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Relações Hídricas

Disciplina: Fisiologia Vegetal


Profº José Raniere Ferreira de Santana
1. Importância da água nos vegetais

 Nos vegetais a água é o principal constituinte

Raiz: 70 a 90% Caule: 50 a 80%

Folhas: 70 a 95%

Sementes: 5 a 15%
Fruto: 80 a 95%
(secas ao ar)
(suculentos)

 O vegetal necessita da água em todas as fases do seu crescimento e do seu


desenvolvimento
1. Importância da água nos vegetais

 Das inúmeras importâncias fisiológicas da água para o vegetal destacam-se:

 Reagentes e produtos da atividade fotossintética. Fonte de elétrons, após a


ativação da clorofila pela luz, para produzir energia química (NADPH, e ATP)

 Reagente básico nas reações de hidrólise e de ionização (p. ex. a quebra de


proteína em aminoácidos; a quebra de lipídeos em ácidos graxos)

 Meio de transporte de solutos e gases

 Afeta a divisão celular (por afetar síntese de RNA, DNA e de materiais


constituintes da parede celular)

 Afeta o crescimento celular (expansão) e consequentemente o crescimento do


vegetal

 Influi na turgescência das raízes e consequentemente na penetração delas no


solo
1. Importância da água nos vegetais

 Afeta a forma e a estrutura dos órgãos vegetais (a beleza das flores está na
sua turgescência)

 Participa nos processos de abertura e de fechamento dos estômatos

 Afeta a viscosidade e a permeabilidade do protoplasma e a atividade das


enzimas envolvidas

 Produto final da atividade respiratória

 Efeito resfriante, funcionando como tampão de temperatura

 Afeta a translocação de assimilados


1.2 Propriedades físico-químicas da água

 Propriedades físico-químicas da água

◙ Distribuição assimétrica / molécula polar (carga positiva e negativa – dipolo)

◙ Alta força intermolecular da água:  ponto de fusão (0 C) e  ponto de


ebulição (100 C)

◙ Forte ligação por pontes de H (água-água) - 1 molécula de água/4 pontes de H

pontes de H:

- água–água: atração intermolecular: coesão (coluna de água/


tensão superficial)

- água–outras moléculas (proteínas, ác. Nucléicos, carboidratos


- estabilidade).

- Água-outras superfícies sólidas: adesão

Propriedades de coesão, tensão e adesão: base para explicar o


movimento ascendente da água em tubos como o xilema.
1.2 Propriedades físico-químicas da água
1.3 Processos de movimento da água

Água e solutos: constante movimento dentro das células/ célula-célula/ tecido-


tecido/ nas plantas (solo-raiz-folha-atmosfera)

O que governa o movimento de água?

1. FLUXO DE MASSA – todas as moléculas tendem a se mover na mesma direção


em massa; forma mais simples de movimento; ocorre em resposta ao gradiente de
pressão; transporte a longas distâncias

2.DIFUSÃO – resulta do movimento ao acaso de partículas (moléculas e íons)


causado pela própria energia cinética de uma região para outra adjacente (potencial
químico); processo lento para longas distâncias; ocorre entre células

3.OSMOSE – movimento de água através da membrana semipermeável (substâncias


pequenas sem carga); dirigida pelo soluto dissolvido e pressões osmóticas.
1.3 Processo de movimento da água
1.3 Processo de movimento da água
2. Conceito de potencial hídrico nos vegetais

A - Potencial químico de uma substância

 O potencial químico de uma substância expressa a energia livre e quanto


maior o potencial químico, maior a capacidade de sofrer reações químicas e
outros processos, incluindo a difusão.
2. Conceito de potencial hídrico nos vegetais

A - Potencial químico de uma substância


2. Conceito de potencial hídrico nos vegetais

A - Potencial químico de uma substância

 O potencial químico de uma substância expressa a energia livre e quanto


maior o potencial químico, maior a capacidade de sofrer reações químicas e
outros processos, incluindo a difusão.

B - O potencial de água (ou hídrico)

 O sistema água-solo-planta-atmosfera é baseado em uma relação de energia


potencial. A água possui capacidade de realizar um trabalho.

 A energia potencial em um sistema aquoso é expressa através da comparação


com a energia potencial da água pura.

 A energia potencial da água, nos vegetais, e no solo, é denominada


POTENCIAL DE ÁGUA (ou HÍDRICO), utilizando-se a simbologia ψ (psi).
2. Conceito de potencial hídrico nos vegetais

 Entende-se, portanto, que o potencial de água nesses sistemas vem a ser a


diferença existente entre o potencial químico da água no sistema (ou solução) e
o potencial químico da água pura, sob as mesmas condições padrões.
Expressa-se da seguinte forma:

ψ = R.T. ln (PV/PVo)

onde:
ψ = potencial de água
R = constante universal dos gases ideais
T = temperatura absoluta em graus Kelvin
ln = logaritmo neperiano
PV = pressão de vapor da água no sistema (à temperatura T)
PVo = pressão de vapor da água pura (à temperatura T)

 As unidades mais comumente utilizadas para o ψ são:


bar = 0,987 atm = 105 Pa = 0,1 MPa = 105 dinas/cm2 = 102 J/kg
2. Conceito de potencial hídrico nos vegetais

C - Potencial de água de uma solução e da água pura

 ψ de uma solução
valor negativo
PV/PVo irá dar um número menor que a unidade, e portanto, o logaritmo
neperiano de PV/PVo é um valor negativo, o ψ será negativo.

 Ψ da água pura
zero
PV/PVo torna-se igual a 1, e o logaritmo neperiano de 1 é igual a zero, o ψ
será zero.
2. Conceito de potencial hídrico nos vegetais

D - Potencial total da água na planta e seus componentes

 O potencial total da água na planta vai variar conforme essas forças exerçam
pressão, atração polar, e efeito de gravidade.

 Pode-se dizer que o ψ de uma célula vacuolada é dada pela expressão:

ψ = ψo+ ψm + ψp + ψg

onde:

ψ = potencial água total;


ψo = potencial osmótico, que é função da concentração do suco celular;
ψm = potencial matricial, função de forças de atração e capilaridade;
ψp = potencial pressão, função da turgescência da célula;
ψg = potencial gravitacional.
2. Conceito de potencial hídrico nos vegetais

E- Relações osmóticas das células vegetais

 A membrana celular, a membrana citoplasmática (plasmalema) e a membrana


vacuolar (tonoplasto) possuem propriedades semipermeáveis (permeáveis à
água e solutos dissolvidos), e o suco vacuolar está sempre concentrado em
solutos (além de água, podem ser encontrados no suco vacuolar: sais,
alcalóides, gomas, resinas, mucilagens, lipídeos, pectinas, antocianina).
2. Conceito de potencial hídrico nos vegetais

 O processo de penetração da água na célula, até o vacúolo, é denominado de


osmose, que é uma difusão especializada.

Osmômetro simples. Em A, ao ser colocado em água.


Em B, quando completamente túrgido, situação em
que ψo = ψp.
Fig 1. Osmose
2. Conceito de potencial hídrico nos vegetais

 Existe ainda um componente que pode exercer alguma força nas relações
osmóticas da célula. É o potencial mátrico (ψm), que pode ser exercido por
substâncias que graças a cargas elétricas nas suas superfícies (adsortivas)
prendem a água no interior da célula (proteínas, pectinas, carboidratos,
celulose).

 Levando-se em consideração as forças exercidas, conclui-se que:

ψ= |- ψo | + | - ψm | + | ψp|
2. Conceito de potencial hídrico nos vegetais

F - Plasmólise e desplasmólise

Fig 2. Célula em plasmólise incipiente (a) e completamente plasmolisadas (b e


c). c = parede; p = protoplasma; v = vacúolo.
2. Conceito de potencial hídrico nos vegetais

Fig 3. Diagrama mostrando o que acontece quando uma célula em


plasmólise incipiente é colocada em água pura.
2. Conceito de potencial hídrico nos vegetais

G - Características que podem alterar o potencial total da água

 As alterações do ψ de células vegetais, estão diretamente relacionadas a um


gradiente de energia livre, entre dois sistemas interrelacionados

Fig 4. Efeito de alguns fatores que interferem na difusão.


2. Conceito de potencial hídrico nos vegetais

H - Potencial matricial (ou mátrico), ou embebição

 As moléculas de água unem-se umas às outras, e com diferentes superfícies.


A atração das moléculas de água entre si é denominada "coesão", e, a atração
das mesmas por uma superfície (coloidal) com carga elétrica, "adesão".

Fig 5. Representação esquemática de uma molécula de água com


distribuição de cargas assimétrica (átomos de H fazem ângulo de 105° ). b =
pontes de H (indicadas pelas setas) responsáveis pela coesão entre
moléculas de água. c = distribuição de moléculas de água em volta de uma
matriz positiva (+) e de uma matriz negativa (-).
2. Conceito de potencial hídrico nos vegetais

I - Métodos de determinação de potenciais em tecidos vegetais

 Alguns dos principais métodos que podem ser utilizados na determinação de


potenciais de tecidos vegetais:

1. Técnicas com soluções:


 Método gravimétrico (utilizando volume e/ou peso)
 Método crioscópico (utilizando osmômetros)

2. Técnica com pressão:


 Método da Câmara de pressão de Sholander

3. Técnica com pressão de vapor:


 Método do Psicrometro de par termoelétrico
3. A água no sistema solo-planta-atmosfera

A - A água e as plantas

 Água retirada do solo pelo vegetal

 Uma planta de milho utiliza no seu ciclo, de 1,87 L de água como constituinte
e cerca de 0,25 L como reagente e retirou durante esse mesmo ciclo, cerca de
204 L. Portanto, apenas 1 a 2 % do que ela retirou do solo é realmente utilizada.

B - Perdas de água pelas plantas

 A área foliar total de um vegetal pode mostrar o potencial da perda de água


por transpiração.

 Catalpa sp., árvore com 10 metros de altura, tem aproximadamente 26.000


folhas com uma superfície de 390 m2. Considerando-se uma transpiração foliar
média de 1 g/dm2/hora, ela pode perder 390 kg de água em um dia de 10 horas.
 Acer sp, com 15 metros de altura, 177.000 folhas e superfície foliar de 675 m2
perde cerca de 220 kg de água/ hora no verão.
3. A água no sistema solo-planta-atmosfera

Tipos de perda de água

gasosa

Transpiração Transpiração Transpiração


estomática cuticular lenticelar

líquida

Gutação
3. A água no sistema solo-planta-atmosfera

Transpiração estomática

Fig 6. Estômatos das três espécies usadas em estudos de fisiologia vegetal. a)


Commelina communis que é uma monocotiledónea com um complexo
hexacítico, isto é, apresenta seis células subsidiárias; b) Vicia faba, que é uma
dicotiledónea sem células vizinhas morfologicamente especializadas; o complexo
denomina-se anomocítico; c) Zea mays, que é uma monocotiledónea com células
guarda do tipo das gramíneas e um par de células subsidiárias, isto é, com um
complexo paracítico.
3. A água no sistema solo-planta-atmosfera

Transpiração cuticular

Fig 7. Esquema da cutícula.


3. A água no sistema solo-planta-atmosfera

Transpiração lenticelar

Fig 8. Esquema de uma lentícula em Sambucus nigra


3. A água no sistema solo-planta-atmosfera

Gutação

É importante considerar-se a diferença entre o orvalho e a gutação


3. A água no sistema solo-planta-atmosfera

Evaporação e transpiração

Fig 9. Resistência a serem vencidas para uma molécula de água do interior da


folha atingir a atmosfera.
3. A água no sistema solo-planta-atmosfera

Teoria da coesão-tensão de Dixon (1914). A Tensão é gerada pela adesão das


moléculas de água à parede das células do mesofilo foliar. A coesão entre as
moléculas de água gera uma coluna contínua que propaga a tensão até as raízes. A
tensão é uma conseqüência da transpiração e esta, por sua vez, é gerada pelo
gradiente de pressão de vapor entre o mesofilo foliar e a atmosfera.

Como a coluna d’água é


contínua, esta pressão negativa
ou tensão se transmite através
da coluna até o cilindro central
das raízes gerando gradientes de
potencial hídrico entre as raízes
e a solução do solo. O
mecanismo de ascensão da água
devido à tensão gerada tanto
pela adesão das moléculas
d’água às paredes celulares e a
coesão entre moléculas d’água
formando um contínuo é
chamada de teoria de Dixon
(1914).
3. A água no sistema solo-planta-atmosfera

Uma vez absorvida pela zona pilífera da raiz, a água e os nutrientes minerais
atravessam o córtex e o periciclo, caindo no xilema da raiz. A continuidade desse
sistema ao longo de toda a planta, permite à seiva do xilema deslocar-se pelo caule
e atingir as folhas. Aí, grande parte da água é perdida por transpiração.
3. A água no sistema solo-planta-atmosfera

Fig 10. Sistema físico para demonstrar a teoria da coesão-tensão. A água que vai
evaporando a partir da superfície da esponja será substituída pela água do tubo de
vidro, que por sua vez, será reocupado pela água do vaso.
3. A água no sistema solo-planta-atmosfera

C - Fatores que influenciam a transpiração

 Fatores do Ambiente

 Radiação Solar
 Temperatura
 Umidade relativa do ar
 Vento

 Fatores da Própria Planta

 As características anatômicas, próprias de cada vegetal, podem influir na


transpiração.
A espessura da cutícula, o tamanho e a forma das folhas, a cor, o revestimento
(pilosidades) e a orientação delas, em relação à luz, o número e a localização
dos estômatos (se mais profundos ou mais superficiais), a proporção do
parênquima paliçádico e do lacunoso.
 Numa mesma planta pode haver variação na transpiração, se folhas
encontram-se a pleno sol ou na sombra.
3. A água no sistema solo-planta-atmosfera

D - O significado da transpiração

 A transpiração é um processo fisiológico conhecido como um 'mal inevitável'.

 Existem os efeitos denominados benéficos da transpiração, mas que são


discutíveis. Alguns desses efeitos são listados a seguir.

 Efeito resfriante

 Evitaria a turgidez excessiva

 Efeito da corrente transpiratória


3. A água no sistema solo-planta-atmosfera

E - Variação diária da transpiração

Fig 11. Variação da transpiração e da abertura estomática em feijoeiro. Insolação


constante mas não muito intensa. Adaptado de Binet (1968).
3. A água no sistema solo-planta-atmosfera

F - Fisiologia dos estômatos

Será dado posteriormente

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