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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS

DEPARTAMENTO DE GEOCIÊNCIAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA

POR UMA GEOGRAFIA NOVA

Da critica a Geografia a uma Geografia crítica


MILTON SANTOS

• Nascido em Brotas de Macaúbas, na Chapada Diamantina (BA), em 03 de maio de 1926, filho de


professores primários (de quem recebeu estímulo fundamental para se dedicar à educação). Enfrentou
preconceitos por ser negro, foi para Salvador ainda criança. Diplomou-se como bacharel em Ciências e
Letras em 1941. Em 1948, concluiu o curso jurídico na Faculdade de Direito da Universidade Federal da
Bahia.
• Em 1964, começa uma carreira internacional imposta pela situação política no Brasil. Primeiro na França,
professor convidado nas universidades de Toulouse, Bordeaux e Paris-Sorbonne, e no IEDES (Instituto de
Estudos do Desenvolvimento Econômico e Social).
• De 1971 a 1977, inicia uma carreira verdadeiramente itinerante, ao sabor dos convites: no MIT
(Massachusetts Institute of Technology – Boston) como pesquisador; e como professor convidado nas
universidades de Toronto (Canadá), Caracas (Venezuela), Dar-es-Salam (Tanzânia), Columbia University
(New York).
• Em 1977, retorna ao Brasil. Passam-se dois anos antes de conseguir voltar a ensinar na universidade
brasileira, primeiro na Universidade Federal do Rio de Janeiro, de 1979 a 1983, ano em que ingressa por
concurso na Universidade de São Paulo, professor titular de geografia humana até a aposentadoria
compulsória, recebendo o título de Professor Emérito da USP em 1997.
MILTON SANTOS

• Em 1994, recebe o Prêmio Internacional de Geografia Vautrin Lud

• Doze universidades brasileiras e sete universidades estrangeiras lhe outorgaram o titulo de


Doutor Honoris Causa.

• Técnica, espaço, tempo: globalização e meio técnico-científico informacional (1994), Da totalidade ao


lugar (1996), Metamorfose do espaço habitado (1997), A Natureza do Espaço (1996).
CAP III - A RENOVAÇÃO DO APÓS GUERA:
A NEW GEOGRAPHY

• A revolução científica após a segunda guerra mundial


• Suportes do trabalho científico progrediram muito;
• As necessidades dos utilizadores mudaram;
• O objeto da atividade científica se modificou

• Progressos da automação
• Direções alternativas no campo das ciências
• Variedade e novidade no tratamento de certos temas
• New Geography, que se caracterizava, por ser não apenas diferente, mas em oposição e
até mesmo contradição com a Geografia tradicional.
• Os defensores dessa nova linha buscavam deixar clara sua distancia
em relação a uma geografia que, para muitos deles, não seria
somente uma geografia ultrapassada mas sobretudo uma “não
geografia”.
• “Novos paradigmas” e métodos novos.

• Primeira grande diferença em relação a geografia tradicional: a


linguagem acessível.

• As zonas de influência:
• Geografia tradicional: Escolas nacionais
• New Geography: congressos, colóquios, intercâmbio de professores etc.
A NOVA CRISE DA GEOGRAFIA

A expressão New Geography possui uma preocupação de afirmar como


novo o que aos seus defensores parecia igualmente único: daí, sua posição
de luta.

As reações iam desde a indiferença ou a perplexidade a uma espécie de


combatitividade que opunha os extremistas dos dois polos.

A mesma batalha que a geografia havia conhecido durante a grande crise


histórica da qual ela emergiu com pretençoes científicas no final do sec XIX.
O CONTRAPESO

A tendência quantitativa,
fria e pragmática, teve Maurice Le Lanou,
como contrapeso uma Maximilien Sorre, Pierre Tendências neomarxistas
vocação mais George, Sauer e entre os anos 40 e 50.
especulativa e mais Hartshorne.
social.

Todos terminaram
Assim as tendências mais
prisioneiros da estreiteza
criticadas obtiveram a
ecológica, e acabaram
terrível vitória de impedir
trabalhando com uma
que pontos de vistas mais
totalidade truncada, levados
lúcidos pudessem chegar as
assim a valorizar o “não
últimas consequências.
real”.
• Pensando em combater a “New Geography” , a geografia
tradicional terminou por ajuda-la, matando no ovo as
possibilidades de uma renovação de origem endógena.

• Todavia, o debate não se interrompeu...


CAP IV- A GEOGRAFIA QUANTITATIVA

• Ian Burton escrevia em 1963 que a revolução quantititativa havia feito de nossa
disciplina uma ciência respeitável.
• A Linguagem matemática em geografia e a procura do cientifismo.

• Os métodos matemáticos:
• Mais precisos
• Mais gerais
• Dotados de um valor de previsão
• Tudo isso seria obtido por uma combinação onde as análises de sistemas,
modelos e o uso de estatística seriam uma peça fundamental
A QUANTIFICAÇÃO EM GEOGRAFIA

• Arte e ciência da cartografia

• Alan g. Wilson
• “ o geógrafo teórico ( quantitativo) não tem a necessidade de ser originariamente
um matemático ou estatístico”
• “ Na realidade é comparativamente fácil em Geografia descrever padrões bastante
complexos em termos matemáticos sem mesmo compreender os processos de base
que intervêm”.
• Linearidade e colinearidade
• Análise de fatores
MEDIR PARA REFLETIR OU REFLETIR PARA
MEDIR

• “o cálculo atinge ao menos certos fenômenos de destruição orgânica, ao


Bergson: passo que os fenômenos de evolução que constituem propriamente a
vida, não podem ser objeto de um tratamento matemático”.
• “ Novas formas de erro que a matemática pode ocasionar,
Whitehead (1938) principalmente porque ela introduz a doutrina da forma, desprovida de
vida e movimento”

Bitsakis (1934): • A matemática seria “um reflexo abstrado e mediatizado do real...”

Alonso Aguiar; A. Pinto e Sunkel • “ o uso de métodos matemáticos não é o único caminho para atingir o
(1966) rigor científico “

• “pode ocorrer que a quantificação de uma situação não seja


Bauer (1957):
representativa de seus aspectos mais importantes”

• “ jamais a acumulação de dados brutos, jamais um simples registro de


Cuvilier (1953):
fatos particulares, constitui uma ciência”
OS PROBLEMAS DA IAN BURTON (1963)
ADVERSÁRIOS DA
ABORDAGEM GEOGRAFIA
QUANTITATIVA QUANTITATIVA

• Geógrafos que logo de saída recusam a “revolução quantitativa e a consideram como capaz de
1º levar a geografia por maus caminhos.

• Geógrafos que consideram a carta suficiente para exprimir as correlações que caracterizam a
2º organização do espaço.

• As técnicas estatísticas são adequadas para alguns temas geográficos, mas não para toda a
3º geografia.

• Uma outra ordem de objeção é mais abrandada: as técnicas quantitativas são desejáveis, mas
4º os numerosos erros de aplicação deveriam desaconselhar o seu uso.

• Um último grupo prefere levantar críticas de natureza pessoal : para estes a quantificação seria
5º uma boa coisa mas os geógrafos quantitativos não seriam tão bons...
PARADIGMA OU MÉTODO

• A preocupação em quantificar teria existido antes mesmo da geografia quantitativa?


• Existe uma indissociabilidade entre paradigma e método?
• Brookfield (1964):
• “Inúmeros trabalhos derivados da aplicação das matemáticas à análise das distribuições nada
mais são que um refinamento e uma sofisticação da descrição geográfica mais simples”.
• A contribuição quantitativa ou simplesmente estatística será pouco útil e, mesmo nociva sem o
conhecimento sistemático dos mecanismos.
• “Os métodos quantitativos podem ser utilizados na maior parte das abordagens em geografia,
mas eles mesmos não constituem a Geografia; eles seriam uma condição desejável, mas não
suficiente” (ULLMAN, 1973, p.272)
• O grande equívoco da chamada “ geografia quantitativa”
• A quantificação representa apenas um instrumento. Seria melhor chamar a atenção sobre os
aspectos mais teóricos ou conceituais, quer dizer, sobre os próprios paradigmas. O que continua
fundamental é a construção teórica
O PECADO MAIOR

Desconhece totalmente a existência do tempo e suas qualidades essenciais

Trabalha-se com resultados, mas os processos são omitidos

Pode-se conhecer uma coisa desconhecendo sua gênese?

O espaço que a Geografia matemática pretende reproduzir não é o espaço das sociedades em movimento e
sim a fotografia de alguns de seus momentos.

As fotografias permitem apenas uma descrição e a simples descrição não pode jamais ser confundida com a
explicação. Somente esta pode pretender ser elevada ao nível do trabalho científico.
CAP-V: MODELOS E SISTEMAS: OS
ECOSSISTEMAS

• A análise de sistemas prestou grandes serviços às disciplinas exatas para o progresso das quais ela
contribuiu. Há pelo menos vinte anos é utilizada pelas ciências humanas. A Geografia é dentre elas
talvez, a ultima a utilizar-se desse método.
• O espaço como sistema
• Sistemas correlatos, uma espécie de hierarquia
• Chisholm (1976):
• “Os geógrafos já estudavam o espaço em termos de sistema, apesar de fazê-lo sob diferentes denominações.
• Para Brian Berry (1964)” a teoria urbana pode ser encarada como um aspectos da teoria geral dos
sistemas. Meyer (1965) a cidade como um sistema vivo.
• Fred Luckermann
• “o geógrafo dever conceber os pontos da terra como partes de um sistema relacionando uns com os outros, segundo
diferentes níveis de interação.
ANÁLISE DE SISTEMAS

• Sempre um sistema substitui um outro porque o sistema espacial é sempre a


consequência da projeção de um ou vários sistemas históricos.

• A evolução do espaço não é o resultado da soma das histórias de cada dado, mas o
resultado da sucessão de sistemas.

• O problema da escala do estudo ganha nova dimensão. Se por necessidades de


análise, pode-se sempre limitar uma certa parte do espaço, não se deve porisso,
imaginar que a análise se circunscreva a essa escala geográfica, ao contrário, a
escala do estudo ultrapassa essa escala “natural” cada vez que as variáveis
consideradas forem definidas em relação a sistemas de nível superior.
OS ECOSSISTEMAS

• A ecologia do homem e a geografia regional

• A geografia regional se interessa pelo estudo das diferenciações espaciais por intermédio das inter-
relações entre os dados da natureza e as sociedades humanas

• A ecologia humana ocupa-se de formas de adaptação do homem aos diferentes meios e à as realizações
materiais que daí decorrem.

• A noção de ecossistema devia permitir a incorporação concomitante à análise espacial dos subsistemas
históricos e dos subsistemas naturais.

• As condições naturais são utilizadas de formas diferentes pelas sociedades humanas em cada período
histórico e, do outro, pela própria natureza que é transformada pelo homem, os grupos humanos
sucessivos se relacionam a um quadro natural já modificado
OS ECOSSISTEMAS

• Se o espaço não pode ser definido pelas relações bilaterais entre o homem e os dados
naturais, tampouco ele é resultado exclusivo da ação de fluxo econômicos, como se a
superfície da terra fosse o campo de ação de forças de modelamento que não levam em
conta as rugosidades

• A grande dificuldade da tentativa regional do tipo ecológico, vem exatamente da


impossibilidade de limitar a uma determinada área a totalidade de fenômenos
econômicos, sociais ou políticos que a concernem mas cuja escala de ação ultrapassa a
do lugar de sua manifestação aparente ou física.
SISTEMAS E QUANTIFICAÇÃO

• A noção de sistema como sinônimo de totalidade


• Para Marx, a definição de sistema não esta longe da de estrutura e totalidade
• M. Godelier (1966):
• “ um sistema (...) é uma combinação determinada de modos específicos de produção, de circulação, de
distribuição e de consumo de bens materiais”
• Martha Harnecker (1973):
• “a estrutura econômica (é) o conjunto de relações de produção” (e) o “o sistema econômico (é) o processo
econômico global”
• A armadilha fatal
• “ Consideram-se as partes em relação umas com as outras, como se esse movimento não interessasse à
totalidade das partes mas somente aquelas que estão em relação.
• Nova Inglaterra e Texas.
OS MODELOS EM GEOGRAFIA

Modelo descritivo: Conjunto de sistemas locais tomado em um mesmo período histórico e em


diferentes lugares em um mesmo espaço.

Modelo evolutivo: Construído a partir da simulação da evolução no tempo dos sistemas locais, cada
um dando como resultado um outro sistema local.

As cidades, pressão demográfica, favelas e a questão do emprego.

É a partir de premissas dessa natureza que se desenvolve a interpretação de realidades concretas,


dar-se-á conta, muito facilmente, da importância que tomam as posições teóricas. Os métodos
destinados a enfocar a realidade e a coloca-la em esquemas, são apenas instrumentos subordinados
REFERÊNCIA

• SANTOS, Milton. Por uma geografia nova: da crítica da geografia a


uma geografia crítica. 3 ed. São Paulo: Hucitec, 1986.

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