no Brasil pela
12 anos da idade mínima de permissão forte repressão proporcionada pelo regime
de trabalho; a supressão da estabilidade, militar, como resposta à intensidade das
como garantia constitucional, e o estabele- contestações populares a esse regime. Por-
cimento do regime de fundo de garantia, tanto, houve um endurecimento do regime,
como alternativa; as restrições ao direito que acentuou as restrições às liberdades e às
de greve; e a supressão da proibição de garantias individuais e coletivas. O célebre
diferença de salários, por motivo de idade AI-5 (o Ato Institucional n. 5) foi bastante
e nacionalidade, a que se referia a Consti- simbólico dessa mudança do regime. Bo-
tuição anterior. navides (1885, p. 87) afirma que o processo
Por outro lado, houve algumas peque- de centralização parecia ter chegado ao seu
nas melhorias: inclusão, como garantia limite no Estado Novo: “no entanto uma
constitucional, do direito ao salário-família, repetição mais violenta ocorreu mais tarde,
em favor dos dependentes do trabalhador; durante os dez anos em que durou o AI-5.
proibição de diferença de salários também Nunca tínhamos estado tão perto de institu-
por motivo de cor, circunstância a que não cionalizar o Leviatã de Hobbes, que nestes
se referia a Constituição de 1946; parti- anos de incerteza e perplexidade”.
cipação do trabalhador, eventualmente, Em 17-10-1969, foi outorgada a Emenda
na gestão da empresa; aposentadoria da Constitucional no 1, que de fato introduziu
mulher, aos trinta anos de trabalho, com uma nova Constituição. Muitos autores
salário integral; e aposentadoria para o (Cf. VIEIRA, 1988, p. 91) a consideram
professor após trinta anos e, para a pro- como emenda, mas outros como sendo
fessora, após vinte e cinco anos de efetivo a criadora de uma nova Constituição, a
exercício em função de magistério, com Constituição de 1969. José Afonso da Silva
salário integral. (Cf. SILVA, 2000) entende que, técnica e te-

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oricamente, houve uma nova Constituição, suspensão das garantias da magistratura e
tendo mudado inclusive a denominação com a cassação da liberdade de imprensa,
da Constituição, de Constituição do Brasil a tortura e os assassinatos políticos foram
para Constituição da República Federativa largamente praticados no país, sob o regime
do Brasil. A emenda foi elaborada por uma do Ato Institucional n. 5”.
Junta Militar, que reivindicava o poder A Emenda Constitucional no 1, de 17-
constituinte derivado, devido ao recesso do 10-1969, não trouxe nenhuma substancial
Congresso. Portanto, não houve nenhuma alteração formal na enumeração dos direi-
votação, e a Carta foi outorgada, mesmo tos fundamentais.
constando, no seu art. 1o, § 1o, que todo Em 1979 veio a Anistia política, com a
o poder emana do povo e em seu nome é Lei n. 6.683, de 28 de agosto. Ela concedia
exercido. anistia aos perseguidos políticos e os que
A Constituição de 1969 ampliou a cen- praticaram crimes em nome do regime.
tralização do poder e o autoritarismo. Ela
incorporou ao seu texto medidas autori- 8. Direitos Fundamentais na
tárias dos Atos Institucionais; consagrou Constituição de 1988
a intervenção federal nos Estados; cassou
a autonomia administrativa das capitais O regime militar começa aos poucos
e outros municípios; impôs restrições ao uma gradual abertura. O período entre
Poder Legislativo; validou o regime dos 1978 e 1985 é caracterizado pela “abertura
decretos-leis; manteve e ampliou as estipu- democrática”, com o retorno do multipar-
lações restritivas da Constituição de 1967, tidarismo, em 1978, e as eleições diretas
quer em matéria de garantias individuais, para governadores, em 1982. Em 1984
quer em matéria de direitos sociais. surge o movimento pelas “Diretas Já”,
Como a Constituição de 1969 manteve que defendia a aprovação no Congresso
o AI-5, ela realmente entrou em vigor com Nacional da Emenda Constitucional pre-
o término do AI-5, em 1978. vendo as eleições diretas para Presidente
da República. Esse movimento conseguiu
7.2. Os Direitos e suas limitações mobilizar grandes manifestações de massa,
O Ato Institucional n. 5 restaurou os atos e é um ponto marcante da democratização,
institucionais anteriores; repetiu todos os embora não tenha conseguido a aprovação
poderes discricionários conferidos ao Pre- da Emenda nesse período. Foi apenas com
sidente da República pelo AI-2; suspendeu a Constituição de 1988 que as eleições pas-
o habeas corpus, nos casos de crimes políti- saram a ser diretas em todos os níveis. No
cos, contra a segurança nacional, a ordem entanto, a oposição, defensora das “diretas
econômica e social e a economia popular; já”, conseguiu vencer as eleições indiretas
concedeu total arbítrio ao Presidente da para Presidente da República, em 1984,
República para a decretação de estado de elegendo Tancredo Neves para Presidente
sítio; e houve novamente a exclusão das e José Sarney para Vice-presidente. Porém,
medidas aplicáveis do exame pelo Poder Tancredo faleceu antes da posse e assumiu
Judiciário. o Vice-presidente, tendo sido o primeiro
O AI-5 previa o confisco de bens, sem Presidente civil depois de 20 anos de dita-
direito de defesa, em contradição com o dura. Isso marca o início de um novo perío-
art. 18 da Declaração Universal: “ninguém do político no Brasil, a Nova República.
será arbitrariamente privado de sua pro-
8.1. A Constituição de 1988 e a Nova República
priedade”.
Herkenhoff (1994, p. 84) lembra que: Com a posse do Presidente civil e a ins-
“Com a supressão do habeas corpus, com a talação de um regime democrático, impôs-

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se a elaboração de uma nova Constituição, a República (art. 1o), o sistema de governo é
agora democrática. Desse modo, houve a o presidencialista (art. 76), a separação dos
convocação de uma Assembléia Nacional três Poderes independentes e harmônicos
Constituinte, por meio da Emenda consti- (art. 2o). No âmbito do Poder Legislativo,
tucional no 26, de 27 de novembro de 1985. foi mantido o Congresso Nacional, com
Essa Assembléia realizou os seus trabalhos as suas duas Casas, ou seja, a Câmara dos
entre 01 de fevereiro de 1987 e 05 de outu- Deputados e o Senado Federal.
bro de 1988, tendo sido a Constituição pro- No Poder Judiciário, houve algumas
mulgada e publicada nesta última data. alterações de razoável monta. Foi criado
O constituinte de 1988 quis criar uma o Superior Tribunal de Justiça (STJ), que
Constituição democrática chamada pelo passou a ser o guardião das leis federais
Presidente da Assembléia Nacional Cons- (art. 105), absorvendo essa competência que
tituinte, Ulysses Guimarães, de “Constitui- era do STF. Na estrutura da Justiça Federal,
ção Cidadã”. Desse modo, desde o preâm- houve a substituição do Tribunal Federal
bulo, a Constituição deixa evidente a sua de Recursos, que tinha sede em Brasília,
legitimidade democrática, ao mencionar por cinco Tribunais Regionais Federais
que ela foi elaborada e promulgada por (TRFs), que passaram a ter sedes em cinco
representantes do povo. No artigo primei- diferentes regiões do país (art. 106). Além
ro, ela afirma que o Estado brasileiro é um disso, importante inovação foi a criação
Estado democrático de direito. Desse modo, dos Juizados Especiais (art. 98), estaduais
é a primeira vez que a Constituição se refere e federais, para a conciliação, julgamento
expressamente a um tipo determinado de e execução de causas cíveis de menor
Estado, e além disso criou um tipo de Esta- complexidade e infrações penais de menor
do que é considerado o mais avançado. potencial ofensivo. Esses Juizados significa-
A Constituição traz uma sistematização ram um importante avanço no que se refere
bastante atual e inovadora. Nesse sentido, ao acesso à justiça, ou seja, na concretização
o título I é destinado aos princípios funda- do direito fundamental individual à tutela
mentais e o título II aos direitos e garantias jurisdicional efetiva.
fundamentais. O título I traz uma inovação O sistema de controle de constituciona-
considerável. No artigo primeiro, anuncia lidade da Constituição de 1988 é bastante
quais são os princípios sobre os quais se fun- complexo. Na verdade a Constituição de
damenta o Estado brasileiro. No artigo ter- 1988 consagra uma gradativa progressão
ceiro, traz os princípios relativos à finalidade que alcançou o constitucionalismo brasi-
do Estado brasileiro. No artigo quarto, traz leiro em matéria de controle de constitu-
os princípios que devem reger o Brasil nas cionalidade. Temos atualmente um sistema
relações internacionais. O conteúdo e a rique- que poderemos considerar como misto,
za desses três artigos é uma singularidade pelo fato de realizar o controle difuso,
da Constituição de 1988, que contribuem de origem norte-americana, e o controle
enormemente para colocar essa Constitui- concentrado, de origem européia, além
ção entre as Constituições mais avançadas de outras particularidades do sistema de
do mundo, do ponto de vista da construção controle de constitucionalidade brasileiro.
de um Estado democrático, social e de di- Inicialmente, podemos dividir o sistema
reito, e em consonância com os princípios brasileiro em controle preventivo e contro-
maiores do constitucionalismo moderno. le repressivo ou jurisdicional. O controle
A estrutura do Estado brasileiro se preventivo é realizado durante o processo
manteve com a forma que vem desde a legislativo, tanto pelo Congresso Nacional –
Constituição de 1891. A forma de Estado é Comissões de Constituição e Justiça, e pelo
a federativa (art. 1o), a forma de governo é Plenário da Casa legislativa (art. 58) – como

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pelo Presidente da República – veto jurídico 06/12/1965). Como importante avanço
(art. 66, § 1, CF). O controle repressivo, em referente ao controle concentrado, pode-
regra, é realizado pelo Poder Judiciário, mos apontar a ampliação da titularidade
mas pode também ser feito pelo Legislativo. para as ações do controle concentrado. As
O controle repressivo realizado pelo Legis- Constituições anteriores atribuíam apenas
lativo ocorre em três situações: o Congresso ao Procurador-Geral da República. Este
Nacional pode sustar os atos normativos do continua sendo o único titular para a ADIn
Poder Executivo que exorbitem do poder interventiva, mas para as demais ações ele
regulamentar ou dos limites de delegação divide a titularidade com outras autorida-
legislativa (art. 49, V); o Congresso Na- des e órgãos (art. 103).
cional pode rejeitar Medida Provisória,
considerada inconstitucional, retirando 8.2. Os Direitos Fundamentais
do ordenamento jurídico esse instrumento A Constituição brasileira de 1988 colo-
com força de lei – atos normativos perfeitos cou no seu centro os direitos fundamen-
e acabados, apesar do caráter temporário tais. A própria localização topográfica do
(art. 62); a terceira situação ocorre quando catálogo dos direitos fundamentais, no
o Senado suspende a execução de norma início do texto constitucional (Título II), de-
declarada inconstitucional pelo STF, pelo monstra a intenção do constituinte em lhe
controle difuso (art. 52, X). dar grande importância. Além disso, já no
O controle judicial ou jurisdicional preâmbulo e depois no Título I, é possível
ocorre de dois modos: pela via de exceção, constatar o acento forte dado aos direitos
indireta, incidental ou defesa (controle fundamentais. Podemos dizer que, além
difuso, concreto ou aberto); pela via direta de os direitos fundamentais constituírem
(controle concentrado ou reservado). O os princípios fundamentais da Constitui-
controle difuso é reconhecido a todas as ção, eles se encontram presentes de uma
instâncias do Poder Judiciário (art. 97), e o forma direta ou indireta em todo o corpo
controle concentrado (art. 102) é atribuído da Constituição.
exclusivamente ao Supremo Tribunal Fe- A Constituição contempla as três ge-
deral (STF). O controle difuso era adotado rações ou dimensões de direitos apon-
no Brasil desde a Constituição de 1891, e o tadas pela doutrina moderna: direitos
controle concentrado foi adotado funda- de primeira, segunda e terceira geração.
mentalmente após 1965, com a introdução Essa classificação realizada pela doutrina
da ação direta de inconstitucionalidade baseia-se na ordem cronológica em que
genérica. A Constituição de 1988 prevê esses direitos foram recepcionados em
diversas espécies (ações) de controle con- nível constitucional, e são cumulativos. Os
centrado de constitucionalidade. Existem direitos fundamentais de primeira geração
as ações diretas de inconstitucionalidade são os direitos e garantias individuais, civis
(ADIn): genérica (art. 102, I, a, “1a parte”), e políticos, que surgiram no fim do século
interventiva (art. 36, III) e por omissão (art. XVIII. Os direitos de segunda geração são
103, § 2o); a ação declaratória de constitu- os direitos econômicos, sociais e culturais,
cionalidade (art. 102, I, a, “in fine”), e a que surgiram na primeira metade do século
argüição de descumprimento de preceito XX. E os direitos de terceira geração são
fundamental (art. 102, § 1 o). Essas três os direitos de solidariedade ou de frater-
últimas ações foram introduzidas pela nidade, que surgiram na segunda metade
Constituição de 1988, e as duas primeiras do século XX. As Constituições brasileiras
já existiam. A ADIn interventiva passou a de 1824 e 1891 apenas traziam direitos de
existir a partir da Constituição de 1934, e primeira geração. As Constituições de 1934,
a ADIn genérica, desde 1965 (EC n. 16, de 1937, 1946, 1967 e 1969 trouxeram direitos

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de primeira e segunda geração. Portanto, essa ampliação significou a introdução de
inova a Constituição de 1988 com os direi- novos direitos, pois se tratou muitas vezes
tos de terceira geração, embora não trate de em dar um tratamento mais adequado a
forma sistemática desses direitos, que estão determinados direitos que já estavam pre-
dispersos na Constituição. vistos nas Constituições anteriores. Mas,
O Título II da Constituição (Dos Direitos mesmo que tenha sido para esse fim, isso
e Garantias Fundamentais) está subdividi- demonstra também a atenção dada pelo
do em cinco capítulos: constituinte aos direitos fundamentais. Os
a) Capítulo I – Dos Direitos e Deveres direitos individuais foram ainda considera-
Individuais e Coletivos (art. 5o): correspon- velmente reforçados, recebendo o status de
de aos direitos de primeira geração; são cláusulas pétreas (art. 60, § 4o). É a primeira
os direitos individuais que se subdividem vez que uma Constituição brasileira coloca
em direitos civis e políticos; nesse capítulo algum direito fundamental como cláusula
estão basicamente os direitos civis; tratam pétrea, pois, na Constituição de 1969 (art.
das denominadas liberdades negativas, 47, § 1o), eram consideradas cláusulas pé-
pelo fato de se dirigirem contra o Estado e treas apenas a República e a Federação, o
exigirem a abstenção deste; que também ocorreu com as Constituições
b) Capítulo II – Dos Direitos Sociais brasileiras anteriores.
(arts. 6o-11): corresponde aos direitos de Também é significativo no que se refere
segunda geração; são as denominadas ao avanço dos direitos fundamentais na
liberdades positivas dos indivíduos, pelo Constituição de 1988 o que, para Ingo Sarlet
fato de exigirem a intervenção do Estado, (Cf. SARLET, 2007, p. 79), é, talvez, a inova-
que deve assegurar certas prestações aos ção mais significativa o dispositivo previsto
indivíduos; no art. 5o, § 1o, que afirma: “as normas
c) Capítulo III – Da nacionalidade (arts. definidoras dos direitos e garantias funda-
12-13): está dentro dos direitos de primeira mentais têm aplicação imediata”. Embora
geração, são direitos políticos; esse dispositivo se refira de forma genérica
d) Capítulo IV – Dos Direitos Políticos aos direitos e garantias fundamentais, o
(arts. 14-16): está dentro dos direitos de entendimento de grande parte da doutri-
primeira geração; na e da jurisprudência é que nem todos
e) Capítulo V – Dos Partidos Políticos os direitos de segunda e terceira geração
(art. 17): está dentro dos direitos de primei- teriam aplicação imediata. Portanto, esse
ra geração, são os direitos políticos. dispositivo estar-se-ia referindo especifica-
Além dessa estrutura inicial referente mente aos direitos individuais. A eficácia
aos direitos fundamentais, a Constituição imediata vincula primeiramente os órgãos
traz mais dois títulos relacionados aos di- estatais, no que a doutrina denomina de
reitos de segunda geração. O Título VII, que eficácia vertical dos direitos fundamentais,
trata da “Ordem Econômica e Financeira” e e também os particulares, constituindo a
o Título VIII, que trata da “Ordem Social”. denominada eficácia horizontal dos direitos
Os direitos individuais tiveram uma fundamentais.
ampliação considerável no seu catálogo, Os Direitos Sociais passaram a ser tra-
pois o art. 5o possui atualmente 78 incisos tados no Título II, referente aos direitos
e 4 parágrafos, contabilizando 82 disposi- fundamentais, e não mais na Ordem Eco-
tivos2. Comparando com a Constituição nômica sob o Título “Ordem Econômica e
de 1969, esta possuía simplesmente 36 pa- Social” das Constituições anteriores, desde
rágrafos. É bem verdade que nem sempre a Constituição de 1934. Agora a Constitui-
2
Isto incluindo a Emenda Constitucional n. 45, ção de 1988 trata dos direitos sociais no
de 08-12-2004. Capítulo II do Título II e também no Título

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VIII destinado à Ordem Social. O art. 6o 1891. Tal previsão está no art. 5o, § 2o, que
anuncia quais são os direitos sociais, e trata afirma: “Os direitos e garantias expressos
apenas nesta parte (art. 7o - 11) dos direitos nesta Constituição não excluem outros
relacionados ao trabalho. De um modo não decorrentes do regime e dos princípios por
muito sistemático, a Constituição detalha ela adotados, ou dos tratados internacionais
os demais direitos de segunda geração no em que a República Federativa do Brasil
Título VIII (Da Ordem Social). Portanto, seja parte”. Da forma como está redigido,
a Constituição de 1988 separou a Ordem o dispositivo inclui todos os direitos fun-
Econômica da Ordem Social, e trouxe para damentais, inclusive os direitos de terceira
dentro da ordem social os direitos sociais e geração que não constavam nas Constitui-
culturais que eram tratados em separado, ções anteriores.
no título consagrado à família, educação e No que se refere às ações constitucionais
cultura, isso também desde a Constituição ou remédios constitucionais de proteção
de 1934. Os direitos de segunda geração, ou dos direitos fundamentais, a Constituição
seja, os direitos sociais, econômicos e cultu- consagrou a progressão que ocorreu ao
rais, tiveram um tratamento privilegiado na longo da história constitucional brasileira.
Constituição, com uma amplitude do seu O artigo quinto trata do habeas corpus, do
catálogo sem precedentes nas Constituições mandado de segurança, da ação popular, do
anteriores. Por exemplo, o art. 7o, da atual direito de certidão, do direito de petição, e
Constituição, que trata dos direitos traba- inova ao criar o habeas data, o mandado de
lhistas, tem 34 incisos e um parágrafo único, injunção e o mandado de segurança coletivo.
contra 20 incisos e um parágrafo único, do A Constituição prevê a ação civil pública ao
art. 165, da Constituição de 1969. tratar das atribuições do Ministério Público.
Os direitos de terceira geração são os di- Em nível constitucional, é a primeira vez
reitos de solidariedade ou de fraternidade, que é feito referência a essa ação, embora a
que englobam o direito a um meio ambiente lei (Lei n. 7.347/85), que trata da ação civil
equilibrado, a uma saudável qualidade de pública, seja de 1985. Além disso, existem
vida, ao progresso, à paz, à autodetermina- outros titulares referidos pela lei, além do
ção dos povos e a outros direitos difusos. MP mencionado na Constituição.
A Constituição de 1988 não sistematizou Portanto, a Constituição de 1988 traz
esses direitos. Assim podemos encontrá-los avanços consideráveis em relação aos direitos
ao longo da Constituição. O direito ao meio fundamentais. O que nos leva a repetir com
ambiente, no art. 225; o direito a informa- Bobbio que agora a preocupação maior é dar
ção prestada pelos órgãos públicos, no art. efetividade a esses direitos, pois foram sem
5o, XXXIII; o direito a autodeterminação precedentes os progressos alcançados no que
dos povos e a paz, no art. 4o, que trata das se refere ao reconhecimento desses direitos.
relações internacionais; os direitos dos con-
sumidores, no art. 5o, XXXII. Além disso, ao 9. Considerações finais
tratar das atribuições do Ministério Público,
no art. 129, fala do Inquérito civil e da ação Existe uma relação direta entre o regime
civil pública, que são instrumentos desti- político e os direitos fundamentais. Durante
nados à proteção dos interesses difusos e períodos de regimes ditatoriais no Brasil,
coletivos (inciso IV). os direitos encontravam-se declarados nas
A Constituição de 1988 repetiu a previ- Constituições, mas outros dispositivos da
são de um conceito materialmente aberto própria Constituição e a prática acabavam
de direitos fundamentais, que constava nas por negar esses direitos. Por outro lado,
Constituições anteriores, desde a primeira durante períodos de relativa democracia
Constituição republicana, a Constituição de existiam previsões de direitos, e as demais

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normas constitucionais estatuíam um BONAVIDES, Paulo. Política e constituição: os cami-
Estado limitado, o que oferecia condições nhos da democracia. Rio de Janeiro: Forense, 1985.
para uma prática que respeitasse os di- BONAVIDES, Paulo; ANDRADE, Paes de. História
reitos fundamentais. Desse modo, apesar constitucional do Brasil. São Paulo: Paz e Terra, 1991.
das declarações de direitos nas diversas BRASIL. Decreto-lei no 5.452, de 1o de maio de 1943.
Constituições brasileiras, seja em regimes Diário Oficial da União, Brasília, 9 ago. 1943. Seção 1,
democráticos, seja ditatoriais, houve cons- p. 11937.
tantes violações aos direitos fundamentais, BREGA FILHO, Vladimir. Direitos fundamentais na
e ainda continua havendo nos dias de hoje, constituição de 1988: conteúdo jurídico das expressões.
apesar de termos uma das mais lindas de- São Paulo: J. de Oliveira, 2002.
clarações de direitos na Constituição atual, BURSZTYN, Marcel. Autoritarisme, politiques de dé-
de 1988. Sem sombra de dúvida, existe um veloppement régional et légitimation dans le Nord-est
grande fosso entre o dever-ser e o ser ou brésilien: essai sur le rapport pouvoir local – pouvoir
entre o ideal e o real. central. Sciences Economiques, Paris, 1982.
A análise da evolução dos direitos fun- CALMON, Pedro. Curso de direito constitucional brasi-
damentais nas Constituições brasileiras leiro. Rio de Janeiro: F. Bastos, 1937.
permite constatar a progressão dos direi-
CÂNDIDO, Joel José. Direito eleitoral brasileiro. 5. ed.
tos no Brasil, em todos os níveis. Nesse Bauru: Edipro, 1995.
contexto, a Constituição de 1988 é aquela
CARONE, Edgard. O estado novo (1937-1945). Rio de
que, sem precedentes, coloca os direitos
Janeiro: Difel, 1976.
fundamentais no seu centro e representa
a consolidação de todos os direitos con- CAVALCANTI, Themístocles Brandão. Introdução
quistados. A posição privilegiada dos à análise da constituição de 1967: o esquema político
da Constituição. In: ______ ; BRITO, Luiz Navarro;
direitos fundamentais na Constituição de BALEEIRO, Aliomar. Constituições brasileiras: 1967.
1988 decorre tanto em função da extensa Brasília: Senado Federal, 2001.
positivação dos direitos como também
COSTA, Emilia Viotti da. O Supremo Tribunal Federal e
pela proteção, aplicação e eficácia desses
a construção da cidadania. São Paulo: Ieje, 2001.
direitos. É importante compreender essas
conquistas e buscar meios que possam dar FAORO, Raymonde. Os donos do poder: formação do pa-
tronato político brasileiro. Porto Alegre: Globo, 1977.
plena efetividade aos direitos e garantias,
pois a simples declaração de direitos não FURTADO, Celso. Obstáculos políticos al crecimiento
nos torna pessoas detentoras de dignidade económico del Brasil. In: OBSTACULOS para la
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