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A Reinvenção do Trabalho na Velhice

Em vista da crescente população idosa no mundo todo, incluindo o


Brasil, o trabalhador idoso é cada vez mais comum nos meios de
trabalho e tende a aumentar ainda mais nos próximos anos.

O trabalho, seja considerado ele formal ou informal, é uma construção


social que, ao longo da história da humanidade, adquiriu vários
significados, desde aspectos ligados ao labor penoso relacionado a
um sentido emocional, até as conotações voltadas a realizações e
satisfações perante a sociedade (Albornoz, 2000; Peres, 2014).

A transição para a aposentadoria pode ser analisada sob duas


perspectivas. Uma é a possibilidade de descanso remunerado, que
proporcionará mais tempo aos interesses pessoais e familiares,
porém, a outra perspectiva é menos otimista e implica redução da
capacidade financeira, perda de vínculos afetivos do ambiente de
trabalho, perda de status profissional, além de sentimentos de
inutilidade e insegurança (Zanelli, 2008).
Idosa buscando por vaga de emprego
• O Trabalhador Idoso no Brasil

o Seguindo a tendência mundial, a população economicamente


ativa no Brasil vem tomando características de envelhecimento,
estando também ligada à demanda de produtividade e às
questões previdenciárias.

o Aliada à fragilidade do benefício previdenciário, além das questões


sociais que o trabalho significa na vida do idoso, cria-se um quadro
em que a aposentadoria formal não significa saída total do
mercado. De acordo com Alcântara et al. (2016), são duas as
principais condições que fazem com que os idosos permaneçam no
mercado de trabalho no Brasil:

- aposentado ainda em atividade formal;


- trabalhador por conta própria (autônomo ou para o próprio
consumo, aposentado ou não);
o No Brasil, em 2018, apenas um em cada quatro idosos ativos
possuía carteira assinada. Segundo apurado pela Pesquisa
Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) do IBGE, 18% dos
idosos estavam na informalidade (IBGE, 2018).

o As oportunidades de trabalho
remunerado ofertadas aos mais
idosos no momento atual, são
bem restritas e muitos que ainda
trabalham, o fazem de maneira
informal.

o A baixa escolaridade, o alto nível de exigência e a qualificação


criteriosa também contribuem para que o número de pessoas
mais velhas inseridas no mercado de trabalho formal seja
menor do que o daqueles que gostariam de compor esse grupo.
• A Representação do Trabalho Para os Idosos
o Os idosos, durante entrevistas realizadas,
enfatizaram gostar de suas atividades
profissionais, aliado às sensações de
orgulho por continuarem trabalhando e
sentimento de gratificação. Ressaltaram
que o trabalho não significava somente o
salário, mas sim o amor pela profissão.
Segundo Paschoal e Tamoyo (2008), a
satisfação no trabalho está intrinsicamente
relacionada aos aspectos cognitivos e
afetivos de bem-estar.
o Para os idosos aposentados, o trabalho representa a
possibilidade de uma condição de vida melhor. Relataram que o
trabalho possibilita cuidar dos familiares com segurança,
conquistar um padrão de vida melhor e fonte de renda para
sobrevivência. A atividade remunerada colabora para uma
melhor qualidade de vida pessoal e familiar.
o Coutrim (2006), também com base em uma pesquisa promovida,
afirma que o idoso que trabalha, independente da sua situação
previdenciária, tende a adotar uma postura diferente da de um
cidadão aposentado, pois possui poder de decisão no domicílio.
Normalmente, ele transparece orgulho do trabalho e destaca o
fato de ser chefe da família, ou seja, de não ser excluído das
decisões familiares, tornando- se, ao contrário, referência para os
filhos e netos.

o Os resultados mostram que o trabalho é visto como fonte de renda


complementar à aposentadoria e uma forma de reinserção nos meios
sociais, além de desenvolvimento pessoal.

o As representações sociais, em relação ao trabalho, mais citadas


pelos idosos relacionam-se à experiência, à responsabilidade, à
improdutividade, à vulnerabilidade e à discriminação etária.
Observou-se que os meios e ritmo de trabalho no geral não são
adaptados ao trabalhador idoso, de forma discriminatória.
o As expectativas quanto ao trabalho na aposentadoria, estão
ligadas, para alguns participantes, à possibilidade de, nessa fase
da vida, empreender, ter engajamento social e poder transmitir
seus conhecimentos. Assim, expressaram a vontade de
continuarem ativos através da criação de um negócio, repassar
suas experiências aos mais jovens e atuar em projetos sociais.

Idosos trabalhando
• Os Desafios do Idoso Frente ao Mercado de Trabalho

o Quando o idoso deseja voltar ao mundo laboral, precisa competir


com concorrentes mais jovens, geralmente preferidos pelo
mercado de trabalho devido ao seu maior grau de qualificação ou
muito mais adaptados à tecnologia inerente ao moderno mundo
laboral, estando o grupo mais maduro em situação desfavorável
(PAOLINI, 2016).
o Estudos nacionais que
investigaram os determinantes da
participação dos idosos no
mercado de trabalho brasileiro,
apontaram que a educação tem
papel importante, dificultando a
probabilidade de ocupação de
postos laborais em idades mais
avançadas Wajnman et al. (2004)
o O grau de instrução é elemento
decisivo para uma contratação, o
que coloca as pessoas que
atualmente pertencem à terceira
idade em situação de desigualdade
em relação à população mais nova,
que possui um acesso facilitado à
educação, na busca pela
permanência ou entrada no
mercado de trabalho formal.

o O idoso aposentado, ao retornarem ao mercado, acabam se


deparando com uma situação trabalhista precária. Tonelli e
Aranha (2013, sp. apud FÉLIX, 2016, p. 249) afirmam que os
profissionais de mais idade estão dispostos a atuar em “diversas
condições de trabalho”, refletindo a tendência do idoso aceitar
uma vaga “com baixas garantias trabalhistas”.
o A capacidade de permanência no mercado de trabalho está
relacionada à qualificação profissional (BALASSIANO; SEABRA;
LEMOS, 2005). Sendo assim, conclui-se que, a fim de evitar a
inserção dos idosos em ambientes laborais precarizados, é
necessário que eles estejam investidos de qualificação
profissional adquirida por meio de capacitação.

o A educação ocupa papel de destaque


não somente como um meio de conferir
às pessoas conhecimentos técnicos,
tornando-as mais atrativas ao mercado
de trabalho, capaz de reformular o
pensamento da sociedade,
questionando estigmas e limitações
que, perniciosamente, permanecem
inabaláveis em relação aos idosos
(OLIVEIRA; SCORTEGAGNA, 2010).
o Diante de tais considerações, faz-se notório que os idosos
que possuem grau de escolaridade até o ensino médio
completo são mais passíveis de aceitação de trabalho
informal, sem as garantias básicas previstas na
Consolidação das Leis de Trabalho de 2017.

o Diante do aumente da oferta de


trabalhadores, no mercado de
trabalho, e da consequente
diminuição das vagas, a
informalidade também cresce entre
os trabalhadores da terceira idade.
Em 2016 as vagas com carteira
assinada desse grupo representavam
27,6% esse índice diminuiu para
26,6% apenas no primeiro trimestre
de 2018
• A Situação do Mercado de Trabalho Hoje.

o Algumas empresas têm promovido programas voltados para a


oferta de vagas a candidatos idosos. Em alguns casos, há até
treinamento e plano de carreira diferenciados para os
colaboradores da terceira idade.
o O número de empresas que se dispõem a abrir suas portas para
candidatos idosos ainda é muito tímido. Apenas 11% das
empresas do mercado brasileiro mantém programas de
contratação de profissionais maduros.

o Segundo o estudo, a produtividade dos mais velhos é maior do


que a dos mais jovens, visto que os primeiros já passaram por
vários estágios da vida e se dedicam menos a tarefas como
formar uma família, se formar na faculdade e criar filhos. Dessa
forma, entende-se que os idosos se tornam mais comprometidos
com o trabalho, isto é, o colocam em primeiro lugar.
o Por serem mais solícitos e carismáticos, os idosos conquistam
mais e atendem clientes melhor. A experiência, somada à
qualificação e ao tempo de mercado permite que eles se tornem
potencialmente mais baratos que os colaboradores mais jovens,
além de se provarem excelentes mentores para as novas
gerações, oferecendo uma ótica diferenciada na resolução de
problemas.

o Parte da população idosa ativa


também está se tornando
empregadora: nos últimos cinco
anos, passou de 7,7% para 9,3%,
em relação à população com mais
de 60 ocupada.
o O idoso empreendedor

Ø Há hoje, no Brasil, mais de 2,2 milhões de idosos que


atuam como empreendedores. A quantidade de donos de
negócio com 65 anos ou mais representa 7,3% do total no
Brasil.

Ø O perfil do empreendedor com mais de 65 anos é bem


definido: tem o negócio há pelo menos dois anos e geralmente
esse empreendimento é em estabelecimento fixo (loja,
escritório ou galpão), na área rural (fazenda, sítio ou granja)
ou no domicílio.

Ø Esse perfil tem apresentado sucesso no rumo dos negócios,


eles ganham mais do que os colegas em geral. Segundo a
pesquisa, 14% deles faturam cinco salários mínimos ou mais
mensalmente.
Ø A pesquisa do Sebrae (2021) aponta que a maior proporção
de empregadores (20%) está localizada nesse perfil de
empreendedor. Quando comparados às outras faixas etárias,
os donos de negócio idosos são os que mais possuem
funcionários, sendo:
71%, com 1 a 5 empregados;
11%, com 6 a 10 empregados;
10% com 11 a 50 empregados;
8% com 51 ou mais empregados.

Ø Apesar de responder por apenas


7,3% do total de empreendedores,
a terceira idade constitui o grupo
que proporcionalmente mais gera
emprego entre os Pequenos
Negócios.
Ø Em termos de escolaridade, o empreendedor da terceira
idade é o que tem menos instrução quando comparado aos
demais grupos. A maioria possui nível fundamental (48%).
Apesar disso, são os que apresentaram o maior rendimento,
sendo 10% com ganhos de mais de cinco salários-mínimos.

Ø Quanto aos tipos de negócios:


- 36% estão em Serviços,
- 23% na Agropecuária,
-19% no Comércio,
- 14% na Indústria,
- 08% na Construção

Ø Em pesquisa, o Sebrae, constatou que os idosos


empreendedores são os que trabalham menos horas por
semana.
• Uma História de Sucesso

o Palmira Nery da Silva Onofre,


também conhecida como
Palmirinha Onofre, nascida
em 29 de junho de 1931
o Palmirinha estreou na TV em 1997, aos 66 anos de idade. O
programa abriu muitas portas para a cozinheira, que passou a
ser conhecida nacionalmente, viajar o Brasil inteiro dando
aulas de culinária e trabalhar para grandes empresas
alimentícias.

o O sucesso na frente das câmeras levou a outras


oportunidades, aos 85 anos, Palmirinha disse que acreditou ter
potencial para ter uma marca, o que aconteceu em 2009,
quando criou o 'Vovó Palmirinha' e investiu no desenvolvimento
de um site e algumas mídias sociais.
o Palmirinha associou seu nome a uma rede de cafeterias,
licenciou a marca e está empreendendo. De apresentadora
para empreendedora e aos 86 anos, Palmirinha inalgurou sua
primeira cafeteria na Av. Paulista - uma vontade que surgiu
depois dos 80 anos.
o A culinarista e apresentadora diz que atualmente, só quer
fazer participações esporádicas na TV e tem se dedicado a
outros projetos, como sua rede de cafés Casa Vovó
Palmirinha, que tem duas unidades em São Paulo. Tudo que é
vendido lá passa por sua aprovação prévia.

o Seus ganhos anuais distribuem-se entre participações em


programas de TV, comerciais, merchandising, publicações de
livros e revistas e os ganhos de sua cafeteria.

Entrevista Palmirinha

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