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Jorge Castro
Copyright © 2017 Jorge Castro
Direitos autorais do texto original – Registro no Escritório de
Direitos Autorais da Biblioteca Nacional.
“Agora, só agora
Talvez você perceba
Que eu nunca vou deixá-lo ir”
5.
Engulo em seco.
Guardo o recado no bolso da calça.
Abro a embalagem.
É chocolate.
8.
Missão na praça!
Corre pra lá!
Arqueio as sobrancelhas.
Penso em questionar, mas desisto. Sei que manterá o mistério.
Entro na casa. Invado o banheiro. Gasto minutos sob a água quente.
Pego qualquer roupa, evito o espelho.
Caço a bicicleta.
As calçadas me recebem.
Quarta-feira.
Há uma placa na entrada da praça, em frente às faixas amarelas. O
fundo da arte tem as cores do arco-íris, com letras chamativas que entregam
as atrações da festa. Horários, músicas, algumas das barracas mais
conhecidas.
Vez ou outra a placa chama a atenção de passantes, e alguns se
enraivecem com o tema. Entre os formandos, dois ou três também
demonstram insatisfação, mas Carla os convence a continuar. É
compreensiva, usa bem o carisma.
Evita discussões antes mesmo que comecem.
Enquanto trabalhamos, tento ocupar a mente com as posições das
bandeirinhas. Lara e o namorado são as únicas pessoas a quem me dou ao
luxo de encarar, porque tenho medo de encontrar quem não me quer. Quando
moradores se aproximam, seja para criticar ou oferecer ajuda, me afasto da
fonte, levando lamparinas e fitinhas para o bosque.
Guilherme está sentado em um dos bancos de madeira, falando ao
telefone. Cigarro entre os dedos, azul rodeando o pulso. Ele instrui os donos
de food-trucks a chegarem na cidade. Por vezes levanta, se espreguiça, e
volta ao trabalho.
É estranho observá-lo. Não sei se estamos juntos.
Nada aconteceu após o beijo. Nem durante a noite, nem pela manhã.
Quando cheguei à praça, ele afagou meu cabelo e beijou minha testa.
Perguntou se eu estava bem, acendeu o cigarro e correu para a lista de
afazeres.
Nenhuma palavra sobre o beijo.
Talvez não tenha sido bom.
Provavelmente não foi.
Talvez tenha pena demais para ser honesto.
De alguma forma, é melhor assim.
Enquanto formos amigos, as chances de um fracasso caem pela
metade.
Não posso correr riscos. Não sem outro lugar para ir.
É o mais sensato. Acho.
Ou é?
Talvez faça sentido. Acho que faz.
Se minha família não me aceita, por que eles o fariam?
Não são obrigados a gostar de mim.
Olho para o lado.
Lara conversa com o namorado, Carla atende a um telefonema.
Guilherme assina algo na prancheta.
Ninguém nota o bombardeio.
Pincelo o arco-íris.
13.
Dormir é impossível.
Fecho os olhos e os abro, e então volto a fechar.
O quarto está tomado por escuro e silêncio, e as pálpebras pesam mais
com o passar do tempo. Mais do que nunca, preciso descansar. Apagar a
mente o quanto for necessário. Quero afastar o medo, as vozes e o remorso.
De tudo o que fiz, e do que ainda faço.
Porque ainda sou.
E posso estar errado.
Talvez esteja mesmo.
Talvez eu seja o erro.
Suspiro.
Pego o celular. Mais de cem mensagens.
Todas de horas atrás.
Caio. Lara. Minha prima. Guilherme.
Guilherme.
Cê tá bem, Aurora?
Não queria ter te deixado aí sozinho
Posso me controlar.
Posso me controlar.
Posso me controlar.
Posso me controlar.
Por favor.
POR FAVOR!
24.
Quase meia-hora.
Guilherme não voltou.
Caminho pelo centro. Lara está ao meu lado.
Disputamos cada jogo das barracas na esfera, quase sempre perdendo
ou levando prêmios pequenos. Estalinhos, bolhas de sabão, tiaras coloridas
com chifre de unicórnio. Deixamos quase todos nas mãos de crianças
próximas, mas mantemos as tiaras, porque Lara me ameaça quando tento
oferecê-las.
Meus olhos se agitam. Não consigo parar.
Estudo cada grupo que atravessa nosso espaço, procurando por traços
que jurei evitar. Sinto medo e angústia apertarem meu pescoço, e tento
disfaçar, ignorando os nomes que os monstros sussurram.
Na pescaria, alguém grita.
Me viro no mesmo instante.
Um menino comemora ao ganhar o urso grande, e seus fios são
castanhos como os do meu irmão. Mesmo corte, mesmo estilo. Sufoco em
arrepios. Perco a respiração. A altura é a mesma, com os quilos a mais que
geram brigas em casa. Ouço as risadas que vinham do quarto ao lado, e o
coração congela, lançando frio e cócegas por cada um dos meus membros.
Pavor cobre meu peito.
Batidas aceleradas.
Por vários segundos, não posso me mover.
Eles vieram.
Eu disse que viriam!
Se eles...
Mas o garoto vira, e posso ver seu rosto.
Os pais sorriem, pegam o urso, vão para longe.
Esvazio os pulmões. Encho novamente.
Eles não estão aqui. Precisa relaxar!
Relaxar.
Ao meu lado, Lara continua.
Tento me concentrar em seus gestos e palavras.
Ela fala sobre algo que assistiu com Pablo.
Penso em Guilherme. E em Carla. E no resto dos formandos.
O que estão fazendo?
Algo deu errado?
Por que demoram tanto?
Ouço o tique-taque. Me causa calafrios.
Não quero o desespero.
Tenho que me acalmar.
Preciso ir para casa.
Não quero ver ninguém.
Não queria ter vindo.
Preciso ficar calmo!
Caio.
26.
— É sério, Pedro. Sempre quis o teu bem. Não era mentira quando eu
falava que gostava de você. Nunca foi. Poxa, tu foi a primeira pessoa que
demonstrou algum interesse em mim. Você me ajudou a perceber quem eu
era de verdade, sabia?
Sim.
Um mentiroso. Traidor. Tão egoísta quanto eu.
Quero gritar. Não quero ouvir.
Vá embora.
Vá embora.
Vá embora!
— Mas quando você disse que ia se assumir, eu surtei. As pessoas
falavam da gente pelos cantos, você mesmo disse. E isso chegava nos
ouvidos do meu pai. Se ele descobrisse que tu saiu do armário, ia acabar
desconfiando. Eu não podia...
— Isso não é desculpa.
— Pedro!
— Não. Você me traiu. Me traiu com os seus pais e os meus. Acabou
com a chance que eu tinha de fazer tudo do meu jeito. Conheço a família que
tenho, sei lidar com eles, já tinha planejado preparar o terreno antes de jogar a
bomba. Mas tu jogou uma pedra no campo minado e deixou explodir.
— Cara, tenta me entender!
Ninguém responde.
38.
— Eu tenho medo de não ser boa em nada. — Carla diz, dando outro
gole na longneck. Ela não parece satisfeita com o calor da fogueira. Esfrega
os próprios braços, observando as chamas sem dar atenção a elas. — Às
vezes começo a chorar sozinha porque alguém faz alguma coisa e eu acho
que fez melhor que eu, e fica difícil não achar que vou ser só mais uma
fracassada que não se destaca em nada que tenta.
Henrique a abraça, e ela joga um sorriso frio.
A luz da fogueira luta contra a noite, banhando nós seis e as garrafas
de cerveja.
Não sei como o jogo começou, mas não reclamo. A forma como todos
se abrem deixa o ar mais confortável, e é fácil me imaginar ali por toda a
vida, ouvindo e me confessando. De repente, quase não me preocupo em
contar mais do que devo, porque todos somos cúmplices e posso confiar
neles.
— Tenho medo de passar fome. — Continua Henrique, dando um
gole na bebida. Carla alisa seus cabelos, mas ele não reage. — Meu tio vive
falando que eu devia procurar uma profissão de verdade. Editar vídeo não é
trabalho fixo, né? E eu discuto com ele, mas no fundo... devia tentar alguma
coisa que assinasse minha carteira.
Ninguém diz nada.
Esse foi o combinado.
Lara pigarreia.
— Eu tenho medo de Porto Girassol. — Diz, e todos a encaramos. A
garrafa vai à boca, e ela se demora. Quando continua, a voz não está firme:
— De ficar presa aqui e não conhecer o resto do mundo, porque tô muito
ocupada trabalhando e cuidando dos filhos e me preocupando com boleto e
conta de luz e plano de saúde. Enfim, essas merdas.
Pablo assente.
Guilherme se encolhe.
Carla perde o foco e até eu estremeço.
— Tenho medo de acordar e descobrir que ninguém lembra de mim.
— Guilherme solta, e o frio ganha força enquanto bebe a cerveja. Caço seus
dedos livres, os entrelaço aos meus. Ele agradece em silêncio, e então
continua: — Ou de acordar e ver que todo mundo me odeia. Tipo aqueles
filmes em que a pessoa descobre que nunca nasceu, e aí nem os próprios pais
sabem que ela existe. Parece coisa de doido, mas...
— Não parece. — Carla corta, esfregando a garrafa sem nenhum
interesse.
Endireito os óculos, e parte dos rostos se vira para mim.
Baixo a cabeça. Evito os olhares.
Minha mente passeia pelas últimas semanas, resgatando as quedas e o
que veio depois delas. Me lembro de Caio, do segredo que vazou.
Hematomas, mochilas, vizinhos curiosos e os cochichos que lançavam.
Lembro das horas na praça, das várias ligações que Lara não atendeu, e
lembro de Guilherme cumprindo a promessa de que estaria lá.
Brigas passadas ganham destaque, erguidas por pilares de remorso e
incerteza.
E se a culpa for minha?
— Acho que tenho medo de descobrir que tô errado. — Solto em voz
baixa. Beberico a longneck, sentindo o gosto amargo da cerveja meio quente.
Levo mais tempo que os outros, porque parte dos fantasmas implora o meu
silêncio. Ouço que o grupo não se importa, que odeiam o meu drama, e que
confiar neles é pedir outra traição. Ignoro, erguendo os olhos. — Eu briguei
com Caio, com meus pais, e até com aqueles gêmeos que andavam com a
gente ano passado. Eu sei que vocês falam que é normal e que não tive culpa,
mas parece que sou sempre eu, sabe? Sempre que alguém briga eu fico preso
no meio, e aí as coisas pioram e sempre sobra pra mim. E deve ser culpa
minha mesmo.
— Tu não fez nada pros gêmeos, trouxa. — Lara revida.
— Quem são os gêmeos? — Pergunta Carla.
— Dois babacas que tentaram criar uma revista pra Porto. O projeto
tinha ficado uma bosta, mas a gente sabia que eles surtavam com crítica
negativa, aí o Pedro disse que tinha gostado. Lançaram a primeira edição e
ninguém quis comprar o estrume.
— E eles culparam o Pedro?
— Obvio, né? Melhor que admitir que o trabalho tava porco.
— Eu podia ter dito a verdade. — Replico.
— Pra aturar o bico de raiva deles? Deus me livre, garoto.
— Mesmo assim...
— Mesmo assim nada. — Continua, e me encolho. — Aqueles dois
são egoístas e erraram feio contigo. Caio é egoísta e errou muito feio contigo.
Seu pai é um pedaço de merda e sua mãe foi na onda dele. Tu não teve culpa
de nada, para de ser bocó.
Guilherme me puxa e me envolve em um dos braços.
Chamas crepitam. Cervejas esquentam.
Rios de tensão rodeiam as barracas.
Mais uma vez, caímos em silêncio.
— Às vezes eu tenho medo da Lara. — Carla brinca, e conseguimos
rir.
41.
Mãe.
43.
Cortesia da gerência.
- A gerência.
Continue calmo.
Não tem nada de errado.
Controle as serpentes.
Controle as serpentes!
Desligo o chuveiro.
Me encaro no espelho.
Pareço prestes a murchar.
Pego o telefone.
46.
Oi.
Eu não sabia começar essa mensagem. Desculpa.
Pensei em te ligar, mas você não ia atender. E com razão, né?
Enfim.
Eu queria te pedir desculpas, só que parece uma coisa vazia depois de
tudo que a gente te fez passar. E eu nem sei direito o que a gente te fez
passar, porque não tive capacidade nem de procurar você. Fui pela cabeça
do teu pai e fiz a única coisa que prometi não fazer nunca: dar as costas a
um filho.
Você precisava de mim. Eu sei disso.
Sempre soube que ia ter que te proteger. E eu me preparei pra isso.
Mas aí chegou a hora e eu perdi a noção das coisas.
Devia ter enfrentado o seu pai. Queria ter enfrentado.
Eu morreria pra mudar o jeito que ele te tratou.
E morreria feliz, sem arrependimentos.
Porque é o que sinto quando passo pelo corredor e vejo aquele quarto
vazio. Arrependimento, por não ter te defendido. E dor, porque uma das
únicas coisas que me fazia feliz tinha ido embora. Principalmente culpa,
porque se eu fosse uma mãe um pouco melhor, teria evitado esse sofrimento
todo.
Hoje o seu irmão perguntou de você. De novo. Eu disse que não sabia
quando você ia voltar, e ele chorou. Ele chorou tanto e eu não consegui me
segurar. Chorei com ele. Quando ele parou, eu continuei.
Foi aí que eu tive a certeza de que tudo estava errado.
Se eu pudesse, Pedro... Se eu pudesse mudar o que aconteceu.
Se eu conseguisse voltar no tempo e terminar aquela conversa de
outro jeito.
Mas eu não posso. E essa é a parte que dói mais.
Porque a gente te perdeu. E eu me perdi no processo. E a casa tá
vazia, e...
Não é suficiente, mas eu sinto muito.
Eu sinto muito, filho. Eu sinto muito e não espero que você me
perdoe.
Mas se puder, por favor.
Desculpa por tudo. De verdade. Espero que esteja bem.
47.
— Até que enfim, hein? — Guilherme fica de pé. — Achei que tinha
desmaiado.
Respondo com um sorriso. Espero que funcione.
Guilherme beija minha testa quando passo à sua frente, e os músculos
imploram para que eu corte o contato. Por pouco não recuo, e acho que ele
percebe, porque vejo o brilho escurecendo seus olhos.
Pare de magoá-lo!
Afasto o pensamento.
— Você devia fazer o mesmo. — Respondo. — Tô sentindo o cheiro
daqui.
— Babaca. — Solta, prendendo a risada enquanto me empurra.
Ele não percebeu. Não ouviu o choro. Pode ficar calmo.
— Vê se não come tudo enquanto eu tô no banho.
— Vou pensar no seu caso. — Brinco, e ele desaparece.
Abandono a mochila, me jogo no colchão, endireito os óculos.
Não largo o telefone.
Tá tudo bem?
Quer que eu desça?
Não precisa.
Certeza?
Que que ele tá falando?
Acho que tá pedindo desculpas.
Oi...
Apago.
Mãe, eu...
Apago.
Tô bem sim. Como você tá?
Apago.
58.
Preciso de ajuda.
59.
Um dia.
Criar nova lista de tarefas.
Dois dias.
Marcar consulta. NÃO ADIAR!
Três dias.
Apartamentos para alugar – Porto Girassol.
Quatro dias.
Compras para a formatura.
Marque a consulta!
Cinco dias.
Pedir desculpas aos gêmeos?
(Você estava errado. Lara só não gosta deles)
Seis dias.
Pedir desculpas a todos.
MARCAR CONSULTA!!!
Oito dias.
Está tudo bem.
Vai continuar bem.
Por favor...
Nove dias.
Formatura.
60.
Oi.
Também não sei como começar essa mensagem.
Fiquei muito tempo tentando pensar nisso, e aí eu adiava a hora de
responder. Fiz isso várias vezes. Mas acho que, no fundo, eu só não queria
conversar. Não queria ter que enfrentar o que me jogou tão fundo no poço –
porque foi o que pensei quando vi suas mensagens. Lembrei que era real e
que não dava pra fugir disso.
Não dá pra fugir disso.
Nem eu, nem vocês.
Enfim.
Nessas últimas semanas, eu me culpei. Pode ser egoísmo meu contar
essas coisas, mas acho que vocês precisam saber. Porque foi horrível, ainda
é horrível. Tive tantas noites de insônia que mal consigo digitar essa
mensagem. Eu chorei, me senti um lixo, e me convenci de coisas que nunca
vão sair da minha cabeça, não importa o quanto eu tente.
Eu cheguei muito perto do limite, mãe.
Muito. Perto.
E eu queria que aquilo parasse.
Quase tentei fazer parar.
Às vezes, ainda acho que é a única saída.
Lembra quando a gente ainda era uma família e eu pedi ajuda? Tinha
umas coisas absurdas acontecendo comigo, eu tava desesperado e vocês
disseram que eram “os hormônios”. Não eram os hormônios, mãe. Era isso.
Foi quando senti pela primeira vez que tinha alguma coisa metralhando meu
peito.
E aí piorou. Não saí do meu quarto.
Larguei a faculdade.
E mais uma vez, não havia problema. Eu era um vagabundo.
Não existe essa história de gente depressiva, né?
Mas existe.
E eu era uma delas. Eu sou.
Se não fosse pela Lara e por Guilherme e pelos outros, nem isso eu
seria mais.
Mas tá tudo bem.
A verdade é que eu te amo, mãe. Mais que tudo nessa vida. Não
queria sentir isso, principalmente depois do que fizeram. Queria conseguir
esquecer vocês, viver bem longe do ambiente tóxico onde me criaram. Mas
eu não consigo. Mesmo sabendo que fui triste nessa casa, e que tive surtos
que vocês nem ouviram – porque nunca se preocuparam, vamos ser sinceros
–, ainda sinto falta de acordar e te ver. Sinto falta dos nossos almoços juntos,
e de quando a gente se juntava pra ver algum filme na sala.
Eu sinto a sua falta. Mais que tudo nessa vida.
E isso é o que dói mais, porque não consigo perdoar você.
Eu queria. Juro que queria. Tentei fazer isso de toda forma possível.
Mas ainda dói. Ainda me sinto um lixo. Ainda quero que pare.
Quem sabe um dia, né? Procurei ajuda profissional, talvez isso me
ajude a deixar tudo pra trás. Gosto da dra. Maria e de como ela me diz o que
preciso ouvir. Parece Lara, mas com conselhos melhores e sem a aura
medonha que ela fica quando tá com raiva.
(Lara ainda estagia como técnica de futebol da escola, caso queira
saber. Viajou tem alguns dias pra uma das cidades vizinhas. Estão no
campeonato, vão jogar contra os Dragões. Tô dizendo isso porque vocês se
preocupavam com ela, e não acho que tenham tido contato desde que... bem,
você sabe.)
Foi ela quem me ajudou. Depois de Guilherme, digo.
Eles me salvaram várias vezes, e acho que os dois nem tem ideia
disso.
Fizeram o trabalho que vocês deveriam ter feito.
Porque eles me amam. Agora eu sei disso.
Entendo esse sentimento. Não é mais tão confuso.
Enfim.
Eu tô atrasado. Guilherme vai subir no palco.
É o primeiro dia dele no pub aqui do centro – contrataram ele para
cantar.
E, ah... obrigado por se importar e por mandar essas mensagens.
No fundo, eu gostei.
E apesar de tudo – da raiva e da mágoa – você é minha mãe.
Um dia, quem sabe, a gente coloque isso em prática de novo.
Espero que sim. De verdade.
Abrace meu irmão por mim, tá?
Diz que eu amo ele. E amo você também. Só não tô pronto pra isso.
Um dia, mãe. Juro que vou tentar.
Até lá, espero que tenha uma boa vida.
62.
“I swam across
I jumped across for you
Oh, what a thing to do”[11]
Por diversos motivos, escrever esse livro foi tão difícil quanto saber
que muita gente passa pelo que o Pedro passou. Larguei ele várias vezes,
porque consumia muita energia narrar as crises e as dores e os monstros que
o protagonista carrega. Foi doloroso, e maravilhoso, e tive tanta gente comigo
enquanto o projeto avançava que peço desculpas antecipadamente caso
esqueça de colocar alguém aqui.
A verdade é que todos vocês merecem mil abraços.
Primeiramente, gostaria de agradecer à minha mãe, por todo o apoio
de sempre e por acreditar em mim mesmo quando nem sabe do que se trata a
história. Por ter me apoiado quando saí do armário e ter me livrado da
realidade que o Pedro precisou viver. Aos meus avós e irmãos e primos, no
geral. Sempre vai ter um lugar especial no meu coração para todos vocês.
Denise, senhora elfa de Warthia, que desde cedo acreditou em tudo o
que envolvia esse livro e volta e meia me espancava verbalmente para que eu
não desistisse dele. Você fez toda a diferença, de verdade, e eu te amo tanto
que fica difícil explicar. Obrigado por ser minha amiga e por caminhar
comigo. Espero que Lilian e Gregório nunca se esqueçam dos meninos de
Porto Girassol, porque eles não vão. Nunca.
Bianca, por não ter me matado depois de ficar horas e dias e semanas
ouvindo sobre os meninos, aturando meus surtos e me tranquilizando quando
eu cismava que tudo ia dar errado. Sem você não teria meninos. Sem você eu
não teria passado do segundo capítulo. Se a gente chegou aqui, foi graças a
você. Nunca se esqueça disso. E Eduarda, a menina que me abandonou mas
que, ao mesmo tempo, continua presente. Obrigado por me impedir de fazer
burrada, por me ajudar toda vez que te procuro, e por ser uma amiga fabulosa
que sempre dá um jeito de participar da minha vida. Eu te venero muito,
Henker, continue sendo essa pessoa maravilhosa.
O mesmo para Jackson, Silvia Helena, Robson, Belle e Nathan, uns
dos primeiros a ouvir falar do livro. Obrigadíssimo pela força e toda a
motivação. Vocês conheceram os meninos antes de qualquer um, e isso foi
lindo. Novikovas, um obrigado cheio de glitter para você, pelos surtos e os
comentários e os Fora T... (piada interna).
Não posso deixar de agradecer à Claudia Lemes, porque houve um
momento em que a história travou e pareceu que eu não ia conseguir retomar.
Se terminei esse livro, foi graças ao curso e às dicas e ao ponto de confiança
que a Claudia me deu. Foram as aulas-hangouts mais proveitosas da vida.
Obrigado por ser essa professora incrível, e por ser uma escritora melhor
ainda.
E obrigado a você, que está lendo. Espero que se encante com a
história do Pedro e que consiga descobrir onde é o seu lugar. Lembre-se
sempre que o mundo guarda mil e uma maravilhas, e por maior que um
problema possa parecer, ele vai passar. Você é uma pessoa incrível, acredite,
e não está sozinho.
Se chegou até aqui, pode ir muito mais além.
Não desista.
Existem pessoas esperando o seu abraço.
Sobre o Autor
Jorge Castro nasceu no Rio de Janeiro e passou boa parte da sua vida
em Niterói, onde vive atualmente.
Sempre foi apaixonado por qualquer assunto em que dragões e
feitiços se encaixam. É um libriano legitimo com ascendente em capricórnio,
o que ele suspeita ser o motivo de ter se aventurado pelo mundo da escrita.
No Meu Lugar é seu primeiro romance contemporâneo com
protagonismo LGBT+. Seus outros trabalhos incluem a série de fantasia
urbana A Pistoleira – Navilly Wood 1 e a trilogia de alta fantasia Fúria dos
Magos – Totem 1.
Acompanhe mais sobre No Meu Lugar e outros livro de Jorge na
página do facebook e adicione o livro no Skoob.
[1]
“Quando você esteve aqui antes, não podia me olhar nos olhos. Você é como um anjo”
trecho da música Creep, do Radiohead.
[2]
“Você é tão especial, eu queria ser especial.” Trecho da música Creep do Radiohead.
[3]
“Mas eu sou insignificante, sou um esquisitão” trecho da música Creep, do Radiohead.
[4]
“Eu não pertenço aqui” trecho da música Creep, do Radiohead.
[5]
Trocadinho com a frase “be pround” que significa “se orgulhe”, trocando o be por bi, em
referência a bissexualidade.
[6]
“Quando eu acordo tenho medo que alguém tenha tomado o meu lugar” trecho da
música Afraid, do The Nighbourhood.
[7]
“Todos os meus amigos sempre mentem para mim. Eu sei o que eles estão pensando,
você é muito malvado, eu não gosto de você” trecho da música Afraid, do Neighbourhood.
[8]
“Continue sonhando, continue respirando, lute contra esses demônios” trecho da música
Afraid, do The Neighbourhood.
[9]
“olhe para as estrelas, olhe como brilham para você” trecho da música Yellow, do
Coldplay.
[10]
“Você sabe, você sabe que eu te amo tanto?” trecho da música Yellow, do Coldplay.
[11]
“Eu nadei um oceano, eu atravessei barreiras por você. Oh, que coisa a se fazer...”
trecho da música Yellow, do Coldplay.