Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
COMARCA DE TERESINA/PI
Este juízo, ao proferir a sentença de fls. __, condenou o embargante pela prática do tipo penal de
roubo, crime previsto no art. 157 do CP, às penas de 08 (oito) anos, 10 (dez) meses e 20 (vinte) dias de
reclusão e 20 (vinte) dias-multa, na razão unitária de 1/30 do valor de 1 (um) salário mínimo vigente à época
dos fatos.
Data venia, a respeitável sentença prolatada por Vossa Excelência está maculada por erro material na
dosimetria das retrocitadas penas, o que enseja a interposição dos presentes embargos declaratórios, os quais
têm por objetivo simplesmente a correção de tais falhas, restituindo a plena validade da decisão.
O erro material ora suscitado adveio dos sucessivos aumentos na 3ª fase da dosimetria penal,
respectivamente à razão de 1/3 (um terço) e, logo a seguir, 2/3 (dois terços), da pena provisória, - ambos
referentes às causas especiais de aumento atinentes ao concurso de agentes e emprego de arma de fogo -
previstas no art. 157 do CP.
Ao proceder dessa forma, a eminente magistrada não seguiu o gizado pelo parágrafo único do art.
68 do CP, sendo entendimento pacífico jurisprudencial que, quando houver o concurso de 2 (duas) ou mais
causas de aumento especiais, deva ser a pena majorada na 3ª da dosimetria somente uma vez, pela causa de
aumento que tiver o maior quantum; e a majorante remanescente deverá ser deslocada para a 1ª fase,
exasperando a pena-base como circunstância judicial.
a) Cabimento
Conforme impõe o art. 382 do CPP, “qualquer das partes poderá, no prazo de 2 (dois) dias, pedir
ao juiz que declare a sentença, sempre que nela houver obscuridade, ambigüidade, contradição ou
omissão”. Aplica-se ao processo penal, analogicamente, o disposto no inciso III do art. 1.022 do
CPC/2015, o qual também permite a interposição dos embargos para corrigir erro material.
A sentença prolatada por este juízo foi disponibilizada em 12/11/2018 (segunda-feira), às fls. 187 e
188 do diário de justiça do Piauí n o 8.555, e considerada publicada em 13/11/2018 (terça-feira).
A contagem de prazos processuais penais, nos termos do art. 798 do CPP, em seu § 1º , tem por
início de sua fluência o 1º (primeiro) dia útil subsequente à data da publicação e o seu término na data do
vencimento estipulada por lei, prorrogando-se para o dia útil subsequente, conforme § 3º do supracitado
artigo de lei, prazo que termine em domingo ou dia feriado.
Uma vez que o recurso de embargos de declaração deve ser manejado no prazo de 2 (dois) dias, a
teor do que prescreve o art. 382 do CPP, tem-se o seu dies a quo em 14/11/2018 (quarta-feira) e dies ad
quem apenas em 19/11/2015 (segunda-feira), eis que 15/11/2018 (quinta-feira) foi feriado nacional
(proclamação da República) e em 16/11/2018 (sexta-feira) foram os prazos processuais suspensos,
conforme portaria nº 2.967/2018 da presidência do TJ/PI, publicada no diário em 06/11/2018.
Sendo, pois, tempestivo o presente recurso, deve ser conhecido por este juízo, sendo
interrompidos os demais prazos recursais para o recorrente, ainda que eventualmente julgados
improcedentes os embargos, entendimento que decorre de uma aplicação analógica já sedimentada do
art. 1.026, caput do CPC/2015.
Além da interrupção dos outros prazos recursais, o conhecimento do recurso ora em tela também
se reveste do natural efeito suspensivo que obsta o cumprimento da sentença condenatória.
(...)
3ª FASE: CAUSAS DE DIMINUIÇÃO E AUMENTO DA PENA
Não há causa de diminuição de pena.
Conforme reconhecido no corpo desta sentença, existem duas causas de aumento de pena previstas no
inciso II do § 2º do art. 157 do CP, e §2º-A, I, do art. 157, do CP, quais sejam, concurso de agente e
emprego de arma de fogo.
Assim, com relação à causa de aumento de pena, relativa ao concurso de agentes, AUMENTO a pena
no mínimo legal, 1/3 (um terço), resultando em 05 (cinco) anos e 04 (quatro) meses de reclusão e 13 (treze)
dias-multa.
Quanto à causa de aumento de pena de uso de arma de fogo, estampada no §2º-A, inciso I, do art. 157,
do CP, AUMENTO a pena em 2/3, resultando em 08 (oito) anos, 10 (dez) meses e 20 (vinte) dias e 20
(vinte) dias-multa.
(...)
Cálculo da pena
Art. 68 - A pena-base será fixada atendendo-se ao critério do art. 59 deste Código; em seguida serão
consideradas as circunstâncias atenuantes e agravantes; por último, as causas de diminuição e de
aumento. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
Parágrafo único - No concurso de causas de aumento ou de diminuição previstas na parte especial, pode
o juiz limitar-se a um só aumento ou a uma só diminuição, prevalecendo, todavia, a causa que mais
aumente ou diminua.(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
Vossa Excelência, conforme previsto no artigo de lei acima transcrito, quando houver o concurso
de 2 (duas) ou mais causas de aumento previstas na parte especial do Código Penal, a orientação
dada pelo legislador é a de que o magistrado somente aumente, na 3ª fase da dosimetria, uma vez a
pena, escolhendo a causa cujo quantum de aumento seja o maior .
Portanto, deveria ter este juízo majorado apenas em 2/3 (dois terços) a pena provisória obtida
após a 2ª fase da dosimetria, em virtude do emprego de arma de fogo durante a empreitada
criminosa. A outra causa especial de aumento, referente ao concurso de agentes, não deveria ter
também na 3ª fase aumentado a pena provisória em mais 1/3 (um terço), mas sim deslocada para a
1ª fase da dosimetria, onde exasperaria a pena-base como circunstância judicial desfavorável .
Em sendo refeita a dosimetria da sentença ora embargada, insta salientar que eventual aumento da
pena-base na 1ª fase, ao se considerar o concurso de agentes como circunstância judicial desfavorável,
deverá ser a pena provisória reduzida para o mínimo legal na 2ª fase, eis que nesta estão presentes, em
favor do embargante, 2 (duas) atenuantes genéricas, a saber, a menoridade relativa e a confissão
espontânea em juízo, previstas no art. 65 do CP, cuja existência foi reconhecida por Vossa Excelência
por ocasião da sentença:
(...)
2ª FASE: ATENUANTES E AGRAVANTES
Verifico a existência de duas circunstâncias atenuantes, previstas no art. 65, I, e III, alínea “d”, do CP,
quais, sejam, a menoridade relativa e a confissão espontânea.
Contudo, deixo de atenuar a pena-base, considerando a impossibilidade de sua fixação abaixo do mínimo
legal nesta fase, como bem informa a Súmula 231 do STJ.
Não verifico a existência de circunstância agravante.
(...)
Nessa medida, considerando que após o redimensionamento para sanar o erro material ora atacado
a pena privativa de liberdade definitiva ficará abaixo de 8 (oito) anos, deverá ser alterado o regime inicial
de cumprimento da pena pelo recorrente, que passará a cumpri-la no semiaberto , conforme a
inteligência do art. 33, § 2º, alínea b do CP.
Reclusão e detenção
Art. 33 - A pena de reclusão deve ser cumprida em regime fechado, semi-aberto ou aberto. A de detenção,
em regime semi-aberto, ou aberto, salvo necessidade de transferência.
§ 2º - As penas privativas de liberdade deverão ser executadas em forma progressiva, segundo o mérito do
condenado, observados os seguintes critérios e ressalvadas as hipóteses de transferência a regime mais
rigoroso: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
b) o condenado não reincidente, cuja pena seja superior a 4 (quatro) anos e não exceda a 8 (oito),
poderá, desde o princípio, cumpri-la em regime semi-aberto;
III - Pedido
a) Que sejam conhecidos e providos os presentes embargos, lhes sendo emprestados efeitos
infringentes para corrigir o erro material ora apontado, bem como modificando a sentença com vistas ao
redimensionamento das penas privativa de liberdade e de multa, e alteração para o regime semiaberto
a ser inicialmente cumprido pelo embargante;
Nestes termos,
Pede deferimento.
__________(assinado digitalmente)__________
ANDERSON DE MENESES LIMA
OAB 7.669/PI