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RESENHA CRÍTICA DO LIVRO “BRIEFING: A GESTÃO DO PROJETO DE DESIGN”

Agnes Rodrigues de Barros, Ana Paula Lima Carneiro, Juliana Camila Lisboa
Universidade Federal de Minas Gerais

O livro “Briefing: a gestão do projeto de design” escrito por Peter L. Phillips, publicado pela
primeira vez em 2008, é uma obra pioneira com orientações práticas sobre a elaboração de
briefings de design. O autor baseou-se em trinta anos de experiência, tanto em empresas como
em trabalhos de consultoria, para desmistificar o processo de elaboração do briefing. Esse livro é
de suma importância para os trabalhadores dessa área, pois geralmente o estudo do briefing não
faz parte dos currículos dos cursos de design. As orientações contidas nele pretendem
sistematizar e aperfeiçoar tal processo, incentivando seus leitores às novas formas de abordar e
escrever seus próprios briefings. Além disso, o autor acredita que através desse processo ele, em
parceria com os leitores, pode contribuir para colocar o design em uma posição estratégica dentro
das empresas.
Peter é um designer graduado pela Universidade de Connecticut e pela Universidade da
Califórnia em Los Angeles. Até 2008, o ano de publicação do livro, o autor possuía mais de trinta
anos de experiência na área do design, adquiridos em sua formação e atuação como professor,
projetista, gerente de design e consultor de grandes empresas. O livro foi escrito pelo sucesso
gerado pelo seminário com a temática do briefing, elaborado inicialmente para o Programa de
Desenvolvimento Profissional do Design Management Institute (DMI) e o autor baseou-se na sua
experiência e na de outros designers. Depois ele apresentou o seminário em outros países e o
sucesso foi tanto que pediu um livro. O autor diz que demorou 35 anos para escrever o livro, pois
foi preciso adquirir experiência e conhecimento.
Com uma linguagem clara, direta e concisa o autor descreve em 14 capítulos, os
problemas que surgem no processo de projeção do design e elaboração do briefing e formas
gerais de solucioná-los, dando exemplos com situações reais ou análogas à realidade. É preciso
frisar que apesar das colocações, o autor afirma que cada projeto terá suas peculiaridades,
relacionadas com a frequência de execução, magnitude, área de desenvolvimento, e outros, por
isso existe a grande dificuldade de definição de uma forma única de briefing. Dentro de todo o
conteúdo cabe destacar os seguintes aspectos:

● Linguagem: didática, acessível (de fácil compreensão)


Apesar da experiência e relevância no âmbito do design, o leitor depara-se com uma escrita clara
e concisa, de fácil acesso e compreensão para designers e não designers, incluindo estudantes.
Nota-se, tanto no decorrer do texto como nas subdivisões dos capítulos, o cuidado com as
nomenclaturas e vocabulário específicos do ramo, observando-se a atenção dada principalmente
para a melhor explicação, muitas vezes seguidas por exemplos bem destrinchados para melhor
fixação do conteúdo - envolvendo, na maioria das vezes, cenários práticos de fácil visualização
pelos leitores. Devido a estas características, entende-se que o público pretendido seja de
designers e não designers mas, principalmente, de profissionais do design ainda ingressantes no
ramo e de profissionais presentes no desenvolvimento do projeto que não possuem instrução
adequada para a avaliação e acompanhamento do processo e construção de um. Tal aspecto se
relaciona e demonstra a aplicação do posicionamento constante que Philips tem ao longo do livro,
sobre a necessidade dos designers e dos gerentes de designer buscarem se expressar de uma
maneira mais clara para a compreensão dos não-designers, evitando termos técnicos e
metodológicos do design.
● De muita valia para quem está começando na área
Além da alta legibilidade, o conteúdo se encontra bem didático e abordado sem que se torne
massivo e desgastante. Phillips explicita as características, realização, processos, finalização e
uso do briefing de maneira a ensinar, de fato, como ocorre cada etapa do desenvolvimento de um
briefing. Esse recurso, quase sempre essencial nos projetos de design, se encontra em uma zona
muito nebulosa e complexa para aqueles que iniciam na carreira de design, uma vez que tem-se
em pensamento popular os estigmas de design como criação espontânea baseada em criações
sem fundamentos metodológicos. Independentemente do conhecimento sobre a área de atuação
dentro da profissão, os impulsos quase sempre levam à produção antes de uma pré-produção,
concentrada em muito estudo e testes antes de se chegar à melhor solução para aquele tipo de
problema especificamente. Sendo assim, “Briefing” se torna um guia inicial que prepara o
profissional em início de carreira para um cenário complexo, que exige muito estudo, paciência e
atenção, além dos conhecimentos necessários para se posicionar diante das empresas e no
ambiente de negócios. Em contraposição ao exposto, a sensação massiva ao ler o livro está nas
informações que se repetem incansavelmente ao longo do livro, talvez numa tentativa de frisar os
aspectos repetidos, assim como um gerente de design precisa frisar o seu valor e o valor
estratégico do design nas empresas.

● Projeto além da produção final - Qual o objeto do negócio?


Em detrimento, ainda, do preconceito gerado em torno do trabalho realizado por designers, o
autor ressalta que, na fase de produção do projeto não há somente a finalização deste (em fase
de aplicação por exemplo) mas também reforça insistentemente a análise do projeto em um
momento anterior a sua produção física ou mesmo fase de teste - principalmente pelo briefing se
tratar de uma ferramenta inicial de desenvolvimento de projeto. Assim, por meio de informações
coletadas através do briefing, consegue-se estabelecer os objetivos do negócio que se tornará
parceiro, pensando também no conceito de design que se estabelecerá após a coleta e análise de
todo conteúdo necessário. Pensando nesse sentido, Phillips explicita a importância do pré
estabelecimento deste objetivo no decorrer do projeto, sendo este um dos focos (assim como o
conceito de design desenvolvido) para melhor solucionar o problema dos parceiros e poder
proporcioná-los maior posição e presença no mercado desejado. Logo, uma informação que,
talvez não seja tão inovadora para os já formados ou presentes na área do design, se mostra de
grande relevância para a compreensão de quais caminhos traçar em direção a melhor produção
possível.
● Livro de constante consulta
A separação do livro em seus 14 capítulos, aliada ao caráter de manual que esse apresenta,
possibilita ao leitor realizar a leitura dos capítulos de maneira independente, isso é, apesar dos
capítulos terem ligações entre si e fazerem menções uns aos outros, pode-se realizar a leitura de
determinadas partes caso apenas algumas se mostrem interessantes ou necessárias para
consulta ao longo do processo de elaboração do briefing. O grupo, por exemplo, gostou mais de
determinados capítulos, como o 1º, o 8º, o 11º e o 12º, enquanto outros, como o 9º, não nos
pareceram tão atraentes, isso porque esse capítulo é mais voltado para a área da gestão do
design, o que não traz tanta identificação no momento em que estamos no curso de design.

● Elementos fundamentais em um bom Briefing


A parte inicial do livro se encarrega de explicar aos leitores o que de fato é um briefing, quais são
seus componentes, suas funções, usabilidades, responsáveis, etc. Apesar do caráter instrutivo do
livro, Peter afirma que não há uma fórmula mágica ou receita pronta no momento da elaboração
do briefing, ele inclusive cita que se caso houvesse, seu criador não o compartilharia para poder
monopolizar os benefícios de um briefing perfeito, mas apesar disso no capítulo 3 o autor traz uma
lista com os tópicos básicos que compõem a maioria dos briefings bem elaborados e que são
desenvolvidos nas seções seguintes, esses itens são: Natureza do projeto e contexto; Análise
setorial; Público-alvo; Portfólio da empresa; Objetivos do negócio e estratégia de design; Objetivo,
prazo e orçamento do projeto; Informações de pesquisas; e Apêndice. Após a apresentação
desses itens, o autor traz um breve resumo de seus respectivos conteúdos e reforça que um bom
briefing deve ser rico em informações sem ser maçante.

● A comunicação e formalização do Briefing


Ao decorrer do livro, Phillips também declara que um bom briefing não pode ser nem curto
demais, pois esse não apresenta certas informações essenciais ao design, e, principalmente, não
pode ser apenas verbal, visto que o documento escrito pode ser difundido entre as pessoas
envolvidas no projeto de forma rápida e uniforme, enquanto a instrução verbal pode ser
demorada, perecível no tempo e sofrer distorções na passagem de uma pessoa para outra. O
autor também explica e enfatiza a importância do briefing ser colaborativo e contar com
pessoas-chave de diferentes áreas, pois um projeto de design pode conter questões de marketing,
jurídicas, financeiras e outras. Diante disso, um briefing verbal atrapalha muito todo esse processo
de convergência entre as diferentes partes, além de dificultar a avaliação dos resultados no
momento posterior à conclusão do projeto, assunto reforçado no capítulo 10.

● Capítulo 7: Credibilidade e confiança


O capítulo 7 também traz assuntos muito importantes, tratando sobre a credibilidade e a
confiança serem assuntos que permeiam o campo do design. Peter diz que durante sua carreira
viu diversas situações em que o design não foi valorizado como deveria, isso porque os não
designers, na maioria dos casos, acreditam que o design se limita às funções estéticas e
decorativas. Nessa obra o autor também traz uma tabela que instrui os designers à conquistar a
confiança dos não-designers, ele diz que primeiro o profissional de design deve reconhecer seu
próprio valor e o do design, depois deve mapear as possibilidades de aplicação do design em
cada setor, estabelecer e cultivar relações com outros setores e, por fim produzir resultados
valiosos para os negócios da empresa. Assim, o designer conquistará a credibilidade, e com o
tempo a confiança nas empresas.

● Capítulo 11: Exemplo de um briefing de Design


O autor dedica um capítulo inteiro, após explicar cada etapa do processo de elaboração do
briefing nos capítulos anteriores, para exemplificar a aplicação de seu “método” em um caso
fictício. Essa atitude é extremamente interessante para clarificar ainda mais o que havia sido
exposto e deixar o livro ainda mais didático e compreensível. Não apenas nesse capítulo em
especial, mas ao longo de praticamente todas as explicações a respeito da elaboração do briefing
e da necessidade de exposição de valores do design e do designer, Peter acrescenta um exemplo
de uma situação vivida por ele ao longo de sua carreira, um comentário escutado em algum
seminário ministrado por ele ou um exemplo fictício mas análogo à realidade.

Referências
Phillips, Peter. Briefing: A Gestão do Projeto de Design. 1 ed. São Paulo: Editora Blucher, 2008.

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