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Ansiedade

Incluído em 29/01/2005

Há autores que definem a era moderna como a Idade da Ansiedade, associando a este
acontecimento psíquico a agitada dinâmica existencial da modernidade; sociedade industrial,
competitividade, consumismo desenfreado e assim por diante.

Diz-se que a simples participação do indivíduo na sociedade contemporânea já preenche, por


si só, um requisito suficiente para o surgimento da Ansiedade. Portanto, viver ansiosamente
passou a ser considerado uma condição do homem moderno ou um destino comum ao qual
todos estamos, de alguma maneira, atrelados.

Com certeza, até por uma questão biológica, podemos dizer que a Ansiedade sempre esteve
presente na jornada humana desde a caverna até a nave espacial. A novidade é que só
agora estamos dando atenção à quantidade, tipos e efeitos dessa Ansiedade sobre o
organismo e sobre o psiquismo humanos, de acordo com as concepções da prática clínica, da
medicina psicossomática e da psiquiatria.

Nosso potencial ansioso sempre se manteve fisiologicamente presente e sempre carregando


consigo o sentimento do medo, sua sombra inseparável. É muito difícil dizer se era diferente
o estresse (esta revolução orgânica e psíquica) que acometia o homem das cavernas diante
de um urso invasor de sua morada daquilo que sente hoje um cidadão comum diante do
assaltante que invade seu lar. Provavelmente não. Faz parte da natureza humana certos
sentimentos determinados pelo perigo, pela ameaça, pelo desconhecido e pela perspectiva
de sofrimento.

A Ansiedade passou a ser objeto de distúrbios quando o ser humano colocou-a não a serviço
de sua sobrevivência, como fazia antes, mas a serviço de sua existência, com o amplo leque
de circunstâncias quantitativas e qualitativas desta existência . Assim, o estresse passou a
ser o representante emocional da Ansiedade, sua correspondência psíquica e egoicamente
determinada. O fato de um evento ser percebido como estressante não depende apenas da
natureza do mesmo, como acontece no mundo animal, mas do significado atribuído à este
evento pela pessoa, de seus recursos, de suas defesas e de seus mecanismos de
enfrentamento. Isso tudo diz respeito mais à personalidade que aos eventos do destino em
si.

Embora a Ansiedade favoreça a performance e a adaptação, ela o faz somente até certo
ponto, até que nosso organismo atinja um máximo de eficiência. À partir de um ponto
excedente a Ansiedade, ao invés de contribuir para a adaptação, concorrerá exatamente
para o contrário, ou seja, para a falência da capacidade adaptativa.

Em nossos ancestrais esse mecanismo foi destinado à sobrevivência diante dos perigos
concretos e próprios da luta pela vida, como foi o caso das ameaças de animais ferozes, das
guerras tribais, das intempéries climáticas, da busca pelo alimento, da luta pelo espaço
geográfico, etc.
No ser humano moderno, apesar dessas ameaças concretas não mais existirem em sua
plenitude tal como existiram outrora, esse equipamento biológico continuou existindo.
Apesar dos perigos primitivos e concretos não existirem mais com a mesma freqüência,
persistiu em nossa natureza a capacidade de reagirmos ansiosamente diante das ameaças.

Com a civilidade do ser humano outros perigos apareceram e ocuparam o lugar daqueles que
estressavam nossos ancestrais arqueológicos. Hoje em dia tememos a competitividade
social, a segurança social, a competência profissional, a sobrevivência econômica, as
perspectivas futuras e mais uma infinidade de ameaças abstratas e reais, enfim, tudo isso
passou a ter o mesmo significado de ameaça e de perigo que as questões de pura
sobrevivência à vida animal ameaçavam nossos ancestrais. Se na antigüidade tais ameaças
eram concretas e a pessoa tinha um determinado objeto real à combater (fugir ou atacar),
localizável no tempo e no espaço, hoje em dia esse objeto de perigo vive dentro de nós. As
ameaças vivem, dormem e acordam conosco.

Se, em épocas primitivas o coração palpitava, a respiração ofegava e a pele transpirava


diante de um animal feroz a nos atacar, se ficávamos estressados diante da invasão de uma
tribo inimiga, hoje em dia nosso coração bate mais forte diante do desemprego, dos preços
altos, das dificuldades para educação dos filhos, das perspectivas de um futuro sombrio, dos
muitos compromissos econômicos cotidianos e assim por diante. Como se vê, hoje nossa
Ansiedade é continuada e crônica. Se a adrenalina antes aumentava só de vez em quando,
hoje ela está aumentada quase diariamente.

A Ansiedade aparece em nossa vida como um sentimento de apreensão, uma sensação de


que algo está para acontecer, ela representa um contínuo estado de alerta e uma constante
pressa em terminar as coisas que ainda nem começamos. Desse jeito nosso domingo têm
uma apreensão de segunda-feira e a pessoa antes de dormir já pensa em tudo que terá de
fazer quando o dia amanhecer. É a corrida para não deixar nada para trás, além de nossos
concorrentes. É um estado de alarme contínuo e uma prontidão para o que der e vier.

No ser humano o conflito parece ser essencial ao desenvolvimento da Ansiedade. Em nosso


cotidiano, sem termos plena consciência, experimentamos um sem-número de pequenos
conflitos, interpessoais ou intrapsíquicos; as tensões entre ir e não ir, fazer e não fazer,
querer e não poder, dever e não querer, poder e não dever, a assim por diante. Portanto,
motivação fisiológica para o aparecimento da Ansiedade existe de sobra.

A Ansiedade pode se manifestar em três níveis: neuroendócrino, visceral e de consciência. O


nível neuroendócrino diz respeito aos efeitos da adrenalina, noradrenalina, glucagon,
hormônio anti-diurético e cortizona. No plano visceral a Ansiedade corre por conta do
Sistema Nervoso Autônomo (SNA), o qual reage se excitando (sistema simpáticoto) na
reação de alarme ou relaxando (sistema vagal) nas fase de esgotamento. Na consciência a
Ansiedade se manifesta por dois sentimentos desagradáveis: 1- através da consciência das
sensações fisiológicas de sudorese, palpitação, inquietação, etc. e; 2- através da consciência
de estar nervoso ou amedrontado.
Os padrões individuais de Ansiedade variam amplamente. Alguns pacientes têm sintomas
cardiovasculares, tais como palpitações, sudorese ou opressão no peito, outros manifestam
sintomas gastrointestinais como náuseas, vômito, diarréia ou vazio no estômago, outros
ainda apresentam mal-estar respiratório ou predomínio de tensão muscular exagerada, do
tipo espasmo, torcicolo e lombalgia. Enfim, os sintomas físicos e viscerais variam de pessoa
para pessoa. Psicologicamente a Ansiedade pode monopolizar as atividades psíquicas e
comprometer, desde a atenção e memória, até a interpretação fiel da realidade.

Assim sendo, considerando a nossa necessidade fisiológica de nos adaptarmos às diversas


circunstâncias através da Ansiedade, falamos em Ansiedade Normal. Por outro lado, falamos
também da Ansiedade Patológica como uma forma de resposta inadequada, em intensidade
e duração, à solicitações de adaptação. Um determinado estímulo (interno ou externo)
funcionando como uma convocação de alarme continuamente, por exemplo, pode favorecer
o surgimento da Ansiedade Patológica.

Se em outros tempos o ser humano manifestava a sua Ansiedade de maneira muito próxima
à um medo especificamente dirigido a um objeto ou situação específicos e delimitados no
tempo (animal feroz, tempestade, guerra, etc.), hoje a maioria dos estímulos
desencadeadores desta emoção são inespecíficos (insucesso, insegurança social,
competitividade profissional, frustração amorosa, política ou religiosa, constrangimento ético,
etc.); o ser humano moderno coloca-se em posição de alarme diante de um inimigo
abstratos e impalpável.

A Ansiedade aparece em nossa vida como um sentimento de apreensão, uma sensação de


que algo está para acontecer, ela representa um contínuo estado de alerta e uma constante
pressa em terminar as coisas que ainda nem começamos. Desse jeito nosso domingo têm
uma apreensão de segunda-feira e a pessoa antes de dormir já pensa em tudo que terá de
fazer quando o dia amanhecer. É a corrida para não deixar nada para trás, além de nossos
concorrentes. É um estado de alarme contínuo e uma prontidão para o que der e vier.

A natureza foi generosa oferecendo-nos a atitude da Ansiedade ou Estresse, no sentido de


favorecer sempre a adaptação. Porém, não havendo período suficiente para a recuperação
desse esforço psíquico, o qual restabeleceria a saúde, ou persistindo continuadamente os
estímulos de ameaça que desencadeiam a reação de Estresse, nossos recursos para a
adaptação acabam por esgotar-se. O Esgotamento é, como diz o próprio nome, um estado
onde nossas reservas de recursos para a adaptação se acabam.

Biologicamente a etiologia da Ansiedade parece estar relacionada ao Sistema


Noradrenérgico, Gabaérgico e Serotoninérgico (da noradrenalina, serotonina e gaba,
respectivamente) do Lombo Frontal e do Sistema Límbico. Os pacientes ansiosos tendem a
ter um tônus simpático aumentado, respondendo emocionalmente de forma excessiva aos
estímulos ambientais e demorando mais a adaptar-se às alterações do Sistema Nervoso
Autônomo. Segundo Kaplan, a Ansiedade tem uma ocorrência duas vezes maior no sexo
feminino e se estima que até 5% da população geral tenha um distúrbio generalizado de
Ansiedade. As teorias psicossociais sobre a gênese da Ansiedade são exaustivamente
estudadas, não só pela medicina como também pela psicologia, pela sociologia, pela
antropologia e pela filosofia.

Transtorno de Ansiedade Generalizada


A característica essencial do Transtorno de Ansiedade Generalizada, segundo o DSM.IV, é
uma expectativa apreensiva ou preocupação excessiva, ocorrendo na maioria dos dias e com
duração de, pelo menos, 6 meses. A pessoa portadora de Transtorno de Ansiedade
Generalizada considera difícil controlar essa preocupação excessiva, a qual é acompanhadas
de pelo menos três dos seguintes sintomas adicionais:

Inquietação,
Fatigabilidade,
Dificuldade em concentrar-se,
Irritabilidade,
Tensão muscular e
Perturbação do sono
Embora os pacientes com Transtorno de Ansiedade Generalizada nem sempre sejam capazes
de identificar suas preocupações como "excessivas", eles relatam sofrimento subjetivo por
causa delas, têm dificuldade em controlá-las ou experimentam prejuízo social ou ocupacional
por causa disso.

A intensidade, duração ou freqüência da ansiedade ou preocupação excessivas são


claramente desproporcionais ao evento estressor e a pessoa considera difícil evitar que essas
preocupações interfiram na atenção e nas tarefas que precisam ser realizadas. Normalmente
tem dificuldade em parar de se preocupar. Os adultos com Transtorno de Ansiedade
Generalizada freqüentemente se preocupam com circunstâncias cotidianas e rotineiras, tais
como possíveis responsabilidades no emprego, finanças, saúde de membros da família,
infortúnio acometendo os filhos ou questões menores, tais como tarefas domésticas,
consertos no automóvel ou atrasos a compromissos. As crianças com Transtorno de
Ansiedade Generalizada tendem a exibir preocupação excessiva com sua competência ou a
qualidade de seu desempenho. Durante o curso do transtorno, o foco da preocupação pode
mudar de uma preocupação para outra.

para referir:
Ballone GJ - Ansiedade - in. PsiqWeb, Internet, disponível em http://www.psiqweb.med.br/,
revisto em 2005.

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