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Silveira 71
Resumo
O acompanhamento terapêutico é uma clínica que acontece por meio de saídas e passeios pelas ruas,
assim como na circulação pelos espaços afetivos, com o intuito de construir, com o acompanhado,
lugares de existência no social. Além disso, pode ser considerado como uma clínica que utiliza as ruas
e a circulação como espaço de intervenção, fazendo assim agenciamentos, em uma abertura às forças
do Fora, de modo a possibilitar acontecimentos. Utilizando o método de pesquisa -intervenção ou
cartográfico para acompanhar um caso de acompanhamento terapêutico, este artigo apresenta
fragmentos dessa experiência em que alguns encontros entre acompanhante e acompanhado levaram
à problematização da teoria e da prática do acompanhamento terapêutico e resultaram na a mpliação
da rede de contatos no social do acompanhado.
Palavras-Chave: Psicologia, Acompanhamento terapêutico, Clínica, Acontecimento.
Abstract
Therapeutic Accompaniment is a clinic that comes into being through outings and strolls and
circulation in affective spaces in order to build together with the accompanied, places for social
existence. Moreover, a clinic can be considered as that which uses the streets and circulation as a
space for intervention, making agendas, with an opening to outside forces t o enable events. Using the
research-intervention method and mapping to investigate a case of therapeutic accompaniment, this
article presents fragments of experience that some meetings between accompanying person and
accompanied by led to the problematization of the theory and practice of therapeutic
accompaniment and resulted in expanding the social network of contacts of the accompanied.
Key-words: Psychology, Therapeutic accompaniment, Clinic, Events.
1 Contato: dami_silva@hotmail.com
inclusive, além e aquém dos contornos com códigos específicos, ou seja, territórios
exclusivamente espaciais: o acompanhante com certa estabilidade, ou formações
então se desloca. descodificadas, metaestáveis e
desterritorializadas (Deleuze, 2006).
... de modo a explorar o interno e o externo
para além de uma perspectiva meramente Segundo Araújo (2006), “O
espacial. Para não se confundir, usará os acompanhamento é uma prática que se dá
termos dentro e fora [sendo que] o Fora de
que está tentando se aproximar é um aquém em agenciamentos que vão da subjetividade
e além dos contornos visíveis e invisíveis do
mundo objetivo e subjetivo, mas também humana aos espaços sociais, dos espaços
não está fora do mundo, fazendo parte do sociais ao meio ambiente, do meio ambiente
mesmo. (p. 85)
à subjetividade...” (p. 31). Uma prática de
Nesse contexto, percebe-se que: agenciamentos se caracteriza por uma
“abertura às forças do Fora, para o que é
... a estabilidade dos espaços é ilusória, incalculável, para o que é irremediavelmente
[assim] agitam-se forças de toda espécie que
compõem os ambientes de que é feita cada novo.” (p. 25). Segundo o autor, essa
paisagem, inclusive subjetiva – forças do
ambiente econômico, político, artístico, abertura pode ser entendida como uma
sexual, social, informático, etc..... Assim, desestabilização da técnica como saber
com seu deslocamento para a fronteira,
entram em jogo [na prática do constituído, regulador, “objetificador”, que
acompanhamento], inclusive.... ambientes
que não costumavam integrar o território dá lugar ao que é singular ao acompanhado,
clínico [trazendo assim] forças inéditas, ao acompanhante, ao encontro que se dá
formando uma série de relações
desconhecidas. (Rolnik, 1997, pp. 85-86) entre eles.
O autor também traz a ideia de
Nesse sentido, dizemos que as forças do
“circulação como uma experiência de desvio,
Fora afetam os territórios instituídos
de produção e de criação.... em um circuito
produzindo instabilidades que, até então,
aberto e na criação dessa própria abertura
definiam as paisagens e a circulação por elas.
como experiência de deriva” (Araújo, 2006,
Outro interlocutor que temos é Araújo
p. 46), o que seria a própria noção de
(2006), para quem o acompanhamento
circulação que então é capaz de criar espaço
terapêutico é composto de duas partes. Uma
para o novo, para a inventividade, uma
é a parte técnica, correspondendo aos
abertura para o devir, isso é o que se designa
agenciamentos. Agenciamento é uma
como clínica como acontecimento, a outra
montagem de um conjunto de elementos
parte do acompanhamento terapêutico.
heterogêneos, tanto da ordem biológica
Como clínica acontecimento, Araújo
quanto social, gnosiológica, imaginária,
(2006) considera que essa clínica propicia,
levando em conta uma noção mais ampla
incita, produz uma abertura intensiva, no
que a de estrutura, sistema ou forma. O
sentido de uma desestabilização do espaço-
agenciamento é que vai dar função, o uso ou
tempo e criação de novos espaços-tempos,
a compreensão ao elemento. Em função dos
que possibilitam que algo inusitado se
agenciamentos, podem haver formações
locais do bairro e fazendo pequenos pequena”, e assim ele vai trazendo o passado
comentários e percebíamos que ele não se para o presente. Falava de cerâmicas em que
restringia apenas ao quarto como fora dito. trabalhou, coisas da roça e café. Trazia isso
Com isso, queremos dizer que cartografar é entre a fumaça do cigarro e uma narrativa
acompanhar, descrevendo e intervindo rica em detalhes, contrastando com o seu
nessas linhas que dão consistência ao seu ritmo frenético e automático do início da
território de vida e que ele vai apresentando caminhada e com o fluxo dos automóveis
nesse começo e no decorrer do que passavam nas ruas.
acompanhamento, e que podem levar a Dessa velocidade seguida de uma parada,
composições de outros territórios singulares dessa aparente urgência do tempo para a sua
a partir da ampliação das possibilidades de suspensão logo em seguida, é nesse tipo de
circulação e de encontros com o outro e intervalo, de hiato, de passagem de um
com o mundo. Nessas circulações, se um estado a outro que se abre pela primeira vez
território parece estagnado ou circunscrito uma viagem, um devir que acreditamos nos
(quarto-quarteirão-CAPS-esquizofrenia), um levar do frenesi dos espaços urbanos para a
encontro pode propiciar algo novo, que calmaria da roça, da prosa entre dois
escapa ao instituído, aos objetivos roceiros, mergulhados em suas
instituídos. reminiscências, compartilhando-as
Nesse primeiro dia, embora as surpresas, livremente. A partir desse bloco de espaço-
a impressão que tivemos naquele momento tempo, desse devir-infância é que,
era de que Pedro queria só cumprir um acreditamos que tenha se inaugurado o
combinado, uma tarefa, e que isso bastava primeiro laço de cumplicidade do
para ele. Mas, ao final da caminhada, ele faz acompanhante com o acompanhado, o que
menção em abrir o portão de casa, mas não nos parece também ter ocorrido com Pedro.
o faz imediatamente. Então, perguntamos Essas suspensões, esses trânsitos entre
como ele veio para esta cidade e ele começa lugares, entre corpos, têm grande
a dizer e, enquanto fala, acende um cigarro e importância nas andanças feitas nesse
se agacha. Agachamo-nos também e acompanhamento terapêutico, nessa
permanecemos como dois caipiras processualidade em ato.
conversando de cócoras na calçada em Segundo Araújo (2006), o que faz
frente a sua casa durante um bom tempo, desviar, o que cria um desvio, uma mudança
agora tranquilamente, enquanto os ônibus “é sempre um encontro: um esbarrão, um
passavam na pressa da cidade. Dali podia se tropeço, o surgimento de uma nova
ver as pessoas saindo das suas casas para o paisagem, de um novo horizonte são sempre
ponto de ônibus logo acima, numa manhã encontros, isto é, são acontecimentos” (p.
de plena quarta-feira; e Pedro, calmamente, 46). É por essa defasagem do tempo, por
contava algo da sua infância e da cidade na uma “abertura intensiva do tempo e do
qual nasceu, a qual chamou de “cidade espaço que vemos a clínica se dar como um
as pessoas. Entretanto, Pedro preferia não foi um dos intercessores mais potentes nesse
fazer isso, ao menos não da forma como acompanhamento terapêutico. Com isso,
supúnhamos. Com isso, mais uma vez, ele também colocamos que, a partir do uso do
toma a frente do processo, como fizera nas computador, abre-se uma série de
saídas, e então o que nos cabe fazer, mais possibilidades de agenciamentos, à revelia do
uma vez, é nos colocar entre, nos abrir à que se poderia haver de finalidade no uso da
deriva e ver no que vai dar e cartografar mais máquina. Seja a nossa suposta finalidade de
esse processo. um uso adequado, seja uma suposta
Assim, Pedro continuava usando o finalidade que Pedro pudesse ter ou ver.
computador ao seu modo e alguns Afinal, o computador veio a funcionar pelas
problemas começaram a surgir, como avarias e interrupções.
problemas no som, mau funcionamento de Queremos dizer com isso que a
aplicativos e até do próprio computador, no informática funcionou como uma abertura a
geral. A cena em que nós nos revezamos no algo novo, proporcionando uma criação em
computador tentando arrumar ou configurar função das (des)conexões que o
a máquina se repetiu por várias vezes. Em acompanhado fez com a informática, que
algumas vezes, ele pedia que arrumássemos reverberou para o acompanhante e o seu
o computador, ou que configurássemos para modo de entender a clínica e vice-versa.
ele, outras vezes, ele mesmo dizia que estava Esses agenciamentos, conectando
arrumando, então ficávamos olhando e informática e o acompanhamento
tentando ajudar enquanto ele ia fazendo terapêutico, produziram consistência para a
algumas coisas, teclando aleatoriamente. função clínica de engendrar acontecimentos,
Essa mistura, essa composição singular que foi um intercessor de encontros e modos
se anuncia, cujo efeito desestabiliza os inusitados e singulares de acompanhar e ser
contornos do que nos era familiar até então, acompanhado, além de um meio de
exige que se encontre um novo modo de expressar essa experiência. Isto é, quando
funcionamento. Esse modo de Pedro decide colocar o computador para
funcionamento diz respeito às vozes dos funcionar e usá-lo sem ter nenhum
híbridos que chegam por meio de sensações, conhecimento e sem fazer nenhum curso, os
que passarão então a constituir a bússola problemas que apareciam para o uso da
nesse processo (Rolnik, 1997). máquina demandavam algum conhecimento
Vale ressaltar a nossa formação em de informática para que pudessem ser
ciências da computação. Isso porque sanados. Então, acompanhando-o nessa
entendemos que esse encontro inusitado deriva, mesmo às vezes sem dizer nada, ou
entre um estagiário de psicologia, graduado quando alertávamos que certos tipos de
em ciência da computação, com um arquivos ou certas operações não podiam ser
acompanhado com gosto pela informática executados ou quando explicávamos para ele
máquina nos levou a garantir à irmã que ele desvio, uma ruptura, uma saída dessa
captura, mas que não se sabia quando e nem história que se constrói entre acompanhante,
como iria acontecer e nem mesmo se iria acompanhado e computador, ocorre a
acontecer. Pedro, ao seu modo, continuava passagem do que é da ordem da paralisia
tentando utilizar o computador, compulsiva, do impasse, para algo que vem
desconfigurava-o e causava falhas no seu de modo inesperado, que passa por entre,
funcionamento e trocava o dia pela noite. que produz um desvio, um novo arranjo se
Sabíamos que esse movimento de Pedro não configura e Pedro passa a se conectar de
podia perdurar por muito mais tempo sem o modo diferente com o computador. Trata-se
acometimento de uma crise. Em um dos de um acontecimento, portador de uma
encontros, diante de problemas no nova constelação de referências e
funcionamento do som, explicamos para ele possibilidades de encontro.
que estavam faltando alguns drivers3 para que Curiosamente, as palavras “driver” e
as caixas funcionassem. “devir” vão se embaralhando no nosso
Não esperávamos o que quer que fosse a discurso e escrita, e nessa trama Pedro
partir dessa nossa fala, pelo contrário, começa a circular, a procurar e a fazer
começávamos a ser interpelados por dúvidas contatos em busca desses drivers, num
sobre as preocupações da irmã e sua ideia de movimento cambiante compondo uma
que talvez o melhor fosse retirar o produção que chamamos de devir-drive, em
computador de Pedro. Mas, para nossa que ele amplia sua rede de conexões virtuais
surpresa, a questão dos drivers começou a e atuais, reais e delirantes também, e, como
fazer uma importante diferença naquela dissemos, escapa, cria-se uma linha de fuga
situação compulsiva, tensa e paralisante. O da letargia e da compulsão.
driver “diz” alguma coisa para o Nos encontros seguintes, ele diz que
acompanhado e possibilita um devir ainda não conseguiu arrumar totalmente o
produzindo encontros que fazem Pedro sair computador e pergunta se não temos os
daquele território que estava restrito ao drivers necessários para fazer o computador
quarto, ao cigarro e aos fantasmas funcionar. Ele conta que já tentou saber se
persecutórios que o rondavam, para acessar tem como comprar, mas a loja que vendeu o
um mundo virtual que o traz para mais perto computador disse que não tem o CD com
desse mundo “real” criado e compartilhado drivers.
por milhares e milhões que se denominam Em outro dia, durante alguns minutos,
lúcidos e normais. tentamos instalar os drivers que baixamos em
Podemos dizer que nessa espécie de casa, mas eles são incompatíveis. Durante
deriva pela informática, nessa singular esse tempo, ele está atento. Ele sai durante
alguns minutos para terminar de fazer o café
3 Drivers são programas necessários para que os e, em seguida, gentilmente, nos serve da
dispositivos (hardware) funcionem, isto é, “conversem”
com a placa-mãe e entre si. Isto é, os drivers fazem a bebida. Explicamos que não deu certo, mas
conexão lógica entre os dispositivos. Nesse caso, eram
necessários drivers para o dispositivo de som. que iríamos tentar baixar drivers originais
drivers”. Esses dois últimos relatos ilustram Depois de alguns encontros assim,
bem as singulares e criativas formas com amparado na ideia do “estar com” e acolher
que aconteciam os encontros de Pedro com o silêncio, não mais nos angustiávamos
o computador e o mundo da informática. tanto, ficávamos atentos e pudemos
Pedro passa a se colocar em maior perceber que Pedro, quando estava deitado,
contato com pessoas e lugares, presta mais às vezes, se voltava para nos olhar, e depois
atenção à ajuda que damos no manejo da retornava para a posição em que estava
máquina, começa a tentar fazer mais coisas antes. Em umas das vezes, voltamos o olhar
com a máquina, como instalar programas, para ele e cruzamos os olhares. Ele não disse
utilizar aplicativos, como os de desenho, e a nada e, então, fizemos um gesto afirmativo
entrar em contato com pessoas diferentes, com a cabeça querendo dizer que estava
como vendedores de artigo de informática, tudo bem e que eu estava lá à disposição,
vizinhos, além de sair para procurar várias como, aliás, já havíamos deixado claro
lojas de manutenção de informática nos verbalmente em outras oportunidades. Ele,
bairros próximos. Por fim, conta que havia então, voltava-se para sua posição anterior.
descoberto cinco lojas, nas quais, em Uma experimentação silenciosa com o
algumas situações, pudemos ir com ele. acompanhado. Esse silêncio permeou alguns
Neste ínterim, notamos que algumas momentos, através dele e a partir dele,
vezes ficávamos sentados na sala e Pedro talvez, pudéssemos ter algo a dizer ou fazer.
dizia que estava instalando alguma coisa no Um silêncio para não poluir com palavras ou
computador. Ele ia para o quarto e voltava. imagens, ou espantar os devires, mas dar
Sugerimos uma saída e ele dizia que não direito ao silêncio, ao mesmo tempo, com
podia porque estava consertando o uma presença discreta, com certa impotência
computador. Aquela situação de ficar só em para determinar ou resolver. Espera e
casa, o tempo todo, era outra coisa que silêncio, sem ações ou palavras precipitadas
também começava a angustiar, pois vinha se que afugentem o acontecimento (Pelbart,
mantendo. Estávamos os dois reféns do 1993).
computador e da casa que ficava fechada e a Outras vezes, quando dava assunto,
fumaça tomava conta, juntamente com um também conversávamos sobre coisas
silêncio enigmático e preocupante. diversas, sobre o tempo, sobre os gatos que
Nesses momentos de silêncio, Pedro se ele tinha em casa, sobre informática,
deitava em um sofá e nós ficávamos em celulares, mulheres, plantas, drogas, vícios,
outro. Às vezes, ele se deitava de costas para seu trabalho antes da doença, sobre as
nós, às vezes, voltado para o nosso lado. pessoas que conhecíamos no CAPS, sobre o
Ficávamos preocupados com o que dizer, se presidente do país, sobre catástrofes
deveríamos ou não puxar conversa, ir meteorológicas, notícias da TV, alimentação,
embora, se deveríamos ou não chamá-lo sobre a família dele, sobre amizade, sobre
para sair. saúde. Uma conversa que nos chamou a
atenção foi quando, conversando sobre sua ao estacionamento. Ele pede que espere que
psicose, ele conta como foi no início ele acabe de fumar do lado de fora do carro,
dizendo: “você não tem ideia de como é agacha-se e diz que sabe por que a internet
ouvir vozes, procurar quem está falando, não deu certo e diz que foi por causa da
mas não encontrar ninguém”. Paradas no “juíza de Brasília”. Ele conta que ela pode
discurso, sons, silêncio permearam os atrapalhar de longe. Diz que ela fez o
ritmos, as velocidades, os conteúdos da mesmo com um primo dele dez anos atrás,
conversa em que Pedro confia no perseguindo-o até a morte. A situação era
acompanhante, cria uma abertura para ansiogênica para ele, o que nos implicava
compartilhar a angústia vivida no delírio. estar com ele e acompanhar a produção
Mas o uso do computador ainda delirante, ajudá-lo a desvencilhar-se daquilo
continuava desconfigurando a máquina. A que o atormentava, mesmo que de forma
internet passa a não funcionar e algumas efêmera, suportando os afetos avassaladores
noites continuam mal dormidas. Os delírios que o capturavam, suas relações com o
parecem incorporar elementos de contexto em que emergiam e os modos de
informática mais fortemente e seus lidar em busca de outros agenciamentos
perseguidores parecem querer atingi-lo via possíveis e menos aterrorizantes.
computador. Um arranjo, um sentido dado A produção delirante pode ser entendida
para um conflito com a realidade instituída como uma “espécie de saúde”, uma
vai proporcionando certo tipo de interação invenção, uma possibilidade de produção de
com essa realidade, mesmo que pautada por vida, de pensamentos e ações (Deleuze,
persecutoriedades. 1997). Não há nada mais íntimo ao sujeito
Pedro, então, decide ir à loja da operadora que o delírio, assim como o sonho lhe é
e pedir o cancelamento do serviço, pois ele originalmente singular. Delirar, sair do sulco,
diz que está pagando, mas a internet não desviar, provocar colisões moleculares e a
funciona mais. Nesse dia, quando chegamos formação de novas ondas de movimento
a sua casa, ele já está pronto para sair e nos que avançam, invadem, deslocam os limites
chama para ir junto. Ele mesmo conversa e na volta mudam de novo esses mesmos
com a atendente sobre os problemas de limites. Ondas que mudam frequentemente
conexão da forma que ele entende que está de velocidade, de altura e de força.
acontecendo. A atendente tenta explicar para Um processo de expressão que se
ele o problema e, assim, negociam por irrompe, que é capaz de provocar uma
algum tempo entre encerrar ou não o ruptura entre as palavras e as coisas. Sendo
serviço e ele decide tentar usar mais algum ruptura, pode então possibilitar uma
tempo. abertura de um espaço para criações,
Na saída da loja, Pedro acendeu um invenções e acontecimentos. Uma ruptura,
cigarro, parecia um pouco tenso. Chegamos um “entre” por onde se afeta e se é afetado
7
urbanos da cidade, das ruas, praças,
Refiro-me ao conjunto de números e letras para a
instalação do sistema operacional ou outros softwares. shoppings, com a intenção de construir ou
aprendizagem sui generis, tanto do Pelbart, P. P (1993). A nau do tempo-rei: sete ensaios
sobre o tempo da loucura. Rio de Janeiro, RJ: Imago.
acompanhado, quanto do acompanhante,
trazendo as questões da clínica, numa Rolnik, S. (1997). Clínica nômade. In Equipe de
Acompanhantes Terapêuticos do Instituto A
experimentação que se afirma como Casa (Orgs), Crise e cidade: acompanhamento
dimensão fundamental em meio ao que se terapêutico (pp. 83-97). São Paulo, SP: EDUC.