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Processo saúde-doença

Em síntese, pode-se dizer, em termos de sua determinação causal, que o processo saúde-doença representa o conjunto de
relações e variáveis que produzem e condicionam o estado de saúde-doença de uma população, que varia em diversos momentos
históricos do desenvolvimento científico da humanidade.
SUBDIVISÃO DA HISTÓRIA NATURAL DA DOENÇA EM QUATRO FASES

FASE INICIAL (OU DE SUSCETIBILIDADE)/PERÍODO PRÉ PATOGÊNESE


Nesta fase ainda não há doença propriamente dita, no sentido clássico de fase patológica, mas já existem condições que favorecem o
seu aparecimento. Contudo, as pessoas não apresentam o mesmo risco de adoecer. Um dos princípios básicos do raciocínio desenvolvido
em epidemiologia baseia-se na constatação de que as pessoas não nascem iguais nem vivem iguais. Muitas passam as suas vidas em
condições ou possuem características, atributos ou hábitos que facilitam ou dificultam a ocorrência de danos à saúde: são os fatores de risco
ou de proteção.
Exemplo: prevenção na fase inicial: O conhecimento dos fatores de risco ou de proteção permite a adoção de duas importantes
estratégias, em prevenção:
• a eliminação do fator de risco ou alteração da sua intensidade — exemplo: cessar de fumar ou reduzir a taxa de colesterol sérico;
• o uso de determinadas características que funcionam como “marcadores de risco”. As pessoas portadoras destas características
são protegidas, através de medidas em função do risco ou acompanhadas, sistematicamente, visando ao diagnóstico precoce de
intercorrências patológicas.
São exemplos de marcadores de risco uma determinada ocupação ou a presença de um estado fisiológico especial, como a gestação ou a
lactação.
FASE PATOLÓGICA PRÉ-CLÍNICA/DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO PRECOCE
Nesta fase, a doença ainda está no estágio de ausência de sintomatologia, embora o organismo já apresente alterações patológicas. Esta
etapa vai desde o início do processo patológico até o aparecimento de sintomas ou sinais da doença. O seu curso pode ser subclínico e
evoluir para a cura ou progredir para a fase seguinte. Hoje é possível a identificação precoce de numerosas afecções ainda em fase de
atividade subclínica: caso da detecção da hipertensão arterial assintomática. A identificação precoce resulta, na maioria das vezes, em maior
probabilidade de êxito, quando adotado um tratamento adequado.
Esta é a justificativa para os exames seletivos daqueles subgrupos da população nos quais há maior probabilidade de ocorrer a doença.
Daí, a conveniência de se conhecer a associação existente entre as características das pessoas e do ambiente, em relação ao aparecimento de
doenças — e que se constitui em uma das grandes preocupações nas investigações de cunho epidemiológico.
Exemplo: prevenção na fase pré-clínica, o rastreamento:
“Rastreamento”, “triagem” ou “screening” é a procura por indivíduos suspeitos de estarem enfermos ou em risco de adoecer, no seio
da população aparentemente sadia. A realização de um rastreamento permite aplicar, depois, em menor número de indivíduos, ou seja,
naqueles que apresentam resposta positiva ao teste inicial, outros exames diagnósticos de maior precisão ou complexidade, que não podem
ser usados em toda a população, por dificuldades econômicas ou operacionais. Trata-se de uma estratégia que facilita a tarefa de
proporcionar maior cobertura populacional de serviços de saúde, de modo a proteger maior número de pessoas, com menor esforço.
FASE CLÍNICA
Ao manifestar-se clinicamente, a doença já se encontra em estágio adiantado. Há diferentes graus de acometimento do organismo,
podendo a manifestação ser apenas leve, de mediana intensidade ou grave, de evolução aguda ou crônica, ou, então, sob alguma outra forma
de classificação. A percepção do limiar clínico, nível acima do qual a doença é exteriorizada, pode variar segundo a natureza da própria
doença, as características do paciente, as condições de observação, a capacidade do observador, a tecnologia empregada e o esmero com
que é utilizada. Regra geral, somente uma proporção dos afetados apresenta quadro clínico;  apenas uma certa proporção, destes últimos,
procura o sistema formal de atendimento, sendo menor ainda o número dos que serão hospitalizados.
A assistência prestada, no que concerne a muitas doenças, traduz apenas a “ponta do iceberg”, correspondente à demanda espontânea
por serviços de saúde. As informações estatísticas produzidas pelos registros de estabelecimentos de saúde referem-se à parte visível
deste iceberg e, por esta razão, fornecem um perfil de morbidade que nem sempre coincide exatamente com o padrão de doenças incidente
na comunidade.
• Exemplo: prevenção na fase clínica
Nesta fase, a atuação pode ser exclusivamente curativa, como é o caso da remoção cirúrgica de um cálculo de grande tamanho
incrustado na pelve renal, ou preventiva de um risco em potencial, como a acidificação da urina por meio de fármacos para prevenir a
formação de novos cálculos. Um outro exemplo é o do infarto agudo do miocárdio. Em uma unidade coronariana utilizam-se vários
recursos terapêuticos com o intuito de limitar a área infartada.
Concomitantemente, tomam-se medidas para prevenir a ocorrência de novos infartos, por atuação nos fatores de risco: por exemplo,
dieta, abstenção do fumo, controle da pressão arterial e da dislipidemia e uso de antiadesivo plaquetário, para evitar a trombose coronariana.
4. FASE DE INCAPACIDADE RESIDUAL
Se a doença não progrediu até a morte ou não houve cura completa, as alterações anatômicas e funcionais se estabilizam, sob efeito da
terapêutica ou do seu próprio curso natural, deixando, por vezes, sequelas. As medidas de reabilitação de cunho físico, psicológico ou
social visam ao desenvolvimento do potencial residual da pessoa afetada, ou seja, da capacidade funcional que lhe restou após a
estabilização clínica. Os institutos que fazem a reabilitação de acidentados constituem ilustração de atuação nesta fase.
NIVEIS DE PREVENÇÃO SEGUNDO O CONCEITO DE PROCESSO DE SAÚDE E DOENÇA
1.PREVENÇÃO PRIMÁRIA: As ações deste tipo estão dirigidas para a manutenção da saúde. Trata-se da “prevenção da ocorrência” da
fase patológica — ou seja, de evitar novos casos de agravos à saúde.
Exemplo: educação para a saúde e saneamento ambiental.
2.PREVENÇÃO SECUNDÁRIA: As medidas desta natureza são orientadas para o período patológico, enquanto a doença ainda está
progredindo, seja em fase subclínica, seja de evolução clinicamente aparente.
Elas visam à “prevenção da evolução” do processo patológico no organismo, na tentativa de, se possível, fazê-lo regredir.
A atuação visa à prevenção de reincidências, de complicações, de sequelas e de óbito.
3.PREVENÇÃO TERCIÁRIA: Neste caso, as ações se dirigem à fase final do processo — estacionária — e visam a desenvolver a
capacidade residual do indivíduo, cujo potencial funcional foi reduzido pela doença (ex., na poliomielite) ou por sequelas de um episódio
agudo de uma afecção crônica (caso do acidente vascular cerebral).
Nem sempre as definições de prevenção terciária coincidem nos livros-textos, mas a ideia central consiste em atenuar a invalidez e
promover o ajustamento do paciente a condições irremediáveis, o que estende o conceito de prevenção ao campo da reabilitação.
SUBNÍVEIS DE PREVENÇÃO
1.PRIMEIRO NÍVEL: PROMOÇÃO DA SAÚDE: Engloba as ações destinadas a manter o bem-estar, sem visar a nenhuma doença em
particular. Promover um estado nutricional adequado é uma medida de promoção da saúde, assim como prover condições apropriadas de
emprego, habitação e lazer. No mesmo caso, enquadram-se as providências orientadas para satisfazer às necessidades básicas da criança,
com vistas ao pleno desenvolvimento de sua personalidade.
2.SEGUNDO NÍVEL: PROTEÇÃO ESPECÍFICA: Inclui medidas para impedir o aparecimento de uma determinada afecção, em
particular, ou de um grupo de doenças afins. São exemplos a vacinação, com que se procura elevar a resistência específica do organismo
contra uma dada doença, e a proteção contra riscos ocupacionais.
3.TERCEIRO NÍVEL: DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO PRECOCE: Trata-se de identificar o processo patológico no seu início,
antes do aparecimento de sintomas. São exemplos a pesquisa do bacilo da tuberculose no escarro e os exames seletivos, dirigidos a
subgrupos da população nos quais há maior probabilidade do aparecimento do dano que se busca diagnosticar. Identificada a alteração, nos
seus primórdios, o tratamento imediato tem maior chance de debelar rapidamente o processo.
4.QUARTO NÍVEL: LIMITAÇÃO DO DANO: Consiste em identificar a doença, limitar a extensão das respectivas lesões e retardar o
aparecimento de complicações, se não for possível evitá-las por completo. Em relação à fase anterior, trata-se apenas de reconhecimento
mais tardio do agravo à saúde. A afecção já ultrapassou o limiar clínico, havendo, portanto, sinais e sintomas denunciadores da sua
presença.
5.QUINTO NÍVEL: REABILITAÇÃO: Objetiva desenvolver o potencial residual do organismo, após haver sido afetado pela doença,
como já foi ilustrado pela poliomielite ou por um acidente vascular cerebral, de modo a contribuir para que o indivíduo leve uma vida útil e
produtiva. É, mais do que outro, um trabalho de equipe destinado a prover suporte físico, mental e social, que favoreça a reintegração da
pessoa na família, no trabalho e na sociedade.

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