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(Brasil)
Resumo
O presente estudo teve como objetivo realizar uma breve discussão literária, a fim de
melhor entender e discutir as contribuições da educação física no que tange o desenvolvimento
motor de crianças na educação infantil. A relação entre a idade da criança com a fase e
característica motora pelas quais passam, se constitui para um melhor acompanhamento do
desenvolvimento motor. Destaca-se a importância do conhecimento dos profissionais de
Educação Física, no que tange a avaliação motora da criança, como forma de melhor
acompanhar seu desempenho e detectar possíveis problemas de ordem motora.
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1. Introdução
Desde a sua concepção, o indivíduo adquire, ou aprende diversas funções motoras, as quais
farão com que o organismo alcance sua maturidade. Por meio do seu próprio movimento, a
criança desenvolve seus processos motores. Os movimentos surgem muitas vezes porque a
criança tende a imitar os adultos que a rodeiam ou inspiram-se em outras crianças para
executar suas provas práticas (DIEM,1980).
Com o avanço da idade cronológica, a criança passa a ser integrante de mais um grupo social:
a escola. O seu ingresso exige modificações e adaptações das estruturas afetivas, cognitivas,
motoras e sociais.
Para Gallahue e Ozmun (2002) o desenvolvimento motor sofre grande influência, do meio
social e biológico, podendo sofre alterações durante seu processo. Sabe-se que a escola é um
dos locais de oferta de espaço adequado para o desenvolvimento motor da criança, visto que o
brincar significa o meio mais importante para as aprendizagens dos pequenos.
2. Educação infantil
Conforme a Lei de Diretrizes e Bases (LEI N°9394/96), em seu artigo 21, inciso I, a Educação
Infantil compreende a primeira etapa da Educação Básica, a qual, integra o desenvolvimento da
criança até os 6 anos de idade, sendo, um complemento da ação da família. Salienta-se que
atualmente, a educação básica compreende as crianças com até os 5 anos de idade.
Para Pereira (2002), um dos objetivos da educação infantil é o de ensinar a criança a observar
fatos cuidadosamente, em especial, quando estes são contrários aos previstos por ela.
Desenvolver habilidade de comunicação, também significa realizar ações, mas é preciso falar
sobre elas, sistematizá-las por meio de narrativas das experiências.
Segundo Wallon (1975), em uma de suas teorias, o ser humano é biologicamente social, visto
como totalidade considerando indissociáveis os aspectos emocionais, físicos e intelectuais.
Para Vasconcellos (1995) a educação infantil tem um papel muito importante na formação da
criança e, em especial, com relação à avaliação, pois é onde socialmente se tem hoje maior
espaço de se fazer um trabalho mais democrático e significativo, em função das menores
cobranças formais. A Educação Infantil não deve ceder às pressões das séries posteriores, uma
vez que sua forma de avaliar representa o futuro do processo de avaliação de todo o sistema
educacional, quando não haverá mal notas ou reprovações.
As creches e/ou pré-escolas surgiram não só a partir de mudanças sociais que ocorreram na
sociedade, mas, pela inclusão das mulheres ao trabalho assalariado, pela organização das
famílias, pelo novo papel da criança na sociedade e de como torná-la, através da educação, um
indivíduo produtivo e ajustado às exigências desse conjunto social (CRAIDY; KAERCHER, 2001).
Os interesses da criança, até os três anos de idade, estão sobretudo concentrados no mundo
exterior e, em especial sobre o aspecto prático do movimento (BATISTELLA, 2001).
O que vai diferenciar a presença de um professor de Educação Física dos demais atendentes
na Educação Infantil é a comunicação, a compreensão, a leitura, a interação e o envolvimento,
a promoção da evolução da criança por intermédio das manifestações corporais, do
movimento, do jogo e das atividades lúdicas. Essas capacidades são exercitadas pelos
profissionais que, conscientes da importância das primeiras comunicações não verbais – através
do tônus – entram em comunicação corporal com as crianças.
4. Desenvolvimento motor
Nos primeiros anos de vida a criança explora o mundo que a rodeia com os olhos e as mãos,
através das atividades motoras. Ela estará, ao mesmo tempo, desenvolvendo as primeiras
iniciativas intelectuais e os primeiros contatos sociais com outras crianças. É em função do seu
desenvolvimento motor que a criança se transformará numa criatura livre e independente
(BATISTELLA, 2001).
Segundo Oliveira (2001), toda seqüência básica do desenvolvimento motor está apoiada na
seqüência de desenvolvimento do cérebro, visto que a mudança progressiva na capacidade
motora de um indivíduo, desencadeada pela interação desse indivíduo com seu ambiente e
com a tarefa em que ele esteja engajado. Em outras palavras, as características hereditárias de
uma pessoa, combinada com condições ambientais específicas (como por exemplo,
oportunidade para prática, encorajamento e instrução) e os próprios requerimentos da tarefa
que o indivíduo desempenha, determinam a quantidade e a extensão da aquisição de destrezas
motoras e a melhoria da aptidão (GALLAHUE; OZMUN, 2002).
A coordenação viso manual representa a atividade mais freqüente utilizada pelo homem,
pois atua para inúmeras atividades como pegar ou lançar objetos, escrever, desenhar, pintar,
etc (ROSA NETO, 1996). Velasco (1996, p. 107) destaca que “a interação com pequenos objetos
exigem da criança os movimentos de preensão e pinça que representam a base para o
desenvolvimento da coordenação motora fina”.
A motricidade global envolve movimentos que envolvem grandes grupos musculares em ação
simultânea, com vistas à execução de movimentos voluntários mais ou menos complexos.
Dessa forma, as capacidades motoras globais são caracterizadas por envolver a grande
musculatura como base principal de movimento. No desempenho de habilidades motoras
globais, a precisão do movimento não é tão importante para a execução da habilidade, como
nos casos das habilidades motoras finas. Embora a precisão não seja um componente
importante nesta tarefa, a coordenação perfeita na realização deste movimento é
imprescindível ao desenvolvimento hábil desta tarefa (MAGILL, 1984).
5.3. Equilíbrio
O equilíbrio é a base primordial de toda ação diferenciada dos membros superiores. Quanto
mais defeituoso é o movimento mais energia consome, tal gasto energético poderia ser
canalizado para outros trabalhos neuromusculares. Nesta luta constante, ainda que
inconsciente, contra o desequilíbrio resulta numa fatiga corporal, mental e espiritual,
aumentando o nível de stress, ansiedade, e angustia do indivíduo.
A criança percebe-se e percebe os seres e as coisas que a cercam, em função de sua pessoa.
Sua personalidade se desenvolverá a uma progressiva tomada de consciência de seu corpo, de
seu ser, de suas possibilidades de agir e transformar o mundo à sua volta. Ela se sentirá bem na
medida em que seu corpo lhe obedece, em que o conhece bem, em que o utiliza não só para
movimentar-se, mas também para agir (PEREIRA, 2002).
As atividades tônicas, que está relacionada à atitude, postura e a atividade cinética, orientada
para o mundo exterior. Essas duas orientações da atividade motriz (tônica e cinética), com a
incessante reciprocidade das atitudes, da sensibilidade e da acomodação perceptiva e mental,
correspondem aos aspectos fundamentais da função muscular, que deve assegurar a relação
com o mundo exterior graças aos deslocamentos e movimentos do corpo (mobilidade) e
assegurar a conservação do equilíbrio corporal, infra-estrutura de toda ação diferenciada
(tono). A função tônica se apresenta em um plano fisiológico, em dois aspectos: o tono de
repouso o estado de tensão permanente do músculo que se conserva inclusive durante o sono;
o tono de atitude, ordenado e harmonizado pelo jogo complexo dos reflexos da atitude, sendo
estes mesmos, resultado das sensações proprioceptivas e da soma dos estímulos provenientes
do mundo exterior (ROSA NETO, 1996).
A imagem corporal como resultado complexo de toda a atividade cinética, sendo a imagem
do corpo a síntese de todas as mensagens, de todos os estímulos e de todas as ações que
permitam a criança se diferenciar do mundo exterior, e de fazer do “EU” o sujeito de sua
própria existência. O esquema corporal pode ser definido no plano educativo, como a chave de
toda a organização da personalidade (PEREIRA, 2002).
A noção do espaço é uma noção ambivalente, ao mesmo tempo concreta e abstrata, finita e
infinita. Na vida cotidiana utilizamos constantemente os dados sensoriais e perceptivos
relativos ao espaço que nos rodeia. Estes dados sensoriais contêm as informações sobre as
relações entre os objetos que ocupam o espaço, porém, é nossa atividade perceptiva baseada
sobre a experiência do aprendizado a que lhe dá um significado. A organização espacial
depende simultaneamente da estrutura de nosso próprio corpo (estrutura anatômica,
biomecânica, fisiológica, etc.), da natureza do meio que nos rodeia e de suas características
(ROSA NETO, 1996).
A percepção relativa à posição do corpo no espaço e de movimento tem como origem estes
diferentes receptores com seus limites funcionais, enquanto que a orientação espacial dos
objetos ou dos elementos do meio, necessita mais da visão e audição. Está praticamente
estabelecido que da interação e da integração destas informações internas e externas provem
nossa organização espacial (OLIVEIRA, 2001).
Segundo as características das nossas atividades, podemos utilizar duas dimensões do espaço
plano distância ou profundidade. A pele apresenta receptores táteis onde a concentração
modifica de uma região a outra no corpo. A separação dos pontos de estimulação permite fazer
diferenças entre o contínuo e o distinto. Os índices táteis, associados aos índices sinestésicos
resultam da exploração de um objeto que permite o reconhecimento das formas (esterognosia)
em ausência da visão (sentido háptico). Os deslocamentos de uma parte do corpo sobre uma
superfície plana podem ser apreciados pela sinestesia tanto no caso dos movimentos lineares
como angulares. As sensações vestibulares abastecem índices sobre certos dados espaciais
(orientação, velocidade e aceleração). Chegam aos núcleos vestibulares, ao cerebelo e ao
lóbulo frontal, porém só contribuem muito debilmente a percepção dos deslocamentos. Não
obstante, durante os deslocamentos passivos onde a visão e a sinestesia não intervêm, a
orientação espacial diminui, geralmente se existe lesão do sistema vestibular (RIGAL, 1988).
5.7. Lateralidade
O corpo humano está caracterizado pela presença de partes anatômicas pares e globalmente
simétricas. Esta simetria anatômica se redobra, não obstante, por uma assimetria funcional no
sentido de que certas atividades que só intervêm numa das partes. Por exemplo, escrevemos
com uma só mão; os centros de linguagem se situam na maioria das pessoas no hemisfério
esquerdo. A lateralidade é a preferência da utilização de uma das partes simétricas do corpo:
mão, olho, ouvido, perna; a lateralização cortical é a especialidade de um dos dois hemisférios
enquanto ao tratamento da informação sensorial ou enquanto ao controle de certas funções
(OLIVEIRA, 2001).
A lateralidade está em função de um predomínio que outorga a um dos dois hemisférios a
iniciativa da organização do ato motor, que desembocará na aprendizagem e a consolidação
das praxias. Esta atitude funcional, suporte da intencionalidade, se desenvolve de forma
fundamental no momento da atividade de investigação, ao largo da qual a criança vai
enfrentar-se com seu meio. A ação educativa fundamental para colocar a criança nas melhores
condições para aceder a uma lateralidade definida, respeitando fatores genéticos e ambientais,
é permitir-lhe organizar suas atividades motoras (ROSA NETO, 1996).
Segundo Pereira (2002), a definição de uma das partes do corpo só ocorre por volta dos sete
anos de idade, antes disso, devem-se estimular ambos os lados, para que a criança possa
descobrir por si só, qual o seu lado de preferência. “A preferência pelo uso de uma das mãos
geralmente se evidencia aos três anos”.
6. Avaliação motora
O padrão de crescimento e comportamento motor humano que se modifica por meio da vida
e do tempo; e a grande quantidade de influência que os afetam, constituem basicamente por
diferentes teorias científicas e sustentam a evolução de estudos que se caracterizam pelas
técnicas de pesquisa e pelos meios utilizados na obtenção de dados, que são elaborados e
discutidos, como forma de elucidar os diferentes vieses que perfazem a existência do homem e
sua evolução física, orgânica, cognitiva e psicológica. Os conceitos, ilustrações e teorias
adicionam ao contexto, a estrutura necessária para que tais estudos possam legitimar-se e
oferecer fundamentos fidedignos sobre as hipóteses que pretendem estabelecer e discutir. É
importante lembrar que o caráter estatístico de nível normal de referência dos testes não
engloba o mesmo valor para todas as populações, tendo em conta os aspectos afetivos e sociais
(ROSA NETO, 1996).
Testes padronizados, que embora bastante antigos, mas que freqüentemente são revisados
destacam-se na avaliação física, afetiva, cognitiva e motora dos seres humanos.
De acordo com Rigal et al. (1993), existe uma grande quantidade de testes, que por sua
facilidade de utilização e sua relação com as diferentes aprendizagens escolares, são muito
úteis para medir o comportamento humano, entre eles, destacamos a Escala de
Desenvolvimento Motor - EDM (ROSA NETO, 1996).
Considerações finais
Acredita-se que para ensinar eficientemente é preciso acompanhar às crianças e analisar suas
necessidades e interesses.
Dessa forma, entender a relação entre a idade da criança com a fase e característica motora
pelas quais passam, constitui-se para um melhor acompanhamento do desenvolvimento motor.
Assim, destacamos a importância do conhecimento dos profissionais de Educação Física, no que
tange a avaliação motora da criança, como forma de melhor acompanhar seu desempenho e
detectar possíveis problemas de ordem motora, além de poder influenciar no processo de
desenvolvimento que ocorre desde a concepção.
Referências
•CRAIDY, C.M.; KAERCHER, G.E.P.S. Educação Infantil: Pra que te quero? Porto Alegre: Artmed,
2001.
•DIEM, L. Os primeiros anos são decisivos: Como desenvolver a inteligência das crianças desde
o berço, pelo treino dos movimentos.1 ed. Rio de Janeiro: Tecnoprint, 1980.
•FALKENBACH, A.P. Educação Física para crianças de 0 a 3 anos de Idade. In: CREF2/RS –
Notícias. ano 3, n.05, março 2002.
•GALLAHUE, D.L.; OZMUN, J.C. Compreendendo o Desenvolvimento Motor: bebês, crianças,
adolescentes e adultos. São Paulo: Phorte, 2002.
•LE BOULCH, J. Educação Psicomotora: A Psicocinética na idade escolar. Porto Alegre: Artes
Médicas, 1987.
•MAGILL, R.A. Aprendizagem Motora: conceito e aplicações. São Paulo: Edgar Blucher, 1984.
•MATTOS, M.G. et al. Educação Física Infantil: construindo o movimento na escola. 2.ed. São
Paulo: Phorte, 1999.
•MEINEL, K. Motricidade I: teoria da motricidade esportiva sob o aspecto pedagógico. Rio de
Janeiro, 1984.
•NANNI, D. Dança Educação: Pré –escola à Universidade. 2.ed. Rio de Janeiro: Sprint, 1998.
•PEREIRA, C.O. Estudo dos Parâmetros em Crianças de 02 e 06 anos de Idade na Cidade de Cruz
Alta. Dissertação de mestrado (Ciências do Movimento Humano). Centro de Ciências da Saúde e
do Esporte da Universidade do Estado de Santa Catarina – CEFID/UDESC, 2002.