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D. Silva & R. W. M.

Silveira 71

Devires e drivers da clínica: acontecimentos no


acompanhamento terapêutico

Becomings and drivers of the clinic: events in therapeutic


accompaniment

Dami Silva 1& Ricardo Wagner Machado Silveira


Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, Brasil

Resumo
O acompanhamento terapêutico é uma clínica que acontece por meio de saídas e passeios pelas ruas,
assim como na circulação pelos espaços afetivos, com o intuito de construir, com o acompanhado,
lugares de existência no social. Além disso, pode ser considerado como uma clínica que utiliza as ruas
e a circulação como espaço de intervenção, fazendo assim agenciamentos, em uma abertura às forças
do Fora, de modo a possibilitar acontecimentos. Utilizando o método de pesquisa -intervenção ou
cartográfico para acompanhar um caso de acompanhamento terapêutico, este artigo apresenta
fragmentos dessa experiência em que alguns encontros entre acompanhante e acompanhado levaram
à problematização da teoria e da prática do acompanhamento terapêutico e resultaram na a mpliação
da rede de contatos no social do acompanhado.
Palavras-Chave: Psicologia, Acompanhamento terapêutico, Clínica, Acontecimento.

Abstract
Therapeutic Accompaniment is a clinic that comes into being through outings and strolls and
circulation in affective spaces in order to build together with the accompanied, places for social
existence. Moreover, a clinic can be considered as that which uses the streets and circulation as a
space for intervention, making agendas, with an opening to outside forces t o enable events. Using the
research-intervention method and mapping to investigate a case of therapeutic accompaniment, this
article presents fragments of experience that some meetings between accompanying person and
accompanied by led to the problematization of the theory and practice of therapeutic
accompaniment and resulted in expanding the social network of contacts of the accompanied.
Key-words: Psychology, Therapeutic accompaniment, Clinic, Events.

1 Contato: dami_silva@hotmail.com

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Historicamente, pode-se dizer que o acompanhamento terapêutico utilizando


acompanhamento terapêutico surgiu como conceitos daqueles autores, e que nos
um desdobramento dos movimentos chamam a atenção por afirmarem que o
antimanicomiais da década de 60. Esses acompanhamento terapêutico é feito
movimentos tinham como pauta a reforma justamente “entre lugares” e “entre coisas”.
do modelo segregacional, hospitalocêntrico, O método que utilizaremos é o
manicomial, adotado no tratamento da cartográfico, em que pesquisar e intervir não
loucura, já remetida à doença mental, assim se diferenciam e que se caracteriza por
como, questionamentos aos saberes acompanhar um processo. Assim, a
constituídos e subjacentes a esse processo. cartografia é um método que considera a
Além disso, o acompanhamento direção clínica e política da pesquisa, e
terapêutico pode ser visto como uma prática também que a prática clínica é intervenção
com a finalidade de articular o paciente com geradora de conhecimento (Passos &
o social. Desse modo, existem algumas Barros, 2009).
variações a respeito do que se diz das Dessa forma, o artigo trata da
práticas e características do cartografia2 de um acompanhamento
acompanhamento terapêutico, assim como terapêutico que nos levou à produção de
das teorias e técnicas que podem subsidiar saberes a partir da problematização do
tais práticas (Carvalho, 2004). Mas, de um tempo e do espaço no acompanhamento
modo geral, pode-se dizer, entre outras terapêutico e que resultou na ampliação da
coisas, que o acompanhamento terapêutico rede de contatos sociais para o
implica sair/estar na rua com o paciente, acompanhado em questão, e na nossa
acompanhando/compartilhando motivação para realizar um trabalho de
experiências e vivências com a intenção de pesquisa.
ampliar as possibilidades de ser e viver. Primeiramente, dialogamos com Rolnik
Pode-se dizer que o acompanhado é aquele (1997), que denomina de clínica nômade a
que, em algum momento, perdeu o contato prática do acompanhamento terapêutico,
com o social, ou que, por algum motivo, foi apresentando-nos essa ideia através do
retirado dos espaços de circulação, tanto em percurso de um acompanhamento
relação aos espaços concretos (ruas, praças, terapêutico “virtual”, que começa nos
cidade) quanto às relações afetivas. O setting espaços concretos, mas não se reduz a eles,
clínico é por excelência a rua, mas não se até chegar naquilo que está para além das
limita a esse (Cassetari, 1997). “espacialidades”. Mas antes introduziremos
Para este trabalho, referenciamo-nos pelo
2
Cartografia é um método criado por Deleuze e
pensamento de Deleuze e Guattari (2010), Guattari que compreende o acompanhamento do
diretamente, ou indiretamente através de processo do traçado do plano ou das linhas que se
compõem na operação da transversalidade ou nos
interlocutores que abordam o processos de desterritorialização ou territorialização
(Passos & Barros, 2009).

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alguns conceitos fundamentais para melhor forma intempestiva e imanente. O Fora,


contextualização dessas ideias. sofrendo uma dobra, pode passar a
Apontaremos, então, os conceitos de força, constituir um dentro, em que as forças estão
Fora e território. “domesticadas” e perdem sua intensidade,
Segundo Deleuze (1976), força é uma seu caráter intempestivo e disruptivo,
força se relacionando com outra força. Tal constituindo assim uma estratificação de
relação de forças constitui corpos, sejam forças. Aliás, a formação dessa dobra, desse
biológicos, químicos, sociais, políticos, dentro é considerado como um processo
clínicos, ou seja, o que define um corpo é a que faz parte do funcionamento do Fora
relação entre forças. Com isso, temos que, (Rolnik, 1997).
um objeto, um fenômeno muda de sentido Essa estratificação de forças dá origem
de acordo com a relação de forças que se aos territórios, que podem ser objetivos ou
apropria deles, sendo que uma força não age subjetivos, de outra forma, aquém e além de
sobre músculos ou nervos, mas sobre outras uma concepção restrita de espaço físico.
forças. Assim, podemos concluir que um território,
As forças são exercidas, ou se exercem, aberto às forças intensivas e intempestivas
num processo de afetação, já que são do Fora, desterritorializa-se. Temos, assim,
definidas por seu poder de afetar outras processos de territorialização e
forças e de serem afetadas, constituindo desterritorialização na produção de dobras
ações sobre ações. Assim, incitar, induzir, do Fora.
ampliar, abrir, desviar, produzir, remete a Isso posto, retomamos a autora, para
forças ativas; enquanto que, incitado, quem o acompanhamento terapêutico se
produzido, limitado, são afetos passivos “sustenta pelas características de um setting
(Deleuze, 2010). Ainda podemos acrescentar nômade, isto é, por circular nas adjacências
que as forças ativas aumentam o desejo e a dos vários territórios de saúde mental,
capacidade de criar, enquanto que as forças ocupando os espaços vazios que existem
reativas diminuem o desejo e a capacidade entre eles” (Rolnik, 1997, p. 84). Aqui
de criar. Essa distinção e relação de forças se territórios são entendidos como campos de
afirma ao acaso, não há equilíbrio possível, saberes e práticas produzidas e
não há uma meta ou finalidade a ser institucionalizados pelas várias abordagens
alcançada (Deleuze, 1976). da psicologia e psiquiatria com seus
Uma pluralidade de forças age e sofre consultórios, ambulatórios, clínicas e settings.
ação a distância, em que a distância é o O acompanhamento terapêutico utiliza
elemento diferencial compreendido em cada então “elementos [destas] várias paisagens
força e pelo qual cada uma se relaciona com pelas quais circula” (Rolnik, 1997, p. 85),
as outras. Essa distância é o “entre-forças”, é mas, no seu nomadismo, tais territórios não
o Fora, uma diferença de intensidade pela são suficientes, sendo necessário então criar
qual as forças se qualificam e se afetam de outros para além e aquém daqueles,

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inclusive, além e aquém dos contornos com códigos específicos, ou seja, territórios
exclusivamente espaciais: o acompanhante com certa estabilidade, ou formações
então se desloca. descodificadas, metaestáveis e
desterritorializadas (Deleuze, 2006).
... de modo a explorar o interno e o externo
para além de uma perspectiva meramente Segundo Araújo (2006), “O
espacial. Para não se confundir, usará os acompanhamento é uma prática que se dá
termos dentro e fora [sendo que] o Fora de
que está tentando se aproximar é um aquém em agenciamentos que vão da subjetividade
e além dos contornos visíveis e invisíveis do
mundo objetivo e subjetivo, mas também humana aos espaços sociais, dos espaços
não está fora do mundo, fazendo parte do sociais ao meio ambiente, do meio ambiente
mesmo. (p. 85)
à subjetividade...” (p. 31). Uma prática de
Nesse contexto, percebe-se que: agenciamentos se caracteriza por uma
“abertura às forças do Fora, para o que é
... a estabilidade dos espaços é ilusória, incalculável, para o que é irremediavelmente
[assim] agitam-se forças de toda espécie que
compõem os ambientes de que é feita cada novo.” (p. 25). Segundo o autor, essa
paisagem, inclusive subjetiva – forças do
ambiente econômico, político, artístico, abertura pode ser entendida como uma
sexual, social, informático, etc..... Assim, desestabilização da técnica como saber
com seu deslocamento para a fronteira,
entram em jogo [na prática do constituído, regulador, “objetificador”, que
acompanhamento], inclusive.... ambientes
que não costumavam integrar o território dá lugar ao que é singular ao acompanhado,
clínico [trazendo assim] forças inéditas, ao acompanhante, ao encontro que se dá
formando uma série de relações
desconhecidas. (Rolnik, 1997, pp. 85-86) entre eles.
O autor também traz a ideia de
Nesse sentido, dizemos que as forças do
“circulação como uma experiência de desvio,
Fora afetam os territórios instituídos
de produção e de criação.... em um circuito
produzindo instabilidades que, até então,
aberto e na criação dessa própria abertura
definiam as paisagens e a circulação por elas.
como experiência de deriva” (Araújo, 2006,
Outro interlocutor que temos é Araújo
p. 46), o que seria a própria noção de
(2006), para quem o acompanhamento
circulação que então é capaz de criar espaço
terapêutico é composto de duas partes. Uma
para o novo, para a inventividade, uma
é a parte técnica, correspondendo aos
abertura para o devir, isso é o que se designa
agenciamentos. Agenciamento é uma
como clínica como acontecimento, a outra
montagem de um conjunto de elementos
parte do acompanhamento terapêutico.
heterogêneos, tanto da ordem biológica
Como clínica acontecimento, Araújo
quanto social, gnosiológica, imaginária,
(2006) considera que essa clínica propicia,
levando em conta uma noção mais ampla
incita, produz uma abertura intensiva, no
que a de estrutura, sistema ou forma. O
sentido de uma desestabilização do espaço-
agenciamento é que vai dar função, o uso ou
tempo e criação de novos espaços-tempos,
a compreensão ao elemento. Em função dos
que possibilitam que algo inusitado se
agenciamentos, podem haver formações

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atualize. Acontecimento como efeito do objetivo de criar com o acompanhado,


encontro entre corpos, uma passagem por territórios de existência singulares por uma
entre, mas que não se reduz a um ou outro ação de forças do Fora. Além disso,
termo que compõe o encontro, mas arrasta entendemos o acompanhamento terapêutico
ambos num devir. Sendo que “devir” não é como um modo de fazer a clínica com um
passar de um termo a outro ou se estatuto de política, que incita a composição
transformar em algo, mas se conectar a de uma rede de conexões, de agenciamentos
intensidades do que está entre o deixar de coletivos que permitam a articulação entre
ser e o vir-a-ser, entre o ainda por vir e o já personagens “antagônicos”: os insanos e
sucedido, assim, devir é propriamente a anormais se encontram com os lúcidos e
produção de diferenças, de singularidades, normais; uma espécie de mistura
sempre se dando por desvios, rupturas, intempestiva entre saberes da psicologia e
acontecimentos (Zourabichvili, 2004). saberes populares; entre instituições de
Assim, a clínica, pelas ideias aqui tratamento com sua disciplina temporal e
apresentadas, tomaria então o significado de espacial e as ruas, com seus tempos, ritmos e
“clinamen”, que quer dizer ruptura ou espaços urbanos a céu aberto.
desvio. Seria a clínica dos encontros, cujo Na experiência que trazemos,
conceito é uma ideia trabalhada por Deleuze privilegiaremos os encontros que foram
a partir de Spinoza (Saidon, 2008). Esses pontuados por mudanças fomentadas pelo
encontros não são entre um indivíduo e modo inusitado e singular através do qual o
outro, mas são encontros de partes acompanhado utilizava o computador e
expressivas nos planos de corpos, das pelos caminhos que ele fazia para dar conta
palavras, gestos, sons. Nesses encontros, desse seu jeito, desde a utilização
nesses passeios, passagens, entre lugares, “compulsiva” e caótica da máquina,
ruas, coisas e estados de coisas, o “enclausurado” dentro de um quarto,
acompanhamento terapêutico, vai “... passando por saídas e contatos em lojas
colocando lado a lado fragmentos que ora se comerciais, de manutenção de
conectam produzindo uma figura, ora se computadores, para compra ou venda do
desconectam desestabilizando figuras computador, para compra de serviço de
constituídas” (Araújo, 2006, p. 21), o que internet ou para reclamações, além de
pode levar à formação de novas paisagens, contatos também por telefone ou com a
novos sentidos, rupturas, acontecimentos, vizinhança. Entendemos que nessas
caracterizando a clínica por essa e nessa experimentações, enredados por esses
bricolagem. encontros entre acompanhado,
Com isso, queremos dizer que o acompanhante, teorias, referências, ruas,
acompanhamento terapêutico se constitui na movimentos, velocidades, delírios, espaços e
circulação ou trânsito por vários territórios, silêncios, amplia-se a compreensão da
agenciado e agenciando elementos, com o clínica, o que acreditamos poder contribuir

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para a composição de fazeres e saberes em associado ao uso de múltiplas drogas. No


relação ao acompanhamento terapêutico. início do acompanhamento terapêutico,
Apresentaremos alguns fragmentos de relatou que estava há um ano e sete meses
relatos que servem de intercessores para sem usar drogas e por isso não precisava
falar de acontecimentos que marcaram esse mais do serviço de saúde mental. Familiares
acompanhamento terapêutico. Para Deleuze também relataram que o acompanhado não
(2010), os intercessores são importantes para queria sair de casa e que se restringia a ficar
a criação e podem ser pessoas, coisas, no quarto. Um dado interessante é que a
plantas, até animais, também podem ser mãe reclamava que o filho se restringia a
fictícios, reais, animados ou inanimados. Os ficar no quarto fumando, mas, ao mesmo
intercessores servem para pensar o processo, tempo, ela agradecia a Deus por ele não sair
o movimento, as transformações ou mesmo de casa, pois assim não corria o risco de
para mover o próprio pensamento para entrar em contato com as drogas.
criação ou transformação. Os intercessores Assim, o acompanhamento terapêutico
funcionam por ressonância e relações de começa com uma surpresa frente a tudo o
troca entre os termos da relação. “Eu que havia sido dito a respeito do
preciso de meus intercessores para me acompanhado: já no primeiro dia, ele se
exprimir e eles jamais se exprimiriam sem dispõe a sair. Diante dessa surpresa, mas
mim: sempre se trabalha em vários, mesmo orientados pela perspectiva de que as saídas
quando isso não se vê... Sem os são o mote da clínica, fomos para uma
intercessores não há obra” (p. 160). caminhada, em que ele sai caminhando
rapidamente, enquanto tentamos
Devires e drivers da clínica acompanhar. Ele não diz nada, então,
O acompanhamento terapêutico foi perguntamos sobre a vizinhança e ele fala
indicado diante das demandas do Centro de dos bairros adjacentes e de alguns
Atenção Psicossocial – Álcool e Drogas conhecidos, num diálogo breve. Tentamos
(CAPS-ad), onde o paciente era atendido, diminuir o passo para facilitar a conversa,
mas ao qual ele não fazia adesão ao pois não estamos acostumados a caminhadas
tratamento. A equipe daquele serviço tinha a e Pedro está respirando como se estivesse
convicção de que ele não mais apresentava cansado. Perguntamos se ele está cansado e
sintomas de abuso/dependência química e, ele respondeu que a caminhada “puxava um
portanto, deveria ser atendido pelo CAPS fôlego”. Então, tentamos diminuir o passo
mais próximo de sua casa, serviço ao qual o de novo e dessa vez ele diminui também.
paciente resistia ainda mais em aderir. Assim, podemos conversar mais a respeito
O paciente em questão é Pedro (nome dele próprio na passagem pelo CAPS e
fictício), sexo masculino, solteiro, com também do acompanhamento terapêutico.
hipótese diagnóstica de esquizofrenia Pedro, enquanto anda, vai apontando

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locais do bairro e fazendo pequenos pequena”, e assim ele vai trazendo o passado
comentários e percebíamos que ele não se para o presente. Falava de cerâmicas em que
restringia apenas ao quarto como fora dito. trabalhou, coisas da roça e café. Trazia isso
Com isso, queremos dizer que cartografar é entre a fumaça do cigarro e uma narrativa
acompanhar, descrevendo e intervindo rica em detalhes, contrastando com o seu
nessas linhas que dão consistência ao seu ritmo frenético e automático do início da
território de vida e que ele vai apresentando caminhada e com o fluxo dos automóveis
nesse começo e no decorrer do que passavam nas ruas.
acompanhamento, e que podem levar a Dessa velocidade seguida de uma parada,
composições de outros territórios singulares dessa aparente urgência do tempo para a sua
a partir da ampliação das possibilidades de suspensão logo em seguida, é nesse tipo de
circulação e de encontros com o outro e intervalo, de hiato, de passagem de um
com o mundo. Nessas circulações, se um estado a outro que se abre pela primeira vez
território parece estagnado ou circunscrito uma viagem, um devir que acreditamos nos
(quarto-quarteirão-CAPS-esquizofrenia), um levar do frenesi dos espaços urbanos para a
encontro pode propiciar algo novo, que calmaria da roça, da prosa entre dois
escapa ao instituído, aos objetivos roceiros, mergulhados em suas
instituídos. reminiscências, compartilhando-as
Nesse primeiro dia, embora as surpresas, livremente. A partir desse bloco de espaço-
a impressão que tivemos naquele momento tempo, desse devir-infância é que,
era de que Pedro queria só cumprir um acreditamos que tenha se inaugurado o
combinado, uma tarefa, e que isso bastava primeiro laço de cumplicidade do
para ele. Mas, ao final da caminhada, ele faz acompanhante com o acompanhado, o que
menção em abrir o portão de casa, mas não nos parece também ter ocorrido com Pedro.
o faz imediatamente. Então, perguntamos Essas suspensões, esses trânsitos entre
como ele veio para esta cidade e ele começa lugares, entre corpos, têm grande
a dizer e, enquanto fala, acende um cigarro e importância nas andanças feitas nesse
se agacha. Agachamo-nos também e acompanhamento terapêutico, nessa
permanecemos como dois caipiras processualidade em ato.
conversando de cócoras na calçada em Segundo Araújo (2006), o que faz
frente a sua casa durante um bom tempo, desviar, o que cria um desvio, uma mudança
agora tranquilamente, enquanto os ônibus “é sempre um encontro: um esbarrão, um
passavam na pressa da cidade. Dali podia se tropeço, o surgimento de uma nova
ver as pessoas saindo das suas casas para o paisagem, de um novo horizonte são sempre
ponto de ônibus logo acima, numa manhã encontros, isto é, são acontecimentos” (p.
de plena quarta-feira; e Pedro, calmamente, 46). É por essa defasagem do tempo, por
contava algo da sua infância e da cidade na uma “abertura intensiva do tempo e do
qual nasceu, a qual chamou de “cidade espaço que vemos a clínica se dar como um

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acontecimento” (p. 56). Não perguntamos de imediato o que ele


E ainda na sequência desse primeiro estava procurando, mas, na sequência, ele
encontro narrado acima, Pedro fala que revela que estava tentando encontrar um
queria sair para comprar uma mesa para um lugar para comprar material elétrico para
computador que tinha ganhado. Por um instalar uma tomada para ligar o
instante de hesitação, pensamos no risco de computador.
uma saída para mais longe, se deveríamos ir Após alguns quarteirões de procura,
de carro ou não, e ainda andar para procurar fizemos menção de voltarmos, mas ele pede
uma loja de móveis usados sem sabermos que sigamos até a uma loja há uns dois
qual e onde exatamente e, além disso, outra quarteirões à frente. Assim, encontramos
vez, a surpresa de tanta disponibilidade por nessa loja o material que ele queria e do qual
parte dele. Mas, mesmo assim, saímos à tinha a lista escrita no bolso. Na entrada da
procura de uma loja que, na verdade não loja, ele nos passa a lista para pedir para a
apareceu. Andamos por várias ruas à vendedora, depois ele confere com a
procura e de uma esquina à outra, Pedro vendedora as coisas que está comprando e
dizia que achava que a loja estaria na faz o pagamento no caixa.
próxima rua e assim sucessivamente ele A tarefa de acompanhar na rua, de
dirigia o percurso, até desistirmos e intermediar com ele uma compra, decidir
deixarmos a procura para outra junto o que comprar, às vezes, guiar, às
oportunidade. vezes, ser guiado por ele, nessas mudanças
No encontro seguinte, sugerimos fazer de velocidade e ritmo, nessas alternâncias de
alguma coisa e ele responde que poderia ser papéis e trajetos, de contornos que se
o que nós quiséssemos, mas logo completa esboçam e se desfazem, constituem os
chamando para darmos uma volta. Primeiro, espaços-tempos criados no
seguimos sugerindo que fizéssemos um acompanhamento terapêutico e que
caminho diferente. Então, descemos a rua e desviam, escapam, fogem por todos os
depois subimos outra como contornando o lados, para fora dos espaços-tempos
quarteirão. Quando ele virou à esquerda no institucionalizados da clínica e da família.
quarteirão para pegar o caminho de volta Se algo nos guiava era a importância de
para casa, o chamamos para seguirmos em propiciar, deixar que Pedro, de algum modo,
frente e conhecermos outra parte do bairro. pudesse decidir sobre a caminhada, saísse
Após dois quarteirões acima, ele tomou a andando pelas ruas, às vezes, numa espécie
frente da caminhada e começou a procurar de deriva, em busca de algo que ainda não se
por algo que não estava bem explícito, de sabia o que era, ou mesmo se seria
início. Em cada esquina, ele fazia uma encontrado. Tendo isso em mente, nossa
parada, olhava a fachada e o interior das postura era de apostar no devir da/na saída,
lojas, procurava um pouco mais à frente. abrir-se para a deriva colocando de lado as

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certezas, incertezas e questionamentos. aposta.... que realmente algo novo aconteça,


Trata-se da imprevisibilidade e da seja um lugar, um sentimento, uma
indiscernibilidade que habitam essa clínica, produção” (Araújo, 2006, p. 75). Tal
mais além dos espaços e tempo urbanos. disponibilidade é abertura para o inesperado
Consideramos esse início justamente um e é de onde pode surgir uma invenção.
processo de afecção com a força de um Em um encontro seguinte, Pedro, pela
encontro em que algo acontece e produz primeira vez, nos chama para o quarto dele e
diferenças irremediavelmente. Um encontro diz: “este é o computador, mas eu não sei
físico, esse que se dá com as ruas e os mexer direito. Se souber mexer, pode
espaços da cidade, lojas, carros, entre mexer”. Então, procuramos mostrar para ele
acompanhado e acompanhante, entre um algumas coisas do funcionamento do
lugar e outro, entre coisas e estados de computador e depois ele começa a interagir
coisas, mas que não se reduz a isso. com a máquina de um modo meio confuso
Encontro que se dá num espaço não em que clicava aleatoriamente, colocava
localizável, afetivo, de circulação e encontro, inúmeros ícones na tela, abria várias janelas
do se deixar afetar e ser afetado pelas de programas ao mesmo tempo, fazia tudo
intensidades dos encontros. Encontro aparentemente sem objetivo, como se
temporal pela aposta em um devir, isto é, estivesse tentando encontrar algo que fizesse
não um tempo cronológico, mas um algum efeito ali na tela. Pedro parece estar à
processo intempestivo, em um mesmo deriva, inaugura-se outro território, agora
instante, para aquém ou além, arrastando nesse espaço-tempo informático. A partir
passado e futuro (Araújo, 2006). desse dia, o computador fica cada vez mais
Esses encontros foram cartografados por presente e as saídas ficam raras.
considerarmos que este método, o Na sequência dos próximos encontros,
cartográfico, é capaz de realizar as Pedro pede que o ajudemos a configurar o
aproximações entre alguns conceitos computador, pois ele havia feito alterações
esquizoanalíticos e a prática clínica do que dificultavam o uso. Enquanto fazemos
acompanhamento terapêutico, em que isso, tentamos dar algumas dicas para ele.
acompanhar processos de produção de Propomos, então, que ele faça aulas de
subjetividade e intervir nesses processos faz informática, que também seriam um recurso
parte da análise. Palombini (2006) dirá que para ampliar seus contatos, mas ele se recusa
esses encontros remetem a uma e diz que aprende sozinho mesmo, como ele
disponibilidade por parte dos dois diz que já vinha fazendo. Num primeiro
envolvidos no acompanhamento e, a partir momento, a proposta das aulas de
daí, correr risco, que pode ser o risco de informática nos parecia ser uma boa
aparentemente não dar certo, de não dar em atividade e estratégia terapêutica. Para nós, o
nada, ou mesmo o contrário disso. “Uma aprendizado formal da informática seria
aposta que é sempre uma única e mesma uma forma de Pedro entrar em contato com

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as pessoas. Entretanto, Pedro preferia não foi um dos intercessores mais potentes nesse
fazer isso, ao menos não da forma como acompanhamento terapêutico. Com isso,
supúnhamos. Com isso, mais uma vez, ele também colocamos que, a partir do uso do
toma a frente do processo, como fizera nas computador, abre-se uma série de
saídas, e então o que nos cabe fazer, mais possibilidades de agenciamentos, à revelia do
uma vez, é nos colocar entre, nos abrir à que se poderia haver de finalidade no uso da
deriva e ver no que vai dar e cartografar mais máquina. Seja a nossa suposta finalidade de
esse processo. um uso adequado, seja uma suposta
Assim, Pedro continuava usando o finalidade que Pedro pudesse ter ou ver.
computador ao seu modo e alguns Afinal, o computador veio a funcionar pelas
problemas começaram a surgir, como avarias e interrupções.
problemas no som, mau funcionamento de Queremos dizer com isso que a
aplicativos e até do próprio computador, no informática funcionou como uma abertura a
geral. A cena em que nós nos revezamos no algo novo, proporcionando uma criação em
computador tentando arrumar ou configurar função das (des)conexões que o
a máquina se repetiu por várias vezes. Em acompanhado fez com a informática, que
algumas vezes, ele pedia que arrumássemos reverberou para o acompanhante e o seu
o computador, ou que configurássemos para modo de entender a clínica e vice-versa.
ele, outras vezes, ele mesmo dizia que estava Esses agenciamentos, conectando
arrumando, então ficávamos olhando e informática e o acompanhamento
tentando ajudar enquanto ele ia fazendo terapêutico, produziram consistência para a
algumas coisas, teclando aleatoriamente. função clínica de engendrar acontecimentos,
Essa mistura, essa composição singular que foi um intercessor de encontros e modos
se anuncia, cujo efeito desestabiliza os inusitados e singulares de acompanhar e ser
contornos do que nos era familiar até então, acompanhado, além de um meio de
exige que se encontre um novo modo de expressar essa experiência. Isto é, quando
funcionamento. Esse modo de Pedro decide colocar o computador para
funcionamento diz respeito às vozes dos funcionar e usá-lo sem ter nenhum
híbridos que chegam por meio de sensações, conhecimento e sem fazer nenhum curso, os
que passarão então a constituir a bússola problemas que apareciam para o uso da
nesse processo (Rolnik, 1997). máquina demandavam algum conhecimento
Vale ressaltar a nossa formação em de informática para que pudessem ser
ciências da computação. Isso porque sanados. Então, acompanhando-o nessa
entendemos que esse encontro inusitado deriva, mesmo às vezes sem dizer nada, ou
entre um estagiário de psicologia, graduado quando alertávamos que certos tipos de
em ciência da computação, com um arquivos ou certas operações não podiam ser
acompanhado com gosto pela informática executados ou quando explicávamos para ele

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como funcionava certo tipo de aplicativo ou realidade em sua produção e processualidade


os modos de segurança ou a internet, ele ia (Deleuze & Guattari, 2010).
agregando isso ao seu modo singular e Nesse sentido, o computador e a
processual de fazer a máquina funcionar. computação foram agenciados de tal modo
Desse modo, para nós e para nossa que houvesse uma relação diferente entre
função de acompanhante terapêutico, o fato Pedro e a máquina, Pedro e acompanhante,
de ter certo conhecimento e gostar da acompanhante e a informática numa série de
informática teve sua importância. De outra composições intensivas, numa produção
forma, o computador poderia ter se tornado maquínica singular desse acompanhamento
outras coisas, como, por exemplo, um ponto terapêutico que tentamos cartografar na
de separação e não de conexão entre o escrita deste artigo.
acompanhado e acompanhante. Nessa Algumas semanas depois, Pedro fala dos
bricolagem, a informática fez parte de uma seus delírios, diz que juízes e promotores
composição maquínica e teve utilidade usavam o computador e a internet para falar
técnica como elemento constituinte do dentro de sua cabeça, e conta que havia
dispositivo, de modo que foi possível o apenas um mês que ele voltara para o
exercício da função clínica como lugar de próprio corpo. Parecia que fazia uma relação
passagem entre acompanhado, com a data que o computador chegou em
acompanhante e processos maquínicos. sua casa. Relata que através do computador
O termo maquínico é usado por Deleuze entrou em vários sistemas do mundo todo e
e Guattari (2010) para deslocar o aprendeu vários tipos de artes marciais para
pensamento dos modelos mecanicistas – poder voltar e resgatar seu próprio corpo,
conexões progressivas entre termos que havia sido anteriormente tomado por
dependentes – ou orgânicos – cada parte outra pessoa. Nesse mesmo dia, diz que quer
tem função específica a ser desempenhada. comprar um pacote de conexão à internet.
Assim, maquínico toma o sentido de um No entanto, essa empreitada pela
processo de produção feito a partir de partes informática começa a se enrijecer. O
heterogêneas, sem função específica ou computador começa a apresentar problemas
predeterminada, constituindo uma mais complexos, mais constantemente e
polivocidade das partes envolvidas, sendo mais difíceis de resolver, pois Pedro
que cada elemento se liga a qualquer outro continua clicando de forma aleatória, por
assumindo funções diferentes tomadas na vezes apagando alguns arquivos de
singularidade da produção. Os arranjos funcionamento do sistema ou mudando de
maquínicos funcionam por si próprios, lugar pastas do sistema. O acompanhado
dispensando a ação de qualquer elemento começa a usar o computador de forma
transcendente, qualquer tipo de princípio ou compulsiva, passando boa parte da
finalidade, de modo que a máquina jamais é madrugada acordado e dormindo durante o
uma metáfora da realidade, mas é a própria dia, trocando a noite pelo dia e se

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Devires e drivers da clínica: acontecimentos no acompanhamento terapêutico 82

enfurnando no quarto a fumar e a teclar. tinha condições de usar o computador, mas


O acompanhamento terapêutico começa que seria necessário acolher o jeito e o
a não acontecer por ele dormir de dia e não tempo singular dele de fazer uso da
atender à campainha quando chegamos, e, máquina, sem ficar fazendo correções,
nas vezes que nos encontramos, quando ele colocando limites, mas apostando em algo,
pede que eu o ajude, mal consegue se em agenciamentos, mesmo não se sabendo
manter acordado e prestar atenção. Às vezes, quais eram.
ele se deita na cama e só responde por
A experimentação no acompanhamento
monossílabos sonolentos. Mesmo assim, terapêutico consiste em fisgar no contexto
continuo tentando arrumar, explicando para problemático, algo que se delineia ao longo
das errâncias, elementos que possam
ele o que eu estava fazendo. A irmã, que é eventualmente funcionar como
componentes dessas redes.... fazendo a
cuidadora direta, reclama que Pedro diz que existência do louco bifurcar em novas
está na internet, mas que ela sabe que não direções, de modo que territórios de vida
possam tomar consistência. (Rolnik, 1997,
tem internet nenhuma e que ele não dorme p. 91)
direito por causa do computador. Aponta Nessa intervenção arriscada se faz uma
que isso tem trazido problemas e aposta numa abertura a devires, isto é, não
preocupações. Fala do comportamento se faz a clínica a partir de algo que se queira
compulsivo, estranho e mostra preocupação alcançar, as condições de chegada não estão
com os delírios. dadas, assim como não existe uma verdade
Diante dessa ansiedade da irmã, da qual se parta. Essa é a liberdade para a
procuramos argumentar com ela que, afirmação da diferença, conforme
embora estivesse acontecendo isso, ele Baremblitt (1992, citado por Araújo, 2006).
estava aprendendo algumas coisas e sabia De outro modo:
usar a máquina de uma forma diferente, que
era própria dele e que ele poderia aprender ... Procura-se deixar impregnar pela
atmosfera gerada no reboliço das forças,
muito mais, mas no tempo dele, e que seria para farejar o aparecimento de
agenciamentos virtuais; ao pressentir a
preciso um pouco de paciência, mesmo que possibilidade de uma construção, arrisca-se
fosse necessário levar o computador na apontá-la mesmo sabendo que pode se
enganar, pois não fazê-lo reitera o que
manutenção toda semana. Relatamos para provocou a doença – o fato do louco ser
rodeado de um deserto afetivo.... de
ela coisas que ele já conseguira fazer até descrença em sua capacidade de construção,
então. Ela parece ficar menos ansiosa e partículas venenosas de desqualificação.
(Rolnik, 1997, p. 91)
termina por narrar como o irmão era
inteligente e como conseguiu aprender a Assim, nesse processo Pedro-

escrever bem, mesmo não concluindo as computador-acompanhante, em que as

primeiras séries de ensino formal. conexões começaram a se enrijecer, fazia-se

O modo como ele vinha usando a necessário algo que proporcionasse um

máquina nos levou a garantir à irmã que ele desvio, uma ruptura, uma saída dessa

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captura, mas que não se sabia quando e nem história que se constrói entre acompanhante,
como iria acontecer e nem mesmo se iria acompanhado e computador, ocorre a
acontecer. Pedro, ao seu modo, continuava passagem do que é da ordem da paralisia
tentando utilizar o computador, compulsiva, do impasse, para algo que vem
desconfigurava-o e causava falhas no seu de modo inesperado, que passa por entre,
funcionamento e trocava o dia pela noite. que produz um desvio, um novo arranjo se
Sabíamos que esse movimento de Pedro não configura e Pedro passa a se conectar de
podia perdurar por muito mais tempo sem o modo diferente com o computador. Trata-se
acometimento de uma crise. Em um dos de um acontecimento, portador de uma
encontros, diante de problemas no nova constelação de referências e
funcionamento do som, explicamos para ele possibilidades de encontro.
que estavam faltando alguns drivers3 para que Curiosamente, as palavras “driver” e
as caixas funcionassem. “devir” vão se embaralhando no nosso
Não esperávamos o que quer que fosse a discurso e escrita, e nessa trama Pedro
partir dessa nossa fala, pelo contrário, começa a circular, a procurar e a fazer
começávamos a ser interpelados por dúvidas contatos em busca desses drivers, num
sobre as preocupações da irmã e sua ideia de movimento cambiante compondo uma
que talvez o melhor fosse retirar o produção que chamamos de devir-drive, em
computador de Pedro. Mas, para nossa que ele amplia sua rede de conexões virtuais
surpresa, a questão dos drivers começou a e atuais, reais e delirantes também, e, como
fazer uma importante diferença naquela dissemos, escapa, cria-se uma linha de fuga
situação compulsiva, tensa e paralisante. O da letargia e da compulsão.
driver “diz” alguma coisa para o Nos encontros seguintes, ele diz que
acompanhado e possibilita um devir ainda não conseguiu arrumar totalmente o
produzindo encontros que fazem Pedro sair computador e pergunta se não temos os
daquele território que estava restrito ao drivers necessários para fazer o computador
quarto, ao cigarro e aos fantasmas funcionar. Ele conta que já tentou saber se
persecutórios que o rondavam, para acessar tem como comprar, mas a loja que vendeu o
um mundo virtual que o traz para mais perto computador disse que não tem o CD com
desse mundo “real” criado e compartilhado drivers.
por milhares e milhões que se denominam Em outro dia, durante alguns minutos,
lúcidos e normais. tentamos instalar os drivers que baixamos em
Podemos dizer que nessa espécie de casa, mas eles são incompatíveis. Durante
deriva pela informática, nessa singular esse tempo, ele está atento. Ele sai durante
alguns minutos para terminar de fazer o café
3 Drivers são programas necessários para que os e, em seguida, gentilmente, nos serve da
dispositivos (hardware) funcionem, isto é, “conversem”
com a placa-mãe e entre si. Isto é, os drivers fazem a bebida. Explicamos que não deu certo, mas
conexão lógica entre os dispositivos. Nesse caso, eram
necessários drivers para o dispositivo de som. que iríamos tentar baixar drivers originais

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Devires e drivers da clínica: acontecimentos no acompanhamento terapêutico 84

pesquisando na internet mais uma vez. ele mesmo se posicionou e começou a


Então, ele diz que vai ver se a vizinha que apertar as teclas até conseguir determinado
instalou o sistema operacional poderia resultado. Embora compulsivo, ligando e
reinstalar de novo para ele. Confessamos desligando o computador, apertando as
que não demos crédito quando ele disse que teclas, tirando e colocando um CD,
contataria a vizinha, já que se mostra uma deixamos que ele ficasse o tempo que
pessoa bem retraída para tomar esse tipo de considerasse necessário enquanto pedíamos
iniciativa. para ele que nos explicasse o que estava
Como não conseguimos arrumar o fazendo.
computador, no intervalo entre um encontro Em outro dia, ele nos chama para ver o
e outro, ele vai com a irmã na loja de computador, reinicia a máquina, entra na tela
manutenção e leva a máquina para consertar de escolha de perfis 4, e escolhe um perfil.
e, num outro dia, ele pede que eu vá com ele Perguntamos se não estava dando mais
à loja buscar o equipamento. Depois disso, problemas de over frequency 5, que era um
ele diz que quer instalar internet e, então, problema que tínhamos resolvido
saímos para comprar. Nessa oportunidade, anteriormente. O que chama a atenção é que
ele negocia o modem mais adequado para a tela de perfil não é o modo mais comum
suas necessidades, características e preços, de iniciar o sistema operacional. Isto só é
conforme ele entendia e tinha avaliado feito em caso de problemas no modo
através de um folheto comercial, de normal de inicialização6.
propagandas e perguntado para seu Em um encontro seguinte, quando diz
sobrinho. que está baixando drivers, não acreditamos
Durante algum tempo, ele consegue usar muito, mas quando vemos, para nossa
o computador sem desconfigurá-lo, mas, em surpresa, através de um atalho da tela, ele
seguida, reaparecem os problemas. Dessa entra em um site para download de drivers e
vez, quando chegamos, ele diz que está consegue baixar arquivos. Observamos por
arrumando o computador, chama para o alguns momentos o que ele está fazendo
quarto e, então, assenta-se em frente à enquanto ele nos explica que o sobrinho
máquina, liga e começa a apertar algumas havia o ajudado a configurar o atalho para o
teclas. Ele fala que um vizinho esteve lá, site. Ele chama o atalho de “máquina de
ajudou-o e ensinou a entrar no sistema
através de um disco de reparo. 4
Perfil: Ele se refere a perfil dizendo das opções de
Esse movimento de Pedro, em que ele se entrada no sistema operacional, por exemplo, modo
normal, modo de segurança. Geralmente, essas opções
assenta e começa a fazer algumas coisas no não aparecem.
5 Over Frequency era uma mensagem de mau
computador, chama nossa atenção. Na funcionamento do sistema que aparecia na tela antes da
maioria das vezes anteriores, ele falava para inicialização do sistema operacional, o que impedia que
essa se concluísse.
assentarmos, pois sabíamos mais. Dessa vez, 6
Inicialização é quando o computador inicia o sistema,
carregando os drivers quando o computador é ligado.

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drivers”. Esses dois últimos relatos ilustram Depois de alguns encontros assim,
bem as singulares e criativas formas com amparado na ideia do “estar com” e acolher
que aconteciam os encontros de Pedro com o silêncio, não mais nos angustiávamos
o computador e o mundo da informática. tanto, ficávamos atentos e pudemos
Pedro passa a se colocar em maior perceber que Pedro, quando estava deitado,
contato com pessoas e lugares, presta mais às vezes, se voltava para nos olhar, e depois
atenção à ajuda que damos no manejo da retornava para a posição em que estava
máquina, começa a tentar fazer mais coisas antes. Em umas das vezes, voltamos o olhar
com a máquina, como instalar programas, para ele e cruzamos os olhares. Ele não disse
utilizar aplicativos, como os de desenho, e a nada e, então, fizemos um gesto afirmativo
entrar em contato com pessoas diferentes, com a cabeça querendo dizer que estava
como vendedores de artigo de informática, tudo bem e que eu estava lá à disposição,
vizinhos, além de sair para procurar várias como, aliás, já havíamos deixado claro
lojas de manutenção de informática nos verbalmente em outras oportunidades. Ele,
bairros próximos. Por fim, conta que havia então, voltava-se para sua posição anterior.
descoberto cinco lojas, nas quais, em Uma experimentação silenciosa com o
algumas situações, pudemos ir com ele. acompanhado. Esse silêncio permeou alguns
Neste ínterim, notamos que algumas momentos, através dele e a partir dele,
vezes ficávamos sentados na sala e Pedro talvez, pudéssemos ter algo a dizer ou fazer.
dizia que estava instalando alguma coisa no Um silêncio para não poluir com palavras ou
computador. Ele ia para o quarto e voltava. imagens, ou espantar os devires, mas dar
Sugerimos uma saída e ele dizia que não direito ao silêncio, ao mesmo tempo, com
podia porque estava consertando o uma presença discreta, com certa impotência
computador. Aquela situação de ficar só em para determinar ou resolver. Espera e
casa, o tempo todo, era outra coisa que silêncio, sem ações ou palavras precipitadas
também começava a angustiar, pois vinha se que afugentem o acontecimento (Pelbart,
mantendo. Estávamos os dois reféns do 1993).
computador e da casa que ficava fechada e a Outras vezes, quando dava assunto,
fumaça tomava conta, juntamente com um também conversávamos sobre coisas
silêncio enigmático e preocupante. diversas, sobre o tempo, sobre os gatos que
Nesses momentos de silêncio, Pedro se ele tinha em casa, sobre informática,
deitava em um sofá e nós ficávamos em celulares, mulheres, plantas, drogas, vícios,
outro. Às vezes, ele se deitava de costas para seu trabalho antes da doença, sobre as
nós, às vezes, voltado para o nosso lado. pessoas que conhecíamos no CAPS, sobre o
Ficávamos preocupados com o que dizer, se presidente do país, sobre catástrofes
deveríamos ou não puxar conversa, ir meteorológicas, notícias da TV, alimentação,
embora, se deveríamos ou não chamá-lo sobre a família dele, sobre amizade, sobre
para sair. saúde. Uma conversa que nos chamou a

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atenção foi quando, conversando sobre sua ao estacionamento. Ele pede que espere que
psicose, ele conta como foi no início ele acabe de fumar do lado de fora do carro,
dizendo: “você não tem ideia de como é agacha-se e diz que sabe por que a internet
ouvir vozes, procurar quem está falando, não deu certo e diz que foi por causa da
mas não encontrar ninguém”. Paradas no “juíza de Brasília”. Ele conta que ela pode
discurso, sons, silêncio permearam os atrapalhar de longe. Diz que ela fez o
ritmos, as velocidades, os conteúdos da mesmo com um primo dele dez anos atrás,
conversa em que Pedro confia no perseguindo-o até a morte. A situação era
acompanhante, cria uma abertura para ansiogênica para ele, o que nos implicava
compartilhar a angústia vivida no delírio. estar com ele e acompanhar a produção
Mas o uso do computador ainda delirante, ajudá-lo a desvencilhar-se daquilo
continuava desconfigurando a máquina. A que o atormentava, mesmo que de forma
internet passa a não funcionar e algumas efêmera, suportando os afetos avassaladores
noites continuam mal dormidas. Os delírios que o capturavam, suas relações com o
parecem incorporar elementos de contexto em que emergiam e os modos de
informática mais fortemente e seus lidar em busca de outros agenciamentos
perseguidores parecem querer atingi-lo via possíveis e menos aterrorizantes.
computador. Um arranjo, um sentido dado A produção delirante pode ser entendida
para um conflito com a realidade instituída como uma “espécie de saúde”, uma
vai proporcionando certo tipo de interação invenção, uma possibilidade de produção de
com essa realidade, mesmo que pautada por vida, de pensamentos e ações (Deleuze,
persecutoriedades. 1997). Não há nada mais íntimo ao sujeito
Pedro, então, decide ir à loja da operadora que o delírio, assim como o sonho lhe é
e pedir o cancelamento do serviço, pois ele originalmente singular. Delirar, sair do sulco,
diz que está pagando, mas a internet não desviar, provocar colisões moleculares e a
funciona mais. Nesse dia, quando chegamos formação de novas ondas de movimento
a sua casa, ele já está pronto para sair e nos que avançam, invadem, deslocam os limites
chama para ir junto. Ele mesmo conversa e na volta mudam de novo esses mesmos
com a atendente sobre os problemas de limites. Ondas que mudam frequentemente
conexão da forma que ele entende que está de velocidade, de altura e de força.
acontecendo. A atendente tenta explicar para Um processo de expressão que se
ele o problema e, assim, negociam por irrompe, que é capaz de provocar uma
algum tempo entre encerrar ou não o ruptura entre as palavras e as coisas. Sendo
serviço e ele decide tentar usar mais algum ruptura, pode então possibilitar uma
tempo. abertura de um espaço para criações,
Na saída da loja, Pedro acendeu um invenções e acontecimentos. Uma ruptura,
cigarro, parecia um pouco tenso. Chegamos um “entre” por onde se afeta e se é afetado

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de alguma maneira, onde se pode prenunciar oportunidade assistimos a um filme do


um devir, que “está sempre ‘entre’ ou no Bruce Lee. Podemos falar do devir-drive
‘meio’” (Deleuze, 1997, p. 11). agora no sentido de que seus gestos e
Quando falou dos seus delírios palavras inauguram uma produção singular,
anteriormente, Pedro disse que viajou pelo um modo como ele consegue se conectar
mundo todo, aprendendo o “catar”, um tipo com o computador e usar a internet. Um
de luta, que ele mostrava fazendo gestos uso esquizo, que não é o de um modelo
com as mãos, entrelaçando os dedos e padrão e comum, mas é um processo que
dizendo palavras num “chinês antigo”. arrasta tudo que está ao seu redor. Assim,
Nessa viagem delirante, segundo contou, ele ele entra numa zona de vizinhança com o
havia adquirido poderes e habilidades e driver e com a máquina se conectando, ora
assim pode voltar e habitar o próprio corpo com um mundo concreto, ora com um
que havia sido outrora ocupado. mundo virtual da internet. O delírio “...
Os gestos que mostrou durante essa arrasta a língua [da informática] para fora de
narrativa eram os mesmos gestos que ele seus sulcos costumeiros” (Deleuze, 1997, p.
fazia antes de digitar qualquer coisa no 9).
teclado do computador. Fazendo Assim dizendo, “catar” vem a ser uma
aproximações com a linguagem da ação – palavras e gestos – e se seus
informática, o “catar” talvez fosse uma perseguidores estragavam sua conexão com
senha inventada por ele, uma espécie de a internet, Pedro se coloca a procurar pelos
número serial7 de instalação de algum drivers ou sair para reclamar do serviço na
software. Após os gestos, geralmente, digitava operadora, em que ele diz que paga, mas que
palavras sem sentido aparente, carregadas de não consegue se conectar. O delírio que o
consoantes e impronunciáveis. Podemos leva ao mundo, que cria mundos, funciona
dizer que, conjugando os mesmos poderes e através de suas palavras-atos para defendê-lo
habilidades que adquirira outrora, quando de seus perseguidores. Então, ele se livra da
esteve em sua viagem fora do corpo, agora morte mais uma vez, ele próprio uma
ele podia com a informática se conectar, máquina de drivers. Esse delírio-mundo que
usar a internet, lutar, intervindo no mundo irrompe e produz um desvio, uma
com palavras tornadas gestos e vice-versa. possibilidade de vida, uma fuga em que
Interessante notar que a palavra “Kata” Pedro sai do isolamento mortífero para as
em japonês, que é muito provável que seja a desventuras de um devir-driver.
palavra que Pedro quis dizer, é um conjunto
de movimentos de ataque e defesa presente Considerações finais
em várias artes marciais japonesas. Pedro O acompanhamento terapêutico traz a
mostra o “catar” quando em outra ideia de saídas, circulação pelos espaços

7
urbanos da cidade, das ruas, praças,
Refiro-me ao conjunto de números e letras para a
instalação do sistema operacional ou outros softwares. shoppings, com a intenção de construir ou

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Devires e drivers da clínica: acontecimentos no acompanhamento terapêutico 88

readquirir com o acompanhado um espaço colocar em pauta os lugares e tempos no


no social para a loucura, um território de acompanhamento terapêutico.
convivência com o desatino. Da perspectiva Nesse sentido, o acompanhamento
do movimento antimanicomial, uma prática terapêutico transborda para além e aquém
clínica nas ruas é por si só uma estratégia dos limites físicos dos espaços e do tempo
muito bem-vinda, mas não se reduz pura e cronológico marcado, por exemplo, para fins
simplesmente a saídas. de contrato, passando a não ser regido por
Para pacientes reclusos, algo ideal que se queira alcançar ou
institucionalizados, excluídos em sua princípios dados a priori. Abrir a clínica para
circulação, tais saídas possibilitam a intensidade dos encontros passa a ser o
oportunidades para uma retomada de mote ou condição de possibilidade para
práticas do cotidiano, para exercício de criação de algo novo.
cidadania, e até como atividade física, mas o Nesse acompanhamento, consideramos
acompanhamento terapêutico se utiliza da marcos de um percurso para além dos
circulação pelos espaços agenciando espaços e tempos instituídos, um estado de
elementos heterogêneos, ampliando as suspensão temporal e temporária, um ponto
possibilidades que possam fazer funcionar a em que se vive a ansiedade, a expectativa, a
clínica como acontecimento. Por essa preocupação e logo depois se passa para um
característica, a circulação passa para o estado de surpresa, de “não saber”, em que
regime dos afetos e fluxos que compõem os algo novo se anuncia. Entre hesitação e
encontros entre acompanhante e surpresa, uma espera e uma aposta de que
acompanhado, entre estes e os elementos algo possa vir a acontecer a partir desses
agenciados no acompanhamento. encontros. Uma espera que não deve ser de
Então, no acompanhamento terapêutico, um tempo cronometrado que marca a espera
o setting é produzido pela montagem, pelos por algo ideal, curativo, miraculoso, mas
agenciamentos feitos pelo acompanhado e apenas um tempo-desejo, tempo para uma
acompanhante, seja a rua, a casa, a produção maquínica em que algo aconteça e
informática, o delírio, o silêncio, de modo produza diferença, sem um ideal
que essa montagem vai ser sempre singular pressuposto a ser alcançado, sem garantias,
ao encontro que se dá, ao que passa “entre”. pois é pela ruptura e pelo desvio que se dão
Servimo-nos dos impasses, da maneira que o acontecimentos, que funcionam como
acompanhado passa a se articular com redes portadores de novos universos de referência
virtuais e atuais, usando de sua lógica para o acompanhado, um jeito singular de
singular, das saídas e clausuras, do silêncio e agir, ver, falar e estar no mundo.
do tumulto compulsivo do uso do O acompanhamento terapêutico, assim,
computador, dessas histórias criadas no ato vem a ser uma pragmática de encontros
de acompanhar e ser acompanhado, para intensivos sempre querendo mais conexões

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D. Silva & R. W. M. Silveira 89

e, a partir disso, compor e se abrir, num


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ciberdelirante, num devir-driver com novas
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formas de encontro, seja com o social, com terapêutico: dispositivo clínico-político. Psyche, 10
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defendendo-se e atacando de forma efetiva Passos, E., Kastrup, V., & Escóssia, L. (Orgs.),
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