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1. O que é o CADE?

O Conselho Administrativo de Defesa Econômica - CADE, criado em 1962 e transformado, em 1994, em


Autarquia vinculada ao Ministério da Justiça, tem suas atribuições previstas na Lei nº 8.884, de 11 de junho de
1994. Ele tem a finalidade de orientar, fiscalizar, prevenir e apurar abusos de poder econômico, exercendo
papel tutelador da prevenção e repressão do mesmo.

4. A que corresponde o papel repressivo do CADE?


O papel repressivo corresponde à análise das condutas anticoncorrenciais. Essas condutas anticoncorrenciais
estão previstas nos artigos 20 e seguintes da Lei nº 8.884/94 e na Resolução 20 do CADE, de forma mais
detalhada e didática. Neste caso, o CADE tem o papel de reprimir práticas infrativas à ordem econômica, tais
como: cartéis, vendas casadas, preços predatórios, acordos de exclusividade, dentre outras.
É importante ressaltar que a existência de estruturas concentradas de mercado (monopólios, oligopólios), em
si, não é ilegal do ponto de vista antitruste. O que ocorre é que nestes há maior probabilidade de exercício de
poder de mercado e, portanto, maior a ameaça potencial de condutas anticoncorrenciais. Tais mercados
devem ser mais atentamente monitorados pelos órgãos responsáveis pela preservação da livre concorrência,
sejam eles regulados ou não.

III) AS INFRAÇÕES DA ORDEM ECONÔMICA

A repressão ao abuso do poder econômico encontra-se prevista no art. 173, §4º, da Constituição Federal,
regulamentado pela Lei 8.884/94.

A infração à ordem econômica se revela em função do resultado potencial ou efetivo em prejuízo à livre
concorrência, que importe em “dominação de mercados, eliminação da concorrência e aumento arbitrário dos lucros” nos
termos daquele dispositivo constitucional.

Esse trinômio vem reproduzido no art. 20 da Lei 8.884/94, que acrescenta “abuso de posição dominante”.
Na verdade, dominação de mercados e abuso de posição dominante se confundem, na medida em que somente estão
configurados enquanto afetarem a livre concorrência.

Com efeito, posição dominante se consubstancia quando do controle de “parcela substancial de mercado
relevante” (§2º do Art. 20, Lei 8.884/94), pelo comportamento do agente econômico que possa influenciar o mercado, em
termos de preço, de oferta ou do comportamento dos demais agentes concorrentes, sem que estes exerçam, em
contrapartida, pressão sobre aquele, que age com independência e autonomia. Porém, não há que se confundir posição
dominante com abuso de posição dominante.

Neste tocante, trazemos a opinião da Profª Paula A. Forgioni 1 em excelente monografia acerca da
configuração de posição dominante:

1
FORGIONI, Paula A. “POSIÇÃO DOMINANTE E SEU ABUSO”, in Revista de Direito Econômico nº 26,
Brasília: Setembro/Dezembro de 1997. Editada pelo CADE, págs. 111/112.
“Já se disse há muito que, no Brasil, não se pune a posição dominante em si 2.
Efetivamente, nos termos do art. 20, § 1º, da Lei n. 8.884, de 1994 3, a posição dominante resultante de
processo natural fundado na maior eficiência de agente econômico em relação a seus competidores não
caracteriza o ilícito previsto no inc. II do caput do mesmo dispositivo4. Consagra-se assim, como não
poderia deixar de ser, a vantagem competitiva (competitive advantage) do agente econômico: se há maior
eficiência, nada se deve punir5.”

Não se confunde, portanto, com a hipótese de eliminação dos concorrentes por processo natural, segundo
possa-se revelar a empresa mais capacitada e eficiente na conquista dos consumidores.

2
Ou seja, apenas o abuso (e não o uso) da posição dominante é vedado. Outra interpretação seria
inconstitucional, tendo em vista o disposto no art. 170 da Constituição da República. Ainda comentando os
dispositivos da Constituição Federal de 1967, com a redação dada pela Emenda de 1969, esclarece Miguel
Reale: “Dessarte, todo abuso de poder econômico redunda, no mais das vezes, em desvio de poder econômico,
pois o poder econômico, em si mesmo, não é ilícito, enquanto instrumento normal ou natural de produção e
circulação de riquezas numa sociedade, como a nossa, regida por normas constitucionais que consagram a
‘liberdade de iniciativa’, a ‘função social da propriedade’ a ‘harmonia e solidariedade entre as categorias sociais
de produção’ e a ‘expansão das oportunidades de emprego’ ” (“Abuso do poder econômico e garantias
individuais”, in José Inácio Gonzaga Franceschini e José Luiz Vicente de Azevedo Franceschini, Poder
econômico: exercício e abuso, cit., p. 521). A doutrina é uníssona a esse respeito. Vale, apenas a título de
complementação, a transcrição de parte do voto da Conselheira Relatora Neide Terezinha Malard, no caso Fiat x
Transauto: “Diga-se, porém, que o princípio da livre concorrência não conduz à antijuridicidade do poder
econômico. O sistema adotado pelo texto constitucional não é o da per se condemnationen, mas o da regra da
razão, o que vale dizer que o poder econômico só pode ser reprimido quando orientado à dominação do mercado
ou quando atua de forma lesiva à concorrência” (Revista do Ibrac, v. 2, n. 1, p. 82).
3
Art. 20 - Constituem infração da ordem econômica, independentemente de culpa, os atos sob qualquer forma
manifestados, que tenham por objeto ou possam produzir os seguintes efeitos, ainda que não sejam alcançados:
I - limitar, falsear ou de qualquer forma prejudicar a livre concorrência ou a livre iniciativa;
II - dominar mercado relevante de bens ou serviços;
III - aumentar arbitrariamente os lucros;
IV - exercer de forma abusiva posição dominante.
§ 1 - A conquista de mercado resultante de processo natural fundado na maior eficiência de agente econômico
em relação a seus competidores não caracteriza o ilícito previsto no inciso II.
§ 2 - Ocorre posição dominante quando uma empresa ou grupo de empresas controla parcela substancial de
mercado relevante, como fornecedor, intermediário, adquirente ou financiador de um produto, serviço ou
tecnologia a ele relativa.
§ 3 - A posição dominante a que se refere o parágrafo anterior é presumida quando a empresa ou grupo
de empresas controla 20% (vinte por cento) de mercado relevante, podendo este percentual ser alterado
pelo CADE para setores específicos da economia.
* § 3 com redação dada pela Lei nº 9.069, de 29/06/1995 (DOU de 30/06/1995, em vigor desde a publicação).
4
A contrario sensu, há de se considerar ilícita a concorrência oferecida por agente econômico que não
conquistou seu poder de mercado com base em uma vantagem competitiva. É o que ocorre nos casos em que um
concorrente oferece preço inferior ao de mercado porque deixou de pagar os impostos e contribuições devidos.
5
Os autores de língua inglesa costumam utilizar a expressão “anticompetitive advantages” para os casos em que
o agente econômico conquista (ou tenta consquistar) parcela de mercado utilizando-se de um meio
“fraudulento”, porque não embasado apenas na sua superioridade. Por exemplo, a prática da Microsoft de
divulgar falsos pré-lançamentos de produtos, bem como de criar, propositadamente, incompatibilidades entre os
produtos que fabrica e aqueles de concorrentes teriam dado origem a “anticompetitive advantages”, ou
Em outras palavras, a mera posição dominante não é punida por si só, porém, apenas, quando haja
prejuízo à livre concorrência, de maneira que nem sempre o elevado percentual do mercado (Market Share) configura
posição dominante para efeito de caracterizar a infração, sendo que o percentual de 20% (§3º do Art. 20, Lei 8.884/94),
indica mera presunção relativa a esse respeito, admitindo-se, pois, prova em contrário, de que não ter sido atingida a livre
concorrência.

Assim, nem sempre toda restrição à livre concorrência significa domínio de mercado ou abuso de posição
dominante, mas, em contraposição, inexiste um ou outro sem que haja restrição à livre concorrência.

No que se refere ao aumento arbitrário do lucro, não há qualquer referência a eventual posição
dominante, até porque o lucro é fator atrativo, portanto, não inibe, em princípio, a livre concorrência, daí porque o inciso
III, do art. 20 da Lei 8.884/94 estaria a tutelar o consumidor, antes, de que propriamente em defesa da livre concorrência.

Essa interpretação não é tranqüila, valendo citar, por outro lado, as lições de Fábio Ulhôa Coelho:

“Pressupõe-se que as práticas empresariais que implicam lucros sem justificação dessa ordem são
arbitrários porque podem chegar a comprometer as estruturas do livre mercado. Por essa razão, tais condutas são refutadas
inconstitucionais.”6

A questão tem relevância para fins de se considerar ocorrida a infração pelo aumento arbitrário dos
lucros, tão-somente, ou, desde que se verifique a eliminação da livre concorrência, não havendo uniformidade nem mesmo
no âmbito do CADE, conforme se infere das seguintes decisões:

“AUMENTO ABUSIVO DE PREÇOS- PRETENDIDA INFRAÇÃO


PER SE – REJEIÇÃO.

O aumento abusivo de preços não é senão um sintoma de uma prática


restritiva da concorrência. Não cabe ao CADE punir o aumento abusivo em si, senão
quando representa um abuso de posição dominante, o resultado de conluio ou outra
forma de conduta antijurídica.”7

“COMPETÊNCIA – AUMENTO ABUSIVO DE PREÇOS


PÚBLICOS – TARIFA DE TRANSPORTE PÚBLICO FIXADA POR
MUNICIPALIDADE – COMPETÊNCIA DO CADE RECONHECIDA.

A Lei 8.884/94 confere ao CADE competência para conhecer e julgar


não apenas de matéria ligada à concorrência. Assim, tem o Conselho competência para
apreciar eventual abusividade de aumento de preços públicos e de tarifas de serviços
públicos.”8

Em que pese esta última opinião proferida, adotamos o posicionamento segundo o qual refuga a
competência do CADE em hipóteses envolvendo matérias relacionadas a aumento de tarifas e preços públicos, sobretudo,

vantagens não competitivas (cf. “United States v. Microsoft Corporation Civ. N. 94-1564 (SS) (D.D.C.);
Response of the United States to Public Comments Concerning the Proposed Final Judgment and Notice of
Hearing”, Federal Registrer, v. 59, n. 221, 17-11-1994, p. 426).
6
COELHO, Fábio Ulhôa – “DIREITO ANTITRUSTE BRASILEIRO. Comentários à Lei 8.884/94”. São Paulo,
Editora Saraiva, 1995.
7
FRANCESCHINI, José Inácio Gonzaga – “LEI DA CONCORRÊNCIA CONFORME INTERPRETADA
PELO CADE”. São Paulo: Editora Singular, 1998.
8
CADE - Averiguação Preliminar nº 08000.011794/94-75, de 16 de fevereiro de 1996, Relator Conselheiro
Edgard Lincon de Proença Rosa, representante: Departamento de Produção e Defesa Econômica – DPDE,
representado: Município do Rio de Janeiro, DOU de 11.03.96, conforme consulta realizada no site
http://www.cade.gov.br, em 10/03/2001.
porque citado como referência o contrato de concessão de serviço de transporte de determinada municipalidade, regido por
regulamento próprio (Lei 8.666/93), que prevê prévio certame licitatório. Este ponto será abordado de forma mais
aprofundada em capítulo próprio dada a sua relevância e os seus diversos aspectos decorrentes.

Ressalte-se que a Lei 8.884/94 pune segundo os efeitos que certa conduta possa produzir ou produza
efetivamente, independentemente do elemento subjetivo. Em seguida, prevê, exemplificativamente, fatos que somente
configuram infração enquanto subsumidos em um dos incisos do art. 21 da Lei 8.884/94.

De todo modo, o enquadramento de qualquer conduta às hipóteses tipificadas depende da delimitação


prévia do “mercado relevante”.

IV) A ATUAÇÃO DO CADE

A defesa da concorrência permite a atuação preventiva das autoridades antitruste sobre as estruturas do
mercado (grau de concentração) - nos moldes do Art. 54 da Lei 8.884/94 – e repressiva sobre as condutas de mercado
(quando já ocorrida a infração).

Releva destacar o papel do CADE – Conselho Administrativo de Defesa Econômica, que a Lei 8.884/94
elevou a autarquia federal, com atribuição para decidir sobre a prática de infração da ordem econômica e aplicar
penalidade, além de apreciar atos de concentração econômica, aprovando-os ou não.

A Lei 8.884/94 prevê, em seu Art. 53, o chamado compromisso de cessação, sem implicar na confissão
quanto à matéria de fato, podendo ser celebrado em qualquer fase do processo administrativo, livrando o agente da
aplicação da penalidade.

No comentário de Carla Lobão Barroso de Souza, 9 “o compromisso de cessação é um instrumento de


composição de conflitos concorrenciais, conferindo a lei que o adotou, além de uma orientação repressiva do abuso do poder
econômico, uma posição de proteção à concorrência, revelando que a concorrência efetiva e prontamente restaurada é tão
importante para o mercado quanto à repressão, uma vez que a cessação espontânea traz benefícios imediatos para o mercado.
O objetivo desse instrumento é a imediata restauração da concorrência”.

Na vertente da atuação preventiva, celebra-se o compromisso de desempenho (Art. 58), que permite o
controle sobre o cumprimento das condições previstas no §1º do Art. 54. Além disso, a aprovação pelo CADE do ato pode
ficar condicionada ao atendimento de outras condições especificadas no termo de desempenho. A principal vantagem desse
dispositivo é formalizar a monitoração e a cobrança dos resultados efetivos dos alegados ganhos de eficiência, sob pena do
seu descumprimento injustificado levar à revogação da autorização dada pelo CADE.

Emerge, portanto, o instituto do Compromisso de Desempenho, não só da necessidade de garantia da


realização de eficiências para a compensação da redução do grau de concorrência do mercado, mas também, em
contrapartida, da necessidade de assegurar-se às empresas requerentes a eficácia do ato apresentado ao exame do CADE.
Assim, a autorização daqueles atos potencialmente prejudiciais à concorrência, fica condicionada à assinatura de um termo,
pelo qual assegurar-se-á ao mercado e à coletividade a obtenção de benefícios compensatórios, e aos requerentes, por outro
lado, a segurança de uma decisão emanada da autoridade competente, sem a qual a operação pretendida, como já dito
acima, não logrará eficácia jurídica.

Assim, caberá ao CADE sempre - na impossibilidade da regra do Art. 54 da Lei 8.884/94 antecipar-se à
dinâmica dos fatos econômicos, singulares e específicos no contexto de cada mercado - a tarefa de aplicar a lei aos casos
9
BARROSO DE SOUZA, Carla Lobão in Estudo da Evolução da Legislação Brasileira de Defesa da
Concorrência, apud KLAJMIC, MAGALI. “POLÍTICA LEGAL DA CONCORRÊNCIA”, in Revista de Direito
Econômico nº 27, Brasília: Janeiro/Julho de 1998. Editada pelo CADE, págs.84.
concretos, traduzindo o significado dos conceitos fluidos constantes do seu texto de forma a melhor atender ao fim nela
contido.

É importante assinalar que as cláusulas do Termo de Compromisso devem ser factíveis e objetivas, não
podendo ultrapassar o limite necessário para o alcance das eficiências e da preservação dos níveis de concorrência no
mercado relevante. De outra forma, a ação das autoridades de defesa da concorrência assumiria um caráter regulatório,
intervencionista, sobre as empresas, o que vem a contrapor-se ao espírito da Lei.

Acresce dizer, também, que as razões que justificam a aprovação de um ato potencialmente ou
efetivamente danoso à concorrência e, por isso, condicionado ao Compromisso de Desempenho, devem identificar não só
o dano a ser compensado, mas também os pontos básicos a serem contemplados nas negociações como forma de facilitar a
definição das metas. A delimitação do campo de atuação contribuirá para maior segurança do processo, diminuindo o
interregno entre a decisão do Colegiado e a efetivação do acordo. Aceleram-se os trâmites processuais, abreviando-se a fase
de negociação.

Embora a Lei 8.884/94 defina-o como “órgão judicante”, suas decisões constituem atos administrativos,
porquanto desprovidos do caráter de definitividade, podendo ser revistos pelo Poder Judiciário, de que não faz parte, sendo
órgão do Poder Executivo. Entenda-se, pois, a expressão ligada à noção de contencioso administrativo.

A Secretaria de Direito Econômico – SDE/MJ, órgão desprovido de personalidade jurídica própria,


vinculado ao Ministério da Justiça, tem atribuição, especialmente, para instaurar e instruir os processos administrativos
visando reprimir as práticas anticoncorrenciais.

Ligado ao Ministério da Fazenda, a Secretaria de Acompanhamento Econômico – SEAE/MF tem


atribuição para emitir pareceres técnicos sobre aspectos econômicos referentes às práticas restritivas da livre concorrência.

Nos termos do Art. 10 da Lei 9021/95, permite-se que a SEAE/MF, diante da verificação de aumento
injustificado de preços ou imposição de preço excessivo, convoque a empresa para esclarecimento, sob pena de incidir em
multa no caso de demora das informações, assim como a possibilidade de investigar formação de cartel e concentração
econômica. Estando caracterizada prática abusiva, a SEAE/MF representa à SDE/MJ para instauração de processo
administrativo.

Junto ao CADE funciona uma Procuradoria com atribuições elencadas no Art. 10, enquanto que a atuação
do Ministério Público Federal está prevista no Art. 12 da Lei 8.884/94.

A responsabilidade pela conduta infracionária estende-se de forma solidária (Art. 17, Lei nº 8.884/94),
podendo mesmo haver a desconsideração da personalidade jurídica (Art. 18). Além disso, a Lei 8884/94 aplica-se a
qualquer ente, público ou privado.

Urge salientar que o Art. 18 praticamente reproduz o caput do Art. 28 do Código de Defesa do
Consumidor. Ocultando-se atrás da personalidade jurídica de uma sociedade, associação ou fundação, por vezes, pode o
devedor frustrar a efetivação de sua responsabilidade ou, de qualquer forma, lesar interesses legítimos do credor. A fraude
perpetrada com o uso da autonomia patrimonial de Pessoa Jurídica, em geral, resulta em imputar-lhe responsabilidade de
um ato ou de atos praticados em seu nome como o objetivo de ocultar uma ilicitude.

De acordo com a formulação mais corrente 10 da Teoria da Desconsideração 11, o Poder Judiciário fica autorizado a ignorar a
existência da Pessoa Jurídica sempre que a sua autonomia for utilizada para a realização de fraude ou abuso de direito, mas
não havendo invalidação ou dissolução da sociedade. Desse modo, o responsável pelo mau uso da personalidade jurídica da
entidade fica comprometido, sem que se confunda com as hipóteses legais de responsabilidade pessoal no caso de abuso ou
excesso de poder e infração ao estatuto ou à lei.

TÍTULO V
10
COELHO, Fábio Ulhôa. “CURSO DE DIREITO COMERCIAL.” São Paulo: Saraiva, 1ª Edição.1998.
11
Também conhecida como Teoria da Superação, Teoria da Penetração, Disregard of Legal EntityI (EUA) e
Lifting the veil (Inglaterra).
Das Infrações da Ordem Econômica
CAPÍTULO I
Das Disposições Gerais
Art. 15. Esta lei aplica-se às pessoas físicas ou jurídicas de direito público ou privado, bem como a quaisquer
associações de entidades ou pessoas, constituídas de fato ou de direito, ainda que temporariamente, com ou
sem personalidade jurídica, mesmo que exerçam atividade sob regime de monopólio legal.
Art. 16. As diversas formas de infração da ordem econômica implicam a responsabilidade da empresa e a
responsabilidade individual de seus dirigentes ou administradores, solidariamente.
Art. 17. Serão solidariamente responsáveis as empresas ou entidades integrantes de grupo econômico, de fato
ou de direito, que praticarem infração da ordem econômica.
Art. 18. A personalidade jurídica do responsável por infração da ordem econômica poderá ser desconsiderada
quando houver da parte deste abuso de direito, excesso de poder, infração da lei, fato ou ato ilícito ou violação
dos estatutos ou contrato social. A desconsideração também será efetivada quando houver falência, estado de
insolvência, encerramento ou inatividade da pessoa jurídica provocados por má administração.
Art. 19. A repressão das infrações da ordem econômica não exclui a punição de outros ilícitos previstos em lei.
CAPÍTULO II
Das Infrações
Art. 20. Constituem infração da ordem econômica, independentemente de culpa, os atos sob qualquer forma
manifestados, que tenham por objeto ou possam produzir os seguintes efeitos, ainda que não sejam
alcançados:
I - limitar, falsear ou de qualquer forma prejudicar a livre concorrência ou a livre iniciativa;
II - dominar mercado relevante de bens ou serviços;
III - aumentar arbitrariamente os lucros;
IV - exercer de forma abusiva posição dominante.
§ 1º A conquista de mercado resultante de processo natural fundado na maior eficiência de agente econômico
em relação a seus competidores não caracteriza o ilícito previsto no inciso II.
§ 2º Ocorre posição dominante quando uma empresa ou grupo de empresas controla parcela substancial de
mercado relevante, como fornecedor, intermediário, adquirente ou financiador de um produto, serviço ou
tecnologia a ele relativa.
§ 3º A posição dominante a que se refere o parágrafo anterior é presumida quando a empresa ou grupo de
empresas controla 20% (vinte por cento) de mercado relevante, podendo este percentual ser alterado pelo
Cade para setores específicos da economia.(Redação dada pela Lei nº 9.069, de 29.6.95)
Art. 21. As seguintes condutas, além de outras, na medida em que configurem hipótese prevista no art. 20 e
seus incisos, caracterizam infração da ordem econômica;
I - fixar ou praticar, em acordo com concorrente, sob qualquer forma, preços e condições de venda de bens ou
de prestação de serviços;
II - obter ou influenciar a adoção de conduta comercial uniforme ou concertada entre concorrentes;
III - dividir os mercados de serviços ou produtos, acabados ou semi-acabados, ou as fontes de abastecimento
de matérias-primas ou produtos intermediários;
IV - limitar ou impedir o acesso de novas empresas ao mercado;
V - criar dificuldades à constituição, ao funcionamento ou ao desenvolvimento de empresa concorrente ou de
fornecedor, adquirente ou financiador de bens ou serviços;
VI - impedir o acesso de concorrente às fontes de insumo, matérias-primas, equipamentos ou tecnologia, bem
como aos canais de distribuição;
VII - exigir ou conceder exclusividade para divulgação de publicidade nos meios de comunicação de massa;
VIII - combinar previamente preços ou ajustar vantagens na concorrência pública ou administrativa;
IX - utilizar meios enganosos para provocar a oscilação de preços de terceiros;
X - regular mercados de bens ou serviços, estabelecendo acordos para limitar ou controlar a pesquisa e o
desenvolvimento tecnológico, a produção de bens ou prestação de serviços, ou para dificultar investimentos
destinados à produção de bens ou serviços ou à sua distribuição;
XI - impor, no comércio de bens ou serviços, a distribuidores, varejistas e representantes, preços de revenda,
descontos, condições de pagamento, quantidades mínimas ou máximas, margem de lucro ou quaisquer outras
condições de comercialização relativos a negócios destes com terceiros;
XII - discriminar adquirentes ou fornecedores de bens ou serviços por meio da fixação diferenciada de preços,
ou de condições operacionais de venda ou prestação de serviços;
XIII - recusar a venda de bens ou a prestação de serviços, dentro das condições de pagamento normais aos
usos e costumes comerciais;
XIV - dificultar ou romper a continuidade ou desenvolvimento de relações comerciais de prazo indeterminado
em razão de recusa da outra parte em submeter-se a cláusulas e condições comerciais injustificáveis ou
anticoncorrenciais;
XV - destruir, inutilizar ou açambarcar matérias-primas, produtos intermediários ou acabados, assim como
destruir, inutilizar ou dificultar a operação de equipamentos destinados a produzi-los, distribuí-los ou transportá-
los;
XVI - açambarcar ou impedir a exploração de direitos de propriedade industrial ou intelectual ou de tecnologia;
XVII - abandonar, fazer abandonar ou destruir lavouras ou plantações, sem justa causa comprovada;
XVIII - vender injustificadamente mercadoria abaixo do preço de custo;
XIX - importar quaisquer bens abaixo do custo no país exportador, que não seja signatário dos códigos
Antidumping e de subsídios do Gatt;
XX - interromper ou reduzir em grande escala a produção, sem justa causa comprovada;
XXI - cessar parcial ou totalmente as atividades da empresa sem justa causa comprovada;
XXII - reter bens de produção ou de consumo, exceto para garantir a cobertura dos custos de produção;
XXIII - subordinar a venda de um bem à aquisição de outro ou à utilização de um serviço, ou subordinar a
prestação de um serviço à utilização de outro ou à aquisição de um bem;
XXIV - impor preços excessivos, ou aumentar sem justa causa o preço de bem ou serviço.
Parágrafo único. Na caracterização da imposição de preços excessivos ou do aumento injustificado de preços,
além de outras circunstâncias econômicas e mercadológicas relevantes, considerar-se-á:
I - o preço do produto ou serviço, ou sua elevação, não justificados pelo comportamento do custo dos
respectivos insumos, ou pela introdução de melhorias de qualidade;
II - o preço de produto anteriormente produzido, quando se tratar de sucedâneo resultante de alterações não
substanciais;
III - o preço de produtos e serviços similares, ou sua evolução, em mercados competitivos comparáveis;
IV - a existência de ajuste ou acordo, sob qualquer forma, que resulte em majoração do preço de bem ou
serviço ou dos respectivos custos.
Art. 22. (Vetado).
Parágrafo único. (Vetado).
CAPÍTULO III
Das Penas
Art. 23. A prática de infração da ordem econômica sujeita os responsáveis às seguintes penas:
I - no caso de empresa, multa de um a trinta por cento do valor do faturamento bruto no seu último exercício,
excluídos os impostos, a qual nunca será inferior à vantagem auferida, quando quantificável;
II - no caso de administrador, direta ou indiretamente responsável pela infração cometida por empresa, multa
de dez a cinqüenta por cento do valor daquela aplicável à empresa, de responsabilidade pessoal e exclusiva ao
administrador.
III - No caso das demais pessoas físicas ou jurídicas de direito público ou privado, bem como quaisquer
associações de entidades ou pessoas constituídas de fato ou de direito, ainda que temporariamente, com ou
sem personalidade jurídica, que não exerçam atividade empresarial, não sendo possível utilizar-se o critério do
valor do faturamento bruto, a multa será de 6.000 (seis mil) a 6.000.000 (seis milhões) de Unidades Fiscais de
Referência (Ufir), ou padrão superveniente.(Incluído pela Lei nº 9.069, de 29.6.95)
Parágrafo único. Em caso de reincidência, as multas cominadas serão aplicadas em dobro.
Art. 24. Sem prejuízo das penas cominadas no artigo anterior, quando assim o exigir a gravidade dos fatos ou o
interesse público geral, poderão ser impostas as seguintes penas, isolada ou cumulativamente:
I - a publicação, em meia página e às expensas do infrator, em jornal indicado na decisão, de extrato da
decisão condenatória, por dois dias seguidos, de uma a três semanas consecutivas;
II - a proibição de contratar com instituições financeiras oficiais e participar de licitação tendo por objeto
aquisições, alienações, realização de obras e serviços, concessão de serviços públicos, junto à Administração
Pública Federal, Estadual, Municipal e do Distrito Federal, bem como entidades da administração indireta, por
prazo não inferior a cinco anos;
III - a inscrição do infrator no Cadastro Nacional de Defesa do Consumidor;
IV - a recomendação aos órgãos públicos competentes para que:
a) seja concedida licença compulsória de patentes de titularidade do infrator;
b) não seja concedido ao infrator parcelamento de tributos federais por ele devidos ou para que sejam
cancelados, no todo ou em parte, incentivos fiscais ou subsídios públicos;
V - a cisão de sociedade, transferência de controle societário, venda de ativos, cessação parcial de atividade,
ou qualquer outro ato ou providência necessários para a eliminação dos efeitos nocivos à ordem econômica.

Art. 60. A decisão do Plenário do Cade, cominando multa ou impondo obrigação de fazer ou não fazer, constitui
título executivo extrajudicial.

TÍTULO III
Do Ministério Público Federal Perante o Cade
Art. 12. O Procurador-Geral da República, ouvido o Conselho Superior, designará membro do Ministério
Público Federal para, nesta qualidade, oficiar nos processos sujeitos à apreciação do Cade.
Parágrafo único. O Cade poderá requerer ao Ministério Público Federal que promova a execução de seus
julgados ou do compromisso de cessação, bem como a adoção de medidas judiciais, no exercício da atribuição
estabelecida pela alínea b do inciso XIV do art. 6º da Lei Complementar nº 75, de 20 de maio de 1993.

Da Secretaria de Direito Econômico


Art. 13. A Secretaria de Direito Econômico do Ministério da Justiça (SDE), com a estrutura que lhe confere a lei,
será dirigida por um Secretário, indicado pelo Ministro de Estado de Justiça, dentre brasileiros de notório saber
jurídico ou econômico e ilibada reputação, nomeado pelo Presidente da República.
Art. 14. Compete à SDE:
I - zelar pelo cumprimento desta lei, monitorando e acompanhando as práticas de mercado;
II - acompanhar, permanentemente, as atividades e práticas comerciais de pessoas físicas ou jurídicas que
detiverem posição dominante em mercado relevante de bens ou serviços, para prevenir infrações da ordem
econômica, podendo, para tanto, requisitar as informações e documentos necessários, mantendo o sigilo legal,
quando for o caso;
III - proceder, em face de indícios de infração da ordem econômica, a averiguações preliminares para
instauração de processo administrativo;
IV - decidir pela insubsistência dos indícios, arquivando os autos das averiguações preliminares;
V - requisitar informações de quaisquer pessoas, órgãos, autoridades e entidades públicas ou privadas,
mantendo o sigilo legal quando for o caso, bem como determinar as diligências que se fizerem necessárias ao
exercício das suas funções;
VI - instaurar processo administrativo para apuração e repressão de infrações da ordem econômica;
VII - recorrer de ofício ao Cade, quando decidir pelo arquivamento das averiguações preliminares ou do
processo administrativo;
VIII - remeter ao Cade, para julgamento, os processos que instaurar, quando entender configurada infração da
ordem econômica;
IX - celebrar, nas condições que estabelecer, compromisso de cessação, submetendo-o ao Cade, e fiscalizar o
seu cumprimento;
X - sugerir ao Cade condições para a celebração de compromisso de desempenho, e fiscalizar o seu
cumprimento;
XI - adotar medidas preventivas que conduzam à cessação de prática que constitua infração da ordem
econômica, fixando prazo para seu cumprimento e o valor da multa diária a ser aplicada, no caso de
descumprimento;
XII - receber e instruir os processos a serem julgados pelo Cade, inclusive consultas, e fiscalizar o cumprimento
das decisões do Cade;
XIII - orientar os órgãos da administração pública quanto à adoção de medidas necessárias ao cumprimento
desta lei;
XIV - desenvolver estudos e pesquisas objetivando orientar a política de prevenção de infrações da ordem
econômica;
XV - instruir o público sobre as diversas formas de infração da ordem econômica, e os modos de sua
prevenção e repressão;
XVI - exercer outras atribuições previstas em lei.
Art. 25. Pela continuidade de atos ou situações que configurem infração da ordem econômica, após decisão do
Plenário do Cade determinando sua cessação, ou pelo descumprimento de medida preventiva ou compromisso
de cessação previstos nesta lei, o responsável fica sujeito a multa diária de valor não inferior a 5.000 (cinco mil)
Unidades Fiscais de Referência (Ufir), ou padrão superveniente, podendo ser aumentada em até vinte vezes se
assim o recomendar sua situação econômica e a gravidade da infração.

Art. 53. Em qualquer das espécies de processo administrativo, o Cade poderá tomar do representado compromisso de
cessação da prática sob investigação ou dos seus efeitos lesivos, sempre que, em juízo de conveniência e oportunidade,
entender que atende aos interesses protegidos por lei. (Redação dada pela Lei nº 11.482, de 2007)
§ 1o Do termo de compromisso deverão constar os seguintes elementos: (Redação dada pela Lei nº 11.482, de 2007)
I - a especificação das obrigações do representado para fazer cessar a prática investigada ou seus efeitos lesivos, bem como
obrigações que julgar cabíveis; (Incluído pela Lei nº 11.482, de 2007)
II - a fixação do valor da multa para o caso de descumprimento, total ou parcial, das obrigações compromissadas; (Incluído
pela Lei nº 11.482, de 2007)
III - a fixação do valor da contribuição pecuniária ao Fundo de Defesa de Direitos Difusos quando cabível. (Incluído pela
Lei nº 11.482, de 2007)
§ 2o Tratando-se da investigação da prática de infração relacionada ou decorrente das condutas previstas nos incisos I, II, III
ou VIII do caput do art. 21 desta Lei, entre as obrigações a que se refere o inciso I do § 1 o deste artigo figurará,
necessariamente, a obrigação de recolher ao Fundo de Defesa de Direitos Difusos um valor pecuniário que não poderá ser
inferior ao mínimo previsto no art. 23 desta Lei. (Redação dada pela Lei nº 11.482, de 2007)
§ 3o A celebração do termo de compromisso poderá ser proposta até o início da sessão de julgamento do processo
administrativo relativo à prática investigada. (Redação dada pela Lei nº 11.482, de 2007)
§ 4o O termo de compromisso constitui título exclusivo extrajudicial. (Redação dada pela Lei nº 11.482, de 2007)
§ 5o O processo administrativo ficará suspenso enquanto estiver sendo cumprido o compromisso e será arquivado ao
término do prazo fixado se atendidas todas as condições estabelecidas no termo. (Redação dada pela Lei nº 11.482, de
2007)
§ 6o A suspensão do processo administrativo a que se refere o § 5 o deste artigo dar-se-á somente em relação ao representado
que firmou o compromisso, seguindo o processo seu curso regular para os demais representados. (Incluído pela Lei nº
11.482, de 2007)
§ 7o Declarado o descumprimento do compromisso, o Cade aplicará as sanções nele previstas e determinará o
prosseguimento do processo administrativo e as demais medidas administrativas e judiciais cabíveis para sua execução.
(Incluído pela Lei nº 11.482, de 2007)
§ 8o As condições do termo de compromisso poderão ser alteradas pelo Cade se comprovar sua excessiva onerosidade para
o representado, desde que a alteração não acarrete prejuízo para terceiros ou para a coletividade. (Incluído pela Lei nº
11.482, de 2007)
§ 9o O Cade definirá, em resolução, normas complementares sobre cabimento, tempo e modo da celebração do termo de
compromisso de cessação. (Incluído pela Lei nº 11.482, de 2007)

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