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sicopedagogia: aspectos históricos e a práxis

institucional
Vanderson de Sousa Silva
Pós-graduando em Educação (PPGEdu/UniRio), mediador presencial e orientador de TCC
na graduação em Pedagogia (UniRio/Cederj), professor conteudista de Filosofia (Unesa),
coordenador do grupo de estudos e pesquisa Filosofia e Educação: Temáticas Prementes -
GPFEduc, docente na Seeduc/RJ, mestre em Teologia (PUC-Rio), pós-graduado em
Psicopedagogia Clínica e Institucional , em Metodologia do Ensino de Filosofia e
Sociologia, em Metodologia do Ensino de História e Geografia, em Gestão, Inspeção e
Orientação Escolar, graduado em Filosofia, Teologia, Letras - literatura, História e
Pedagogia, graduando em Psicologia

Resgate histórico da Psicopedagogia


A Psicopedagogia como campo de conhecimento possui uma história própria
que deve ser perscrutada com o objetivo de propiciar um melhor conhecimento
de seu campo de atuação e as nuances de sua constituição epistemológica
como ciência.

Para tanto, analisaremos também os campos de atuação do psicopedagogo,


que pode ser escolar ou clínico. Há, sem dúvida, importante diferença entre as
duas atuações psicopedagógicas, que abordaremos no presente artigo.

Aspectos epistemológicos da psicopedagogia


O que seria a psicopedagogia? Para responder à questão recorremos a Beyer
(2003), que afirma:

A Psicopedagogia, área de conhecimento interdisciplinar, tem como objeto de


estudo a aprendizagem humana. É papel fundamental do psicopedagogo
potencializá-la e atender as necessidades individuais, no decorrer do processo.
O trabalho psicopedagógico pode adquirir caráter preventivo, clínico,
terapêutico ou de treinamento, o que amplia sua área de atuação, seja ela
escolar – orientando professores, realizando diagnósticos, facilitando o processo
de aprendizagem, trabalhando as diversas relações humanas que existem nesse
espaço; empresarial – realizando trabalhos de treinamento de pessoal e
melhorando as relações interpessoais na empresa; clínica – esclarecendo e
atenuando problemas; ou hospitalar – atuando junto à equipe multidisciplinar
no pós-operatório de cirurgias ou tratamentos que afetem a aprendizagem. É
importante salientar que a Psicopedagogia é uma área que vem para somar,
trabalhando em parceria com os diversos profissionais que atuam em sua área
de abrangência.
O termo Psicopedagogia é de difícil definição; há múltiplas concepções, aqui
destacamos as mais relevantes. Para Kinguel (1991), na fronteira entre os
campos do saber psicológico e pedagógico nasce a Psicopedagogia. O autor
corrobora que a Psicopedagogia, além de distinguir-se de ambos os saberes,
não pode ser compreendida como um simples amálgama da Pedagogia e da
Psicologia, visto que outros campos compõem sua interdisciplinaridade, como a
Sociologia, Epistemologia, Linguística e a Antropologia. Para Bossa (2000), o
léxico psicopedagogia pode ser usado em três acepções:

 como uma prática;


 como um campo de investigação do ato de aprendizado; e
 por fim, como saber científico.

No que tange à psicopedagogia como prática, Bossa explica que, para alguns, é
uma prática de abordagem empírica – obviamente ancorada num arcabouço
teórico –, mas que propicia às pessoas uma mudança em sua práxis. Daí a
dimensão prática.

A conotação da Psicopedagogia como campo de investigação do ato de


aprendizagem está profundamente associada aos distúrbios da aprendizagem.
A Psicopedagogia seria um campo de saber que promove pesquisas e métodos
que visam, em última instância, sanar ou amenizar as dificuldades de
aprendizagem.

Por fim, segundo Bossa, há uma conotação da Psicopedagogia que se refere ao


saber científico, ou seja, compreende-a como uma ciência teórica. Obviamente
que as três assertivas: prática, campo de investigação do ato de aprender e
saber teórico implicam-se mutuamente; não haveria, segundo Bossa,
dissociação entre essas três dimensões.

Aspectos historiográficos da Psicopedagogia


À falta de um presente que entusiasme e perante um futuro inquietante,
subsiste o passado, lugar de investimento de uma identidade imaginária através
dessas épocas, no entanto próximas, que perdemos para sempre. [...] Toda uma
sociedade assim se recusa a ser órfã e se esforça para buscar sua origem em sua
história (Dosse, 2003, p. 24-25).

Há, segundo a assertiva do historiador François Dosse, uma antítese na


hodierna sociedade: não nos entusiasmamos com o cotidiano, que muitas vezes
nos sufoca sobremaneira, mas também não deixamos de nos inquietar pelo
futuro incerto. Diante dessa crise, buscamos cada vez mais no passado nossa
identidade, para não ficarmos, segundo sua expressão benfazeja, “órfãos”.
Assim, a Psicopedagogia insere-se nesse “caudaloso rio” de recusa da
orfandade e na história encontra sua identidade como campo de saber.

Todo campo de saber possui história, que, bem compreendida, fornece àqueles
que se aventuram uma consciência bem forjada de sua atuação. Portanto, o
resgate dos aspectos historiográficos da Psicopedagogia possibilita-nos situá-la
no presente e, às apalpadelas, perscrutar o seu futuro.

Contudo, o cuidado para não ficar preso aos estereótipos e modelos que não
respondem mais à realidade deve ocupar toda ciência, ou seja, perscrutar o
passado, mas sem ficar no saudosismo e canonizando práticas e teóricos,
esquecendo-se de investigar e pesquisar novas abordagens e constituir novas
teorias. O filósofo alemão F. Nietzsche afirma que o homem é um “ser
histórico”; todavia, não deve supervalorizar tal dimensão, pois o homem é ação;

seria preciso que considerássemos a faculdade de ignorar até certo ponto a


dimensão histórica das coisas, como sendo a mais importante e a mais
profunda das faculdades, pois nessa faculdade reside o único fundamento sobre
o qual pode crescer algo de bom, saudável e grande, algo verdadeiramente
humano (Nietzsche, 2005, p. 75).

Fica evidente que para Nietzsche o historicismo é uma decadência; para o


filósofo existe o risco de um “excesso de estudos históricos”; tal fato desloca o
homem, que deve ser ação. Evidentemente, a perspectiva nietzschiana não quer
desprezar a história; acerca disso pondera Dagmar Manieri (2013, p. 183):

mas isto não implica a negação total da história; há um momento em que a


história pode ser utilizada em função da vida (na caracterização de “história
crítica”). Em caso contrário, a memória histórica esmaga o homem; ele deixa de
“ser”. [...] Essa utilidade da história no universo nietzschiano corresponde a um
sentido histórico que conserva a vida e não a mumifica.

Assim, todo estudo histórico deve ser colocado em seu devido lugar, sem
cairmos num historicismo que é nefasto inclusive para a própria história.
Assumindo tais ponderações provocativas da filosofia da história de Nietzsche,
iniciamos nosso percurso histórico da Psicopedagogia.

As origens da Psicopedagogia
As origens da psicopedagogia coincidem basicamente com as seguintes
questões de fundo:

 Como se aprende?
 Todos aprendem da mesma forma?
 As crianças possuem uma forma peculiar de aprender?
 O que pode fazer com que uma criança tenha dificuldade para aprender?
 Como sanar ou amenizar os distúrbios de aprendizagem?

No contexto do século XVII, alguns filósofos e outros teóricos iniciaram um


percurso de questionamento do próprio conceito de infância. O que seria “ser
criança”?

A concepção majoritária da época preconizava que a criança era um adulto


pequeno, não havia estudos que vislumbrassem as peculiaridades de tal fase do
desenvolvimento humano. Assim, não se considerava a criança em suas
necessidades e peculiaridades; tal fato impactava profundamente o processo de
educação das crianças. Os métodos empregados no ensino eram, no mínimo,
inócuos para muitas crianças que não conseguiam aprender.

As crianças eram vistas como miniadultas, não recebendo cuidado especial no


processo de ensino-aprendizagem. O fracasso nos estudos era imputado à
criança e ao seu contexto socioeconômico. Crianças pobres tinham dificuldade
até mesmo de ter educação formal; majoritariamente a educação era reservada
aos filhos da elite, com tutores em sua residência e com um ensino livresco e de
decorar fatos históricos, operações matemáticas e rudimentos linguísticos.
Às crianças pobres eram reservados o trabalho e pouquíssimo ensino,
sobremaneira aos filhos de agricultores.

Diante de tal cenário, filósofos como Rousseau iniciaram um questionamento


que leva progressivamente a uma nova concepção de criança e do modo como
ela aprende ou não. O alemão Friedrich Froebel foi o pioneiro na reformulação
da concepção de infância; segundo ele, o início da infância era uma importante
fase no desenvolvimento humano; portanto, decisiva na formação da pessoa.
Na área pedagógica, Froebel proporcionou verdadeira revolução educacional
quando fundou os primeiros jardins da infância, destinados às crianças menores
de oito anos. O nome “jardim da infância” evoca o princípio de que a criança é
como uma planta em sua fase inicial de formação, o que exige cuidados
específicos para que cresça bem e dê frutos. Froebel é considerado o pai da
Psicologia; a concepção de que a primeira infância determina a pessoa de forma
muito especial, e que, portanto, demandaria muito cuidado, hoje consagrada na
Psicologia, tem em Froebel o pioneirismo.

Devido aos avanços no campo educacional e psicológico, segundo Mota e


Gomes (2004), os séculos XVIII e XIX foram responsáveis pelo aumento
considerável de estudos que versavam sobre as dificuldades de aprendizagem;
mesmo assim persistia uma educação exclusivista, elitista, severa e muito rígida,
que denominava de anormal a criança que tinha dificuldade de aprendizado.
A segunda metade do século XIX e o início do XX são marcados pela eugenia;
isso levou a uma política de maior exclusão de crianças nas escolas devido ao
melhoramento genético; ou seja, algumas crianças nasciam com qualidades
genéticas melhores que outras, assim, o estudo era destinado a aprimorar o que
a genética já dera como privilégio. Para demarcar a capacidade dos alunos,
testes de inteligência eram aplicados e seus resultados dogmatizados.

No século XX, por exemplo, o governo francês solicitou ao psicólogo Alfred


Binet que desenvolvesse um método que possibilitasse identificar crianças com
dificuldades escolares e que, portanto, necessitariam de atenção. Binet era
psicólogo e pedagogo; considerava que as dificuldades intelectuais dos
indivíduos decorriam de funções mentais mais complexas. Segundo Herculano-
Houzel (2002), Binet desenvolveu um método com avaliações de tarefas rápidas,
envolvendo processos básicos de raciocínio, apresentadas em grau crescente de
dificuldade, indicando sua idade mental, que, subtraída de sua idade
cronológica, resultava em seu nível intelectual. Surgiu assim a Educação
Especial, pois as crianças com nível intelectual muito baixo eram encaminhadas
para o programa de educação especializada.

Assim, a França despontou no cenário internacional no que tange à


Psicopedagogia, pois surgiram as primeiras tentativas de unificar os dados
teóricos e práticos de vários campos do saber – Medicina, Psicologia, Psicanálise
e Pedagogia – na solução dos problemas de aprendizado, surgindo a
Psicopedagogia como a conhecemos hodiernamente, um campo
multidisciplinar. Destaca-se a psicopedagoga Janine Mery, com o termo
psicopedagogia curativa para caracterizar a práxis terapêutica que leva em
conta os aspectos psicológicos e pedagógicos no atendimento das crianças
com dificuldade de aprendizado.

A psicopedagogia no Brasil
A Psicopedagogia no Brasil surgiu em 1960 – na mesma época, na Argentina,
abriram-se as primeiras faculdades de Psicopedagogia –; no Rio Grande do Sul
foram criadas as primeiras clínicas de leitura, com uma parceria entre a
Pedagogia e a Medicina.

Quando observamos a práxis psicopedagógica na América do Sul, uma questão


inerentemente nos acompanha: por que a Psicopedagogia que mais se
desenvolveu foi a escolar?

Para responder à questão, devemos ter em mente o cenário histórico da


Argentina; lá, como eram proibidos de clinicar, os psicopedagogos foram
impelidos a pesquisar e elaborar práticas psicopedagógicas no âmbito escolar;
daí o seu desenvolvimento, em detrimento da clínica.
No Brasil, em 1970, tiveram início na PUC-SP os primeiros cursos destinados às
dificuldades de aprendizagem; tais cursos tinham enfoque majoritariamente
preventivo, contudo com uma abordagem organicista.

Havia uma notória práxis patologizante, conforme assevera Kinguel (1983, apud
Bossa, 2000); as pessoas com dificuldade de aprendizado eram no Brasil
diagnosticadas com distúrbios neurológicos, só que não detectáveis em exames
clínicos – a famosa DCM (disfunção cerebral mínima). As pessoas eram
diagnosticadas como portadoras de disfunções psicológicas, mentais e
psiconeurológicas.

A perspectiva patologizante servia para explicar o fracasso escolar e a evasão, o


que, no fundo, mascarava a realidade, legitimando as concepções sociais
excludentes: os pobres possuem dificuldade de aprender.

A Psicopedagogia Clínica
A Psicopedagogia Clínica diagnostica, orienta, atende em tratamento e investiga
os problemas emergentes nos processos de aprendizagem. Esclarece os
obstáculos que interferem para haver uma boa aprendizagem. Favorece o
desenvolvimento de atitudes e processos de aprendizagem adequados (Sousa,
2017).

A Psicopedagogia Clínica atua em consultórios e clínicas particulares e em


espaços como ONGs. O público-alvo de sua ação preventiva ou terapêutica são
crianças, adolescentes e adultos com alguma dificuldade de aprendizado.
Afirma Mansini (2006):

A Psicopedagogia, como área de estudos, surgiu da necessidade de


atendimento e orientação a crianças que apresentavam dificuldades ligadas à
sua educação, mais especificamente à sua aprendizagem, quer cognitiva, quer
de comportamento social. Procurava-se, assim, o porquê ocorria essa
problemática, avaliando e diagnosticando a criança, física e psiquicamente.
Envolvidos nessa busca, estavam professores, psicólogos, médicos,
fonoaudiólogos e psicomotricistas. Nessa primeira etapa da história da
Psicopedagogia, todo diagnóstico recaía sobre a criança, o que significava que
nela estava o problema, sendo então encaminhada para atendimento
especializado. Esse enfoque de diagnóstico, prescrição e tratamento,
envolvendo prognóstico, trazia implícita uma concepção de que o fim da
educação era de adaptar o homem à sociedade.

O processo diagnóstico é fundamental; o psicopedagogo, ao receber um


paciente, faz uma avaliação para compreender como o sujeito aprende e quais
seriam os seus limites. No fundo, a avaliação é uma investigação acerca do não
aprender do sujeito, conforme afirma Weiss (1992). Segundo esse teórico, a
avaliação desvela:

 o não aprender;
 o aprender com dificuldade;
 o aprender lentamente; ou mesmo
 a fuga de possíveis aprendizagens.

O psicopedagogo, em seu processo terapêutico, utiliza múltiplas teorias e


práticas, buscando sempre o melhor atendimento para o paciente, visto que sua
ação envolve vários aspectos, como o cognitivo, o psicológico, o motor e o
socioemocional.

Para Visca (1985), o trabalho psicopedagógico clínico deve utilizar a integração


de três linhas de pensamento:

 a Epistemologia Genética de Piaget, que buscou explicitar como o ser


humano se desenvolve e conhece;
 a Psicanálise freudiana, que defende que a pessoa não é somente
racional, mas apresenta o componente inconsciente;
 a Psicologia Social de Enrique Pichon-Rivière, que defendia que as
práticas sociais podem ser reproduzidas em grupos menores (grupos
operativos).

A Psicopedagogia Escolar
O fim da educação é a transformação do indivíduo autônomo (Gadotti, 2002, p.
36).

A educação está na pauta da sociedade que compreende as mazelas que as


instituições educacionais passam frente ao enorme desafio de ensinar as
competências e habilidades do ser humano do século XXI.

Para que a criança tenha boa adaptação na escola, sentindo-se cada vez mais
segura e dando sentido às atividades que realiza, é importante que a família
tenha e mostre certa confiança na escola, sinta tranquilidade quando deixa o
seu filho, demonstre interesse e curiosidade e valorize as suas aquisições e
avanços. Às vezes, quando a criança apresenta determinadas dificuldades, essa
confiança torna-se mais difícil ou desaparece. Nesses casos, frequentemente
atua-se de forma contraposta e contribui-se para a confusão e insegurança da
criança. A angústia e a ansiedade de pais e professores interferem na relação e a
criança sente-se prejudicada. Nesse sentido, nós, como psicopedagogos que
estamos um pouco fora do que acontece na sala de aula, podemos ajudar as
partes implicadas a despir-se de culpa e a analisar de forma mais objetiva o que
está ocorrendo. É preciso fazer um trabalho de aproximação dos dois sistemas
(escola/família), ajudar a buscar canais mais fluidos de comunicação e
colaboração com eles para planejar e estabelecer compromissos e acordos
mínimos que levem ao fim do bloqueio criado nesta situação (Bassedas et al.,
1996, p. 35).

No que tange à Psicopedagogia Escolar devemos ponderar que sua atuação é


eminentemente institucional; em outros termos, sua práxis não visa a tratar os
problemas de aprendizagem de forma individual; antes quer ter um olhar
coletivo sobre a prática de ensino-aprendizado.

Dentre os inúmeros aspectos de sua atuação na escola, o psicopedagogo age


de forma a prevenir e identificar a diversidade do público atendido. O
psicopedagogo atento às particularidades dos alunos atua de forma a
proporcionar preventivamente, junto aos docentes da escola e à coordenação
pedagógica, ações didáticas que favoreçam o aprendizado dos alunos. No
fundo, a dimensão preventiva busca de antemão minimizar as dificuldades de
aprendizado e os possíveis fracassos escolares.

Assim, o psicopedagogo torna-se um profissional extremante importante nos


espaços formais de educação, pois suas ações vislumbram prevenir, identificar,
desenvolver ações e auxiliar pais, alunos e docentes na tarefa de ensinar e
aprender.

Eis algumas ações do psicopedagogo junto às instituições de ensino:

 Tratar das questões que envolvem o aprendizado – entre as atribuições


do psicopedagogo está favorecer a aprendizagem colaborativamente
com os demais atores educacionais da unidade escolar. O destaque
maior deve ser junto aos alunos com necessidades educacionais
especiais (NEE).
 Abordar os aspectos pedagógicos e psicológicos do
desenvolvimento da criança e do adolescente – a ação do
psicopedagogo escolar leva em conta as várias teorias do
desenvolvimento psicomotor, linguístico, emocional e
cognitivo dos alunos; assim, deve acompanhar
regularmente os estágios de desenvolvimento dos alunos
com vista a diagnosticar possíveis distúrbios. Para tanto,
faz-se necessário o conhecimento das teorias de Piaget,
Wallon, Vygotsky e outros.
 Dar visibilidade às diversidades no espaço escolar – o
psicopedagogo, no que concerne à diversidade, deve ser
um promotor dela no espaço escolar; favorecendo a
convivência dos atores escolares com as múltiplas
diferenças que compõem a vida humana. Assim, os alunos
com NEE serão acolhidos pelos corpos discente e docente e
poderão desenvolver melhor suas ações pedagógicas.
 Realizar encaminhamentos – o profissional da
Psicopedagogia consegue diagnosticar as possíveis
dificuldades de aprendizado e encaminhar o aluno para um
serviço clínico e especializado. Tais encaminhamentos são
para fonoaudiólogos, psicólogos, fisioterapeutas e para
clínica psicopedagógica. Obviamente o psicopedagogo
escolar não apenas encaminha, mas acompanha o
tratamento e dialoga constantemente com os profissionais
e familiares de forma que a unidade escolar coopere com o
tratamento. Afirma Ferreira:

Mesmo que a escola passe a se preocupar com os problemas de aprendizagem,


nunca conseguiria abarcá-los na sua totalidade; algumas crianças com
problemas escolares apresentam um padrão de comportamento mais
comprometido e necessitam de um atendimento psicopedagógico mais
especializado em clínicas. Sendo assim, surge a necessidade de diferentes
modalidades de atuação psicopedagógica; uma mais preventiva, com o objetivo
de atenuar ou evitar os problemas de aprendizagem dentro da escola; outra, a
clínico-terapêutica, para onde seriam encaminhadas apenas as crianças com
maiores comprometimentos, que não pudessem ser resolvidos na escola
(Ferreira, 2002, apud Beyer, 2003).

 Planejar, implementar e avaliar as ações pedagógicas – é da competência


do psicopedagogo, em conjunto com o docente, planejar as atividades
pedagógicas, principalmente no que se refere às adaptações ou mesmo
estratégias de acesso do currículo escolar às necessidades especiais dos
alunos. Não é o aluno que se adapta ao currículo, mas o currículo se
adapta às necessidades dos alunos especiais, conforme as Diretrizes
Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica (Brasil, 2001). As
adaptações devem ser organizativas, espaciais, avaliativas, curriculares e
na temporalidade.
 Favorecer o aprofundamento teórico da escola quanto às dificuldades de
aprendizado – ao psicopedagogo cabe promover a formação continuada
dos profissionais da Educação da unidade escolar, fomentando encontros
e formações pedagógicas para aprofundar teoria e prática sobre as
dificuldades de aprendizado e as NEE.
 Integrar a equipe pedagógica da escola – a equipe pedagógica da escola
é composta por profissionais com formação em áreas educacionais
diversas, como coordenador pedagógico e orientador educacional.
 Participar das reuniões pedagógicas da escola – o psicopedagogo deve
participar de todos os momentos e fóruns de discussão e planejamento
das ações pedagógicas das escolas para contribuir com a sua
especificidade no processo de tomada de decisões que envolvem o
ensino-aprendizado dos alunos.
 Cooperar na elaboração do Projeto Político Pedagógico (PPP) – o PPP é
um importante instrumento de política democrática nas unidades
escolares; assim, o psicopedagogo coopera na elaboração do PPP
garantindo os direitos dos alunos com necessidades educacionais
especiais e a diversidade dos demais alunos em seu processo de
aprendizado.
 Atender as famílias – o psicopedagogo estabelece junto à equipe
pedagógica da unidade escolar o diálogo permanente com as famílias
dos alunos, buscando a parceria indispensável para o sucesso do ensino
na escola. O dialogo deve ser pautado no respeito e na confidencialidade
que os atendimentos exigem da ética profissional.

A presença do psicopedagogo na unidade escolar é imprescindível, pois ele


colaborará com a qualidade da educação e promoverá um ambiente
pedagógico que atenda às necessidades dos alunos em seu percurso de
aprendizagem. A atuação do profissional da Psicopedagogia certamente
impactará os índices escolares, as avaliações externas e internas e garantirá o
respeito aos alunos portadores de necessidades espaciais.

Considerações finais
Nossa cultura apresenta o mundo como uma coleção de fragmentos, de
episódios e momentos efêmeros. Cada imagem – cada fato e pensamento –
afugenta e substitui a anterior só para ser substituída no momento seguinte.
Vivemos num tempo líquido, para Zygmunt Bauman; a fluidez, a fragmentação
e o transitório são as marcas da pós-modernidade (modernidade líquida). A
cultura influencia a formação de concepções educacionais que forjam práticas
de convivência e, por conseguinte, valores ético-sociais.

A educação deve preocupar-se com as ações que refletem, no fundo, os valores


éticos ou não, pois a sociedade, como afirma Edgar Morin, necessita saber
conviver – não apenas aprender fórmulas e conceitos, mas saber conviver. Por
fim, podemos corroborar que a educação, com sua perspectiva de formar um
cidadão para a polis, busca forjar um homem virtuoso – ético por excelência. Tal
perspectiva é atual e mais que necessária ao homem contemporâneo, que é
desafiado a repensar seu projeto de humanidade à luz dos princípios
imperativos éticos.

Há, sem dúvida, uma importante diferença entre as duas atuações


psicopedagógicas: a clínica e a escolar. Na escolar, o psicopedagogo participa
do planejamento, da implementação e da avaliação dos processos de ensino-
aprendizado e busca promover a diversidade e o atendimento às necessidades
especiais dos alunos. Na clínica, a práxis do psicopedagogo, que deveria ser
prioritariamente de prevenção, acaba, em sua maioria, sendo terapêutica.

Não importando o lugar de atuação do psicopedagogo, o que fica notório é a


extrema importância do profissional no atendimento às necessidades das
pessoas com distúrbios de aprendizagem, não podendo ser substituído pelo
pedagogo ou o psicólogo, pois a sua abordagem não é a simples mescla desses
campos do saber; possui um cabedal teórico e prático próprio.

Referências
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