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Apresentação
Caro aluno,

Nosso objetivo é discutir a diversidade e suas particularidades nas diferentes


necessidades especiais, considerando aspectos sociais, emocionais e relacionais
que de alguma forma interferem na aprendizagem.
Quando falamos em necessidades educativas especiais, estamos falando de
algo complexo. Mesmo entendendo a losoa inclusiva como justa e promotora
de um contexto escolar melhor para todos, precisamos de muita cautela ao con-
duzi-la. O ato de inserir o aluno com necessidades educativas especiais no Ensino
Regular por si só seria uma pseudoinclusão, o que soa-nos no mínimo como irres-
ponsabilidade. A inclusão, por mais justa que seja, requer reexão e preparo do
contexto escolar. Acreditamos que possam existir diferentes formas de inclusão
que respeitem a diversidade do alunado. A singularidade de cada indivíduo sus-
cita a observância de cada situação em particular.

Propomos aqui uma discussão da diversidade e da subjetividade de cada su-


jeito, incluindo o educador, considerações detalhadas sobre as necessidades es-
peciais e suas particularidades diante da situação de aprendizagem.

A seguir, uma poesia sobre a alegria em ser um professor especial.

Iolanda Santos Nascimento

Ser professor é uma benção Sou feliz com meus alunos


E tenho a graça de ser Onde quer que eu estou
É uma missão divina
Que muito me dá prazer Na escola, as nossas aulas
É um grande divertimento
Quando chego à escola Não há lugar pra tristeza
O que mais me alegra ver Tudo é só contentamento
É o sorriso dos meus alunos
E a alegria deles ao me receber São crianças muito sensíveis
Solidárias e amorosas
Gosto de todas as crianças Amam com sinceridade
Do jeito que elas são E são muito carinhosos
Para mim são como lhos
Os lhos do coração Se algo me entristece
Deles não posso esconder
Por eles me sinto amada, Quando percebem me abraçam
Me aceitam como sou Pra tristeza desaparecer
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Por eles sou compreendida Quando a criança percebe


Somos mais que aluno e professor Que é por alguém rejeitada
Nossa relação é de amizade Sente-se muito infeliz
Conança e muito amor Indefesa e magoada

Somos amigos, companheiros Por que promover tristeza


Para mim são todos especiais Se podemos dar amor
Apesar de terem uma necessidade Tratar a todos com respeito
São crianças geniais Evitando assim a dor

Por terem uma necessidade De que adianta parecer bonito


São alvo de discriminação Quem é feio de coração
Por pessoas que não sabem amar Com suas atitudes mesquinhas
Sem sentimento no coração Causando aos outro decepção

Se eu pudesse acabaria Sou uma professora privilegiada


Com qualquer tipo de preconceito Por ter alunos tão legais
Pois além de ser uma vergonha Sinto-me realizada
Só traz tristeza ao peito Com minhas crianças especiais
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Olhar a diversidade, olhar o todo

Maria de Fátima Joaquim Minetto


Cada um de nós é diferente. Tivemos experiências diferentes. Recebemos o sol de
maneira diferente. Projetamos nossa sombra de maneira diferente. Por que então não
teríamos cores diferentes?

Leo Buscaglia

Participando de cursos, congressos, consultorias, por todo o Brasil, pu-


demos constatar que, quando o assunto é inclusão, o discurso de diversos
prossionais, entre eles muitos professores, resume-se em algo como:

“Eu não sou especializada para atender essas crianças...”

“Sabe, não é má vontade, mas eu não tenho dom!”

“Tenho muita pena dessa criança, mas tenho mais 30 me espe-


rando.”

“E... o governo que não faz a sua parte?”

“Se eu quisesse trabalhar com decientes estaria no Ensino Es-


pecial, realmente não tenho paciência.”

“Eu não sou contra a inclusão, mas acho muito difícil...”

Palavras que perturbam e ao mesmo tempo reetem os conitos. As


pessoas ainda discutem se são a favor ou contra. Mas... contra quem?
Contra o deciente? Suas famílias? Contra as políticas governamentais?
Contra si mesmo e seus preconceitos? Contra mudanças? Parece-nos que
ainda não é claro para a sociedade o que se quer com a inclusão esco-
lar. Além dos problemas de ordem política, legislações, declarações etc.,
existe a força dos movimentos radicais, que hasteiam a bandeira ignoran-
do as consequências de uma situação imposta.
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Olhar a diversidade, olhar o todo

Em função disso, muito se tem falado sobre inclusão nos últimos anos. Mas,
enquanto teóricos e pesquisadores estão reetindo sobre o “estado da arte”, dis-
cutindo terminologias, as escolas têm recebido em suas salas de aula crianças
com necessidades especiais em um uxo cada vez mais acentuado. No meio
desse turbilhão temos as escolas, os professores, as crianças e os pais tentando
acertar o passo.

A inclusão é um fato. Um caminho sem volta! O resgate de algo que cou


para trás na história e hoje é reparado. Nós, cidadãos, temos duas opções: pri-
meiro, carmos estáticos, questionando, culpando e reclamando. Posição essa,
que não traz alívio para as angústias e ainda produz sofrimento para si e para
todos que nos rodeiam. Ou, numa segunda opção: parar, olhar a nossa volta
e reagir, arregaçar as mangas e ver como podemos melhorar essa situação.
Reetir sobre si mesmo, como pessoa e prossional, e sobre medos, preconceitos.
Com certeza, caro leitor, você optou pela segunda. Por isso, vamos ver o todo
através de suas partes.

Exploraremos as diversidades de aprendizagem de pessoas com necessida-


des educativas especiais (NEE), e também fatores emocionais, sociais, culturais,
políticos que permeiam todos os envolvidos. Salientaremos as diferentes abor-
dagens teóricas; o professor e sua relação com a diferença; a sua formação e a
diversidade; as particularidades da aprendizagem em cada tipo de necessidade
especial (NE). Acreditamos que compreendendo esse todo seremos capazes de
entender e ressignicar o contexto escolar para contemplar a diferença.

Abordagem teórica

Sigmund Freud.

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Olhar a diversidade, olhar o todo

As teorias cientícas norteiam o trabalho de diversos prossionais nos dife-


rentes campos de atuação. Elas surgem inuenciadas pela história, condições
sociais, econômicas e políticas. Hoje a educação e os prossionais a ela ligados
(educadores, pedagogos, psicólogos, psicopedagogos, entre outros) têm se be-
neciado com as diversas abordagens. O embasamento teórico é escolhido pelo
prossional considerando sua visão de homem e de mundo. Cada abordagem
vem contribuir muito para o entendimento do processo ensino-aprendizagem e
as relações que se estabelecem no contexto escolar.

As mais conhecidas são a psicanálise, a comportamental, a teoria sistêmica,


entre muitas outras. Para o professor que busca a formação continuada, consi-
deramos importante conhecer a contribuição das diferentes linhas teóricas para
a educação. Despertando assim o interesse pelo aprofundamento teórico para,
além de compreender a forma de intervenção, optar pela que mais lhe agrade.

Uma abordagem teórica bastante difundida é o behaviorismo Watson (1913),


Skinner (1945), entre outros). O termo behavior signica comportamento. Por isso,
também é conhecida como: teoria comportamental, análise experimental do
comportamento, análise do comportamento, e mais recentemente uma deriva-
ção que é a abordagem comportamental cognitiva. O behaviorismo dedica-se ao
estudo das interações entre o indivíduo e o ambiente, os estímulos do mesmo e a
resposta do sujeito. A análise experimental do comportamento pode nos ajudar
em muitas situações, através da modicação do comportamento.

Os conceitos comportamentalista são amplamente utilizados por educado-


res. Muitos métodos de ensino e situações de aprendizagem são organizados
e embasados por essa concepção. A educação especial utiliza-se amplamente
desses conceitos. Certamente vocês já ouviram falar na Teoria Comportamental
Cognitiva (TCC) que tem sua base na aprendizagem social. Diferente dos beha-
vioristas radicais que acreditam que o comportamento humano é uma resposta
a estímulos do ambiente, a TCC entende que o ambiente, as características pes-
soais de temperamento e o comportamento situacional denem o comporta-
mento humano. Assim, para a TCC o comportamento humano é um fenômeno
dinâmico em construção. Na visão Comportamental Cognitiva, a emoção, o pen-
samento, o comportamento, a sensação física são elementos que interagem e
que podem ser modicados, sendo que um pode atuar sobre o outro.

Uma outra abordagem é a Psicanálise criada por Freud, em 1900; a Psicaná-


lise é uma teoria que considera o comportamento humano regido pelo incons-
ciente, um método de investigação e uma prática prossional. Enquanto teoria

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Olhar a diversidade, olhar o todo

constitui-se de um conjunto de conhecimentos sistematizados sobre a vida psí-


quica. Como método de investigação tem como característica principal a inter-
pretação, buscando o signicado oculto daquilo que é manifestado pelo sujeito
por ações e palavras, pelo imaginário, sonhos etc. A prática prossional hoje não
se limita somente à análise (busca do autoconhecimento). A psicanálise é usada
como base para a psicoterapia, aconselhamento, orientação, em trabalho de
grupos, instituição e também nas escolas. Existe um abrangente e consistente
material do uso da psicanálise na educação, como trabalhos sobre diculdades
de aprendizagem, escolarização de crianças com distúrbios globais do desen-
volvimento e inclusão.

A terceira abordagem que aqui apresentamos, o modelo sistêmico, entende


que qualquer organismo é um sistema em interação. Essa interação é simultânea
e mutuamente interdependente de outros componentes. Entende que o sujeito
está inserido no “mundo das relações”, que ao mesmo tempo em que inuencia
é inuenciado por elas.

Essa concepção é vista como uma nova visão da realidade que se baseia
no estado de inter-relação e interdependência de todos os fenômenos físicos,
biológicos, psicológicos, sociais e culturais. Congurando uma estrutura inter-
-relacionada de múltiplos níveis de realidade, gerando uma mudança de loso-
a e transformação de cultura. A abordagem sistêmica é utilizada com sucesso
no âmbito empresarial, escolar e, principalmente, na terapia familiar.

Esse modelo propõe que todas as redes sociais envolvidas numa situação
(por exemplo, a aprendizagem de pessoas com necessidades especiais) são cor-
responsáveis tanto pelos recursos a ser utilizado quanto pelos impasses que
surgem ao longo do caminho. Trata-se de construir junto com o sujeito, a família,
a escola, os prossionais, uma experiência compartilhada, através da busca de
alternativas e de intervenção para essa realidade.

Dentro dessa visão, as diversidades na aprendizagem têm diferentes origens,


causas e manutenção, em função da diversidade dos sujeitos e dos contextos es-
colares, exigindo assim a pesquisa em diversos campos do conhecimento. Preci-
samos considerar as muitas variáveis que podem favorecer ou não a construção
de estratégias de ação. Contudo, não pretendemos organizar uma cartilha, um
livro de receitas para ser consultado sem delongas. Pretendemos dar subsídios
para a construção do pensamento sistêmico.

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Olhar a diversidade, olhar o todo

O professor e o diferente

Divulgação Guerras Crônicas.


Por que sempre se acaba falando do professor, cobrando do professor? Real-
mente quando o assunto é educação, aprendizagem escolar, o professor é o eixo
principal. Ousaríamos dizer que nele está o segredo do sucesso. Ele não pode
tudo, mas pode muito. O professor muitas vezes sabe mais sobre seus alunos
do que os pais, pedagogos e ou psicólogos. Ele tem mais conhecimento do que
imagina. É capaz de organizar estratégias de ação e reformulá-las em segundos,
diante de uma turma de alunos. Muitas vezes esquecemos que o professor é uma
pessoa (e não o super-homem), com uma história de vida, concepções próprias,
sentimentos, preconceitos, medos etc., oriundos de sua experiência anterior.

Concordamos com autores como Becker (2001), Amaral (1998), Rego (1998)
e Marques (2000), que têm demonstrado a importância de considerarmos as
concepções do professor como elemento constitutivo da prática pedagógica. É
preciso observar as necessidades que o cotidiano coloca para os professores, as
condições reais que delimitam a sua esfera de vida pessoal e prossional, para
não corrermos o risco de se ter uma visão limitada da ação docente.

De acordo com Marques (2001), o professor recebe alunos com deciência a


partir das relações estabelecidas ao longo de sua vida pessoal, de sua formação
prossional e de sua prática pedagógica, retratando o seu modo de ser, de agir e
suas concepções. Contudo, mesmo quando suas práticas pedagógicas têm pres-
supostos de integração e de inclusão, elas vêm acompanhadas de concepções
excludentes e segregacionistas.

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Olhar a diversidade, olhar o todo

Exemplo claro desse contraste é o momento atual da Educação Inclusiva. A


inclusão é considerada como um paradigma possível mediante a constatação
da diversidade como elemento integrante da natureza humana. No entanto, sua
implantação esbarra a todo o momento em práticas que privilegiam a homo-
geneidade (ou seja, a semelhança como princípio constitutivo), promovendo a
exclusão educacional daqueles que se afastam, por uma razão ou por outra, do
modelo homogêneo. Não é possível, pois, estudarmos essas concepções sem
identicarmos o entorno socioeconômico, cultural e emocional.

O medo
Mattos (2003) encontrou dados signicativos, e até certo ponto surpreenden-
tes, no discurso dos professores; a palavra-chave medo foi a emoção que apare-
ceu com maior frequência, deixando em segundo plano palavras-chave como
amor, carinho, indicando que é o medo a emoção predominante nos sujeitos
face à deciência dos alunos (independente do tipo dessa deciência: física, sen-
sorial, mental ou distúrbio de comportamento).

Temos medo do desconhecido, temos medo do que nos pode fazer sofrer...
Temos muitos medos! Pensando a inclusão, será que esse medo está atrelado ao
preconceito? Medo do que não conheço? Ou estaria ligado ao medo de sofrer-
mos com o fracasso do aluno? Pois, o fracasso do aluno é o fracasso do professor?
Diante disso, sentimos a necessidade de fazer uma análise relacionando o medo
com o preconceito, uma vez que sabemos que o medo é uma das emoções que
está na base de uma conduta preconceituosa, já que não encontramos na litera-
tura uma análise mais problematizada da relação entre eles.

Para Delumeau (1998), o medo é uma emoção-choque, geralmente ligada à


surpresa, provocada pela tomada de consciência de um perigo eminente que
possa ameaçar nossa conservação. O medo é considerado uma emoção básica
primária, uma reação manifestada frente a condições afetivas, que mobilizam
algum tipo de ação. É ambíguo, pois tanto pode ser uma defesa essencial contra
os perigos como pode criar bloqueios, impedindo o enfrentamento do perigo.
Boa parte dos medos é aprendida, transmitida pela cultura. Nesse sentido, ainda
de acordo com mesmo autor, há uma diferença entre o medo individual ou par-
ticular e os medos culturais ou nomeados.

Podemos reconhecer medos chamados “medos particulares” que se consti-


tuem numa reação emocional a um objeto determinado ao qual se pode ver

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