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BRINCADEIRA COMO MANIFESTAÇÃO

CORPORAL PARA SÉRIES INICIAIS


Julian Raoni Constantino
Tiago Artur Stopassoli
Prof. Jorge Luiz Thimotheo
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Educação Física Licenciatura – LEF05
12/12/19

RESUMO

O presente trabalho demonstra a necessidade de se oportunizar em aulas de educação física a


condição de motricidade presente na manifestação corporal dentro do ambiente escolar nas séries
iniciais, através de práticas que desenvolvam valências físicas nos alunos em séries iniciais. Pois é
neste período que a criança tem grande evolução no processo de aprendizagem, cabendo desta
forma ao professor intermediar e planejar as aulas no intuito de desenvolvimento metodológico.
Nota-se que os jogos aqui desenvolvidos foram analisados e referenciados com bibliografia para se
entender de modo prático o envolvimento dos alunos com as brincadeiras.

Palavras-chave: Séries Iniciais, Valências Físicas, Jogos.

1. INTRODUÇÃO

Entender o processo de desenvolvimento da criança é de suma importância para o professor


de educação física, muitas vezes é nas práticas, brincadeiras e jogos que a criança vai desenvolver
valências que as levam para uma melhor compreensão das manifestações corporais que lhe são
presentes. Nas séries iniciais este processo é muito aflorado pois a criança está chegando em um
ambiente escolar que lhe tira de um estado de conforto para lhe colocar em sociedade levando a
adaptação.
Toda aula tem sua finalidade, assim podemos observar no tempo, passando de aulas
militares, higienistas até os dias atuais, por isso o desenvolvimento corporal é uma forma de tornar
futuros cidadãos mais conscientes de si independente de profissão, classe ou gênero.
A melhor forma dessa ligação do desenvolvimento motor do indivíduo com a consciência de
como seu corpo reage em sociedade é a escola, pois lá encontramos métodos que auxiliam nesta
junção, com atividades embasadas e planos eficazes para o desenvolvimento da criança.
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2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1. MANIFESTAÇÃO CORPORAL PARA CRIANÇAS

Várias são as conotações dadas para a manifestação corporal sendo ela descrita como cultura
do movimento, práticas corporais de movimento ou até mesmo expressão de corporalidade. Todas
elas remetem a questão de mobilidade do indivíduo, conforme Oliveira (1998, apud BRACHT,
2004, p. 98) “[...] entende que a expressão cultura de movimento ou cultura corporal de movimento
está muito centrada na questão motriz”, ou seja, passa por uma decisão ao realizar a ação e o
movimento de fato.
Portanto é de suma importância como papel de educador físico estimular e refinar valências
físicas dos seus alunos em séries iniciais no âmbito escolar, Kunz (1994, p.68, apud BRACHT,
2004, p.98) afirma que todas as atividades realizadas pelo indivíduo, tanto no esporte como em
atividades extra esporte fomentam a cultura do movimento humano, sendo adaptada e criada através
do seu comportamento e as resistências que acontecem frente a essas ações.
Através dessas práticas cria-se uma metodologia para identificar o que precisa ser refinado
na questão de psicomotricidade enquanto o aluno está em formação, pois isso mais tarde acarretará
em como esse indivíduo se porta na sociedade e como esta sociedade transforma essa cultura de
movimento.
Assim, o primeiro diagnóstico a que podemos nos referir é que, em nosso contexto
educativo, a Psicomotricidade tradicional, em sua origem (entendida como uma disciplina
formativa global do ser humano), junto com seus objetivos e métodos de trabalho, fez-se
cada vez mais dualista, isto é, que seus conteúdos apontam mais ao desenvolvimento de
condutas motrizes que a trabalhar com a pessoa em sua totalidade. (LAPIERRE, 1979,
p.14-30, apud ARRIAGADA, 2004, p.27).

Para que não ocorra este dualismo citado anteriormente deve-se estimular nas brincadeiras e
esportes o aperfeiçoamento do aluno no contexto amplo de movimento, fortalecendo aspectos
cognitivos frente a necessidade de se movimentar, por tanto, entender em que etapa de
transformação a criança está passando a partir dos 6 anos é de suma importância para o professor
implementar seu plano de aula.
Através do movimento corporal observa-se, no indivíduo, diferentes manifestações e
comportamentos, que em uma análise mais aprofundada, pode nos proporcionar elementos de
diversas interpretações, como por exemplo, nos dar ideia de alegria, tristeza, raiva, ou até mesmo
nos contar alguma história, muitas vezes, carente de intervenção profissional, pois em nossa frente
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pode estar um ser humano pedindo socorro, ou alguém com habilidades especiais necessitando sua
inclusão, como menciona Freire (2009, pg. 126)

O movimento, o simples movimento corporal, aquele que se vê nos anos, ainda não revela o
homem. O que está faltando, numa concepção de Educação Física que privilegie, acima de
tudo, o humano é ver além do percebido: é enxergar o movimento carregado de intenções, de
sentimentos, de inteligência, de erotismo”.

2.2. A ESCOLA E A SOCIEDADE

Quando a criança chega à escola, apesar da insegurança e o medo de se afastar dos pais,
ainda assim percebe-se os olhares curiosos observando o que os outros estão fazendo e uma discreta
vontade de se envolver, de participar das brincadeiras entre os diversos grupos e indivíduos que se
movimentam ao seu redor, na verdade, parece que os pais é quem estão com dificuldades de liberar
os filhos para um outro mundo que não seja o de seu controle. Após o soar do sino, ou qualquer
outra forma de dizer que a alegria acabou e que chegou o momento de conversar seriamente:
conhecer a direção, professores e a sala de aula. Começa uma outra vida, com rotinas que vão ao
desencontro da natureza humana, onde as formas de ensinar e aprender começam pela imobilidade:
parar, sentar e não falar. Observa Freire (2009, pg. 9) “Às vezes falta visão ao sistema escolar, às
vezes faltam escrúpulos. É difícil explicar a imobilidade a que são submetidas as crianças quando
entram na escola”, pois insistem em dizer que a escola prepara para a vida, para a sociedade. A vida
é movimento, mesmo dentro de um corpo parado.
Ao observarmos o aspecto físico da maioria dos prédios escolares, perceberemos uma
semelhança com grandes fábricas e infelizmente, até com presídios. Diante desta análise e
instrumentalizados de novos conhecimentos, pois esta é uma reflexão que educadores não cansam
de fazer e em particular da Educação Física, onde a cada dia surgem novas pesquisas, novos olhares
sobre a prática do movimento humano, cultura corporal de movimento e cultura humana de
movimento corporal, em especial na disciplina de Educação Física escolar, onde as crianças contam
os minutos para que chegue a sua aula.

2.3. AULA DE EDUCAÇÃO FÍSICA

Apesar de sua história, como fins militares, função higienista e outros, não podemos
desfazer alguns papéis importantes que são atribuídos à disciplina de Educação Física no contexto
escolar, no desenvolvimento do educando, que para González e Schwengber (2012, pg. 24) “A
dimensão dos saberes que se refere às possibilidades do se-movimentar humano aparece na
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Educação Física como a oportunidade de a criança ampliar o conhecimento do próprio corpo, bem
como sua capacidade de realizar movimentos nos espaços e no tempo”. Ao analisar historicamente
os seres humanos, desde sua vida nômade, lutando de todas as formas para sua sobrevivência, seus
cultos e festividades até a fixação em sociedade chegando ao que conhecemos hoje (tecnológico e
facilmente adaptado ao mais fácil), podemos entender a necessidade de a escola se preocupar
também com as consequências da vida moderna, onde nem tudo é benefício, desta forma, também,
o resgate de atividades que incentivem as pessoas ao movimento, como exercícios físicos,
atividades físicas, relaxamento e recreação, entre outros, pois qualidade de vida também é nossa
responsabilidade social, conforme afirma González e Schwengber (2012, pg. 25) onde “o estudo das
práticas corporais sistematizadas, vinculadas ao campo do lazer, ao cuidado do corpo e à promoção
da saúde”.

2.4. A PRÁTICA DA EDUCAÇÃO FÍSICA NAS SÉRIES OU ANOS INICIAIS

A criança nas séries ou anos inicias, na sua maioria, está sempre disposta ao aprendizado de
novos jogos, novos movimentos ou novos desafios e cabe ao professor de Educação Física o
conhecimento científico do porquê daquela atividade, bem como paciência e técnicas motivacionais
para manter aceso esta qualidade dos alunos, pois o mundo tecnológico também está presente e
desperta muito interesse do educando, muitas vezes conduzindo-os para o caminho da
individualidade e imobilidade, para Mattos (2004, pg. 9) “Apesar da evolução da sociedade,
percebemos que muitas pessoas ainda utilizam o jogo como fonte de diversão, como acontece nos
jogos de futebol, entre outros.”
Para as diversas faixa etárias, dos seis aos onze anos de idade, respeitando a individualidade,
a resistência, onde o professor deva fazer as devidas adaptações e interferências, podemos
exemplificar com as brincadeiras.

3. MATERIAIS E MÉTODOS

Dentro deste contexto cabe ao professor implementar práticas e jogos que desenvolvam a
motricidade dos alunos, segue exemplos de jogos que assumem este papel.

3.1. FUTPANO

Faixa etária: crianças a partir de 7 anos de idade.


Local: local amplo e plano, ideal quadra poliesportiva.
Número de participantes: entre 10 e 30 jogadores
Material necessário: dois bastões, quatro cones, um pano.
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Objetivo: mobilizar e desenvolver habilidades motora de manipulação.


Desenvolvimento: com os cones são feitas as traves. Os bastões estarão à frente das pequenas
traves e o pano no meio do espaço delimitado. Os alunos, divididos em dois grupos, estarão
agrupados em duas filas atrás das traves. O professor determinará a cada aluno um número. Ao
comando do professor que anuncia um número, os alunos do número anunciado terão que pegar o
bastão no chão, correr até o pano e tentar fazer gol na trave do time. Não é valido pisar
propositalmente no pano nem mesmo tocá-lo com a mão.

FIGURA 1 – ORGANOGRAMA DO JOGO FUTPANO

FONTE: NASÁRIO, Júlio Cesar; MAFLI, Roberto; VANDRESEN, Jeferson; CARVALHO, Rafael Doose de; Jogos
Lúdicos: o relato de uma vivência. Ed.2, p.35. Rio do sul, Unidavi, 2014.

3.2. PIQUE BANDEIRA

Faixa etária: a partir dos seis anos.


Local: qualquer espaço amplo e plano.
Número de participantes: entre 10 e 30 jogadores
Material necessário: uma bola, um pano, qualquer objeto manuseável que possa representar uma
bandeira.
Objetivo: mobilizar e desenvolver habilidades desportivas.
Desenvolvimento: a turma é dividida em dois pequenos grupos que ficam dispostos em filas
opostas. O professor determinará a cada aluno um número. Ao ser mencionado seu número, o aluno
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corre ao encontro da bandeira e procura trazê-la para o seu campo, sem que o colega da outra
equipe com o mesmo número pegue. Se o aluno traz a bandeira até sua equipe sem ser pego, a
equipe soma o ponto, caso seja pego sem chegar até sua equipe, o ponto será somado para a outra
equipe.

FIGURA 2 – ORGANOGRAMA DO JOGO PIQUE BANDEIRA

FONTE: NASÁRIO, Júlio Cesar; MAFLI, Roberto; VANDRESEN, Jeferson; CARVALHO, Rafael Doose de; Jogos
Lúdicos: o relato de uma vivência. Ed.2, p.37. Rio do sul, Unidavi, 2014.

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

A implementação dos jogos futpano e pique bandeira foi feita com a turma do 3° Ano do
Centro Educacional Pedro dos Santos, em geral a observação mais nítida foi o desenvolvimento
social entre os alunos, mas partindo do pressuposto de análise, desenvolvimento motor como
manifestação corporal houve uma clareza entre crianças com aptidão para locomoção junto com o
manuseio dos materiais, troca de direção e aspectos relacionados a lateralidade, com outras
introspectivas no sentido corporal e dificuldade de realizar as duas ações simultâneas.
A brincadeira de futpano ocorreu dentro do previsto conforme a referência dos materiais e
métodos, sabe-se que devido à localização de algumas escolas e pela atividade exigir um pouco
mais de materiais, pode haver modificações na brincadeira, como a troca de bastões por cabos e
cones por bambolês.
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FIGURA 3 – PRÁTICA DO JOGO FUTPANO

FONTE: Cunho autoral, foto feita no dia 27 de novembro de 2019.

No decorrer da brincadeira houve a desatenção de dois alunos, que apresentavam


movimentação corporal eficiente para sua idade, porém na questão de foco das instruções na
atividade não absorveram corretamente, tendo que ser repetida sua vez. Outro aluno com baixa
movimentação corporal teve bom desenvolvimento nas instruções passadas pelo professor, porém a
eficiência no quesito motor estava baixa, precisando ser aprimorada.
A segunda brincadeira, pique bandeira também foi desenvolvida sobre a ótica motora
acrescentando o aspecto desportivo, pois exige mais das valências físicas dos alunos, como
agilidade, velocidade, resistência e coordenação em maior destaque.
Houve variações dessa brincadeira passando do previsto pela referência bibliográfica para
outas formas mais soltas de recreação, mas sendo sempre o foco principal o desenvolvimento
motor. Por exigir mais das valências físicas e baixo número de comandos e orientações a turma
como um todo teve desenvolvimento satisfatório e ficou evidente a maior imersão nesta atividade,
podendo ela ser objeto de análise para o plano de aula.
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FIGURA 4 – PRÁTICA DO JOGO PIQUE BANDEIRA

FONTE: Cunho autoral, foto feita no dia 27 de novembro de 2019.

5. CONCLUSÃO

O desenvolvimento das valências físicas deve ser entre outros aspectos foco primordial no
trabalho do professor de educação física, pois ele serve de alicerce para outros aspectos no
desenvolvimento humano, quando aplicamos práticas voltadas para este fim notamos na
manifestação corporal um avanço gradativo entre os alunos, pois isso é do humano e que devido aos
tempos contemporâneos deixamos de lado e que acarreta na perda futura dessas habilidades, como
no dançar, se portar, relacionar e movimentar-se.
O professor como mediador e tendo o conhecimento de como a criança em séries iniciais
está se desenvolvendo, pode aplicar as práticas que melhor desenvolverão este lado motor no
indivíduo, assim nota-se que o futpano e o pique bandeira tem resultados satisfatórios para essa
necessidade.
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Sempre no âmbito escolar haverá variações dos jogos devido a qual turma será aplicada e a
quais materiais estão disponíveis no cotidiano do centro escolar, por tanto cabe ressaltar que nos
planos de aulas devem ser contadas essas informações que englobam variações e adaptações das
atividades. Deixa-se em aberto futuras metodologias científicas voltadas para o desenvolvimento de
valências físicas em atividades específicas como as abordadas neste artigo, para uma maior
eficiência do ganho de motricidade por alunos em séries iniciais.
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REFERÊNCIAS

ARRIAGADA, Marcelo Valdés. Psicomotricidade Vivenciada: Uma proposta metodológica para


trabalhar em aula. 2.Ed. Blumenau, Editora Edifurb, p. 106, 2004.

FREIRE, João Batista. Educação de Corpo Inteiro: Teoria e Prática da Educação Física. 1.Ed.
Editora Scipione, p. 200, 2009.

GONZÁLEZ, Fernando Jaime; SCHWENGBER, Maria Simone Vione; Práticas pedagógicas em


educação física: espaço, tempo e corporeidade. 1 Ed. Editora Edelbra, p. 120, 2012.

MATTOS, Elizete de Lourdes. Brinquedos e Jogos de Sucata: Brincando e Aprendendo. 1.Ed.


Blumenau, Editora Vale das Letras, p. 64, 2004.

NASÁRIO, Júlio Cesar; MAFLI, Roberto; VANDRESEN, Jeferson; CARVALHO, Rafael Doose
de. Jogos Lúdicos: o relato de uma vivência. 2.Ed. Rio do sul, Unidavi, 2014.

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