Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
7. SADISMO:
2
Não posso deixar de pensar na obra de Sade quando lembro este chiste de
Hemingway. Fazendo uma escritura “maldita”, como tantos outros, entre os quais
Baudelaire, Gide, Wilde ..., que o levava às prisões, ele pode ser considerado um
“clássico”. Pouco lido pela proibição da publicação de seus livros, o que ocorria
há até poucos anos em sua terra, mas também, e talvez principalmente, pelo
próprio conteúdo de suas obras e o que elas mobilizam em cada um de nós.
Freud, em seu livro maior, o livro sobre sonhos (Freud, 1900) escreveu o
seguinte, referindo-se ao destino de Edipo, vivido também por todos nós:
“Se Oedipus Rex comove um auditório moderno não menos que o grego
da época, a explicação somente pode ser no sentido de que seu efeito não está
no contraste entre o destino e a vontade humana, mas que deve ser procurado
na natureza particular do material sobre o qual aquele contraste é exemplificado.
Deve haver algo que torna uma voz dentro de nós pronta a reconhecer a força
compulsiva do destino de Oedipus...” e ainda, “se o destino de Oedipus nos
comove é somente porque poderia ser o nosso - porque o oráculo lançou a
mesma praga sobre nós, antes de nascermos, como fez com ele.”
ADRIANA
que Adriana é “pouco sociável”, evita manter contato com outras crianças,
mostra-se “muito ciumenta e agressiva” com o irmão, um “excessivo” apego à
mãe e se recusa a fazer desenhos de figuras humanas.
MÁRIO
FRANCISCO
Francisco tem cinco anos e é trazido por seus pais, encaminhado por uma
psicomotrista, por mostrar-se muito agressivo com ambos: evita todo o contato
físico com eles e os agride, com freqüência com palavrões. Na escola nega-se a
realizar as tarefas e a desenhar. À noite apresenta crises de terror e enurese. O
14
que mais preocupa os pais, entretanto, é que Francisco não “quer aprender” e
tampouco ir para o primeiro ano, frustrando todas as tentativas feitas pelo casal
em prepará-lo para o colégio.
Um outro autor, que como disse antes era necessário fazer referência, é
Jacques Lacan. Em setembro de 1962 Lacan escreveu um artigo com o título de
“Kant com Sade”, fruto de preocupações esboçadas, principalmente no período
entre 1959-1960, através de seu seminário dedicado à “A ética da Psicanálise”.
Este texto estava destinado a servir como apresentação ao terceiro volume das
obras completas de Sade, publicadas pelo Cercle du Livre Précieux. Deste
volume constava “Justine ou as desditas da virtude” e “A filosofia na alcova”.
Considerado ilegível pelo editor Jean Paul-han, fato que eu humildemente
confesso a vocês que comparto, foi retirado do volume. Posteriormente, em abril
de 1963, foi publicado na revista Critique. Elisabeth Roudinesco (Roudinesco,
1993), em sua polêmica biografia de Lacan, ou em sua biografia sobre o
polêmico Lacan, conforme queiramos pensar, faz interessantes comentários
sobre as reflexões feitas pelo autor em torno de Kant e Sade, considerando o
trabalho “hermético porém, admirável”. Lacan, como ele disse de James Joyce, o
“Le Synthome “..., doublets, portmanteaux ou mot-valise de symptôme
(sintoma) e saint homme (santo homem)”.
16
Pelo dito quero assinalar que meu desejo é apenas reivindicar para a
psicanálise a noção de que o sadismo, mais do que um desvio do que
convencionamos chamar de normalidade, é um elemento constituinte da
condição humana.
O PROFESSOR FILÓSOFO
Marquês de Sade
Dias depois, o pequeno conde pediu ao professor que lhe desse outra
aula, porque, conforme afirmava, algo havia ainda “no mistério” que ele não
compreendia muito bem, e só poderia ser explicado celebrando-o uma vez mais,
assim como já o fizera. O complacente Abade, a quem tal cena diverte tanto
quanto a seu aluno, manda trazer de volta a jovem, e a lição recomeça, mas
dessa vez, o Abade particularmente emocionado com a deliciosa visão que lhe
apresentava o belo pequeno de Nerceuil consubstanciando-se com a sua
companheira, não pôde evitar colocar-se como o terceiro na explicação da
parábola evangélica, e as belezas por que suas mãos haviam de deslizar para
tanto acabaram inflamando-o totalmente.
_ Ah! Oh! Meu Deus, vós me fazeis mal _ diz o jovem _ mas essa
cerimônia parece-me inútil; o que ela me acrescenta com relação ao mistério?
18
BIBLIOGRAFIA
Abraham, K. (1924). Breve estudio del desarrollo del libido a la luz de los
transtorno. Psicoanálisis Clínico. Hormé. Buenos Aires. 1959.
Gay, P. (1988). Uma vida para nosso tempo. Companhia das Letras. São
Paulo. 1992.