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A organização de uma

rotina de leitura e escrita

Organizar uma rotina semanal de leitura e escrita é fundamental para orien-


tar o planejamento e o cotidiano da sala de aula. Ela se expressa na forma como
você organiza o tempo, o espaço, os materiais, as propostas e intervenções e
revela suas intenções educativas.

Nesta proposta de alfabetização, a rotina deve contemplar situações didáti-


cas de reflexão sobre o sistema de escrita alfabético e de apropriação da lingua-
gem que se escreve. Deve haver uma diversidade de atividades com diferentes
propósitos e, ao mesmo tempo, uma repetição delas para que o desempenho
dos alunos seja cada vez melhor. Não é preciso inventar novas atividades a ca-
da dia, mas é importante variar o gênero que vai ser trabalhado (contos, parlen-
das, listas, poemas, textos instrucionais, etc.) e o tipo de ação que o aluno vai
desenvolver em cada texto.

Em função disso, organizamos uma sugestão de rotina semanal em que é


apresentado o que deve contemplar. Por exemplo: leitura diária em voz alta pelo
professor, leitura realizada pelos alunos mesmo quando ainda não leem conven-
cionalmente, situações de produção escrita pelo professor e, ou, pelos próprios
alunos, além, é claro, de situações de trabalho com a oralidade.

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A rotina do segundo ano

Nas classes dos anos iniciais do ensino fundamental é importante que a ro-
tina semanal contemple atividades que favoreçam a aprendizagem de diferentes
conteúdos: aqueles que contribuem para o avanço no conhecimento dos alunos
sobre a linguagem escrita e aqueles voltados à reflexão sobre o sistema de escrita.

Nesse sentido, organizamos um quadro semanal para servir como sugestão


para seu trabalho, sempre lembrando que deve haver flexibilidade na duração das
atividades e articulação com outras disciplinas (Matemática, Arte, Educação Físi-
ca, História, Geografia e Ciências da Natureza). Nele aparecem indicadas algumas
atividades permanentes.

No 1o semestre:

2a-feira 3a-feira 4a-feira 5a-feira 6a-feira


Leitura* pelo Leitura pelo Leitura pelo Leitura pelo Leitura pelo
professor professor professor professor professor
Atividades Projeto: Atividades Projeto: Sequência
permanentes – Cantigas (fev., permanentes – Cantigas (fev., didática: Era
parlendas março, abril) parlendas março, abril) uma vez um
conto de fadas.
Projeto: Pé Projeto: Pé
de moleque, de moleque,
canjica e outras canjica e outras
receitas juninas receitas juninas
(maio, junho) (maio, junho)
Leitura pelo Sequência Leitura pelo
aluno didática: Era aluno
uma vez um
conto de fadas.

INTERVALO/RECREIO
Produção de Produção de
texto por meio texto por meio
de ditado ao de ditado ao
professor professor

* A atividade de leitura em voz alta pelo professor deve ocorrer diariamente, com prioridade para textos da
esfera literária – contos de fadas e populares, mitos, etc. Uma vez por semana é possível incluir neste
momento da rotina a leitura de textos de divulgação científica – verbetes em geral, textos explicativos.

56 Guia de Planejamento e Orientações didáticas


No 2o semestre:

2a-feira 3a-feira 4a-feira 5a-feira 6a-feira


Leitura pelo Leitura pelo Leitura pelo Leitura pelo Leitura pelo
professor professor professor professor professor
Sequência Projeto didático: Sequência Projeto didático: Sequência
didática: Anta, onça e didática: Anta, onça e didática:
Reescrita de outros animais Reescrita de outros animais Ortografia
contos do Pantanal. contos do Pantanal.
Leitura pelo Leitura pelo Produção de
aluno aluno texto por meio
de ditado ao
professor

INTERVALO/RECREIO
Escrita pelo
aluno
Escrita pelo
aluno

Dicas práticas para o planejamento do trabalho

Para que seus alunos possam ampliar o conhecimento linguístico sobre


uma variedade de gêneros textuais, aprender a ler com diferentes propósitos e,
assim, construir procedimentos de leitura variados, bem como adquirir um re-
pertório de textos e autores e, ainda, comportamentos de leitor, sugerimos que
você considere as dicas a seguir:

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LEIA EM VOZ ALTA TODOS OS DIAS
Textos literários: contos tradicionais, tais como Branca de Neve, Chapeuzinho Ver-
melho, A princesa e a ervilha, O príncipe-rã, O lobo e os sete cabritinhos ... histórias
contemporâneas, lendas, entre outros.
Parlendas, quadrinhas, trava-línguas, cantigas, poemas, adivinhas e outros textos
memorizáveis.
Os textos podem estar em um cartaz no mural, em um papel, com cópia para cada
aluno ou escritos na lousa.

PROPONHA TAMBÉM MOMENTOS DE LEITURA NOS QUAIS...



Possam explorar livros, revistas e jornais livremente, como nos cantos de leitura.
Possam ler, apoiados por você, com diferentes propósitos.

Possam ler, com seu apoio, informações presentes no ambiente escolar,
ampliando o conhecimento que já possuem sobre a função da escrita.

LEIA EM VOZ ALTA PELO MENOS UMA VEZ POR SEMANA...


Um texto informativo: artigos e notícias de jornal, textos informativos sobre temas
científicos (animais, plantas, corpo humano, planetas, etc.).
E TAMBÉM (pelo menos duas vezes no mês)
Um texto instrucional: regras de jogos, receitas culinárias...

CONVIDE OS ALUNOS A LER TODOS OS DIAS...


Os nomes dos colegas, as atividades do dia, o nome da escola, títulos das histórias
conhecidas, títulos de cantigas e outros textos disponíveis na escola.

MAS, ATENÇÃO...
Sempre que possível, leve o suporte no qual o texto que você selecionou foi im-
presso. Se for uma notícia, procure levar todo o jornal para que os alunos tenham
contato com esse portador. Se for um verbete de enciclopédia, leve o volume do
qual ele foi extraído. Um conto? O livro. A regra de um jogo? O folheto de instruções
ou até mesmo a tampa da caixa do jogo.

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FINALMENTE, COMECE A APROVEITAR...
Os seus momentos de leitura em voz alta para favorecer a integração do trabalho
de leitura e de escrita com as demais áreas do currículo.
Por exemplo, ao selecionar uma notícia de jornal, você pode escolher uma que trate
da fauna, da flora e do meio ambiente. Ou, então, ler um texto informativo que tenha
relação com a história do lugar, com o modo de vida de diferentes grupos sociais
(como os povos indígenas) ou que relate a vida em outros tempos e em outras
partes do Brasil e do mundo...
E mais ainda: ao escolher um texto para ser lido para e com os seus alunos, você
pode aproveitar para tratar de temas relacionados à nossa sociedade atual, ao nosso
dia a dia. Saúde, alimentação, lixo, preconceito, preservação ambiental, a importân-
cia do idoso, respeito às pessoas com necessidades especiais, trânsito... São temas
importantes cuja reflexão contribui para a formação de cidadãos mais críticos. Esses
temas expressam o conceito de tema transversal proposto pelos PCN. Você ainda
pode se valer dos acontecimentos mais recentes para, por exemplo, selecionar notí-
cias de jornal e discutir o conteúdos desses textos com os alunos.

E REDOBRE AINDA MAIS A SUA ATENÇÃO...


No momento de selecionar os textos. Escolha sempre textos com qualidade. Evite
as versões adaptadas que simplificam o conteúdo e a linguagem do texto. Esses
textos pouco contribuem para a formação de seus alunos enquanto leitores.

Em relação à produção de texto

Escreva com os alunos pelo menos uma vez por semana: cartas ou bilhe-
tes, produzidos de forma conjunta com a turma. O assunto pode variar:
bilhete para pesquisar os nomes dos familiares mais próximos, pesquisar
a letra de uma cantiga, obter informações sobre a data de nascimento
dos alunos e outros dados.
Proponha que os alunos escrevam todos os dias:

O próprio nome em seus trabalhos do dia, consultando ou não o cartaz


com os nomes da turma.
A data em seus trabalhos do dia, copiando-o ou não da lousa.
Escreva na frente deles, diariamente, a lista das atividades da rotina do
dia, os nomes dos ajudantes do dia, os nomes das duplas/grupos de tra-
balho, o título do texto que será lido no momento da leitura, entre outros,
assim eles podem observar um “escritor” mais experiente escrevendo e
ampliar as noções que já possuem sobre os procedimentos que envolvem
o ato de escrever.
O trabalho com leitura de contos precisa acontecer. Não deixe de ler aque-
les mais conhecidos, mas aproveite para acrescentar ao repertório dos alunos

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contos novos e também os pouco divulgados. Há muitas publicações de Grimm,
Anderson e Charles Perrault. Aproveite também para apresentar-lhes diferentes
versões. Você já reparou como a Chapeuzinho Vermelho de Perrault é diferente
da Chapeuzinho de Grimm?

Intensifique as atividades de ditado ao professor. Você será escriba e, junto


com os alunos, poderá escolher as histórias às quais querem dar forma escrita
– reescreva-as e, junto com os alunos, dê um destino para essa escrita: o mural
da classe ou de outra classe, por exemplo.

Nessas situações não é preciso que todos os alunos copiem os textos pro-
duzidos na lousa coletivamente. O objetivo é elaborar a linguagem que se es-
creve e não grafar!

E não se esqueça!
De planejar duplas/grupos de trabalho para que os alunos se ajudem
mutuamente, trocando informações entre si.
De ficar mais próximo daqueles alunos que têm hipóteses muito iniciais
sobre o sistema de escrita, atuando como “escriba” deles.
De pedir para que os alunos leiam aquilo que escreveram.
De que o objetivo dessas atividades em um primeiro momento não é fazer
com que os alunos escrevam convencionalmente, mas, sim, que possam
colocar em ação aquilo que já sabem sobre o sistema de escrita, sentindo-
-se cada vez mais dispostos e confiantes em escrever e aprender a escrever
convencionalmente.
De incentivá-los a consultar outros materiais escritos para buscar infor-
mações sobre qual letra utilizar e como grafar as letras.

Em relação à leitura

Nos momentos de leitura do professor, é importante compartilhar com os


alunos alguns comportamentos de leitor:

Apresentar, brevemente, o gênero textual que lerá (lenda, conto de as-


sombração, conto de fadas, poema): “Hoje vou ler um poema”, “Este é
um livro de contos de assombração”, etc.
Fazer comentários em relação ao estilo do autor: humorístico, poético,
romântico, etc.
Recomendar ou relembrar outros textos do mesmo gênero ou autor.

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Explicitar os recursos que o autor utilizou para provocar no leitor medo,
suspense, humor ou paixão, etc.

E a qualidade literária? Se pretendemos ajudar a tecer comentários sobre


os textos em relação à linguagem que se escreve e aos recursos discursivos,
não dá para ler qualquer história, mas somente as melhores!

Não deixe de continuar anotando no quadro as histórias lidas. Vai dar orgu-
lho ver como a lista cresce e como todos vão ficando mais sabidos em relação
ao mundo das letras e dos livros!

Com relação à leitura do aluno, o trabalho com listas tem um papel impor-
tante no início do ano. A lista é um gênero que nos ajuda a organizar e guardar
informações importantes que queremos lembrar de forma rápida e precisa.

Você também pode aproveitar algum contexto esportivo para intensificar o


trabalho com os textos presentes nos jornais e ler em voz alta para os alunos
reportagens, crônicas e notícias sobre jogos e jogadores, textos informativos
sobre a história do esporte em questão e textos informativos históricos e atuais
sobre os países participantes.

Seus alunos poderão buscar informações, ler as manchetes, legendas, lo-


calizar o nome de algum atleta/jogador ou equipe/seleção. As propostas podem
ter variações que atendam às diferenças entre os alunos, garantindo desafios
para todos (difíceis, mas possíveis).

Na proposta de leitura do jornal, os alunos encontrarão tabelas e gráficos.


Não evite esse tipo de texto. Afinal, hoje em dia não dá para ser um leitor com-
petente sem a leitura de toda a variedade textual. Se eles são desconhecidos
para você, aventure-se a compreendê-los com seus alunos.

Em relação à comunicação oral

Para escreverem boas histórias, os alunos precisam recontar. Junto com


a história vem a forma (escrita), e é isso o que interessa. Além de recuperar a
história coletivamente, estabeleça momentos de reconto para que os alunos
possam “entrar dentro da história”. Essas atividades estão relacionadas ao de-
senvolvimento de competências de COMUNICAÇÃO ORAL. Reconte você, seja
um bom modelo. Convide outras pessoas para recontar – os CDs de histórias
também podem ser úteis.

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Em relação à análise e reflexão sobre o sistema

A análise e reflexão sobre o sistema de escrita continua a ser um desafio.


Por isso:

As atividades com nomes e com parlendas, listas, poemas, cantigas, etc.


devem continuar intensamente para aqueles alunos que ainda não escre-
vem convencionalmente.
As listas de equipes/seleções, de atletas/jogadores e países podem ser
uma fonte de informações muito útil para esses alunos – afinal, algumas
palavras como “Brasil”, “medalhas”/“taça”, “gol”, “pontos”, etc., que eles
acabarão memorizando a forma escrita de tanto vê-las, servirão como re-
ferência para que escrevam outras palavras e também para confrontarem
com suas hipóteses.
As falas repetidas de uma personagem, como a da madrasta de Branca
de Neve: ... “Espelho, espelho meu, existe no mundo mulher mais bela
do que eu?”, podem ser escritas em duplas ou individualmente. Essa é
mais uma forma de colocar a criança para relacionar aquilo que fala com
o que está escrito e, assim, possibilitar que avance em suas ideias sobre
a escrita.

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