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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA


NICOLI BENEDITTO SILVA

RELATÓRIO DE ESTÁGIO SUPERVISIONADO EM MEDICINA VETERINÁRIA:


ETOLOGIA E MANEJO DE CAVALOS ATLETAS

Tubarão
2022
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NICOLI BENEDITTO SILVA

RELATÓRIO DE ESTÁGIO SUPERVISIONADO EM MEDICINA VETERINÁRIA:


ETOLOGIA E MANEJO DE CAVALOS ATLETAS

Relatório de Estágio Supervisionado


apresentado ao Curso de Medicina Veterinária
da Universidade do Sul de Santa Catarina
como requisito parcial à obtenção do título de
Médica Veterinária.

Orientador: Jaqueline Seugling


Supervisor: Fabrício Suris da Silveira

Tubarão
2022
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NICOLI BENEDITTO SILVA

RELATÓRIO DE ESTÁGIO SUPERVISIONADO EM MEDICINA VETERINÁRIA:


ETOLOGIA E MANEJO DE CAVALOS ATLETAS

Este Relatório de Estágio Supervisionado foi


julgado qualificado à obtenção do título de
Médica Veterinária e aprovado em sua forma
final pelo Curso de Medicina Veterinária da
Universidade do Sul de Santa Catarina.

Tubarão, 07 de junho de 2022.

______________________________________________________
Profª e orientadora Jaqueline Seugling, MSc. (UNISUL/SC)

______________________________________________________
Supervisor Fabrício Suris da Silveira (PUC/RS)

______________________________________________________
Profº Robson José Cesconeto, MDV, MSc, DSc. (UNISUL/SC)

_____________________________________________________
4

Henrique dos Reis Noronha, MSc. (UFPEL/RS)


5

AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar quero agradecer a Deus por ter me iluminado diariamente minha
vida e jornada acadêmica, e nunca me deixar desistir frente às dificuldades enfrentadas.
Agradeço ao meu pai por ter sido meu alicerce, me dando todo apoio para eu
conseguir chegar à conclusão de uma grande etapa na minha vida.
A minha mãe por sempre me incentivar a buscar pela profissão que me fizesse feliz e
eu amasse. E agradeço ter herdado essa bondade no coração em relação aos animais que
ambos possuem!
A toda minha família que sempre acreditou em mim.
A todos os professores do curso de medicina veterinária, mestres que passaram pela
minha trajetória na graduação e contribuíram para minha formação!
Aos profissionais que cruzei o caminho e hoje me inspiram.
Agradeço em especial ao MV Fabrício Suris da Silveira que me deu a oportunidade de
fazer parte da equipe do Centro de Treinamento Canaã, com quem aprendi muito durante
esses últimos meses e pretendo aprender muito ainda durante minha carreira.
A MV Luciana Assis, por todo ensinamento e troca de experiência sobre fisioterapia!
A minha professora e orientadora Jaqueline, por todo apoio nessa etapa tão importante.
Ao Henrique Noronha, por ter me auxiliado e me guiado como meu co-orientador de
TCC, e atualmente por ter aceitado fazer parte da banca do presente relatório de estágio.
Ao professor Robson Cesconeto, pelo ensinamento durante a graduação e por ter
aceitado o convite para compor a banca avaliadora.
E por fim, não menos importante, agradeço a mim. Pela minha persistência, convicção
e dedicação, por ter alcançado a luz no fim do túnel e ter chego até aqui.
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“Primeiro foi necessário civilizar o homem em relação ao


próprio homem. Agora é necessário civilizar o homem em
relação à natureza e aos animais” (Victor Hugo)
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RESUMO

O presente estágio curricular supervisionado em Medicina Veterinária foi realizado no Centro


de Treinamento Canaã (CTC), localizado na cidade de Porto Alegre, Rio Grande do Sul, sob
supervisão do médico veterinário, treinador, competidor e juiz, Fabrício Suris da Silveira. A
rotina prática possibilitou que os conhecimentos teóricos adquiridos ao longo da graduação
fossem aplicados, com enfoque na área de Etologia e Manejo de Cavalos Atletas. O relatório
descreve a estrutura do local de estágio, juntamente das atividades desenvolvidas no período
de março a junho de 2022. Os dados foram obtidos através do acompanhamento da rotina
diária do CTC, sendo descrito todo o fluxograma de manejo implantado a cavalos atletas para
a modalidade equestre de rédeas. Sendo eles, ambiência; manejo sanitário, alimentar e
preventivo pré e pós-treinamento; reforço positivo e negativo na aprendizagem equina; e
coleta de amostras biológicas para emissão de Guia de Trânsito Animal (GTA). Foi abordado
também, com base na literatura, aspectos de biomecânica e treinamento, que influenciam
diretamente na locomoção e no comportamento dos cavalos, assim como, as principais
afecções decorrentes do esforço físico.

Palavras-chave: Manejo; Cavalo Atleta; Comportamento Equino; Rédeas; Estágio; Medicina


Veterinária.
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FIGURAS

Figura 1 – Sede do Centro de Treinamento Canaã...................................................................16


Figura 2 – Cavalo em exercício de abaixamento de cabeça.....................................................20
Figura 3 – Biomecânica do cavalo: flexão de cabeça...............................................................21
Figura 4 – Biomecânica do cavalo: flexão de coluna e membro posterior...............................21
Figura 5 – Interior do galpão....................................................................................................28
Figura 6 – Interior das baias......................................................................................................29
Figura 7 – Piso e cama das baias..............................................................................................29
Figura 8 – Redondel e pista de treinamento..............................................................................30
Figura 9 – Piquetes....................................................................................................................31
Figura 10 – Volumoso fresco fornecido na baia.......................................................................32
Figura 11 – Pastagem................................................................................................................30
Figura 12 – Cocho d’agua.........................................................................................................32
Figura 13 – Protocolo vacinal...................................................................................................34
Figura 14 – Vermífugo..............................................................................................................35
Figura 15 – Membro anterior de cavalo com joelheira, caneleira e cloche..............................37
Figura 16 – Membro anterior e posterior de cavalo com ligas de trabalho..............................37
Figura 17 – Anatomia do membro anterior do cavalo..............................................................38
Figura 18 – Pontos de acupuntura em cavalos..........................................................................41
Figura 19 – Acupontos utilizados nos cavalos do estágio........................................................42
Figura 20 – Aplicação de acupuntura em linha média dorsal de cavalos.................................42
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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Atividades desenvolvidas durante o estágio curricular obrigatório........................26

Quadro 2 - Fluxograma do manejo de cavalos atletas. 27

Quadro 3 - Fluxograma do manejo alimentar de cavalos atletas. 31

Quadro 4 - Níveis de exigência nutricional de cavalos atletas comparado ao níveis da ração


Royal Horse 150. 33

Quadro 5 - Fluxograma do manejo sanitário de cavalos atletas. 34

Quadro 6 - Principais medidas adotadas pré-treino, e seus benefícios. 35

Quadro 7 - Principal medida adotada pós-treino, e seu benefício 39


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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 - Fatores que refletem no desempenho de cavalos atletas........................................16


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LISTA DE ABREVIATURAS

ABQM – Associação Brasileira de Criadores de Cavalo Quarto de Milha


ANCR – Associação Nacional do Cavalo de Rédeas
CTC – Centro de Treinamento Canaã
ECS – Estágio Curricular Supervisionado
GTA – Guia de Trânsito Animal
HC – Hectare
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
MTC – Medicina Tradicional Chinesa
MV – Médico Veterinário
MVI – Medicina Veterinária Integrativa
MVP – Medicina Veterinária Preventiva
NRHA – National Reining Horses Association
PPM – Pesquisa de Pecuária Municipal
PV – Peso Vivo
R- – Reforço negativo
R+ – Reforço positivo
SC – Santa Catarina
SENAR – Serviço Nacional de Aprendizagem Rural
UNISUL – Universidade do Sul de Santa Catarina
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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO.................................................................................................................12
1.1 OBJETIVO GERAL DO ESTÁGIO................................................................................13
1.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS DO ESTÁGIO..................................................................13
2 JUSTIFICATIVA DO ESTÁGIO....................................................................................14
3 IDENTIFICAÇÃO DO ESTÁGIO..................................................................................15
3.1 EQUIPE............................................................................................................................15
3.2 ANIMAIS.........................................................................................................................15
3.3 DESCRIÇÃO DO LOCAL DE ESTÁGIO......................................................................15
3.4 DESCRIÇÃO DA ÁREA DE ATUAÇÃO DO ESTÁGIO.............................................16
4 REFERENCIAL TEÓRICO DA TEMÁTICA..............................................................17
4.1 EQUINOCULTURA........................................................................................................17
4.2 ETOLOGIA EQUINA.....................................................................................................17
4.3 MEDICINA VETERINÁRIA PREVENTIVA................................................................18
4.3.1 MV Sanitária................................................................................................................18
4.3.2 MV Integrativa............................................................................................................19
4.4 BIOMECÂNICA EQUINA.............................................................................................20
4.5 TREINAMENTO DE CAVALOS...................................................................................22
4.6 MODALIDADE EQUESTRE: RÉDEAS........................................................................22
4.7 PRINCIPAIS AFECÇÕES DECORRENTES DO ESFORÇO FÍSICO..........................23
5 METODOLOGIA.............................................................................................................25
6 DESCRIÇÃO DAS ATIVIDADES DESENVOLVIDAS..............................................26
6.1 FLUXOGRAMA DO MANEJO DE CAVALOS ATLETAS.........................................26
6.1.1 Ambiência.....................................................................................................................28
6.1.2 Manejo alimentar........................................................................................................30
6.1.3 Manejo sanitário..........................................................................................................33
6.1.4 Manejo preventivo pré e pós-treinamento................................................................35
6.2 MANEJO DURANTE COMPETIÇÕES EQUESTRES.................................................39
6.3 REFORÇO POSITIVO E NEGATIVO NA APRENDIZAGEM EQUINA....................40
6.4 TÉCNICA INTEGRATIVA PREVENTIVA: ACUPUNTURA.....................................40
7 CONCLUSÃO...................................................................................................................43
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS...........................................................................................44
REFERÊNCIAS......................................................................................................................45
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1 INTRODUÇÃO

Segundo o IBGE (2020), através da pesquisa de pecuária municipal (PPM), no


Brasil há registro de 6 milhões de equinos, sendo considerado o maior rebanho da América
Latina e terceiro maior criador mundial. Anualmente a criação de cavalos, ou equinocultura,
movimenta, em território brasileiro, cerca de R$16,2 bilhões (REVISTA RURAL, 2021).
Além disso, as práticas de esportes equestres também aumentam intensamente em todos os
países, e cada vez mais os cavalos se tornam atletas de alta performance, sendo assim
submetidos a protocolos intensos de treinamento.
Em virtude disso, é importante, além de apenas buscar aperfeiçoar o desempenho
físico desses animais, visar também seu bem-estar. Pois, independente da raça ou atividade
esportiva, a habilidade atlética do cavalo pode ser determinada por cinco fatores: genética,
saúde, nutrição, ambiente e treinamento (QUEIROZ, 2020).
Respeitar os limites da espécie, conhecer suas origens e estudar sobre etologia,
evita erros no manejo e no treinamento, além de gerar um contato positivo entre o homem e o
animal. Assim como, cavalos que recebem tratamentos muito humanizados, negativos, ou são
domados e manejados de maneira errônea, acabam por desenvolver uma série de problemas,
principalmente em aspecto mental. Sendo assim, podem desenvolver traumas psíquicos por
vezes permanentes e prejudiciais, tanto para eles, quanto para quem os maneja.
Contudo, cabe ao médico veterinário (MV) junto aos treinadores, entender o
modo com que o cavalo compreende, pensa e se expressa no meio em que vive, através do
estudo da etologia dessa espécie, ou hipologia. É necessário atentar-se a adotar medidas de
prevenções à saúde física e mental, assim como às possíveis lesões causadas decorrentes do
processo de doma e treinamento. Proporcionar um estilo de vida o mais natural ou próximo do
ideal à espécie, assim como suplementação e nutrição adequada, é de suma importância.
O estágio curricular visa aperfeiçoar os conhecimentos adquiridos durante a
graduação, possibilitar o desenvolvimento de análises mais críticas, assim como ampliar a
visão na área de comportamento e manejo de cavalos atletas. Possibilita também adquirir
experiência prática na área escolhida, visando o conhecimento com embasamento teórico na
atual realidade de um centro de treinamento de cavalos destinados a modalidade de rédeas.
A presente revisão tem como objetivo relatar o manejo adequado do cavalo atleta,
visando à importância quanto à saúde física e ao desempenho esportivo. Consequentemente,
com objetivo de elevar o potencial e performance atlética durante as atividades equestres,
prevenindo possíveis lesões recorrentes e rotineiras.
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1.1 OBJETIVO GERAL DO ESTÁGIO

O estágio supervisionado obrigatório tem como objetivo finalizar o curso, unindo


o conhecimento adquirido ao longo da graduação de medicina veterinária com as
competências práticas desenvolvidas e aperfeiçoadas no período de supervisão, de março a
junho de 2022. Teve como foco praticar e estar por dentro do manejo diário: alimentar,
sanitário, de medidas preventivas adotadas na rotina de cavalos atletas, e da metodologia de
reforço positivo e negativo aplicada na aprendizagem equina, a partir do conhecimento do
comportamento da espécie.

1.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS DO ESTÁGIO

• Vivenciar e acompanhar as atividades de rotina do MV no CTC, visando o


aprimoramento teórico e prático.
• Descrever o fluxograma de funcionamento do CT e manejo com os cavalos atletas.
• Relatar sobre ambiência, manejo alimentar e sanitário dos animais.
• Coletar material biológico para emissão de GTA.
• Realizar vacinação e vermifugação da tropa.
• Relatar a metodologia de reforço positivo e negativo utilizada na aprendizagem.
• Relatar as medidas preventivas adotadas pré e pós-treinamento.
• Realizar acupuntura preventiva nos cavalos que competem na modalidade de
rédeas.
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2 JUSTIFICATIVA DO ESTÁGIO

A realização do estágio obrigatório supervisionado do Curso de Medicina Veterinária


da Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL) é necessária como requisito parcial para
obtenção do título de médica veterinária. Desta forma, ao alinhar os conhecimentos teóricos
aprendidos durante o período de graduação com a prática de rotina de estágio curricular, o
aluno se prepara para inserção no mercado de trabalho. É de suma importância vivenciar a
rotina e o manejo de cavalos atletas, compreendendo o funcionamento do lugar em que vivem
e possíveis medidas preventivas que podem ser adotadas visando à saúde física e mental da
espécie, em prol ao seu bem-estar. Assim como, aprender precauções práticas, e garantir a
segurança do animal e do profissional recém-formado no manejo com cavalos. Além da
experiência e do conhecimento adquirido no espaço profissional, o aluno aprende a conviver
em grupo e com outros profissionais da área, e a lidar com as dificuldades apresentadas pelo
mercado, unindo questões que envolvem trabalho em equipe, cooperação, iniciativa e
participação, junto das possíveis dificuldades e conflitos.
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3 IDENTIFICAÇÃO DO ESTÁGIO

3.1 EQUIPE

 Jaqueline Seugling: Zootecnista, Mestre, Profª. Orientadora da Unisul, Profª das


disciplinas de equideocultura, e medicina e criação de equídeos.

 Nicoli Beneditto Silva: aluna graduanda do curso de Medicina Veterinária, campus


Tubarão/SC, da Universidade do Sul de Santa Catarina – Unisul.

 Fabrício Suris da Silveira: supervisor de estágio, Médico Veterinário, treinador de


cavalos, competidor equestre na modalidade de rédeas, juiz das modalidades de rédeas e
laço pela Associação Nacional do Cavalo de Rédeas (ANCR); National Reining Horses
Association (NRHA); e Associação Brasileira de Quarto de Milha (ABQM); presidente da
Associação Rio-grandense do Cavalo de Rédeas (ARCR), e proprietário do CTC.

 Roger de Andrade Duarte: tratador, domador e treinador no CTC.

3.2 ANIMAIS

O CT abriga dezesseis cavalos, catorze machos (oito garanhões, seis castrados), e


duas fêmeas. Apenas dois não fazem parte do esquema de treinamento, pois ainda estão para
completar dois anos. O restante dos animais, com idades entre dois a dez anos, são treinados
para competições equestres da modalidade de rédeas.

3.3 DESCRIÇÃO DO LOCAL DE ESTÁGIO

O estágio curricular supervisionado na área de Etologia e Manejo de Cavalos foi


realizado no Município de Porto Alegre/RS, no Centro de Treinamento Canaã (Figura 1). O
local tem aproximadamente 3hc, qual abrange 1hc em piquetes com plantação de pastagem
que são fornecidas nas baias; 5 piquetes para rotação de animais; 1 galpão coberto com 11
baias, e mais 5 baias externas cobertas, totalizando 16 cocheiras; 1 redondel de 14mt de
diâmetro e 1 pista de treinamento, com medida de 100x40mts.
Figura 1 - Sede do Centro de Treinamento Canaã.

Fonte: Arquivo pessoal, 2022.

3.4 DESCRIÇÃO DA ÁREA DE ATUAÇÃO DO ESTÁGIO

t
u
e
M
i
n
a
s
r
á
o
c
l
j 18

O estágio se enquadra na área da Medicina Veterinária, subárea de Etologia e Manejo


de Cavalos, focada em aumento da performance atlética (Gráfico 1), visando o bem-estar e a
saúde, a qual o aluno tem preferência. Essa área abrange estudo do comportamento,
biomecânica e manejo sanitário, nutricional, preventivo, ambiência e instalações.

Gráfico 1 – Fatores que refletem no desempenho de cavalos atletas.

Fonte: Autora do trabalho, 2022.


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4 REFERENCIAL TEÓRICO DA TEMÁTICA

4.1 EQUINOCULTURA

No Brasil (BR), o cavalo é utilizado de diversas formas, desde criação para lazer;
trabalho, seja no campo ou para cavalaria; à utilização em esportes clássicos e regionais,
como salto, adestramento, freio de ouro, rédeas e vaquejada (QUEIROZ, 2020).
Aproximadamente 67% dos rebanhos do Brasil são voltados a atividades de manejo com o
gado, e cerca de 1,1 milhões são destinados ao esporte e lazer. Estes, ao contrário dos que são
utilizados para lida com o campo em atividades agropecuárias, requerem cuidados maiores,
ou seja, necessitam de maiores investimentos em saúde e bem-estar (BRASIL, 2016;
CINTRA, 2008; QUEIROZ, 2020). Sejam eles, investimento em nutrição adequada, ambiente
planejado para a espécie, bons protocolos sanitários e preventivos, assim como treinamentos
adequados e éticos.

4.2 ETOLOGIA EQUINA

As características comportamentais dos cavalos são resultantes de uma adaptação


evolutiva, a qual garantiu sobrevivência à espécie. Possuem uma estrutura óssea e muscular
que os concede velocidade, força e agilidade, assim como possuem um sono muito leve, que
tem por objetivo defesa e fuga rápida de possíveis ameaças e predadores. Além disso,
possuem sentidos agudos, muito mais sensíveis e desenvolvidos do que os seres humanos e os
demais animais domésticos, fazendo com que se assustem facilmente (ATROCH, 2019).
A base da linguagem e comunicação se dá através de sons, como os relinchos, pela
expressão facial, através da posição das orelhas e olhos, e pela expressão comportamental,
definida por posicionamento e direção da cabeça, pescoço e corpo, assim como movimentos
de cavar, coicear ou empinar (ATROCH, 2019; CINTRA, 2008; ROBERTS, 2001; SOARES,
2012). Segundo Soares (2012, p.105), “a linguagem do corpo não é privilégio dos humanos
nem dos cavalos; ela constitui a forma de comunicação mais comum”.
O instinto da espécie é defesa e fuga, sempre preferindo fugir de situações de perigo a
lutar. Por isso qualquer movimento brusco ou mínima pressão aplicada durante a relação entre
o homem e o cavalo sua primeira reação vai ser tentar fugir para se defender. Esse
comportamento aversivo, muitas vezes, pode se tornar perigoso se estiverem com cabresto ou
em áreas pequenas (SOARES, 2012).  O medo é a primeira reação que o cavalo tem de
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percepções externas, incluindo a presença de humanos (CHAGAS, 1997). Sendo assim, a


melhor opção para manejá-los é através de tranquilidade, confiança e firmeza, seja para
manipulá-los diariamente, durante atendimentos clínicos, treinamento ou no processo de
doma (SOARES, 2012).
Em vida livre sempre terá disputas para definir o dominante e o submisso, e assim
também é na relação com humanos. A cada contato eles tentam dominar a relação, e se não
está clara qual a posição de cada um, acabam por tomar o lugar de líder. Por isso, é importante
manter a postura firme perante eles, nem muito rígido, para não desencadear o medo, mas
também não flexível demais, a ponto que eles percebam que podem liderar. Ou seja, deixá-los
que fiquem tentando morder ou até mesmo se prevaleçam em algumas situações, tomando a
frente de decisão. Por isso o contato humano e animal devem ser claro e assertivo.

4.3 MEDICINA VETERINÁRIA PREVENTIVA (MVP)

4.3.1 MV Sanitária

Um programa de saúde preventiva é de suma importância para garantir a saúde e bem-


estar de qualquer animal, inclusive de cavalos. Um bom protocolo sanitário de vacinação e
vermifugação, assim como casqueamento e odontologia preventiva, previnem doenças,
quedas de produtividade e perdas econômicas (MONTEIRO, 2011; TAYLOR et al., 2010).
Investir em saúde preventiva evita gastos com tratamentos, que muitas vezes possuem custos
elevados e ainda assim podem resultar em um prognóstico ruim, levando os animais a óbito.
Além das vacinações e vermifugações, um programa efetivo de prevenção visa à
redução dos agentes causadores das doenças, por isso deve ser levado em consideração
realizar desinfecção e higiene de equipamentos, baias e estábulos. Endoparasitas causam
desde pequenos desconfortos abdominais, hiporexia, fraqueza, anemia, diarreias, pelagem
opaca, retardo de crescimento, até episódios fatais de cólica e óbito, dependendo da carga
parasitária (FEITOSA et al., 2018; LAGAGGIO et al., 2007).
É importante também, onde há aglomeração, como exposições ou competições, ou na
introdução de um novo animal no plantel, que o protocolo de vermifugação e vacinação,
assim como os resultados negativos para testes de anemia infecciosa equina (AIE) e mormo,
estejam estar em dia, sendo estes obrigatórios (OLIVEIRA, 2007). Vale salientar também a
importância de que cada animal tenha seu próprio cocho de água, e evite a troca de
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equipamentos, evitando assim possibilidades de disseminação e contaminação indireta por


agentes virais ou bacterianos.
Já o casqueamento visa à manutenção do equilíbrio, anatomia e das funções dos
cascos. É importante ser realizado logo ao nascimento, quando ainda potros, buscando evitar
uma série de problemas, e deve ser introduzido na rotina mensal preventiva. Dentre as
afecções comuns por falta do manejo estão irregularidade de aprumos e conformação,
podridão de ranilha, ou até mesmo lesões musculoesqueléticas, desenvolvendo na maioria dos
casos tendinites e desmites (FRANCO, 2011). Outro manejo essencial e mais ligado à questão
nutricional é a odontologia. Ou seja, um cavalo que possui problemas dentários apresenta dor,
dificuldade de apreensão e deglutição, e isso ocasiona desde quadros de emagrecimento e
quedas de desempenho, até quadros de cólicas (STRAIOTO, SILVA, RIBEIRO, 2018).

4.3.2 MV Integrativa

Os equinos atletas, assim como humanos atletas, devido ao esforço exercido são
extremamente suscetíveis a sofrer lesões. Quando destinados a treinos intensos e a esforços
físicos se lesionam duas vezes mais do que aqueles que não praticam, o número aumenta
ainda mais quando não são adotados protocolos e medidas preventivas (SOUSA et al., 2017).
A medicina veterinária integrativa (MVI) ainda está conquistando seu lugar dentre os
animais. Além de possuir alternativas que reduzem efeitos colaterais de tratamentos
convencionais, já vem sendo utilizada de maneira complementar a diversos tratamentos, assim
como, para prevenir diversas lesões, visando oferecer bem-estar aos animais. A MVI é
crescente na prevenção de patologias musculoesqueléticas, como miosites, dorsopatias,
osteoartrite, lesões tendíneas e/ou ligamentares (MIKAIL, 2009).
Dentre as técnicas mais utilizadas, assim como na medicina humana, estão acupuntura,
quiropraxia, laser, knesio tape, cinesioterapia, termoterapia, assim como massagem e
liberação miofascial, ventosa e por fim o reiki, mais ligado às questões de saúde mental
(MIKAIL, 2009; PELHAM, HOLT E STALKER, 2001; PIMENTEL, 2014). As junções das
terapias causam sinergia, aumentando o potencial de prevenção e/ou tratamento, e também
podem ser utilizadas de maneira intercalada, buscando a diminuição da ansiedade e estresse
de qualquer espécie animal.
Entretanto, vale salientar que técnica nenhuma faz milagre. O MV, assim como o
tratador, o proprietário e o cavaleiro devem conhecer sobre a etologia e os limites do cavalo.
22

O conjunto de fatores, como manejo, treinamento e tratamento é o que garante o sucesso da


saúde física e mental, assim como o aumento da performance atlética.

4.4 BIOMECÂNICA EQUINA

Biomecânica é a ciência que estuda os movimentos de um organismo vivo e as


estruturas envolvidas no movimento, ou seja, músculos, ossos, tendões e ligamentos,
permitindo aferir ritmo, simetria e amplitude do andamento do equino (FIDÊNCIO, 2019).
Em outras palavras, determina como um cavalo se move, e quão bem ou mal seu corpo pode
suportar os efeitos da movimentação (MIKAIL, 2009; QUEIROZ, 2020). Atualmente, a
técnica de slowmotion permite que determinados aspectos sejam notados, os quais não
poderiam ser percebidos na inspeção clínica, visualmente (FIDÊNCIO, 2019).
O estudo do movimento e locomoção da espécie está em crescimento. Inspeções
visuais dos movimentos são ferramentas semiológicas importantes no exame clínico,
principalmente em diagnósticos de claudicação, assim como úteis para caracterizar e melhorar
o desempenho esportivo dos equinos. O objetivo do estudo é melhorar e aumentar a
capacidade de desempenho atlético, sendo utilizada dentro da medicina esportiva, por MV e
técnicos, a fim de melhorar o treinamento e a performance do cavalo (MIKAIL, 2009;
MIYASHIRO, 2012).
Quando o cavalo desloca o peso ou o centro de gravidade cranialmente (Figura 2), em
exercícios de flexão de cabeça, há tensão da musculatura de região anterior, qual sustenta
maior parte do peso da coluna (GUENKA, 2020). Esse exercício fortalece a musculatura ali
envolvida (m. peitoral e m. serrátil ventral), e a musculatura dos membros. O objetivo é
reduzir o estresse das estruturas de sustentação, e redução dos riscos de lesão do ligamento
suspensório do boleto e tendão flexor digital superficial (GUENKA, 2020).

Figura 2 – Cavalo em exercício de abaixamento de cabeça.

Fonte: Guenka, 2020.


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Segundo Guenka (2020), quando o cavalo realiza movimentos e exercícios com a


cabeça flexionada (Figura 3), ou seja, abaixamento ou flexão de pescoço, acontece separação
dos processos espinhosos da coluna, devido à flexão e o tensionamento do ligamento nucal
(C1-T2) e ligamento supraespinhoso (T2-L6). Quando isso acontece, abre um espaço entre as
vértebras, o que reduz possíveis dores do atrito dos processos espinhosos, que por vezes
acabam se comprimindo e degenerando, em virtude do contato durante o movimento com a
cabeça em posição alta (em extensão).

Figura 3 – Biomecânica do cavalo: flexão de cabeça.

Fonte: Guenka, 2020.

Já as paradas e esbarros, de acordo com Guenka (2020), possibilitam a flexão da


coluna (Figura 4), alongamento de musculatura epaxial (região de coluna cervical e toraco-
lombar), contração abdominal, além de desenvolver fortalecimento da região da garupa e
aumentar a eficiência dos membros posteriores.

Figura 4 – Biomecânica do cavalo: flexão de coluna e membro posterior.

Fonte: Arquivo pessoal de Fabrício Suris da Silveira.


24

4.5 TREINAMENTO DE CAVALOS

O treinamento é a variável que mais importa para determinar o sucesso desportivo do


cavalo atleta (BERNARDI, 2013). É importante respeitar os limites e conhecer as origens da
espécie, para assim, evitar erros no manejo, na nutrição e no treinamento (QUEIROZ, 2020).
Atualmente, para melhorar o desempenho atlético dos cavalos, cada vez mais se investe em
conhecimento com foco em treinamento, suplementação e alimentação adequada a cada etapa
da vida esportiva (FERRAZ, 2006; QUEIROZ, 2020).
Em qualquer treino deve haver a compreensão do comportamento manifestado pelo
animal, corrigindo possíveis reações indesejadas, e mostrando uma forma a eles de
entenderem o proposto, através de um raciocínio lógico e ético partindo do treinador. O que se
busca através do treinamento é um cavalo com comportamento tranquilo e passivo.
Como objetivo de todo ensinamento ou prática, primeiro é ter como meta aonde que
chegar, e o que quer alcançar. Sabendo disso, se utiliza o aumento da pressão, através de sons
ou tato. Quando o cavalo demonstra os sinais de aceitamento, e que está cedendo à pressão
exercida, ou seja, está presente e acertou o que foi proposto, é o momento de aliviar a pressão.
Ao obter um resultado positivo é necessário sempre recompensá-los, ou seja, permitir o
descanso, essa técnica chama-se reforço positivo e é a partir dessa metodologia de trabalho
que os cavalos aprendem.

4.6 MODALIDADE EQUESTRE: RÉDEAS

A modalidade esportiva de rédeas é o esporte equestre que mais cresce a nível mundial,
que teve inicio na década de 60 (1966), nos Estados Unidos da America (EUA). Porém,
apenas em 1996 foi consagrada como uma modalidade, nas Olimpíadas de Atlanta – EUA
(ANCR). É classificada como Hipismo Western, onde o cavalo recebe um adestramento
básico. O esporte nasceu com a necessidade de criadores precisarem adestrar os cavalos para a
lida no campo. Com o processo de aperfeiçoamento foi se transformando em um conjunto de
manobras que definem a modalidade: círculos, spins, troca de mão, esbarro, recuos, rollback,
rundowns e pausa (ANCR). Atualmente é praticada em diversos países, como Canadá,
Austrália, França, Japão, Inglaterra, Alemanha e Brasil, e pode ser feita com qualquer raça.
Em território brasileiro é mais comuns Quarto de Milha, Crioulo, Appaloosa e PaintHorse.
Além disso, faz parte dos Jogos Equestres Mundiais, sendo a única modalidade de
origem western a participar. Segundo a NRHA (National Reining Horse Association),
25

“montar um cavalo de rédeas não é apenas guiá-lo, mas também dominar cada um de seus
movimentos”, ou seja, o cavaleiro deve demonstrar controle do cavalo, com pouca ou
nenhuma resistência aparente. A pontuação é aplicada de acordo com a suavidade, sutileza,
atitude, rapidez e autoridade no desenvolvimento das manobras, e de acordo com o grau de
dificuldade (ANCR).

4.7 PRINCIPAIS AFECÇÕES DECORRENTES DO ESFORÇO FÍSICO

Os cavalos vêm sendo cada vez mais utilizados para fins esportivos. Com isso,
aumenta-se o número de animais sobrecarregados devido à grande intensidade de exigência.
Como conseqüência, é comum o aparecimento de desequilíbrios musculoesqueléticos, e
também diminuição do desempenho atlético (MIKAIL, 2009; SOUSA et al, 2017).
Normalmente os distúrbios ocorrem em maior escala quando os treinadores não têm noção de
etologia e fisiologia equina, e levam os animais ao limite do esforço físico. Porém, em
qualquer modalidade equestre há suscetibilidade de desenvolvimento de algum tipo de lesão,
com tudo, cavalos destinados a altos esforços físicos se lesionam até duas vezes a mais do que
os que não participam de competições (SOUSA et al, 2017).
Os membros anteriores do cavalo, devido ao fato de suportarem cerca de 60% do peso
do animal, estão sujeitos a maior tensão e stress quando comparado aos membros posteriores
(GETTY, 1986; COSTA, 2012). As alterações mais citadas que levam a inatividade atlética e
queda de desempenho são as claudicações, a qual pode estar ligada a lesões ligamentares, de
casco, muscular ou óssea (ALVES et al., 2007; BROSTER et al., 2009; MIKAIL, 2009).
Alguns sinais clínicos de uma possível lesão é a falta de entusiasmo para realizar os
exercícios, rigidez na andadura ou passos mais rápidos (DE LA CORTE & MIKAIL, 2003). E
de acordo com Jeffcott (1975), as dores podem refletir em alteração comportamental e
temperamental do animal.
A estrutura mais acometida ligada ao sistema locomotor é o ligamento suspensório, a
articulação tarsal-metatarsal e a articulação carpal-metacarpal (SOUSA et al., 2017).
Dorsalgias e lombalgias são secundárias aos quadros de claudicação, resultantes da
compensação (STASHAK, 2006). Ou seja, dores no carpo refletem em tensão muscular
secundária em região glútea, e dores no tarso refletem em dor lombar (JEFFCOTT, 1975).
Além do alto nível de exigência, outro fator que interfere na andadura e causam lesões é a
posição da sela, que podem ocasionar quadros de micro lesões musculares, desconforto, dor
aguda, e muitas vezes até dores crônicas (JEFFCOTT, 1975; MIKAIL, 2009).
26

As lesões musculoesqueléticas podem ser previamente diagnosticadas através do


aumento de volume e temperatura local, e reação de dor à palpação (DE LA CORTE &
MIKAIL, 2003).
27

5 METODOLOGIA

As atividades foram realizadas no período correspondido entre 05 de março a 05 de


junho de 2022, na área de equinocultura, etologia, manejo e treinamento de cavalos, e
desenvolvidas no CTC, localizado no Município de Porto Alegre/RS. Durante o estágio
curricular foi acompanhado a rotina no estabelecimento, sendo realizado as atividades diárias
de manejo alimentar e sanitário de cavalos atletas, com supervisão do responsável pelo local,
MV e treinador de cavalos, Fabrício Suris da Silveira. Dentre as atividades, também foi
realizado acompanhamento e execução do manejo de preparação pré e pós-treinamento e
acompanhamento em competições eqüestres. Assim como, entender o comportamento equino
e a metodologia utilizada para ensiná-los, com embasamento da técnica de reforço positivo e
negativo. Portanto, o presente relatório descreve o fluxograma de manejo de cavalos atletas,
visando proporcionar saúde e bem-estar adequado àqueles que vivem no CTC, de acordo com
a legislação vigente, quais estão relacionadas a instalações, nutrição e manejo.
28

6 DESCRIÇÃO DAS ATIVIDADES DESENVOLVIDAS

O estágio curricular supervisionado (ECS) foi realizado entre os meses de março a


junho. Segundas, quartas, e sextas-feiras no período matutino e vespertino, sendo das 8h ao
12h, e das 14h às 18h, e aos sábados das 8h ao 12h. O objetivo foi acompanhar a rotina do
CTC com supervisão do responsável MV Fabrício Suris da Silveira, que tem como finalidade
domar e treinar cavalos para a modalidade equestre de rédeas, visando à saúde física e o
aumento do desempenho atlético.
As atividades acompanhadas durante o período de estágio foram diversificadas, e
estão descritas abaixo, no quadro 1.

Quadro 1 - Atividades desenvolvidas durante o estágio curricular obrigatório.


DESCRIÇÃO DAS ATIVIDADES DESENVOLVIDAS
Realizar o manejo e fornecimento de alimento.

Realizar o manejo sanitário, vacinação e vermifugação.

Coletar material biológico para diagnóstico de AIE e mormo, para emissão de GTA.

Manejo pré-treino, escovar, limpar os cascos, encilhar e colocar ligas de trabalho.

Manejo pós-treino, duchar.

Acompanhar o treinamento e metodologia utilizada para ensinar os cavalos, chamada de reforço positivo e
negativo.
Realizar acupuntura, como técnica integrativa preventiva.

Fonte: Elaborado pela autora, 2022.

6.1 FLUXOGRAMA DO MANEJO DE CAVALOS ATLETAS

O expediente inicia-se as 7h30 da manhã e termina às 18h, com fornecimento de ração


a todos os cavalos. Após terem se alimentado na primeira hora do dia, um animal por vez é
retirado das baias para que seja realizada a limpeza das camas. Aproveitando o momento, é
realizada a escovação de crinas, pelos e cola, assim como limpeza dos cascos. O treinamento
acontece na parte da manhã e na tarde. O manejo pré-treino realizado é basicamente escovar,
encilhar, colocar liga de trabalho nos membros, trançar a cola e pôr a embocadura. Quando
necessário coloca-se joelheiras e cloches, dependendo da intensidade e propósito do treino.
Ao finalizar sempre é realizado o manejo pós-treino, que se caracteriza através de
duchas dos cavalos. Na primeira hora da tarde, às 14h, inicia-se a lida de cortar o volumoso
29

(pasto fresco: Tifton 85, Aruana, Jiggs e Azevém), sendo logo em seguida fornecimento
fresco na baia. O fim do expediente se dá logo após tratamento final com a ração a todos,
aproximadamente às 18h. Segue abaixo o fluxograma detalhado do manejo no CT Canaã
(Quadro 2).

Quadro 2 – Fluxograma do manejo de cavalos atletas.


HORÁRIO MANEJO
7h30 Inicio do expediente;
Fornecimento de ração no cocho.
8h Soltura individual de alguns cavalos nos piquetes.
8h30 Limpeza das cocheiras (camas);
Escovação dos animais, crinas, pelos e cola;
Limpeza dos cascos;
9h em diante Manejo pré-treino: encilhar, colocar ligas de trabalho, trançar a cola, colocar
determinado embocadura (freio/bridão).
9h em diante Treinamento dos cavalos.
9h30 em diante Manejo pós-treino: duchas.
11h30 Fornecimento de ração no cocho.
12h-14h Intervalo para almoço.
14h Manejo de cortar o volumoso fresco.
14h30 Fornecimento de pasto na baia.
15h00 em diante Manejo pré-treino.
15h00 em diante Treinamento dos cavalos
15h30em diante Manejo pós-treino.
17h30 Realoca os animais soltos em suas determinadas baias.
17h30 Fornecimento de ração no cocho.
18h00 Final do expediente.
Fonte: Elaborado pela autora, 2022.

6.1.1 Ambiência

O CT é composto por 3hc de terra. Destes, 1,5 hc são destinados ao galpão (Figura 5);
as cocheiras (Figura 6); à pista de treinamento (Figura 8), qual mede 100x40mt; ao redondel,
de 15mt de diâmetro (Figura 8); e à casa do proprietário do CTC. 1 hectare (hc) é destinado à
plantação, composto pelos capins Tifton 85 (Cynodon spp.), Aruana (Panicum Maximum),
30

Jiggs (Cynodon dactylon) e Azevém (Lolium multiflorum), fornecidos na baia; e 0,5 hc


abrange os piquetes (Figura 9), sendo três de 600m², um de 1.000m², e um de 2.200m²; Dos
dezesseis animais residentes do CTC, dois potros ficam juntos e soltos em um piquete com
livre acesso ao pasto (2.200m²), e nos outros piquetes livres normalmente se faz rotação dos
cavalos, sendo potros ou os que não fazem parte do cronograma de competições.

Figura 5 – Interior do galpão.

Int
erior do galpão onde os cavalos são ensilhados. Fonte: Arquivo pessoal, 2022.

Das dezesseis cocheiras, 5 são externas ao galpão, e 11 no interior do galpão (Figura


6), totalizando 16 cocheiras. Todas são cobertas e medem 3x3m (9m²).

Figura 6 – Interior das baias.


31

Baias bem iluminadas, ventiladas, e com janela para contato entre os cavalos. Fonte: Arquivo pessoal, 2022.

A baia é de piso de chão batido (Figura 7). Foi feito um buraco de 1m² de diâmetro e
profundidade no meio da baia, com sistema de drenagem para absorver a urina e umidade; sob
o piso foi colocado dormente de trem (madeira), de diâmetro 25x15m, além de saibro entre as
frestas, o objetivo é para deixar o piso mais macio e também facilitar absorção de umidade; a
cama é de maravalha. A limpeza da baia ocorre todos os dias no turno da manhã.

Figura 7 – Piso e cama das baias.

A: Sistema de drenagem com dormente de trem; B: Cama de maravalha. Fonte: Arquivo pessoal, 2022.

Figura 8 – Redondel e pista de treinamento.


32

Redondel coberto e pista de treinamento, respectivamente. Ambos com piso de areia.


Fonte: Arquivo pessoal, 2022.

Figura 9 – Piquetes.

A: Piquete de 2.200m²; B: Piquete de 600m²; C: Piquete de 1.000m². Fonte: Arquivo pessoal, 2022.

6.1.2 Manejo Alimentar

Todos os cavalos do CTC recebem a mesma ração e pasto fresco no cocho, apenas as
quantidades variam (Quadro 3). São fornecidos de 1,5 à 2 kg de concentrado da empresa
Royal Horse, ração Sport 150, 3x ao dia, qual é indicada para cavalos que treinam moderado,
sendo altamente digestível e palatável, com alto fornecimento de energia aos cavalos. Os
cavalos do CT pesam aproximadamente 400 à 500kg, os de escore corporal (ECC) entre 4 a 6
(ideal) recebem no total 6kg/dia de ração (1,5% peso vivo), os com ECC acima de 7 (apenas
dois animais) recebem 4,5kg/dia (0,9% peso vivo). Os sacos de ração são armazenados em
ambiente de 9m² fechado, sob paletes para evitar o contato direto com o chão e a umidade.

Quadro 3 – Fluxograma do manejo alimentar de cavalos atletas.


33

HORÁRIO MANEJO
7h30 Ração no cocho (1,5-2kg).
8h Soltura individual de alguns cavalos nos piquetes para pastagem.
11h30 Ração no cocho (1,5-2kg).
14h30 Pasto fresco no cocho (4kg).
18h Ração no cocho (1,5-2kg).
Fonte: Elaborado pela autora, 2022.

Também é fornecido volumoso no turno da tarde (Figura 10), cerca de 4 kg de capim


fresco, qual compõe pastagens de Tifton 85 (Cynodon spp.), Aruana (Panicum Maximum),
Jiggs (Cynodon dactylon) e Azevém (Lolium multiflorum) (Figura 11). O verde fresco é
colocado no chão da baia, visando o comportamento natural da espécie de pastar com a
cabeça baixa ao chão, qual favorece alongamento muscular do pescoço, e também aumenta a
secreção de saliva, que ajuda na digestão. A diversidade das pastagens visa uma boa produção
anual durante verão e inverno, compostas de gramíneas nutritivas e de boa qualidade. A
quantidade de alimento fornecido visa suprir a demanda de exigência de cavalos atletas, pois
os mesmos requerem uma alta quantidade de energia.

Figura 10 – Volumoso fresco fornecido na baia.

Cavalo pastando. Fonte: Arquivo pessoal, 2022.

Figura 11 – Pastagem.
34

A: Gramínea (tifton, aruana, jiggs e azevém); B1, B2: Piquetes de pastagem para fornecimento no cocho.
Fonte: Arquivo pessoal, 2022.

A água é fornecida fresca e à vontade (Figura 12). Que segundo FRANCO et al.
(2019), é necessária para suprir as demandas fisiológicas, como manutenção da temperatura
corporal. A limpeza dos cochos d’água é realizada sempre que necessário.

Figura 12 – Cocho d’água.

Cocho d’água com água fresca, limpa e a vontade. Fonte: Arquivo pessoal, 2022.

A dieta do cavalo atleta é semelhante a alimentação do cavalo em manutenção, o que


difere é a quantidade de nutrientes e do valor energético necessário para cada fase. Durante
treinamento e atividade física intensa os cavalos necessitam de altas demandas de energia,
proteína bruta de maior qualidade ao invés de maior quantidade, mineirais e vitaminas.
No quadro abaixo (Quadro 4) foi detalhado os níveis de exigência nutricional de um
cavalo em atividade física intensa, e os níveis nutricionais da ração Royal Horse Sport 150,
que é fornecida aos animais do CTC.

Quadro 4 – Níveis de exigência nutricional de cavalos atletas comparado aos níveis da


ração Royal Horse 150.
35

NÍVEIS DE EXIGÊNCIA NUTRICIONAL EM RAÇÃO ROYAL SPORT 150: PARA CAVALOS


ATIVIDADE FÍSICA INTENSA EM ATIVIDADE FÍSICA INTENSA
10-12% PB (1989) 12% PB
10% EE (1989) 4% EE
3.450 Kcal/kg ED (2007) 3.350 Kcal/kg
0,35% Cálcio (1989) 1,4% Cálcio
0,25% Fósforo (1989) 0,60% Fósforo
0,40% Lisina (1989) 0,40% Lisina

0,8-1,5% De ração por PV 6 kg/dia de ração (400kg: 1,5% PV)


0,8-1,5% De volumoso por PV 4 kg/dia de volumoso (400kg: 1% PV)
PB: Proteína Bruta; EE: Extrato Etéreo; ED: Energia Digestível; PV: Peso Vivo.
Fonte: Adaptado de NRC (1989; 2007); Almeida, s/d.

6.1.3 Manejo Sanitário

O protocolo sanitário (Quadro 5) visa imunizar e prevenir doenças nos animais.


Além disso, testes de AIE e mormo são sempre realizados quando a tropa precisa
viajar em virtude dos eventos equestres, e também em casos de chegada de animais novos. Foi
coletado amostra sanguínea em dois tubos sem anticoagulante (4ml em cada), por punção em
veia jugular. A amostra foi enviada o quanto antes para análise em laboratório, sob
refrigeração. O método de diagnóstico utilizado foi o ELISA.
No CTC, no protocolo vacinal (Figura 13), realizado no dia 10/05, foi utilizada a
vacina Fluvac. A mesma protege os equinos contra encefalomielite; rinopneumonite; tétano e
influenza, sendo que a última é obrigatória para emissão do GTA e permissão para transportar
os animais; e a vacina Rabmune, que protege contra a raiva; ambas com aplicações anuais e
realizadas por via intramuscular (IM).

Quadro 5 – Fluxograma do manejo sanitário de cavalos atletas.


FREQUÊNCIA MANEJO VIAS
Anual Vacinação
Fluvac IM
Rabmune
36

6 x ao ano Vermifugação VO
- Doramectina e Pirantel (Dorax Plus)
- Oxfendazol e Triclorfon (Panteq)
- Mebendazol (Mebendasil)
- Ivermectina e Praziquantel (Ivermic T)
40-40 dias Casqueamento
40-40 dias Ferrageamento
Fonte: Elaborado pela autora, 2022.

Figura 13 – Protocolo vacinal.

A: Vacina Fluvac; B: Vacina Rabmune. Fonte: Domínio Público, 2022.

O protocolo de vermifugação é realizado seis vezes por ano, intercalando os princípios


ativos para se obter melhor eficácia contra os endoparasitas, e diminuir assim riscos de gerar
resistência ao fármaco. Foi administrado no dia 03/05 o medicamento em pasta Panteq
(Figura 14), com os princípios ativos Oxfendazol e Triclorfon. Todo animal inserido novo no
plantel, é mantido em isolamento e vermifugado. Vale salientar que o Triclorfon é uma
substância que provoca aborto, por isso não deve ser utilizado em éguas prenhas.

Figura 14 – Vermífugo.
37

Vermífugo Panteq. Fonte: Domínio Público, 2022.

6.1.4 Manejo Preventivo Pré e Pós-Treinamento

As principais medidas adotadas no manejo pré-treino (Quadro 6) são: escovação


dos pelos, limpeza dos cascos, colocação das ligas de trabalho, encilhar e trançar a cola. Há
benefícios de adotá-los na rotina de cavalos atletas, assim como consequências se não forem
implantados, descritos no quadro a seguir.

Quadro 6 - Principais medidas adotadas pré-treino, e seus benefícios.


MANEJO CONSEQUÊNCIAS SE
PRÉ- TREINO LOCAL BENEFÍCIOS NÃO REALIZADO

Escovar Todo o animal, - Manter a integridade e - Risco de assar o animal


principalmente região saúde dos pelos e da pele. quando em contato e atrito
dorsal, lombar, - Retirar possíveis ovos de com a sela, barrigueira e ligas.
torácica ventral e parasitos.
membros. - Realizar “grooming”.

Limpeza Sola e ranilha. - Manter a integridade dos - Aumento de umidade e


dos cascos cascos. proliferação de fungos.
- Eliminar possíveis - Risco de perfuração por
sujidades na região. objetos cortantes.

Colocar ligas Metacarpos e - Prevenir lesões tendíneas e Aumenta o risco de:


de trabalho, ou metatarsos. ligamentares durante o - Lesões na região;
caneleiras treino. - Feridas/cortes;
- Desmites, tendinites, ruptura
de tendão, sobreosso.
38

Quartela, talão e - Proteger e amenizar - Lesões na coroa do casco, e


Cloche coroa do casco. impactos. no casco, em virtude da alta
velocidade durante spins.

Joelheira Carpos - Proteger e amenizar - Aumento do risco de


impactos. tendinites e desmites.
Encilhar Dorso, sob a - Manter a saúde e - Aumento da tensão muscular
(corretamente) cernelha. integridade das fáscias toraco-lombar;
musculares do dorso do - Causa de dorsopatias;
animal. - Altera equilíbrio e dinâmica
do animal.
Fonte: Elaborado pela autora, 2022.

Escovar bem toda a superfície dorsal e ventral é importante para retirar qualquer
material de cama, que ao entrar em contato com a sela, barrigueira ou ligas de trabalho,
podem levar a irritação da pele através do suor e atrito. A sela deve ser posicionada na altura e
sob a cernelha, deixando a escápula livre para movimentação, para que consiga avançar com
os membros anteriores e não prejudique o ângulo de passada, e não deve ultrapassar as
ultimas costelas.
Utiliza-se cloches, caneleiras e joelheiras (Figura 15), dependendo do nível de
exigência do treinamento diário. As cloches preservam a integridade do casco, regiões de
talão e pinça. As joelheiras preservam a estrutura de junção entre os carpos e o metacarpo,
jundo da articulação carpal-metacarpal. As caneleiras visam proteger as estruturas de
sustentação, ligamentos e tendões, e os ossos, metacarpos.

Figura 15 – Membro anterior do cavalo com joelheira, caneleira e cloche.


39

Membro anterior do cavalo, pronto para o treinamento. Foto: Arquivo pessoal, 2022.

As ligas (Figura 16) são postas independente do nível de exigência no


treinamento, e fazem a função das caneleiras. As mesmas buscam preservar a integridade
física dos ossos, tendões e ligamentos da região (Figura 17), sendo eles, metacarpos e
metatarsos, tendão flexor digital superficial (TFDS), o tendão flexor digital profundo (TFDP),
e o ligamento suspensório.

Figura 16 – Membro anterior e posterior do cavalo com ligas de trabalho.

Membro anterior e posterior do cavalo, respectivamente. Fonte: Arquivo pessoal, 2022.


Figura 17 – Anatomia do membro anterior do cavalo.
40

Adaptado de: Pereira, 2019.

Existem dois tipos de liga, a de trabalho, mais grossa e firme, para assegurar a pressão
necessária, de material tipo algodão; e a de descanso, mais elástica, maior, mais larga e fina,
de material tipo poliéster. A de trabalho é utilizada apenas durante o treino, e indicada para
prevenir lesões decorrentes do mesmo, qual requer do animal paradas, esbarros, e spins com
cruzamento de membros. A de descanso é indicada para o cavalo que já possui histórico de
lesão, com objetivo de não agravar o caso, ou também como forma preventiva, podendo ser
utilizada por no máximo 12 horas.

No manejo pós-treino (Quadro 7) é realizado as duchas. Além de ajudar na troca de


calor corporal, segundo Noronha (2016) relaxa a musculatura e favorece a recuperação
muscular pós-exercício. Para evitar choque térmico em cavalos quentes (recém-trabalhados),
são iniciadas de baixo para cima. Ou seja, inicia-se nos cascos e membros, reservando alguns
minutos para essa parte, logo após cabeça, pescoço e barriga, e por fim molha-se o dorso e o
lombo, que são as regiões com temperaturas mais altas devido as encilhas. A ducha dura em
cerca de 15 a 20 minutos. Em dias frios, se o banho for realmente necessário lava-se apenas
“por baixo”, nos membros anteriores e posteriores, e nas regiões onde mais suam, peito,
barriga e entre as pernas. Preza por ducha-los nas horas mais quentes do dia, como no inicio
da tarde. O excesso da água é retirada com um rodo de borracha. Evita-se sempre que os
cavalos sejam postos nas cocheiras sem estarem completamente secos, pois isso pode trazer
prejuizos a saúde do animal, como queda da imunidade e desenvolvimento de dermatites.
Quadro 7 - Principal medida adotada pós-treino, e seu benefício.
41

MANEJO CONSEQUÊNCIAS SE
PÓS- TREINO BENEFÍCIO NÃO FOR REALIZADO
Duchas - Retira o suor; - Permanece com os sais
- Elimina sujeiras, terra ou barro; decorrentes do suor;
- Promove relaxamento; - Provocando assaduras em áreas
- Possibilita o resfriamento do animal, e a mais sensíveis;
troca de calor corporal. - Aumenta as chances de infecção
- Água ativa a circulação. fúngica (micoses);
- Alivia dores e evita início de quadros - Animal permanece sujo e com
inflamatórios. pelo opaco.

Fonte: Elaborado pela autora, 2022.

6.2 MANEJO DURANTE COMPETIÇÕES EQUESTRES

Durante as competições os cavalos recebiam a mesma quantidade de ração que no


CTC, 3x ao dia, e volumoso fresco a vontade, qual era cortado na propriedade e carregado em
sacos para as competições. O manejo visa suprir a demanda energética dos cavalos atletas e
evitar fugir da rotina alimentar que estão acostumados. Segundo Cintra (2014), como durante
competições o animal fica o dia inteiro disponível, ou seja, treina varias vezes e é comum
entrar em pista mais de uma vez, para promover efeito de relaxamento mental e tranquilização
é indicado deixá-los com volumoso à vontade.
A água é fornecida em baldes, diretamente de alguma fonte de água limpa, como
torneiras. Não utilizamos a água compartilhada disponibilizada, por precaução e prevenção à
possíveis doenças transmitídas indiretamente, como mormo, garrotilho, ou influenza equina.
A logística de pré e pós-treinamento foi realizada como no CTC, tanto para treinos quanto
para preparar para a competição.
O manejo de garanhões, que por vezes possuem comportamentos mais aversivos e
perigosos quando comparado a fêmeas, foi evitar colocá-los próximos a outros, pois como são
animais dominantes acabam por querer disputar o território. Assim como, evitar colocá-los
próximos a fêmeas, pois ficam mais agitados e ansiosos. O manejo visa evitar possíveis riscos
a saúde dos animais.
42

6.3 REFORÇO POSITIVO E NEGATIVO NA APRENDIZAGEM EQUINA

Cavalos são seres extremamente inteligentes e aprendem muito rápido, tanto coisas
positivas quanto negativas. Reforço positivo (R+) e negativo (R-) é à base do aprendizado,
este alcançado após a recompensa (R+), que por vezes se dá através do descanso ou do alivio
da pressão. Isso que requer muita sensibilidade da pessoa, pois assim como aprendem o
correto, podem aprender o errado, e entender que o comportamento aversivo é o certo. Já a
punição (R-) seria impor a pressão mínima como forma de dizer quem da relação domina, e
que o comportamento aversivo não é o certo. Nunca é realizado de maneira agressiva a ponto
de causar mais medo e aversão, e sim como forma de mostrar a eles que na verdade não há
perigo algum, no momento que o comportamento aversivo parar, a pressão para. A pressão,
exercida do chão principalmente, pode ser através do balançar de cabresto gerando um
desconforto, com intuito que o cavalo se mova para trás e não pense em continuar fazendo o
que estava a fazer. Ou até mesmo na colocação de um spray para insetos, é normal o cavalo se
assustar e ficar andando em círculos, o reforço negativo seria continuar com a pressão, ou
seja, continuar segurando o cabresto e colocando o spray de forma tranquila, deixando que ele
se movimente e exerça seu comportamento natural de fuga. Quando ele se der conta de que
aquilo não é uma ameaça vai começar a ganhar confiança, após isso ele vai permanecendo
mais calmo e para de se locomover/fugir, este é o momento certo de aplicar o reforço positivo
e aliviar a pressão, parando de pressionar o spray.

6.4 TÉCNICA INTEGRATIVA PREVENTIVA: ACUPUNTURA

A acupuntura é uma técnica milenar chinesa que passou a ser estudada em cavalos
durante as guerras. Do latim acus, agulha, e pungere, espetar, têm como objetivo perfurar a
pele em determinados pontos (acupuntos) com agulhas para prevenir e tratar diversos tipos de
doenças: cardiovasculares, respiratórias, reprodutivas, locomotoras, musculoesqueléticas, até
imunológicas (ANGELI et al., 2007; ROSS, 1994; YAO, 2007).
Um conceito dentro da medicina tradicional chinesa (MTC) é que todo organismo
possui canais específicos, ou meridianos (Figura 18), responsáveis por fazer a comunicação
entre órgãos e extremidades, por onde a energia flui, podendo estar em equilíbrio ou
estagnada. A acupuntura está associada à liberação de endorfinas e serotoninas, e age
diretamente na inibição da transmissão nociceptiva ao sistema nervoso, exercendo liberação
de mediadores de processos inflamatórios. Por consequência gera diminuição da dor e da
43

ansiedade, produz um estado de relaxamento, regula as funções fisiológicas, estabelecendo


assim o equilíbrio e a homeostase do organismo (MACIOCIA, 2007; PELHAM; HOLT;
STALKER, 2001).
Um problema comum entre os cavalos de esporte são a queda do desempenho devido
dores lombares crônicas (ALVES et al., 2007; ANGELI et al., 2007; BROSTER et al., 2009;
CHAN et al., 2001; MIKAIL, 2009). A acupuntura demonstra ser efetiva para tratamento de
lesões musculares (XIE & LIU, 1997; CHAN et al., 2001). Estudos provam a eficácia da
técnica através do melhoramento de desempenho de cavalos após 10 sessões (MARTIN &
KLIDE, 1987; KLIDE & MARTIN, 1989; XIE & LIU, 1997). E segundo Angeli et al (2007)
& Harman (1997; 2001), cerca de um a quatro tratamentos com acupuntura, combinada com
casqueamento e encilhamento correto, foi suficiente para melhorar o desempenho de cerca de
85 a 90% de cavalos tratados.
Para tonificar a energia e buscar a homeostase do organismo de cavalos com
problemas agudos ou crônicos em região dorso-lombar, muitas vezes relacionadas a sela, é
realizada aplicação da acupuntura entre os pontos T2 ao T10 (Figura 19), no ângulo de 90º
(KLIDE & KUNG, 1993; CASASOLA, 1999).

Figura 18 – Pontos de acupuntura em equinos.

Acupontos em cavalos. Fonte: Klide & Kung, 1993.


44

No estágio foi realizada aplicação de acupuntura, em região média dorsal (Figura 19 e


20), nos cavalos que participam de competições equestres da modalidade de rédeas.

Figura 19 – Acupontos utilizados nos cavalos do estágio.

Pontos T2, T5, T6 e T7 utilizados nos cavalos, ambos lados. Fonte: Adaptado de Klide & Kung, 1993.

As aplicações foram realizadas semanalmente, e 48hrs pré-prova, que segundo


Maciocia (2007), é o indicado para que o organismo não esteja mais em estado total de
relaxamento. Os objetivos das aplicações de acupuntura visaram prevenir lesões musculares
relacionadas à parte dorsal e lombar dos cavalos, assim como para produzir relaxamento e
diminuir a dor se houvesse alguma micro lesão na musculatura dorsal.

Figura 20 – Aplicação de acupuntura em linha média dorsal de cavalos.

Cavalos recebendo acupuntura preventiva pré-competição. Fonte: Autora do trabalho, 2022.


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7 CONCLUSÃO

O estágio supervisionado curricular obrigatório visa agregar e unir os


conhecimentos acadêmicos aos desafios da rotina prática do dia-a-dia, e a realidade de quem
lida e realiza o manejo de cavalos atletas. O mesmo foi realizado no Município de Porto
Alegre/RS, no Centro de Treinamento Canaã. E teve como objetivo vivenciar a rotina do MV,
treinador e domador de cavalos, juiz e competidor da modalidade de Rédeas Fabrício Suris da
Silveira, assim como aprender o manejo dos cavalos atletas, seja nutricional, sanitário,
preventivo; compreender o funcionamento do CT; praticar medidas preventivas que devem
ser adotados na rotina dos animais, visando à saúde física e mental da espécie. A prática
vivenciada ao decorrer do período de estágio são aprendizados importantes que contribuíram
para meu desenvolvimento e crescimento como profissional, e irão refletir positivamente não
só na minha futura trajetória como médica veterinária de equinos, como também na maneira
de enxergá-los, compreende-los e manejá-los.
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8 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O estágio supervisionado curricular obrigatório foi muito importante para meu


desenvolvimento pessoal e profissional, unindo os conhecimentos teóricos adquiridos ao
longo da graduação com a rotina prática sobre manejo de cavalos atletas, visando à saúde
física e melhor desempenho em competições.
Esse período foi de suma importância para identificar erros que cometia na lida
com eqüinos. Possibilitar o desenvolvimento de um olhar atento e mais crítico em relação ao
manejo e comportamento de cavalos atletas. Obter uma relação positiva, correta e mais
profissional, em relação ao contato entre o ser humano e o animal, e para com os manejos
com a espécie, seja nutricional, sanitário ou preventivo. Tendo como foco aumentar o
desempenho físico e atlético dos cavalos, visando a saúde física, mental e o bem-estar.
Acompanhar a rotina de um M.V com 20 anos de experiência, as adversidades
enfrentadas pelo profissional e pela empresa, assim como fazer parte de relações que
requerem cooperação e participação, foram preparativos importantíssimos para uma futura
inserção no mercado de trabalho.
47

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