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Argumentação e Filosofia/ Os dois usos da retórica- persuasão e manipulação/

Verdade e ser

ARGUMENTAÇÃO e FILOSOFIA
1. O domínio e controlo sobre os seres leva-se a cabo mediante as técnicas da
manipulação. Se quisermos colaborar eficazmente na construção de uma
sociedade melhor, mais solidária e justa, devemos identificar os ardis da
manipulação e aprender a pensar com todo o rigor. Não é muito difícil: basta um
pouco de atenção e agudeza crítica. Não basta viver num regime democrático
para sermos livres de verdade. A liberdade deve ser conquistada dia - a - dia
opondo-se àqueles que ardilosamente tentam dominar-nos com os recursos dessa
forma de ilusionismo mental que é a manipulação. Esta conquista só é possível
se tivermos uma ideia clara a respeito de quatro questões: 1º - O que significa
manipular? 2º - Quem manipula? 3º - Para que manipula? 4º - Que tática utiliza
para este fim? A análise destes pontos permitir-nos-á discernir se é possível
dispor de um antídoto para a manipulação. O que significa manipular?
É tratar uma pessoa ou grupo de pessoas como se fossem objectos, a fim de
dominá-los facilmente. Essa forma de tratamento significa um rebaixamento, um
aviltamento.
2. Quem manipula?
Manipula aquele que quer vencer-nos sem convencer-nos, seduzir-nos para que
aceitemos o que nos oferece sem nos dar razões. O manipulador não fala à nossa
inteligência, não respeita a nossa liberdade; atua astutamente sobre os nossos
centros de decisão a fim de arrastar-nos a tomar as decisões que favorecem os
seus propósitos.
3. Para que manipula?
A manipulação corresponde, em geral, à vontade de dominar pessoas e grupos
em algum aspeto da vida e dirigir a sua conduta.
4. Como se manipula?
Numa democracia as coisas não são fáceis para o tirano. Nas ditaduras promete-
se eficácia à custa das liberdades. Nas democracias prometem-se níveis nunca
alcançados de liberdade ainda que à custa da eficácia. Que meios tem um tirano
à sua disposição para submeter o povo enquanto o convence de que é mais livre
que nunca?
Esse meio é a linguagem. A linguagem é o maior instrumento que o homem
possui, mas também o mais arriscado. Pode ser difusora da verdade ou
propagadora da mentira.

OS DOIS USOS DA RETÓRICA- persuasão e manipulação:

Os sofistas - pensadores gregos, foram os primeiros a refletir sobre o poder persuasivo


da palavra. Foram também educadores: ensinavam aos cidadãos gregos a retórica,
preparando-os assim para participar na vida política da polis (contexto da democracia
Grega).
Do ponto de vista de Platão, o sofista é, por oposição ao filósofo, aquele que pretende
convencer o auditório, independentemente da verdade. Assim, em vez de procurar
persuadir de forma racional e lógica, recorre a todo e qualquer tipo de subterfúgios (
manipulação). Se necessário utiliza argumentos intelectualmente desonestos, que nada
têm a ver com a discussão do assunto em causa, como por exemplo o ataque às
características pessoais do interlocutor, o apelo aos sentimentos do auditório, o uso de
ameaças, a utilização da autoridade de forma ilegítima, entre muitos outros (designados
em Filosofia por falácias informais). Platão acusa a retórica sofista de não ser uma arte,
mas uma técnica de adulação, porque não tem como fim o bem e a verdade. Platão
acusa a retórica sofista de ser uma técnica de manipulação usada para conquistar o
poder, obter a adesão do auditório sem se preocupar com o saber e o esclarecimento. A
retórica, segundo Platão deveria ter um uso persuasivo racional, apelar ao
raciocínio, com o objetivo de alcançar a verdade (episteme).

Uma das principais objeções de Platão às ideias dos sofistas prende-se com o facto
destes defenderem o relativismo (Protágoras afirmou “o homem é a medida de todas as
coisas”). A ideia que a verdade depende do ponto de vista de cada um e, por isso, não
existe uma verdade objetiva que possa ser partilhada por todos. Platão, no diálogo
intitulado Górgias, levanta algumas objeções à perspetiva relativista. Se fosse correta,
como se poderia distinguir o verdadeiro do falso? Que sentido faria as pessoas
discutirem, se nenhuma opinião poderia ser considerada errada, por mais absurda que
fosse? Se cada um possui a sua verdade para quê trocar argumentos? Que valor teria a
procura do conhecimento?

Argumentação, Filosofia, verdade e Ser -

Platão conclui que a troca de argumentos só faz sentido no pressuposto de que não
estamos condenados ao domínio da subjetividade e da relatividade - não vivemos no
reino das opiniões, argumentamos racionalmente para nos tentarmos aproximar da
verdade. A arte que convém à procura da verdade é a dialética, a arte do debate, o uso e
confronto de argumentos racionais, que podem levar à descoberta da realidade, do ser.
A argumentação filosófica deverá estar sempre vinculada `a procura da verdade. A
objetividade e a universalidade são essenciais à verdade.

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