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DIREITO ADMINISTRATIVO fácil PARA CONCURSOS

ESTADO: CONCEITO, ELEMENTOS, PODERES, FUNÇÕES TÍPICAS E ATÍPICAS. DIREITO ADMINISTRATIVO: CONCEITO E FONTES

1. CONCEITO DE ESTADO
O Direito administrativo é um ramo do Direito Público. Quando se fala em Direito Público estamos falando de um conjunto de
normas que rege relações onde o Estado está presente. E quando se fala em Estado, estamos nos referindo ao país, ao Estado
Brasileiro.

Em resumo, o Direito Administrativo é um ramo do Direito


Público porque envolve a figura do Estado (país).

Assim, podemos conceituar Estado (um país) como sendo uma sociedade organizada política e juridicamente. Todo Estado é uma
sociedade organizada. A função do Estado é organizar a vida em sociedade. Perceba que tudo que as pessoas fazem ou deixam de
fazer é definido pelo Estado. A título de exemplo podemos citar o fato de que, para que as pessoas possam dirigir, o Estado exige
que o cidadão obtenha uma Carteira de Habilitação emitida por ele, onde ele apura se a pessoa está apta ou não para dirigir. Logo, é
o Estado que determina o que podemos e o que não podemos fazer.

Veja que o Estado é formado por um conjunto de pessoas, ou seja, uma sociedade. Todavia, para que essa sociedade possa formar o
conceito de Estado é necessário organizá-la. Assim, como já dito, a função do Estado é organizar a vida em sociedade.

1.1 PODERES DO ESTADO


Os Estados tem uma divisão em três poderes: Legislativo, Executivo e Judiciário. Quem concebeu essa ideia de dividir os poderes do
Estado foi Charles Montesquieu que a batizou como Teoria da tripartição dos Poderes do Estado. Todavia, quando Montesquieu
concebeu a teoria da tripartição ficou determinado que cada um dos Poderes teria uma função e a exerceria com exclusividade.
Assim, de acordo com a teoria da tripartição dos poderes concebida por Montesquieu cada um dos poderes exerceria uma função e
não poderia exercer mais nenhuma outra função. Para Montesquieu a divisão das funções entre os poderes seria uma divisão
absoluta, rígida.

A divisão das funções entre os


três poderes do Estado, segundo
as lições de Montesquieu, se
daria de forma estanque, com
uma rígida separação de funções
entre o Poder Legislativo,
Executivo e Judiciário.

Logo, a teoria da tripartição de poderes define que cada um dos poderes do Estado exerce uma função típica, própria:
- O poder Legislativo exerce tipicamente a função de legislar e fiscalizar;
- O poder Executivo exerce tipicamente a função de executar (também chamada de administrar);
- O poder Judiciário exerce tipicamente a função de julgar (também chamada de função jurisdicional).

E o Brasil? O Estado brasileiro adotou a teoria do Montesquieu?

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Sim, o Brasil adotou a teoria da tripartição dos poderes do Estado, mas não da forma concebida por Montesquieu. O Brasil adotou a
teoria de forma harmônica, ou seja, cada um dos Poderes tem uma função típica, mas poderá exercer funções que são de outros,
uma função atípica.

EXPLICANDO MELHOR: restou definido na nossa Constituição (art. 2º) que cada Poder teria sua função típica, mas poderia exercer
também funções atípicas. Logo, o Poder Legislativo é quem possui a função típica de legislar e fiscalizar, porém, atipicamente pode
exercer a função judicial ou a função administrativa (executiva). De igual forma, o Executivo tem por função típica administrar
(executar), mas pode, atipicamente, legislar quando o Presidente da República edita uma medida provisória, e etc.

RESUMINDO: A constituição Federal no seu art. 2ª dispõe que “são Poderes da União independentes e
harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário”. Todavia, não se pode afirmar existir uma separação
absoluta desses três Poderes. Cada um dos poderes, conforme visto, exerce uma atividade preponderante,
precípua, TÍPICA: o Poder Legislativo realiza de forma típica a função legislativa; o Poder Judiciário realiza de forma
típica a função judicial ou jurisdicional; e o Poder Executivo realiza de forma típica a função administrativa. Todavia,
é possível que um poder exerça funções que originalmente pertencem a outro poder (função atípica).

 FIQUE ATENTO A UMA PERGUNTA MALDOSA DE PROVA: a função administrativa pode ser exercida por particulares? Sim, a
função Administrativa pode materializar-se também por meio de atos praticados por terceiros autorizados a agir em nome do
Estado, como ocorre com os concessionários e permissionários de serviços públicos.

1.2. A FUNÇÃO ADMINISTRATIVA DO ESTADO


Conforme já destacamos, o Estado tem uma divisão em três poderes (Legislativo, Executivo e Judiciário) cada um exercendo uma
função típica: legislar, executar e julgar

Das três funções estatais básicas (legislar, executar e julgar) a que mais interessa ao Direito Administrativo é a função de executar.
Todavia, costumamos chamar essa função de executar (a saúde, a educação, a segurança pública, o fornecimento de água e energia,
etc.) de função de administrar.

Função de executar é sinônimo de função de administrar.

UMA EXPLICAÇÃO MAIS DETALHADA: função de administrar, também é chamada de função de


executar. Mas executar o que? Os serviços públicos ou de utilidade pública, tais como saúde,
educação, segurança, transporte, fornecimento de água, energia, fiscalização de trânsito, etc.
Desta feita, quando falamos que o Estado exerce função de administrar o que estamos
querendo dizer é que o Estado está executando a educação, a saúde, a segurança, o transporte
público, etc. Desta feita, se você é professor da Secretaria de Educação de um determinado
Estado, a sua função é a função administrativa, já que é o professor quem executa o serviço
público de educação.

E como já afirmado anteriormente, essa função de administrar é exercida tipicamente pelo Poder Executivo. Logo, podemos
destacar que essa função administrativa é exercida, por exemplo, pelas escolas, hospitais, delegacias, postos de saúde, secretarias,
etc. Todos esses exercem função de administrar, ou seja, de executar a educação, a saúde, a segurança pública, etc.

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 ATENÇÃO: O objeto do Direito Administrativo é o estudo da função administrativa do Estado.

TIPICAMENTE PELO PODER EXECUTIVO


FUNÇÃO ADMINISTRATIVA É EXERCIDA ATIPICAMENTE PELO PODER LEGISLATIVO
ATIPICAMENTE PELO PODER JUDICIÁRIO
POR PARTICULARES, DESDE QUE AUTORIZADOS
(concessionários e permissionários)

1.3. DIREITO ADMINISTRATIVO


O Direito Administrativo é o ramo do Direito Público formado pelo conjunto de normas e princípios jurídicos que disciplinam a
atividade ADMINISTRATIVA do Estado.

A função administrativa é típica dos órgãos e entidades que pertencem ao Poder Executivo. Todavia, como já dito, é possível o
exercício dessa função por órgãos dos Poderes Legislativo, Judiciário e até por particulares, desde que autorizados pelo Estado.

Essa função administrativa é objeto de estudo do Direito Administrativo. Portanto, é o Direito Administrativo que define todas as
regras de como deve ser desempenhada a função administrativa do Estado.

Diante disso, podemos afirmar que

O Direito Administrativo é o ramo do Direito Público formado


pelo conjunto de normas e princípios jurídicos que disciplinam
a atividade administrativa do Estado, nos seus três poderes,
DE FORMA TÍPICA PELO PODER EXECUTIVO E DE FORMA
ATÍPICA PELOS PODERES LEGISLATIVO E JUDICIÁRIO. Assim, o
Direito Administrativo é um conjunto de normas que irão
determinar aos agentes públicos a melhor forma de
desempenhar a atividade administrativa.

2. ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA

Como já exposto, atividade administrativa é aquela voltada à execução de serviços públicos ou de utilidade pública, ou seja,
realizar, colocar em prática a educação, a saúde, a segurança pública, o transporte, o fornecimento de energia elétrica, de água, etc.

E para executar todos os serviços públicos ou de utilidade pública o Estado precisa de toda uma estrutura para isso, formada pelas
escolas, hospitais, delegacias, secretarias, ministérios, conselhos tutelares, postos de saúde, tribunais, etc. Essa estrutura é chamada
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA.

Assim que você passar no seu concurso vai


poder afirmar que “trabalha na Administração
Pública”, ou seja, trabalha em um órgão ou
entidade que pertence aos quadros da
Administração Pública.

E por se tratar de uma estrutura enorme, eis que muitos são os serviços públicos a serem executados, a Administração Pública é
dividida entre “administração pública direta e administração pública indireta”.

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A administração pública direta é composta por UNIÃO, ESTADOS, DISTRITO FEDERAL E MUNICÍPIOS (chamadas de entidades ou
pessoas políticas ou federativas). A administração pública indireta é composta por AUTARQUIAS, FUNDAÇÕES PÚBLICAS, EMPRESAS
PÚBLICAS E SOCIEDADES DE ECONOMIA MISTA (chamadas entidades ou pessoas administrativas).

2.1. ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA DIRETA

Conforme já dito, a Administração Pública Direta é composta por União, Estados, DF e Municípios. Toda vez que o serviço é
executado por esses entes federativos estamos diante da Administração Direta.

Assim, vamos visualizar, por exemplo, que o serviço público de segurança pública é prestado pela polícia civil ou militar do Distrito
Federal (ou do Estado de São Paulo, ou de Minas Gerais, etc.). Logo, a segurança pública no DF, ou em São Paulo ou em Minas
Gerais é executado pela Administração Direta.

Todavia, para que o DF, a União, os Estados ou Municípios executem serviços públicos é necessário que tais entes federativos criem
os seus órgãos públicos (secretarias, escolas, hospitais, postos de saúde, delegacias, quartel da polícia militar, conselhos tutelares,
etc).

Desta feita, para afirmar que o DF executa os serviços de educação é necessário criar as escolas públicas. Elas são órgãos públicos do
DF criados para executar os serviços na área de educação. De igual forma, para o Município de Ribeirão Preto-SP executar serviços
na área de saúde, é necessário criar hospitais, postos de saúde, unidades básicas de saúde, etc. Logo, os hospitais, postos de saúde,
unidades básicas de saúde, etc. são órgãos públicos.

É através dos órgãos públicos (escolas, hospitais, secretarias,


ministérios, etc.) que o Estado executa seus serviços.

Órgãos públicos são unidades de atuação para o desempenho específico de funções administrativas. São centros de competências
administrativas. Para facilitar a compreensão, vamos exemplificar utilizando um hospital público. Esse hospital é uma unidade de
atuação, ou seja, é através dele que o Estado atua para desempenhar de forma específica o serviço público de saúde. Uma delegacia
é uma unidade de atuação do Estado na área de segurança pública e etc.

MEGA IMPORTANTE: A GRANDE CARACTERÍSTICA DOS ÓRGÃOS PÚBLICOS É QUE ELES NÃO POSSUEM PERSONALIDADE JURÍDICA.

 Explicando um pouco melhor: personalidade jurídica significa a possibilidade de assumir direitos e obrigações em nome próprio.
Assim, vamos utilizar novamente o exemplo de um hospital público que é um órgão público. Caso um paciente seja vítima de um
erro médico, esse paciente passa a ter direito à indenização por danos morais ou materiais. Todavia, a ação judicial de indenização
não pode ser proposta contra o hospital público, já que se trata de um órgão e órgãos não possuem personalidade jurídica própria,
não respondem em seu próprio nome. Eventual ação judicial de indenização deve ser proposta contra a entidade política criadora
do órgão, quais sejam, União, estados, DF ou municípios.

ATENÇÃO AQUI!
Órgãos públicos são criados e extintos através de lei.

2.2. ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA INDIRETA

Já afirmamos que os serviços públicos podem ser executados pela Administração Direta e seus órgãos, certo?

Também é possível que os serviços públicos sejam executados pelas entidades administrativas, quais sejam, autarquias, fundações
públicas, empresas públicas e sociedades de economia mista. Nesse caso, afirmamos que o serviço será executado pela
Administração Indireta.

Assim, o Estado pode decidir que ao invés dele mesmo executar o serviço diretamente através de seus órgãos e agentes públicos, o
serviço será transferido para ser executado por uma entidade administrativa pertencente à Administração Pública Indireta.
A título de exemplo podemos citar a criação do IBAMA. O governo federal (presidente da república) em 1989 decidiu criar uma
autarquia para, dentre outras funções, fiscalizar as ações prejudiciais ao meio ambiente. Desta feita, o governo federal, através de
lei, criou uma nova entidade administrativa e transferiu para ela as ações ligadas à fiscalização do meio ambiente: o IBAMA.

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Assim, no âmbito federal a fiscalização do meio ambiente não é executada diretamente por um órgão federal e sim por uma
entidade administrativa, ou seja, pela Administração Pública Indireta.

IMPORTANTE: o termo “entidades” se refere às pessoas que


possuem personalidade jurídica, ou seja, que assumem direitos e
deveres; que respondem pelos seus atos, em seu próprio nome –
autarquias, fundações públicas, empresas públicas e sociedades de
economia mista.

 Explicando detalhadamente: As entidades por possuírem personalidade jurídica própria devem responder pelos danos que seus
agentes causarem a terceiros, inclusive cabe à própria entidade (autarquia, fundação pública, empresa pública e sociedade de
economia mista) obter receitas de suas atividades e sustentar a sua própria estrutura (pagar os salários de seus
servidores/empregados, adquirir seus bens, pagar suas despesas, etc.). Dessa forma, se a União transferiu o serviço de fiscalização
do meio ambiente para o IBAMA, é próprio IBAMA (e não a União) que deve pagar os salários de seus servidores, que deve arcar
com suas despesas, etc. Não será a União que irá sustentar o IBAMA, pois esta é uma entidade com personalidade jurídica própria.

E tem mais
Todas as entidades da Administração Indireta possuem autonomia
administrativa, financeira, orçamentária e patrimonial. Não são
subordinadas à Administração Direta.

2.3. CENTRALIZAÇÃO, DESCENTRALIZAÇÃO E DESCONCENTRAÇÃO


Para o desempenho de suas funções o Estado pode adotar duas formas: a centralização e a descentralização.

Ocorre a centralização quando o Estado exerce suas atividades diretamente através de seus órgãos e agentes, ou seja, pela
Administração Direta. Dessa forma, se o DF executa serviços de segurança pública, podemos afirmar que tais serviços são
executados pela Administração Direta ou de forma “centralizada”.

Administração Direta = centralização

Ocorre descentralização quando o Estado desempenha suas funções de forma indireta, ou seja, por meio de outras
pessoas/entidades (autarquias, fundações públicas, empresas públicas, empresas públicas e sociedades de economia mista), ou
seja, pela Administração Indireta.
Administração Indireta = descentralização

ATENÇÃO, ISSO É IMPORTANTE:


Na descentralização é possível vislumbrar duas pessoas: a pessoa política (União, Estados, Distrito Federal e Municípios) e a pessoa
que executará o serviço, por ter recebido da pessoa política essa atribuição (autarquias, fundações públicas, empresas públicas,
empresas públicas e sociedades de economia mista).

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Assim, a descentralização pressupõe a existência de duas pessoas. Vejamos:

União, Estados, DF, Autarquias, fundações públicas, empresas


Municípios públicas e sociedades de economia mista.

Por fim temos o conceito de desconcentração. A desconcentração é a criação de órgãos. Por meio da desconcentração ocorre a
distribuição de competências dentro de uma mesma pessoa jurídica. É técnica utilizada para tornar mais ágil e eficiente a prestação
do serviço com a distribuição de funções entre vários órgãos de uma pessoa jurídica.

Assim, quando o DF crias suas escolas ou quando a União cria ministérios podemos afirmar que ocorreu uma desconcentração.
Vejamos:

DF UNIÃO

escolas Ministérios
as
Desta feita, como resultado da desconcentração temos o surgimento dos órgãos públicos. Ante o fato de que a desconcentração
ocorrer no mesmo âmbito da pessoa jurídica, surge uma relação de hierarquia, de subordinação. A desconcentração pressupõe a
existência de hierarquia, de subordinação (o que não ocorre na descentralização). Haverá na desconcentração um controle
hierárquico, compreendendo poderes de comando, fiscalização, revisão, punição, etc. Exemplificando: entre o DF e seus órgãos
existe subordinação, como no caso das escolas serem subordinadas ao governador.

Resumindo: os órgãos são unidades (divisões) internas da União, Estados, DF e Municípios. E esses órgãos por não possuírem
personalidade jurídica própria são subordinados, existe relação de hierarquia. Assim, perceba que os ministérios e seus ministros
são subordinados ao presidente da república, assim como os secretários são subordinados aos governadores.

 Uma observação MUITO IMPORTANTE


A desconcentração, técnica de distribuição interna de competência através da criação
de órgãos, pode ocorrer na Administração Direta e também na Administração Indireta.

Assim sendo, as entidades administrativas (autarquias, fundações públicas, empresas públicas e sociedades de economia mista)
também podem desconcentrar, criar seus órgãos.

2.4. ENTIDADES ADMINISTRATIVAS


O Decreto n,º 200/67 define que as entidades administrativas são as autarquias, as fundações públicas, as empresas públicas e as
sociedades de economia mista.

DECRETO-LEI Nº 200, DE 25 DE FEVEREIRO DE 1967

(...)
Art. 4° A Administração Federal compreende:
(...)
II - A Administração Indireta, que compreende as seguintes
categorias de entidades, dotadas de personalidade jurídica
própria:
a) Autarquias;
b) Empresas Públicas;
c) Sociedades de Economia Mista.
d) fundações públicas

Tais entidades formam a administração pública indireta e executam serviços públicos de forma descentralizada. Também já
sabemos que todas elas possuem personalidade jurídica própria (assumem direitos e deveres em nome próprio) e possuem
autonomia administrativa, financeira e orçamentária e patrimonial.

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É imprescindível o domínio das características dessas entidades. O estudante precisa memorizar as características das entidades já
que esse assunto é cobrado praticamente em todas as provas de concursos públicos que tenha Direito Administrativo. Dessa forma,
vamos estudar cada uma das entidades administrativas da Administração Indireta.

2.4.1. AUTARQUIAS
As autarquias são entidades da administração pública indireta dotadas de personalidade jurídica de Direito Público, criadas por lei
ordinária específica de iniciativa do chefe do Poder Executivo (art. 37, XIX). A lei criadora das autarquias já confere a ela
personalidade jurídica, não sendo necessário levar os atos constitutivos para o registro competente.

As autarquias realizam atividades típicas de Estado (atividades em que, geralmente, o Estado se utiliza de supremacia). O principal
exemplo de atividades típicas que no geral as autarquias realizam, são as atividades de fiscalização, tais com os DETRANS, a ANVISA,
o IBAMA, o CADE, o ICMBIO, o BACEN, etc.

No decreto n.º 200/67 elas são conceituadas da seguinte forma: o serviço autônomo, criado por lei, com personalidade jurídica,
patrimônio e receita próprios, para executar atividades típicas da Administração Pública, que requeiram, para seu melhor
funcionamento, gestão administrativa e financeira descentralizada.

As autarquias não possuem objetivo de lucro, porém tem, no geral, uma arrecadação de receitas considerável, já que como regra
suas atividades acabam gerando a aplicação de sanções (multas). Elas obtêm receitas, mas não podem ser consideradas como lucro.
Essas receitas são destinadas a manutenção de sua estrutura, pagamento de remunerações, despesas em geral.

Como já dito, por serem entidades, são dotadas de autonomia administrativa, financeira, orçamentária e patrimonial, de modo que
não são subordinadas às entidades da Administração Direta. Assim, quando a União criou a Anvisa, por ter sido criada como
entidade (e não como um órgão), a mesma passou a ter autonomia para desempenhar as suas funções. Porém, ter autonomia não
significa que elas não sejam controladas. As autarquias, apesar de não serem subordinadas são vinculadas às entidades da
Administração Pública Direta, o que faz com que estas entidades (da Administração Direta) exerçam um controle sobre as
Autarquias chamado de controle finalístico ou tutela administrativa ou ainda supervisão ministerial. Sofrem inclusive, controle
externo, dos tribunais de contas, na fiscalização de suas contas.

Por serem entidades dotadas de personalidade jurídica de direito público, as autarquias possuem o quadro de pessoal formado por
servidores públicos (estatutários).

2.4.2. FUNDAÇÕES PÚBLICAS


As fundações públicas são entidades da administração pública indireta criadas para exercerem atividades de cunho social, tais como
saúde, educação, cultura, pesquisa, etc. Nos termos do Decreto n.º 200/67 são conceituadas como a entidade dotada de
personalidade jurídica de direito privado, sem fins lucrativos, criada em virtude de autorização legislativa, para o desenvolvimento
de atividades que não exijam execução por órgãos ou entidades de direito público, com autonomia administrativa, patrimônio
próprio gerido pelos respectivos órgãos de direção, e funcionamento custeado por recursos da União e de outras fontes.

Em resumo: são entidades criadas para exercerem atividades sociais, constituem um patrimônio ao qual é atribuída uma finalidade
específica não lucrativa, de cunho social.

É comum as fundações públicas se destinarem as seguintes atividades: assistência social, assistências médica e hospitalar, educação
e ensino, pesquisa, atividades culturais, etc. Não são criadas objetivando lucro.

As fundações públicas podem ser dotadas de personalidade jurídica de direito público ou de direito privado, conforme decidido pelo
Supremo Tribunal Federal.

CUIDADO!!
Não confunda fundações públicas de Direito Privado com fundações privadas. As fundações
públicas de direito privado são criadas pelo Estado, mas com a personalidade jurídica de direito
privado (se submetem ao regime de direito privado, como o regime celetista). A título de exemplo
de fundação pública de direito privado tem-se a FUNPRESP, Fundação de previdência
complementar do Servidor Público Federal, criada em 2012 e o Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
As fundações privadas são criadas por particulares e não pertencem a Administração Pública, como
por exemplo, fundação Xuxa Meneghel, Fundação Bradesco, etc. São fundações que nada tem a ver
com o poder público.

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2.4.3 EMPRESAS PÚBLICAS E SOCIEDADES DE ECONOMIA MISTA
As empresas públicas e as sociedades de economia mista são chamadas de empresas estatais. Essas entidades são criadas para
prestarem serviços públicos ou para explorarem atividade econômica.

São entidades que podem prestar serviços públicos ou explorar atividade econômica, com a possibilidade de obtenção de lucro.

NÃO ESQUEÇA! São entidades que podem exercer atividades com fim lucrativo.

Assim temos, por exemplo, os Correios que é uma empresa pública criada para prestar um serviço público (serviço postal) e a CEF
que também é uma empresa pública, porém criada para explorar atividade econômica. De igual forma, podemos visualizar uma
sociedade de economia mista criada para explorar atividade econômica, como por exemplo, Banco do Brasil. Independentemente
do que elas exercerem (seja serviço público ou exploração de atividade econômica), elas podem objetivar lucro.

Tais entidades possuem basicamente as mesmas características. Elas são muito parecidas, de modo que só existem três diferenças
entre elas, as quais veremos mais a frente.

Desta feita, segue as características comuns às duas entidades:

A criação dessas entidades se dá por autorização em lei específica, necessitando da inscrição de seus atos constitutivos no registro
competente (Registro Civil das pessoas jurídicas ou na junta comercial). Logo, elas não são criadas por lei e sim autorizadas por lei.

As empresas públicas e sociedades de economia mista possuem personalidade jurídica de direito privado.

O quadro de pessoal dessas entidades é formado por empregados públicos, regidos pela CLT, cujo ingresso se dá por concurso
público.

Assim, como as demais entidades da administração indireta, são dotadas de autonomia administrativa, financeira, orçamentária e
patrimonial, de modo que não são subordinadas às entidades da Administração Direta.

Por fim, destaque-se que as empresas públicas e sociedades de economia mista sujeitam-se à Lei n.º 8.666/93, mas não estão
sujeitas à falência.

2.4.3.1 DISTINÇÕES ENTRE EMPRESAS PÚBLICAS E SOCIEDADES DE ECONOMIA MISTA:


Como visto, empresas públicas e sociedades de economia mista possuem basicamente as mesmas características, fica até difícil às
vezes saber identificá-las. Por exemplo, Banco do Brasil e Caixa Economia Federal basicamente fazem a mesma coisa: abertura de
contas, empréstimos, financiamentos, cartões de crédito, etc. Todavia, o Banco do Brasil é uma sociedade de economia mista e a
Caixa Econômica Federal é uma empresa pública. E como é que vamos diferenciar?

São três diferenças, vejamos:


* capital:
As empresas públicas são formadas com capital integralmente público.
Sociedades de economia mista: o capital é público e privado (por isso são chamadas de sociedades de economia mista), todavia, o
Estado detém maioria do capital votante (50% + 1 das ações ordinárias).
* forma de constituição:
As empresas públicas podem ser constituídas sob qualquer forma admitida em direito: SA, LTDA, etc.
Sociedades de economia mista: constituída somente sob a forma de Sociedade Anônima.
* foro privativo:
As empresas públicas são julgadas perante a Justiça Federal.
As sociedades de economia mista são julgadas perante a Justiça Estadual.

2.5. QUADRO RESUMO DAS CARACTERÍSTICAS DAS ENTIDADES

Para facilitar a memorização, vamos montar um quadro resumo com todas as características das entidades da administração
pública indireta?

ENTIDADES ADMINISTRATIVAS - quadro completo

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AUTARQUIA E FUNDAÇÃO PÚBLICA DE EMPRESA PÚBLICA SOCIEDADE DE ECONOMIA
FUNDAÇÃO PÚBLICA DIREITO PRIVADO MISTA
DE DIREITO PÚBLICO
Criação Lei especifica Lei especifica autoriza Lei especifica autoriza Lei especifica autoriza
+ + +
Registro dos atos Registro dos atos Registro dos atos constitutivos
constitutivos constitutivos
+
Lei complementar (área
atuação)
Atividade Típicas (supremacia). Social (educação, saúde, - serviço público - serviço público
Ex: fiscalização lazer, esporte, cultura, Ou Ou
assistência social, etc) - atividade econômica - atividade econômica
Fim lucrativo NÃO NÃO SIM SIM

Personalidade Jurídica Direito Público Direito Privado Direito Privado Direito Privado
Pessoal Servidor Público Empregado Público Empregado Público Empregado Público (celetista)
(estatutário) (celetista) (celetista)
Bens Impenhoráveis Impenhoráveis Impenhoráveis, só para Impenhoráveis, só para as que
Inalienáveis as que forem criadas forem criadas para prestar
Imprescritíveis para prestar serviços serviços públicos
públicos
Imunidade de impostos Sim, são imunes Sim, são imunes Só tem direito à Só tem direito à imunidade de
sobre patrimônio, renda imunidade de impostos impostos as empresas públicas
e serviços, desde que as empresas públicas que que prestarem serviços
vinculados às finalidades prestarem serviços públicos
públicos
Foro (local de Justiça federal Justiça estadual Justiça federal Justiça estadual
julgamento) privativo
Capital 100% público 100% público 100% público 50% + 1 público
Forma jurídica/Tipo de ______ _______ Podem adotar qualquer Só podem adotar a forma de
sociedade forma (LTDA, S.A, etc.) sociedade anônima (S/A)

CARACTERÍSTICAS COMUNS ÀS ENTIDADES DA ADMINISTRAÇÃO INDIRETA:


1. Em todas elas há a exigência de concurso público para ingresso de pessoal;
2. Para todas vale a proibição de acumulação de cargos, empregos e funções, exceto dois cargos de professor, professor mais um
cargo técnico ou científico e dois de profissionais da saúde;
3. Todas são obrigadas a fazer licitação pública para compra de bens, contratação de obras, serviços, etc.
4. Todas sofrem controle, apesar de serem autônomas elas devem ser controladas, ou seja, fiscalizadas (mas não se trata de
controle hierárquico). Os controles são:
4.1 controle interno (que elas mesmo fazem internamente sobre os seus atos, anulam e revogam seus próprios atos).
4.2 controle finalístico (também chamado de tutela) feito pelos órgãos da Administração Direta. Esse controle é só para saber se
elas estão cumprindo as suas finalidades;
4.3 controle (financeiro) externo pelo Poder legislativo, com auxílio do TCU. Esse é o controle sobre o gasto de dinheiro público.
5. Elas não são subordinadas aos órgãos da Administração Direta; elas são apenas vinculadas aos órgãos da Administração Direta.
6. Nenhuma delas pode decretar falência; elas não se sujeitam à falência;
7. Todas elas possuem autonomia administrativa, financeira, orçamentária e patrimonial. Só não possuem autonomia política.

3. AGENTES PÚBLICOS: CONCEITO, CLASSIFICAÇÃO, ESPÉCIES, CARGO, EMPREGO E FUNÇÃO.


3.1. CONCEITO
Agente público é toda e qualquer pessoa física que exerce uma função pública, seja em caráter permanente ou de forma
temporária, seja ainda essa função remunerada ou não.

Observe que o conceito de agente público é bem amplo: qualquer pessoa física que desempenhe
uma função pública, não importando se será por muito tempo ou por alguns dias. Também não
importa se essa pessoa será remunerada ou não. Basta desempenha uma função pública que já é
possível considerar como agente público.

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Diante disso, considera-se agente público como um gênero que possui várias espécies.

Nessa esteira, os agentes públicos são classificados em:

3.2. CLASSIFICAÇÃO
3.2.1. Agentes políticos: são os agentes públicos que ocupam os mais altos escalões do Governo, em todos os seus Poderes,
desempenhando atribuições próprias previstas diretamente pela Constituição Federal. São os representantes dos três Poderes do
Estado: Legislativo, Executivo e Judiciário, além do Ministério Público e dos Tribunais de Contas.

Para Hely Lopes Meirelles encontram-se nessa categoria os Chefes do Poder Executivo (Presidente da República, Governadores e
Prefeitos) e seus auxiliares (Ministros de Estado, Secretários Estaduais e Municipais), membros do Poder Legislativo (Senadores,
Deputados e Vereadores), Magistrados, Membros do Ministério Público (Procuradores e Promotores), Conselheiros do Tribunal de
Contas.
- Presidente, governadores, prefeitos, ministros e secretários.
- Deputados Federais, Senadores, Deputados Estaduais, Deputados
Distritais e Vereadores.
- Juízes, Desembargadores, Ministros de Tribunais Superiores.
- Promotores e Procuradores do Ministério Público.
- Ministros e Conselheiros dos Tribunais de Contas.

Os agentes políticos possuem um pagamento diferenciado. Eles não recebem por remuneração e sim por subsidio ou estipêndio.
Subsidio é o pagamento feito em “parcela única, vedado acréscimo de qualquer gratificação, adicional, abono, prêmio, verba de
representação ou outra espécie remuneratória”.

Todos os agentes políticos são remunerados por subsídio.

Por fim, é importante destacar que, nos termos da Constituição Federal, determinados agentes políticos (magistrados, membros do
Ministério Público e Tribunais de Contas) possuem as prerrogativas da vitaliciedade, a inamovibilidade e a irredutibilidade de
subsídios.
 ATENÇÃO: a vitaliciedade, a inamovibilidade e a
irredutibilidade de subsídios são prerrogativas que só são devidas
aos magistrados, membros do Ministério Público e membros dos
Tribunais de Contas.

3.2.2 Agentes honoríficos: são aqueles que, em função de sua condição cívica, são convocados a prestar determinados serviços
relevantes ao Estado, tais como o mesário eleitoral, o jurado no tribunal do júri, dentre outros. Não possuem nenhum vínculo com a
Administração, em virtude da transitoriedade do serviço e não são remunerados.

3.2.3. Agentes delegados: são particulares que, por delegação do Estado, executam atividade ou serviço público em nome próprio,
por sua conta e risco, mas sempre sob fiscalização da Administração. São os concessionários e permissionários de serviço público,
dentre outros. Não atuam em nome do Estado, apenas colaboram com ele.

Os agentes delegados são chamados popularmente de “terceirizados”.

3.2.4. Agentes credenciados: segundo Hely Lopes Meirelles “são os que recebem a incumbência da administração para representa-
la em determinado ato ou praticar certa atividade específica, mediante remuneração do poder público credenciante”.

A título de exemplo, podemos citar os atletas brasileiros em competições mundiais.

3.2.5. Agentes administrativos: são aqueles que se vinculam à Administração Pública por relações profissionais continuadas,
sujeitando-se a regime próprio da entidade. Exercem atividade pública de natureza profissional e remunerada; são os ocupantes de
cargos públicos, empregos públicos e de funções púbicas.
São classificados em:

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a) servidores públicos ou servidores públicos em sentido estrito: agentes administrativos investidos em cargo público, sujeitos a
regime estatutário, ou seja, legal, baseado na lei. Os servidores podem ser efetivos (quando ocupam cargo efetivo através de
concurso público) ou podem ser servidores comissionados (quando ocupam cargo em comissão, de livre nomeação e exoneração).
b) empregados públicos: agentes administrativos que mantém relação contratual com a administração, regida por normas da
Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT). O empregado público não adquire estabilidade no serviço público, como ocorre com o
servidor público.
c) temporários: contratados para atender necessidade temporária de excepcional interesse público. Não ocupam cargo nem
emprego público, apenas exercem uma função pública temporariamente. Não são selecionados por concurso público e sim por
meio de processo seletivo simplificado.

 É imprescindível compreender as diferenças entre esses três agentes públicos.

SERVIDORES PÚBLICOS EMPREGADOS PÚBLICOS AGENTES TEMPORÁRIOS


Regidos pela LEI (estatuto) Regidos pela CLT Regidos por contrato temporário previsto em lei.
Ocupam cargos públicos Ocupam empregos públicos Não possuem cargo e nem emprego. Só exercem
função pública, temporariamente.
São divididos em servidores São obrigados a fazer concurso Não se submetem a concurso público. Fazem
efetivos ou em comissão público processo seletivo
Só faz concurso para ocupar Contratados em razão de excepcional interesse
cargo EFETIVO público

3.2.6. Militares (art. 142, §3° e 42 da Constituição Federal)


São pessoas físicas que prestam serviços às Forças Armadas (art. 142 da CF): marinha, exército e aeronáutica (§3°), e; as Polícias e
Corpos de Bombeiros Militares dos Estados, Distrito Federal e dos Territórios (art. 42).
Têm vínculo estatutário sujeito a regime jurídico definido por legislação própria para militares, que estabelecem normas de
ingresso, estabilidade, prerrogativas etc. (art. 142, §3°, X, e 42, §1°, da Constituição Federal).

3.2.7. Agentes necessários: são pessoas (que não foram investidas em função pública, são pessoas comuns) que praticam atos e
executam atividades em situações excepcionais, como, por exemplo, as de emergência, em colaboração com o poder Público e
como se fossem agentes de direito. São chamados também de agentes ou funcionários de fato.

3.2.8. Agentes putativos: São os que desempenham uma atividade pública na presunção de que há legitimidade, embora não tenha
havido investidura dentro do procedimento legalmente exigido. Os agentes putativos foram investidos em uma função pública, mas
de forma irregular, como por exemplo, quem ingressa na Administração Pública mediante fraude em concurso público.

UMA OBSERVAÇÃO MUITO IMPORTANTE!!!!!!!!!


USURPADOR DE FUNÇÃO PÚBLICA é a pessoa que se apodera indevidamente das
atribuições dos agentes públicos sem que, no entanto, tenha sido investida no cargo,
emprego ou função. Um exemplo de usurpador seria a pessoa que se passa por policial,
finge ser policial para obter alguma vantagem com isso.
O USURPADOR DE FUNÇÃO NÃO É CONSIDERADO AGENTE PÚBLICO E SEUS ATOS SÃO
CONSIDERADOS COMO ATOS INEXISTENTES.

4. PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. PRINCÍPIOS EXPRESSOS E IMPLÍCITOS.

Esta aí um conteúdo que é a cara do Direito Administrativo: princípios da Administração Pública. Esse conteúdo já foi muito cobrado
em provas, mas ultimamente já não cai tanto como antes, porém não podemos negligenciar o seu estudo.

Vamos contextualizar: nós já sabemos que o foco do Direito Administrativo é o desempenho da função administrativa pelo Estado e
vimos que essa função está ligada a execução dos serviços públicos ou de utilidade pública.

Desta feita, para executar os serviços a Administração Pública (ou seja, os órgãos, entidades e agentes públicos), devem seguir
alguns princípios.
Princípios são regras de conduta, ou seja, é aquela regra que você utiliza para as suas condutas, os
seus atos. Por exemplo, um dos meus princípios é a honestidade. Assim, a honestidade é uma regra
para as minhas condutas. Eu conduzo minha vida com honestidade. Se alguém me incentivar a
“passar a perna” em outro alguém, eu logo responderia: não, pois isso fere os meus princípios!!!
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Todos nós temos os nossos princípios, as nossas regras de conduta, as quais não violamos e pelas quais conduzimos nossos atos. Da
mesma forma é a Administração Pública. Ela tem os princípios dela, as regras de conduta dela, os quais não podem ser violados.

A Constituição Federal no caput do art. 37 elenca os princípios expressos da Administração pública:

Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da


União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos
princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e
eficiência.

São cinco princípios expressos na Constituição Federal, como visto acima: legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e
eficiência, de modo que utilizamos uma expressão mnemônica com cada uma de suas iniciais para facilitar a memorização: LIMPE.

E o que acontece com o agente público que viola esses princípios?

A violação aos princípios da Administração


Pública é considerada como ato de
improbidade administrativa e acarreta na
demissão do servidor e dependendo da
situação ele não poderá retornar mais ao
serviço público.

Diante dessa introdução, vamos estudar um a um os princípios expressos da Administração Pública.

4.1 PRINCÍPIOS EXPRESSOS

4.1.1. Legalidade
A legalidade é a base da atuação de toda a Administração. O princípio implica a subordinação completa do administrador à lei, de
modo que o administrador público só pode atuar se a lei permitir ou autorizar. A regra é clara: só se pode fazer aquilo que estiver
previsto em lei.

 ATENÇÃO, ATENÇÃO: não há uma hierarquia entre os princípios da Administração Pública. Todavia, o princípio da Legalidade é o
que precede todos os demais. Antes de observar os demais princípios, deve-se priorizar sempre a legalidade.

4.1.2. Impessoalidade
O princípio da impessoalidade é utilizado no âmbito da Administração Pública em três sentidos:

PRIMEIRO SENTIDO: no primeiro sentido, o princípio da impessoalidade significa que os atos praticados pelos agentes públicos
devem ser atribuídos ao Estado. Assim, caso um agente público cause dano a um particular, a ação deve ser proposta diretamente
contra o Estado e não contra o agente público.

Assim, no exercício da função pública, considera-se que quem praticou o ato foi o Estado, portanto, é este quem deve responder.
Posteriormente o Estado regressivamente irá cobrar do servidor.

SEGUNDO SENTIDO: Também se considera como decorrência do princípio da impessoalidade a atuação do administrador de
maneira totalmente impessoal, imparcial, não sendo possível ao agente conceder tratamento diferenciado a qualquer pessoa, seja
no intuito de beneficiar ou prejudicar alguém.

Desta feita, o agente público deve tratar de forma igualitária a todos que atender, sem qualquer direcionamento para uns ou para
outros. Deve agir de maneira totalmente imparcial com todos.

TERCEIRO SENTIDO: Ainda com base no princípio da impessoalidade é vedado ao administrador público se utilizar da
Administração Pública para se autopromover. Nessa esteira, não pode haver nenhuma promoção pessoal do agente pela realização
de suas atividades públicas, ou seja, os servidores e as autoridades não podem tentar se promover, citando seus nomes, colocando
seus símbolos ou suas imagens na divulgação das realizações, obras públicas, serviços públicos e na publicidade em geral.

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Desta feita, a Constituição Federal no art. 37, § 1º:

A publicidade dos atos programas, obras, serviços e campanhas dos


órgãos públicos deverá ter caráter educativo, informativo ou de
orientação social, dela não podendo constas nomes, símbolos, ou
imagens que caracterizem promoção pessoal de autoridades ou
servidores públicos.

ALGUMAS INFORMAÇÕES MUITO IMPORTANTES!


Em razão do princípio da impessoalidade não é permitida homenagens a administradores públicos com o intuito de colocar seu
nome em avenidas, ruas, praças, monumentos, etc. Assim, não é possível batizar uma avenida com o nome de um administrador
público, como por exemplo, Avenida Fulano de tal. As homenagens só podem póstumas.

4.1.3. Moralidade
O princípio da moralidade impõe ao administrador que não se desvie de princípios éticos. A atuação do agente público deve sempre
se pautar pela ética, pela probidade, pela lealdade, boa-fé, bons costumes, justiça e pela honestidade.

Nem todo ato legal é moral. É possível que o agente público pratique um ato de
acordo com a lei, mas que seja considerado violador da moral administrativa.

4.1.4. Publicidade
Os atos administrativos são, em regra, públicos, transparentes, ou seja, de conhecimento de todos. Todavia, não se pode esquecer
que esse princípio não tem aplicação absoluta na Administração Pública. Excepcionalmente, é necessário que alguns atos sejam
mantidos em sigilo.

Atos que são exceção ao princípio da publicidade, ou seja, que devem ser
mantidos em sigilo:
- atos ligados à segurança pública, segurança nacional e da sociedade;
- atos ligados à intimidade, vida privada, hora e imagem das pessoas.
Logo, o agente público da área de segurança, bem como todos os demais que no
exercício de sua função tenham acesso a informações ligadas à vida privada, honra e
imagem das pessoas deve manter isso em sigilo.

IMPORTANTE: não se deve confundir publicidade com publicação. A publicação de um ato significa que ele deve ser veiculado no
Diário Oficial. Nem tudo que é feito pela Administração deverá sair no Diário Oficial, ou seja, nem tudo deve ser publicado, mas em
regra tem que ter publicidade. A título de exemplo, veja um aviso colocado no mural de um órgão público. Esse aviso teve
publicidade, pois está lá pra quem quiser ver, mas não teve publicação (divulgação no Diário Oficial).

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 Para dar publicidade não é necessário ter publicação!!


4.1.5. Eficiência
O princípio da eficiência foi incorporado na Constituição Federal só em 1998 por meio da Emenda Constitucional n.º 19/98. Logo,
esse princípio não estava no texto original da Constituição em 1988.

Tal princípio visa a exigir que a Administração Pública como um todo funcione de forma bem mais eficiente. Assim, a Administração
Pública deve buscar sempre alcançar resultados positivos, com base em maior produtividade, abandonando velhos hábitos e rotinas
burocráticas.

A eficiência está ligada a uma noção de Administração Pública mais moderna, mais gerencial, preocupada com resultados. Serviço
eficiente é aquele que atende as necessidades da sociedade. Se um cidadão está preciso de atendimento médico, só podemos falar
em eficiência do serviço público se ele for realmente atendido e no menor tempo possível.

NEPOSTISMO
O nepotismo é a conduta em que um agente público nomeia para um cargo em comissão (de livre nomeação e exoneração) ou
função de confiança, seu cônjuge ou companheiro ou parentes até o terceiro grau ou quando combina com outra autoridade para
um nomear os parentes do outro (nepotismo cruzado).

De acordo com a súmula vinculante n.º 13 do


STF a prática do nepotismo fere os princípios
da IMPESSOALIDADE, MORALIDADE E
EFICIENCIA.

Veja que a famosa prática do nepotismo (totalmente reprovável) fere justamente três dos cinco princípios expressos da
Administração Pública, como visto acima. Todavia, há uma exceção ao nepotismo, ou seja, uma situação em que o agente público
nomeia seus parentes, mas isso não será considerado violação aos princípios da Administração Pública. Vejamos:

Agentes políticos podem nomear seus parentes para cargos políticos.


Traduzindo: cargos políticos são os cargos de Ministros e Secretários de Estado. Assim, o Presidente,
Governadores e Prefeitos podem nomear seus parentes para os cargos de ministros e secretários (por
isso que, no geral, toda primeira-dama é secretaria de alguma pasta social).
Não será considerado nepotismo.

4.2. PRINCÍPIOS IMPLÍCITOS


Além dos princípios expressos da Administração Pública que já estudamos, o famoso LIMPE (Legalidade, impessoalidade,
moralidade e eficiência), a Administração Pública adota também outros princípios que estão previstos em diversas leis ou decorrem
de entendimento doutrinário. Tais princípios são considerados como princípios implícitos. Os principais princípios implícitos seguem
abaixo:

4.2.1. Supremacia do interesse público sobre o interesse privado


Uma vez que o Estado representa toda a coletividade, o interesse da Administração deve ser entendido como o interesse de todos
e, portanto, deve prevalecer quando em conflito com interesses de particulares, desde que respeitados os direitos individuais destes.

 INTERESSE PÚBLICO

INTERESSE PRIVADO 

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4.2.2. Indisponibilidade do interesse público
Por esse princípio, a Administração Pública não pode dispor (decidir o que fazer por conta própria) dos bens ou interesses públicos.
Isto por que os bens e os interesses são de toda a coletividade, logo, são indisponíveis, cabendo à Administração tão somente
administrá-los para satisfazer a vontade da coletividade.

 ULTRA MEGA DICA DE PROVA


Os princípios da Supremacia do Interesse Público e o da Indisponibilidade dos bens e interesses
públicos formam o REGIME JURIDICO ADMINISTRATIVO. Esses dois princípios são muito
importantes no Direito Administrativo, por isso, eles formam o Regime Jurídico Administrativo.
Regime jurídico é um conjunto de normas, então, esses dois princípios são considerados como se
fossem normas administrativas, logo devem ser seguidos estritamente pela Administração,
apesar de não estarem expressos em lei.

4.2.3. Razoabilidade e proporcionalidade


Tais princípios impõe à Administração Pública a adequação entre os meios e os fins, vedada a imposição de obrigações, restrições e
sanções em medida superior àquelas estritamente necessárias ao entendimento do interesse público.

 Explicando melhor: os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade estão ligados ao bom senso. Eles são utilizados, por
exemplo, na aplicação de penalidade ao servidor que cometer infração administrativa. Podemos exemplificar utilizando a aplicação
de uma suspensão. De acordo com a Lei 840/11 ou com a Lei 8.112/90 a suspensão pode ser de até 90 dias. Veja que o prazo é de
até 90 dias, portanto, a autoridade poderá fixar o prazo de 10 dias, 20 dias, 30 dias, 45 dias, etc., desde que não ultrapasse os 90
dias. E quantos dias deverão ser fixados? Qual o critério para definir se serão 10 ou 20 dias? A definição da quantidade de dias de
suspensão deverá ser fixada com base nos princípios da razoabilidade e proporcionalidade, ou seja, por meio do bom senso.

4.2.4. Autotutela
O princípio da autotutela é aquele que permite à Administração Pública rever seus próprios atos controlando-os.

AUTO TUTELA

si próprio cuidar

Cuidar de si mesmo,
si próprio

Pelo princípio da autotutela a Administração “cuida dela própria”, revendo seus atos e anulando se forem ilegais ou revogando se
forem inoportunos ou inconvenientes. Pela autotutela a própria Administração tem poder para rever os atos que pratica e sendo o
caso, proceder à sua anulação ou revogação.

Assim,

ANULAÇÃO REVOGAÇÃO
Ato ILEGAL. Ato inoportuno ou inconveniente.

Sobre tal princípio o STF editou a súmula n.º 473:


Súmula 473 STF:“a Administração pode anular seus próprios atos, quando eivados de vícios que os
tornem ilegais, porque deles não se originam direitos; ou revogá-los, por motivo de conveniência ou
oportunidade, respeitados os direitos adquiridos, e ressalvada, em todos os casos, a apreciação
judicial”.

4.2.5. Continuidade dos serviços públicos


Os serviços públicos são serviços prestados no interesse da coletividade, para a satisfação de suas necessidades e de seus interesses
e por isso a atividade administrativa não pode parar. Em face disso, a prestação de serviços públicos (saúde, educação, segurança,
transporte, etc) não pode sofrer interrupções, eis que prejudica toda a coletividade que dele depende para a satisfação de suas
necessidades e de seus interesses.

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Todavia, o princípio da continuidade dos serviços públicos não tem aplicação absoluta. A Lei nº 8.987/95 prevê algumas exceções
em que poderá haver a interrupção dos serviços públicos:

-Em caso de emergência (mesmo sem aviso prévio);


- Por razões de ordem técnica ou de segurança das instalações, desde que o usuário
seja previamente avisado.
- Por causa de inadimplemento do usuário, desde que seja previamente avisado.

4.2.6. Segurança jurídica


O princípio da segurança jurídica está relacionado à necessidade de respeito, pela Administração, à boa fé dos administrados que
com ela interagem, no sentido de que, quando esses têm um determinado direito reconhecido pela Administração, não podem vir a
ser prejudicados posteriormente por mudanças de entendimento da própria Administração sobre a matéria.
Desta feita, pelo princípio da segurança jurídica, a Administração, ao alterar um entendimento que possui sobre uma determinada
matéria, só poderá aplicar esse novo entendimento para os fatos praticados a partir daí, desse novo entendimento, não podendo
aplicar o novo entendimento de forma retroativa, as situações pretéritas, eis que ocasionaria uma situação de total insegurança
para os administrados.

5. PODERES ADMINISTRATIVOS: VINCULADO, DISCRICIONÁRIO, HIERÁRQUICO, DISCIPLINAR, DE POLÍCIA, REGULAMENTAR.


ABUSO DE PODER: EXCESSO DE PODER, DESVIO DE PODER, OMISSÃO

Os poderes administrativos são prerrogativas inerentes à Administração Pública que permitem o cumprimento de suas finalidades
em proveito do interesse público. Esses poderes são utilizados no âmbito da Administração Pública para desempenhar suas funções.

Podem ser classificados em seis categorias: vinculado, discricionário, hierárquico, disciplinar, de polícia e regulamentar.

5.1 Poder Vinculado


O poder vinculado é aquele que a Administração se utiliza para a prática de atos vinculados, ou seja, para a prática do ato
administrativo cujo conteúdo observa de forma rígida o estabelecido em lei. O poder vinculado apenas autoriza a Administração a
executar atos nas estritas hipóteses legais, sem qualquer liberdade na sua atuação.

Segundo Hely Lopes Meirelles é aquele que o Direito Positivo – a lei – confere à Administração Pública para a prática de ato de sua
competência, determinando os elementos e requisitos necessários à sua formalização.

5.2 Poder Discricionário


O poder discricionário é o poder conferido à Administração para a prática de atos discricionários. Os atos discricionários são aqueles
nos quais o Administrador possui um certo grau de liberdade na escolha do motivo e do objeto para a prática do ato, baseando-se
na oportunidade e conveniência da situação.

O poder discricionário é a autorização legal para que o agente público decida, dentro dos limites legais, a conveniência e a
oportunidade em praticar um ato administrativo. Todavia, esta liberdade para a prática do ato não é plena, o Administrador estará
limitado aos comandos legais, não podendo dele se afastar.

5.3. Poder Hierárquico

O Poder Hierárquico serve como fundamento para que órgãos e agentes públicos atuem em relação a seus
subordinados, conforme escala hierárquica. Hierarquia é a existência de níveis de subordinação entre órgãos e agentes públicos.
Doutrinariamente, é o poder de que dispõe a Administração Pública para distribuir e escalonar as funções de seus órgãos, rever a
atuação de seus agentes, estabelecendo a relação de subordinação entre os servidores do seu quadro de pessoal. Trata-se de um
poder utilizado apenas no âmbito interno da Administração Pública entre órgãos e agentes públicos.

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Consequências do poder hierárquico:


- dar ordens aos subordinados, que deverão ser cumpridas por estes desde que não sejam
manifestamente ilegais.
- rever os atos praticados pelos subordinados, podendo desfazê-los por motivo de ilegalidade ou
mesmo por motivo de inconveniência;
- coordenar as atividades e ordenar, organizar a atuação dos órgãos subordinados;
- poder disciplinar, que é poder de aplicar sanções em caso de infrações disciplinares;
- delegar competências
- avocar competências.

OBS: O poder hierárquico é exercido somente no âmbito interno da Administração Pública, entre órgãos e agentes da
Administração Pública, eis que para que haja hierarquia é necessária a existência de subordinação. Não existe incidência do
poder hierárquico da Administração sobre particulares, tampouco da Administração Direta sobre a Administração Indireta.

5.4. Poder Disciplinar

É aquele que tem a Administração para apurar as faltas e, conforme o caso, aplicar as devidas punições a seus
servidores públicos e demais pessoas sujeitas à disciplina interna da Administração. Esse poder é utilizado para punir os servidores
(através da demissão, advertência, suspensão, etc.), mas também pode ser utilizado para punir particulares desde que vinculados à
Administração, sujeitos à disciplina interna da Administração, como por exemplo, um terceirizado, alunos de escolas públicas, etc.

ATENÇÃO: para o exercício do poder disciplinar, deve haver a prévia instauração de processo administrativo no intuito de garantir
a ampla defesa e o contraditório. Nesse sentido, o artigo 5°, incisos LV e LIV, da Constituição Federal, assegura a todos “o processo
administrativo com contraditório, ampla defesa com os meios e recursos a ela inerentes para todos os litigantes e acusados”.

5.5. Poder de Polícia

O poder de polícia é aquele no qual a Administração interfere na órbita do interesse privado, restringindo
direitos individuais em prol da coletividade. Assim, nas lições de Hely Lopes Meirelles o poder de polícia consiste “na faculdade de
que dispõe a administração pública de condicionar ou restringir o uso e gozo de bens, atividades e direitos individuais em benefício
da coletividade ou do próprio Estado. ”

 CUIDADO! O poder de polícia está relacionado à restrição ou limitação de direitos individuais, JAMAIS podendo alterar ou
extinguir (suprimir totalmente) os direitos individuais.

A definição de poder de polícia encontra-se positivado no art. 78 do Código Tributário Nacional, nos termos abaixo:

Art. 78. Considera-se poder de polícia atividade da administração pública que, limitando ou
disciplinando direito, interesse ou liberdade, regula a prática de ato ou abstenção de fato, em razão
de interesse público concernente à segurança, à higiene, à ordem, aos costumes, à disciplina da
produção e do mercado, ao exercício de atividades econômicas dependentes de concessão ou
autorização do Poder Público, à tranquilidade pública ou ao respeito à propriedade e aos direitos
individuais ou coletivos.

A razão para que a definição de poder de polícia esteja no Código Tributário Nacional é que o exercício do poder de polícia por um
ente federado constitui, em algumas situações, fato gerador de uma espécie de tributo, qual seja, a taxa, nos termos do art. 145, II
da Constituição Federal.

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Assim, é possível que no exercício do poder de polícia o Estado cobre taxas do particular, como por exemplo, as taxas de
fiscalização.

MUITA ATENÇÃO: conforme visto o poder de polícia autoriza a cobrança de taxa, que é uma espécie de tributo. Taxa é diferente
de tarifa ou preço e de penalidades. Conforme já visto, taxa é um tributo e ele é cobrado em razão do exercício do poder de polícia.
Tarifa ou preço público é o que pagamos em razão da utilização de um serviço público, tais como energia e agua. Penalidade é uma
sanção em razão do descumprimento de uma norma.

OBSERVAÇÕES IMPORTANTES:
- o poder de polícia é baseado no princípio da supremacia do interesse público sobre o interesse privado.
- aplica-se aos particulares em geral (particulares sem vínculo profissional ou contratual com a Administração).
- regra geral, o poder de polícia é uma atividade essencialmente negativa, eis que geralmente impõe ao particular um não fazer (por
exemplo, não estacione aqui; não construa sem alvará; não dirija sem CNH, etc). Todavia, em alguns momentos o poder de polícia
se expressa em condutas positivas.
- segundo o STF, o poder de polícia não pode ser delegado a particulares (terceirizados). Para o STJ, atos materiais preparatórios ou
sucessivos (posteriores) ao poder de polícia podem ser delegados a particulares, como por exemplo, a instalação de um radar
eletrônico (ato material preparatório do poder de polícia – no caso fiscalização) e a execução de uma demolição de um prédio
irregular (ato posterior ao poder de polícia – no caso a fiscalização – de mera execução). Assim, a instalação do radar e a execução
da demolição são atos materiais de execução do poder de polícia e esses atos podem ser delegados a particulares. Porém, a
fiscalização em si, não poderia.
- segundo entendimento já ultrapassado, o STF entendia que o poder de polícia só poderia ser exercido por entidades da
Administração Pública com personalidade jurídica de direito público (União, Estados, DF, Municípios, Autarquias e fundações
públicas de direito público). Todavia, em recente decisão, datada de 23 de outubro de 2020, em regime de repercussão geral, nos
autos do RE 633782 o STF decidiu que “é constitucional a delegação do poder de polícia, por meio de lei, a pessoas jurídicas de
direito privado integrantes da Administração Pública indireta de capital social majoritariamente público que prestem
exclusivamente serviço público de atuação própria do Estado e em regime não concorrencial”. Assim, mudando totalmente seu
posicionamento de décadas, o STF permitiu a delegação do poder de polícia a empresas públicas e sociedades de economia mista
prestadoras de serviços públicos, cujo capital seja majoritariamente público. Esse é o posicionamento que deve ser adotado em
prova.
- O poder de polícia pode ser exercido através da edição de atos normativos, ou seja, através da edição de leis, decretos, resoluções,
portarias, etc., mas também pode ser exercido através de atos concretos, como por exemplo, fiscalizações de trânsito. Assim, deve-
se tomar muito cuidado na hora de definir o poder de polícia. É comum as pessoas acharem que o poder de polícia é sinônimo de
fiscalização. Todavia, fiscalização é um dos atos de polícia. É possível, como já dito, que o poder de polícia seja exercido apenas e tão
somente quando a administração edita uma norma, uma lei, um decreto, uma portaria, etc., desde que elas tenham conteúdo de
restringir direitos individuais em prol da coletividade (e nesse caso o poder de polícia terá caráter preventivo). Assim, como é
possível também que o poder de polícia seja exercido através de atos concretos, como a apreensão de veículo irregular (e nesse
caso o poder de polícia passa a ter caráter repressivo). Logo, o poder de polícia pode ser exercido pelo Poder Legislativo (ao editar
as normas) ou pelo Poder Executivo (ao executar as leis, atuando de forma concreta).

5.5.1 Características do poder de polícia


O poder de polícia possui como características a discricionariedade, a auto-executoriedade e a coercibilidade.

5.5.1.1 Discricionariedade
O poder de polícia possui como característica o fato de ser discricionário, pois a lei não determina de forma taxativa qual atitude a
ser tomada pelo agente público. Nas palavras de Marcelo Alexandrino e Vicente Paulo “a discricionariedade no exercício do poder
de polícia significa que a administração, quanto aos atos a ele relacionados, regra geral, dispõe de uma razoável liberdade de
atuação, podendo valorar a oportunidade e conveniência de sua prática, estabelecer o motivo e escolher, dentro dos limites legais,
o seu conteúdo.”

5.5.1.2 Auto-executoriedade
Na definição de Hely Lopes Meirelles “a auto-executoriedade consiste na possibilidade que certos administrativos ensejam de
imediata e direta execução pela própria Administração, independentemente de ordem judicial.”

5.5.1.3 Coercibilidade
A característica da coercibilidade significa que os atos de polícia são imperativos, coercitivos, de cumprimento obrigatório pelos
particulares. Por meio da coercibilidade, pode a Administração no exercício de seu poder de polícia, impor suas medidas
coativamente (forçadamente) ao administrado, inclusive mediante o emprego da força, se necessário.

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É importante destacar que nem todo ato de polícia goza de coercibilidade, como por exemplo, quando da expedição de uma licença
para funcionamento de um estabelecimento. Neste caso, não há coercibilidade no ato de polícia.

5.5.2 Polícia Administrativa e Polícia Judiciária

O poder de polícia é utilizado nas atividades de polícia administrativa. Todavia, o poder de polícia é diferente do poder da polícia
que é utilizado na atividade de polícia judiciária.

Explicando melhor: o poder DE polícia (policia administrativa) é diferente do poder DA polícia (polícia judiciária). Em resumo, o
poder de polícia incidirá sobre ilícitos meramente administrativos. Já o poder da polícia (também chamada de polícia judiciária)
incidirá sobre ilícitos penais.

Assim, se alguém cometer um ilícito meramente administrativo (funcionar sem alvará, por exemplo) sofrerá a fiscalização do poder
de polícia; mas se cometer um crime (roubo, por exemplo) sofrerá a atuação do poder da polícia.

Vejamos um quadro resumo das diferenças:

POLICIA ADMINISTRATIVA POLÍCIA JUDICIÁRIA


Ilícitos Administrativos Penais
Aplicação de normas de Direito Administrativo de Direito Processual Penal
Incidência sobre Bens, direitos e atividades Somente sobre pessoas
Exercida por Diversos órgãos Somente por órgãos de segurança

5.6. Poder Regulamentar


Poder Regulamentar é aquele que permite ao Chefe do Poder Executivo a editar atos normativos. O exercício do poder
regulamentar, em regra, se materializa na edição de decretos e regulamentos, nos termos do art. 84, IV da Constituição Federal,
expedidos pelo Chefe do Poder Executivo cujo objetivo é apenas possibilitar a fiel execução de uma lei. Não tem como objetivo
inovar na ordem jurídica; deve restringir-se apenas aos limites e ao conteúdo da lei, explicitando-a, detalhando e explicando o
sentido de seus dispositivos.

5.7. ABUSO DE PODER


O exercício ilegítimo das prerrogativas conferidas à Administração Pública configura ABUSO DE PODER. É possível que tal abuso se
dê por meio de uma conduta comissiva (ação) ou omissiva (omissão).

O abuso de poder desdobra-se em três categorias:


5.7.1 Excesso de Poder: quando o agente público atua fora dos limites de sua competência. Ou seja, pratica ato que não compete a
ele ou exorbita, extrapola o limite de sua competência.
5.7.2 Desvio de Poder ou Desvio de Finalidade: quando a atuação do agente público, embora dentro de sua órbita de competência,
contraria a finalidade do ato administrativo (que é sempre o interesse público). Em resumo, o agente pratica o ato pensando no
interesse pessoal ou particular, se desviando da finalidade pública.

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5.7.3 Omissão: há o abuso pela omissão quando o agente público tem o dever de agir, mas deixa de praticar ato, não exercendo os
poderes que lhe foram outorgados. Ocorre quando o agente tem o dever de praticar um ato administrativo, mas acaba se omitindo
e ferindo o interesse publico, coletivo.

6. ATOS ADMINISTRATIVOS: CONCEITO, ELEMENTOS, ATRIBUTOS, EXTINÇÃO, CLASSIFICAÇÃO E ESPÉCIES.

6.1. INTRODUÇÃO:
Já destacamos várias vezes que o objeto do direito administrativo é o exercício da função administrativa, que é a atividade em que o
Estado executar as políticas públicas, os serviços públicos e de utilidade pública, a saúde, a educação, o transporte público, a
segurança pública, etc.

Para o desempenho da função administrativa (execução de serviços públicos) é necessário a prática de vários atos (ações). Dessa
forma, para o desempenho da saúde ou da segurança pública, por exemplo, várias ações são praticadas, como por exemplo, o
atendimento de um paciente pelo médico através da prática de várias ações, como por exemplo, medir a temperatura do paciente
ou emitir uma receita médica para a compra de um medicamento.
6.2. CONCEITO DE ATO ADMINISTRATIVO
Segundo Hely Lopes Meirelles, ato administrativo é “toda manifestação unilateral de vontade da Administração Pública que, agindo
nessa qualidade, tenha por fim imediato adquirir, resguardar, transferir, modificar, extinguir e declarar direitos ou impor obrigações
aos administrados ou a si própria.”

Traduzindo: ato é ação (ou seja, a manifestação de uma vontade) da Administração Pública de forma unilateral (bilateral são os
contratos administrativos) que produza efeito jurídico; que tenha consequência jurídica com vistas a adquirir, resguardar, transferir,
modificar, extinguir e declarar direitos ou impor obrigações. Exemplo: ao demitir um servidor, a Administração Pública estará
praticando uma ação que produz efeito jurídico (consequência jurídica), extinguindo a relação que esse servidor tem com a
Administração Pública. Portanto, a demissão é um ato administrativo.

6.3. ELEMENTOS NECESSÁRIOS À FORMAÇÃO DO ATO ADMINISTRATIVO

A validade de um ato administrativo depende da presença de cinco elementos: competência, finalidade, forma, motivo e objeto.

CUIDADO AQUI! Esses cinco elementos ou requisitos DEVEM estar presentes em um ato administrativo. Se um desses requisitos
estiver ausente em um ato administrativo, este não terá validade.

Para auxiliar na memorização:

CO FI FO MO OB
6.3.1 Competência: é a capacidade atribuída, por lei, ao agente público para o exercício de suas atribuições.
É o poder atribuído por lei aos órgãos e agentes para o desempenho específico de suas atribuições. Por ser prevista em lei a
competência é sempre um elemento vinculado do ato administrativo.

ATENÇÃO: vício que recaia sobre o elemento competência configura


ABUSO DE PODER, na modalidade EXCESSO DE PODER.

Características da competência:
- é de exercício obrigatório para órgãos e agentes públicos;
- é irrenunciável: o agente competente não pode renunciar (abrir mão) de sua competência.
- é intransferível: não cabe ao agente o poder de transferir a titularidade da competência para outra pessoa;
- é imodificável pela vontade do agente.
- é imprescritível, pois o não exercício de uma competência não acarreta a sua extinção.
Todavia, a competência é passível de delegação e avocação (artigos 11 a 15 da Lei n.º 9.784/99).

6.3.1.1 Delegação
Delegar competência é transferir de forma temporária parte das atribuições de um agente (chamado delegante) para outro agente
(chamado agente delegado). A delegação de competência pode ser feita de um superior para um subordinado (com hierarquia) ou
ainda de um agente para outro agente, mesmo não havendo subordinação hierárquica.
- É ato discricionário e revogável a qualquer tempo pela autoridade delegante.

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- As decisões tomadas por delegação são de responsabilidade do agente delegado.

 IMPORTANTE: O art. 13 da Lei n.º 9.784/99 enumera as situações em


que não é possível a delegação:
I – edição de atos normativos
II – decisão de recursos administrativos
III – matérias de competências exclusivas

6.3.1.2 Avocação
Avocar é o ato pelo qual o superior hierárquico traz para si o exercício temporário de uma determinada competência atribuída a um
subordinado. É medida excepcional e deve ser fundamentada. O instituto da avocação está previsto no art. 15 da Lei n.º 9.784/99.

A avocação só é possível quando há relação de hierarquia

6.3.2 Finalidade: de TODO ato administrativo é sempre o interesse público, jamais podendo ser praticado com a finalidade de
atender o interesse privado.

A finalidade de um ato administrativo é sempre elemento vinculado, eis que não é o agente público que determina a finalidade de
um ato administrativo, mas sim a lei. Logo, a finalidade de todo ato administrativo deve estar voltada para a satisfação do interesse
público.
 ATENÇÃO: vício que recaia sobre o elemento finalidade configura ABUSO
DE PODER, na modalidade DESVIO DE FINALIDADE OU DESVIO DE PODER.

6.3.3 Forma: é o modo através do qual se exterioriza o ato administrativo. Adota-se, via de regra, a forma escrita para os atos
administrativos e, excepcionalmente, outras formas, como a verbal e até mesmo gestual, sinais.

6.3.4 Motivo: é a circunstância de fato e de direito que autoriza a prática de um ato administrativo. É a razão de fato e de direito
que autoriza a prática de um ato administrativo. A razão de fato é aquela situação concreta que (de fato) está ocorrendo e justifica a
necessidade daquele ato, enquanto a razão de direito é a razão que a lei estipula para o ato.

6.3.4.1 MOTIVO e MOTIVAÇÃO


Não se deve confundir motivo com motivação. O motivo, conforme já visto, é razão de fato e de direito que autoriza a prática de
um ato administrativo. A motivação é a demonstração por escrito que os pressupostos autorizadores para a prática do ato
realmente estão presentes.

Via de regra, o motivo é requisito de validade de um ato administrativo, devendo existir para a prática de todo e qualquer ato
administrativo.

Todavia, a motivação não é obrigatória em todos os atos administrativos. A motivação é obrigatória nos atos que:
I - neguem, limitem ou afetem direitos ou interesses;
II - imponham ou agravem deveres, encargos ou sanções;
III - decidam processos administrativos de concurso ou seleção pública;
IV - dispensem ou declarem a inexigibilidade de processo licitatório;
V - decidam recursos administrativos;
VI - decorram de reexame de ofício;
VII - deixem de aplicar jurisprudência firmada sobre a questão ou discrepem de pareceres, laudos, propostas e relatórios oficiais;
VIII - importem anulação, revogação, suspensão ou convalidação de ato administrativo.

6.3.4.2 Teoria dos motivos determinantes


Segundo a Teoria dos motivos determinantes, uma vez motivado o ato (seja ele vinculado ou discricionário) os motivos alegados
pelo agente público competente vinculam-se ao ato administrativo. Para que o ato seja válido, caso haja motivação, os motivos
devem ser VERDADEIROS.

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Descrevendo tal teoria, Maria Sylvia Zanella Di Pietro afirma que “a validade do ato se vincula aos motivos indicados como seu
fundamento, de tal modo que se, inexistentes ou falsos, implicam a sua nulidade. Por outras palavras, quando a Administração
motiva o ato, mesmo que a lei não exija a motivação, ele só será válido se os motivos forem verdadeiros.”

Assim,

Se o motivo indicado expressamente é verdadeiro O ATO É VÁLIDO


Se o motivo indicado expressamente não condiz com a verdade O ATO É INVÁLIDO (NULO)

6.3.5 Objeto: é o resultado do ato; é o efeito gerado pelo ato. É o conteúdo do ato. O objeto ou conteúdo do ato administrativo é o
resultado dele, é o efeito gerado por ele.

6.4 ATRIBUTOS DO ATO ADMINISTRATIVO (PODEM ESTAR PRESENTES OU NÃO)


Atributos são características, qualidade do ato administrativo. Essas características nem sempre estarão presentes em todos os atos
administrativos. A doutrina costuma elencar quatro atributos de um ato administrativo: presunção de legitimidade e veracidade,
autoexecutoriedade, imperatividade e tipicidade.

6.4.1 PRESUNÇÃO DE LEGITIMIDADE OU VERACIDADE: é o atributo por meio do qual presumem-se legítimos (legais) e verdadeiros
os atos administrativos. Assim se um agente de trânsito aplica uma multa em um motorista por não estar utilizando o cinto de
segurança, presume-se que essa multa é legitima (legal) e verdadeira, ou seja, que o motorista realmente não estava utilizando o
cinto. Porém, essa presunção é relativa (ou juris tantum), pois admite prova em contrário, porém o ônus é do particular. Logo,
caberá ao motorista provar que estava de cinto para tentar anular o ato, ou seja, anular a multa.

ATENÇÃO: todo ato administrativo possui esse atributo. O ato administrativo já nasce com a presunção de que é legitimo e
verdadeiro (até que se prove o contrário).

6.4.2 AUTO-EXECUTORIEDADE: a autoexecutoriedade é atributo que permite a Administração praticar os atos administrativos por
conta própria, sem necessidade de ordem judicial ou autorização de outro poder. Assim, os atos administrativos podem ser
implementados diretamente pela própria Administração, independente de ordem judicial, como por exemplo, a apreensão de
veículo irregular. Para apreender o veículo a Administração não depende de ordem judicial. O próprio agente de transito (a
Administração) faz a apreensão.

Para alguns autores, esse atributo é desdobrado em dois, quais sejam, exigibilidade e
executoriedade.
A executoriedade tem o mesmo sentido da autoexecutoriedade, ou seja, a Administração
poderá praticar o ato diretamente, sem necessidade de ordem judicial.
A exigibilidade é o atributo pela a Administração exige do particular que ele (particular)
pratique o ato, podendo utilizar-se, inclusive, de meios indireto de coerção.

6.4.3 IMPERATIVIDADE: pelo atributo da imperatividade alguns atos administrativos são imperativos, ou seja, impostos pela
Administração sem a necessidade de concordância do destinatário do ato, do particular. Veja-se, por exemplo, a interdição de um
estabelecimento. Trata-se de um ato dotado de imperatividade, essa interdição será imposta ao dono do estabelecimento, sem
necessidade da concordância dele. O ato é imposto ao particular, independentemente de sua concordância.

6.4.4 TIPICIDADE: os atos administrativos devem corresponder a figuras previamente definidas na lei; pela tipicidade, os atos
administrativos devem corresponder a figuras previamente previstas em lei; devem estar na lei.

 ATENÇÃO: todo ato possui tipicidade, todo ato deve estar previsto em lei.

6.5. FORMAS DE EXTINÇÃO DE UM ATO ADMINISTRATIVO


Ao praticar um ato administrativo, a Administração Pública poderá se deparar com o fato de que esse ato esteja eivado de vício que
o torne ilegal ou que seja inoportuno ou inconveniente. Diante dessa constatação, o ato administrativo deverá ser anulado ou
revogado.

6.5.1 Anulação

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A anulação é cabível sempre que o ato administrativo seja ilegal. A anulação sempre se reporta à legalidade do ato, à sua
conformação ou não com os comandos legais. Tanto atos vinculados como atos discricionários são passíveis de anulação. A anulação
retira do mundo jurídico um ato defeituoso, contrário à lei.

Os efeitos dessa anulação retroagem à data em que o ato foi praticado. É o que a doutrina chama de efeitos “ex-tunc”, ou seja,
efeitos retroativos.

A anulação de um ato administrativo pode ser feita tanto pela Administração, como corolário do princípio da autotutela, como pelo
Poder Judiciário.

O art. 54 da Lei n.º 9784/99 estabelece prazo prescricional de cinco anos para a anulação de atos ilegais, seja qual for o vício, salvo
se restar comprovada a má-fé do administrado.

 UMA OBSERVÇÃO MUITO IMPORTANTE! Qualquer ato pode ser anulado, seja ato vinculado e discricionário, basta que esse ato
venha a ferir a lei. Assim, por consequência, o Poder Judiciário pode anular qualquer ato administrativo (seja vinculado ou
discricionário) desde que esse ato venha a ferir uma lei.

6.5.2 Revogação
A revogação é a retirada do mundo jurídico de um ato administrativo legal por motivos de conveniência e oportunidade. O ato,
mesmo legal, não é mais oportuno e conveniente para a Administração (interessante pra ela).

Os efeitos da revogação de um ato administrativo são prospectivos, ou seja, a revogação só produzirá efeito da extinção do ato para
frente, efeitos “ex nunc”, proativos. Assim, como a anulação, na revogação devem ser resguardados os direitos consolidados
durante a vigência do ato, os direitos adquiridos.

Por envolver exame de mérito, a revogação de um ato administrativo só pode ser feita pela própria Administração, não cabendo ao
Poder Judiciário revogar um ato administrativo exarado pela Administração Pública.

OBSERVAÇÃO: Poder Judiciário só poderá revogar seus próprios atos. Não poderá revogar os atos da Administração.

 IMPORTANTE - Não poderão ser revogados:


- atos que geram direitos subjetivos aos administrados (por força do ato jurídico perfeito e da coisa julgada);
- atos que exauriram seus efeitos
- atos vinculados
- atos declaratórios.

PARA FACILITAR O ESTUDO:


motivo Quem pode efeitos Terceiros de boa fé Prazo
ANULAÇÃO Ato ilegal Administração ou Ex-tunc Resguardam-se 5 anos, salvo má-fé
Poder Judiciário (retroativos) seus direitos
REVOGAÇÃO Ato inoportuno Só a Ex-nunc (não Resguardam-se A qualquer tempo
ou incoveniente Administração retroativos) seus direitos

6.6. CLASSIFICAÇÃO DOS ATOS ADMINISTRATIVOS


A) QUANTO AOS DESTINATÁRIOS:
* Atos Gerais – não possuem destinatários determinados; produzem efeitos externos. Ex.: decretos
* Atos Individuais – possuem destinatários determinados ou determináveis; produzem efeitos internos ou externos. Ex.: nomeação,
autorização, etc.

B) QUANTO AO ALCANCE:
* Atos Internos – produzem efeitos apenas no âmbito da Administração. Não obrigam e nem geram direitos para os administrados.
Não necessitam ser publicados nos Diários Oficiais. Ex.: portarias, circulares, etc.
* Atos Externos – produzem efeitos que atingem os administrados em geral. Ex.: decretos, nomeação, etc.

C) QUANTO AO OBJETO:
* Atos de Império – são aqueles que a Administração impõe coercitivamente ao administrado, usando de sua supremacia estatal.
Ex.: desapropriação, interdição de atividade, etc.

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* Atos de Gestão – são aqueles que a Administração pratica como se fosse um particular, sem utilizar sua supremacia estatal. Ex.:
aluguel, alienação, etc.
*Atos de Expediente – são aqueles que visam dar andamento a processos que tramitam na Administração.

D) QUANTO AO REGRAMENTO:
* Atos Vinculados – são aqueles que a lei estabelece todos os elementos, sem deixar qualquer margem de liberdade ao
administrador para escolha de conveniência e oportunidade para a pratica do ato. Ex.: licença.
* Atos Discricionários – são aqueles que a lei estabelece margem de liberdade ao administrador para escolha de conveniência e
oportunidade para a pratica do ato. Ex.: autorização.

IMPORTANTE: Nos atos vinculados TODOS OS ELEMENTOS SERÃO VINCULADOS (presos na lei). Não haverá margem de liberdade
para o agente público dispor sobre quaisquer dos elementos.

Nos atos discricionários serão vinculados os elementos: competência, finalidade e forma; motivo e objeto serão discricionários.

QUADRO RESUMO
COMPETÊNCIA FINALIDADE FORMA MOTIVO OBJETO
ATO VINCULADO Elemento Elemento vinculado Elemento vinculado Elemento vinculado Elemento
vinculado vinculado
ATO Elemento Elemento vinculado Elemento vinculado Elemento Elemento
DISCRICIONÁRIO vinculado discricionário discricionário

A discricionariedade é feita com base na OPORTUNIDADE E CONVENIÊNCIA. Assim, na hora de praticar um ato com certo grau de
liberdade, essa liberdade deve se basear na análise da oportunidade e conveniência do ato administrativo. A análise da oportunidade
e da conveniência é chamada do MÉRITO ADMINISTRATIVO.

Destarte, os elementos motivo e objeto do ato administrativo é que definirão se o ato é vinculado ou discricionário. Atos vinculados
são aqueles que a Administração pratica sem qualquer margem de liberdade, eis que todo o passo a passo para a prática do ato está
previsto em lei. Atos discricionários são aqueles nos quais a lei confere ao administrador certo de grau de liberdade de agir valorando
(julgando) os motivos e escolhendo o sue objeto (conteúdo) para a prática do ato, baseado sempre na oportunidade e conveniência
da situação, ou seja, no mérito administrativo.

E) QUANTO À FORMAÇÃO:
* Atos Simples – são os que resultam da manifestação de vontade de um único órgão, unipessoal ou colegiado. Ex.: exoneração de
servidor comissionado
* Atos Complexos – são os que resultam da manifestação de vontade de dois ou mais órgãos, cuja vontade se fundem formando um
único ato. Ex.: decreto assinado pelo Chefe do Executivo e referendado pelo Ministro de Estado.
* Atos Composto – são os que resultam da manifestação de vontade de um órgão, dependendo da aprovação, confirmação,
ratificação, homologação de outro órgão para ter exequibilidade. Assim, tem-se duas vontades e dois atos , um principal e outro
acessório. Ex.: nomeação do Procurador Geral da República (Senado Federal aprova, Presidente nomeia).

F) QUANTO AO CONTEÚDO:
* Atos Constitutivos – criam uma situação jurídica. Ex.: nomeação, concessão de licença, etc.
* Atos Desconstitutivos ou Extintivos – põem fim a uma situação jurídica. Ex.: demissão
* Atos Declaratórios – apenas declaram uma situação preexistente. Ex.: certidão
* Atos Alienativos – transferem bens e direitos. Ex.: doação, venda, permuta, etc.
* Atos Modificativos – alteram situações preexistentes, sem por fim nelas. Ex.: mudança de horário de trabalho na repartição.
* Atos Abdicativos – por meio do qual o titular abre mão de um direito. É irretratável e depende de prévia autorização legislativa.

G) QUANTO À VALIDADE:
* Atos Válidos – aqueles que estão de acordo com todas as exigências legais.
* Atos Nulos – aqueles que não estão de acordo com as exigências legais. É vicio insanável, não podendo ser convalidado.
* Atos Anuláveis – quando há, apenas, uma nulidade relativa, podendo o vicio ser sanado.
* Atos Inexistentes – são aqueles que parecem ser atos, mas não são. Em regra, são praticados pelos usurpadores de função pública.

H) QUANTO À EFICÁCIA OU EXEQÜIBILIDADE:


* Atos Perfeitos – são aqueles que tiveram sua formação concluída, valido ou invalido.
* Atos Imperfeitos – são aqueles que, ainda, não completaram seus ciclos de formação.

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* Atos Pendentes – são aqueles que, embora perfeitos, estão sujeitos a condição ou termo, sendo ineficazes. Ex.: ato não publicado.
* Atos Consumados – são aqueles que já produziram todos os seus efeitos.

6.7. ESPÉCIES DE ATOS ADMINISTRATIVOS


6.7.1 ATOS NORMATIVOS – são atos que advém do Poder Normativo, constituindo-se num comando geral e abstrato, aplicáveis a
todos os administrados que se enquadrarem nas situações neles previstas. São análogos à lei, mas não possuem caráter inovador.
Visam a possibilitar a fiel execução da lei (Decreto executivo) ou a regulamentação de matérias não previstas em lei (Decreto
Autônomo). Ex.: Decretos, Regulamentos, Regimentos, Instruções Normativas, etc.

6.7.2 ATOS ORDINATÓRIOS – são atos que advém do Poder Hierárquico, constituindo-se num comando interno, aplicáveis aos
servidores públicos, com o fim de disciplinar o funcionamento da Administração. Somente vinculam os servidores que se encontram
subordinados àqueles que o expediu. Não atingem os administrados. Ex.: instruções, circulares, avisos, portarias, ofícios, despachos,
ordens de serviço, etc.

6.7.3 ATOS NEGOCIAIS – são atos que contém uma declaração de vontade do Poder Público coincidente com a pretensão do
particular. Produzem efeitos concretos e individuais. Não há imperatividade. Podem ser vinculados (licença) ou discricionários
(autorização ou permissão de uso de bem público).
Ex:
 Licença: É ato vinculado pelo qual a Administração permite que, mediante o atendimento de certos requisitos, o particular
possa exercer determinada atividade.

 Autorização: É ato discricionário da Administração tornando possível a realização de certa atividade, serviço ou o uso de
determinado bem público. Exemplo: porte de arma. O pretendente necessariamente tem que atender a certos requisitos. Mas
cabe à Administração decidir discricionariamente quanto a permitir ou não a pretensão solicitada.

 Permissão: É o ato discricionário e unilateral, em que a Administração possibilita ao particular o uso de bem público de
interesse coletivo. Distingue-se da autorização porque exige que o bem a ser usado, envolva interesse público.

6.7.4 ATOS ENUNCIATIVOS – são aqueles em que a Administração atesta ou certifica um fato ou uma situação, sem caráter
decisório e sem vinculação. Não contém manifestação de vontade da Administração. Ex.: certidão, atestado, parecer, etc.
Ex:
Certidões: são cópias autenticadas de atos ou fatos constantes de registros públicos;
Atestados são atos que comprovam fatos ou situações transitórias que não constam em registros públicos.
O Parecer: É ato pelo qual os órgãos consultivos da Administração emitem opiniões sobre assuntos de sua competência. O parecer
não obriga a Administração ao cumprimento de suas conclusões, sendo apenas opinativo.

6.7.5 ATOS PUNITIVOS – são aqueles que contém uma sanção imposta pela Administração aos agentes públicos ou administrados
que infringirem disposições legais, regulamentares ou ordinatórias. Advém do Poder Disciplinar (ato punitivo interno) e do Poder de
Polícia (ato punitivo externo). Ex: multas, interdição de estabelecimentos, apreensão de mercadorias, etc.

7. CONTROLE DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

É o conjunto de instrumentos que o ordenamento jurídico estabelece afim de que a própria administração pública, os
Poderes Judiciário e Legislativo, e ainda o povo, diretamente ou por meio de órgãos especializados, possam exercer o poder de
fiscalização, orientação e revisão da atuação administrativa de todos os órgãos e agentes públicos, em todas as esferas de Poder.

7.2. FORMAS DE CONTROLE (classificação)


A) QUANTO À ORIGEM:
* Interno – realizado pela entidade ou órgão responsável pela atividade. Exercido dentro de um mesmo Poder (quando, por
exemplo, o diretor do setor de recursos de multas do DETRAN anula uma multa aplicada por agente de trânsito do próprio DETRAN).
*Externo – realizado por quem não é o responsável pela atividade. Exercido por um Poder sobre os atos dos outros (quando, por
exemplo, o Poder Judiciário anula um ato da Administração Pública) ou pela Administração Direta sobre a Administração Indireta.

B) QUANTO AO MOMENTO DE EXERCÍCIO:

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* Prévio ou preventivo: ocorre antes do ato ser praticado. Ex.: autorização do Congresso Nacional para o Presidente da República se
ausentar do país.
* Concomitante: ocorre durante a realização do ato. Ex.: fiscalização da execução de um contrato administrativo.
* Superveniente, corretivo ou posterior: ocorre após a conclusão do ato. Ex.: homologação de licitação ou concurso.

C) QUANTO AO ASPECTO CONTROLADO:


* De Legalidade ou Legitimidade: é o controle em que se verifica se o ato está de acordo com a lei e os princípios da Administração.
Pode ser realizado pelos três Poderes. Terá como consequência a anulação do ato.
* De Mérito: é o controle feito sobre o ato analisando a sua oportunidade e a conveniência. Pode levar a revogação do ato. Esse
controle é pela Administração sobre seus atos, mas também poderá ser feita pelo poder Legislativo sobre a Administração. O Poder
Judiciário não pode controlar o mérito dos atos da Administração. O Poder Judiciário somente controla a legalidade dos atos da
Administração.

D) QUANTO À AMPLITUDE:
* Hierárquico: é sempre um controle interno do órgão, onde o superior fiscaliza e controla os atos dos subordinados. Resulta da
relação de hierarquia dos órgãos da administração direta ou indireta. Esse controle pode verificar tanto a legalidade quanto o
mérito, de forma a acarretar a sua anulação ou a sua revogação.
* Não hierárquico, finalístico, controle de resultados ou supervisão ministerial: realizado pelos poderes Judiciário e Legislativo sobre
a Administração Pública ou o controle realizado pela Administração Direta sobre a Administração Indireta.

7.3. CONTROLE ADMINISTRATIVO (controle exercido pela administração sobre seus próprios atos)
O controle administrativo é aquele exercido pelo Poder Executivo sobre os atos de seus próprios órgãos e entidades. O Poder
Legislativo e Judiciário também realizam controle administrativo, quando exercem função administrativa, fiscalizando os atos
administrativos editados por seus próprios órgãos.

O controle administrativo é sempre um controle interno (por que é feito dentro de cada poder). Poder ser sobre a LEGALIDADE do
ato ou sobre seu MÉRITO. Deriva do princípio da AUTOTUTELA, expressa na súmula 473 do STF:

A ADMINISTRAÇÃO PODE ANULAR SEUS PRÓPRIOS ATOS, QUANDO


EIVADOS DE VÍCIOS QUE OS TORNAM ILEGAIS, PORQUE DELES NÃO SE
ORIGINAM DIREITOS; OU REVOGÁ-LOS, POR MOTIVO DE CONVENIÊNCIA
OU OPORTUNIDADE, RESPEITADOS OS DIREITOS ADQUIRIDOS, E
RESSALVADA, EM TODOS OS CASOS, A APRECIAÇÃO JUDICIAL.

O controle administrativo pode ser ainda HIERÁRQUICO ou NÃO HIERÁRQUICO. O controle hierárquico é feito entre órgãos e
entidades que estejam escalonados verticalmente. O controle hierárquico é aquele feito entre entidades do mesmo poder, porém
sem relação de hierarquia entre eles, como ocorre no controle feito pela Administração Direta sobre a Indireta.

7.4 CONTROLE LEGISLATIVO OU PARLAMENTAR


É o controle que o Poder Legislativo exerce sobre a Administração Pública (controle externo), possuindo natureza política ou
financeira, restrito às hipóteses previstas na Constituição Federal.
Existem duas formas de controle legislativo: controle político e financeiro.
O controle político é exercido pelo Legislativo sobre os atos administrativos. Ex:

art. 49, V – sustar os atos normativos do Poder Executivo que exorbitem do poder regulamentar
art. 49, X – fiscalizar os atos do Poder Executivo
art. 51, II – tomada de contas do Presidente
art. 52, III – aprovar previamente a escolha de algumas autoridades
art. 58, § 3º - comissão parlamentar de inquérito.

O controle financeiro é realizado pelo Congresso Nacional, com auxílio do TCU nos termos da Constituição Federal:
A fiscalização contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial da União
e das entidades da administração direta e indireta, quanto à legalidade,
legitimidade, economicidade, aplicação das subvenções e renúncia de receitas, será
exercida pelo Congresso Nacional, mediante controle externo, e pelo sistema de
controle interno de cada Poder.

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7.5. CONTROLE JUDICIAL OU JUDICIÁRIO
É o exercido pelos órgãos do Poder Judiciário sobre os atos administrativos quanto a sua legalidade, acarretando na sua anulação.
Para que seja feito, é necessário que o Judiciário seja provocado por meio de ações judiciais, tais como habeas corpus, habeas data,
mandado de segurança, mandado de injunção, ação popular, dentre outros.

7.6. SISTEMAS ADMINISTRATIVOS


É o regime adotado pelo Estado para a fiscalização e correção dos atos administrativos. São de dois tipos:

A) SISTEMA DO CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO (OU SISTEMA FRANCÊS): Por esse sistema o controle feito somente pela própria
Administração, de modo que não cabe ao Poder Judiciário analisar os atos da administração pública. Esse controle não é adotado
pelo Brasil.

B) SISTEMA DE JURISDIÇÃO ÚNICA (OU SISTEMA DE CONTROLE JUDICIAL OU SISTEMA INGLÊS): A justiça comum tem a competência
de apreciar os litígios envolvendo a Administração. É o controle feito pelo Judiciário, com separação do administrador e do juiz. É o
controle adotado no Brasil nos termos do artigo 5º, inciso XXXV, da Constituição Federal vigente, que dispõe: “a lei não excluirá da
apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”.

8. RESPONSABILIDADE CIVIL OU EXTRACONTRATUAL DO ESTADO

8.1 CONCEITO
Responsabilidade civil é o dever que tem o Estado de reparar os danos patrimoniais e morais causados por seus agentes a seus
administrados. Os danos indenizáveis são aqueles causados por agentes públicos, NA QUALIDADE DE AGENTES PÚBLICOS.

 O particular tem o prazo de cinco anos para buscar a reparação pelos danos que sofreu, exceto em se tratando de danos
decorrentes do regime militar que serão imprescritíveis.

8.2 TEORIAS (EVOLUÇÃO)


A responsabilização do Estado pelos danos que seus agentes causaram a terceiro passou por intensa evolução no decorrer dos
tempos até chegarmos ao contexto atual baseado na Constituição Federal de 1988. Partimos da total não responsabilização do
Estado até a atual teoria, da Responsabilidade Civil Objetiva, vejamos:

A) TEORIA DA IRRESPONSABILIDADE – Pela concepção absolutista de Governo, imperava a doutrina da irresponsabilidade estatal,
consubstanciada na expressão “The king can do no wrong” (“O rei não erra”).

B) TEORIA CIVILISTA – Da completa irresponsabilidade se partiu para uma visão civilista de reparação de danos, vigorando a
responsabilidade subjetiva, ou seja, a Administração respondia civilmente pelos danos que tivesse causado por sua culpa ou dolo,
competindo ao administrado comprovar os mesmos.

C) TEORIA DA CULPA ADMINISTRATIVA OU CULPA DO SERVIÇO – É o estágio de transição entre a responsabilidade subjetiva e a
objetiva. Se traduz no binômio: falta do serviço – culpa da Administração. O administrado deve provar, penas, a falta do serviço
(inexistência, mau funcionamento ou retardamento do serviço) para surgir a obrigação do Estado indenizar.

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D) TEORIA DA RESPONSABILIDADE OBJETIVA – A obrigação de reparar o dano independe da comprovação de dolo ou culpa da
Administração. Se subdivide em duas teorias:
D.1) TEORIA DO RISCO INTEGRAL – A Administração é responsável por todo e qualquer dano, ainda que resulte de culpa exclusiva da
vítima. Ex.: dano nuclear.
D.2) TEORIA DO RISCO ADMINISTRATIVO – A Administração tem que indenizar os danos causados ao administrado, independente de
dolo ou culpa. Para a responsabilidade se perquire apenas: fato + dano + nexo = indenização. Entretanto, se exime da
responsabilidade se provar alguma excludente, como a culpa exclusiva da vítima.

8.3 TEORIA ADOTADA NO DIREITO BRASILEIRO


O Direito Brasileiro adota a TEORIA DA RESPONSABILIDADE OBJETIVA (art. 37, § 6º/CF), vejamos:

Art. 37 § 6º - As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços


públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado
o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa.

Assim, a teoria da responsabilidade objetiva possui como elementos:


a) ocorrência de um fato
b) que esse fato tenha ocasionado um dano patrimonial e moral.
c) nexo de causalidade (vinculo) entre o dano e a atuação do Estado;

 ATENÇÃO, MUITA ATENÇÃO: na teoria da responsabilidade objetiva que é a atualmente aditada pelo ordenamento jurídico
brasileiro, a vítima não precisa provar que o agente público causador do dano agiu com dolo (intenção) ou culpa (negligencia,
imprudência ou imperícia). Basta que ela prove que houve um fato, que esse fato causou um dano e que tem um nexo causal (uma
ligação) com o Estado. Vejamos em esquema:

FATO + DANO + NEXO CAUSAL = RESPONSALIBIDADE CIVIL DO ESTADO

A título de exemplo, podemos citar o fato de uma viatura policial em perseguição bater no carro de um particular. Nesse caso,
perceba que é irrelevante se a batida se deu por que estava em perseguição ou não, a única coisa que se deve avaliar para que o
Estado seja civilmente responsabilizado é se houve um fato (a batida) se esse fato causou um dano (amassou o veículo do particular)
e se há um nexo causal (uma ligação entre o fato, o dano e o Estado – e tem, pois, quem causou o dano foi um agente público no
desempenho da função). Diante disso, o Estado deve indenizar a vítima.

É imperioso destacar que a teoria da responsabilidade objetiva se divide: RISCO ADMINISTRATIVO ou RISCO INTEGRAL. Como regra,
o ordenamento jurídico brasileiro adota atualmente a teoria da responsabilidade objetiva na modalidade RISCO ADMINISTRATIVO.

Pela Teoria da responsabilidade objetiva com base no risco administrativo o Estado responde, independe de dolo ou culpa do
agente público, porém é possível que o Estado venha a se eximir dessa responsabilidade se restar comprovada três excludentes:
caso fortuito, força maior e culpa exclusiva da vítima ou de terceiros. Se umas dessas três excludentes estiverem presentes na
situação, o Estado não será obrigado a indenizar.

8.4 EXCLUDENTES DA RESPONSABILIDADE


São fatos que retiram do Estado o dever de indenizar. Se divide em três espécies.
A) FORÇA MAIOR – evento da natureza, imprevisto e inevitável (ex: enchentes, inundações)
B) CASO FORTUITO – evento humano (ex.: greve).
C) CULPA DA VÍTIMA – sendo a culpa exclusiva da vítima, gera total irresponsabilidade do Estado.

 IMPORTANTE! Em pode ser culpa concorrente da vítima não haverá a exclusão da


responsabilidade do Estado, mas atenuará a responsabilidade de modo que o Estado
responda proporcional a sua participação no evento danoso.

Excepcionalmente no Brasil será adotada a teoria da responsabilidade civil objetiva do Estado com base no risco integral. Com base
nessa teoria não há excludente de responsabilidade do Estado e ele responderia integral, independe de quem tenha causado o
dano. Ocorrerá nos casos de dano nuclear, guerra, terrorismo e danos ambientes. Ocorrendo algumas dessas situações o Estado
será integralmente responsabilizado não podendo se eximir em nenhuma hipótese.

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8.5 ASPECTOS DA TEORIA DA RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA
A Teoria Objetiva do Risco Administrativo possui alguns aspectos que devem ser analisados:

1. Só se aplica aos danos causados por atos comissivos, ou seja, danos


que decorreram da AÇÃO de um agente público. Exemplo: um
motorista de uma viatura em uma perseguição atinge um veículo
particular. Veja que o dano decorreu de uma ação do agente público, no
caso, dirigir, então será aplicada a responsabilidade objetiva.

2. Quando se trata de dano que decorre da omissão do Estado (como por


exemplo, quando ciente de que uma árvore está prestes a cair em uma
área de grande circulação de pessoas e o Estado nada faz para impedir), a
responsabilidade será SUBJETIVA. Responsabilidade subjetiva é aquela
em que a vítima, para poder ter direito à indenização, precisa provar que
houve um fato, que esse fato causou um dano e que houve dolo
(intenção) ou culpa (negligencia, imprudência ou imperícia) do agente
público.

Todavia, há uma exceção ao afirmado acima, vejamos:

ATENÇÃO: A RESPONSABILIDADE DO ESTADO POR DANOS CAUSADOS POR SUA OMISSÃO PARA AQUELES QUE ESTÃO SOB
SUA CUSTÓDIA (COMO POR EXEMPLO, OS PRESOS) SERÁ PELA FORMA OBJETIVA.

3. A teoria da Responsabilidade objetiva só se aplica às pessoas jurídicas


de Direito Público (União, Estados, DF, Municípios, Autarquias e
Fundações Públicas de Direito Público) e as pessoas jurídicas de Direito
Privados desde que sejam prestadores de serviços públicos (fundações
públicas de direito privado, empresas públicas e sociedades de economia
mista prestadoras de serviços públicos).

Diante do disposto acima:

ATENÇÃO: tal teoria (da responsabilidade objetiva) não se aplica às Empresas Públicas e as Sociedades de Economia Mista
exploradoras de atividade econômica. Para tais entidades a responsabilidade é subjetiva.

Segundo o Informativo nº 557/09 do STF a responsabilidade das Concessionárias e Permissionárias de serviço público é objetiva
tanto nas relações com os seus usuários quanto em relação aos terceiros não usuários.

8.6. AÇÃO DE REGRESSO

É a ação intentada contra o agente público, pelo prejuízo causado por seu ato ilícito (praticado de forma dolosa ou culposa),
baseada na Responsabilidade Subjetiva do Agente. É a ação do Estado contra o agente público causador do dano. Após indenizar a
vítima, o Estado regressivamente vai cobrar do agente público através da ação de regresso, desde que fique comprovado que o
agente agiu de forma dolosa ou culposa.

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ESTADO AGENTE PÚBLICO

Não ocorre nos atos lícitos praticados pelo agente, aqueles em que o agente causou o dano, mas agiu sem dolo e sem culpa, não
teve intenção, nem negligencia, imprudência ou imperícia. Pode ser intentada mesmo após cessar o vínculo entre o agente e a
Administração. O ônus da prova é da Administração, que para intentar a ação de regresso tem que ter sido condenada a indenizar o
administrado, com base na Responsabilidade Objetiva.

É uma ação civil, e, por isso, se transmite aos sucessores, até o limite da herança transferida. É uma ação imprescritível.

8.7. RESPONSABILIDADE SUBJETIVA DO ESTADO

Ocorre nos casos de OMISSÕES do Estado. Segundo entendimento do STF, o administrado (a vítima, o particular) deve provar: a
omissão + o dano + a intenção ou negligencia, imprudência ou imperícia do agente pública em se omitir. Sem a demonstração da
intenção do Estado em se omitir ou de sua negligencia, imprudência ou imperícia, não há indenização.

A título de exemplo, podemos citar grandes buracos em avenidas que causam prejuízos aos motoristas. Pela omissão do Estado,
caberá a sua responsabilização, porém com base na teoria da responsabilidade subjetiva.

 ATENÇÃO, ATENÇÃO, ATENÇÃO! Conforme já dito, caso por conta de uma omissão do Estado seja causado um dano para
aqueles que se encontram sob sua custódia, a responsabilidade é objetiva e não subjetiva.

Assim, a teoria da responsabilidade subjetiva possui como elementos:


a) ocorrência de dano em razão da omissão;
b) nexo de causalidade entre o dano e a atuação ou omissão do Estado;
c) Dolo ou culpa do agente.

8.8 RESPONSABILIDADE POR ATOS LEGISLATIVOS


Muito se questiona se o Estado deve ser responsabilizado pelos atos legislativos, quais sejam, as leis no geral. Todavia, regra geral,
os atos Legislativos típicos (as leis formais) não geram responsabilidade, exceto se forem declaradas inconstitucionais e causarem
prejuízo a alguém. Também pode haver responsabilização do Estado no tocante às leis de efeitos concretos – se lesivas, geram
responsabilidade, por serem atos administrativos normativos destinados à pessoas determinadas.

8.9 RESPONSABILIDADE POR ATOS JUDICIAIS


Também há uma grande discussão quanto a responsabilização do Estado pelos atos judiciais, tais como sentença, decisões, medidas
cautelares, etc. Todavia, em regra, não cabe responsabilização pelas decisões judiciais contrárias aos interesses das partes, exceto
se se trata de condenado por ERRO JUDICIÁRIO, assim como o do que ficar preso além do tempo fixado na sentença, conforme o
art. art. 5º, LXXV/CF, em que haverá a responsabilização do Estado e o dever de indenizar.

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