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Materiais Elétricos
Washington Neves
Capítulo 4
Vs
A curva Vs =f(pd) é conhecida como curva de Paschen ou Lei de Paschen. Para levar
em conta o efeito da temperatura, a lei de Paschen geralmente é expressa por Vs
=f(Nd) em que N é o número de moléculas por unidade de volume, que depende da
temperatura e da pressão do gás (pV=NkT). Baseado em resultados experimentais, a
tensão disruptiva do ar é expressa como uma função de pd de acordo com:
1/ 2
293pd 293 pd
V s = 24,22 + 6,08 kV / cm.
760T 760T
em que T é a temperatura na escala Kelvin e p é a pressão em torricelli (1 atm=760
torr). Na temperatura de 293 K e pressão de 760 torr, a rigidez dielétrica do ar pode
ser expressa por:
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Na Tabela 4.1 são mostrados os pontos de mínimo para diversos gases. Resultados
experimentais comprovam que a tensão disruptiva depende do material dos eletrodos.
Por exemplo, a tensão disruptiva de um gás quando colocado entre eletrodos de bário
e magnésio é um pouco mais elevada que quando o gás é colocado entre eletrodos de
alumínio.
Colisões Elásticas
Neste tipo de colisão, só existe troca de energia cinética de translação entre as
partículas, permanecendo constante a soma das energias cinéticas antes e depois da
colisão. A energia interna dos átomos e moléculas que se chocam permanece
inalterada, isto é, a estrutura de seus níveis de energia não é afetada pelo choque.
Colisões Inelásticas
Neste caso, além da troca de energia cinética de translação entre as partículas que se
chocam, ao mesmo tempo ocorre a troca de energia interna de uma ou mais partículas,
tendo como resultado a excitação de átomos ou moléculas do gás.
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-e -e
-e +e +e
-e
-e -e
-e +e +e -e
-e -e -e
+e +e
+e +e
-e
-e -e
-e +e +e -e
-e -e -e +e
+e +e +e
-e
-e
Elétron livre
-e
+e Átomo ou molécula no estado fundamental
-e
+e Átomo ou molécula excitada
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Fotoexcitação
Fotoionização
Emissão Termoiônica
Emissão Fotoelétrica
Elétrons podem ser emitidos por eletrodos quando estes são atingidos por fótons de
energia superior a função trabalho do seu material constituinte. A aplicação de um
campo elétrico entre eletrodos faz com que esses elétrons sejam acelerados dentro do
espaço gasoso e, dependendo de sua energia, arranquem elétrons de moléculas neutras
dando início a formação de avalanches eletrônicas. O início de descargas luminosas
em um tubo fluorescente pode ser atribuído em parte pela presença de alguns elétrons
produzidos por fotoemissão causados por raios cósmicos existentes na atmosfera.
Esses elétrons serão acelerados na presença de um campo elétrico, gerando ionizações
por colisões que levam a formação de avalanches eletrônicas para em seguida ocorrer
a ruptura da rigidez dielétrica do gás.
Emissão Secundária
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positivo tiver energia superior a duas vezes a função trabalho do eletrodo, ele captura
um elétron e provoca a emissão de outro elétron que será lançado no espaço gasoso
em direção ao anodo podendo iniciar novas avalanches eletrônicas. Átomos ou
moléculas excitadas, ao atingirem os eletrodos retornam ao estado fundamental
emitindo um fóton de energia. Se essa energia for superior a função trabalho do
eletrodo, um elétron é liberado. Finalmente, átomos ou moléculas neutras incidindo
sobre qualquer dos eletrodos podem, dependendo de sua energia cinética, dar origem
a emissão de alguns elétrons secundários.
Emissão de Campo
Imperfeições dos eletrodos fazem com que o campo elétrico tenha valor elevado em
lugares da superfície que apresentem forma pontiaguda. O campo pode ser suficiente
para arrancar partes microscópicas dos eletrodos. Em condições apropriadas, pode-se
arrancar do catodo uma quantidade apreciável de material em forma de átomos
individuais, quando ele é bombardeado com íons positivos. Os átomos metálicos
liberados se misturam por difusão na atmosfera gasosa modificando as propriedades
do ambiente gasoso.
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região e conseqüentemente aumentando a probabilidade de emissão de elétrons por
fótons de menor energia.
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Uma análise quantitativa da região de Descarga Townsend pode ser feita para a
configuração de eletrodos paralelos da Figura 4.4. Considere um espaço imaginário de
espessura dx, colocado entre os eletrodos, a uma distância x do catodo.
Radiação Descarga de
J (A/cm2) Townsend
- +
Ar
I J0
1 2 3
nA
10-2 20 27
E (kV/cm)
V
(a) (b)
Figura 4.3 – Característica densidade de corrente versus campo elétrico
para o ar nas CNTP
- +
dx
x
d
Figura 4.4 – Configuração de eletrodos planos paralelos
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plano perpendicular ao eixo x. O número de elétrons dN contido no espaço de
espessura dx é proporcional a N e a dx, podendo ser escrito na forma:
dN = αNdx (4.1)
A quantidade α, conhecida como primeiro coeficiente de ionização de Townsend, é
definida como o número de colisões ionizantes feitas por um elétron em uma unidade
de comprimento. A equação 4.1 pode ser integrada facilmente sobre a distância d do
catodo até o anodo, admitindo que α é independente de x
N d
∫ ∫α
dN
= dx (4.2)
N0 N 0
ln(I ) E1
E2
E3
E1>E2 >E3
ln( I 0 )
d1 d2 d3
Figura 4.5 – Corrente de Descarga de Townsend como função da
separação entre eletrodos (para campos constantes)
É claro que os elétrons adicionais deveriam ser produzidos em alguma parte.
Townsend então postulou que um segundo mecanismo, denominado emissão
secundária, deve contribuir para o aumento de elétrons no gás. Ele admitiu que a fonte
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mais provável seria a emissão de elétrons pelo catodo devido ao impacto de íons e
sugeriu um coeficiente de ionização adicional, conhecido como γ o segundo
coeficiente de ionização de Townsend.
Portanto, se tem:
No regime permanente, o número de íons que chega ao catodo deve ser igual ao
número de elétrons que chegam ao anodo menos os elétrons que partem do catodo.
Portanto
N+ / γ = Na – (N0 + N+).
γ (N a − N 0 )
N+ = . (4.5)
1+ γ
N a = ( N 0 + N + ) eαd . (4.6)
eαd
Na = N0 . (4.7)
1 − γ (eαd − 1)
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1 − γ (eαd − 1) = 0
γeαd = 1 + γ
γeαd ≅ 1 . (4.9)
em que E é o campo elétrico aplicado e λ~1/p é o caminho médio livre entre colisões.
Combinando as observações precedentes, o coeficiente α pode ser expresso na forma
α = pf (eEλ ) = pf1 ( E / p )
ou ainda
α
= f1 ( E / p) . (4.10)
p
Realmente tem sido verificado experimentalmente que α/p está relacionado com a
energia ganha pelos elétrons entre colisões ionizantes.
O segundo coeficiente de ionização γ tem a ver com o impacto de íons sobre o catodo.
Portanto, dependerá da energia ganha pelos íons no último caminho médio livre antes
do impacto sendo uma função de Eλ e conseqüentemente
γ = f 2 ( E / p) . (4.11)
Hoje, γ é definido como o número de elétrons produzidos no catodo pelo impacto de
íons incidentes no catodo, fótons, partículas excitadas ou metaestáveis. Gases
eletronegativos (SF6, Freon, oxigênio, CO2) capturam elétrons facilmente, logo para
esses gases γ têm valores pequenos. Para o nitrogênio, γ está na faixa entre 10-3 e 10-2
para E/p entre 100 e 700 V cm-1 torr-1. Gases isolantes como o SF6 ou Freon têm γ de
10-4 ou menores.
Substituindo as equações 4.10 e 4.11 no critério de ruptura (4.9), tem-se:
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f 2 ( E / p )e f1 ( E / p ) pd = 1
Admitindo que o campo entre eletrodos é uniforme, pode-se utilizar a expressão
E=Vs/d em que Vs é a tensão disruptiva do gás. Assim, a equação acima pode ser
posta na forma:
f 2 (Vs / pd )e f1 (Vs / pd ) pd = 1 .
Tratando pd como uma única variável, a expressão acima define de forma implícita
uma relação funcional entre Vs e pd. Explicitamente a função pode ser escrita na
forma:
Vs = f ( pd ) (4.12)
Esta é a lei de Paschen mostrada anteriormente na Figura 4.1 e repetida conveniente
na Figura 4.6.
Vs
Vs min
(pd)min pd
Figura 4.6 – Curva de Paschen
É interessante salientar que métodos para a redução da tensão disruptiva têm muita
importância em aplicações práticas de descargas em gases a exemplo de lâmpadas
fluorescentes a baixa pressão utilizadas em residências e instalações comerciais.
Tipicamente o mecanismo de Townsend e por extensão a lei de Paschen se aplicam
para produtos pd inferiores a 1000 torr cm para pressões entre 0,01 a 300 torr.
Algumas modificações são necessárias para gases altamente eletronegativos porque
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eles se agregam a elétrons secundários facilmente. A equação 4.8 precisaria ser
corrigida para levar em conta esses efeitos.
- +
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4.10 Campos Não Uniformes
(a) (b)
A explicação física desse fenômeno é feita a seguir. Nas duas situações, o processo de
ionização começa na região próxima a ponta, ocorrendo formação de íons positivos,
distorcendo o campo entre eletrodos. Os íons positivos dividem a região entre a ponta
e o plano nas regiões 1 e 2 ilustradas na Figura 4.9.
1 2 1 2
(a) (b)
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Vale salientar que a figura não está em escala. A região 1 é muito menor que a região
2, pois os íons são formados muito próximos à ponta. Para uma mesma tensão
aplicada entre eletrodos ponta-plano, verifica-se que a presença dos íons positivos faz
com que o campo elétrico em pontos da região 1 da Figura 4.9a seja menor que o
campo elétrico em pontos correspondentes na região 1 da Figura 4.9b. A região 2
apresenta comportamento contrário. Para a Figura 4.9a o campo elétrico em pontos
da região 2 é maior que o campo elétrico em pontos correspondentes na região 2 da
Figura 4.9b.
Em resumo, para a Figura 4.9a as cargas + diminuem o campo próximo a ponta, mas
aumentam o campo no gás. Para a Figura 4.9b as cargas + aumentam o campo
próximo à ponta, mas diminuem o campo no gás. Assim, para a configuração ponta-
plano, a tensão de início de avalanche é maior na situação ilustrada na Figura 4.9a e a
tensão disruptiva é maior na situação mostrada na Figura 4.9b.
A rigidez dielétrica dos líquidos é muito maior que a dos gases em condições normais.
Dielétricos líquidos como óleo mineral são usados em cabos, capacitores
transformadores e vários equipamentos elétricos. A característica densidade de
corrente J versus campo elétrico uniforme para um líquido tem forma similar à curva
de Townsend para gases e uma curva típica é mostrada na Figura 4.10.
J (A/cm2)
1 2 3
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os elétrons e íons produzidos por radiação natural chegam ao anodo”. Na região 3
existe um crescimento acentuado da corrente devido a avalanches eletrônica e efeitos
secundários. A perfuração de dielétricos líquidos normalmente ocorre com a ajuda de
emissão de campo, emissão termoiônica, bolhas, umidade ou partículas suspensas.
A rigidez dielétrica dos sólidos é maior que a dos líquidos em condições normais. A
pequena distância interatômica faz com sejam necessários campos elevados para que
elétrons “livres” ganhem energia suficiente para produzir ionização por colisão no
interior do dielétrico. A ruptura da rigidez dielétrica de um sólido ocorre devido a
combinação dos seguintes processos:
Ruptura elétrica – quando o processo dominante é a ionização por colisão, quebra das
ligações do dielétrico;
Ruptura térmica- quando o calor produzido pelo dielétrico não é totalmente
absorvido pelo ambiente;
Ruptura por ionização induzida - produzida por descargas parciais no dielétrico.
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