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Elevação de valores nas relações de consumo

Outra prática comercial que é vedada pelo Código de Defesa


Consumidor em seu artigo 39 é a aumento do preço dos produtos/serviços
oferecidos pelo fornecedor sem que haja motivo fundamentando este
aumento. Dispõe o inciso X, do referido artigo:

“X - Elevar sem justa causa o preço de produtos ou serviços.”

A redação que traz o inciso é bem objetiva, na medida em que


explicitamente veda a elevação dos preços. O que cabe explorar mais
minuciosamente é a conceituação do que seria exatamente a “justa causa”. O
que o legislador buscou com a redação deste inciso, foi justamente coibir o
aumento arbitrário de preços por parte dos fornecedores. É notório que o
CDC regula a relação entre duas partes que não estão em posição de
paridade... o consumidor naturalmente se apresente em uma situação de
maior vulnerabilidade que o fornecedor. Portanto, este “regime de controle de
preços” proposta pelo inciso X busca justamente não onerar essa situação de
vulnerabilidade do consumidor.
Outrossim, olhando pela perspectiva econômica, é correto dizer que
essa vedação é muito importante para garantir a ordem econômica, prezando
pelo equilíbrio do mercado. Ainda que o nosso Estado seja pautado em um
sistema econômico de livre mercado, que é o capitalismo, o regime de
controle de preços é necessário para se manter consonante com a
Constituição Federal, que expressamente, em seu artigo 173, §4º, traz a
repressão ao abuso do poder econômico, que gera a dominação de mercado
e o aumento arbitrário dos lucros.
Portanto, ainda que estejamos inseridos em um regime que preza pela
livre iniciativa e a liberdade de preços, é imprescindível que tanto o Poder
Público quanto o Poder Judiciário tenham meios e mecanismos aptos a
controlar esta prática do preço abusivo.
Ainda no que tange a questão de valores dentro da relação de
consumo, o inciso XIII do CDC traz uma situação semelhante à do inciso X,
na qual se busca coibir o aumento desproporcional de valores na relação de
consumo. Mas diferente do disposto no inciso X, o inciso XIII traz parâmetros
para a aplicação de fórmulas/índices de reajuste nas relações. Traz o
seguinte texto, o inciso:
“XIII - aplicar fórmula ou índice de reajuste diverso do legal ou
contratualmente estabelecido.”

Nota-se que o legislador, da mesma forma, tratou de estabelecer uma


limitação quanto ao preço praticado pelos fornecedores; mas agora, uma
limitação quanto ao reajuste do valor. A modificação dos índices/fórmulas de
reajuste nos negócios é uma prática muito comum no mercado...
principalmente quando há uma disparidade muito grande entre as partes, em
que a parte menos “imponente” precisa se submeter às regras contratuais
estipuladas pela parte predominante, para que possam efetivamente constituir
a relação. E, em razão disso, a modificação dos índices acaba se operando
de forma unilateral e abusiva, sem que a parte contrária detenha qualquer
possibilidade de oposição.

Trazendo para o campo mais prático, trago aqui uma situação concreta,
em que poderia/deveria ser aplicada a vedação acima explorada, do inciso X
do artigo 39: o caso da “Black Friday”. Este é um evento no qual
supostamente alguns nichos do mercado sofrem quedas consideráveis nos
seus preços, atraindo um grande volume de consumidores. Todavia, é muito
comum que, no período que antecede este evento, os fornecedores exerçam
uma prática fraudulenta, em que, nos meses que antecedem o evento, eles
aumentam injustificadamente os preços dos produtos, para que em tempos
de “Black Friday” possam dar um “falso” desconto. Ou seja, eles aumentam o
preço com certa antecedência para que posteriormente possam concedam
um desconto que nada mais é do que o reestabelecimento do preço natural
do produto. A prática aqui estudada configura claramente uma aumento de
preço sem justa causa, podendo ser facilmente enquadrada como uma das
práticas abusivas vedadas pelo Código de Defesa do Consumidor.
Já o fornecedor que aumenta absurdamente o preço das suas
mercadorias mais vendidas na semana do “Black Friday”, pratica
conduta abusiva e proibida pelo Código de Defesa do Consumidor , vez que
sabe que é um período propício para vendas, e que provavelmente alguns
compradores aguardaram o ano inteiro para fazer certa aquisição, na
expectativa de descontos.

Ainda que num regime de liberdade de preços, o Poder Público e o


Judiciário possuem mecanismos de controle do chamado preço abusivo. Não
se trata de tabelamento do perço, mas de análise casuística que o juiz e a
autoridade administrativa devem fazer, diante do fato concreto.

A justiça do aumento de preços ao consumidor deve ser definida, no aspecto


jurídico, a partir da ordem econômica prevista na Constituição Federal, e
fundada no combate ao abuso do poder econômico.

Onera o equilíbrio do mercado e aumenta a vulnerabilidade do


consumidor. O fornecedor está vinculado à oferta e não pode aumentar a
relação custo benefício sem justa causa.

Como é possível, em um sistema de livre mercado, fundado no consumo de


massa, impor um rigoroso controle de preços?

Prática abusiva é toda atividade do fornecedor que vai além das condutas
permitidas no âmbito das relações com os consumidores. Dessa forma, as
práticas abusivas violam o equilíbrio e boa-fé objetiva que devem prevalecer
nas relações de consumo.

No regime da livre iniciativa, fundada na propriedade privada, os detentores


dos meios de produção não têm liberdade de aumentar livremente os preços,
pois a norma exige uma causa, uma justificativa para elevar o preço cobrado
por qualquer coisa.

a própria Constituição Federal prevê um regime de controle dos preços


cobrados por bens e serviços, na medida em que determina a edição de lei
que combata o aumento arbitrário de lucros. A palavra arbitrário tem o mesmo
sentido de ausência de justa causa. Assim, o aumento de preços sem justa
causa significa, naturalmente, aumento arbitrário de lucros.

Art. 39. É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre outras


práticas abusivas:

X - elevar sem justa causa o preço de produtos ou serviços.

Visando coibir essa linha de conduta de alguns fornecedores, a Câmara


Brasileira de Comércio Eletrônico (câmara-e. Net) criou o “Black Friday
Legal”, que analisa os preços de diversos itens de várias lojas online, que
anunciam praticar descontos em razão do “Black Friday”, por um período de
tempo, e verificam se houve aumento injustificado ou não.
Além disso, a câmara-e. Net ainda emite o “Selo Black Friday Legal”, para
as lojas que comprometeram-se a participar do programa, visando vendas
justas e lícitas.
Portanto, idealmente antes de fazer uma compra em uma loja que anuncie
praticar descontos de “Black Friday”, procure pela reputação do
estabelecimento e verifique se aderiu ao programa da câmara-e. Net. Fora
isso, ainda é possível consultar a lista de “evite esses sites” mantida e
atualizada constantemente pelo Procon São Paulo-SP, neste link.

XI -  Dispositivo  incluído pela MPV  nº 1.890-67, de 22.10.1999, transformado


em inciso  XIII, quando da conversão na Lei nº 9.870, de 23.11.1999

XII - deixar de estipular prazo para o cumprimento de sua obrigação ou deixar a


fixação de seu termo inicial a seu exclusivo critério.            (Incluído pela Lei nº
9.008, de 21.3.1995)

XIII - aplicar fórmula ou índice de reajuste diverso do legal ou contratualmente


estabelecido.            (Incluído pela Lei nº 9.870, de 23.11.1999)

INCISO XII

A definição do início, término e a duração dos serviços executados pelo


fornecedor deverão ser definidos previamente para a garantia do
consumidor na execução contratual. Prazo de entrega para produtos
também deve ser obrigatoriamente expressos.

INCISO XIII

Intrinsecamente ligado à questão do inciso X, do aumento de preço. Na


medida em que consiste numa limitação do preço. É comum no mercado
a modificação unilateral de índices/fórmulas de reajuste nos negócios
entre consumidores e fornecedores (principalmente quando há muita
diferença no “tamanho” das partes. Contratos de prestação de serviços
de saúde, educação, telefonia são exemplo desta “imposição” do
reajuste.

Tema 952 – julgamento de RR – STJ decidiu a favor dos Planos de favor


em detrimento do consumidor, considerando válidos e legais os reajustes
das mensalidades dos planos de saúde a depender da faixa etária dos
consumidores.

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