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Materiais para Construção

Mecânica e Tratamento
Térmico
Prof. Henrique Gonçalves Pereira

Indaial – 2021
1a Edição
Copyright © UNIASSELVI 2021

Elaboração:
Prof. Henrique Gonçalves Pereira

Revisão, Diagramação e Produção:


Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri


UNIASSELVI – Indaial.

P436m

Pereira, Henrique Gonçalves

Materiais para construção mecânica e tratamento térmico. /


Henrique Gonçalves Pereira. – Indaial: UNIASSELVI, 2021.

193 p.; il.

ISBN 978-65-5663-387-9
ISBN Digital 978-65-5663-388-6

1. Construção mecânica. - Brasil. 2. Tratamento térmico. – Brasil. II.


Centro Universitário Leonardo da Vinci.

CDD 620

Impresso por:
Apresentação
Olá, acadêmico, seja bem-vindo à disciplina de Materiais para
Construção Mecânica e Tratamento Térmico. Eu sou o professor Henrique,
escrevi este livro com muito carinho para que você possa agregar conhecimento
aos seus estudos no Curso de Engenharia.

Os materiais utilizados pela humanidade estão em constante


desenvolvimento e o conhecimento de suas propriedades é de fundamental
interesse ao engenheiro. No ramo da construção mecânica não é diferente,
é indispensável ser um profundo conhecedor das características do material
utilizado para que a peça não venha ter uma falha catastrófica em serviço.

Os tratamentos térmicos utilizados para as mais diferentes finalidades


têm o objetivo de incrementar as propriedades ao material utilizado, de
forma a conceder características novas para determinada aplicação.

Desta forma, este livro abordará os diferentes materiais utilizados


na construção mecânica, as propriedades e peculiaridades de cada um,
bem como os diferentes tratamentos térmicos existentes, que possibilitam
acrescentar características favoráveis à aplicação do material.

Na Unidade 1, traçaremos um paralelo da história da humanidade


com o desenvolvimento tecnológico dos materiais, veremos as diferentes
classificações de materiais existentes, suas características gerais, aplicações
mais comuns e suas limitações. Será nesta unidade que abordaremos
os materiais cerâmicos, poliméricos e compósitos, e ainda faremos uma
introdução aos materiais metálicos, analisando seu tipo de ligação,
características e estrutura atômica.

Para a segunda unidade, iremos mais a fundo no campo de materiais


metálicos, começaremos estudando os defeitos estruturais mais comuns
desses materiais. Discutiremos sobre os diagramas de equilibro, em especial o
diagrama Fe-C, seguiremos com os princípios de difusão em metais e sobre o
comportamento térmico e mecânico desses materiais.

Já na terceira unidade do livro, entraremos no assunto de tratamentos


térmicos. Falaremos sobre os fenômenos de encruamento, recuperação e
recristalização, muito comuns em matérias metálicas sujeitos a tratamentos
térmicos. A seguir, nessa mesma unidade, será comentado sobre os diferentes
tratamentos térmicos, como recozimento, normalização, têmpera e revenido,
além dos mais diversos tratamentos aplicados hoje na indústria.
Espero que você possa aproveitar o conteúdo deste livro, ele foi
escrito de modo que sua jornada nesta disciplina seja prazerosa e rica em
conhecimento.

Desejo a você bons estudos!

Prof. Henrique Gonçalves Pereira

NOTA

Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novi-
dades em nosso material.

Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é


o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura.

O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagra-
mação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui
para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.

Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente,


apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilida-
de de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador.
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assun-
to em questão.

Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa
continuar seus estudos com um material de qualidade.

Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de


Desempenho de Estudantes – ENADE.
 
Bons estudos!
LEMBRETE

Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela


um novo conhecimento.

Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do livro


que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você
terá contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complemen-
tares, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento.

Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.

Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada!


Sumário
UNIDADE 1 — MATERIAIS PARA CONSTRUÇÃO MECÂNICA............................................. 1

TÓPICO 1 — CLASSIFICAÇÃO DOS MATERIAIS PARA CONSTRUÇÃO MECÂNICA........... 3


1 INTRODUÇÃO..................................................................................................................................... 3
2 CLASSIFICAÇÃO DOS MATERIAIS.............................................................................................. 4
3 MATERIAIS METÁLICOS................................................................................................................. 5
RESUMO DO TÓPICO 1....................................................................................................................... 8
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................. 9

TÓPICO 2 — MATERIAIS CERÂMICOS, VIDROS E VITROCERÂMICOS.......................... 11


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................... 11
2 MATERIAIS CERÂMICOS............................................................................................................... 11
3 CLASSIFICAÇÃO DOS MATERIAIS CERÂMICOS................................................................. 12
4 ESTRUTURA DOS MATERIAIS CERÂMICOS.......................................................................... 13
4.1 VIDROS........................................................................................................................................... 13
4.2 VITROCERÂMICOS...................................................................................................................... 14
4.3 CERÂMICAS REFRATÁRIAS...................................................................................................... 15
4.4 CERÂMICAS ABRASIVAS........................................................................................................... 16
RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 18
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................... 19

TÓPICO 3 — MATERIAIS POLIMÉRICOS E COMPÓSITOS.................................................... 21


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................... 21
2 MATERIAIS POLIMÉRICOS........................................................................................................... 21
2.1 ESTRUTURA MOLECULAR DOS POLÍMEROS..................................................................... 23
2.2 TIPOS DE CADEIAS..................................................................................................................... 24
2.3 CLASSIFICAÇÃO DOS MATERIAIS POLIMÉRICOS............................................................. 26
2.4 CLASSIFICAÇÃO QUANTO À ESTRUTURA QUÍMICA...................................................... 26
2.5 CLASSIFICAÇÃO QUANTO AO COMPORTAMENTO MECÂNICO................................ 28
2.6 CLASSIFICAÇÃO QUANTO AO DESEMPENHO MECÂNICO.......................................... 30
3 MATERIAIS COMPÓSITOS............................................................................................................ 31
3.1 COMPÓSITOS REFORÇADOS COM FIBRA............................................................................ 32
3.2 MADEIRA – COMPÓSITO NATURAL...................................................................................... 34
3.3 COMPÓSITOS AVANÇADOS..................................................................................................... 36
3.4 COMPÓSITOS AGREGADOS..................................................................................................... 37
RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 39
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................... 40

TÓPICO 4 — ESTRUTURA DOS MATERIAIS METÁLICOS..................................................... 43


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................... 43
2 ESTRUTURA CRISTALINA............................................................................................................. 43
3 ESTRUTURA DOS MATERIAIS METÁLICOS........................................................................... 46
4 ESTRUTURA CCC.............................................................................................................................. 49
5 ESTRUTURA CFC.............................................................................................................................. 50
6 ESTRUTURA HC................................................................................................................................ 52
7 PONTOS, DIREÇÕES E PLANOS CRISTALOGRÁFICOS...................................................... 55
8 POLIMORFISMO E ALOTROPIA.................................................................................................. 59
LEITURA COMPLEMENTAR............................................................................................................. 62
RESUMO DO TÓPICO 4..................................................................................................................... 66
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................... 68

REFERÊNCIAS....................................................................................................................................... 70

UNIDADE 2 — LIGAS METÁLICAS E MATERIAIS CRISTALINOS....................................... 73

TÓPICO 1 — DEFEITOS DOS MATERIAIS METÁLICOS ......................................................... 75


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................... 75
2 IMPERFEIÇÕES EM METAIS.......................................................................................................... 75
2.1 VIBRAÇÕES ATÔMICAS............................................................................................................. 75
2.2 IMPERFEIÇÃO QUÍMICA........................................................................................................... 76
2.3 DEFEITOS PONTUAIS................................................................................................................. 78
2.4 DISCORDÂNCIAS........................................................................................................................ 79
2.5 DEFEITOS PLANARES................................................................................................................. 81
RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 85
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................... 86

TÓPICO 2 — PRINCÍPIOS DE DIFUSÃO....................................................................................... 89


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................... 89
2 MECANISMOS DE DIFUSÃO........................................................................................................ 89
2.1 DIFUSÃO POR LACUNAS.......................................................................................................... 90
2.2 DIFUSÃO INTERSTICIAL........................................................................................................... 91
3 EQUAÇÕES DE DIFUSÃO............................................................................................................... 92
4 FATORES QUE INFLUENCIAM A DIFUSÃO............................................................................. 98
4.1 ESPÉCIE EM DIFUSÃO................................................................................................................ 98
4.2 TEMPERATURA............................................................................................................................ 99
LEITURA COMPLEMENTAR........................................................................................................... 100
RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 105
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................. 106

TÓPICO 3 — DIAGRAMAS DE EQUILÍBRIO............................................................................. 107


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................. 107
2 FASES.................................................................................................................................................. 107
3 DIAGRAMA DE FASES BINÁRIO............................................................................................... 109
4 FASES PRESENTES, COMPOSIÇÃO E PROPORÇÃO .......................................................... 111
4.1 FASES PRESENTES, COMPOSIÇÃO E PROPORÇÃO DE REGIÕES BIFÁSICAS........... 111
4.2 FASES PRESENTES, COMPOSIÇÃO E PROPORÇÃO DE REGIÕES BIFÁSICAS........... 111
5 FORMAÇÃO DA MICROESTRUTURA EM UMA LIGA ISOMORFA................................ 113
6 DIAGRAMAS EUTÉTICOS BINÁRIOS..................................................................................... 116
7 REAÇÕES IMPORTANTES NO DIAGRAMA DE FASES...................................................... 119
8 SISTEMA FERRO-CARBONO...................................................................................................... 120
8.1 ESTRUTURAS HIPOEUTEOIDES, EUTETOIDES E HIPEREUTETOIDES........................ 123
RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 127
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................. 129

REFERÊNCIAS..................................................................................................................................... 134
UNIDADE 3 — TRATAMENTOS TÉRMICOS............................................................................. 135

TÓPICO 1 — CINÉTICA DAS TRANSFORMAÇÕES DE FASES............................................ 137


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................. 137
2 INTRODUÇÃO AOS TRATAMENTOS TÉRMICOS............................................................... 137
3 AQUECIMENTO.............................................................................................................................. 138
3.1 TEMPERATURA DE AQUECIMENTO................................................................................... 140
3.2 TEMPO DE PERMANÊNCIA.................................................................................................... 142
4 RESFRIAMENTO............................................................................................................................. 143
RESUMO DO TÓPICO 1................................................................................................................... 144
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................. 145

TÓPICO 2 — DIAGRAMAS, TEMPO, TRANFORMAÇÃO E TEMPERATURA.................... 147


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................. 147
2 DIAGRAMAS TRANSFORMAÇÃO-TEMPO-TEMPERATURA ......................................... 147
3 MICROESTRUTURAS DO DIAGRAMA TTT.......................................................................... 149
3.1 PERLITA........................................................................................................................................ 149
3.2 BAINITA ...................................................................................................................................... 150
3.3 ESFEROIDITA.............................................................................................................................. 152
3.4 MARTENSITA.............................................................................................................................. 153
4 RESFRIAMENTO CONTÍNUO..................................................................................................... 155
5 FATORES QUE AFETAM A POSIÇÃO DA CURVA TTT NOS AÇOS................................. 158
RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 161
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................. 162

TÓPICO 3 — TRATAMENTOS TÉRMICOS EM AÇOS............................................................. 165


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................. 165
2 RECOZIMENTO............................................................................................................................... 165
2.1 RECOZIMENTO TOTAL OU PLENO...................................................................................... 165
2.2 RECOZIMENTO EM CAIXA..................................................................................................... 167
2.3 RECOZIMENTO PARA ALÍVIO DE TENSÕES..................................................................... 167
2.4 RECOZIMENTO SUBCRÍTICO OU ESFEROIDIZAÇÃO..................................................... 168
3 NORMALIZAÇÃO........................................................................................................................... 169
4 TÊMPERA........................................................................................................................................... 171
4.1 FATORES IMPORTANTES......................................................................................................... 171
4.2 ENSAIO JOMINY........................................................................................................................ 172
5 REVENIDO........................................................................................................................................ 174
5.1 FRAGILIDADE AO REVENIDO............................................................................................... 177
6 MARTÊMPERA................................................................................................................................. 178
7 AUSTÊMPERA.................................................................................................................................. 179
8 PATENTEAMENTO......................................................................................................................... 180
9 ENDURECIMENTO POR PRECIPITAÇÃO............................................................................... 181
9.1 TRATAMENTO TÉRMICO DE SOLUBILIZAÇÃO................................................................ 182
9.2 TRATAMENTO TÉRMICO DE PRECIPITAÇÃO................................................................... 182
LEITURA COMPLEMENTAR........................................................................................................... 185
RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 188
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................. 190

REFERÊNCIAS..................................................................................................................................... 193
UNIDADE 1 —

MATERIAIS PARA CONSTRUÇÃO


MECÂNICA

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• entender importâncias dos materiais na evolução da humanidade;

• conhecer as classificações de materiais existentes;

• apreender sobre as características e propriedades dos materiais de


construção mecânica;

• reconhecer a estrutura cristalina dos materiais metálicos.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em quatro tópicos. No decorrer da
unidade, você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo
apresentado.

TÓPICO 1 – CLASSIFICAÇÃO DOS MATERIAIS PARA CONSTRUÇÃO


MECÂNICA

TÓPICO 2 – MATERIAIS CERÂMICOS, VIDROS E VITROCERÂMICOS

TÓPICO 3 – MATERIAIS POLIMÉRICOS E COMPÓSITOS

TÓPICO 4 – ESTRUTURA DOS MATERIAIS METÁLICOS

CHAMADA

Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos


em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá
melhor as informações.

1
2
TÓPICO 1 —
UNIDADE 1

CLASSIFICAÇÃO DOS MATERIAIS PARA


CONSTRUÇÃO MECÂNICA

1 INTRODUÇÃO
A História humana está intrinsicamente ligada ao desenvolvimento e
avanço dos materiais de sua época. As eras passadas de civilizações mais antigas
estão relacionadas aos tipos de materiais utilizados. A Figura 1 demonstra a
evolução dos materiais utilizados com o passar das eras.

FIGURA 1 – EVOLUÇÃO DOS MATERIAIS DE ACORDO COM O PERÍODO DA HISTÓRIA

FONTE: Adaptada de Gonçalves e Martins (2008, p. 3)

A pré-história, por exemplo, está dividida em Idade da Pedra Lascada


(Paleolítico), Idade da Pedra Polida (Neolítico) e Idade dos Metais (Ferro, Cobre e
Bronze). Assim, desde o surgimento do Homo Habilis (homem habilidoso), acerca de
2,4 milhões de anos, o homem passou a produzir instrumentos a partir de diversos
materiais, o diferenciando dos outros animais (SOPHIATI; HEUER, 2013).

Como vimos, a evolução da humanidade como sociedade está ligada aos


materiais, e é natural que o engenheiro, como um dos principais vetores dessa
evolução, conheça a fundo os principais conceitos e aplicações dos mais diversos
tipos de materiais.

Neste tópico, abordaremos os principais materiais utilizados para a


construção mecânica e suas principais propriedades.

3
UNIDADE 1 — MATERIAIS PARA CONSTRUÇÃO MECÂNICA

2 CLASSIFICAÇÃO DOS MATERIAIS


Os materiais podem ser divididos em dois grandes grupos, como materiais
metálicos ou não metálicos. Os materiais metálicos costumam se subdividir entre
ferros e não ferrosos enquanto os materiais não metálicos são subdivididos em
orgânicos ou não orgânicos. A Figura 2 ilustra esta classificação.

FIGURA 2 – CLASSIFICAÇÃO DOS MATERIAIS

FONTE: Silva e Avanzi (2011, p. 23)

Além dessa classificação geral, é comum vermos os materiais sendo


divididos em quatro grandes grupos, por apresentarem propriedades semelhantes
entre si. E serão esses quatro grandes grupos que veremos a seguir:

• materiais metálicos;
• materiais cerâmicos;
• materiais poliméricos;
• materiais compósitos.

Exatamente com base nessa classificação, é possível verificar uma


tendência da utilização desses materiais com o passar dos anos e a evolução
tecnológica desde a antiguidade até os dias atuais.

Já comentamos sobre as eras da pré-história e história da humanidade


e como esses materiais influenciaram esses períodos. Na figura a seguir, Ashby
(2005) traça um paralelo temporal demonstrando a importância de cada tipo
material com o passar dos anos. Importante salientar que a figura não está em
escala linear, porém é facilmente perceptível a importância relativa que o material
vem tendo ao longo dos anos.

4
TÓPICO 1 — CLASSIFICAÇÃO DOS MATERIAIS PARA CONSTRUÇÃO MECÂNICA

FIGURA 3 – IMPORTÂNCIA RELATIVA DOS MATERIAIS AO LONGO DOS ANOS

FONTE: Adaptada de Ashby (2005, p. 5)

Como pode ser visualizado na Figura 3, os polímeros naturais e os


materiais cerâmicos tiveram grande importância nos primórdios da humanidade.
A partir da descoberta dos metais, sua importância, devido as suas propriedades,
(que abordaremos mais à frente) foi aumentando gradualmente, quando teve seu
ápice na década de 1950. É fácil observar que nos dias atuais, apesar da grande
importância relativa que os metais ainda detêm, há um equilíbrio nessa escala de
importância entre os demais tipos. Polímeros, compósitos e cerâmicos voltaram a
ter destaque devido aos avanços tecnológicos, tendo sua importância reconhecida
nas mais diversas aplicações.

A seguir, veremos a principais propriedades e características de cada


tipo de material, e poderemos discernir por que cada tipo de material possui
propriedades únicas que os tornam essenciais em cada aplicação.

3 MATERIAIS METÁLICOS
Ao falarmos de materiais para aplicação em construção mecânica, o
primeiro que nos vem à mente são os materiais metálicos. Esse tipo de material
tem características que o tornam o mais versátil para este tipo de aplicação.

Shackelford (2008) nos traz um exemplo de um típico material metálico de


construção, para elucidar as principais propriedades desta classe de material, o aço
estrutural. O autor destaca justamente que se trata de um material forte, ou seja,
possui uma boa resistência mecânica e é facilmente moldado à aplicação. Esse tipo
de material também possui uma boa ductilidade, isso quer dizer que possui uma
deformação extensa e permanente, diferentemente dos materiais vitrocerâmicos,
que são extremamente frágeis, ou seja, não sofrem significativa deformação, não
possuindo a fase plástica e sofrem ruptura brusca. O gráfico da Figura 4 demonstra
exatamente a diferença desses dois tipos de comportamento.
5
UNIDADE 1 — MATERIAIS PARA CONSTRUÇÃO MECÂNICA

FIGURA 4 – GRÁFICO TENSÃO X DEFORMAÇÃO PARA A) UM MATERIAL COM COMPORTAMENTO


TIPICAMENTE FRÁGIL; E B) UM MATERIAL COM COMPORTAMENTO TIPICAMENTE DÚCTIL

FONTE: O autor

Os metais ainda se destacam por outra característica bastante importante, a


facilidade de condução de energia, tanto térmica quanto elétrica, ou seja, são ótimos
condutores de calor e eletricidade. Estas propriedades estão fundamentalmente
associadas ao seu tipo de ligação, conhecida como ligações metálicas. Basicamente,
esse tipo de ligação química apresenta subníveis de energia incompletos, onde os
elétrons estão livres para transitar pela estrutura cristalina, esses elétrons livres das
ligações metálicas formam o que é chamado de “nuvem de elétrons”.

As ligações metálicas que ocorrem em metais também são responsáveis


por boa parte das demais características, como ponto de fusão relativamente alto
e densidade superior se comparado as demais ligações químicas.

Com relação ao ponto de fusão, a verdade é que os metais apresentam uma


ampla faixa de pontos de fusão, e isso dependerá da energia de ligação envolvida
na ligação metálica. O mercúrio (Hg), por exemplo, é o único metal que existe na
forma líquida à temperatura ambiente e pressão atmosférica, pois apresenta uma
ligação metálica com baixa energia de ligação, de 68 kJ/mol tendo um ponto de
fusão de -39 °C, por outro lado, nós temos o tungstênio, com energia de ligação
de 850 kJ/mol e um ponto de fusão 3410 °C, sendo esse o metal de maior ponto de
fusão e o segundo ponto de fusão mais alto entre os demais elementos, perdendo
apenas para o carbono.

Quais são os metais? Para isso, podemos dar uma olhada na Tabela
Periódica dos elementos químicos da próxima figura. Nela, estão destacados os
elementos metálicos.

6
TÓPICO 1 — CLASSIFICAÇÃO DOS MATERIAIS PARA CONSTRUÇÃO MECÂNICA

FIGURA 5 – TABELA PERIÓDICA DOS ELEMENTOS QUÍMICOS, COM DESTAQUE PARA ELEMEN-
TOS METÁLICOS EM CINZA

FONTE: Adaptada de Shackelford (2008, p. 4)

Como é possível observar na Figura 5, os elementos metálicos são a


maioria dos elementos presentes na tabela periódica dos elementos químicos, com
aproximadamente 2/3 da quantidade de elementos existentes.

Uma coisa que tem que ficar clara, elemento metálico é diferente de
material metálico, afinal, a maioria dos materiais metálicos que utilizamos são o
que chamamos de ligas metálicas, ou seja, é a junção de dois ou mais elementos,
sendo pelo menos um deles, um elemento metálico, formando, assim, uma
ligação metálica. O próprio aço é uma liga metálica, sendo composto de ferro (Fe)
e carbono (C), mas esse é um assunto para outro tópico de outra unidade, em que
abordaremos a fundo o diagrama Fe-C.

Mais à frente, ainda, nesta unidade, abordaremos a estrutura e os defeitos


presentes em metais.

7
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:

• A História humana está intrinsicamente ligada ao desenvolvimento e avanço


dos materiais de sua época.

• Os materiais estão divididos em quatro grandes grupos:


o materiais metálicos;
o materiais cerâmicos;
o materiais poliméricos;
o materiais compósitos.

• Há um equilíbrio na escala de importância entre os quatro grupos e que cada


material possui uma aplicação distinta devido as suas características.

• As propriedades de cada material estão intimamente ligadas ao seu tipo de


ligação atômica.

• Elementos metálicos fazem parte da maioria dos elementos presentes na


tabela periódica.

• Nos materiais metálicos destacam-se a facilidade de condução de energia,


tanto térmica quanto elétrica, sua boa resistência mecânica e boa ductilidade.

8
AUTOATIVIDADE

1 Você aprendeu que os materiais evoluíram com a humanidade ao passar dos


anos, devido aos avanços tecnológicos. Pode-se dividi-los em quatro grandes
classes de materiais. Com base no exposto, analise as sentenças a seguir:

I- Cerâmico.
II- Metálicos.
III- Poliméricos.
IV- Compósitos.
V- Plásticos.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) As sentenças I, II, III e IV estão corretas.
b) ( ) As sentenças II, III, IV e V estão corretas.
c) ( ) As sentenças I, III, IV e V estão corretas.
d) ( ) As sentenças I, II, IV e V estão corretas.

2 Dentro das classes de materiais, temos os materiais metálicos que são


combinações de elementos metálicos com outros elementos. Dessa forma,
eles estão ligados por um tipo específico de ligações química. Que ligação é
esta? Disserte sobre ela.

3 Estudamos a importância dos materiais no desenvolvimento da humanidade.


Podemos dividir esses materiais em metálicos e não metálicos. Nesse contexto,
assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Materiais metálicos apresentam tipicamente um comportamento


de elevada resistência mecânica e elevada fragilidade, por isso são
comumente aplicados como materiais para construção mecânica.
b) ( ) Os materiais podem ser divididos em materiais metálicos e não metálicos,
sendo que a maioria dos elementos presentes na tabela periódica são
não metálicos.
c) ( ) O aço estrutural é exemplo típico de um material não metálico.
d) ( ) O comportamento tipicamente dúctil aliado a uma boa resistência
mecânica e uma ampla faixa de pontos de fusão, são características dos
materiais metálicos.

9
10
TÓPICO 2 —
UNIDADE 1

MATERIAIS CERÂMICOS, VIDROS E VITROCERÂMICOS

1 INTRODUÇÃO
No tópico anterior, dividimos as matérias em quatro grandes classes,
inclusive já falamos sobre uma delas. Neste tópico, abordaremos uma nova classe
de material, que possui importância e aplicação desde os primórdios das espécies
até aplicações sofisticadas nos dias de hoje, falaremos sobre os materiais cerâmicos.

Por definição, cerâmicos são materiais inorgânicos e não metálicos, que


possuem em sua composição elementos metálicos e não metálicos, podendo ser
materiais cristalinos ou semicristalinos.

2 MATERIAIS CERÂMICOS
Para entendermos melhor um material cerâmico, vamos pegar um
exemplo clássico trazido por Shackelford (2008), o alumínio (Al). Sim, o alumínio
é um material metálico comum, porém em contato com oxigênio do próprio
ar atmosférico, ele sofre uma reação de oxidação, formando, assim, o óxido
de alumínio (Al₂O₃), um material cerâmico. Esse óxido possui características
comuns aos materiais cerâmicos, como estabilidade química a diversos meios,
diferente do próprio alumínio que reage com o próprio ar atmosférico, além de
uma elevada temperatura de fusão, 660 °C para o alumínio metálico enquanto o
óxido de alumínio possui uma temperatura de fusão de 2020 °C.

Nesse momento você pensa, alta temperatura de fusão e estabilidade


química, posso utilizar este material em substituição ao alumínio em motores
automotivos, certo? Não é bem por aí, precisamos analisar as outras propriedades
deste material.

O Al₂O₃, assim como comumente ocorre nos materiais cerâmicos em geral, é


um material muito duro, resistente a altas temperaturas e com grande estabilidade
química, porém extremamente frágil, o que o limita para muitas aplicações estruturais.
Você se lembra do gráfico na Figura 4(a)? Pois bem, esse é comportamento típico de
um material cerâmico, apresentando pouca ou nenhuma ductilidade.

Suas características citadas anteriormente se devem à natureza de suas


ligações químicas, de natureza iônica. Esse tipo de ligação química faz com que os
materiais cerâmicos sejam ainda excelentes isolantes térmicos, sendo aplicados há
resistores e capacitores com esta finalidade.
11
UNIDADE 1 — MATERIAIS PARA CONSTRUÇÃO MECÂNICA

3 CLASSIFICAÇÃO DOS MATERIAIS CERÂMICOS


Uma classificação bastante comum dos materiais cerâmicos é dividi-los em
4 categoriais: cerâmicas vermelhas, cerâmicas brancas, vidros e cerâmicas especiais.
A Figura 6 ilustra alguns tipos de materiais cerâmicos.

FIGURA 6 – DIFERENTES TIPOS DE MATERIAIS CERÂMICOS

FONTE: Silva e Avanzi (2011, p. 83)

Como exemplo de cerâmicas vermelhas temos telhas e tijolos, e como exemplo


de cerâmicas brancas temos azulejos, sanitários e porcelanas. Ambos os tipos detêm
em sua composição silicatos hidratados de alumínio, como caulinita, haloisita,
pirofilita e montmorilonita. A diferença de coloração provém da adição de óxido de
ferro, que concede ao material uma coloração avermelhada (SILVA; AVANZI, 2011).

Uma classificação mais ampla e bastante utilizada na indústria é classificar


esses materiais com base em sua aplicação. A Figura 7 apresenta essa classificação.

FIGURA 7 – CLASSIFICAÇÃO DOS MATERIAIS CERÂMICOS QUANTO A SUA CLASSIFICAÇÃO

FONTE: Adaptada do Callister Jr. e Rethwisch (2016, p. 467)

Para entender essa classificação quanto a sua aplicação, apresentada na


Figura 7, é importante entendermos a estrutura desses materiais.

12
TÓPICO 2 — MATERIAIS CERÂMICOS, VIDROS E VITROCERÂMICOS

4 ESTRUTURA DOS MATERIAIS CERÂMICOS


Os materiais cerâmicos, em escala atômica, são bastante semelhantes aos
metais, apresentando estrutura cristalina, com átomos ordenados formando um
retículo cristalino, que se repete através de um padrão regular. Ao mudar o método de
processamento desses materiais, podemos obter estruturas com arranjos não cristalinos,
ou seja, não apresentam um ordenamento dos seus átomos (SHACKELFORD, 2008).
A figura a seguir demonstra esses dois padrões de ordenamento.

FIGURA 8 – COMPARAÇÃO EM ESCALA ATÔMICA DE UMA (A) CERÂMICA CRISTALINA E DE UM (B)


VIDRO NÃO CRISTALINO. OS CÍRCULOS EM PREENCHIDOS EM PRETO APRESENTAM UM ÁTOMO
METÁLICO ENQUANTO OS CÍRCULOS VAZADOS REPRESENTAM UM ÁTOMO NÃO METÁLICO

FONTE: Shackelford (2008, p. 6)

4.1 VIDROS
O arranjo atômico não cristalino, encontrado na Figura 8(b), é de um material
de composição cerâmica, porém devido ao seu arranjo atômico irregular, recebem a
nomenclatura de vidros. Os vidros compartilham a fragilidade presente nas cerâmicas,
mas são importantes materiais de engenharia, por apresentaram a capacidade de
transmissão de luz visível, além de radiação ultravioleta e infravermelho, aliando
ainda a sua inércia química (SHACKELFORD, 2008).

É importante destacar que os materiais vítreos não se solidificam da


mesma maneira que os materiais cristalinos, pois não ocorre aquela mudança de
fase abrupta em uma temperatura de fusão específica. Na verdade, o que ocorre é
que os materiais vítreos, durante uma faixa de temperaturas, tornam-se cada vez
mais e mais viscosos, transformando-se em um material sólido não cristalino. Para
ilustrar esse entendimento, análise a figura a seguir.

13
UNIDADE 1 — MATERIAIS PARA CONSTRUÇÃO MECÂNICA

FIGURA 9 – COMPORTAMENTO DO VOLUME ESPECÍFICO EM FUNÇÃO DA TEMPERATURA


DOS MATERIAIS CRISTALINOS E NÃO CRISTALINOS

FONTE: Callister Jr. e Rethwisch (2016, p. 481)

Ao observar a Figura 9, podemos perceber a diferença do comportamento


do volume específico em relação à temperatura de ambos os tipos de materiais.
Analisando o resfriamento de material cristalino, é possível perceber que ao
atingir a temperatura de fusão (Tf), o material sobre uma queda robusta no seu
volume específico, isso se deve a sua transformação de fase, pois nesse ponto
material que antes estava no estado líquido, passa ao estado sólido exatamente
neste ponto. Em materiais não cristalinos, não observamos esse comportamento
em um único ponto, pois sua transição se dá durante uma faixa de temperatura,
de Tf até se tornar um sólido amorfo, na sua temperatura de transição vítrea (Tv).
Como explicado antes, esse comportamento se dá por o líquido super-resfriado
(abaixo de sua temperatura de fusão) passa a ter um comportamento cada vez
mais viscoso, até se transformar em vidro.

4.2 VITROCERÂMICOS
Um material mais avançado, também proveniente das cerâmicas, é o que
chamamos de vitrocerâmicos. Esses materiais são obtidos para certas composições
de vidro, por exemplo, os aluminossilicatos de lítio, através de um tratamento
térmico específico que consiste na cristalização controlada desses materiais,
contendo fase vítrea residual e fase cristalina.

Esses materiais vitrocerâmicos, muitas vezes atingem resistências mecânicas


superiores às cerâmicas cristalinas tradicionais além de um baixo coeficiente de
expansão térmica, sendo esses materiais muito utilizados em aplicações que
exigem alta resistência mecânica aliado à resistência ao choque-térmico. A Figura
10 apresenta uma micrografia de um material vitrocerâmico.
14
TÓPICO 2 — MATERIAIS CERÂMICOS, VIDROS E VITROCERÂMICOS

FIGURA 10 – MICROGRAFIA DE UM MATERIAL VITROCERÂMICO

FONTE: Callister Jr. e Rethwisch (2016, p. 469)

O material vitrocerâmico apresentado na Figura 10 apresenta elevada


resistência mecânica e alta tenacidade, isso se deve as partículas longas e aciculares
que estão presentes no material em forma de lâmina.

4.3 CERÂMICAS REFRATÁRIAS


Outra classe importante, amplamente utilizada da indústria, são os
refratários, mas você sabe o que é um material refratário?

E
IMPORTANT

Refratário: se olharmos a definição no dicionário, encontraremos que é aquilo


que resiste à ação física ou química. Trazendo essa definição para os materiais, podemos
dizer que o material refratário é aquele que mantém suas propriedades mesmo a altas
temperaturas, ou seja, ele mantém, não se funde nem se decompõe a elevadas temperaturas
(caraterísticas físicas) e ainda se mantém não reativo (características químicas).

Diante disso, podemos dizer que um material refratário precisa apresentar


resistência a altas temperaturas e manter sua inércia química. Outra característica
importante, que é muito desejada em materiais refratários, é o seu isolamento
térmico, uma vez que sua aplicação se dá a elevadas temperaturas, é interessante
que ele possua a capacidade de reter a energia em forma de calor dentro de um
sistema, dificultando a troca de energia térmica com o meio externo.
15
UNIDADE 1 — MATERIAIS PARA CONSTRUÇÃO MECÂNICA

A aplicação de materiais refratários se dá principalmente no revestimento


de fornos que necessitam atingir elevadas temperaturas, como no beneficiamento de
materiais metálicos, na fabricação de vidros, em tratamentos térmicos metalúrgicos
e na geração de energia (CALLISTER JR.; RETHWISCH, 2016). A Tabela 1 apresenta
a composição dos principais materiais refratários.

TABELA 1 – COMPOSIÇÃO DE CINCO MATERIAIS REFRATÁRIOS COMUNS


Tipo de Composição (%p) Porosidade
Material Aparente
Refratário Al₂O₃ SiO₂ Mg Cr₂O₃ Fe₂O₃ Chão TiO₂ (%)
Argila
25-45 70-50 0-1 0-1 0-1 1-2 10-25
Refratária
Argila
Refratária com
90-50 10-45 0,1 0-1 0-1 1-4 18-25
alto teor de
alumina
Sílica 0,2 96,3 0,6 2,2 25
Periclásio 1,0 3,0 90,0 0,3 3,0 2,5 22
Minério
periclásio- 9,0 5,0 73,0 8,2 2,0 2,5 21
cromo
FONTE: Callister Jr. e Rethwisch (2016, p. 470)

O desempenho do material refratário depende em grande parte da sua


composição. A porosidade é outra variável microestrutura que deve ser controlada
para a produção de um refratário adequado. Para se ter uma ideia, muitas propriedades
desejáveis em um material refratário aumentam com a diminuição da porosidade,
como a resistência mecânica, a capacidade de suportar carga e a resistência ao ataque
de materiais corrosivos. Em contrapartida, há aquelas propriedades desejáveis que
melhoram com o aumento da porosidade, como o isolamento térmico e a resistência
ao choque térmico. Nesse aspecto, é importante achar um valor ótimo, levando em
conta as condições de serviço (CALLISTER JR.; RETHWISCH, 2016).

4.4 CERÂMICAS ABRASIVAS


As cerâmicas abrasivas são materiais que apresentam elevada dureza
e resistência ao desgaste. Devido a essas propriedades, esses materiais são
aplicados para desgastar, polir ou cortar outros materiais de menor dureza.
Outra exigência importante para essa aplicação é a tenacidade, pois as partículas
abrasivas não devem fraturar com facilidade. Outra característica importante é
que devido ao atrito das forças abrasivas ocorre o aumento da temperatura em
serviço desses materiais, dessa forma, é interessante que os materiais cerâmicos
abrasivos apresentem certa refratariedade (CALLISTER JR.; RETHWISCH, 2016).
A Figura 11 apresenta a microestrutura de um abrasivo cerâmico.

16
TÓPICO 2 — MATERIAIS CERÂMICOS, VIDROS E VITROCERÂMICOS

FIGURA 11 – MICROGRAFIA DE UM MATERIAL ABRASIVO CERÂMICO À BASE DE ÓXIDO DE


ALUMÍNIO AMPLIAÇÃO 100X

FONTE: Callister Jr. e Rethwisch (2016, p. 470)

Analisando a micrografia da Figura 11, é possível observar os grãos


de óxido de alumínio (regiões claras), bem como a fase ligante e a porosidade
(regiões cinzas e escuras, respectivamente).

Diamantes são excelentes materiais abrasivos, porém seu custo inviabiliza


alguns processos. Como alternativas mais comuns, Callister Jr. e Rethwisch (2016)
citam a utilização de carbetos de silício ou tungstênio, óxido de alumínio e areais
de sílica.

17
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:

• Os materiais cerâmicos apresentam baixa ou nenhuma deformação plástica,


porém são materiais extremamente duros, ótimos isolantes térmicos,
resistentes a altas temperaturas e com grande estabilidade química.

• Os cerâmicos são divididos comumente em cerâmicas vermelhas, cerâmicas


brancas, vidro e cerâmicas especiais, onde podemos encaixar os materiais
vitrocerâmicos, que possuem a fase cristalina de um material cerâmico
tradicional como a fase amorfa de um material vítreo.

• Outra classificação mais ampla e bastante utilizada na indústria é classificar


esses materiais com base em sua aplicação.

• O vidro é um material de composição cerâmica e estrutura amorfa.

• Materiais não cristalinos, como os vidros, não possuem uma temperatura


específica de fusão, mas sim uma faixa de temperaturas, que começa a partir
da temperatura de transição vítrea.

18
AUTOATIVIDADE

1 Você aprendeu que os materiais evoluíram com a humanidade ao passar


dos anos, devido aos avanços tecnológicos. Hoje, é comum apresentá-los
em quatro grandes classes. Com base nessa classificação, temos os materiais
cerâmicos. Com relação aos materiais cerâmicos, classifique V para as
sentenças verdadeiras e F para as falsas:

( ) Materiais cerâmicos são excelentes condutores térmicos.


( ) Trata-se de um material dúctil, porém é resistente a altas temperaturas.
( ) São normalmente ótimos isolantes térmicos e resistentes a altas
temperaturas.
( ) São materiais frágeis e inertes quimicamente.
( ) Um típico material cerâmico é resistente mecanicamente e deformável
plasticamente.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) V – F – F – F – V.
b) ( ) F – F – V – V – F.
c) ( ) F – V – V – V – F.
d) ( ) V – V – F – F – V.

2 Um material cerâmico é semelhante, em nível atômico, a um material


metálico, pois trata-se de materiais cristalinos, com a diferença de que o tipo
de ligação iônica presente em um material cerâmico permite a ele algumas
propriedades, como resistência a altas temperaturas e elevada dureza e
inércia química superior aos materiais metálicos. Apesar disso, explique
por que os materiais cerâmicos não são utilizados em motores à combustão,
por exemplo, no lugar dos materiais metálicos.

3 A composição química e a porosidade são importantes variáveis em materiais


cerâmicos refratários. Explique de que forma o aumento ou diminuição da
porosidade pode afetar as propriedades dos materiais refratários.

4 Os materiais cerâmicos são uma importante classe de materiais. Eles


apresentam vantagens e desvantagens e seu uso irá depender da aplicação.
Sobre as vantagens do uso de um material cerâmico refratário, assinale a
alternativa CORRETA:

a) ( ) Alta ductilidade, baixo coeficiente de expansão térmica.


b) ( ) Elevada resistência mecânica, alto coeficiente de expansão térmica.
c) ( ) Elevado ponto de fusão, inércia química a altas temperaturas.
d) ( ) Elevado coeficiente de expansão térmico, resistência ao choque térmico.

19
20
TÓPICO 3 —
UNIDADE 1

MATERIAIS POLIMÉRICOS E COMPÓSITOS

1 INTRODUÇÃO
Até agora, vimos duas importantes classes de materiais, os cerâmicos e
os metálicos. Esses materiais possuem suas distinções e semelhanças. Ambos
possuem ponto de fusão elevado, certa dureza e boa resistência mecânica, porém
diferem quanto à ductilidade, à maleabilidade e à condução de energia.

Neste tópico, abordaremos outras duas importantes classes de materiais,


que possuem características distintas dos materiais que vimos até agora. Falaremos
sobre os materiais poliméricos e sobre os materiais compósitos.

2 MATERIAIS POLIMÉRICOS
Os polímeros são outra importante classificação dentro dos tipos de
materiais. A palavra “polímero” tem origem no grego, onde “poli” significa
muitas e “mero” significa partes, fazendo essa junção, obtemos “muitas partes”.
Isso porque polímeros são macromoléculas, ou seja, várias moléculas conectadas
em uma cadeia principal.

Ao analisar a cadeia principal de uma macromolécula de polímero,


podemos ver várias unidades de repetição, chamamos essas unidades de meros,
que são a unidade básica de repetição em uma cadeia polimérica. Essas unidades
de repetição têm origem em um monômero, que é a molécula unitária para a
produção de um polímero. Ficou complicado? Para elucidar esta definição,
observe a figura a seguir.

FIGURA 12 – MOLÉCULA DE POLIETILENO

FONTE: Adaptada de: <https://bit.ly/3kf3QUU>. Acesso em: 29 jul. 2020.

21
UNIDADE 1 — MATERIAIS PARA CONSTRUÇÃO MECÂNICA

O polímero apresentado na Figura 12 é uma molécula de polietileno.


Como é possível observar, o monômero do polietileno é o etileno (C₂H₄), e após
uma reação que chamamos de polimerização, ocorre a quebra da ligação dupla
do etileno, gerando moléculas que irão se ligar entre si, formando os meros da
cadeia polimérica, nesse caso, sua unidade de repetição é (C₂H₄-²)n. Essa unidade
irá se repetir ao longo da cadeia polimérica formando assim uma macromolécula.

Um polímero, visto do ponto de visto macroscópico, não apresenta


unicamente uma cadeia polimérica, mas um emaranhado de cadeias poliméricas,
para o caso citado anteriormente, observe a figura a seguir.

FIGURA 13 – (A) A MOLÉCULA DE ETILENO DA ORIGEM AO (B) POLIETILENO, SENDO REPRE-


SENTADO POR (C) EMARANHADO DE CADEIAS POLIMÉRICAS

FONTE: Adaptada de <https://engenhariadeelite.files.wordpress.com/2015/09/polietileno.jpg>.


Acesso em: 29 jul. 2020.

Ao observar a Figura 13(c), você pode pensar que parece um prato de


espaguete, e você não está errado. Essa analogia é comumente utilizada para definir
boa parte das moléculas de polímeros, com suas longas cadeias emaranhadas.

Você, certamente, a essa altura já deve se perguntar: os polímeros são o


que chamamos de “plásticos”? A resposta é sim e não.

Polímeros são uma definição bem mais ampla e está associada tanto a
polímeros naturais quanto à polímeros sintéticos. Os polímeros naturais como a
celulose, a borracha, as proteínas, entre outros são encontradas na natureza e são
utilizados pela humanidade, como já vimos há milhares de anos. Já os polímeros
sintéticos são aqueles criados artificialmente pelo homem, entre esses estão os
plásticos, tintas, chicletes, entre vários outros.

São esses polímeros sintéticos que revolucionaram o século XX, devido


estarem muitas vezes associados a aplicações que necessitam de alta ductilidade,
vieram justamente a ser substitutos, em algumas aplicações, dos metais, em que
essa propriedade era requerida. Muitas vezes era alternativa mais leve e de menor
custo (SHACKELFORD, 2008).

Como vimos, polímeros são macromoléculas formadas a partir de


um monômero, no entanto, é fácil de imaginar que as propriedades de um
determinado polímero irão sofrer alterações dependendo do tamanho de sua
molécula, como a sua massa molar (M). É exatamente essa massa molecular, um
22
TÓPICO 3 — MATERIAIS POLIMÉRICOS E COMPÓSITOS

fator muito importante ao analisarmos a aplicação para determinado polímero.


Polímeros que possuem o mesmo monômero, porém apresentam maior massa
molecular, podem ser usados em diferentes aplicações, pois têm suas propriedades
melhoradas (por exemplo, sua temperatura de transição vítrea), como podemos
ver na Figura 14 apresentada por Canevarolo Jr. (2006).

FIGURA 14 – COMPORTAMENTO DAS PROPRIEDADES FÍSICAS DE UM POLÍMERO EM FUNÇÃO


DE SUA MASSA MOLAR

FONTE: Canevarolo Jr. (2006, p. 21)

Em síntese, podemos dizer que para obtermos um aumento de propriedades


em um determinado polímero, precisamos obter um polímero de maior massa
molar. O exemplo mais clássico é o próprio polietileno (PE), que pode ainda ser
dividido em polietileno de baixa densidade (PEBD) ou polietileno de alta densidade
(PEAD). Esse último, quando apresentar uma cadeia ainda mais extensa, pode ser
classificado como polietileno de ultra-alto peso molecular (PEUAPM). O PEUAPM
possui propriedades muito mais elevadas que os demais polietilenos, com peso
molar superior a 1 milhão de gramas por mol, podendo chegar até 12 milhões de
grama por mol. Sendo considerado um polímero de engenharia, pode ser aplicado
nas mais diversas situações que envolvem desde revestimentos industriais até reforço
em materiais compósitos na forma de fibras de altíssima resistência (SUZUKI, 2009).

2.1 ESTRUTURA MOLECULAR DOS POLÍMEROS


A cadeia principal de um polímero é formada por várias unidades de
repetição, essas unidades estão ligadas por meio de ligações atômicas fortes. Essas
ligações intramoleculares (dentro de uma molécula, nesse caso, uma macromolécula)
são do tipo covalente. Já as ligações entre as moléculas, ou seja, entre as diversas
cadeias de um polímero, são ligações secundárias fracas, também chamadas de
ligações intermoleculares (CANEVAROLO JR., 2006).

As ligações covalentes, comuns em polímeros, envolvem o compartilhamento


de dois elétrons entre os átomos, sendo caracterizadas por curtas distâncias e altas
energias. Importante ressaltar que esse tipo de ligação pode ocorrer tanto na cadeia
principal (CP) quando em ligações de grupos laterais (GL), que são aqueles polímeros
que apresentam ligações laterais ao eixo principal. A Tabela 2 apresenta algumas
ligações bastante comuns em polímeros, bem como suas respectivas energias de ligação.

23
UNIDADE 1 — MATERIAIS PARA CONSTRUÇÃO MECÂNICA

TABELA 2 – LIGAÇÕES COVALENTES COMUNS EM POLÍMEROS

Estabilidade
Energia
da ligação Distância de Exemplo de Posição
Ligação de ligação
com relação à ligação (Å) polímero da ligação
(Kcal/mol)
C-C
C≡N 213 1,16 PAN GL
C≡C 194 1,20

Mais estáveis
C=O 171 1,23 Poliéster GL
C=N 147 1,27 CP, GL
C=C 147 1,34 Polidienos CP, GL
C-F 120 1,35 Polifluorados GL
C=S 114 1,71
O-H 111 0,96 Polióis GL
C-H 99 1,09 PE GL
N-H 93 1,01 Náilons GL
Si-O 88 1,64 Siliconas CP
C-O 84 1,43 Poliéster CP, GL
C-C 83 1 ,54 Polietileno PE CP
S-H 81 1,35
C-C1 79 1,77 PVC GL
C-N 70 1,47 Náilons CP
Mais instáveis

C-Si 69 1,87 Silicona GL


Borracha
C-S 62 1,81 GL
vulcanizada S
S-S 51 2,04 Ponte de S GL
O-O 33 1,48 Peróxidos CP
FONTE: Adaptada de Canevarolo Jr. (2013, p. 37)

Com base na Tabela 2, é possível ver que as ligações que estão acima da
ligação C-C (bastante comum em uma cadeia polimérica) são mais estáveis, ou
seja, apresentam maior energia de ligação. Em contrapartida, as ligações que
estão mais abaixo, são mais fracas, consequentemente menos estáveis.

Vale também destacar que a energia de ligação é inversamente proporcional


à distância de ligação, isso quer dizer que quanto menor a distância de ligação,
maior será a energia envolvida naquela ligação atômica.

2.2 TIPOS DE CADEIAS


As cadeias em um polímero podem se apresentar de três tipos: lineares,
ramificadas e com ligações cruzadas. A figura a seguir ilustra estes três tipos.

24
TÓPICO 3 — MATERIAIS POLIMÉRICOS E COMPÓSITOS

FIGURA 15 – TIPOS DE CADEIAS POLIMÉRICAS

FONTE: Adaptada de <https://docplayer.com.br/12661874-Estrutura-molecular-de-polimeros.html>.


Acesso em: 29 jul. 2020.

As cadeias lineares são aquelas por apenas uma cadeia principal. Já as


cadeias ramificadas possuem prolongamentos originados de sua cadeia principal,
que podem ser tanto constituídas dos mesmos monômeros da cadeira principal,
quando por outros meros, resultados de uma copolimerização.

As cadeias com ligações cruzadas são cadeias poliméricas que estão ligadas
entre si, essas ligações entre cadeias acabam impedindo o livre deslizamento das
cadeias.

E
IMPORTANT

Você sabe o que é um copolímero? No processo de polimerização, temos o que


chamamos de homopolímeros e copolímeros. Os homopolímeros são polímeros de adição
que possuem o mesmo monômero da cadeia principal, já os copolímeros destacam-se por
apresentarem monômeros diferentes na cadeia principal, podendo estar dispostos de maneira
aleatória ou regular. O ABS é um exemplo de copolímero, pois apresenta três monômeros
diferente, a acrilonitrila, o butadieno e o estireno. Veja a estrutura molecular do ABS na Figura 16.

FIGURA 16 – EXEMPLO DE COPOLÍMERO

FONTE: <https://s1.static.brasilescola.uol.com.br/img/2013/06/abs.jpg>. Acesso em: 29 jul. 2020.

25
UNIDADE 1 — MATERIAIS PARA CONSTRUÇÃO MECÂNICA

2.3 CLASSIFICAÇÃO DOS MATERIAIS POLIMÉRICOS


Existem inúmeras maneiras de se classificar materiais poliméricos, nós já
vimos uma delas, que são os polímeros naturais ou sintéticos, nessa classificação
há ainda aqueles que podemos classificar como semissintéticos, que são resultados
do processamento químico de polímeros naturais, objetivando a melhoria de suas
propriedades para aplicações mais nobres. Um exemplo de polímero semissintético
é a partir do amido de que se podem fabricar dextrinas ou borracha hidrogenada
(BECERRA, 2015).

Outras classificações são possíveis. Veremos, a seguir, as classificações quanto


à estrutura química, quanto ao modo de preparação, quanto ao comportamento
mecânico e quanto ao desempenho mecânico.

2.4 CLASSIFICAÇÃO QUANTO À ESTRUTURA QUÍMICA


Nesta classificação, podemos dividir os polímeros em dois grandes grupos,
os polímeros de cadeia carbônica e os polímeros de cadeia heterogênea. No caso
dos polímeros de cadeia heterogênea, eles apresentam na cadeia principal além
do carbono, outro átomo, denominado heteroátomo. Entre os heteroátomos
mais comuns estão o oxigênio, o nitrogênio, o enxofre, o silício, entre outros
(CANEVAROLO JR., 2013).

São exemplos de polímeros de cadeia carbônica: Poliolefinas; Dienos;


Estirenos; Acrílicos; Clorados; Fluorados; Polivinil ésteres poli (fenol-
formaldeído).
São exemplos de polímeros de cadeia heterogênea: Poliéteres; Poliésteres;
Policarbonato; Poliamidas; Poliuretanos; Aminoplásticos; Derivados da
celulose; Siliconas.

• Quanto ao modo de preparação

Os materiais poliméricos frequentemente podem ser classificados quanto


ao seu método de obtenção. Nessa classificação, eles podem ser divididos em
polímeros de adição e polímeros de condensação.

Para os polímeros de adição, não há perda de massa durante a polimerização,


ou seja, ocorre a conversão total de todos os elementos (monômeros) envolvidos
no processo. Em suma, o peso do polímero formado é a soma do peso de todos
os monômeros adicionados no processo de polimerização (CANEVAROLO JR.,
2013). Polímeros de adição são normalmente de cadeia carbônica, e temos como
exemplos o PE, PP, PMMA etc.

A Figura 17 demonstra a polimerização por adição do PMMA, onde ocorre


a quebra a ligação dupla entre os carbonos do metilacrilato de metila, permitindo
a produção do polimetilacrilato de metila (PMMA) por adição.
26
TÓPICO 3 — MATERIAIS POLIMÉRICOS E COMPÓSITOS

FIGURA 17 – POLIMERIZAÇÃO POR ADIÇÃO DO PMMA

FONTE: Adaptada de <https://www.vestibular.uerj.br/wp-content/uploads/2019/02/2019_ED_


Quimica.pdf>. Acesso em: 5 ago. 2020.

E
IMPORTANT

O processo é polimerização é uma reação química responsável pela junção de


uma grande de número de moléculas (monômeros), produzindo assim uma macromolécula
(polímero).

Os polímeros de condensação possuem um processo de polimerização


diferente, na polimerização por condensação, ocorre a reação de dois grupos
funcionais com a eliminação de moléculas de baixo peso molecular. Como
exemplo desse tipo de reação, Canevarolo Jr. (2013) cita a polimerização do
poli (hexametileno adipamida), conhecido como náilon 6,6, em que ocorre uma
condensação em meio aquoso, em que ocorre a reação do hexametileno diamina
com o ácido adípico, resultando no sal de náilon 6,6 e a eliminação de água, essa
reação pode ser observada na figura a seguir.

FIGURA 18 – OBTENÇÃO DO SAL DE NÁILON 6,6 POR CONDENSAÇÃO

FONTE: Canevarolo Jr. (2013, p. 52)

27
UNIDADE 1 — MATERIAIS PARA CONSTRUÇÃO MECÂNICA

O sal obtido, que é insolúvel em água, é retirado, secado e polimerizado


em altas temperaturas, de modo a obter-se o náilon 6,6.

2.5 CLASSIFICAÇÃO QUANTO AO COMPORTAMENTO


MECÂNICO
Os polímeros são classificados quanto ao comportamento mecânico em
três grandes grupos: plásticos, elastômeros e fibras. Os plásticos, que são materiais
poliméricos sólidos à temperatura ambiente, apresentam uma subdivisão, em
termoplásticos e termofixos.

Termoplásticos: são polímeros que podem ser moldados sob condições


específicas de temperatura e pressão. Eles possuem cadeias lineares ou ramificadas,
que após receber certa quantidade de energia térmica ou pressão suficiente,
acabam ficando livres para se movimentar (deslizar) e moldar-se à forma desejada,
ficando novamente rígidos à temperatura ambiente. O processo de aplicação de
temperatura e pressão mais de uma vez, sendo, neste caso, polímeros recicláveis
(CANEVAROLO JR., 2013).

Podemos citar como exemplo de termoplásticos o polietileno (PE) e o


policloreto de vinila (PVC). Na tabela a seguir, são apresentados os principais
termoplásticos encontrados, suas características e aplicações.

TABELA 3 – PRINCIPAIS TERMOPLÁSTICOS, CARACTERÍSTICAS E APLICAÇÕES

Nome Características Aplicações

Acrilonitrila- Forro para refrigeradores,


Excelente resistência
butadieno- equipamentos para
mecânica, dureza.
estireno (ABS) jardinagem.
Extremamente transparente; Lentes, janelas transparentes
Acrílico propriedades mecânicas de aeronaves, material de
razoáveis. desenho.
Brinquedos, garrafas
Resistência química;
flexíveis, copos, bandejas de
isolante elétrico; boa
Polietileno (PE) gelo, embalagens, baldes,
dureza; coeficiente de atrito
sacos de lixo, sacos de
relativamente baixo.
embalagens.
Resistência à distorção
Embalagens de filmes,
a quente e à fadiga;
Polipropileno gabinetes de TV, malas,
quimicamente inerte;
(PP) cadeiras, poltronas, para-
relativamente barato; pouca
choques de automóveis.
resistência à luz ultravioleta.

28
TÓPICO 3 — MATERIAIS POLIMÉRICOS E COMPÓSITOS

Excelentes propriedades
Caixas de bateria, aplicações
elétricas e ópticas; boa
Poliestireno domésticas, brinquedos,
estabilidade térmica e
(PS) painéis luminosos, materiais
dimensional; relativamente
descartáveis.
barato.

Um dos filmes plásticos


Gravações magnéticas,
mais resistentes; resistência
Poliéster roupas, automóveis,
à fadiga, rasgo, umidade,
recipientes para bebidas.
ácidos, graxas, óleos solventes.

FONTE: Adaptada de Silva e Avanzi (2011, p. 80)

Termofixos ou termorrígidos: são polímeros endurecidos por calor, que


após aplicação de temperatura ou pressão, amolecem e fluem em um molde. No
entanto as ligações que se formam durante a cura são ligações cruzadas, e pela
natureza dessas ligações entre cadeias, após o endurecimento desses polímeros,
não podem ser mais moldados por temperatura e pressão, permanecendo rígidos.
Epóxi, baquelite e poliéster são exemplos de polímeros termofixos. A Tabela 4
traz as principais características e propriedades dos termofixos mais comuns.

TABELA 4 – PRINCIPAIS TERMOFIXOS, PROPRIEDADES E APLICAÇÕES

Nome Características Aplicações

Excelentes combinações entre


propriedades mecânicas e
Moldes elétricos, tintas
Epóxi resistência à corrosão; boa adesão;
protetoras.
relativamente barato; boas
propriedades elétricas.
Capacetes, ventiladores,
Excelentes propriedades elétricas;
barcos de fibra de vidro,
Poliéster baixo custo; pode ser usado em
componentes para
altas temperaturas.
automóveis, cadeiras.
FONTE: Adaptada de Silva e Avanzi (2011, p. 81)

Elastômeros: Canevarolo Jr. (2013) define elastômeros como polímeros


que possuem um alto grau de deformação à temperatura ambiente, podendo
deformar-se até duas vezes o seu comprimento original e voltar ao seu tamanho
inicial após ser retirado o esforço de deformação. Podemos citar a borracha
vulcanizada como exemplo de elastômero.

Silva e Avanzi (2011) destacam as principais características encontrados


em elastômeros:

29
UNIDADE 1 — MATERIAIS PARA CONSTRUÇÃO MECÂNICA

• Grande elasticidade.
• Pequena rigidez (pequenas tensões para grandes deformações).
• Alta resiliência (restituição da energia recebida com baixa perda).

Fibras: as fibras nada mais são que termoplásticos orientados no sentido


longitudinal. Para ser considerado fibra, é necessário satisfazer a condição
geométrica de comprimentos por diâmetro maior que 100 (L/D > 100). Essa
orientação preferencial das fibras aumenta a resistência mecânica no sentido
longitudinal em que estão dispostas. Exemplo de fibras são a poliacrilonitrila
(PAN), nylons e poliéster (CANEVAROLO JR., 2013).

2.6 CLASSIFICAÇÃO QUANTO AO DESEMPENHO MECÂNICO


Esta classificação é bastante importante em termos de construção mecânica,
pois ela leva em conta justamente o desempenho mecânico do polímero quando
usado como peça. Canevarolo Jr. (2013), demonstra essa divisão em quatro categorias.

• Termoplásticos convencionais

Os termoplásticos convencionais, chamados de commodities, são polímeros


de fácil processamento com alta produção acarretando baixo custo e possuem
baixa exigência mecânica. Essa categoria corresponde à cerca de 90% do total de
produção de polímeros no mundo. Entre os termoplásticos convencionais, temos
o poliestireno (PS) e o PVC.

• Termoplásticos especiais

A categoria de termoplásticos especiais engloba polímeros com


propriedades melhores com custos levemente superior. Como exemplo temos o
copolímero de estireno-acrilonitrila (SAN) e os homopolímeros de politetrafluoro-
etileno (PTFE) e polimetacrilato de metila (PMMA).

No PTFE, também conhecido pelo seu nome comercial Teflon, possui


alta estabilidade térmica e química. Já para o PMMA e SAN, a propriedade
normalmente desejada é a alta transparência.

• Termoplásticos de engenharia

Para esta categoria, temos polímeros aplicados em alguns dispositivos


mecânicos, como engrenagens e componentes automobilísticos, onde é desejado
que o polímero tenha excelente estabilidade dimensional, alta resistência mecânica
e boa tenacidade. Nesta categoria, temos como exemplo as poliamidas (náilons),
os poliésteres termoplásticos (Polietileno-Tereftalato – PET e Polibutileno-
Tereftalato – PBT) o ABS e as aramidas (que são uma família de polímeros
derivada do náilon, incluindo Nomex e Kevlar).

30
TÓPICO 3 — MATERIAIS POLIMÉRICOS E COMPÓSITOS

ATENCAO

Não confunda o polímero ABS com o sistema de freios ABS, pois siglas com
significados diferentes. O polímero ABS já vimos que é a junção dos três monômeros que
o constituem: a acrilonitrila (A), o but-1,3-dieno (B), e o estireno (S, do inglês styrene). Já
o sistema de freios ABS vem do inglês anti-lock braking system. Apesar do polímero ABS
também possuir aplicação na indústria automobilística, como nos painéis dos automóveis,
são duas definições totalmente diferentes.

• Termoplásticos de engenharia especiais

Os termoplásticos especiais de engenharia são utilizados em aplicações de


alta temperatura, para isso, são utilizados polímeros com muitos anéis aromáticos
na cadeia principal, aumentando sua estabilidade térmica. Nessa categoria, temos
polímeros com adição de enxofre, como as polisulfonas e o polisulfeto de fenileno
(PPS), as poliimidas e o polieter-eter-cetona (PEEK). A figura a seguir apresenta o
monômero do PEEK com seus anéis aromáticos na cadeia principal.

FIGURA 19 – MONÔMERO DE PEEK

FONTE: Ketterman (2016, s.p.)

O PEEK é muito utilizado em implantes ortopédicos devido a sua boa


resistência à abrasão, baixo coeficiente de atrito e boa biocompatibilidade (EVANS;
GREGSON, 1998; SANTOS, 2017). Outras aplicações do PEEK é em compósitos
na indústria aeroespacial e na produção de ferramentas de alto desempenho para
a perfuração de poços na indústria petrolífera (KETTERMANN, 2016).

3 MATERIAIS COMPÓSITOS
Os materiais compósitos compreendem uma importante classe dentro
dos materiais, não se trata de uma nova classificação, mas de uma mescla de
dois tipos de materiais diferentes, aliando dessa maneira propriedades inerentes
a cada uma das classes em questão.

31
UNIDADE 1 — MATERIAIS PARA CONSTRUÇÃO MECÂNICA

3.1 COMPÓSITOS REFORÇADOS COM FIBRA


Um exemplo bastante comum de um material compósito é a fiberglass (fibra
de vidro). Esse material fibroso atua como reforço e está disposto em uma matriz
polimérica, deste modo, ele apresenta a alta resistência mecânica proveniente das
fibras e a boa ductilidade devido a sua matriz polimérica. A Figura 20 apresenta
uma microscopia de um compósito de fibra de vidro.

FIGURA 20 – COMPÓSITO DE FIBRA DE VIDRO

FONTE: Adaptada de Shackelford (2008)

Os compósitos por fibra-vidro são utilizados para uma gama de aplicações,


podendo ter propriedades diferentes dependendo do polímero utilizado como
matriz e do tipo fibra de vidro utilizado. A Tabela 5 descreve a composição de
fibras de vidros mais comuns e suas características.

TABELA 5 – COMPOSIÇÃO DE FIBRAS DE VIDRO COMUNS

Composição (% p)
Nome Característica
Al₂O₃ +
SiO₂ CaO MgO Na₂O K₂O B₂O₃ TiO₂ ZrO₂
Fe₂O₃
Sílica de
Vidro-A cal de soda 72 <1 10 14
comum
Resistente a
bases alcalinas
Vidro-AR 61 <1 5 <1 14 3 7 10
(para reforço
de concreto)
Resistente
Vidro-C à corrosão 65 4 13 3 8 2 5
química

32
TÓPICO 3 — MATERIAIS POLIMÉRICOS E COMPÓSITOS

Composição
Vidro-E 54 15 17 5 <1 <1 8
elétrica
Alta
Vidro-S resistência e 65 25 10
alto módulo
FONTE: Adaptada de Shackelford (2008, p. 316)

Dentre os tipos de vidro utilizados para a produção da fibra, podemos


destacar como mais utilizado, o vidro-E, em que a letra E vem de tipo elétrico,
pois apresenta pouco sódio em sua composição, ocasionando uma baixa
condutividade elétrica, além de apresentar durabilidade química proveniente de
sua composição de borossilicato (SHACKELFORD, 2008).

As fibras ainda podem estar dispostas de três maneiras distintas na matriz


polimérica, podendo ser:

• Fibras contínuas.
• Fibras curtas.
• Tecido tramado.

A Figura 21 ilustra essas três configurações.

FIGURA 21 – TRÊS CONFIGURAÇÕES DE FIBRA COMUNS PARA REFORÇO DE COMPÓSITO: (A)


FIBRAS CONTÍNUAS, (B) FIBRAS CURTAS E (C) TECIDO TRAMADO

FONTE: Adaptada de Shackelford (2008, p. 317)

Ao observar a figura anterior, é preciso fazer algumas observações


com relação ao acréscimo de resistência mecânica obtido pela fibra de vidro. É
importante salientar que temos uma resistência mecânica maior obtidas para fibras
alinhadas e contínuas. No entanto, essa resistência só é máxima na direção paralela
ao eixo das fibras, ou seja, a resistência mecânica para este tipo de fibra é altamente
anisotrópica, ela irá variar conforme a direção de aplicação da carga. Já para as
demais configurações, temos uma melhor distribuição das direções das fibras, em
que temos então uma isotropia da resistência mecânica, sendo esta a mesma em
todas as direções.

A Tabela 6 apresenta uma relação dos materiais mais comuns utilizados


como matriz polimérica para fibra vidro.

33
UNIDADE 1 — MATERIAIS PARA CONSTRUÇÃO MECÂNICA

TABELA 6 – COMPOSIÇÃO DE FIBRAS DE VIDRO COMUNS

Polímero Características e aplicações

Termofixos
Epóxis Alta resistência (para recipientes feitos por bobinagem)
Poliésteres Para estruturas gerais (normalmente, reforço de tecido)
Fenólicos Aplicações em altas temperaturas
Silicones Aplicações elétricas (por exemplo, placas de circuito impresso)

Termoplásticos

Náilon 66
Policarbonato Menos comuns, ductilidade especialmente boa
Poliestireno
FONTE: Adaptada de Shackelford (2008, p. 317)

3.2 MADEIRA – COMPÓSITO NATURAL


Claramente, os materiais compósitos não foram nenhuma invenção
humana, na verdade eles estão na Terra muito antes de nós, e o maior exemplo
disso é da madeira.

A madeira é um compósito natural reforçado com fibras e pode ser dividido


em dois grupos, as madeiras moles e as madeiras duras. Apesar das madeiras
moles apresentarem uma relativa menor resistência mecânica, essa diferenciação
se dá em virtude de sua sazonalidade. As madeiras moles provêm de plantas
perenes, com folhas tipo agulha e sementes expostas, já madeiras duras provêm
de plantas decíduas, que perdem suas folhas anualmente e possuem sementes
cobertas (SHACKELFORD, 2008). A Figura 22 apresenta uma representação
esquemática da microestrutura de uma madeira mole.

34
TÓPICO 3 — MATERIAIS POLIMÉRICOS E COMPÓSITOS

FIGURA 22 – (A) FIGURA ESQUEMÁTICA DA MICROESTRUTURA DE UMA MADEIRA MOLE. AS


CARACTERÍSTICAS ESTRUTURAIS SÃO: TT, FACE DA SEÇÃO TRANSVERSAL; RR, FACE RADIAL;
TG, FACE TANGENCIAL; AR, ANEL ANUAL; S, MADEIRA PRECOCE (PRIMAVERA); SM, MADEIRA
TARDIA (VERÃO); WR, RAIO DA MADEIRA; FWR, RAIO FUSIFORME DA MADEIRA; VRD, DUTO
VERTICAL DE RESINA; HRD, DUTO HORIZONTAL DE RESINA; BP, PONTUAÇÕES AREOLADAS;
SP, PONTUAÇÕES SIMPLES; E TR, TRAQUEÍDES. (B) MICROGRAFIA ELETRÔNICA DE VARREDU-
RA MOSTRANDO A MICROESTRUTURA DO PINHO-DO-SUL (A 45X)

FONTE: Adaptada de Shackelford (2008, p. 320)

A microestrutura de uma madeira é semelhante à de um compósito


sintético, cuja madeira apresenta algumas células radiais e outras longitudinais,
em que as paredes da célula são compostas por celulose. Nas madeiras, são essas
células que fazem o papem da fibra de vidro que vimos anteriormente, sendo
responsável pela resistência mecânica do compósito. Essas células estão imersas
em uma matriz de lignina e hemicelulose, cuja lignina é um polímero em rede de
fenol-propano e a hemicelulose é a celulose polimérica (SHACKELFORD, 2008).
A Figura 23 demonstra a macroestrutura da madeira.

FIGURA 23 – MACROESTRUTURA DA MADEIRA

FONTE: Adaptada de Shackelford (2008, p. 320)

Analisando ao Figura 23, é fácil observar que a madeira, assim como nas
fibras de vidro longitudinais, apresenta uma anisotropia em sua macroestrutura,
dessa forma, a resistência mecânica máxima de um compósito de madeira está
orientado conforme o eixo de suas fibras longas e longitudinais. Vale destacar que
as propriedades mecânicas da madeira sofrem influência do nível de umidade
atmosférica.

35
UNIDADE 1 — MATERIAIS PARA CONSTRUÇÃO MECÂNICA

NTE
INTERESSA

Quer mais um exemplo de material compósito estrutural natural e extremamente


importante? Uma dica é um material composto por cerca 43% em peso de um material
cerâmico chamado hidroxiapatita e 36% em peso de colágeno, que é um polímero natural,
além de líquidos viscosos. Bom, talvez agora você já tenha adivinhado! Se não, vai mais uma
dica, faz parte do corpo humano! Acho que agora ficou fácil, não é?! Isso mesmo, o osso natural
é um compósito e este material é considerado um dos principais materiais de construção da
natureza devido as suas propriedades mecânicas adequadas aliadas à sua capacidade de se
reparar e remodelar.

3.3 COMPÓSITOS AVANÇADOS


Os chamados compósitos avançados incluem os materiais que possuem
um reforço diferente da fibra de vidro tradicional, tendo avançado muito após a
Segunda Guerra Mundial e com corrida espacial dos anos 1960. Para compósitos
de matriz polimérica, podemos citar os materiais produzidos com reforços de fibra
de carbono e com poliparafenileno tereftalamida P (PPD-T), também conhecido
comercial como Kevlar. As fibras de carbono possuem diâmetros que variam entre
4 a 10 μm (SHACKELFORD, 2008).

Os polímeros termofixos são os mais tradicionais usado como matriz, como


epóxis e poliésteres. Shackelford (2008) destaca que os polímeros reforçados com
fibras de C e Kevlar são utilizados em aplicações de vasos de pressão. As matrizes
de PEEK e PPS, por apresentarem resistência a altas temperaturas, são comumente
utilizadas em aplicações aeroespaciais, com o reforço de fibra de C.

Claro que, apesar de bastante usual, não existem apenas compósitos de


matriz polimérica. A Tabela 7 apresenta alguns sistemas de matriz/reforço de alguns
compósitos avançados.

TABELA 7 – COMPOSIÇÃO DE FIBRAS DE VIDRO COMUNS

Tipo Fibra/Matriz
Para-aramida (Kevlar)/epóxi
Para-aramida (Kevlar)/poliéster
C (grafite)/epóxi
Matriz polimérica
C (grafite)/poliéster
C (grafite)/poliéter-éter-cetona (PEEK)
C (grafite)/sulfeto de polifenileno (PPS)
B/Al
Matriz metálica C/Al
Al₂O₃/Al

36
TÓPICO 3 — MATERIAIS POLIMÉRICOS E COMPÓSITOS

Al₂O₃/Mg
SiC/Al
SiC/Ti (ligas)
Nb/MoSi₂
C/C
C/SiC
Matriz cerâmica SiC/Al₂O₃
SiC/SiC
SiC/Si₃N₄
SiC/Li–Al–silicato (vitrocerâmica)
FONTE: Adaptada de Shackelford (2008, p. 318)

Os compósitos de matriz metálica são utilizados em aplicações que as


condições de temperatura, condutividade e esforço mecânico são demandadas, e
as matrizes de polímero não conseguiriam desempenhar sua função. Shackelford
(2008) cita o exemplo da matriz metálica de alumínio, que quando reforçada com
boro, é utilizada em ônibus espacial e ao ser reforçada com carbono, é utilizada
no telescópio Hubble.

Não menos importantes, os compósitos de matriz cerâmica são utilizados


em aplicação que se exigem uma resistência superior a elevadas temperaturas,
como o compósito carbono-carbono, que possui alto módulo de elasticidade e alta
resistência mecânica. Esse material está utilizado em aplicações espaciais como
blindagens protetivas para veículos de reentrada e também em automóveis de
alto desempenho, como materiais resistentes à fricção (SHACKELFORD, 2008).

3.4 COMPÓSITOS AGREGADOS


Outro tipo de material compósito que é importante mencionar, são dos
compósitos agregados. Afinal, nem todos os compósitos são produzidos com
reforço de fibras, alguns compósitos são reforçados com partículas, esse é o caso
dos compósitos agregados, em que podemos citar o concreto como exemplo. A
Figura 24 mostra a macroestrutura do concreto.

FIGURA 24 – MACROESTRUTURA DE CONCRETO

FONTE: Mehta e Monteiro (1994, p. 22)

37
UNIDADE 1 — MATERIAIS PARA CONSTRUÇÃO MECÂNICA

O concreto é produzido por dois particulados distintos, a brita, que é


denominada o agregado grosso, e areia, que é o agregado fino, tudo isso envolto
em uma matriz de aluminossilicato de cálcio, que é o famoso cimento. Esse cimento,
para o concreto moderno, é o cimento Portland. A matriz é formada pela adição
de água ao pó de cimento e essa reação de hidratação complexa é que endurece
o cimento e produz a ligação química da matriz com as partículas agregadas
(SHACKELFORD, 2008).

38
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:

• Os materiais poliméricos são macromoléculas que se repetem em uma longa


cadeia polimérica.

• As propriedades de um polímero aumentam de acordo com o acréscimo de


sua massa molar.

• As ligações químicas em uma cadeia polimérica são fortes do tipo covalente


enquanto as ligações entre cadeias são ligações fracas.

• Polímeros podem ser tanto naturais como sintéticos e podem ser classificados de
diversas formas, tanto pela estrutura química, quanto ao modo de preparação,
quanto ao comportamento mecânico e quanto ao desempenho mecânico.

• Materiais compósitos são uma mescla de dois tipos de materiais diferentes.

• A madeira e o osso natural são exemplos de materiais compósito estruturais


produzidos pela natureza.

• Compósitos são formados por uma matriz e um reforço, que pode ser muitas
vezes fibroso ou particulado.

• As matrizes podem ser tanto de origem polimérica, metálica ou cerâmica.

39
AUTOATIVIDADE

1 Você aprendeu que os materiais evoluíram com a humanidade ao passar


dos anos, devido aos avanços tecnológicos. Hoje, é comum apresentá-los
em quatro grandes classes. Sobre a classificação dos tipos de materiais e as
suas principais propriedades, associe os itens, utilizando o código a seguir:

I- Cerâmico.
II- Metálico.
III- Polimérico.
IV- Compósito

( ) Excelente condutor térmico e elétrico.


( ) Ótimo isolante térmico e resistente à altas temperaturas.
( ) Material dúctil porém não resistente à altas temperaturas.
( ) Material frágil e inerte quimicamente.
( ) Material resistente mecanicamente e deformável plasticamente.
( ) Material que possui em sua composição mais de um tipo de material.
( ) O aumento de sua massa molecular provoca aumento em suas
propriedades.
( ) Normalmente reforçado por fibras ou materiais particulados.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) I – II – II – III – I – III – IV – IV.
b) ( ) II – I – III – I – II – IV – III – IV.
c) ( ) II – I – III – I – III – IV – IV – II.
d) ( ) I – II – II – III – IV – III – IV – I.

2 Materiais poliméricos são muito versáteis, muitos autores costumam dizer


que, futuramente, ficaremos conhecidos como a idade do plástico, pela
grande utilização desse tipo de material. Os plásticos são uma classificação
dentro dos materiais poliméricos, eles são subdivididos em termoplásticos
e termorrígidos. Explique a diferenças entre essas classes e cite exemplos.

3 Por que materiais compósitos orientados com fibras longas são considerados
anisotrópicos? Cite um exemplo de um compósito anisotrópico.

4 Os materiais compósitos compreendem outra importante classe dentro dos


materiais. Com base nos materiais compósitos, analise as sentenças a seguir:

I- Um material compósito é considerado um material multifásico que é


projetado para combinar as propriedades das fases que o constituem.
II- As propriedades mecânicas dos compósitos dependem muito das
propriedades das matrizes.
III- As propriedades mecânicas não são influenciadas pelos comprimentos
das fibras que o compõem.
40
Assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) Somente a sentença I está correta.
b) ( ) Somente a sentença II está correta.
c) ( ) Somente a sentença III está correta.
d) ( ) As sentenças I e II estão corretas.

41
42
TÓPICO 4 —
UNIDADE 1

ESTRUTURA DOS MATERIAIS METÁLICOS

1 INTRODUÇÃO
No estudo dos materiais que são utilizados em aplicações mecânicas,
com certeza os materiais metálicos merecem destaque. É verdade que todas as
classes de materiais possuem sua relevância em aplicações distintas, mas ainda
assim, os materiais metálicos dominam o segmento de aplicações que exigem
boas propriedades mecânicas.

No Tópico 1, fizemos um apanhado sobre materiais metálicos, falamos sobre


suas propriedades e seu tipo de ligação, as ligações metálicas. As ligações entre os
elementos metálicos ou de um elemento metálico e outro não metálico formam
uma estrutura cristalina, cujos átomos estão ordenados em reticulo cristalino.

Neste tópico, começaremos a desvendar a estrutura dos materiais


metálicos e falaremos sobre os defeitos desses materiais.

2 ESTRUTURA CRISTALINA
Os materiais existentes na natureza podem ser classificados de acordo com
a ordenação espacial dos átomos e íons, que podem ser: organizado e repetitivo ou
não. Aqueles que possuem ordenação de longo alcance e com repetição do conjunto
de células unitárias, diz-se que são materiais cristalinos e o contrário, materiais
amorfos ou não cristalinos. A célula unitária representa a menor unidade de
arranjo atômico no espaço capaz de representar um sólido cristalino tridimensional
(SANTOS, 2008).

Os materiais metálicos se organizam dessa forma, através de uma célula


unitária que se repete ao longo de uma rede cristalina. A Figura 25 demonstra
o modelo de esferas rígidas para uma célula unitária, rede cristalina e para um
sistema amorfo.

43
UNIDADE 1 — MATERIAIS PARA CONSTRUÇÃO MECÂNICA

FIGURA 25 – (A) MODELO DE CÉLULA UNITÁRIA ATRAVÉS DE ESFERAS RÍGIDAS; (B) CÉLULA
UNITÁRIA COM ESFERAS REDUZIDAS; (C) CONJUNTO DE CÉLULAS UNITÁRIAS FORMANDO
UMA REDE CRISTALINA; (D) MODELO ATÔMICO CRISTALINO DO DIÓXIDO DE SILÍCIO; (E)
MODELO ATÔMICO AMORFO DO DIÓXIDO DE SILÍCIO

FONTE: Adaptada de Callister Jr. e Rethwisch (2016)

As Figuras 25 (a) e (b) apresentam justamente a representação de uma


célula unitária, as Figuras 25 (c) e (d) representam uma rede cristalina, ou seja,
um conjunto de células unitárias com repetição e ordenação a longo alcance. A
Figura 25 (e) faz menção ao mesmo material da Figura 25 (d), só que os átomos
estão de dispostos de maneira desorganizada, ou seja, não apresentam repetição e
ordenação a longo alcance, então trata-se de um material amorfo.

Lembra que comentamos no tópico anterior sobre a anisotropia dos materiais


compósitos com fibras longas? Pois os cristais também apresentam anisotropia em
várias propriedades. Padilha (2000) destaca que essas propriedades que dependem
da orientação cristalina são: constantes elásticas, constantes ópticas, condutividade
elétrica, condutividade térmica, dilatação térmica e até a reatividade química de
suas superfícies.

Dessa forma, substâncias amorfas, por não apresentarem orientação


cristalina de longo alcance, são isotrópicas.

Vale destacar que os cristais encontrados na natureza se formaram em condições


muito específicas de solidificação durante um intervalo de tempo significativo. Já os
cristais produzidos de maneira sintética são usualmente bem menores.

Na maioria dos casos, a microestrutura dos materiais cristalinos é constituída


de fases cristalinas e também de defeitos cristalinos, como contornos de grãos,
contornos de maclas, defeitos de empilhamento, interfaces, discordâncias e defeitos
puntiformes. O conhecimento dessa estrutura, da composição, da natureza, quantidade
e distribuição dos defeitos cristalinos são de extrema valia para o entendimento e, até
para a previsão das propriedades dos materiais (PADILHA, 2000).

44
TÓPICO 4 — ESTRUTURA DOS MATERIAIS METÁLICOS

Existem sete sistemas cristalinos, são eles: cúbico, tetragonal, ortorrômbico,


monoclínico, triclínico, romboédrico ou trigonal, e hexagonal. A Tabela 8 demonstra
as características desses sete sistemas.

TABELA 8 – SISTEMAS CRISTALINOS

Relações Ângulo entre os Geometria da Célula


Nome
Axiais eixos Unitária

Cúbico a=b=c α = β = γ = 90°

Hexagonal a=b≠c α = β = 90°, γ = 120°

Tetragonal a=b≠c α = β = γ = 90°

Romboédrico a=b=c α = β = γ ≠ 90°


(Trigonal)

Ortorrômbico a≠b≠c α = β = γ = 90°

Monoclínico a≠b≠c α = γ = 90° ≠ β

Triclínico a≠b≠c α ≠ β ≠ γ ≠ 90°

FONTE: Adaptada de Callister Jr. e Rethwisch (2016, p. 57)

45
UNIDADE 1 — MATERIAIS PARA CONSTRUÇÃO MECÂNICA

Os comprimentos das arestas, identificado como a, b e c são denominados


parâmetros de rede. Os outros parâmetros de rede na imagem, α, β e γ, são os
ângulos internos entro os eixos, onde α é o ângulo entre os eixos b e c.

A partir desses sete sistemas cristalinos, há outras ramificações conhecidas


como rede de Bravais, totalizando 14 tipos de arranjos cristalinos. Esses 14 tipos
de arranjos cristalinos estão exemplificados na imagem a seguir.

FIGURA 26 – REDES CRISTALINAS (BRAVAIS)

FONTE: Adaptada de Shackelford (2008, p. 47)

Analisando a figura anterior e traçando um paralelo com a Tabela 8, é possível


perceber que tanto a estrutura Cúbica Simples (CS), Cúbica de Corpo Centrado
(CCC) e Cúbica de Face Centrada (CFC), fazem parte do mesmo sistema cristalino,
o sistema cúbico. Assim como ocorre no sistema cúbico, o sistema ortorrômbico
apresenta arranjos cristalinos diferentes, quatro no total. O mesmo ocorre para os
sistemas tetragonal e monoclínico, com dois arranjos diferentes cada.

3 ESTRUTURA DOS MATERIAIS METÁLICOS


Dentre as 14 estruturas cristalinas, três delas são mais comuns em materiais
metálicos e estudaremos mais a fundo, porém antes de analisar cada uma, vamos
enumerar as características de uma célula unitária.

• Número de coordenação: refere-se à quantidade de átomos que pode ser


ligado aos átomos vizinhos, corresponde aos vértices e faces da célula;
• Números de átomos inteiros na célula unitária (N): leva em consideração o
total de átomos ao ser isolado uma célula unitária.

46
TÓPICO 4 — ESTRUTURA DOS MATERIAIS METÁLICOS

• Parâmetro de rede (a): é a distância entre os raios atômicos dentro de uma


mesma célula unitária.
• Volume da célula unitária (V): relaciona-se com o espaço ocupado pelo átomo
dentro de uma célula unitária, está relacionado com o parâmetro de rede (a).
• Fator de empacotamento atômico (FEA): corresponde à quantidade máxima
de átomos que uma célula unitária pode suportar, por isso o cálculo é baseado
na soma dos volumes dos átomos dividido pela soma do volume da célula
unitária e multiplicado pela quantidade de átomos inteiros dentre da célula,
conforme Equação 1.

(1)

Além dos parâmetros citados anteriormente, as densidades planar e linear


podem ser consideradas no estudo das estruturas cristalinas. As direções e planos
cristalográficos equivalentes possuem as mesmas densidades lineares e planares,
respectivamente, e são consideradas importantes para o escorregamento dos
planos e direções mais compactos em deformações plásticas.

A densidade planar é o próprio fator de empacotamento atômico e as


esferas em um plano cristalográfico depende dos índices do plano, assim como a
estrutura cristalina. Para uma dada estrutura cristalina, os planos que possuem
empacotamento atômicos idênticos, porém tem índices de Miller diferentes,
pertencem a uma mesma família.

Densidade planar (DP): razão da área cristalográfica planar total que está
ocupada pelos átomos, Equação 2.

(2)

O cálculo da densidade planar pode ser observado no exemplo a seguir,


para uma célula CFC, conforme Figura 27.

FIGURA 27 – PLANO (110) DE UMA CÉLULA CFC

FONTE: Adaptada de Callister Jr. e Rethwisch (2016, p. 72)

47
UNIDADE 1 — MATERIAIS PARA CONSTRUÇÃO MECÂNICA

O plano (110) possui ½ átomo da face superior e ½ átomo da face inferior,


e possui nos vértices ¼ de 4 átomos, assim ½ + ½ + 4*(¼) totalizam 2 átomos no
plano em questão, como pode ser visto na Figura 27 b). Assim a Densidade Planar
(DP) fica:

Densidade linear (DL): fração do comprimento da linha que é interceptada


pelo centro dos átomos interceptados pelo vetor direção, Equação 3.

(3)

O cálculo da densidade linear pode ser observado no exemplo a seguir,


também para uma célula CFC, conforme Figura 28.

FIGURA 28 – DIREÇÃO [110] DE UMA CÉLULA CFC

FONTE: Callister Jr. e Rethwisch (2016, p. 75)

Na Figura 28 (b), é possível ver o plano em que o vetor direção [110],


cujo comprimento do vetor tem o tamanho de um raio do átomo X, atravessa
totalmente o raio Y (2 raios) e possui mais 1 raio do átomo Z, totalizando 4 raios de
comprimento (4R). Para o cálculo da quantidade de átomos, é preciso considerar
que cada um dos átomos dos vértices X e Z também é compartilhado com outra
célula unitária adjacente ao longo dessa direção [110], possuindo, então, metade
de cada átomo, enquanto o átomo y está totalmente dentro do vetor direção,
totalizando dessa forma 2 átomos. Assim a Densidade Linear (DL) fica:

48
TÓPICO 4 — ESTRUTURA DOS MATERIAIS METÁLICOS

Massa específica: densidade verdadeira ou massa específica teórica é


dada pela Equação 4.

(4)

Em que:
n = número de átomos associados a cada célula unitária;
A = peso atômico;
VC = volume da célula unitária;
NA = número de Avogadro (6,023 x 10²³).

Veja o exemplo: o cobre possui raio atômico de 0,128 ηm, uma estrutura
cristalina CFC e um peso atômico 63,5 g/mol. Calcule a sua massa específica.

4 ESTRUTURA CCC
A estrutura cristalina CCC é caracterizada por oito átomos nos vértices
e um único átomo centralizado na célula unitária. Dessa forma, essa estrutura
possui 1/8 de cada um dos átomos dos vértices e mais o átomo centralizado,
totalizando 2 átomos na célula unitária. Os átomos se tocam ao longo da diagonal
interna do cubo. A Figura 29 apresenta uma representação da célula unitária de
uma estrutura CCC.

FIGURA 29 – REPRESENTAÇÃO DE UMA CÉLULA UNITÁRIA CCC

FONTE: Shackelford (2008, p. 48)

49
UNIDADE 1 — MATERIAIS PARA CONSTRUÇÃO MECÂNICA

A Figura 29 apresenta a estrutura CCC para metais que exibem (a) o


arranjo de pontos de rede para uma célula unitária, (b) o empacotamento real
dos átomos (representados como esferas rígidas) dentro da célula unitária e (c)
a estrutura CCC repetitiva, equivalente a muitas células unitárias adjacentes. Na
Tabela 9, estão listadas as principais características dessas estruturas.

TABELA 9 – CARACTERÍSTICAS DAS CÉLULAS CCC

Parâmetros Resultados
Número de coordenação 8
Números de átomos inteiros na
célula unitária

Parâmetros de rede

Volume da célula unitária

Fator de empacotamento atômico


(FEA)

FONTE: Adaptada de Callister Jr. e Rethwisch (2016)

Como pode ser observado na tabela anterior, o fator de empacotamento


atômico dessas células é baixo, pois os planos de maior densidade atômica são os
pertencentes à família {110}.

Os metais CCC quando aquecidos são dúcteis o que permite a conformação


por deformação, tem elevada tenacidade, mas essa tenacidade diminui em baixas
temperaturas tornando-se frágeis e apresentando uma temperatura de transição
dúctil-frágil. Além disso, pode ser endurecido por solução sólida intersticial.
Alguns exemplos de materiais com essa estrutura cristalina são: ferro (α),
molibdênio e o nióbio.

5 ESTRUTURA CFC
A estrutura cristalina CFC é caracterizada por oito átomos nos vértices e
por seis átomos nas faces da célula unitária. Da mesma forma que na estrutura
CCC, os átomos dos vértices equivalem a 1/8 de átomo, pois são divididos entre 8
células unitárias adjacentes. Já os átomos das faces equivalem a ½ de átomo, pois
ele é dividido entre apenas duas células unitárias. Os átomos dessa estrutura se
tocam ao longo das diagonais das faces dos cubos. A Figura 30 apresenta uma
representação da célula unitária de uma estrutura CFC.

50
TÓPICO 4 — ESTRUTURA DOS MATERIAIS METÁLICOS

FIGURA 30 – REPRESENTAÇÃO DE UMA CÉLULA CFC

FONTE: Shackelford (2008, p. 48)

A estrutura CFC para metais, exibida na figura anterior, apresenta (a) o


arranjo de pontos de rede para uma célula unitária e (b) o empacotamento real
dos átomos (representados como esferas rígidas) dentro da célula unitária.

A estrutura CFC repetitiva, equivalente a muitas células unitárias


adjacentes, devido ao seu fator de empacotamento, apresenta planos mais
compactos que estão empilhados na sequência ABCABC. Essa representação é
possível observa na Figura 31.

FIGURA 31 – EMPILHAMENTO DE PLANOS COMPACTOS DA ESTRUTURA CFC

FONTE: Callister Jr. e Rethwisch (2016, p. 77)

A Tabela 10 mostra as principais características dessas estruturas. O fator


de empacotamento destas células é superior às células CCC.

51
UNIDADE 1 — MATERIAIS PARA CONSTRUÇÃO MECÂNICA

TABELA 10 – CARACTERÍSTICAS DAS CÉLULAS CFC

Parâmetros Resultados
Número de coordenação 12

Números de átomos inteiros na


célula unitária

Parâmetros de rede a = 2r√2


Volume da célula unitária VCFC = a³ = (2r√2)³ = 16r³ √2

Fator de empacotamento atômico


(FEA)
FONTE: Adaptada de Callister Jr. e Rethwisch (2016)

O valor do FEA de 0,74, maior que o 0,68 da estrutura CCC, é o valor mais
alto possível para preencher o espaço empilhando as esferas rígidas de mesmo
tamanho. Devido a isso, a estrutura CFC também é denominada de estrutura
Cúbica Compacta (CC) (SHACKELFORD, 2008).

Metais CFC são mais dúcteis no estado puro, quando deformados sofrem
encruamento (dificuldade das discordâncias de se movimentar) e tornam-se mais
macios quando recozidos, por isso podem ser facilmente conformados por deformação.
Em geral, possuem elevada tenacidade e conservam a ductilidade e tenacidade até o
zero absoluto, não apresentando uma transição de dúctil/frágil. Alguns de exemplos
de materiais com esta estrutura cristalina são: alumínio, ouro e o ferro (γ).

6 ESTRUTURA HC
A estrutura cristalina HC é caracterizada por átomos nos vértices, átomos
nas faces da célula unitária e três átomos no meio. Essa é uma estrutura mais
complicada. A Figura 32 apresenta uma ilustração desse tipo de estrutura. Existem
dois átomos associados a cada ponto da rede de Bravais, um átomo centralizado
dentro da célula unitária e diversos átomos fracionados nos cantos da célula
unitária (quatro 1/6 de átomo e quatro 1/12 de átomo, gerando um total de dois
átomos por célula unitária (SHACKELFORD, 2008).

52
TÓPICO 4 — ESTRUTURA DOS MATERIAIS METÁLICOS

FIGURA 32 – REPRESENTAÇÃO DE UMA CÉLULA HCC

FONTE: Shackelford (2008, p. 48)

A Figura 32, na estrutura HC para metais, mostra (a) o arranjo dos centros
dos átomos em relação aos pontos de rede para uma célula unitária. Existem dois
átomos por ponto de rede (observe o exemplo destacado). (b) O empacotamento
real dos átomos dentro da célula unitária. Observe que o átomo no plano do meio
se estende além dos limites da célula unitária.

A estrutura HC repetitiva, equivalente a muitas células unitárias adjacentes


é demonstrada na Figura 33. A sequência do empilhamento atômico é do tipo
ABAB.

FIGURA 33 – SEQUÊNCIA DE EMPILHAMENTO DE PLANOS PARA A ESTRUTURA HC

FONTE: Callister Jr. e Rethwisch (2016)

A Tabela 11 mostra as principais características dessas estruturas.

53
UNIDADE 1 — MATERIAIS PARA CONSTRUÇÃO MECÂNICA

TABELA 11 – CARACTERÍSTICAS DAS CÉLULAS HC

Parâmetros Resultados
Número de coordenação 12

Números de átomos inteiros na


célula unitária

Parâmetros de rede a = 2r

Volume da célula unitária

Fator de empacotamento atômico


FEA = 0,74
(FEA)
FONTE: Adaptada de Callister Jr. e Rethwisch (2016)

Ela apresenta FEA de 0,74, o mesmo da estrutura CFC. Conforme a Figura


33, ambas apresentam sequência de empilhamentos compactos, a diferença está
apenas na sequência desses empilhamentos.

No arranjo CFC, é tal que a quarta camada compacta se encontra


exatamente acima da primeira. Já na estrutura HC, a terceira camada se encontra
exatamente acima da primeira (SHACKELFORD, 2008). A comparação entre os
planos compactos de HC e CFC pode ser observada na Figura 34.

FIGURA 34 – COMPARAÇÃO ENTRE OS EMPILHAMENTOS DOS PLANOS COMPACTOS DAS


ESTRUTURAS CFC E HC

FONTE: Shackelford (2008, p. 49)

54
TÓPICO 4 — ESTRUTURA DOS MATERIAIS METÁLICOS

A conformação por deformação é viável, porém é limitada. Alguns exemplos


de materiais com essa estrutura cristalina são: cádmio, cobalto, zinco e o titânio (α).

Essa estrutura cristalina é menos dúctil que as estruturas cristalinas CCC


ou CFC e geralmente materiais com essas estruturas têm pouca viabilidade em
processos de conformação por deformação.

7 PONTOS, DIREÇÕES E PLANOS CRISTALOGRÁFICOS


Frequentemente é necessário identificar as direções e planos cristalográficos
específicos em cristais. As propriedades mecânicas são influenciadas pelos planos
e direções mais compactos. A deformação plástica o deslizamento dos planos
acontece através dos planos compactos e o maior módulo de elasticidade ocorre
nas direções mais compactas. Na Figura 35, há um exemplo de algumas direções
cristalográficas.

FIGURA 35 – EXEMPLO DE ALGUMAS DIREÇÕES CRISTALOGRÁFICAS

FONTE: Adaptada de Callister Jr. e Rethwisch (2016, p. 61).

Determinação das direções cristalográficas

• Os índices são determinados por u, v e w e apresentados dentro de colchetes


[uvw], não separados por vírgula e representa uma linha que vai da origem até
um ponto de coordenadas (u, v, w) que correspondem às projeções reduzidas
ao longo dos eixos x, y e z.
• A unidade é medida em termo do parâmetro de rede (a, b, c).
• Um vetor direção é adicionado da origem até os eixos cartesianos e paralelos.
• Se for considerado a direção contrária à origem considera-se negativo e é
representado como por exemplo a direção [110] neste caso há uma componente
na direção -x.
• Para células hexagonais há três eixos a1, a2 e a3 presentes no mesmo plano
basal e formam ângulos de 120° entre si.
• As coordenadas devem ser reduzidas ao menor conjunto de números inteiros.

55
UNIDADE 1 — MATERIAIS PARA CONSTRUÇÃO MECÂNICA

Exemplo: mostre a direção [110] dentro de uma célula cúbica, na Figura 36.

FIGURA 36 – DIREÇÃO [110]

FONTE: Adaptada de Callister Jr. e Rethwisch (2016, p. 63).

Exemplo: determinação dos índices para a direção mostrada na Figura 37,


resultado na Tabela 12.

FIGURA 37 – DETERMINAÇÃO DOS ÍNDICES

FONTE: Adaptada de Callister Jr. e Rethwisch (2016, p. 63)

TABELA 12 – DETERMINAÇÃO DOS ÍNDICES DA FIGURA 37


x y z
Projeções
½a 1b 0c
Projeções em termos de (a, b e c) ½ 1 0
Redução a mínimos inteiros 1 2 0
Notação [120]
FONTE: Adaptada de Callister Jr. e Rethwisch (2016, p. 63)

Uma dica de resolução seria adotar o método PONTA-CAUDA da seta.


56
TÓPICO 4 — ESTRUTURA DOS MATERIAIS METÁLICOS

Vetor = Ponta ½ x 1y 0z
- Cauda: 0x 0y 0z
Projeções: ½x 1y 0z
Reduções (x2) 1x 2y 0z
Índice: [120]

Determinação dos planos cristalográficas

Os planos cristalográficos são determinados através dos índices de Miller


(h k l), com exceção dos sistemas hexagonais que leva quatro índices (h k i l)
chamado de sistema Miller-Bravais, na qual i = -(h + k). Callister e Rethwisch
(2016), destaca:

• O plano cristalográfico ou intercepta ou é paralelo a cada um dos três eixos.


• Os planos paralelos são equivalentes tendo todos os mesmos índices.
• Se o plano passa pela origem selecionada, outro plano paralelo deve ser
construído ou uma nova origem deve ser estabelecida no vértice de outra
célula unitária.
• Cálculo dos valores inversos, se necessário os números devem ser modificados
para o menor conjunto de número inteiros.

Exemplo: determine o plano (111) em uma célula cúbica (Figura 38) e o


plano formado pelas interseções 1/3 a, 2/3 b, 1c (Figura 39 – Tabela 13).

FIGURA 38 – EXEMPLO PLANO (111)

FONTE: Adaptada de Callister Jr. e Rethwisch (2016, p. 69)

57
UNIDADE 1 — MATERIAIS PARA CONSTRUÇÃO MECÂNICA

FIGURA 39 – EXEMPLO PLANO (632)

FONTE: Adaptado de Callister Jr. e Rethwisch (2016, p. 69)

TABELA 13 – DETERMINAÇÃO DOS ÍNDICES DA FIGURA 38

x y z
Interseção 1/3 2/3 1
Inversão 3 3/2 1
Redução 6 3 2
índice (632)
FONTE: Adaptada de Callister Jr. e Rethwisch (2016, p. 69)

Para as redes cristalinas hexagonais, os índices e Miller-Bravais são


representados pelos inversos das intersecções do plano considerado com os eixos a1,
a2, a3 e z do sistema de coordenadas, considerando-se os parâmetros de rede como
unitários, reduzidos ao menor conjunto de números inteiros obtido multiplicando-
se ou dividindo-se os índices por um mesmo número. Na Figura 40, há exemplos
de direções e planos destas células.

FIGURA 40 – ESTRUTURA CRISTALINA HEXAGONAL; (A) DIREÇÕES E (B) PLANOS

FONTE: Adaptada de Callister Jr. e Rethwisch (2016, p. 73)

58
TÓPICO 4 — ESTRUTURA DOS MATERIAIS METÁLICOS

8 POLIMORFISMO E ALOTROPIA
Você certamente percebeu que os materiais existentes na natureza apresentam
diferentes composições químicas, apresentando os mais diversos elementos
envolvidos nessas composições. Dessa forma, é de esperar que cada material com
composição química diferente apresente características diferentes, até aí tudo bem.

Seguindo nessa linha de pensamento, poderíamos então supor que materiais


que apresentam exatamente a mesma composição química deveriam apresentar as
mesmas características, bem, não é exatamente assim que ocorre.

Muitas vezes, os materiais podem apresentar a mesma composição química,


porém apresentam um arranjo estrutural diferente para essa composição, devido a esse
fenômeno, uma substância apresenta variações de arranjos cristalinos em diferentes
condições. O polimorfismo é considerado uma mudança estrutural em substâncias
compostas e a alotropia é um tipo de polimorfismo presente em elementos puros.

Vamos pegar o exemplo mais comum de todos, o carbono. Dependendo do


seu arranjo atômico, ele pode formar grafite, diamante ou fulereno. Dessa forma,
dizemos que o carbono apresenta três alótropos, esses materiais são apresentados na
Figura 41. O grafite é a forma mais estável, depois o diamante seguido do fulereno.

FIGURA 41 – FORMAS ALOTRÓPICAS DO CARBONO

FONTE: Adaptada de <https://www.infoescola.com/quimica/alotropia/>. Acesso em: 2 set. 2020.

E
IMPORTANT

Fulereno é um material formado por carbono (60 átomos formado por um


conjunto hexágono assemelhando-se a uma bola de futebol), tem aplicação na síntese
de outros componentes, principalmente na medicina como antivirais, antioxidante e
antimicrobiano. Essa forma alotrópica do carbono foi descoberta em 1985 e rendeu aos
pesquisadores o Prêmio Nobel de Química.

59
UNIDADE 1 — MATERIAIS PARA CONSTRUÇÃO MECÂNICA

A estrutura alotrópica que irá prevalecer dependerá das condições de


temperatura e pressão que o material está exposto. No exemplo do carbono, a grafita
é formada em condições ambiente de temperatura e pressão, já o diamante necessita
de pressões extremamente elevadas (CALLISTER JR.; RETHWISCH, 2016).

Assim como o carbono, muitos metais apresentam o fenômeno do


polimorfismo e o exemplo mais comum é o do próprio ferro. Se você estava
prestando atenção quando discutimos sobre as estruturas cristas CCC e CFC, já
percebeu que para as duas citamos o exemplo do ferro. O que ocorre que o Fe
puro apresenta uma estrutura CCC à temperatura ambiente, esse é denominado Fe
alfa (α), já para temperaturas superiores a 912 °C ele apresenta uma transformação
alotrópica, passando a apresentar estrutura CFC, este Fe gama (γ).

O Fe α existe de -273 a 912 °C, entre 768 e 912 °C, o ferro a deixa de ser
magnético e, algumas vezes, é chamado de Fe β, porém não apresenta mudança
de estrutura cristalina. O ferro γ existe de 912 a 1394 °C e o Fe δ existe de 1394
a 1539 °C, apresentando, novamente, estrutura CCC, esta estrutura mantém-se
estável até a temperatura de fusão do ferro.

Cerca de 40% dos elementos apresentam alótropos. A Tabela 14 apresenta


alguns metais e seus alótropos.

TABELA 14 – ALGUNS METAIS E SEUS ALÓTROPOS

Estrutura na temperatura
Metal Em outras temperaturas
ambiente
Ca CFC CCC (> 447 °C)
Co HC CFC (> 1742 °C)
CFC (912 °C – 1394 °C)
Fe CCC
CCC (> 1394 °C)
Hf HC CFC (> 1742 °C)
Li CCC HC (< -193 °C)
Na CCC HC (< -233 °C)
Ti HC CCC (> 883 °C)
Zr HC CCC (> 872 °C)
FONTE: <http://www.fem.unicamp.br/~caram/estrutura.pdf>. Acesso em: 2 set. 2020.

Analisando a tabela anterior, é possível observar que o cálcio (Ca), com


estrutura CFC à temperatura e pressão ambiente, ao ser aquecido acima de 447
°C, transforma sua microestrutura para CCC. O mesmo ocorre com o cobalto
(Co), que em condições normais de temperatura e pressão possui estrutura HC,
e acima de 1742 °C tem sua estrutura alterada para CFC. Esse fenômeno pode ser
observado para os demais materiais listados na tabela.

60
TÓPICO 4 — ESTRUTURA DOS MATERIAIS METÁLICOS

Estudaremos mais sobre alótropos do ferro na próxima unidade, quando


abordarmos o diagrama de fases Fe – C. Esse assunto voltará a ser discutido
também na Unidade 3, quando estudarmos sobre tratamentos térmicos.

61
UNIDADE 1 — MATERIAIS PARA CONSTRUÇÃO MECÂNICA

LEITURA COMPLEMENTAR

ALOTROPIA E SUA IMPORTÂNCIA NA ENGENHARIA DE MATERIAIS

Olá, galera!

O tema de hoje é alotropia, ou seja, a capacidade de um elemento químico


formar diferentes substâncias simples. Essas substâncias, denominadas formas
alotrópicas, diferem-se entre si no que diz respeito a suas estruturas cristalinas
ou atomicidade e, por causa desses fatores que podem parecer apenas detalhes,
as características e propriedades das substâncias em questão podem ser tornar
completamente diferentes.

Um exemplo de elemento químico que sofre alotropia é o estanho: Ele


pode se organizar em uma estrutura tetragonal de corpo centrado (imagem à
esquerda), denominado estanho branco ou em uma estrutura cúbica semelhante
à do diamante (imagem à direita), caracterizando o estanho cinza.

FIGURA 1 – ESTRUTURAS CRISTALINAS DAS FORMAS ALOTRÓPICAS DO ESTANHO

FONTE: Adaptada de <http://qnesc.sbq.org.br/online/qnesc34_3/04-AQ-45-11.pdf>.


Acesso em: 4 set. 2020.

A transformação de estanho branco em cinza leva a uma expansão no


volume em aproximadamente 27%, culminando na desintegração do material.
Apesar de a temperatura de transição ser 13,2 °C, a transformação de forma
alotrópica acontece a uma taxa muito lenta em condições normais de temperatura,
então o fenômeno pode de certa forma ser desprezado. No entanto, a utilização
de estanho em regiões de frio extremo pode ter resultados dramáticos, caso sua
transformação alotrópica não seja lembrada, como aconteceu em 1812 na Rússia.
Naquele ano, houve um inverno bastante rigoroso, com um período longo de
temperaturas bastante baixas, assim, a taxa de transformação de estanho branco
em estanho cinza, mais estável em temperaturas abaixo de 13,2 °C do que a
primeira substância, foi rápida o suficiente para que seus efeitos pudessem ser
sentidos. As consequências? Durante o inverno daquele ano aconteciam as invasões
Napoleônicas na Rússia e exatamente no período em que os soldados deveriam
estar mais agasalhados, os botões de seus uniformes esfarelaram-se e desfizeram-
se em pedaços. Há historiadores que dizem que esse foi um dos principais motivos
62
TÓPICO 4 — ESTRUTURA DOS MATERIAIS METÁLICOS

a contribuir para a derrota de Napoleão Bonaparte. Além disso, alguns tubos de


órgãos de igrejas também foram destruídos por essa transformação. Devido a
esses casos, a transição alotrópica do estanho chegou a inclusive ser batizada como
“doença do estanho”.

FIGURA 2 – ESTANHO BRANCO (ACIMA) E ESTANHO CINZA (ABAIXO)

FONTE: Callister Jr. e Rethwisch (2016)

Outro elemento que possui alotropia é o ferro, o qual é o principal elemento


a compor o aço, um dos materiais mais utilizados no meio industrial, construção
civil e mais presentes no dia a dia dos engenheiros de materiais. Portanto, conhecer
as transformações alotrópicas do ferro e saber explorá-las é de extrema importância.

Primeiramente, as transformações alotrópicas do ferro ocorrem a


temperaturas muito superiores à temperatura ambiente (910 °C e 1400 °C), de
forma com que devam ser compreendidas não para evitar problemas, como no
caso do estanho, mas sim para compreender como processar o material de forma a
atingir as propriedades que lhe são requisitadas.

FIGURA 3 – FASES ALOTRÓPICAS DO FERRO E SUAS TEMPERATURAS DE ESTABILIDADE

FONTE: <http://www.cienciadosmateriais.org/index.php?acao=exibir&cap=16&top=232>. Aces-


so em: 4 set. 2020.

63
UNIDADE 1 — MATERIAIS PARA CONSTRUÇÃO MECÂNICA

A partir da figura anterior, verifica-se que a temperaturas abaixo de 910 °C,


o ferro apresenta estrutura cristalina cúbica de corpo centrado (CCC), denominado
ferro α. Acima dessa temperatura, ocorre a transição para uma fase γ de estrutura
cúbica de faces centradas (CFC), alterando o comportamento do ferro. Continuando
o aquecimento do ferro γ, atinge-se uma temperatura (1400 °C) na qual ela deixa de
ser a fase mais estável termodinamicamente, dando lugar ao ferro δ, que é estável
até 1539 °C, temperatura na qual torna-se líquido. A transição mais estudada e de
maior importância é a de ferro α para γ. Analisando-se as características de cada
uma dessas fases, constatou-se que o ferro γ apresenta uma solubilidade muito
maior de carbono do que o α. A partir desse conhecimento, pensou-se em utilizar o
ferro γ para fazer aços com maiores teores de carbono, pois seria possível dissolver
esse elemento em quantidades superiores ao que seria possível em ferro α. Você
pode estar se perguntando, por que dissolver carbono no ferro γ se ao resfriar o
material à temperatura ambiente esse carbono não será mais solúvel na fase α e vai
se precipitar no ferro? Na verdade, esse resfriamento até a temperatura ambiente é
feito de maneira bastante rápida e, dessa forma, o carbono continua dissolvido na
matriz, pois não tem tempo de sair dos interstícios da rede composta por átomos de
ferro. O resultado é um aço com novas propriedades, por exemplo maior resistência
mecânica e dureza e que possui uma rede cúbica de corpo centrado distorcida pela
presença de uma quantidade excessiva de carbono, a chamada estrutura tetragonal
de corpo centrado (TCC). Esse aço é denominado de martensítico.

FIGURA 4 – ESTRUTURAS CRISTALINAS CCC, CFC E TCC, RESPECTIVAMENTE

FONTE: <https://www.docsity.com/pt/trat-termicos-revisado12/4837255/>. Acesso em: 4 set. 2020.

Outras propriedades que merecem destaque na austenita (ferro γ + carbono),


é que possui menor dureza com relação à ferrita (ferro α + carbono), apresenta
grande resistência ao desgaste, é não magnética, e é o constituinte mais denso dos
aços. Caso deseje-se um material com alguma dessas características, é possível fazer
algo para manter a austenita mais estável do que a ferrita à temperatura ambiente?
Sim! Por meio da adição de elementos de liga, por exemplo, os quais podem
mudar a temperatura de transição de fases para uma temperatura superior ou
inferior à original, favorecendo a formação de um tipo de fase ou de outro em uma
determinada temperatura. O próprio carbono dos aços abaixa essa temperatura de
transição α-γ de 910 °C para aproximadamente 723 °C.

64
TÓPICO 4 — ESTRUTURA DOS MATERIAIS METÁLICOS

A partir dos casos mencionados, verifica-se que um bom engenheiro de


materiais deve conhecer um pouco sobre a alotropia dos elementos químicos
com que trabalha para poder explorar suas propriedades ou prever possíveis
desastres. Os elementos estanho e ferro foram selecionados para esse post por
entender-se que teriam maior impacto no âmbito da engenharia de materiais,
no entanto elementos como carbono, enxofre, fósforo e oxigênio também sofrem
alotropia e fica como sugestão a leitura sobre esses casos.

FONTE: Adaptado de <https://engenheirodemateriais.com.br/2015/07/09/alotropia-e-sua-importancia-


na-engenharia-de-materiais/#more-72>. Acesso em: 4 set. 2020.

65
RESUMO DO TÓPICO 4
Neste tópico, você aprendeu que:

• Os materiais metálicos apresentam, no estado sólido, uma estrutura cristalina.

• Estruturas cristalinas possuem ordenação a longo alcance, apresentando


repetição do conjunto de células unitárias.

• Existem sete sistemas cristalinos, são eles: cúbico, tetragonal, ortorrômbico,


monoclínico, triclínico, romboédrico ou trigonal, e hexagonal.

• A partir desses sete sistemas cristalinos, há outras ramificações conhecidas


como rede de Bravais, totalizando 14 tipos de arranjos cristalinos.

• Os três arranjos mais comuns em materiais metálicos são o Cúbico de Corpo


Centrado (CCC), Cúbico de Face Centrada (CFC) e o Tetragonal Compacto (HC).

• As características mais importantes de uma célula unitária são o número


de coordenação, número de átomos inteiros, parâmetro de rede, volume da
célula, fator de empacotamento atômico, densidade planar, densidade linear
e massa específica.

• A estrutura cristalina CCC é caracterizada por oito átomos nos vértices e um


único átomo centralizado na célula unitária.

• Os metais CCC quando estão aquecidos são dúcteis o que permite a


conformação por deformação, tem elevada tenacidade, mas essa tenacidade
diminui em temperaturas mais baixas.

• A estrutura cristalina CFC é caracterizada por oito átomos nos vértices e por
seis átomo nas faces da célula unitária.

• Metais CFC são mais dúcteis no estado puro, quando deformados sofrem
encruamento (dificuldade das discordâncias de se movimentar) e tornam-se
mais macios quando recozidos.

• A estrutura cristalina HC é caracterizada por átomos nos vértices, átomos nas


faces da célula unitária e três átomos no meio.

• Essa estrutura cristalina é menos dúctil que as estruturas cristalinas CCC ou


CFC e, geralmente, materiais com essas estruturas têm pouca viabilidade em
processos de conformação por deformação.

• Muitas vezes os materiais podem apresentar a mesma composição química,


porém apresentam um arranjo estrutural diferente para essa composição.

66
• O polimorfismo é considerado uma mudança estrutural em substâncias compostas
e a alotropia é um tipo de polimorfismo presente em elementos puros.

• Grafite, diamante ou fulereno são alótropos do carbono.

• Assim como o carbono, muitos metais apresentam o fenômeno do polimorfismo


e o exemplo mais comum é o do próprio ferro.

CHAMADA

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67
AUTOATIVIDADE

1 Os materiais existentes na natureza podem ser classificados de acordo com a


ordenação espacial dos átomos e íons, que podem ser: organizado e repetitivo
ou não. Aqueles que possuem ordenação de longo alcance, e com repetição
do conjunto de células unitárias, diz-se que são materiais cristalinos e o
contrário materiais amorfos ou não cristalinos. De acordo com os sistemas
cristalinos, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas.

( ) No sistema cúbico, a relação entre os três eixos axiais é de igualdade.


( ) O sistema tetragonal apresenta igualdade entre duas arestas e igualdade
entre os três ângulos internos entre os eixos.
( ) Existem seis sistemas cristalinos, são eles: cúbico, tetragonal, monoclínico,
triclínico, romboédrico ou trigonal, e hexagonal.
( ) O sistema hexagonal apresenta igualdade entre duas arestas e seus três
ângulos internos são diferentes.
( ) No sistema romboédrico, apesar de apresentar igual entre os três ângulos
internos, entre os eixos possui diferença nos comprimentos entre suas
arestas.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) F – V – V – F – F.
b) ( ) V – F – F – F – V.
c) ( ) V – V – F – F – V.
d) ( ) V – V – F – F – F.

2 O nióbio possui um raio atômico de 0,1430 nm e uma densidade de 8,57


g/cm³. Com base nas informações, determine se ele possui uma estrutura
cristalina CFC ou CCC.

3 Calcule a densidade teórica do Fe(CFC) e Fe(CCC), e assinale a alternativa


CORRETA: (Dados: NA = 6,023 x 10²³ átomo/mol, rFe= 0,124 nm; MFe = 55,85
g/mol).

a) ( ) Fe(CFC) ≈ 8,597 kg/m³; Fe(CCC) ≈ 7,897 kg/m³.


b) ( ) Fe(CFC) ≈ 8,597 g/cm³; Fe(CCC) ≈ 7,8978 g/cm³.
c) ( ) Fe(CFC) ≈ 7,898 g/cm³; Fe(CCC) ≈ 8,597 g/cm³.
d) ( ) Fe(CFC) ≈ 7,898 kg/m³; Fe(CCC) ≈ 8,597 kg/m³.

4 No interior de uma célula cúbica, esboce as seguintes direções:

a) [101].
b) [211].
c) [102].
d) [313].

68
e) [111].
f) [212].
g) [312].
h) [301].

5 A figura a seguir mostra uma célula unitária para um metal hipotético.

FONTE: Callister e Rethwisch (2016, p. 73)

a) A qual sistema cristalino essa célula pertence?


b) Como essa estrutura cristalina seria chamada?
c) Calcule a massa específica do material, dado o seu peso atômico de 141 g/mol.

6 Quais são os índices para os dois planos desenhados no esboço a seguir?

FONTE: Callister e Rethwisch (2016, p. 56)

69
REFERÊNCIAS
ASHBY, M. F. Materials selection in mechanical design. 3. ed. Oxford: Elsevier,
2005.

BECERRA, A. F. P. Caracterização de PEAD antes e após envelhecimento em


diferentes meios e condições. 2015. 223 f. Dissertação de Mestrado – Pontifícia
Universidade Católica do Rio de Janeiro, Departamento de Engenharia Química
e de Materiais, 2015.

CALLISTER JR., W. D.; RETHWISCH, D. G. Ciência e engenharia de materiais:


uma introdução. 9. ed. São Paulo: LTC, 2016.

CANEVAROLO JR., S. V. Ciência dos polímeros: um texto básico para tecnólogos


e engenheiros. 3. ed. São Paulo: Artliber, 2013.

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e engenheiros. 2. ed. São Paulo: Artliber, 2006.

EVANS, S. L.; GREGSON, P. J. Composite technology in load-bearing orthopaedic


implants. Biomaterials, v. 19, n. 15, p. 1329-1342, 1998.

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Araranguá: Centro Federal de Educação Tecnológica de Santa Catarina. 2008.

KETTERMANN, V. PEEK: O polímero de alta performance. 2016. Disponível


em: http://engenheirodemateriais.com.br/2016/05/04/peek-o-polimero-de-alta-
performance/. Acesso em: 5 ago. 2020.

MEHTA, P. K.; MONTEIRO, P. J. M. Concreto: estrutura, propriedades e materiais.


São Paulo: PINI, 1994.

PADILHA, A. F. Materiais de engenharia: microestrutura e propriedades. Hemus,


2000.

SANTOS, F. S. F. D. et al. Modificação da superfície do poli (éter-éter-cetona).


Matéria, Rio de Janeiro, v. 22, n. 4, 2017.

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SHACKELFORD, J. F. Introdução à ciência dos materiais. 6. ed. São Paulo: Pearson


Education do Brasil, 2008.

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Paulo: Fundação Padre Anchieta, 2011.

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como matriz em compósitos reforçados com fibras de vidro. 2009. 26 f. Trabalho
de Conclusão de Curso (Bacharel em Engenharia de Materiais) – Universidade
Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2009.

71
72
UNIDADE 2 —

LIGAS METÁLICAS E MATERIAIS


CRISTALINOS

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• inteirar-se dos defeitos presentes em materiais cristalinos e suas implicações;

• aprender o movimento atômico e os parâmetros envolvido no processo


de difusão no estado sólido;

• conhecer a importância do diagrama de fases;

• compreender como é feito o cálculo das proporções e composições das fases


presentes em uma microestrutura.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade,
você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo
apresentado.

TÓPICO 1 – DEFEITOS DOS MATERIAIS METÁLICOS

TÓPICO 2 – PRINCÍPIOS DE DIFUSÃO

TÓPICO 3 – DIAGRAMAS DE EQUILÍBRIO

CHAMADA

Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos


em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá
melhor as informações.

73
74
TÓPICO 1 —
UNIDADE 2

DEFEITOS DOS MATERIAIS METÁLICOS

1 INTRODUÇÃO
Na Unidade 1, nós estudamos a importância das diversas classes de
materiais existentes e, no final da unidade, abordamos as estruturas cristalinas
presentes em materiais metálicos.

Neste tópico, daremos continuidade ao estudo das estruturas cristalinas,


porém diferente da unidade anterior, em que abordamos as estruturas cristalinas
perfeitas. Agora, abordaremos as imperfeições presentes nos metais.

2 IMPERFEIÇÕES EM METAIS
A verdade é que não existe um material sólido cristalino perfeito, pois
todo o material macroscópico apresentará certa quantidade de defeitos em sua
estrutura, assim como não existe nenhum material totalmente puro, ou seja,
sempre há um grau de impureza química.

Para entendermos melhor as imperfeições nos metais, iremos dividi-las


em quatro grupos distintos: imperfeição química, defeitos pontuais, imperfeições
lineares ou discordâncias e defeitos planares.

2.1 VIBRAÇÕES ATÔMICAS


Ao analisarmos um material sólido do ponto de vista atômico, é possível
perceber que todos os seus átomos estão vibrando em torno de sua posição no
reticulado cristalino. Essas vibrações podem ser consideradas defeitos da rede
cristalina e são consequência da energia vibracional desses átomos, que está
relacionada diretamente com a temperatura, ou seja, quanto maior a temperatura,
maior será a energia média vibracional dos átomos.

Para se ter uma ideia, quando, na temperatura ambiente, a frequência média


de vibração é na ordem de 1013 vibrações por segundo, porém sua amplitude
chega há apenas milésimos de nanômetros. A importância desse movimento
vibracional dos átomos pode ser vista no processo de fusão dos metais, pois nessa
temperatura as vibrações são suficientemente fortes para romper as ligações e
fundir o material (CALLISTER JR.; RETHWISCH, 2016).

75
UNIDADE 2 — LIGAS METÁLICAS E MATERIAIS CRISTALINOS

2.2 IMPERFEIÇÃO QUÍMICA


Como comentamos, não existe material com 100% de pureza, sempre
há certo nível de impureza, mesmo em materiais altamente controlados nesse
quesito. Outro ponto importante de destacar, quando estamos lidando com
materiais metálicos, estamos lidando com uma solução, exatamente isso, materiais
metálicos ou ligas metálicas são soluções no estado sólido. Isso quer dizer que há
inúmeros elementos dissolvidos dentro dessa solução sólida. A Figura 1 apresenta
um exemplo de uma solução sólida.

FIGURA 1 – VISTA DO PLANO DE UMA SOLUÇÃO SÓLIDA SUBSTITUCIONAL DE NÍQUEL EM COBRE

FONTE: Adaptada de Shackelford (2008, p. 81)

Na Figura 1, é possível observar que o cobre (Cu) atua como solvente


e o níquel (Ni) é o soluto, ou seja, há certa concentração de átomos de níquel
dissolvido dentro do cobre. Essa solução sólida é denominada solução sólida
substitucional, pois os átomos de Ni ocupam o lugar dos átomos de cobre nos
sítios atômicos da estrutura CFC.

Essa configuração só irá ocorrer quando os átomos presentes na solução sólida


possuem tamanhos semelhantes, ou seja, possuem raios atômicos próximos. Para
que possa ocorrer uma mistura completa, os átomos envolvidos na mistura precisam
seguir as Regras de Hume-Rothery. Shackelford (2008) destaca as quatro regras:

1. Possuir menos de 15% de diferença entre raios atômicos.


2. Possuir a mesma estrutura cristalina.
3. Possuir eletronegatividades semelhantes (a capacidade de o átomo atrair um
elétron).
4. Possuir a mesma valência.

Para que a mistura seja completa, todas as regras precisam ser obedecidas,
caso contrário, ocorrerá apenas uma solubilidade parcial.

76
TÓPICO 1 — DEFEITOS DOS MATERIAIS METÁLICOS

Agora vamos verificar se o Cu e o Ni se enquadram nas regras de Regras


de Hume-Rothery. Analisando os raios atômicos do cobre e do níquel que são
0,128 nm e 0,125 nm, podemos perceber que são valores semelhantes e estão
dentro dos 15% estipulados. O cálculo fica da seguinte forma:

Ambos possuem estrutura CFC e possuem eletronegatividade de 1,9 para


o Ni e 1,8 para o Cu. Por fim, suas valências são as mesmas, +1.

Como eles satisfazem as quatro regras estabelecidas por Hume-Rothery,


podemos afirmar que esses elementos são capazes de promover uma mistura
completa, pois são completamente solúveis entre si em todas as proporções.

Assim como podemos ter uma solução sólida substicional intencional


de elementos semelhantes entre si, esses elementos podem aparecer como uma
impureza, atuando como átomo de impureza substitucional, conforme Figura 2.

FIGURA 2 – REPRESENTAÇÃO BIDIMENSIONAL DE ÁTOMOS DE IMPUREZA SUBSTITUCIONAL E


INTERSTICIAL

FONTE: Callister Jr. e Rethwisch (2016, p. 99)

Na Figura 2, é possível ver que além do átomo de impureza substitucional,


temos ainda um átomo de impureza menor, denominado átomo de impureza
intersticial. Esse átomo advém de um outro tipo de solução sólida, a solução
sólida intersticial.

Soluções sólidas intersticiais possuem esse nome, pois, nesse caso, os


sítios ocupados são nos interstícios da rede cristalina e são ocupados por átomos
menores que os átomos da rede cristalina. Um exemplo bastante comum é a
solução de Fe-C, cujo C, que é um átomo bem menor que o Fe, ocupa os interstícios
da estrutura do Fe α. Essa solução intersticial pode ser vista na Figura 3.

77
UNIDADE 2 — LIGAS METÁLICAS E MATERIAIS CRISTALINOS

FIGURA 3 – SOLUÇÃO SÓLIDA INTERSTICIAL DO CARBONO NO FERRO α.

FONTE: Shackelford (2008, p. 81)

Como é possível observar, o átomo de C é bem menor e ocupa um pequeno


espaço na estrutura CCC do Fe α. Mesmo que essa solução intersticial de C em Fe
seja mais estável que uma solução substitucional, devido à diferença de tamanho
entre os átomos, essa estrutura intersticial produz uma tensão considerável
na estrutura cristalina, possuindo solubilidade máxima de 0,1% de C em Fe α
(SHACKELFORD, 2008).


2.3 DEFEITOS PONTUAIS
Os defeitos pontuais têm a extensão de um ponto na rede cristalina e
são associadas com vazios, átomos intersticiais e átomos substitucionais. Esses
defeitos existem nos materiais independentemente das impurezas químicas.

Os vazios ou vacâncias são considerados defeitos pontuais e são caracterizados


por falta de átomos em posições normais da rede e exercem um papel importante nos
movimentos atômicos por difusão. As vacâncias podem ocorrer independentemente
de fatores químicos, por exemplo, o movimento dos átomos por efeito da vibração
térmica a uma temperatura maior que o zero absoluto. Desta forma, o número de
vazios (Nl) aumenta com a temperatura, conforme a equação a seguir.

(1)

Em que:
N – Número de posições atômicas.
Ql – Energia de ativação.
k – Constante dos gases.
T – Temperatura.
Para ilustrar a utilização dessa equação, vamos analisar o exemplo a
seguir.

Exemplo 1 (CALLISTER JR.; RETHWISCH, 2016):

A energia necessária para a formação de uma lacuna no cobre (Cu) é de


0,9 eV/átomo. Calcule o número de lacunas por m³ de cobre a 1000 °C. O Cu
possui peso atômico de 63,5 g/mol e massa específica de 8,4 g/cm³.

78
TÓPICO 1 — DEFEITOS DOS MATERIAIS METÁLICOS

Solução:

O primeiro passo é a determinação do número de posições atômicas por


m³ (N), através da massa específica (ρ), do número de Avogadro (NA) e do peso
atômico (A), conforme Equação 2.

(2)

Substituindo os valores para o Cu, temos:

Substituindo o valor de N na equação 1, temos:

2.4 DISCORDÂNCIAS
Também denominadas defeitos lineares, elas possuem a extensão de uma
linha dentro da rede cristalina e podem ser classificadas em discordâncias em
cunha, discordâncias em hélice ou discordâncias mistas, porém, antes de falarmos
dos três tipos de discordâncias, é importante falar do Vetor de Burges.

O vetor de Burges é o responsável por expressar a magnitude e a direção da


distorção da rede cristalina. A deformação permanente da maioria dos materiais
cristalinos ocorre justamente pelo movimento de discordâncias e o vetor de
Burges foi desenvolvido para explicar esse tipo de deformação (CALLISTER JR.;
RETHWISCH, 2016). Agora vejamos as três classificações de discordâncias:

• Discordância em cunha ou aresta: o movimento da linha de discordância é


paralelo ao plano de deslizamento e é caracterizado por um plano extra de
átomos inserido na estrutura cristalina; é perpendicular ao vetor de Burges
(Figura 4). O plano extra é representado pelo símbolo ┴ (SANTOS, 2006).

79
UNIDADE 2 — LIGAS METÁLICAS E MATERIAIS CRISTALINOS

FIGURA 4 – EXEMPLO DE DISCORDÂNCIA DO TIPO ARESTA

FONTE: Adaptada de Callister Jr. e Rethwisch (2016, p. 103)

• Discordância em hélice ou espiral: são caracterizadas por um distúrbio que,


durante o crescimento da estrutura cristalina, provoca a deposição dos átomos
de forma helicoidal em torno de um eixo, como visto na Figura 5. O movimento
da discordância é perpendicular ao da força de cisalhamento e é paralela ao
vetor de Burges (SANTOS, 2006).

FIGURA 5 – EXEMPLO DE DISCORDÂNCIA DO TIPO HÉLICE


FONTE: Adaptada de Callister Jr. e Rethwisch (2016, p. 104)

• Discordâncias mistas: Seria a mistura dos dois tipos de discordâncias citados


anteriormente, esse tipo de discordância pode ser observado na Figura 6.

80
TÓPICO 1 — DEFEITOS DOS MATERIAIS METÁLICOS

FIGURA 6 – EXEMPLO DE DISCORDÂNCIA DO TIPO MISTA

FONTE: Adaptada de Callister Jr. e Rethwisch (2016, p. 105)

2.5 DEFEITOS PLANARES


Os defeitos planares também são denominados defeitos superficiais, por
apresentarem extensão de uma superfície. Compreendem contornos entre os
grãos (materiais policristalinos), maclas e falha de empilhamento. A superfície de
um material é considerada como defeito, pois os átomos desta região têm baixo
número de vizinhos (SANTOS, 2006).

• Contornos de grão: os materiais policristalinos são a maioria das ligas


empregadas comercialmente e são formados por um conjunto de grãos, sendo
delimitados entre si, formando um contorno que pode ser de baixo ou alto
ângulo quando relacionado com os grãos adjacentes.

O tamanho e a quantidade dos grãos afetam diretamente nas propriedades


mecânicas dos materiais, estruturas refinadas, com grãos pequenos apresentam
maiores tenacidades enquanto materiais que possuem grãos maiores tem baixa
resistência mecânica. O contorno de grão, nesses casos, atua como barreiras para o
movimento das discordâncias, portanto, quanto menor o tamanho dos grãos maior
é a quantidade de barreiras e mais resistente será o material. A Figura 7 mostra de
forma esquemática um conjunto de grãos e a formação dos contornos de grãos.

FIGURA 7 – FORMAÇÃO DE GRÃOS PARA UM MATERIAL POLICRISTALINO

81
UNIDADE 2 — LIGAS METÁLICAS E MATERIAIS CRISTALINOS

FONTE: Adaptada de Callister Jr. e Rethwisch (2016, p. 79)

A figura anterior apresenta diagramas esquemáticos das várias etapas na


solidificação de um material policristalino. As grades quadradas representam a rede
cristalina composta de várias células unitárias, já os pequenos núcleos de cristalito
são mostrados na Figura 7-a, o crescimento dos cristalitos é mostrado na Figura 7-b,
bem como a obstrução de alguns grãos adjacentes uns aos outros. Na Figura 7-c,
após a conclusão da solidificação, os grãos com formas irregulares estão formados.
A Figura 7-d demonstra a estrutura do grão como apareceria ao microscópio, em
que as linhas escuras são os limites do grão (CALLISTER JR.; RETHWISCH, 2016).

• Defeito de falha de empilhamento: ocorre quando durante a deposição dos


planos atômicos, na formação da estrutura cristalina, um plano é depositado
fora da posição sequencial normal. Esse defeito pode ocorrer em estruturas
CFC, quando no empilhamento dos planos ABC-ABC-ABC ocorre uma
interrupção ABC-AB-ABC. Esse defeito está ilustrado na Figura 8.

FIGURA 8 – EXEMPLO DE EMPILHAMENTO ENCONTRADO EM METAIS CFC

FONTE: Adaptada de <https://bit.ly/2NeZjFa>. Acesso em: 19 out. 2020.

• Contorno de Maclas: o defeito de maclas é um tipo especial de contorno de


grão, que pode ocorrer após o tratamento térmico de recozimento para metais
CFC ou em graus elevados de deformação para estruturas HC ou CCC. A
Figura 9 apresenta um contorno de macla para um reticulado cúbico simples.

82
TÓPICO 1 — DEFEITOS DOS MATERIAIS METÁLICOS

FIGURA 9 – ARRANJO DOS ÁTOMOS EM TORNO DE UMA MACLA NO RETICULADO CS

FONTE: Padilha (2000, p. 192)

Embora os dois tipos de maclas mencionados sejam cristalograficamente


idênticos na mesma estrutura, as maclas de recozimento, formadas em altas
temperaturas, apresentam contornos retilíneos, enquanto as maclas de deformação,
formadas durante a deformação a frio, apresentam contornos lenticulares (PADILHA,
2000). A Figura 10 ilustra essa diferença.

FIGURA 10 – GRÃOS MACLADOS: (A) E (B) APRESENTAM MACLAS DE RECOZIMENTO TÍPICAS


EM MATERIAIS COM ESTRUTURA CFC;(C) APRESENTA MACLA DE DEFORMAÇÃO EM MATE-
RIAIS COM ESTRUTURA HC

FONTE: Padilha (2000, p. 192)

Dessa forma, a maclação mecânica (maclas de deformação) é uma maneira


alternativa de deformação plástica. Como esse modo de deformação plástica exige
o movimento coordenado de muitos átomos, embora os deslocamentos sejam
pequenos, ele ocorre principalmente em situações em que a deformação plástica por
deslizamento de planos é muito difícil (PADILHA, 2000).

Como mencionado, a maclação mecânica ocorre em metais HC, isso se dá em


virtude do baixo número de sistemas de escorregamentos nesse tipo de estrutura. Para
metais CCC, a maclação mecânica ocorre quando deformados abaixo da temperatura
ambiente ou com altas velocidades de deformação. Em metais e ligas CFC, esse
mecanismo de deformação plástica não tem muita relevância. Em suma, a maclação
mecânica não envolve o fenômeno de difusão, apenas exige o movimento coordenado
de átomos e este movimento ocorre para pequenos deslocamentos (PADILHA, 2000).

83
UNIDADE 2 — LIGAS METÁLICAS E MATERIAIS CRISTALINOS

TUROS
ESTUDOS FU

Estudaremos o fenômeno de difusão mais à frente nesta unidade. Este será o


tema do Tópico 2.

84
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:

• Não existe um material sólido cristalino perfeito, pois todo o material


macroscópico irá apresentar certa quantidade de defeitos em sua estrutura.

• Ligas metálicas são soluções no estado sólido.

• Solução sólida substitucional é quando os átomos do soluto ocupam o lugar


dos átomos de solvente nos sítios atômicos da estrutura cristalina.

• Para ocorrer uma mistura completa, os átomos envolvidos na mistura


precisam seguir as Regras de Hume-Rothery.

• Em soluções sólidas intersticiais, os sítios ocupados estão nos interstícios da


rede cristalina e são ocupados por átomos menores que os átomos da rede
cristalina.

• Defeitos pontuais têm a extensão de um ponto na rede cristalina e são


associadas com vazios, átomos intersticiais e átomos substitucionais.

• Defeitos pontuais existem nos materiais independentemente das impurezas


químicas.

• O número de vazios no material aumenta exponencialmente com a


temperatura.

• Discordâncias possuem a extensão de uma linha dentro da rede cristalina e


podem ser classificadas em discordâncias em cunha, discordâncias em hélice
ou discordâncias mistas.

• Defeitos planares compreendem contornos entre os grãos (materiais policristalinos),


maclas e falha de empilhamento.

85
AUTOATIVIDADE

1 Neste tópico, nós estudamos os diversos tipos de defeitos que ocorrem em


materiais cristalinos. De acordo com os defeitos cristalinos, classifique V
para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:

( ) As soluções sólidas intersticiais ocasionam uma distorção no reticulado


do cristal.
( ) É no contorno de grão que ocorre a transição entre cristais com diferentes
orientações cristalinas.
( ) Discordâncias são defeitos lineares responsáveis pela deformação
permanente em materiais cristalinos.
( ) Materiais que apresentam impureza química são materiais apresentam
solução sólida intersticial.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) F – V – V – F.
b) ( ) V – F – F – V.
c) ( ) V – V – V – F.
d) ( ) F – V – V – V.

2 O que é vacância? É possível obter um material macroscópico sem vacâncias


a temperatura ambiente? Por quê?

3 Quando estamos lidando com materiais metálicos, estamos lidando com


uma solução. Neste sentido, explique o que é solução sólida? Quais os tipos
de solução sólida?

4 Os defeitos pontuais têm a extensão de um ponto na rede cristalina. Neste


sentido, explique o que é defeito intersticial? O que ele causa?

5 Com relação aos defeitos pontuais, diga o que faz uma solução sólida ser
completa ou parcial? Cite um exemplo de solução sólida completa.

6 Calcule o número de vacâncias em equilíbrio por centímetro cúbico e o


número de vacâncias por átomo de Fe a 25 °C e a 1084 °C (Ql = 83,6 kJ/mol;
a₀ = 2,87x10⁻⁸ cm)?

7 O ferro possui uma densidade medida de 7,87 Mg/m³. Sabendo que o


parâmetro de rede do Fe CCC é 2,866 A. Calcule a porcentagem de vacâncias
no ferro puro e assinale a resposta correta (Dados: AFe = 55,85g/mol).

a) ( ) % Vacâncias = 0,1%.
b) ( ) % Vacâncias = 0,01%.
c) ( ) % Vacâncias = 1%.
d) ( ) % Vacâncias = 10%.
86
8 Os defeitos em um material sólido podem ser classificados das mais
variadas formas. Neste sentido, o que são defeitos lineares e quais são
eles?

9 Podemos classificar os defeitos em um sólido cristalino de vários jeitos,


dentre eles temos os defeitos planares. Neste contexto, explique o que é
contorno de grão e como são formados?

10 Dentre os conceitos estudados até aqui, falamos do conceito de anisotropia.


Neste sentido, por que os materiais anisotrópicos podem ser considerados
isotrópicos?

87
88
TÓPICO 2 —
UNIDADE 2

PRINCÍPIOS DE DIFUSÃO

1 INTRODUÇÃO
No tópico anterior, nós falamos dos defeitos que ocorrem em materiais
cristalinos. Muitos desses defeitos estão relacionados ao movimento dos átomos dentro
da estrutura cristalina nos materiais, como é o caso das vacâncias, que apresentam
um aumento exponencial quanto maior for a temperatura em escala absoluta.

Neste tópico, falaremos desse movimento atômico, que ocorre no reticulado


cristalino. O fenômeno é conhecido como difusão no estado sólido. Veremos
que esse processo de difusão está relacionado ao número de defeitos presentes, à
temperatura e até mesmo à composição química do meio em que o material está
exposto.

Por que estudar difusão? Callister Jr. e Rethwisch (2016) trazem a seguinte
resposta: os processos que envolvem difusão são normalmente conduzidos a
altas temperaturas e muitas vezes queremos introduzir átomos de impureza em
determinados materiais para obter as propriedades desejadas, como é o caso dos
semicondutores de silício. Um processo semelhante é o tratamento térmico dos
aços, que busca o aprimoramento de suas propriedades mecânicas, envolvendo
o fenômeno de difusão. Assim é necessário o conhecimento das relações dos
parâmetros de difusão, que envolvem o tempo e a temperatura.

Desse modo, você pode observar a importância da difusão em metais e


ligas metálicas, pois ela é a responsável por promover as reações que ocorrem no
estado sólido.

2 MECANISMOS DE DIFUSÃO
A difusão, de um ponto de vista atômico, consiste basicamente do
movimento dos átomos de uma posição para outra. É comum dizer que a difusão
é o mecanismo onde a matéria é transportada através da matéria. Esse movimento
é constante, porém para que ele ocorra, Callister Jr. e Rethwisch (2016) definem
duas condições básicas:

(i) É preciso que haja um sítio atômico adjacente vazio; e


(ii) O átomo precisa ter energia suficiente para quebrar suas ligações atômicas e
se movimentar na rede cristalina, causando deformação no reticulado.

89
UNIDADE 2 — LIGAS METÁLICAS E MATERIAIS CRISTALINOS

Essa energia mencionada é natureza vibracional e, conforme vimos no


tópico anterior, é função da temperatura, que é responsável por executar esse
movimento atômico. Os átomos em um cristal só estão estáticos, ou seja, não
possuem energia vibracional quando estão na temperatura zero da escala absoluta.
Para qualquer temperatura diferente de zero, a vibrações térmicas irão permitir
movimento atômico.

Um mecanismo de difusão que pode ocorrer é troca de lugar com átomo


vizinho. Análogo a isso há também a possibilidade do mecanismo do anel. Esses
dois mecanismos podem ser observados na Figura 11.

FIGURA 11 – DIFUSÃO COM ÁTOMO VIZINHO E DIFUSÃO ATRAVÉS DO MECANISMO DO ANEL

FONTE: Padilha (2000, p. 123)

Os dois mecanismos apresentado anteriormente exigem um movimento


simultâneo dos átomos vizinhos. A seguir, veremos dois modelos propostos para
a difusão nos materiais metálicos que independem desse movimento simultâneo.

2.1 DIFUSÃO POR LACUNAS


A difusão por lacunas, lustrada na Figura 12, ocorre quando existe uma
lacuna adjacente na rede cristalina ao átomo envolvido no processo de difusão. Esse
processo se intensifica em altas temperaturas, pois como vimos no tópico anterior,
o número de lacunas aumento exponencialmente quanto maior for a temperatura.

90
TÓPICO 2 — PRINCÍPIOS DE DIFUSÃO

FIGURA 12 – DIFUSÃO DE UM ÁTOMO QUE OCUPA UMA POSIÇÃO NORMAL NA REDE CRISTALINA

FONTE: Adaptada de Callister Jr. e Rethwisch (2016, p. 130)

Para um átomo que esteja adjacente à lacuna se mover, é necessária uma


energia de ativação suficiente para romper sua ligação e mover-se em direção à
lacuna, distorcendo a rede cristalina.

O movimento atômico pode ser tanto de um átomo substicional, ou seja,


uma impureza da rede cristalina, quanto de um átomo chamado hospedeiro.
Quando ocorre o movimento de um átomo de impureza, é chamado de interdifusão,
e quando ocorre a migração do átomo hospedeiro, é chamado de autodifusão.

Desse modo, a energia de ativação total para a autodifusão de um metal


puro será igual à soma da energia de ativação para mover a lacuna com a energia
de formação de uma lacuna.

2.2 DIFUSÃO INTERSTICIAL


Na difusão intersticial, em contraponto com o que acontece na difusão
substitucional, ocorre o movimento atômico de um átomo localizado nos
interstícios da rede cristalina. Como é de se esperar, esse movimento ocorre por
interdifusão para átomos de menor diâmetro, como hidrogênio e o carbono, que
costumam ocupar estes sítios. A Figura 13 ilustra esse movimento atômico.

FIGURA 13 – MOVIMENTO DE UM ÁTOMO INTERSTICIAL

FONTE: Adaptada de Callister Jr. e Rethwisch (2016, p. 130)

91
UNIDADE 2 — LIGAS METÁLICAS E MATERIAIS CRISTALINOS

É valido comentar que esse movimento intersticial, para a maioria das


ligas metálicas, ocorre mais rapidamente que a difusão por lacunas. Isso se dá,
pois, normalmente, há mais posições intersticiais vazias, bem como os átomos
envolvidos nesse processo podem ser considerados mais móveis (CALLISTER JR.;
RETHWISCH, 2016).

3 EQUAÇÕES DE DIFUSÃO
O médico alemão Adolf Eugen Fick, em 1855, tratou de modo matemático
o fenômeno de difusão e propôs o que ficariam conhecidas como as duas leis de
Fick (PADILHA, 2000).

O fluxo (J) de matéria difundido, por unidade área e por unidade de


tempo, pode ocorrer para um estado que chamamos de regime estacionário, ou
seja, onde o gradiente de concentração na placa não se altera em função do tempo.
Dessa forma podemos escrever a seguinte equação para o fluxo:

(3)

Em que:
J – fluxo, em kg/m²s;
M – é a massa, em kg;
A – é a área, em m²;
t – é o tempo, dado em segundos (s).

A Equação 3 também pode ser escrita na sua forma diferencial, da seguinte


forma:

(4)

Padilha (2000) demonstra um exemplo onde ocorre a difusão de um gás


atravessando uma placa metálica, de modo estacionário. Na Figura 14, podemos
ver gás hidrogênio atravessando uma placa metálica de paládio, que tem estrutura
CFC. Como citamos anteriormente, o H é um átomo muito pequeno (raio atômico
de 0,46 Å) e se difunde com certa facilidade através da estrutura CFC do paládio,
atravessando a placa. Esse mecanismo é utilizado de forma a purificar o gás
hidrogênio, fazendo com que moléculas maiores fiquem retidas e não consigam
atravessar a placa de paládio.

92
TÓPICO 2 — PRINCÍPIOS DE DIFUSÃO

FIGURA 14 – A) DIFUSÃO EM ESTADO ESTACIONÁRIO ATRAVÉS DE UMA PLACA. B) PERFIL


LINEAR DE CONCENTRAÇÃO NA PLACA

FONTE: Adaptada de Callister Jr. e Rethwisch (2016, p. 131)

Em sua primeira lei (Equação 5), Flick define o fluxo Jx através de uma
placa como:
(5)

Em que:
D – é a constante de proporcionalidade, denominada coeficiente de
difusão, dada em m²/s;
– é o gradiente de concentração.

A equação do gradiente de concentração, para este caso é dada por:

(6)

Em muitos casos, ocorre a variação da concentração em função do tempo.


Para esses casos, cujas condições estacionárias não são respeitadas, temos o que
chamamos de estado transitório ou então regime não estacionário. Para esse
regime, temos a seguinte equação para o gradiente de concentração:

(7)

Ao considerarmos o coeficiente de difusão D, independente da composição,


podemos reescrever a Equação 7 para obter a segunda lei Fick, conforme a Equação 8:

(8)

Na Figura 15, nós podemos ver diferentes perfis de concentração para


condições não estacionárias.

93
UNIDADE 2 — LIGAS METÁLICAS E MATERIAIS CRISTALINOS

FIGURA 15 – DIFERENTES PERFIS DE CONCENTRAÇÃO PARA CONDIÇÕES NÃO ESTACIONÁRIAS,


DE ACORDO COM A SEGUNDA LEI DE FICK

FONTE: Adaptada de Shackelford (2015, p. 135)

Para obtermos soluções para a equação diferencial da segunda lei de Fick,


discutiremos o caso de difusão em um sólido semi-infinito, cuja concentração da
superfície é mantida constante, de acordo com as seguintes hipóteses (CALLISTER
JR.; RETHWISCH, 2016):

1. Todos os átomos do soluto, antes do início da difusão, estão distribuídos de


maneira uniforme no sólido, com concentração C₀.
2. Na superfície do sólido, o valor da posição x é zero, e aumenta conforme a
distância no interior do sólido.
3. O tempo zero é aquele imediatamente anterior ao início da difusão.

Seguindo essas condições, podemos escrever a Equação 9:

(9)

Em que:
Cx – é a concentração na profundidade x após o tempo t.
C₀ – é a concentração em x = ∞.
Cs – é a concentração constante na superfície do sólido.
– é a função erro de Gauss.

A função erro de Gauss é definida como:

(10)

Em que é a variável z.

94
TÓPICO 2 — PRINCÍPIOS DE DIFUSÃO

A partir do momento que conhecemos C0 e Cs, o coeficiente de difusão D


(que é uma função da temperatura) Cx será uma função de . Como exemplo,
para dobrar a espessura da camada cementada, o tempo necessário será 4 vezes
maior (PADILHA, 2000).

TUROS
ESTUDOS FU

Fique esperto, mais à frente, neste tópico, estudaremos os fatores que


influenciam coeficiente de difusão D!

Não se preocupe, os valores da função de erro de Gauss são tabelados,


conforme Tabela 1.

TABELA 1 – VALORES PARA FUNÇÃO ERRO DE GAUSS

z erf(z) z erf(z) z erf(z)


0 0 0,55 0,5633 1.3 0,9340
0,025 0,0282 0,60 0,6039 1.4 0,9523
0,05 0,0564 0,65 0,6420 1.5 0,96611
0,10 0,1125 0,70 0,6778 1.6 0,9763
0,15 0,1680 0,75 0,7112 1,7 0,9838
0,20 0,2227 0,80 0,7421 1,8 0,9891
0,25 0,2763 0,85 0,7707 1,9 0,9928
0,30 0,3286 0,90 0,7969 2,0 0,9953
0,35 0,3794 0,95 0,8209 2,2 0,9981
0,40 0,4284 1,0 0,8427 2,4 0,9993
0,45 0,4755 1,1 0,8802 2,6 0,9998
0,50 0,5205 1,2 0,9103 2,8 0,9999
FONTE: Callister Jr. e Rethwisch (2016, p. 133)

Com base na segunda lei para sólidos semi-infinitos (Equação 9), alguns
cálculos de difusão são facilitados. Essa relação pode ser observada na Figura 16.

95
UNIDADE 2 — LIGAS METÁLICAS E MATERIAIS CRISTALINOS

FIGURA 16 – PERFIL DE CONCENTRAÇÕES COM BASE NA EQUAÇÃO 9

FONTE: Callister Jr. e Rethwisch (2016, p. 133)

Façamos dois exemplos para ilustrar a aplicação da primeira e segunda


lei, respectivamente.

Exemplo 2 (CALLISTER JR. E RETHWISCH, 2016):

Uma placa de ferro está exposta a 700 °C a uma atmosfera carbonetante (rica
em carbono) em um de seus lados e a uma atmosfera descarbonetante (deficiente
em carbono) no outro lado. Se uma condição de regime estacionário é atingida,
calcule o fluxo de difusão do carbono através da placa, dado que as concentrações
de carbono nas posições a 5 e a 10 mm abaixo da superfície carbonetante são 1,2
e 0,8 kg/m³, respectivamente. Considere um coeficiente de difusão de 3.10⁻¹¹ m²/s
nessa temperatura.

Solução:

Aplicando a primeira lei para determinar o fluxo difusional, temos:

Exemplo 3 (CALLISTER JR. E RETHWISCH, 2016):

Para algumas aplicações, torna-se necessário endurecer a superfície


do aço a níveis superiores aos que existem em seu interior. Uma das maneiras
de se conseguir isso é através de um aumento na concentração de carbono na
superfície do material, através do processo denominado carbonetação. A peça
de aço é exposta, sob uma temperatura elevada, a uma atmosfera rica em um
hidrocarboneto gasoso, tal como o metano (CH₄).
96
TÓPICO 2 — PRINCÍPIOS DE DIFUSÃO

Considere uma dessas ligas contendo uma concentração inicial uniforme


de carbono de 0,25%p e que deve ser tratada a 950 °C. Se a concentração de
carbono na superfície for repentinamente elevada e mantida em 1,20%p, quanto
tempo será necessário para atingir um teor de carbono de 0,80%p em uma posição
localizada a 0,5 mm abaixo da superfície? O coeficiente de difusão para o carbono
no ferro sob essa temperatura é de 1,6x10⁻¹¹ m²/s; considere a peça de aço como
semi-infinita.

Solução:

Retirando os dados do problema, temos:


C₀ = 0,25%p C;
Cs = 1,20%p C;
Cx = 0,80%p C;
x = 5 x 10-4 m; e
D = 1,6 x 10-11 m²/s.

Aplicando a Equação 9:

Para determinarmos o valor de z, recorremos à Tabela 1.

z erf(z)
0,35 0,3794
z (?) 0,4210
0,40 0,4284

Perceba que será necessário fazer uma interpolação, pois o valor de z é


intermediário entre 0,35 e 0,40. Dessa forma:

Logo,
z = 0,392

Como , temos:

97
UNIDADE 2 — LIGAS METÁLICAS E MATERIAIS CRISTALINOS

Solucionando t:

4 FATORES QUE INFLUENCIAM A DIFUSÃO


Sabemos que alguns fatores influenciam o coeficiente de difusão D, a
seguir apresentaremos a dependência de D ao material envolvido no processo de
difusão e à temperatura.

4.1 ESPÉCIE EM DIFUSÃO


A magnitude de D apresenta taxa de difusão dos átomos, dessa forma,
a espécie em difusão e o material hospedeiro irão influenciar este coeficiente de
difusão. A Tabela 2 apresenta os dados de difusão para alguns materiais.

TABELA 2 – DADOS DE DIFUSÃO


Espécie Energia de ativação Qd Valores Calculados
Metal
em D0 (m²/s)
Hospedeiro kJ/mol eV/atom T (°C) D (m²/s)
difusão
500 3,0 x 10⁻²¹
Fe Fe-α (CCC) 2,8 x 10⁻⁴ 251 2,60
900 1,8 x 10⁻¹⁵
900 1,1 x 10⁻¹⁷
Fe Fe-γ (CFC) 5,0 x 10⁻⁵ 284 2,94
1100 7,8 x 10⁻¹⁶
500 2,4 x 10⁻¹²
C Fe-α 6,2 x 10⁻⁷ 80 0,83
900 1,7 x 10⁻¹⁰
900 5,9 x 10⁻¹²
C Fe-γ 2,3 x 10⁻⁵ 148 1,53
1100 5,3 x 10⁻¹¹
Cu Cu 7,8 x 10⁻⁵ 211 2,19 500 4,2 x 10⁻¹⁹
Zn Cu 2,4 x 10⁻⁵ 189 1,96 500 4,0 x 10⁻¹⁸
Al Al 2,3 x 10⁻⁴ 144 1,49 500 4,2 x 10⁻¹⁴
Cu Al 6,5 x 10⁻⁵ 136 1,41 500 4,1 x 10⁻¹⁴
Mg Al 1,2 x 10⁻⁴ 131 1,35 500 1,9 x 10⁻¹³
Cu Ni 2,7 x 10⁻⁵ 256 2,65 500 1,3 x 10⁻²²
FONTE: Callister Jr. e Rethwisch (2016, p. 136)

98
TÓPICO 2 — PRINCÍPIOS DE DIFUSÃO

Exemplificando alguns dados encontrados na Tabela 2, ao analisarmos


os valores calculados de D na autodifusão do Fe-α em relação à interdifusão de
carbono no próprio Fe-α, há uma mesma temperatura de 500 °C, vemos uma
nítida diferença, de 2,4 x 10⁻¹² para a interdifusão de carbono contra 3,0 x 10⁻²¹ para
interdifusão de Fe na estrutura CCC. Essa afirmação corrobora com o comentado
anteriormente, quando discutimos que mecanismo de difusão por lacunas é
mais lento que a difusão intersticial, nesse caso, a autodifusão de Fe se dá através
de lacunas enquanto a interdifusão de carbono ocorre por difusão intersticial
(CALLISTER JR.; RETHWISCH, 2016).

4.2 TEMPERATURA
A essa altura já foi possível perceber que o coeficiente de difusão D sofre
temperatura uma significativa influência da temperatura. Essa influência, assim
como no surgimento de vacâncias se dá e uma ordem exponencial dada pela
Equação 11:

(11)

Em que:
D₀ – Constante pré-exponencial que independe da temperatura, dado em
m²/s;
Qd – Energia de ativação para difusão, dada em J/mol ou eV/átomo;
R – Constante dos gases, dada em 8,314 J/mol.K ou 8,62 .10⁻⁵ eV/átomo.K
ou 1,38 .10⁻²³ J/átomo.K.
T – Temperatura, em K.

Callister Jr. e Rethwisch (2016) citam o exemplo da autodifusão do Fe-α,


em que, ao elevar a temperatura em de 500 °C para 900 °C, ocorre um aumento
significativo no coeficiente de difusão D, na ordem de 6 grandezas (de 3,0 x 10⁻²¹
para 1,8 x 10⁻¹⁵ m²/s). Esses valores podem ser observados na Tabela 2, listada
anteriormente.

99
UNIDADE 2 — LIGAS METÁLICAS E MATERIAIS CRISTALINOS

LEITURA COMPLEMENTAR

Olá estudante! Você já ouviu falar no processo de Soldagem por Difusão?


Isso mesmo, um processo de união de materiais que irá utilizar o fenômeno de
difusão! A seguir, deixamos a matéria do site Infosolda para que você fique por
dentro deste assunto que envolve o fenômeno estudado neste tópico.

SOLDAGEM POR DIFUSÃO

Características do processo

A soldagem por difusão é um processo que liga materiais por meio de


aplicação simultânea de pressão e calor. Quando ocorre deformação plástica
por ação de calor, as camadas de átomos que compõem a estrutura cristalina do
metal vibram e se movimentam em várias direções, ocupando lugares diferentes
nos planos cristalinos; a essa movimentação dá-se o nome de difusão. Uma
temperatura definida é aplicada na região de soldagem ou em toda a peça, durante
certo tempo, resultando em uma deformação plástica localizada. O contato entre
as superfícies provoca difusão dos átomos, que se movimentam pelo interior das
superfícies, promovendo a ligação perfeita das partes.

A operação pode ser feita no vácuo, sob proteção de gás ou fluido e, de


preferência, sem material de adição. O processo por difusão é utilizado para
unir materiais com composição química semelhante ou materiais dissimilares,
predominantemente os metálicos, e foi desenvolvido originalmente para ser
aplicado na construção de peças para a indústria aeronáutica e espacial; hoje em
dia, outras áreas já fazem uso desta tecnologia.

Aplicação

A soldagem por difusão é aplicada preferencialmente nas situações em


que a união por processos de soldagem convencionais, notadamente os processos
por fusão a arco elétrico, não é possível. Como exemplos, podem-se destacar a
soldagem de secções transversais com revestimentos anticorrosivos e a união de
materiais diferentes e metalurgicamente incompatíveis, como o aço e o alumínio.
A soldagem por difusão confere alta qualidade à junta, podendo alcançar valores
de resistência mecânica semelhantes aos do material de base.

Vantagens

As vantagens do processo de soldagem por difusão são várias; o processo


não modifica o estado do material; permite montagens de grandes superfícies e
montagens complexas, próximas ao estágio final; apresenta menores deformações,
quando comparado à soldagem por fusão; trabalha com juntas múltiplas em uma
só operação e permite união de metais e materiais considerados não soldáveis
100
TÓPICO 2 — PRINCÍPIOS DE DIFUSÃO

ou de difícil soldabilidade por fusão, como cerâmicas e ligas refratárias, além


da união de metais dissimilares sob o aspecto metalúrgico, a exemplo dos aços
austeníticos com liga de alumínio.

A grande maioria dos metais pode ser soldada por difusão; um quadro
permite visualizar as combinações mais comuns entre metais. Algumas dessas
combinações não foram examinadas ou ainda não existem resultados de testes
realizados.

FONTE: <https://infosolda.com.br/wp-content/uploads/imagens-artigos/Processos/difusao/difu-
sao0.jpg>. Acesso em: 9 fev. 2021.

Desvantagens

As desvantagens da soldagem por difusão são o custo do investimento


inicial e o fato de que o processo não é aplicável na produção em grande escala.

A união entre os materiais segue uma sequência que inicia com a colocação
das peças em contato.

Na primeira etapa (1), pode-se verificar a rugosidade superficial, pois


alguns pontos não se tocam. Na segunda etapa (2), a superfície recebe aplicação
de pressão e aumento de temperatura, o que provoca aumento da área de contato
e deformações plásticas. Na terceira etapa (3), a temperatura e a pressão, que
podem estar aliadas a uma atmosfera protetora, permanecem por um certo
tempo, favorecendo a difusão atômica entre as superfícies. No estágio final (4),
são eliminadas praticamente todas as descontinuidades encontradas no processo
inicial e a soldagem é completada.

101
UNIDADE 2 — LIGAS METÁLICAS E MATERIAIS CRISTALINOS

FONTE: <https://infosolda.com.br/wp-content/uploads/imagens-artigos/Processos/difusao/difu-
sao.jpg>. Acesso em: 9 fev. 2021.

Parâmetros de soldagem

Os parâmetros de soldagem que devem ser considerados são a temperatura,


a pressão, o tempo de soldagem ou contato entre as peças, a deformação das
superfícies de contato, a qualidade superficial (rugosidade superficial e condições
de limpeza) e a atmosfera protetora.

Temperatura

O processo de geração do calor é feito por energia elétrica que pode ser
na forma de indução, resistência ou alta frequência. As temperaturas de processo
ficam abaixo da linha “solidus” ou acima da temperatura de recristalização da
liga, em média 0,7 Ts (em Kelvin).

A temperatura promove um rompimento das camadas de óxido, causando


interferência na estrutura cristalina do material e contribuindo para uma
orientação favorável dos íons necessários para a difusão. As temperaturas podem
atingir 1000 °C ou mais, favorecendo a ligação entre inoxidáveis ou refratários.
No entanto, uma temperatura de processo alta demais leva ao aumento do grão
e, por conseguinte, à queda das propriedades mecânicas.

Pressão

A pressão de soldagem, que pode ser aplicada por processo hidráulico,


pneumático ou mecânico, fica pouco abaixo do limite de escoamento na
temperatura de soldagem. Em conjunto com o calor, serve para provocar uma
deformação plástica nas superfícies rugosas, que faz aumentar o contato das
superfícies e possibilita a união dos materiais.

102
TÓPICO 2 — PRINCÍPIOS DE DIFUSÃO

Tempo de soldagem

O tempo de soldagem pode variar de 10 minutos até várias horas. Existe


uma relação inversa entre tempo e temperatura: quando a temperatura de
soldagem aumenta, o tempo de soldagem diminui, e vice-versa.

Estado das superfícies

As exigências quanto ao estado de superfície na união, no que diz respeito


à qualidade da superfície (Rj = 1 até 6|im), são desvantagens do processo.

Limpeza das superfícies

A limpeza das superfícies de união, após uma usinagem fina, é feita por
decapagem química. Gorduras e óleos são removidos com álcool, acetona ou
tricloretileno, com ação de ultrassom.

Atmosfera de proteção

Para a soldagem de materiais metálicos, pode-se usar vácuo como


atmosfera de proteção, a qual deve ser mantida durante o processo de união, de
baixa a média, entre 103 e 10″6 Torr. Além do vácuo, pode se trabalhar também
com gás de proteção, seja argônio ou hélio, ou banho de sal (BaCI2).

Equipamento

Vários equipamentos podem ser utilizados para a soldagem por difusão,


dependendo da aplicação específica da soldagem. A exigência maior é que exista
um controle rigoroso da temperatura e da pressão aplicadas. Existem quatro
tipos de equipamento: o de pressão isostática elevada, as prensas, o equipamento
de soldagem por resistência e equipamentos especializados.

O equipamento de pressão isostática elevada apresenta uma autoclave,


isto é, um aparelho que funciona por meio de pressão e temperatura; na verdade,
o equipamento proporciona uma prensagem a quente, utilizando um gás inerte
como fluido.

A autoclave permite a aplicação de pressões acima de 150.000 psi e


temperaturas superiores a 1649 °C. O aparelho tem um sistema interno de
refrigeração para manter baixa a temperatura da parede e um isolamento de
alumina ou sílica para reduzir as perdas de calor. Para controlar a temperatura,
existem termopares colocados ao longo do forno; para pressurizar o gás usa-se
um compressor. Esse tipo de equipamento permite fazer uniões entre peças de
geometrias complexas e é capaz de soldar, ao mesmo tempo, grandes quantidades
de peças relativamente pequenas. No entanto, as desvantagens são os custos e as
dimensões do equipamento.

103
UNIDADE 2 — LIGAS METÁLICAS E MATERIAIS CRISTALINOS

FONTE: < https://infosolda.com.br/wp-content/uploads/imagens-artigos/Processos/difusao/


difusao1.jpg>. Acesso em: 9 fev. 2021.

Prensas

O método mais comum para soldar por difusão é o que utiliza prensas
hidráulicas ou mecânicas. As prensas utilizadas na soldagem por difusão não são
normalizadas devido à grande variedade de tais máquinas. Como atmosfera protetora,
alguns tipos de prensa utilizam vácuo ou gás inerte; para o aquecimento, podem-
se encontrar prensas que trabalham com filamentos entrelaçados de tungstênio, ou
também indução e auto resistência. Embora seja o método mais comum, o emprego
de prensas na soldagem de peças de grandes dimensões é limitado.

De modo geral, os equipamentos utilizados na soldagem por resistência


podem ser empregados na soldagem por difusão sem que seja preciso modificá-los.
Assim como na soldagem por resistência, os eletrodos devem conduzir eletricidade
e apresentar elevada resistência às temperaturas de união. É possível fazer uma
modificação no processo, que consiste em introduzir um dispositivo de controle
da atmosfera de gás inerte ou de vácuo. Esse equipamento proporciona grande
velocidade de execução das juntas. No entanto, somente podem ser soldadas
pequenas áreas, pois a preparação de grandes áreas demanda tempo e muitas
operações.

FONTE: Soldagem por difusão. Infosolda, Osasco, 22 fev. 2013. Disponível em: https://infosolda.
com.br/biblioteca-digital/livros-senai/processos/196-soldagem-por-difusao. Acesso em: 6 nov. 2020.

104
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:

• A difusão de um ponto de vista atômico, consiste basicamente do movimento


dos átomos de uma posição para outra.

• Átomos em um cristal só estão estáticos quando estão na temperatura zero da


escala absoluta.

• A difusão por lacunas ocorre somente quando existe uma lacuna adjacente na
rede cristalina ao átomo.

• Na difusão intersticial ocorre o movimento atômico de um átomo localizado


nos interstícios da rede cristalina.

• Podemos tratar de modo matemático o fenômeno de difusão através das leis


de Fick.

• Regime estacionário é quando o gradiente de concentração na placa não se


altera em função do tempo.

• Em muitos casos, ocorre a variação da concentração em função do tempo, em


que as condições estacionárias não são respeitadas, temos o que chamamos de
estado transitório, ou então regime não estacionário.

• Inúmeros fatores influenciam o coeficiente de difusão D, principalmente a


temperatura e a espécie em difusão.

105
AUTOATIVIDADE

1 O estudo do fenômeno de difusão no estado sólido que ocorre nos materiais


é de fundamental interesse nos mais diversos ramos da engenharia. Sobre o
fenômeno de difusão, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Costuma-se dizer que a difusão ocorre esporadicamente, sendo


denominada como o mecanismo onde a matéria é transportada através
da matéria, através de um movimento constante.
b) ( ) Atomicamente falando, a difusão consiste basicamente do movimento
dos átomos de um sítio para outro.
c) ( ) Acima de uma temperatura considerada crítica, a difusão deixa de
ocorrer para os materiais.
d) ( ) A difusão é um movimento que ocorre de maneira constante dentro
dos materiais, esse movimento cessa em temperaturas abaixo de 0 °C.

2 Como funciona a difusão por vacância? Quais tipos existem?

3 Como ocorre a difusão intersticial? Cite exemplos.

4 Comente sobre alguns fatores que favorecem a difusão.

5 O coeficiente de difusão D sofre uma significativa influência com alteração


da temperatura. Essa influência, assim como no surgimento de vacâncias se
dá em uma ordem exponencial. Calcule o coeficiente de difusão para o Mg
no Al a 550 °C, e assinale a alternativa CORRETA: (Dados: D₀ = 1,2 x 10⁻⁴
m²/s; Qd = 131 kJ/mol).

a) ( ) 5,8x10⁻¹³m²/s.
b) ( ) 8,4x10⁻¹²m²/s.
c) ( ) 3,6x10⁻¹³m²/s.
d) ( ) 1,1x10⁻¹³m²/s.

6 Calcule o número de quilogramas de hidrogênio que passa a cada hora


através de uma lâmina de paládio com 6 mm de espessura, que possui uma
área de 0,25 m² e está a 600 °C. Considere um coeficiente de difusão de
1,7x10⁻⁸ m²/s, concentrações de hidrogênio à alta e à baixa pressão de 2,0
e 0,4 kg de hidrogênio por metro cúbico de paládio e que as condições de
regime estacionário foram atingidas.

7 Determine o tempo de carbonetação necessário para atingir uma


concentração de carbono de 0,30%p em uma posição a 4 mm da superfície
de uma liga ferro-carbono contendo inicialmente 0,10%p C. A concentração
na superfície deve ser mantida em 0,90%p C e o tratamento conduzido a
1100 ºC. Utilize os dados de difusão para o Fe-γ da Tabela 2.

106
TÓPICO 3 —
UNIDADE 2

DIAGRAMAS DE EQUILÍBRIO

1 INTRODUÇÃO
Até agora falamos sobre os defeitos presentes em materiais cristalinos e
também sobre as características do processo de transporte da matéria no estado
sólido. Os fenômenos envolvidos nesses processos possibilitam o surgimento de
diversas fases no material.

O entendimento dessas fases que estarão presentes poderá nos predizer


diversas propriedades que estarão presentes naquele material, afinal existe uma
forte ligação entre as propriedades mecânicas dos materiais e a microestrutura
presente.

Afinal, o que são fases? Quais são sua importância? De que forma prever
e entender as fases presentes nos materiais? Essas e outras perguntas serão
respondidas ao longo deste tópico!

2 FASES
Callister Jr. e Rethwisch (2016) definem o conceito de fase como sendo
“uma porção homogênea de um sistema que possui as características físicas e
químicas uniformes”. Nesse conceito, podemos interpretar a palavra sistema
como um material puro ou uma mistura de dois ou mais elementos (solução).
Esse conceito nos diz que a fase é a menor porção desse sistema que apresenta
todas as propriedades, tais como ponto fusão, resistência mecânica, dureza etc.

No Tópico 1, vimos o conceito de solução sólida, esse conceito será muito


importante para estudarmos o comportamento das fases presentes nos materiais
cristalinos neste tópico. Para entendermos melhor o que é uma fase, observe o
diagrama (Figura 17) a seguir:

107
UNIDADE 2 — LIGAS METÁLICAS E MATERIAIS CRISTALINOS

FIGURA 17 – SISTEMA BINÁRIO DE AÇÚCAR + ÁGUA

FONTE: Callister Jr. e Rethwisch (2016, p. 275)

Ao analisarmos o sistema binário, composto de água e açúcar, podemos


retirar algumas informações importantes para o nosso estudo, repare que na parte
debaixo do diagrama está a composição do açúcar crescente da esquerda para a
direita, na extrema esquerda do diagrama temos 0%p de açúcar e na extrema
direita temos 100%p de açúcar na composição. O contrário pode ser analisado
para água, que é decrescente da esquerda para a direita, isso quer dizer que na
extrema esquerda temos 100%p de água e na estrema direita temos 0%p de água.

Não apenas isso podemos tirar da figura anterior, vemos que no interior
do diagrama está escrito “Solução líquida (xarope)”, pois bem, essa é uma solução
líquida que apresenta mistura de açúcar + água.

Agora, vamos pegar um ponto arbitrário, 40%p de açúcar e 60%p de água


a 20 °C. Percebemos que nesse ponto temos solução líquida “xarope”, esse xarope
é uma fase, composta de açúcar (40%p) + água (60%p).

Percebemos ainda que essa solução existe para qualquer ponto do


diagrama atrás da linha vermelha, que representa o limite de solubilidade. Após
essa linha, passamos a ter um sistema composto por duas fases, ainda temos a fase
líquida xarope, porém, agora surge uma segunda fase, uma fase sólida composta
apenas de açúcar. Dizemos então que para qualquer composição à direita do
limite de solubilidade, teremos duas fases presentes, uma líquida (xarope) e outra
sólida (açúcar). O estudo desses sistemas se dá nas condições de equilíbrio, cujo
equilibro entre as fases depende de uma série de condições ao longo do tempo. O
equilíbrio é descrito em termos da energia livre, uma grandeza termodinâmica,
que é função da energia interna e da entropia de um sistema.

108
TÓPICO 3 — DIAGRAMAS DE EQUILÍBRIO

E
IMPORTANT

O limite de solubilidade é a concentração de átomos de um soluto que pode


se dissolver no solvente, a determinada temperatura. Isso ocorre para muitos sistemas de
ligas, onde adição em excesso desse soluto irá resultar na formação de um outro composto
(CALLISTER JR.; RETHWISCH, 2016).

Para ilustrar uma condição de equilíbrio, pegamos o exemplo anterior, da


mistura água + açúcar. Imagine, você possui uma mistura de composição 70% de
açúcar e 30% água a 25 °C, nessa condição, você terá a presença de duas fases,
xarope e açúcar sólido, que estarão em equilíbrio. Agora, se você receber energia
até que a temperatura do sistema atinja 90 °C, o limite de solubilidade a esta
temperatura será deslocado e, nas condições de equilíbrio, você terá a presença
apenas de uma fase, o xarope, isso quer dizer que com o passar do tempo, parte
daquele açúcar sólido que estava presenta na temperatura de 25 °C irá se dissolver,
até que reste apenas xarope para essa composição a temperatura de 90 °C.

3 DIAGRAMA DE FASES BINÁRIO


O estudo dos diagramas de fases de uma substância pura frequentemente
se dá em termos da temperatura e pressão envolvidas, porém, quando temos
duas ou mais substâncias, esse diagrama será em termos da temperatura (ou
pressão) e a composição das substâncias. Sobre o estudo dos diagramas binários
(composto por duas substâncias), nós o estudaremos em termos da temperatura
x composição, à pressão ambiente.

TUROS
ESTUDOS FU

O estudo dos diagramas binários será muito importante, pois irá determinar as
fases presentes em diversas temperaturas, sendo muito útil quando estudarmos os diversos
tratamentos térmicos na Unidade 3.

O diagrama da Figura 17 é um exemplo de diagrama binário, porém, neste


livro didático, nosso foco será no estudo de soluções sólidas.

Um diagrama simples de interpretar e que apresenta solução sólida é


o diagrama Ni-Cu. Você deve se lembrar de que, no Tópico 1, estudamos que
o níquel e o cobre apresentam solução sólida total à temperatura ambiente.
Podemos observar isso na Figura 18.
109
UNIDADE 2 — LIGAS METÁLICAS E MATERIAIS CRISTALINOS

FIGURA 18 – DIAGRAMA DE FASES CU-NI

FONTE: Callister Jr. e Rethwisch (2016, p. 279)

Esse diagrama é denominado isomorfo, em virtude da sua completa


solubilidade. Podemos perceber que não há uma linha vertical, como no caso do
diagrama água + açúcar, assim, o diagrama apresenta uma única fase sólida, a
temperatura ambiente, a fase α, para qualquer composição de Cu e Ni.

Outra característica importante neste diagrama é que ele apresenta duas


linhas, que são função da temperatura e composição da liga, a linha liquidus e a linha
solidus. Para qualquer temperatura, para uma determinada composição, acima da
linha liquidus teremos apenas uma fase, a fase líquida. Para qualquer temperatura,
para uma determinada composição, abaixo da linha solidus, teremos apenas uma
fase sólida, α.

O intervalo compreendido entre as temperaturas liquidus e solidus, as


fases sólida e líquida coexistirão, isso se dá pela diferença dos pontos de fusão
do cobre e do níquel. Veja que, quando temos apenas níquel, a temperatura de
fusão do sistema será de 1453 °C, essa temperatura irá decrescer à medida que
colocar mais cobre na composição, até chegarmos na composição de 100% cobre,
onde a temperatura de fusão será de 1085 °C. Para qualquer outra composição
no diagrama que não seja 100% Cu, ou 100% Ni, não haverá uma temperatura de
fusão, mas sim uma faixa de temperaturas de fusão.

110
TÓPICO 3 — DIAGRAMAS DE EQUILÍBRIO

4 FASES PRESENTES, COMPOSIÇÃO E PROPORÇÃO


A determinação das fases presentes em uma determinada temperatura e
composição no diagrama nós já fizemos quase que intuitivamente, o método para
avaliarmos esses valores será diferente dependendo se estivermos em uma região
com apenas uma fase (monofásica) ou se a região do diagrama apresentar duas
fases (bifásica).

4.1 FASES PRESENTES, COMPOSIÇÃO E PROPORÇÃO DE


REGIÕES BIFÁSICAS
No caso do ponto A na Figura 18, podemos determinar que a temperatura
do sistema está em 1100 °C, basta traçarmos uma reta que irá interceptar o eixo da
temperatura em °C na altura de 1100. A fase presente no ponto A é claramente α,
pois ele está na região onde existe apenas uma fase. A composição dessa fase α é
dada ao traçarmos uma linha vertical até o eixo da composição, que será de 60%p
Ni e 40%p Cu, e a proporção, como só existe uma fase presente, é de 100% α.

4.2 FASES PRESENTES, COMPOSIÇÃO E PROPORÇÃO DE


REGIÕES BIFÁSICAS
Agora avancemos um pouco mais no estudo do diagrama de fases, e
determinemos as fases presentes no ponto B, mas para isso vamos pegar uma
imagem mais aproximada do ponto B (Figura 19), para verificarmos também a
composição e a proporção das fases neste ponto.

FIGURA 19 – AMPLIAÇÃO DO DIAGRAMA CU-NI PARA O PONTO B

FONTE: Callister Jr. e Rethwisch (2016, p. 279)

111
UNIDADE 2 — LIGAS METÁLICAS E MATERIAIS CRISTALINOS

Ao estendermos uma linha horizontal até o eixo da temperatura, veremos


que estamos na temperatura de 1250 °C. Nesse ponto, também é possível observar
que temos duas fases presentes, α e líquido (L).

A composição inicial (C₀) da liga é de 35%p Ni, os outros 65%p são de Cu.
Para determinarmos a composição de cada fase, será feito de forma diferente de
uma região monofásica. Como possuímos duas fases presentes, é preciso traçar
uma linha horizontal que intercepte cada uma das fases, a qual chamamos de
linha de amarração. Para sabermos a composição da fase, nessa temperatura
específica, é precisa percorrer a linha de amarração até a fronteira de cada fase.
Vamos ver na prática.

Para a composição da fase α (Cα), percorremos a linha de amarração até


a linha solidus, pois a partir dela temos α puro, desse modo, podemos saber qual
é a composição de α a 1250 °C, basta traçarmos uma linha vertical até interceptar
o eixo da composição. Ao fazermos isso chegamos ao resultado de 42,5%p de Ni
e o restante, 57,5%p é de Cu.

A composição de L (CL) a 1250 °C é obtida ao percorrermos a linha de


amarração na direção contrária, indo até a linha liquidus, que é a fronteira com a
fase L, chegando lá, procedemos da mesma forma, traçamos uma linha vertical até
o eixo da composição e obtemos um resultado de 31,5%p de Ni e 68,5%p de Cu.

Há mais um valor que podemos retirar desse ponto, a proporção de cada


fase, ou seja, podemos verificar a %p de cada fase no diagrama, para isso usaremos
a regra da alavanca.

Para regra da alavanca, utilizaremos a linha de amarração que traçamos


entre as fronteiras de cada fase. Uma lustração pode ser observada na Figura 20.

FIGURA 20 – ILUSTRAÇÃO DA REGRA DA ALAVANCA PARA O PONTO B

FONTE: O autor

O cálculo da proporção, pela regra da alavanca, dá-se no caminho inverso


da composição, veja, para calcularmos a proporção de L (% L), precisamos
percorrer a linha de amarração até a fronteira com α, o valor dessa distância,
divido pela distância total da linha de amarração dará a % L.

112
TÓPICO 3 — DIAGRAMAS DE EQUILÍBRIO

Observemos a montagem do cálculo, conforme Equação 12:

(12)

Substituindo os valores de C₀, Cα e CL já calculados quando determinamos


a composição, obtemos:

Do mesmo modo, para calcular a proporção de α (% α), devemos percorrer


a linha até a fronteira com L, o valor dessa distância, divido pela distância total da
linha de amarração dará a % α. O cálculo se dá conforme Equação 13:

(13)

Substituindo os valores de C0 , Cα e CL obtemos:

Note que poderíamos obter o valor de % α simplesmente subtraindo o


resultado de % L de 100%, afinal a soma das proporções das 2 fases presentes
deve dar 100%.

Outra análise é que se observamos as Figuras 19 e 20, vemos claramente


que o ponto B está mais próximo da linha liquidus do que da linha solidus, então
é mais coerente que ele apresente uma maior proporção de fase líquida (L) do que
de fase sólida (α), o que de fato calculamos na prática.

5 FORMAÇÃO DA MICROESTRUTURA EM UMA LIGA ISOMORFA


Nosso objetivo, aqui, será tratar da formação de uma microestrutura
na condição de equilíbrio, isso ocorre para condições onde o aquecimento ou
resfriamento da liga é muito lento, nessas condições ideais, há tempo e energia
suficiente para formação das fases em equilíbrio.

A Figura 21 apresenta o resfriamento na condição de equilíbrio de uma


liga Cu-Ni, com composição 35%p Ni e 65%p Cu.

113
UNIDADE 2 — LIGAS METÁLICAS E MATERIAIS CRISTALINOS

FIGURA 21 – ILUSTRAÇÃO DO DESENVOLVIMENTO DA MICROESTRUTURA DURANTE A SOLI-


DIFICAÇÃO DE UMA LIGA CU-NI NAS CONDIÇÕES DE EQUILÍBRIO

FONTE: Callister Jr. e Rethwisch (2016, p. 284)

Observando a figura, é possível ver que o ponto α está na região líquida


do diagrama, apresentando apenas uma fase com composição igual a 35%p Ni.
Prosseguindo no resfriamento da liga, durante o ponto b, no momento exatamente
após cruzarmos a linha liquidus, é que surgem as primeiras partículas de α, a essas
partículas damos o nome de primeiro sólido. A composição das fases presentes
durante a formação do primeiro sólido é de 35%p Ni para a L e 46%p Ni para α,
e a proporção das fases é quase que 100% L, pois temos pouquíssimas partículas
de α, que estão começando a se formar.

No ponto c do resfriamento, temos partículas maiores de α, nesse


ponto, temos uma composição de L de 32%p Ni e composição de α de 43%p Ni,
já a proporção das fases está mais equilibrada, utilizando a regra da alavanca
chegamos a valores de 72,73% de L e o restante, 27,27% de α.

O ponto d é momento que estamos cruzando a linha solidus, a esse ponto


damos o nome de último líquido. O líquido restante nesse ponto tem composição
de 24%p Ni e o α tem composição de 35%p Ni. A proporção das fases neste
momento é quase que 100% α, pois resta pouquíssimo líquido para se solidificar.

No último ponto da figura, o ponto e, já atingimos uma estrutura 100%


sólida, que apresenta apenas α com composição de 35% Ni.

114
TÓPICO 3 — DIAGRAMAS DE EQUILÍBRIO

É claro que nem sempre conseguimos condições ideias de resfriamento,


pois para que essas condições de equilíbrio aconteçam, estamos considerando
um resfriamento extremamente lento, para que haja tempo para a difusão
atômica ocorrer. Para condições diferentes do equilíbrio (Figura 22), outro tipo de
microestrutura irá se formar.

FIGURA 22 – ILUSTRAÇÃO DO DESENVOLVIMENTO DA MICROESTRUTURA DURANTE A SOLI-


DIFICAÇÃO DE UMA LIGA CU-NI PARA CONDIÇÕES FORA DO EQUILÍBRIO

FONTE: Callister Jr. e Rethwisch (2016, p. 284)

Observando a figura, não percebemos mudanças nos pontos a’ e b’ para os


pontos a e b, da Figura 21. A partir do ponto c’ vemos a formação de sólidos com
diferentes composições e notamos ainda um deslocamento da linha de solidificação
para teores maiores de Ni. Isso ocorre a taxas maiores de resfriamento, pois não
houve a formação do primeiro sólido no ponto b’, porém houve tempo suficiente
para ocorrer a migração dos átomos desse primeiro sólido e promover a formação
de um outro sólido com composição homogênea, dessa forma o que ocorre que se
forma um sólido com concentração diferente do primeiro sólido, ao redor deste,
em virtude da solidificação do líquido.

Algo semelhante irá ocorrer no d’, dessa vez ainda não haverá um último
sólido nesse ponto, pois a linha de solidificação foi deslocada devido às maiores
taxas de resfriamento, e um novo sólido com composição diferente irá se formar
ao redor do primeiro e do segundo sólido formado. Isso irá ocorrer até o ponto e’,
onde teremos nosso último líquido. No ponto f’, podemos ver o resultado dessa
solidificação longe do equilíbrio, onde temos sólidos aprisionados no interior de
outros sólidos com composições diferentes.
115
UNIDADE 2 — LIGAS METÁLICAS E MATERIAIS CRISTALINOS

Vale destacar que a linha liquidus não se deslocou como a linha solidus,
isso ocorre devido às maiores taxas de difusão que ocorrem nos líquidos, em
detrimentos aos sólidos.

6 DIAGRAMAS EUTÉTICOS BINÁRIOS


O diagrama eutético binário ocorre para diversas ligas e diferentemente
do anterior, ele ocorre para misturas que não apresentam solução sólida total.
Na verdade, diagramas eutéticos apresentam três regiões sólidas distintas, uma
região com uma fase sólida, outra região com uma segunda fase sólida e uma
terceira região, intermediárias entre as duas primeiras, que apresentam as duas
fases simultaneamente.

Um ótimo exemplo de um diagrama eutético é o diagrama Cu-Ag


apresentado na Figura 23. Nesse diagrama são possíveis as três regiões sólidas
mencionadas anteriormente, representadas pelas regiões α, β e α + β. A fase α
é a fase rica em cobre enquanto a fase β é a fase rica em cobre. A Linha Solvus,
demonstrada no diagrama, representa o limite de solubilidade de prata na fase α,
de modo análogo, no outro lado do diagrama temos uma linha semelhante que
representa o limite de solubilidade de cobre em β. É possível ainda identificar a
linha liquidus, a qual acima dela temos apenas uma fase líquida, e a linha solidus,
pela qual não temos nenhum líquido, apenas o sólido α ao ultrapassá-la.

FIGURA 23 – DIAGRAMA DE FASES EUTÉTICO BINÁRIO PARA UMA LIGA CU-AG

FONTE: Callister Jr. e Rethwisch (2016, p. 287)

Outro destaque no diagrama eutético são as duas regiões que apresentam


fases sólida + líquido, uma para α + L e outra região para β + L. Você também
deve ter notado a linha horizontal, ligada pelos pontos BEG, apresenta suas
extremidades, nos pontos B e G, os limites máximos de solubilidade de prata em
α e de cobre em β, respectivamente. Essa linha é muito importante e no diagrama
eutético, vamos falar mais dela.
116
TÓPICO 3 — DIAGRAMAS DE EQUILÍBRIO

A linha BEG é uma isoterma a 779°. Essa temperatura é denominada eutética


(TE). Ela recebe esse nome, pois abaixo dela, durante o resfriamento, ocorre uma
importante reação, denominada reação eutética. Essa reação é caracterizada por
transformar todo o líquido restante em nas duas fases sólidas do diagrama. Para
essa reação, temos três possíveis cenários ilustrados na Figura 24.

FIGURA 24 – ILUSTRAÇÃO DOS POSSÍVEIS CENÁRIOS NO RESFRIAMENTO DO LÍQUIDO EUTÉ-


TICO

FONTE: Adaptada de Callister Jr. e Rethwisch (2016, p. 287)

O primeiro é o resfriamento de uma liga com composição eutética (CE).


Essa liga durante o seu resfriamento, quando atingir a temperatura de 779 °C, irá
passar exatamente pelo ponto E, denominado ponto eutético. Ele é de extrema
importância no diagrama eutético, pois é onde ocorre 100% da reação eutética, ou
seja, todo líquido irá se transformar em duas fases sólidas (α + β). Outro destaque
para esse é ponto, é que ele é o ponto que apresenta a menor temperatura de
fusão de todo diagrama, sendo muito útil quando queremos uma composição de
uma liga para aplicações que necessitem uma menor temperatura de fundição.
A Figura 25 apresenta as microestruturas durante o resfriamento de uma liga de
composição eutética para o diagrama Pb-Sn.

As demais composições mostradas na Figura 24 não irão se solidificar


de uma vez (em uma única temperatura), mas irão se solidificar em uma faixa de
temperaturas. Veja o caso da composição C, a esquerda da composição eutética, ao
resfriar e atravessar a linha liquidus, parte do líquido irá se transformar em sólido
(α) e parte continuará líquido. Somente ao atingir a temperatura eutética, o líquido
restante, que ainda não se transformou em α, irá sofrer a reação eutética e se transformar
em α + β. A esse tipo de composição, à esquerda no ponto eutético, damos o nome
de composição hipoeutética. A Figura 26 apresenta as microestruturas durante o
resfriamento de uma liga de composição hipoeutética para o diagrama Pb-Sn.

117
UNIDADE 2 — LIGAS METÁLICAS E MATERIAIS CRISTALINOS

Já a composição hipereutética ocorre para composição à direita do ponto


eutético, como é o caso da composição C₃. Durante o resfriamento de C₃, ao
atravessar a linha liquidus, parte do líquido também irá se transformar em sólido,
porém se transformará em na fase rica em prata (β) e parte continuará líquido.
Somente ao atingir a temperatura eutética, o líquido restante, que ainda não se
transformou em β, irá sofrer a reação eutética e se transformar em α + β.

FIGURA 25 – MICROESTRUTURAS PRESENTES DURANTE O RESFRIAMENTO DE UMA LIGA


EUTÉTICA PB-SN

FONTE: Callister Jr. e Rethwisch (2016, p. 294)

FIGURA 26 – MICROESTRUTURAS PRESENTES DURANTE O RESFRIAMENTO DE UMA LIGA


HIPOEUTÉTICA PB-SN

FONTE: Callister Jr. e Rethwisch (2016, p. 296)

118
TÓPICO 3 — DIAGRAMAS DE EQUILÍBRIO

Como pudemos observar nas microestruturas ilustradas, teremos a formação


de um microconstituinte eutético, esse microconstituinte nada mais é do que uma
solução sólida constituída de camadas alternadas das fases sólidas α e β. A Figura
27 (a) apresenta uma micrografia apresentado essa microestrutura 100% eutética. Já
a Figura 27 (b) apresenta uma micrografia de uma microestrutura hipoeutética.

FIGURA 27 – (A) LIGA DE PB-SN DE COMPOSIÇÃO EUTÉTICA (61,9%P SN) E (B) LIGA PB-SN DE
COMPOSIÇÃO HIPOEUTÉTICA (50%P SN)

FONTE: Adaptada de Callister Jr. e Rethwisch (2016)

É possível observar na Figura 27 (a) uma composição 100% eutética, onde


toda a microestrutura está composta de lamelas intercaladas das fases α e β. Já na
Figura 27 (b), além do microconstituinte eutético, temos a formação de α primária,
rica em chumbo, que recebe esse nome, pois ele se formou durante o resfriamento
da liga após atravessar a linha liquidus e antes de atingir temperatura eutética.

7 REAÇÕES IMPORTANTES NO DIAGRAMA DE FASES


Além da reação eutética, há outras reações importantes que podem
aparecer em diagramas de fases binários, que precisamos ter conhecimento. Elas
estão listadas na Figura 28.

A reação eutética nós já conhecemos, é a transformação que durante o


resfriamento, uma fase líquida se transformará em duas fases sólidas, importante
salientar que o caminho contrário também válido, ou seja, quando no aquecimento,
duas fases sólidas transformam-se em uma fase líquida. O caminho contrário
(aquecimento) é válido para todas as reações listadas aqui, mas para efeitos de
explicação, iremos nos ater apenas no resfriamento da liga.

119
UNIDADE 2 — LIGAS METÁLICAS E MATERIAIS CRISTALINOS

FIGURA 28 – PRINCIPAIS REAÇÕES ENTRE TRÊS FASES EM DIAGRAMAS BINÁRIOS

EUTÉTICA L α+β

PERITÉTICA α+L β

MONOTÉTICA L1 L2 + α

EUTETOIDE γ α+β

PERITETOIDE α+β γ
FONTE: <https://slideplayer.com.br/slide/9229906/>. Acesso em: 14 nov. 2020.

A reação peritética ocorre quando no resfriamento da liga, duas fases, uma


sólida e outra líquida, transformam-se em uma outra fase sólida. Já quando no
resfriamento da liga, uma fase líquida transforma-se em duas fases, uma sólida e
outra fase líquida, damos o nome de reação monotética.

A reação eutetoide ocorre após uma fase sólida se transformar em outras


duas fases sólidas durante o resfriamento.

Por sim, a reação peritetoide irá ocorre quando no resfriamento, duas fases
sólidas transformam-se em uma outra fase sólida.

Todas as reações têm a sua importância no diagrama de fases, porém no


próximo subtópico estudaremos um importante diagrama dentro da engenharia,
o diagrama ferro carbono. Esse diagrama irá apresentar três das cinco reações
mencionadas anteriormente, a peritética, a eutetoide e a eutética.

8 SISTEMA FERRO-CARBONO
O diagrama Fe-C é provavelmente o sistema binário mais importante no
que diz respeito aos materiais de engenharia, afinal o aço e o ferro fundido são
soluções sólidas de ferro com carbono dissolvido em sua microestrutura.

Na Figura 29, é apresentado o diagrama Ferro-Carbeto de Ferro (Fe-Fe₃C).


O carbeto de ferro (Fe₃C) é um composto intermetálico de ferro que apresenta
solubilidade máxima de 6,7%p C, para composições de carbono maiores que 6,7%
até 100%, o carbono irá se apresentar na sua forma livre, como grafita.

120
TÓPICO 3 — DIAGRAMAS DE EQUILÍBRIO

FIGURA 29 – DIAGRAMA Fe-Fe3C

FONTE: Adaptada de Callister Jr. e Rethwisch (2016, p. 305)

Se você analisar, esse diagrama não é o diagrama Fe-C completo, pois não
apresenta até 100%, ele é chamado de diagrama de Fe-C metaestável, justamente
por apresentar um composto metaestável, o carbeto de ferro também denominado
como cementita.

Mecanicamente falando, materiais com alto teor de carbono em sua


microestrutura são inviáveis para diversas aplicações, por não apresentarem
propriedades mecânicas satisfatórias, como elevada fragilidade e baixa resistência
ao impacto. Em termos das ligas de ferro mais conhecidas temos os aços e os
ferros fundidos.

E
IMPORTANT

A cementita é considerada um composto metaestável, pois se aquecida na faixa


de 650 a 700 °C, por vários anos, ela irá gradualmente se decompor em ferrita e grafita (carbono
na forma livre). Por isso o diagrama Fe-Fe3C não é considerado um diagrama de equilíbrio,
porém se considerarmos que a taxa de decomposição da cementita é extremamente lenta e
o carbono presente no ferro estará na forma de cementita, o diagrama metaestável é válido
para nossas aplicações práticas (CALLISTER JR.; RETHWISCH, 2016).

Callister Jr. e Rethwisch (2016) definem aços como ligas que apresentam
entre 0,008%p C e 2,14%p C, os ferros fundidos são ligas de Fe-C que apresentam
2,14%p C até 6,7%p C, no entanto, as ligas comerciais não apresentam normalmente
mais que 4,5%p C. Já para Chiaverini, (1988), ferros fundidos são ligas ternárias de
121
UNIDADE 2 — LIGAS METÁLICAS E MATERIAIS CRISTALINOS

ferro-carbono-silício, cuja quantidade de carbono presente normalmente ultrapassa


2% (limite de solubilidade de carbono na austenita), ocasionando carbono livre na
solução sólida na forma de lamelas ou veios de grafita (CHIAVERINI, 1988 apud
PEREIRA, 2019).

Temos algumas temperaturas importantes no diagrama, como as que


representam as transformações de fase do ferro puro. Já falamos das transformações
alotrópicas do ferro, porém no diagrama de fases elas estão mais visíveis. Na
linha vertical que representa 100% de Fe, vemos a primeira delas, temos Fe(α) a
temperatura ambiente e ao atingir a temperatura de 912 °C, ele se transforma em
Fe(γ), também denominado austenita. Vale lembrar que a ferrita apresenta estrutura
CCC enquanto a austenita apresenta uma estrutura cristalina CFC. Ao atingir a
temperatura de 1394 °C a austenita transforma-se em Fe(δ) e volta a apresentar
estrutura cúbica de corpo centrado. Finalmente em 1538 °C, o Fe(δ) atinge o seu
ponto de fusão e passa para o estado líquido.

Outros pontos e temperaturas importantes no diagrama dizem respeito


às reações envolvendo três fases que ocorrem no diagrama. A reação peritética
ocorre a temperatura de 1493 °C, e o ponto peritético do diagrama está a essa
temperatura com uma composição de 0,25%p C.

Temos também a temperatura eutética do diagrama Fe-C, que é de 1147


°C, e o ponto eutético apresenta composição de 4,3%p C. Esse ponto é muito
importante para o estudo dos ferros fundidos, uma vez que é a menor temperatura
de fusão da liga Fe-C, além de não apresentar uma faixa de temperaturas e sim
uma temperatura específica de fusão, fazendo com que as propriedades durante o
resfriamento sejam mais facilmente controladas. Nessa mesma temperatura temos
o limite máximo de solubilidade do carbono na austenita, que é de 2,14%p C.

Outra temperatura diz respeito à temperatura eutetoide, que é de 727 °C,


em que a composição eutetoide é de 0,75%p C. Nesta mesma temperatura, temos
a solubilidade máxima de carbono na ferrita, que é de 0,022%p C, o que é bem
menor que a máxima solubilidade da austenita. Isso é compreensível devido às
estruturas diferentes que essas fases apresentam, pois na estrutura CCC da ferrita
há muito menos espaço para comportar átomos de carbono, o que não ocorrer na
estrutura CFC da ferrita, que apresenta mais sítios capazes de abrigar os átomos
intersticiais de carbono.

Após atingirmos o limite de solubilidade de carbono na ferritas, passamos


a ter a formação de cementita (Fe₃C). Diferente da ferrita, que apresenta baixa
resistência mecânica, alta ductilidade e elevada tenacidade, a cementita é um
composto extremamente duro e frágil. Dessa forma pequenos teores de cementita
no aço já são capazes de provocar um aumento substancial na resistência mecânica
dos mesmos, em detrimento de sua ductilidade.

122
TÓPICO 3 — DIAGRAMAS DE EQUILÍBRIO

8.1 ESTRUTURAS HIPOEUTEOIDES, EUTETOIDES E


HIPEREUTETOIDES
Assim como analisamos a reação eutética no diagrama Pb-Sn, iremos,
agora, analisar a reação eutetoide, que é muito importante para o diagrama Fe-
Fe3C, pois ela ocorrerá ao longo de praticamente todo o diagrama, e é de suma
importância para a definição das microestruturas presentes em aços.

Ao analisar novamente o diagrama da Figura 29, vimos que a isoterma


que representa a temperatura eutetoide está presente em praticamente todas as
composições, exceto para valores menores que 0,022%p C. Desse modo, podemos
prever uma que irá reação eutetoide para praticamente todas as composições
química de Fe-C. A reação eutetoide aço está descrita seguir.

Austenita(γ) Ferrita(α) + Cementita(Fe₃C) (14)

Dessa forma, vamos analisar novamente os três possíveis cenários em que


essa reação pode ocorrer. À esquerda do ponto eutetoide, no ponto eutetoide e à
direita do ponto eutetoide.

Primeiramente, vamos analisar o comportamento de uma liga Fe-C de


composição eutetoide, conforme Figura 30.

FIGURA 30 – MICROESTRUTURAS PRESENTES DURANTE O RESFRIAMENTO DE UMA LIGA


COM COMPOSIÇÃO EUTÉTICA

FONTE: Callister Jr. e Rethwisch (2016, p. 308)

123
UNIDADE 2 — LIGAS METÁLICAS E MATERIAIS CRISTALINOS

Analisando o resfriamento de uma liga eutetoide é possível observar que ao


atravessarmos a temperatura de 727 °C, a austenita que era de 100% de austenita
irá sofre uma reação eutetoide, formando um microconstituinte eutetoide, formado
de duas fases, ferrita e cementita. Esse microconstituinte recebe o nome de perlita.

A Figura 31 apresenta o mecanismo de formação de perlita, em que a perlita


irá se formar a partir do interior do grão da austenita, criando lamelas intercaladas
de ferrita e cementita.

FIGURA 31 – REPRESENTAÇÃO DA FORMAÇÃO DA PERLITA

FONTE: Callister Jr. e Rethwisch (2016, p. 309)

É possível ainda observar na figura o mecanismo de difusão dos átomos


de carbono, que vão agir no sentido do crescimento da perlita dentro da austenita,
até que o grão inteiro, que antes era de austenita, transforme-se em perlita. Vale
destacar que a composição das fases nesse ponto, utilizando a linha de amarração
é de 6,7%p C da cementita e 0,022%p C para a ferrita. Você saberia dizer qual é a
proporção das fases na perlita? Vamos relembrar!

Pela regra da alavanca temos:

FIGURA 32 – PROPORÇÃO DAS FASES NA PERLITA

Fonte: O autor

124
TÓPICO 1 — DEFEITOS DOS MATERIAIS METÁLICOS

Desse modo, podemos observar que no ponto eutetoide, o material é


constituído por 100% de perlita, porém perlita é um microconstituinte e não uma
fase, pela regra da alavanca determinamos que as proporções das fases presentes
são de 11,05% de cementita e 88,95% de ferrita, o que é bastante plausível, uma
vez que estamos muito mais próximos da linha solvus da ferrita, do que da
solubilidade da cementita.

Vamos agora analisar ligas que estão à esquerda e à direita do ponto


eutetoide, e assim como quando analisamos a reação eutética, essas ligas receberão
o prefixo hipo para ligas à esquerda do ponto eutetoide e o prefixo hiper para
ligas à direita do ponto eutetoide.

As ligas hipoeuteoides são aquelas que apresentam valores de composição


de C entre 0,022%p C e 0,76%p C. Já as ligas hipereutetoides apresentaram valores
entre 0,76%p C e 6,70%p C. A Figura 33 apresenta as microestruturas presentes no
resfriamento dessas duas ligas.

FIGURA 33 – MICROESTRUTURAS PRESENTES DURANTE O RESFRIAMENTO DE UMA (A) LIGA


HIPOEUTÉTICA DE UMA LIGA (B) HIPEREUTÉTICA

FONTE: Adaptada de Callister Jr. e Rethwisch (2016)

É possível observar na Figura 33 (a) o resfriamento de uma liga hipoeutetoide,


cuja determinada temperatura (ponto c), a liga apresentava apenas austenita. Após
o atingir o ponto d, é possível observar que parte da austenita se transformou em
ferrita, essa ferrita que surge antes de atingirmos a temperatura eutetoide é chamada
de ferrita proeutetoide. Seguindo o resfriamento da liga, no ponto e temos as
mesmas fases presentes que no ponto d, porém a proporção de ferrita proeutetoide
cresceu. Ao atingir o ponto f, imediatamente após a temperatura eutetoide, toda
a austenita restante que ainda não havia se transformado, se transformou no
microconstituinte eutetoide (perlita), formado por duas fases, ferrita e cementita, e
a ferrita proeutetoide continua no sistema.

125
UNIDADE 2 — LIGAS METÁLICAS E MATERIAIS CRISTALINOS

Na Figura 33 (b), ocorre um fenômeno parecido, porém, aqui, a austenita irá


se transformar primeiro em cementita proeutetoide, para só então, transformar-se
em perlita ao atingir a temperatura eutetoide. Dessa forma, a estrutura resultante
após 727 °C será de Fe₃C proeutetoide + perlita.

A perlita, por ser uma microconstituinte lamelar composta de ferrita +


cementita apresenta características intermediárias entre as duas fases, aliando a dureza
e resistência mecânica da cementita com o ductibilidade e tenacidade da ferrita. Ao
passo que aumentamos a composição de carbono no material, as propriedades irão
sofrer alteração com o acréscimo de cementita na microestrutura. O comportamento
mecânico em função da %p C pode ser observado na Figura 34.

FIGURA 34 – EFEITOS DE ALGUMAS PROPRIEDADES MECÂNICAS EM FUNÇÃO DA CONCENTRA-


ÇÃO DE CARBONO EM ESTRUTURAS FORMAS POR PERLITA, FERRITA E CEMENTITA

FONTE: Adaptada de Callister Jr. e Rethwisch (2016, p. 352)

É possível ver que ao passo que adicionamos carbono à composição do aço,


aumentamos propriedades como resistência à tração, dureza e o limite de escoamento,
porém abrimos mão de propriedades como ductilidade e resistência ao impacto. Dessa
forma, conhecendo a microestrutura presente no material, podemos prever algumas
propriedades mecânicas desejadas.

126
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:

• Fase é a porção homogênea de um sistema que possui as características físicas


e químicas uniformes.

• O equilibro entre as fases depende de uma série de condições ao longo do


tempo.

• O equilíbrio é descrito em termos da energia livre, uma grandeza


termodinâmica, que é função da energia interna e da entropia de um sistema.

• O estudo dos diagramas de fases de uma substância pura frequentemente se


dá em termos da temperatura e pressão.

• O estudo dos diagramas binários se dá em termos da temperatura x


composição, à pressão ambiente.

• Diagrama isomorfo ocorre em virtude da uma completa solubilidade, onde


apresenta uma única fase sólida à temperatura ambiente.

• O método para avaliar valores de composição e proporção de fases será


diferente dependendo se estivermos em uma região monofásica ou estivermos
em uma região bifásica.

• Para composição de uma fase em uma região monofásica, traçamos uma linha
vertical até o eixo da composição e temos seu valor, cuja proporção da fase
será sempre de 100%.

• Para determinar a composição de cada fase em uma região bifásica, é preciso


traçar uma linha horizontal que intercepte cada uma das fases, chamada linha
de amarração, a seguir percorre-se a linha de amarração até a fronteira de
cada fase e é traçada uma linha vertical até interceptar o eixo da composição.

• Para determinar a proporção de cada fase em uma região bifásica é necessário


utilizar a regra da alavanca.

• Que nem sempre conseguimos condições ideias de resfriamento, e muitas vezes as


microestruturas presentes serão diferentes daquelas esperadas para o equilíbrio.

• O diagrama eutético binário ocorre para diversas ligas em que apresentam


três regiões sólidas distintas.

• A reação eutética ocorre quando obtemos duas fases sólidas a partir de uma
fase líquida, durante o resfriamento.

127
• Os diagramas binários podem apresentar cinco reações diferente envolvendo três
fases distintas, são elas: eutética, peritética, eutetoide, monotética e peritetoide.

• O diagrama mais comumente utilizado é o diagrama Fe-Fe₃C.

• A cementita, apesar de ser considerada um composto metaestável, possui


tempos extremamente longos de dissociação, o que nos permite trabalhar com
o diagrama metaestável.

• A reação no ponto eutetoide do aço nos gera um microconstituinte chamado


perlita, composto das fases ferrita e cementita.

• As propriedades mecânicas do aço irão variar conforme a composição de


carbono presente.

CHAMADA

Ficou alguma dúvida? Construímos uma trilha de aprendizagem


pensando em facilitar sua compreensão. Acesse o QR Code, que levará ao
AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.

128
AUTOATIVIDADE

1 Ao observar o resfriamento de uma liga binária isomorfa fora das condições de


equilibro, podemos notar que as microestruturas encontradas serão diferentes
daquelas esperadas durante o equilíbrio. Disserte sobre o que ocorre com a
linha solidus e linha liquidus durante o resfriamento fora do equilíbrio.

2 O diagrama, além de apresentar as diversas fases existentes, também


demonstra a ocorrência de algumas reações. Neste contexto, quais são as cinco
principais reações encontradas no diagrama de fases? Como elas ocorrem?

3 No que se refere aos materiais comumente utilizados na construção


mecânica, julgue o item a seguir. A transformação da liga X (61,9% Pb –
38,1% Sn) do ponto 1 para o 2, a 183 °C, conforme ilustrada no diagrama
a seguir, é denominada reação eutética e resulta em uma microestrutura
laminar formada pelas fases sólidas α e β.
FONTE: Adaptado de <https://bit.ly/3a0MEii>. Acesso em: 9 fev. 2021.

FONTE: <https://bit.ly/3d3b7FL>. Acesso em: 9 fev. 2021.

a) ( ) Verdadeiro.
b) ( ) Falso.

4 O diagrama de fases é uma importante ferramenta quando se deseja obter


ou prever uma determinada proporção de uma solução no estado sólido.
A figura apresenta o diagrama de fases em condições de equilíbrio para o
cobre e o níquel.

129
FONTE: <https://bit.ly/36XQbvE>. Acesso em: 9 fev. 2021.

Considere uma liga cuja composição é de 35% (em peso) de níquel a 1240 °C.
A fração da fase líquida pode ser calculada, com o auxílio da figura, de acordo
com a seguinte expressão:
FONTE: Adaptada de <https://bit.ly/2MQdtgj>. Acesso em: 9 fev. 2021.

a) ( ) 35-29 / 40-29.
b) ( ) 40-35 /35-29.
c) ( ) 40-35 /40-29.
d) ( ) 40-29 /35-29.

5 O diagrama, além de apresentar as diversas fases existentes, também


demonstra a ocorrência de algumas reações, principalmente em alguns
pontos específicos. Quais são os três principais pontos encontrados no
diagrama Fe-C? Disserte sobre eles.

6 O diagrama de fases ferro carbono apresenta diferentes microestruturas, que


irão depender da sua composição e temperatura. Sendo assim, diferencie ferrita,
austenita, cementita, perlita, aço e ferro fundido, de acordo com o diagrama Fe-C.

7 Dentro do diagrama Fe-Fe₃C, temos um importante ponto denominado


eutetoide. Nesse contexto, defina aços eutetoide, hipoeutetoide,
hipereutetoide:

130
8 Considere uma liga binária de aço com 0,6%C que é aquecido até a
temperatura de 1200 °C, sendo resfriada lentamente, em condições de
equilíbrio. Considere o diagrama binário Fe-C no equilíbrio (Figura),
assinale a alternativa CORRETA:

FONTE: Adaptada de Callister Jr. e Rethwisch (2016, p. 272)

a) ( ) As fases presentes a 1200 °C são uma fase sólida (austenita) e outra fase
líquida.
b) ( ) As fases presentes a 724 °C são: uma fase sólida, a ferrita (α), com
composição de aproximadamente 0,022%C, e uma outra fase sólida, a
cementita (Fe₃C), com composição de 6,70%C.
c) ( ) A temperatura de início de solidificação dessa liga é aproximadamente
727 °C.
d) ( ) Se essa liga for aquecida a 1400 °C, ela estará totalmente no seu estado
fundido (apresentará apenas uma fase líquida).

9 De acordo com o diagrama de equilíbrio Fe-C (Figura da Questão 3), considere


um ferro fundido com 3,0 %C que é fundido a 1400 °C, sendo resfriado
lentamente, em condições de equilíbrio. Com base no exposto, analise as
sentenças a seguir:

I- A temperatura de início de solidificação dessa liga é aproximadamente


1280 °C.
II- A 1147 °C, a composição da austenita é 2,14% C, enquanto a composição
da fase líquida é de igual a composição do eutético (4,30% C).
III- A 1145 °C, as fases presentes são uma fase sólida, a ferrita e uma outra fase
sólida, a cementita (Fe₃C).
IV- As fases presentes a 723 °C são: uma fase sólida, a ferrita e uma outra fase
sólida, a cementita (Fe₃C).

131
Assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) Somente a sentença I está correta.
b) ( ) Somente a sentença II está correta.
c) ( ) Somente a sentença III está correta.
d) ( ) As sentenças I, II e IV estão corretas.

10 O diagrama de fases Fe-Fe3C (ferro – cementita) é a base dos estudos de


tratamentos térmicos para ligas ferrosas como os aços. A seguir, é apresentado
um diagrama ferro – cementita. Com base no diagrama de fases do Fe-Fe3C
apresentado, assinale a alternativa correta:

FONTE: Adaptada de <https://bit.ly/2MSu8Qr>. Acesso em: 9 fev. 2021.

FONTE: Adaptado de <https://bit.ly/3jBd2SQ>. Acesso em: 9 fev. 2021.

a) ( ) A região I corresponde a um sistema monofásico.


b) ( ) O diagrama apresenta uma transformação de fases denominada
eutetoide em 727 °C (1.340 ºF), com um sólido (y) decompondo-se em
dois outros sólidos (α + Fe₃C), no resfriamento.
c) ( ) A região II corresponde a um sistema bifásico composto por ferrita +
cementita.
d) ( ) A solubilidade máxima de carbono é superior na fase ferrita (CCC) em
relação à fase austenita (CFC).

11 Ligas de aço podem se afastar ou se aproximar do ponto eutetoide.


Quando mais próximo do ponto eutetoide, maior será a proporção de
perlita. Desse modo, calcule a proporção de perlita, ferrita proeutetoide e
cementita proeutetoide quando C₀ = 0,25% e C₁ = 1,15%, após a liga atingir
a temperatura eutetoide.

132
FONTE: Adaptada de Callister Jr. e Rethwisch (2016, p. 276)

133
REFERÊNCIAS
CALLISTER JR., W. D.; RETHWISCH, D. G. Ciência e engenharia de materiais:
uma introdução. 9. ed. São Paulo: LTC, 2016.

CHIAVERINI, V. Aços e ferros fundidos. 6. ed. São Paulo: ABM, 1988.

PADILHA, A. F. Materiais de engenharia: microestrutura e propriedades. São


Paulo: Hemus, 2000.

PEREIRA, H. G. Estudo da microestrutura e microdureza superficial pós-


tratamentos térmicos de têmpera e recozimento do fofo nodular ABNT FE 42012.
2019. Trabalho de Conclusão de Curso – Centro Universitário Tupy, Pós-graduação
em Engenharia Metalúrgica com Ênfase em Fundição, 2019.

SANTOS, R. G. Transformações de fases em materiais metálicos. Campinas:


Editora da Unicamp, 2006.

SHACKELFORD, J. F. Introduction to materials science for engineers. 8. ed.


[S.l.]: Pearson, 2015.

SHACKELFORD, J. F. Introdução à ciência dos materiais. 6. ed. São Paulo: Pearson


Education do Brasil, 2008.

134
UNIDADE 3 —

TRATAMENTOS TÉRMICOS

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• aprender a cinética envolvida nas transformações de fase;

• conhecer os diagramas de tempo transformação e temperatura;

• reconhecer os diversos tratamentos térmicos aplicados na indústria;

• compreender os mecanismos de endurecimento envolvidos nos tratamentos


térmicos.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade,
você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo
apresentado.

TÓPICO 1 – CINÉTICA DAS TRANSFORMAÇÕES DE FASES

TÓPICO 2 – DIAGRAMAS, TEMPO, TRANFORMAÇÃO E TEMPERATURA

TÓPICO 3 – TRATAMENTOS TÉRMICOS EM AÇOS

CHAMADA

Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos


em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá
melhor as informações.

135
136
TÓPICO 1 —
UNIDADE 3

CINÉTICA DAS TRANSFORMAÇÕES DE FASES

1 INTRODUÇÃO
Olá, acadêmico! Chegamos à última unidade do seu livro didático. Esta
unidade será dedicada inteiramente aos tratamentos térmicos realizados em
materiais metálicos.

Na unidade passada, estudamos o comportamento dos materiais quando


submetidos a mudanças de temperaturas, isso ficou bastante claro quando
estudamos o efeito de difusão em materiais sólidos e quando vimos os diagramas
de fases de alguns materiais.

Antes de iniciarmos nossos estudos dos diversos tratamentos térmicos em


metais, devemos abordar alguns conceitos muito importantes que envolvem a
cinética das transformações de fase, e esses conceitos são o foco deste tópico.

2 INTRODUÇÃO AOS TRATAMENTOS TÉRMICOS


Quando abordamos os diagramas de fases, na unidade anterior,
estabelecemos uma condição muito importante, que são diagramas de equilíbrio.
Isso quer dizer que são diagramas dependentes unicamente da temperatura e da
composição química, considerando assim tempos suficientes para que todas as
condições de equilíbrio sejam alcançadas. No entanto, nós sabemos que os processos
reais ocorrem em tempos finitos, e que normalmente o fator tempo é crucial para
estabelecermos o resultado das transformações de fases.

Neste ponto, fica claro que a possibilidade de novas microestruturas, que


não aparecem nos diagramas de equilíbrios, poderá surgir quando levarmos
em consideração tempos menores ou quase nulos, para sua formação e é neste
momento que surgem os tratamentos térmicos.

Tratamentos térmicos são práticas extremamente comuns na indústria,


sendo utilizados nas mais diversas ligas disponíveis, a fim de adicionar propriedades
desejadas ao material, sem sequer fazer alteração na sua estrutura química.

Assim, Chiaverini (2008) lista os principais objetivos ao realizar tratamentos


térmicos em materiais metálicos:

137
UNIDADE 3 — TRATAMENTOS TÉRMICOS

• alívio de tensões internas;


• aumento ou diminuição da dureza;
• aumento da resistência mecânica;
• melhora da ductilidade;
• melhora da usinabilidade;
• melhora da resistência ao desgaste;
• melhora da resistência à corrosão;
• melhora da resistência ao calor;
• modificação das propriedades elétricas e magnéticas.

Podemos listar as etapas de um tratamento térmico, de forma bastante


simplória. São elas: aquecimento, manutenção da temperatura e a etapa de
resfriamento. O gráfico na Figura 1 ilustra essa etapa:

FIGURA 1 – ILUSTRAÇÃO GRÁFICA DAS ETAPAS DE UM TRATAMENTO TÉRMICO

FONTE: <http://www.pmt.usp.br/pmt2402/TRATAMENTO%20T%C3%89RMICO%20DE%20A%-
C3%87OS.pdf>. Acesso em: 8 dez. 2020.

Como observado na figura anterior, após o aquecimento é preciso que


ocorra uma permanência na temperatura, de forma que toda a peça se homogeneíze,
alcançando a temperatura e a fase desejada, para só então passar para etapa de
resfriamento. Esse patamar na temperatura desejada é conhecido também como
encharque.

3 AQUECIMENTO
Alguns fatores devem ser considerados durante o aquecimento de uma
liga metálica, sobretudo, uma liga que tenha sido deformada a frio. As ligas
metálicas, durante o aquecimento irão passar por três etapas distintas:

• Recuperação; recristalização; e crescimento de grão. Os três processos estão


demonstrados na Figura 2.
138
TÓPICO 1 — CINÉTICA DAS TRANSFORMAÇÕES DE FASES

FIGURA 2 – INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA NAS PROPRIEDADES MECÂNICAS E TAMANHO DE


GRÃO DURANTE O AQUECIMENTO EM UMA LIGA DE LATÃO

FONTE: Adaptada de Callister Jr. e Rethwisch (2016, p. 218)

Ligas que sofreram deformações possuem um alto grau de tensões internas,


principalmente devido ao acúmulo de discordâncias durante o processo de
deformação a frio. Dessa forma, será na etapa de recuperação que essa liga liberará
grande parte das tensões internas acumuladas. Isso se dá, pois, durante a recuperação,
com o aumento da temperatura, ocorrerá a movimentação das discordâncias
acumuladas. Devido a essa movimentação, o material deformado perderá boa parte
das tensões internas provenientes do processo de deformação a frio.

Durante a etapa de recristalização, ocorrerá a formação de novos grãos.


Esse conjunto de novos grãos são livres de deformações e irão substituir os grãos
antigos. Nessa etapa, podemos observar um decréscimo na dureza e um aumento
da ductilidade do material.

A 3ª etapa do aquecimento é o crescimento de grão. Aqui ocorre um


aumento do tamanho médio de grão, dessa forma, grãos maiores tomam o lugar
de grãos menores, ocasionando uma diminuição nos contornos de grão. As três
etapas podem ser visualizadas nas micrografias da Figura 3.

139
UNIDADE 3 — TRATAMENTOS TÉRMICOS

FIGURA 3 – MICROGRAFIA DURANTE OS ESTÁGIOS DURANTE O AQUECIMENTO DE UMA LIGA


DE LATÃO

FONTE: Adaptada de Callister Jr. e Rethwisch (2016, p. 217)

Nas Figuras 3 (a) e (b), temos os grãos de uma liga de latão com cerca de
33% de trabalho a frio, antes do aquecimento. Na sequência, as Figuras 3 (c) e (d),
mostram, respectivamente, a liga durante o processo de recristalização e após a
recristalização completa. Já para as Figuras 3 (e) e (f), a liga está sofrendo o processo
de crescimento de grão, onde grãos maiores acabam englobando grãos menores.

Observando o que foi comentado até aqui, já é possível perceber que


podemos mudar algumas propriedades mecânicas do nosso material mediante
modificação da estrutura simplesmente atingindo a temperatura correta de
aquecimento e dando tempo suficiente ao processo. Alguns cuidados devem ser
tomados durante o aquecimento de ligas metálicas, vamos a eles!

3.1 TEMPERATURA DE AQUECIMENTO


A temperatura de aquecimento, conforme vimos quando discutimos os
diagramas de fases, dependerá da composição liga. Quando falamos em aços,
estamos interessados em atingir o campo austenítico, também conhecido como
zona crítica.

Quanto mais acima na zona crítica estivermos, maior será a garantia


de homogeneização da fase austenítica. Esse aumento da temperatura também
favorece ao maior tamanho de grão austenítico. Vale lembrar que quanto maior
140
TÓPICO 1 — CINÉTICA DAS TRANSFORMAÇÕES DE FASES

for o tamanho de grão, menor serão os contornos de grãos do material. Com a


redução do contorno de grão, algumas propriedades, muitas vezes desejadas, são
perdidas, assim como a resistência mecânica do material.

Outro ponto importante quando falamos de aquecimento é a temperatura


de recristalização. Nessa temperatura, ocorre a recristalização completa de um
material durante o intervalo de uma hora. Essa temperatura está normalmente
situada entre 1/3 e 1/2 da temperatura bruta de fusão (Tf) do metal ou liga
metálica. Muitos fatores irão influenciar a temperatura de recristalização, dentre
eles podemos citar o tempo de aquecimento, a quantidade de trabalho a frio que
foi realizada anteriormente ao aquecimento e os elementos liga.

E
IMPORTANT

Para metais puros, costuma-se dizer que a temperatura de recristalização é 0,4 Tf,
já para alguma ligas comerciais, ela pode chegar até 0,7 Tf. (CALLISTER JR.; RETHWISCH, 2016).

Quanto maior for o trabalho a frio executado previamente, menor será a


temperatura de recristalização. Isso pode ser observado na Figura 4, onde temos
a influência do trabalho a frio na temperatura de recristalização para a peça ferro
(α) e para o ferro (γ).

FIGURA 4 – INFLUÊNCIA DO TRABALHO A FRIO NA TEMPERATURA DE RECRISTALIZAÇÃO DO


FERRO (Α) E PARA O FERRO (Γ)

FONTE: Adaptada de Totten (2006, p. 732)

Para tempos maiores de aquecimento, menor será a temperatura de


recristalização necessária. Para observar esse fato, podemos analisar o diagrama
isotérmico de tempo-temperatura-recristalização apresentado na Figura 5.

141
UNIDADE 3 — TRATAMENTOS TÉRMICOS

FIGURA 5 – DIAGRAMA ISOTÉRMICO DE TEMPO-TEMPERATURA-RECRISTALIZAÇÃO

FONTE: Adaptada de Totten (2006, p. 732)

O terceiro ponto a ser analisado será a composição da liga. Elementos


de liga costumam afetar de forma distinta a temperatura de recristalização do
material. De modo geral, pode-se dizer que elementos de liga costumam aumentar
a temperatura de recristalização, como no caso da adição de 0,05% de Prata (Ag)
no Cobre (Cu) aumentando a temperatura de recristalização de 140 °C para 340 °C.
Outro ponto que se deve analisar é que a precipitação de partículas de segunda fase
costuma favorecer a formação de núcleos de recristalização no material.

3.2 TEMPO DE PERMANÊNCIA


Ao falarmos do tempo de permanência, também conhecido como encharque,
podemos citar que sua influência é bastante semelhante à temperatura máxima de
aquecimento, isso quer dizer que tanto o tempo como a temperatura devem ser
suficientes para que ocorra o aquecimento completo da peça, de modo uniforme,
por toda sua seção.

Claro, assim como ocorre na temperatura máxima, o tempo de permanência


deve ser o necessário, pois tempos muito longos levarão ao crescimento excessivo
do tamanho de grãos que, na maioria das vezes, é indesejado, pois leva à redução
da resistência mecânica do material. Outro ponto é que o tempo excessivo nessa
temperatura irá levar a maiores chances de deterioração do material, através da
exposição a uma atmosfera oxidante a elevadas temperaturas, por exemplo.

Para esse segundo ponto, uma solução seria a utilização de atmosferas


que evitem a degradação do material, que chamados de atmosferas protetoras.

142
TÓPICO 1 — CINÉTICA DAS TRANSFORMAÇÕES DE FASES

4 RESFRIAMENTO
Podemos considerar o resfriamento como o fator mais importante do
processo de tratamento térmico. Importante salientar que esse fator está diretamente
ligado ao meio utilizado, ou seja, a intensidade do resfriamento será maior ou
menor dependendo do meio escolhido para o resfriamento. Os meios mais comuns
de resfriamentos estão descritos no Quadro 1:

QUADRO 1 – MEIOS COMUMENTE EMPREGADOS PARA RESFRIAMENTO

Meio utilizado Velocidade de resfriamento


Salmoura (Solução aquosa com sal)
Água

Velocidade
Óleo (várias viscosidades)
Ar soprado
Ar
Forno
FONTE: O autor

Muitas vezes, resfriamentos mais brandos, que irão levar a peça a pequenas
alterações microestruturais, podem não ser suficientes para o que se pretende com
o tratamento térmico. Em contrapartida, resfriamentos muito drásticos, ou seja,
muito rápidos, irão acarretar um acúmulo de tensões internas na peça devido às
fortes alterações microestruturais. Esse acúmulo de tensões irá elevar a dureza da
peça que sofreu o tratamento, mas também irá resultar em uma maior fragilidade
da mesma peça.

Veja que, pelo Quadro 1, resfriamentos drásticos são obtidos para meios lí-
quidos, como salmoura, água ou óleos. Um resfriamento moderado pode ser obtido
através de ar soprado ou no próprio ar, a temperatura ambiente, fora do forno. Já
resfriamentos lentos são obtidos aos desligarmos o forno na temperatura de enchar-
que e esperarmos longos períodos até que a peça alcance a temperatura ambiente.

TUROS
ESTUDOS FU

Falaremos muito mais sobre o efeito da velocidade de resfriamento na


microestrutura nesta unidade, começando no próximo tópico, por um importante diagrama,
o de transformação-tempo-temperatura!

143
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:

• As etapas dos tratamentos térmicos são aquecimento, encharque e resfriamento.

• Durante o aquecimento de uma liga metálica ocorrem os fenômenos de


recuperação, recristalização e crescimento de grão.

• A temperatura de aquecimento e o tempo de permanência devem ser observados


para uma correta homogeneidade da peça.

• A temperatura de recristalização é cerca de 40% da temperatura bruta de fusão


para metais puros, e pode chegar a 70% de Tf para algumas ligas comerciais.

• O grau de deformação a frio anterior ao tratamento térmico irá influenciar na


temperatura de recristalização.

• Os diferentes meios irão influenciar na velocidade de resfriamento,


consequentemente na microestrutura da peça.

• Dentre os meios mais comuns temos a salmoura, a água, o óleo, o ar soprado, o


ar e resfriamento no próprio forno.

144
AUTOATIVIDADE

1 Durante o aquecimento de uma liga metálica alguns processos são ativados


termicamente. Com base nesses processos, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Durante o processo de crescimento de grão, ocorre um aumento dos


contornos de grão do material.
b) ( ) Durante a recuperação, ocorre a formação de um novo conjunto de
grãos livre de deformações.
c) ( ) No aquecimento rápido podem ocorrer fissuras devido à formação de
martensita.
d) ( ) Na recuperação, parte da energia interna de deformação é liberada em
virtude do movimento das discordâncias.

2 Em aços que foram tratados mecanicamente, ocorrem três processos distintos


durante o aquecimento, dentre eles está o fenômeno de recristalização. Com
base na temperatura de recristalização, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Quanto mais acima da temperatura de recristalização ou crítica, menor


será a segurança na obtenção das modificações de fase desejadas.
b) ( ) A quantidade de trabalho a frio afeta significativamente a temperatura
de recristalização, quanto maior o percentual de trabalho a frio, menor
será a temperatura de recristalização.
c) ( ) Tipicamente, ela se situa entre 1/3 e 1/2 da temperatura absoluta de
fusão de um metal ou liga, e quanto maior a quantidade de elementos
de liga, menor será a temperatura de recristalização.
d) ( ) Muitos fatores influem para a temperatura de recristalização; dentre
eles podemos citar a velocidade de resfriamento.

3 Nos aços, a velocidade de resfriamento pelo ponto eutetoide influencia


fortemente no grau de separação das fases cementita e ferrita. Quais são os
meios de resfriamento mais comuns? Classifique-os em ordem crescente de
velocidade de resfriamento.

145
146
TÓPICO 2 —
UNIDADE 3

DIAGRAMAS, TEMPO, TRANFORMAÇÃO E TEMPERATURA

1 INTRODUÇÃO
Como vimos na unidade passada, apesar de bastante útil, os diagramas de
equilíbrio não levam em conta uma importante variável, o tempo, sendo crucial para
se prever a microestrutura obtida nos mais diversos tratamentos térmicos.

Para isso, um importante aliado é o Diagrama Transformação-Tempo-


Temperatura, também conhecido como Diagrama TTT ou diagramas de transformação
isotérmica.

2 DIAGRAMAS TRANSFORMAÇÃO-TEMPO-TEMPERATURA
O estudo dos diagramas TTT nos possibilitará prever as transformações
que irão ocorrer ao longo do tempo em função da temperatura. A seguir, na
Figura 6, é mostrado o diagrama TTT para um aço de composição eutetoide.

FIGURA 6 – DIAGRAMA TTT PARA UMA LIGA FERROSA DE COMPOSIÇÃO EUTETOIDE

FONTE: Callister Jr. e Rethwisch (2016, p. 310)

Na figura anterior, o eixo vertical é a escala de temperatura em Celsius, enquanto


o eixo horizontal é a escala logarítmica de tempo. As letras no diagrama representam as
transformações, a letra A é a austenita, a letra P representa a Perlita, a letra é a Bainita e
a letra M é a Martensita. Essas duas últimas, abordaremos logo em seguida.
147
UNIDADE 3 — TRATAMENTOS TÉRMICOS

A linha azul contínua no diagrama (mais à esquerda) representa o início


da transformação da austenita, enquanto a linha vermelha (mais à direita)
representa o final da transformação da austenita. A linha pontilhada representa
uma transformação de 50%. A Figura 7, a seguir, demonstra a transformação da
austenita em perlita através de uma isotérmica.

FIGURA 7 – ILUSTRAÇÃO DE UMA TRANSFORMAÇÃO ISOTÉRMICA DE UM AÇO EUTETOIDE

FONTE: Adaptada de Callister Jr. e Rethwisch (2016, p. 304)

Na figura anterior, a temperatura é mantida constante, em 675 °C, até que


toda a austenita seja transformada em perlita. Através da velocidade de resfriamento
correta, bem como aplicando os patamares de temperaturas adequados, podemos
prever a microestrutura que será obtida.

Vejamos um exemplo, tomando como base o diagrama TTT do aço eutetoide


apresentado anteriormente na Figura 6, e façamos um experimento que nos sejam
dadas três curvas diferentes de resfriamento, para obtenção de microestruturas
distintas. Podemos observar o resultado dessa experiência na Figura 8.

148
TÓPICO 2 — DIAGRAMAS, TEMPO, TRANFORMAÇÃO E TEMPERATURA

FIGURA 8 – CURVAS DE RESFRIAMENTO NO AÇO EUTETOIDE

FONTE: O autor

Analisando a curva pontilhada em azul, é possível observar um resfriamento


lento até aproximadamente 590 °C, com um patamar de temperatura, dando-se
tempo suficiente para que ocorra toda a transformação da austenita em perlita. A
curva seguinte, tracejada em amarelo, é possível observar um resfriamento mais
rápido, e um novo patamar de temperatura, dessa vez próximo a 460 °C e após
passado tempo suficiente, toda a austenita está transformada em bainita. A terceira
curva, contínua em laranja, apresenta o resfriamento mais brusco das três, onde a
austenita irá passar por uma transformação martensítica.

3 MICROESTRUTURAS DO DIAGRAMA TTT


A austenita e a perlita nós já conhecemos, é claro, mas você já ouviu falar
de esferoidita? E o que seria bainita e martensita que comentamos anteriormente?
Vamos falar um pouco mais sobre isso!

3.1 PERLITA
A perlita, nossa velha conhecida, é um microconstituinte eutetoide do aço.
Quando estamos falando de tratamentos térmicos, podemos classificar a perlita
de duas formas: perlita fina e perlita grossa. Callister Jr. e Rethwisch (2016) citam
que a proporção da largura de ferrita (α) para cementita (Fe₃C) é 8:1, porém esse
fator será dependente da temperatura de transformação da perlita. Logo abaixo
da temperatura eutetoide, através de um resfriamento muito lento, iremos obter
perlita grossa, essa estrutura possui uma resistência mecânica menor, porém
apresenta maior ductilidade. Essa estrutura mais grosseira ocorre devido à maior
taxa de difusão em temperaturas mais altas, o carbono acaba se difundindo mais
na estrutura, promovendo a formação de lamelas mais grosseiras de cementita.

149
UNIDADE 3 — TRATAMENTOS TÉRMICOS

Para resfriamentos não tão lentos e/ou patamares de temperaturas


inferiores, a estrutura da perlita começa a ficar mais refinada, pois em temperaturas
menores, o movimento de difusão do carbono ficará mais restrito, formando assim
perlita fina. A Figura 9 apresenta uma micrografia desses dois tipos de perlita.

FIGURA 9 – (A) PERLITA GROSSEIRA E (B) UMA ESTRUTURA DE PERLITA FINA

FONTE: Callister Jr. e Rethwisch (2016, p. 306)

As partes escuras são as cementitas, enquanto as partes claras são as ferritas.


Podemos notar que na Figura 9 (a), as lamelas de cementita são mais grossas,
enquanto na Figura 9 (b), essas lamelas já estão em uma estrutura mais refinada.

3.2 BAINITA
Ao passo que a temperatura vai diminuindo, temos a formação de um
novo microconstituinte, logo abaixo da temperatura de formação de perlita fina.
É a bainita, e como acontece na formação da perlita, a bainita apresenta uma
microestrutura com duas fases, a ferrita e cementita, porém os arranjos dessas fases
se dão de forma diferente. No entanto, a bainita apresenta uma formação ainda
mais fina de partículas de cementita e ferrita, em contraste com a estrutura lamelar
da perlita. A seguir, na Figura 10, é possível observar a bainita em uma micrografia.

150
TÓPICO 2 — DIAGRAMAS, TEMPO, TRANFORMAÇÃO E TEMPERATURA

FIGURA 10 – MICROGRAFIA ELETRÔNICA DE TRANSMISSÃO DA ESTRUTURA DA BAINITA, EN-


VOLTA POR UMA FASE MARTENSÍTICA

FONTE: Callister Jr. e Rethwisch (2016, p. 307)

Na micrografia da Figura 10, é possível observar que a bainita possui uma


morfologia de folha, esse é o caso da bainita superior, formada logo abaixo da
perlita fina. É possível observar ainda as fases constituintes, que são partículas
alongadas de cementita, na forma de agulhas envoltas por uma matriz ferrítica.

Assim como na perlita, podemos subdividir a bainita, com base na sua


temperatura de formação. Para temperaturas menores, uma microestrutura de
bainita um pouco diferente irá se formar, é o que chamamos de bainita inferior.
Vale destacar que a nomenclatura inferior e superior não é com base nas suas
propriedades mecânicas, mas sim com base na sua posição no diagrama TTT, já que
a bainita superior está localizada acima (maiores temperaturas) da bainita inferior
(menores temperaturas). A Figura 11 apresenta uma micrografia da bainita inferior.

FIGURA 11 – MICROGRAFIA DA BAINITA INFERIOR ENVOLTA POR MARTENSITA COM AMPLIA-


ÇÃO DE UM PLACA BAINITICA

FONTE: Adaptada de: <https://slideplayer.com.br/slide/1734052/>. Acesso em: 15 dez. 2020.

151
UNIDADE 3 — TRATAMENTOS TÉRMICOS

Diferente da bainita superior, a bainita inferior se apresenta em placas


mais finas composta por uma matriz ferrítica e por agulhas de cementita. Na
figura anterior, também é possível observar uma estrutura martensítica em volta
das placas de bainita. A bainita inferior, devido a sua estrutura mais refinada,
apresenta maior dureza que a bainita superior e ambas apresentam maior dureza
que a perlita.

Em aços eutetoides, a bainita superior se forma logo abaixo do joelho da


curva de transformação, em um intervalor de temperaturas de 540 °C a 300 °C, já
bainita inferior é formada em temperaturas de 300 °C a 200 °C.

3.3 ESFEROIDITA
A esferoidita é a um microconstituinte onde nódulos de cementita estão
dispostos em uma matriz ferrítica. Isto só é possível através de um longo patamar
de aquecimento.

Basicamente, se um aço com estrutura perlítica ou estrutura bainítica


for aquecido a temperaturas próximas da eutetoide, por um longo período, por
exemplo, acerca de 700 °C durante cerca de 18 a 24 horas, será dado tempo e energia
suficiente para o coalescimento da cementita em forma de nódulos, surgindo um
novo microconstituinte, a esferoidita. A Figura 12 mostra a estrutura da esferoidita.

FIGURA 12 – MICROGRAFIA DE UM AÇO EUTETOIDE APRESENTANDO CEMENTITA GLOBULIZADA

FONTE: Callister Jr. e Rethwisch (2016, p. 308)

Essa estrutura globular da cementita dará ganhos significativos de


ductilidade, no entanto, a perda de dureza também será notável. A Figura 13
apresenta justamente a comparação dessas propriedades, com base na composição
de carbono, da esferoidita, perlita fina e perlita grossa.
152
TÓPICO 2 — DIAGRAMAS, TEMPO, TRANFORMAÇÃO E TEMPERATURA

FIGURA 13 – COMPARAÇÃO DA DUREZA E DA DUCTIBILIDADE DOS MICROCONSTITUINTES


ESFEROIDITA, PERLITA FINA E PERLITA GROSSA, EM FUNÇÃO DO TEOR DE CARBONO

FONTE: Callister Jr. e Rethwisch (2016, p. 306)

É possível observar no gráfico da esquerda, que a estrutura refinada da perlita


possui a maior dureza dentre os três microconstituintes, enquanto a perlita grossa
possui um comportamento intermediário e a esferoidita apresenta a menor dureza.
Já no gráfico da direita, o comportamento se inverte, ao analisarmos a ductibilidade
dos microconstituintes, em que a esferoidita, em função da sua cementita globulizada,
apresenta a maior ductibilidade dentre os três, seguidos por perlita grossa e perlita
fina. É possível também observar um acréscimo na dureza conforma maior for o teor
de carbono e um decréscimo na ductibilidade, pelo mesmo motivo.

3.4 MARTENSITA
Até agora, nós falamos sobre três microconstituintes, a perlita, a bainita
e a cementita. Agora vamos falar de uma fase metaestável que não aparece
no diagrama de fases no equilíbrio, porém se você perguntar para qualquer
engenheiro que lida com aços tratados termicamente, ele irá reconhecer sua
importância, estamos falando da martensita.

A martensita é uma fase que não aparece nos diagramas do equilíbrio


justamente por se tratar de uma fase metaestável, isso quer dizer que ele só fica estável
sob determinadas condições. No entanto, utilizando o tratamento correto, essa fase
se tornará estável na temperatura ambiente, desde que não sofra novo aquecimento.

153
UNIDADE 3 — TRATAMENTOS TÉRMICOS

NTE
INTERESSA

Reforçando, tanto a perlita, como a bainita e a esferoidita são microconstituintes


formados de duas fases, sendo essas fases a ferrita e a cementita. Já a martensita, assim
como a ferrita, cementita, e austenita são fases e não microconstituintes!

Essa fase se forma através do rápido resfriamento da austenita, sem que


seja possível ocorrer a difusão do carbono. Se você se lembrar, a austenita (γ) possui
estrutura cristalina CFC, já a martensita possui estrutura cristalina tetragonal de
corpo centrado (TCC). Como essa transformação ocorre sem difusão (de modo
instantâneo), não há tempo suficiente para o carbono que estava no reticulado
CFC da austenita, rearranjar-se na estrutura HC da martensita. A seguir, na Figura
14, vemos uma ilustração do tratamento que leva à formação da martensita.

FIGURA 14 – TRANSFORMAÇÃO MARTENSÍTICA DO FERRO

FONTE: Adaptada de <http://www.pmt.usp.br/pmt2402/TRATAMENTO%20T%C3%89RMICO%20


DE%20A%C3%87OS.pdf>. Acesso em: 8 dez. 2020.

A estrutura tetragonal da martensita, como se fosse um cubo alongado, possui


os átomos de carbono como impurezas intersticiais. A velocidade de transformação
da martensita é próxima da velocidade do som e acontece imediatamente quando
sua temperatura é atingida.

Sua morfologia pode se dar de duas formas: em placas ou agulhas. Essa


morfologia pode ser visualizada na figura a seguir.

154
TÓPICO 2 — DIAGRAMAS, TEMPO, TRANFORMAÇÃO E TEMPERATURA

FIGURA 15 – MORFOLOGIAS DA MARTENSITA (A) EM PLACAS E (B) EM AGULHAS

FONTE: Callister Jr. e Rethwisch (2016, p. 309)

Diferente da bainita e da perlita, a diferença entre as morfologias são


em função da temperatura, até porque estamos falando de uma transformação
adifusional e atérmica (ocorre instantaneamente, sem difusão e sem variação de
temperatura), mas sim em função da concentração de carbono.

No caso da martensita em placas, Figura 15 (a), ela ocorre para concentrações


superiores há 0,6%p C, já a martensita em agulhas irá ocorrer para concentrações
menores que 0,6%p C, nesse caso, estamos falando de ripas longas e finas, como
se fossem lâminas, e devido à estrutura extremamente refinada, são necessárias
técnicas de micrografia eletrônica e análise da microestrutura. As partes escuras
são de martensita, já as partes claras são de austenita que não se transformou
durante o resfriamento, esta austenita é denominada austenita retida.

4 RESFRIAMENTO CONTÍNUO
Até agora estávamos tratando de diagramas isotérmicos, quando
mantemos a temperatura constante durante a transformação, porém, na prática,
a maioria dos casos ocorrem com resfriamentos contínuos. Para esse tipo de
resfriamento, o tempo necessário para o início de uma transformação, bem como
o seu término, são retardados, ou seja, as curvas devem ser deslocadas para
tempos maiores e para temperaturas menores. Essas curvas recebem o nome de
Transformações a Resfriamento Contínuo, ou curvas TRC.

NOTA

As curvas TRC (Transformações a Resfriamento Contínuo), também são


comumente encontradas na literatura como curvas CCT, devido a sua nomenclatura em
inglês, Continuous Cooling Transformations.

155
UNIDADE 3 — TRATAMENTOS TÉRMICOS

Esse deslocamento da curva, para o resfriamento contínuo pode ser


observado na Figura 16.

FIGURA 16 – SUPERPOSIÇÃO DOS DIAGRAMAS ISOTÉRMICOS E DE RESFRIAMENTO CONTÍNUO


PARA UM AÇO DE COMPOSIÇÃO EUTETOIDE

FONTE: Callister Jr. e Rethwisch (2016, p. 313)

Em tracejado, é possível observar as linhas e início e término para um


diagrama isotérmico, já as linhas sólidas representam o início e término da
transformação para um diagrama de resfriamento contínuo, deslocado para
tempos maiores e temperaturas menores.

Outra diferença que podemos notar é que não há linha contínua abaixo
do “joelho”, isso se deve ao fato que é impossível alcançar uma transformação
abaixo do joelho, sem que se mantenha a temperatura constante. Dessa forma,
podemos ver que, nesse diagrama, não temos a bainita representada, isso se deve
ao fato de que para um aço eutetoide, é impossível a obtenção da bainita sem
um patamar de temperatura, abaixo do “joelho”. Duas curvas com resfriamentos
contínuos podem ser observadas na Figura 17, a seguir.

156
TÓPICO 2 — DIAGRAMAS, TEMPO, TRANFORMAÇÃO E TEMPERATURA

FIGURA 17 – CURVAS DE RESFRIAMENTO CONTÍNUO EM UM AÇO EUTETOIDE

FONTE: Callister Jr. e Rethwisch (2016, p. 314)

Analisando o diagrama, é possível observar duas curvas distintas, a mais à


direita (azul), representa um resfriamento contínuo mais lento, cuja microestrutura
apresentada será a perlita fina. Já a curva mais à esquerda (vermelha), representa
um resfriamento contínuo mais veloz, cujo produto é perlita fina.

Podemos observar que pela natureza da curva de resfriamento contínuo,


não é possível obter uma estrutura diferente da perlita atravessando a linha de
transformação completa mais à direita (verde). Caso tivéssemos um resfriamento
contínuo mais rápido ainda, o qual atravessa a linha pontilhada A-B, a austenita
que ainda não tivesse se transformado em perlita se transformaria em martensita
ou permaneceria retida nela.

Um ponto importante a se destacar é o efeito do tamanho que a seção da


peça tem no resfriamento dela. Nesse ponto, é natural pensarmos que dependendo
da espessura da peça, teremos resfriamentos diferentes entre a superfície e o
centro da peça, e está correto. Por isso é importante prevermos quais serão as
propriedades mecânicas (qual será a microestrutura) tanto no interior quanto na
superfície peça analisada. A Figura 18 ilustra esse comportamento.

157
UNIDADE 3 — TRATAMENTOS TÉRMICOS

FIGURA 18 – EFEITO DA VELOCIDADE DE RESFRIAMENTO NA TRANSFORMAÇÃO DA AUSTENITA


NA SUPERFÍCIE E NO CENTRO DE UMA PEÇA

FONTE: Chiaverini (1998, p. 51)

Para o primeiro gráfico (Figura 18), cujo resfriamento ocorre em água,


a superfície da peça irá apresentar uma estrutura martensítica, como dureza
máxima, já o interior, parte da austenita terá se transformado em martensita e
outra parte em perlita. No gráfico do meio, com resfriamento em óleo, será obtido
para sua superfície martensita mais perlita e o seu interior apenas perlita. Com o
resfriamento em ar, no último gráfico, a estrutura esperada será de perlita fina em
sua superfície e perlita mais grosseira em seu interior.

Com isso é possível observar, que dependendo da espessura da peça, o seu


centro poderá apresentar uma microestrutura bem diferente da sua superfície,
o que acarretará propriedades mecânicas distintas, como dureza, resistência
mecânica e ductilidade.

É possível observar ainda que o meio influencia no distanciamento das


curvas, para meios que propiciam resfriamentos mais bruscos, como o caso da
água, as curvas do interior e do centro estão mais próximas. Já para meios com
resfriamentos mais brandos, essas curvas tendem a se afastar mais, como é o caso
do resfriamento ao ar.

Agora que falamos dos diagramas TTT e TRC, vamos falar sobre os fatores
que deslocam ou modificam as curvas desses diagramas.

5 FATORES QUE AFETAM A POSIÇÃO DA CURVA TTT NOS AÇOS


Dentre os fatores que afetam a posição das curvas TTT, podemos citar três
principais:

• teor de carbono;
• tamanho de grão austenítico;
• elementos de liga (composição química);
158
TÓPICO 2 — DIAGRAMAS, TEMPO, TRANFORMAÇÃO E TEMPERATURA

O teor de carbono mais alto age no sentido de deslocar as curvas TTT para
a direita, ou seja, ele dificulta a formação da martensita. Para teores de carbono
menores que a composição eutetoide, torna-se praticamente impossível a obtenção
de uma estrutura completamente martensítica. A Figura 19 demonstra esse
comportamento.

FIGURA 19 – DIAGRAMAS TTT DOS AÇOS AISI ABNT 1020 E 1050

FONTE: <https://bit.ly/3dMkSZ5>. Acesso em: 15 dez. 2020.

O aço AISI ABNT 1020, que possui 0,2%p C, possui sua curva TTT
deslocada para a esquerda, de tal modo que para qualquer resfriamento com
intervalo de tempo, não teremos uma estrutura completamente martensítica,
pois parte da austenita já terá se transformado em ferrita + cementita. Já o aço
que possui 0,5%p C (AISI ABNT 1050), é possível, ainda que para tempos muito
pequenos, a obtenção de uma estrutura completamente martensítica, pelo menos
na superfície do aço, pois a curva está levemente deslocada para a direita.

O tamanho do grão austenítico é outro fator importante a ser levado em


consideração, pois quanto maior for o tamanho do grão austenítica, mais para a
direita a curva estará deslocada. Desse modo, dizemos que um grande tamanho
de grão favorece a formação de martensita.

Isso ocorre, pois quanto maior o tamanho de grão, menor será o contorno
de grão. Sabemos que os contornos de grão favorecem a difusão, e que a formação
da perlita, diferente da formação da austenita, necessita de difusão para ocorrer.
Dessa forma, quanto menor forem os contornos dos grãos, pior será a difusão no
estado sólido do material, dificultando a formação de perlita.

É importante destacar que o tamanho de grão também irá afetar outras


propriedades mecânicas, e que grãos muito grandes irão reduzir a tenacidade,
além de aumentar as tensões residuais na peça, favorecendo o aparecimento de
trincas e fissuras na peça.

159
UNIDADE 3 — TRATAMENTOS TÉRMICOS

Os elementos de liga atuam de forma um pouco mais complexa, e quanto


maior for a presença desses elementos, mais complexa e mais numerosas serão as
transformações envolvidas.

De modo geral, podemos dizer que os elementos de liga favorecem a


formação de martensita, deslocando a curva para a direita, além de também
favorecerem o aparecimento do “joelho” responsável pela formação da bainita,
podendo assim se obter esse microconstituinte através de resfriamentos contínuos.
Desse modo, em determinados aços, dependendo dos elementos de liga disponíveis,
podemos ter a formação de martensita para tempo tão longos, que podemos obtê-la
resfriando ao ar, chamamos esses aços de aços temperados ao ar.

Claro, há exceções, o cobalto (Co) é uma dela. A presença de Co desloca as


curvas para a esquerda, favorecendo a formação de perlita. A Figura 20 ilustra o
efeito de alguns elementos de liga nos diagramas TTT nos aços.

FIGURA 20 – DIAGRAMA TTT DO AÇO AISI 1335 (À ESQUERDA) E DO AÇO AISI 4340 (À DIREITA)

FONTE: Adaptada de Chiaverini (1998, p. 55-56)

Podemos observar que ambos os aços possuem teores muito próximos


de carbono (0,35%p C para o aço 1335 contra 0,42%p C para o aço AISI 4340), no
entanto, a maior presença de elementos de liga no aço AISI 4340 acaba deslocando
a curva para direita, além de apresentar um joelho deslocado para a formação de
bainita mesmo para resfriamentos contínuos.

160
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:

• Diagramas de fase no equilíbrio não podem ser utilizados para prever


microestruturas provenientes de tratamentos térmicos.

• Diagramas Transformação-Tempo-Temperatura (TTT) e Transformação a


Resfriamento Contínuo (TRC) são utilizados para prever a estrutura final em
tratamentos térmicos.

• Existem outras fases e microconstituintes que não apareciam nos diagramas


de equilíbrio, mas irão se formar dependendo o tratamento térmico utilizado.

• Os microconstituintes bainita e esferoidita são compostos pelas fases ferrita e


cementita, e irão surgir de acordo com o tratamento térmico específico.

• A martensita é uma fase metaestável muito dura, que ocorre através de uma
transformação adifusional e atérmica, em que o reticulado CFC da austenita
se transforma em martensita TCC, na velocidade do som.

• O centro da peça e a sua superfície irão resfriar de modo diferente, onde


podemos ter diferentes microestruturas.

• O teor de carbono, o tamanho de grão austeníticos e a composição química


irão afetar a forma e a posição das curvas TTT.

161
AUTOATIVIDADE

1 Uma maneira conveniente de representar a dependência de transformações


de fase, com relação ao tempo e à temperatura, é por meio dos diagramas de
transformação isotérmica ou diagramas transformação-tempo-temperatura.
Sobre os diagramas TTT, analise a figura a seguir e assinale a alternativa
CORRETA:

FONTE: Callister Jr. e Rethwisch (2016, p. 310)

a) ( ) Os eixos vertical e horizontal representam a transformação e o logaritmo


do tempo, respectivamente.
b) ( ) As duas curvas contínuas traçadas representam o tempo necessário a
cada temperatura para o início da transformação e para a conclusão da
transformação.
c) ( ) A curva tracejada corresponde ao início da transformação.
d) ( ) Neste diagrama é possível obter bainita, por resfriamento contínuo.

2 À medida que a temperatura de transformação é reduzida após a formação


de perlita fina, um novo microconstituinte é formado: a bainita. Com relação
à bainita, analise as sentenças a seguir:

I- Como ocorre na perlita, a microestrutura da bainita consiste nas fases


ferrita e austenita, mas os arranjos são diferentes.
II- No diagrama de transformação isotérmica, a bainita se forma abaixo do
“joelho”, enquanto a perlita se forma acima.
III- Sua morfologia varia da forma de pena com um carboneto de muito fino
(bainita superior), até um microconstituinte em forma de agulhas (bainita
inferior).

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) Somente a sentença I está correta.
b) ( ) Somente a sentença II está correta.
c) ( ) Somente a sentença IIII está correta.
d) ( ) As sentenças II e III estão corretas.
162
3 À medida que aplicamos diferentes tempos de aquecimentos e resfriamentos,
novas microestruturas surgem, sendo que algumas não estavam descritas nos
diagramas de fases do equilíbrio. Sobre a formação dessas microestruturas,
associe os itens, utilizando o código a seguir:

I- Martensita.
II- Perlita.
III- Bainita.
IV- Esferoidita.

( ) Ocorre quando um aço, com microestruturas perlítica ou bainítica,


for aquecido até uma temperatura abaixo da temperatura eutetoide e
mantido durante um tempo suficientemente longo.
( ) Se forma quando o resfriamento for rápido o suficiente de forma a evitar
a difusão do carbono, ficando o mesmo retido em solução.
( ) No diagrama de transformação isotérmica, se forma abaixo do “joelho”
enquanto a perlita se forma acima.
( ) É o microconstituinte eutetoide formado por resfriamento lento a partir
de uma temperatura superior a temperatura eutetoide.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) I – III – II – IV.
b) ( ) IV – I – III – II.
c) ( ) IV – III – II – I.
d) ( ) III – IV – I – II.

4 Uma fase muito importante, que não aparece no diagrama de fases Fe-C
é a martensita. Com base nisso, responda, o que é martensita? Descreva
a transformação martensítica. O que gera a diferença da morfologia entre
placas e ripas?

5 Na unidade anterior, estudamos diagramas de fases no equilíbrio, porém,


para o estudo dos tratamentos térmicos, apresentamos dois diagramas
diferente, o diagrama TTT e o diagrama TRC (CCT). O que é um diagrama
TTT, e quais são as diferenças para os diagramas TRC?

6 As curvas Transformações a Resfriamento Contínuo, ou curvas TRC,


descrevem os casos em que ocorrem o resfriamento contínuo nas mais
diversas ligas tratadas termicamente. Analise as curvas no diagrama a seguir
e responda quais são os microconstituintes esperados para os diferentes
resfriamentos?

163
FONTE: Adaptada de Chiaverini (1998, p. 56)

164
TÓPICO 3 —
UNIDADE 3

TRATAMENTOS TÉRMICOS EM AÇOS

1 INTRODUÇÃO
No tópico anterior, nós vimos os mecanismos de transformações de fases
que ocorrem nas etapas de um tratamento térmico, vimos ainda as diferentes
microestruturas possíveis de se obter no resfriamento após o tratamento térmico
de um aço.

Neste tópico, falaremos dos diferentes tratamentos térmicos em aços


e seus principais objetivos, com base na microestrutura desejada, já estudada
anteriormente. Os principais tratamentos térmicos em aços são:

• Recozimento.
• Normalização.
• Têmpera.
• Revenido.
• Martêmpera.
• Austêmpera.

Veremos mais sobre cada um deles a seguir.

2 RECOZIMENTO
O tratamento térmico de recozimento consiste em expor o material ou peça
por um longo período a uma elevada temperatura, seguido de um resfriamento
lento. O recozimento é um tratamento térmico que possui os seguintes objetivos:

• Fazer com que o material fique mais macio, dúctil e tenaz.


• Produzir uma microestrutura específica.

O alívio de tensões se dará na etapa de recuperação do aquecimento,


já os dois próximos objetivos acontecerão durante a recristalização, através do
surgimento dos novos grãos livres de imperfeições de conformações mecânicas
prévias. Existem diferentes tipos de recozimento, falaremos de quatro deles.

2.1 RECOZIMENTO TOTAL OU PLENO


No recozimento total ou pleno, o objetivo é atingir a temperatura acima
da temperatura de recristalização, também conhecida como zona crítica nos aços,
seguido de um resfriamento lento dentro do forno.
165
UNIDADE 3 — TRATAMENTOS TÉRMICOS

A temperatura para o recozimento pleno é normalmente de 15 a 40 °C


acima a linha A3, do diagrama de fases, para aços abaixo da composição eutetoide
e 15 a 40 °C acima da linha A1 para aços com composição superior a eutetoide.
Esse tratamento térmico é comumente empregado em aços médio e baixo
carbono, que serão posteriormente usinados (CALLISTER JR.; RETHWISCH,
2016). Pode ser ainda aplicado entre passes de laminação ou trefilação a frio
para minimizar o encruamento ou entre passes de solda em aços propensos a
trincas de soldabilidade. A Figura 21 demonstra a faixa de aquecimento para o
recozimento pleno.

FIGURA 21 – FAIXA DE TEMPERATURA EM AÇOS PARA OS TRATAMENTOS TÉRMICOS DE NOR-


MALIZAÇÃO E RECOZIMENTO PLENO

FONTE: Callister Jr. e Rethwisch (2016, p. 361)

Importante destacar que o tratamento de recozimento não se limita apenas


a aços médio e baixo carbono, mas também a muitas ligas não ferrosas. Entre
elas podemos citar o cobre e suas ligas, ligas de alumínio, ligas de magnésio, de
níquel, titânio, entre outras.

A curva de resfriamento contínuo do aço eutetoide está ilustrada no


diagrama da Figura 22. O produto do recozimento pleno de um aço eutetoide
resfriado no forno é a perlita grosseira.

166
TÓPICO 3 — TRATAMENTOS TÉRMICOS EM AÇOS

FIGURA 22 – DIAGRAMA ESQUEMÁTICO DO RECOZIMENTO PLENO DE UM AÇO EUTETOIDE

FONTE: Chiaverini (1998, p. 90)

2.2 RECOZIMENTO EM CAIXA


O recozimento em caixa é um tipo de recozimento realizado sob condições
de atmosferas protetoras. Esse tipo de recozimento tem o objetivo de além de
aliviar os efeitos do trabalho a frio, também proteger o aço contra atmosferas de
oxidação, que podem vir a degradar o material.

2.3 RECOZIMENTO PARA ALÍVIO DE TENSÕES


Neste tipo de recozimento, o objetivo é o alívio das tensões provenientes
dos processos de solidificação de peças fundidas ou daquelas produzidas durante
a conformação mecânica, corte, soldagem ou usinagem.

No recozimento, para o alívio de tensões, não é necessário atingir a


temperatura de recristalização do material, e se aplica as mais diversas ligas,
ferrosas e não ferrosas. A Figura 23 ilustra as faixas temperaturas típicas para os
aços no processo de alívio de tensões.

FIGURA 23 – FAIXAS DE TEMPERATURA PARA ALÍVIO DE TENSÕES E ESFEROIDIZAÇÃO

FONTE: Adaptada de Totten (2006, p. 692)

167
UNIDADE 3 — TRATAMENTOS TÉRMICOS

Os elementos de liga influenciarão na temperatura de recozimento para o


alívio de tensões, em aços baixa liga, os valores típicos ficam entre 595 a 675 °C, já
aços alta liga, os valores podem ficar entre 900 a 1065 °C.

O tempo também é um fator importante a ser levado em conta no processo de


alívio de tensões, a Figura 24 traz a relação entre tempo e temperatura no processo de
alívio de tensões do aço.

FIGURA 24 – RELAÇÃO ENTRE TEMPO E TEMPERATURA NO ALÍVIO DE TENSÕES RESIDUAIS NO AÇO

FONTE: ASM (1991, s.p.)

Importante analisar que quanto maior for a temperatura de alívio de tensões,


menor será o tempo necessário de permanência. As três curvas ao centro da Figura
24 indicam três tempos de permanência diferente, de 1, 4 e 6 horas. Vimos que, para
um completo alívio de tensões, um tempo de 6 horas a temperatura de 700 °C foi
necessário, no entanto, nessa mesma temperatura, valores muito próximos podem
ser atingidos com 4 horas. Outro ponto é em uma temperatura de 350 °C, em um
período de 6 horas, se obtém apenas 50% do alívio de tensões, esse mesmo valor
pode ser atingido em 1 hora se elevarmos a temperatura para 400 °C.

Como vimos, a relação de tempo de permanência, bem como a temperatura


de recozimento será um fator preponderante para o processo de alívio de tensões.

2.4 RECOZIMENTO SUBCRÍTICO OU ESFEROIDIZAÇÃO


O recozimento subcrítico, também denominado esferoidização, é um
tratamento térmico que pode ser aplicado em aços de médio e alto carbono. Esses
aços, devido ao alto teor de C, apresentam razões apreciáveis de cementita, como
vimos em seções anteriores, é um composto intermetálico extremamente duro
e muito frágil. Desse modo, é necessário a aplicação de um tratamento térmico
adequado para melhorar a usinabilidade desses aços.

168
TÓPICO 3 — TRATAMENTOS TÉRMICOS EM AÇOS

O tratamento térmico de esferoidização, como o próprio nome já diz, visa


à formação de esferoidita ou cementita globulizada, justamente para diminuir a
dureza e melhorar a tenacidade, ductibilidade e usinabilidade desses aços.

O aquecimento é levado a uma temperatura em torno do chamado limite


inferior da zona crítica, e deixado nessa temperatura por longos períodos. Em
alguns casos, pode ser levado logo acima da zona crítica, visando à diminuição do
tempo de permanência, em que se mantém o aço por um período, com aquecimento
e resfriamento cíclicos acima de A1 e abaixo dela. Essas faixas de temperaturas já
foram demonstradas anteriormente na Figura 23. A microestrutura esferoidizada
pode ser observada na Figura 25.

FIGURA 25 – MICROESTRUTURA ESFEROIDIZADA DE AÇO 1,0%P C

FONTE: Totten (2006, p. 692)

3 NORMALIZAÇÃO
O tratamento térmico de normalização é muito semelhante ao recozimento,
principalmente, no que se diz respeitos aos seus objetivos. No entanto, duas
diferenças devem ser destacadas. A primeira delas diz respeito às etapas de
aquecimento e permanência na temperatura, que são maiores que as temperaturas
utilizadas no recozimento pleno. Na normalização, atingem-se temperaturas cerca
de 80 °C acima de A3 para aço hipoeuteoides e temperaturas também cerca de 80
°C acima de ACM para aços hipereutetoides. Essas faixas de temperaturas já foram
demonstradas anteriormente na Figura 21.

A segunda diferença é no resfriamento, que se dá ao ar, fora do forno,


resultando em uma microestrutura mais fina e com maior resistência mecânica.
Se estivermos falando de um aço eutetoide, o produto do tratamento térmico de
normalização será a perlita fina.

169
UNIDADE 3 — TRATAMENTOS TÉRMICOS

Um diagrama comparativo entre os ciclos de aquecimento e resfriamento


dos tratamentos de recozimento pleno e normalização pode ser observado na
Figura 26.

FIGURA 26 – COMPARAÇÃO DOS CICLOS DE TEMPO-TEMPERATURA PARA NORMALIZAÇÃO E


RECOZIMENTO COMPLETO

FONTE: ASM (1991, s.p.)

No diagrama comparativo da Figura 26, podemos ver as diferenças dos


dois tratamentos térmicos, enquanto se atingem maiores temperaturas para a
normalização em detrimento ao recozimento pleno, também ocorre um resfriamento
mais brusco, ao ar, enquanto no recozimento pleno se tem um resfriamento
mais lento. O resultado será uma microestrutura mais refinada no processo de
normalização. A Figura 27 demonstra o comparativo da resistência mecânica para
um mesmo material que sofreu os dois tratamentos térmicos.

FIGURA 27 – GRÁFICO COMPARATIVO TENSÃO X DEFORMAÇÃO DO AÇO NORMALIZADO E


DO AÇO RECOZIDO PLENO

FONTE: O autor

170
TÓPICO 3 — TRATAMENTOS TÉRMICOS EM AÇOS

Como ilustrado no gráfico (Figura 27), o aço recozido terá maior ductilidade
do que o aço normalizado, enquanto o segundo terá maior resistência à tração. O
esquema do tratamento térmico de normalização, bem como a estrutura refinada
após o resfriamento está ilustrado na Figura 28.

FIGURA 28 – MICROESTRUTURAS DURANTE O TRATAMENTO TÉRMICO DE NORMALIZAÇÃO


DE UM AÇO HIPOEUTETOIDE

FONTE: Adaptada de <https://bit.ly/3qV4DwK>. Acesso em: 16 dez. 2020.

Antes do aquecimento é possível observar uma microestrutura composta


por perlita (grãos acinzentados) e ferrita (grãos claros), ao passo que sofre
aquecimento até a zona crítica, toda a estrutura é homogeneizada como austenita.
Após o resfriamento ao ar, a estrutura final conta com novos grãos livres de
imperfeições, que surgiram no processo de recristalização. Grãos de perlita (fina)
e ferrita também podem ser observados na microestrutura.

4 TÊMPERA
O tratamento térmico conhecido como têmpera requer um resfriamento
brusco, normalmente em meio aquoso ou óleo, para um tratamento ainda mais
veloz, uma solução aquosa de água + NaCl (salmoura) pode ser aplicada.

O objetivo do tratamento térmico de têmpera é obtenção de uma estrutura


mais rígida, neste caso, estamos falando da martensita. No entanto, alguns cuidados
devem ser tomados durante o tratamento térmico de têmpera e muitos fatores irão
alterar o resultado.

4.1 FATORES IMPORTANTES


Uma alta temperatura de austenitização irá resultar em uma austenita mais
homogênea. Conforme citamos anteriormente, essa alta temperatura desloca as curvas
TTT para a direita, favorecendo a criação de austenita, em outras palavras, o aumento
da temperatura de austenitização resulta em um aumento da temperabilidade de
liga, porém, com consequente redução da tenacidade pós-têmpera.
171
UNIDADE 3 — TRATAMENTOS TÉRMICOS

E
IMPORTANT

Temperabilidade diz respeito à facilidade que um material tem em formar


martensita. Diz-se que um aço possui alta temperabilidade, quanto mais para a direita (tempos
mais longos) sua curva TTT aparece no diagrama.

O tempo de austenitização também afetará a temperabilidade do aço, como


também já foi citado, o tempo também será responsável pela homogeneização da
austenita. Existe uma regra prática que se deve aquecer uma hora por polegada de
espessura na temperatura de austenitização.

Existe um ensaio específico para determinarmos a temperabilidade dos


materiais metálicos, é o ensaio Jominy.

4.2 ENSAIO JOMINY


Este ensaio consiste em aquecer a peça até o campo austenítico e que
toda sua estrutura esteja homogeneizada. O corpo de prova do ensaio Jominy é
cilíndrico, e logo após ser retirado do forno na temperatura desejada, é posto em
um jato d’água à temperatura de 24 °C em uma das suas extremidades, de forma a
se obter um gradiente de resfriamento. A Figura 29 traz uma ilustração do ensaio.

FIGURA 29 – (A) ILUSTRAÇÃO ESQUEMÁTICA DO ENSAIO JOMINY E (B) ENSAIOS DE DUREZA


PÓS-RESFRIAMENTO

FONTE: Callister Jr. e Rethwisch (2016, p. 363)

172
TÓPICO 3 — TRATAMENTOS TÉRMICOS EM AÇOS

Após o resfriamento completo da peça, é feito um chanfro plano no corpo


cilíndrico seguido de vários ensaios de dureza Rockwell para determinação da
temperabilidade do material.

A Figura 30 ilustra a dureza retirada de quatro pontos diferentes no


ensaio, suas curvas de resfriamento também estão demonstradas.

FIGURA 30 – CURVAS DE RESFRIAMENTO DE 4 PONTOS NO ENSAIO JOMINY

FONTE: Smith e Hashemi (2013, p. 288)

O ponto A, mais próximo à extremidade da peça que sofreu o banho com o


jato de água, acabou produzindo uma estrutura martensítica, extremamente dura. O
ponto B, que está alguns milímetros mais afastado, obteve uma mistura de martensita
173
UNIDADE 3 — TRATAMENTOS TÉRMICOS

e perlita. O ponto C que se encontra cerca 0,5 polegada de distância da extremidade,


já obteve uma estrutura totalmente perlítica (fina), enquanto o ponto D, que está a 2,0
polegadas de distância da extremidade obteve uma estrutura de perlita grossa.

Dessa forma, quanto mais afastado da extremidade se conseguir a obtenção


de martensita, maior será a temperabilidade do aço em questão. Os elementos
de liga, como citamos anteriormente, de modo geral, deslocarão a curva para
direita, facilitando a obtenção de martensita. O gráfico da Figura 31 ilustra essa
temperabilidade dos aços alta liga.

FIGURA 31 – DIFERENTES CURVAS DE TEMPERABILIDADE DE AÇOS COM 0,4%P C

FONTE: Callister Jr. e Rethwisch (2016, p. 363)

Todos os aços apresentados na Figura 31 possuem a mesma composição


%p de C, no entanto, possuem elementos de liga distintos, com exceção do aço
AISI 1040, que é um aço não ligado e apresenta a menor temperabilidade entre
os aços apresentados. O aço que apresenta a melhor temperabilidade é o aço AISI
4340, com composição química 1,85%p Ni, 0,80%p Cr e 0,25 p Mo, além dos 0,4%p
C já citados. O diagrama TTT desse aço nós já estudamos nesta unidade, ele está
disponível na Figura 20 e é um aço facilmente temperável.

5 REVENIDO
Apesar de ser um dos tratamentos térmicos mais comuns, dificilmente,
na indústria, a têmpera é aplicada sozinha, isso porque a estrutura martensítica
criada é uma estrutura extremamente frágil e não possui tantas aplicações práticas,
devido ao alto grau de tensões internas provocadas por esse tratamento térmico.

174
TÓPICO 3 — TRATAMENTOS TÉRMICOS EM AÇOS

Neste sentido, surge o Revenimento, um tratamento térmico aplicado


pós-têmpera que visa ao alívio de tensões e aumento da ductilidade e tenacidade
dos aços temperados, renunciando a um certo grau de dureza. O tratamento
térmico de revenido está ilustrado na Figura 32.

FIGURA 32 – TRATAMENTO TÉRMICO DE TÊMPERA SEGUIDO DE REVENIDO

FONTE: Shackelford (2008, p. 234)

O revenido consiste em um aquecimento abaixo da temperatura eutetoide


pós-tratamento de têmpera para retirada das tensões internas provocadas pela
alteração microestrutural adifusional da austenita CFC em martensita TCC.

Segundo Chiaverini (1998), o revenido passa por diversos estágios,


vejamos eles a seguir. Em aços alto carbono, entre 25 e 100 °C, ocorre a segregação
e a redistribuição do carbono residual. Essa precipitação é pequena e pouco afeta
a dureza do material.

O 1° estágio do revenido ocorre entre 100 e 250 °C, quando acontece a


precipitação do carboneto de ferro ε, de fórmula Fe₂-3C, que possui reticulado
hexagonal; a dureza Rockwell começa a cair, podendo chegar a 60 HRC.

O 2° estágio ocorre entre 200 a 300 °C. Nesse estágio, a austenita retida na
martensita se transforma em bainita. Essa transformação ocorrerá apenas em aços
médio e alto carbono ligados. Nesse estágio, a dureza Rockwell continua a cair. A
dureza Rockwell segue decrescendo.

175
UNIDADE 3 — TRATAMENTOS TÉRMICOS

Entre 250 e 350 °C, ocorre o 3° estágio do revenido, onde acontece a


formação de outro carboneto metaestável (Fe₅C₂) em aços de alto carbono,
apresentando uma estrutura parecida com uma massa escura, que era chamada
“troostita”, atualmente, denominada de Carboneto de Hägg. No 3º estágio, a
dureza Rockwell segue caindo, atingindo valores próximos a 50 HRC.

Quando a temperatura atinge a faixa de 400 a 600 °C, a dureza Rockwell cai
para valores de 45 a 25 devido à recuperação das discordâncias e os aglomerados
de cementita passam a uma forma esferoidal, ficando mantida uma estrutura de
ferrita fina acicular.

Para aços ligados contendo Ti, Cr, Mo, V, Nb ou W, ocorre a precipitação


de carboneto de liga correspondente entre 500 e 600 °C, essa transformação é o 4°
estágio do revenido.

Para temperaturas entre 600 e 700 °C, ocorrerá a ocorrer a recristalização


e o crescimento de grão. Nessa faixa de temperaturas, a cementita precipitada
apresenta forma nitidamente esferoidal “esferoidita”, caracterizando por ser
muito tenaz e apresentar baixa dureza, cerca de 5 a 20 HRC.

Como visto nos estágios denominados anteriormente, a temperatura de


revenido dependerá da combinação de propriedades mecânicas que se deseja no
aço temperado (CHIAVERINI, 1998).

A microestrutura obtida após o revenido é a martensita revenida. Ela


pode ser observada na Figura 33.

FIGURA 33 – MICROGRAFIA DA MARTENSITA REVENIDA A 594 °C

FONTE: Callister Jr. e Rethwisch (2016, p. 320)

A martensita TCC, que está saturada de carbono, após receber energia térmica,
acaba sofrendo o processo de difusão e se transforma em um microconstituinte
formado por duas fases, a ferrita e a cementita. Na micrografia, os pontos são de Fe₃C,
enquanto a matriz é ferrítica.
176
TÓPICO 3 — TRATAMENTOS TÉRMICOS EM AÇOS

Analisando a micrografia, você pode notar uma semelhança com a


esferoidita, no entanto, a partículas na martensita revenida são muito menores.
Além disso, a martensita revenida apresenta dureza apenas um pouco menor que
a martensita, porém apresenta maior tenacidade e ductilidade. Isso se explica por
haver grande quantidade de cementita na microestrutura dispersas em uma grande
área de matriz ferrítica. A ferrita apresenta elevada ductilidade e boa tenacidade,
enquanto as numerosas e pequenas partículas de Fe₃C aumentam a dureza do
material enquanto atuam como barreiras das discordâncias (CALLISTER JR.;
RETHWISCH, 2016).

A relação entre a temperatura de revenimento e a dureza obtida ao final do


processo, como já vimos, é muito importante. A seguir, na Figura 34, é apresentada
essa relação graficamente.

FIGURA 34 – RELAÇÃO DA DUREZA DA MARTENSITA REVENIDA EM FUNÇÃO DA TEMPERATU-


RA DO REVENIDO

FONTE: Disponível em: <https://bit.ly/3qV9wFO>. Acesso em: 16 dez. 2020.

Analisando o gráfico anterior (Figura 34) é possível perceber a clara


dependência da dureza em função da temperatura de revenido, nesse ponto é
visto que a queda de dureza é ainda mais acentuada para aços com maior teor de
C, visto que a maioria dos estágios do revenido ocorre para aços com maior %p C.

5.1 FRAGILIDADE AO REVENIDO


Apesar de muito importante para aplicação mecânica dos aços temperados,
o revenido também pode acarretar alguns problemas ao metal, se alguns cuidados
não forem observados.

177
UNIDADE 3 — TRATAMENTOS TÉRMICOS

A fragilidade do revenido, também conhecida como fragilidade ao


azul, é uma fragilização da estrutura que ocorre em determinados tipos de liga,
principalmente, aços ligados ao Cr, Mn e Ni, em uma determinada faixa de
temperatura, normalmente entre 375 e 575 °C.

Basicamente, a presença desses elementos de liga e de impurezas acabam


deslocando a transição dúctil-frágil para temperaturas significativamente mais
altas. Os elementos de liga e as impurezas segregam preferencialmente nesses
contornos de grão, desse modo, a propagação de trinca dos materiais fragilizados
é intergranular, ou seja, ocorre ao longo dos contornos dos grãos (CALLISTER JR.
E RETHWISCH, 2016).

A fragilidade de revenido pode ser evitada por:

• controle de composição; e/ou


• revenimento acima de 575 °C ou abaixo de 375 °C, seguido por têmpera até a
temperatura ambiente.

Além disso, a tenacidade de aços que se tornaram fragilizados pode ser


melhorada significativamente pelo aquecimento até cerca de 600 °C seguido de um
rápido resfriamento abaixo de 300 °C (CALLISTER JR.; RETHWISCH, 2016).

TUROS
ESTUDOS FU

Mais à frente, no texto da Leitura Complementar desta unidade, serão


abordadas mais informações sobre o fenômeno de fragilidade ao revenido, então não se
esqueça de conferir!

Além do revenido, outros tratamentos térmicos alternativos podem ser


aplicados ao aço, visando aliar dureza e certo grau de ductilidade e tenacidade.
Vejamos dois deles a seguir.

6 MARTÊMPERA
No tratamento térmico de martêmpera é feito um patamar de temperatura
durante o resfriamento, logo acima da temperatura de transformação martensítica.
O motivo desse patamar é justamente uniformizar as temperaturas no interior da
peça, de forma a diminuir a tensão residual proveniente do processo de têmpera.
Logo em seguida e feito um resfriamento total da peça.

178
TÓPICO 3 — TRATAMENTOS TÉRMICOS EM AÇOS

Após isso também é aplicado um tratamento de revenido. Um processo


semelhante, denominado martêmpera modificado, em que um patamar é aplicado
dentro da zona de martensítica, também seguido de resfriamento e posterior
revenido. A ilustração do diagrama do processo de martêmpera pode ser visto na
Figura 35.

FIGURA 35 – DIAGRAMA ILUSTRATIVO DO TRATAMENTO TÉRMICO DE MARTÊMPERA SEGUI-


DO DE REVENIDO

FONTE: Shackelford (2008, p. 235)

Analisando o diagrama apresentado é possível observar que a transformação


martensítica ocorre ao mesmo tempo, no interior e na superfície da peça, diferente do
processo de têmpera convencional. Essa transformação homogênea irá diminuir as
tensões internas no material e diminuir problemas com empenamento e trincas.

7 AUSTÊMPERA
Outro método alternativo à têmpera convencional, visando justamente
acabar com problemas de trincas provenientes do processo, é a austêmpera.
Diferente da têmpera e da martêmpera, a vantagem da austêmpera é a remoção de
uma etapa posterior, o revenido. Isso ocorre, pois, o objetivo da austêmpera não é
formação de martensita, mas sim a formação de bainita. Dessa forma, é executado
um patamar de temperatura logo acima da temperatura de formação da martensita.

Ao invés de prosseguir com o resfriamento após homogeneização da


peça, como é feito na martêmpera, é feito um patamar mais longo, de forma a
toda a estrutura se transformar em bainita inferior. A ilustração do diagrama do
processo de austêmpera pode ser visto na Figura 36.
179
UNIDADE 3 — TRATAMENTOS TÉRMICOS

FIGURA 36 – DIAGRAMA ILUSTRATIVO DO TRATAMENTO TÉRMICO DE AUSTÊMPERA

FONTE: Shackelford (2008, p. 236)

Você deve ter percebido que para ilustração dos processos de têmpera,
martêmpera e austêmpera foi utilizado um diagrama TTT com aço de composição
eutetoide para simplificar o entendimento dos processos. No entanto, esses
tratamentos podem ser indicados às mais diferentes composições de ligas.

É claro que para algumas composições de liga, eles também podem não
ser recomendados. Podemos citar um caso estudado aqui, o do aço AISI 4340.
Se analisarmos o diagrama TTT desse aço, vemos que os elementos de ligas
promoveram um deslocamento do joelho de formação da bainita. Então, para esse
aço, não é necessário um tratamento isotérmico de austêmpera para a produção
de bainita. Um simples resfriamento contínuo no meio adequado irá promover o
aparecimento da estrutura bainítica.

8 PATENTEAMENTO
Existe outro tratamento isotérmico (em que aplicado um patamar de
temperatura) que vale a pena citar, o patenteamento. Nesse caso, o objetivo não
é a formação de martensita, ou martensita revenida ou até mesmo de bainita
inferior. No patenteamento, o objetivo é a formação de uma estrutura homogênea
de perlita fina ou até mesmo bainita superior. Uma ilustração do diagrama do
processo de patenteamento é apresentada, a seguir, na Figura 37.

180
TÓPICO 3 — TRATAMENTOS TÉRMICOS EM AÇOS

FIGURA 37 – DIAGRAMA TTT PARA O TRATAMENTO TÉRMICO DE PATENTEAMENTO DE UMA


LIGA FERROSA DE COMPOSIÇÃO EUTETOID

FONTE: Adaptada de Callister Jr. e Rethwisch (2016, p. 310)

Para atingir patamares de temperaturas maiores, o patenteamento é


realizado em banhos de chumbo ou algum sal fundido, com temperaturas que
variam de 450 a 550 °C.

9 ENDURECIMENTO POR PRECIPITAÇÃO


Um tratamento térmico utilizado para aumentar a dureza e a resistência
mecânica de várias ligas é conhecido como Endurecimento por Precipitação.
Esse método consiste em aplicar o tratamento térmico adequado visando que
elementos da liga formem fases secundárias e precipitem-se de forma dispersa
na matriz metálica. Esse processo também é conhecido como endurecimento por
envelhecimento, pois o número de precipitados tende ao aumentar com o passar
do tempo ou como o nome diz, aumenta conforme a liga envelhece.

Para que o endurecimento por precipitação ocorra, são necessárias algumas


condições. É preciso que haja um limite de solubilidade apreciável de um elemento
no outro e que esse limite diminua rapidamente com a redução da temperatura.

Como visto, duas condições são necessárias para que ocorra o endurecimento
por precipitação. Dessa forma, podemos dividir esse processo em dois tratamentos
térmicos distintos, um tratamento térmico de solubilização e outro tratamento
térmico de precipitação. Vamos exemplificar esses dois tratamentos com base no
diagrama hipotético apresenta na Figura 38.

181
UNIDADE 3 — TRATAMENTOS TÉRMICOS

FIGURA 38 – DIAGRAMA DE FASES HIPOTÉTICA DE A E B

FONTE: Callister Jr. e Rethwisch (2016, p. 372)

9.1 TRATAMENTO TÉRMICO DE SOLUBILIZAÇÃO


O tratamento consiste em formar uma solução monofásica, dissolvendo todos
os átomos de um soluto. Neste caso, considere uma liga com composição C₀, composta
por α + β na temperatura ambiente (T₁), é aquecida até a temperatura T₀, conforme
Figura 38. O tempo de permanência na temperatura T0 deverá ser suficiente para que
toda a fase β seja dissolvida em α. Em seguida, é realizado um resfriamento rápido
até a temperatura T₁. O resultado será uma solução sólida da fase α supersaturada
átomos de B, uma vez que o resfriamento rápido não deu tempo suficiente para
que os átomos se reorganizassem e formassem a fase β rica em B, e como a taxa de
difusão, para a maioria das ligas, na temperatura ambiente são relativamente baixas,
os átomos de B permanecerão em solução sólida supersaturada de α. Vale destacar
que nesse estado a liga apresenta ductilidade relativamente alta e pouca resistência
mecânica (CALLISTER JR.; RETHWISCH, 2016).

9.2 TRATAMENTO TÉRMICO DE PRECIPITAÇÃO


O tratamento térmico por precipitação funciona da seguinte maneira:
a solução sólida α, que está supersaturada de átomos de B, é aquecida até uma
temperatura intermediária, que vamos chamar de T₂, que está em uma região bifásica
(α + β). Nesse faixa de temperaturas, após determinado tempo, precipitados finos
de β começam a se dispersar, pois a esta temperatura, há energia suficiente para
o processo de difusão. Após passado o tempo requerido, denominado tempo de
envelhecimento, ocorre o resfriamento até a temperatura ambiente (CALLISTER
JR.; RETHWISCH, 2016).

Os tratamentos térmicos de solubilização e precipitação estão ilustrados


graficamente na Figura 39.

182
TÓPICO 3 — TRATAMENTOS TÉRMICOS EM AÇOS

FIGURA 39 – ILUSTRAÇÃO GRÁFICA DE TEMPERATURA E FUNÇÃO DO TEMPO DOS TRATAMENTOS


TÉRMICOS DE SOLUBILIZAÇÃO E PRECIPITAÇÃO

FONTE: Callister Jr. e Rethwisch (2016, p. 373)

Os precipitados formados em T₂ são barreiras de discordância e elevam


o endurecimento da liga. A resistência mecânica irá crescer ao longo do tempo
até atingir um máximo, então começará a decrescer. Essa redução na resistência
mecânica e na dureza que ocorre após longos períodos é conhecida como
superenvelhecimento (CALLISTER JR.; RETHWISCH, 2016).

No superenvelhecimento, os precipitados formados são mais grosseiros, em


comparação aos finos precipitados produzidos no envelhecimento. Essa estrutura
mais grosseira é menos eficaz como barreira do movimento de discordâncias,
levando a uma menor resistência mecânica, se comparada a da liga envelhecida
(SHACKELFORD, 2008). O processo de superenvelhecimento está ilustrado na
Figura 40.

FIGURA 40 – ILUSTRAÇÃO DA PRECIPITAÇÃO NO PROCESSO DE SUPERENVELHECIMENTO

FONTE: Shackelford (2008, p. 240)

183
UNIDADE 3 — TRATAMENTOS TÉRMICOS

Os precipitados maiores, demonstrados na Figura 40, formados por


resfriamento lento afetam muito pouco a dureza da liga. A influência da temperatura
em função do tempo de envelhecimento está demonstrada na Figura 41.

FIGURA 41 – INFLUÊNCIA DO TEMPO DE ENVELHECIMENTO NA RESISTÊNCIA MECÂNICA OU


DUREZA DE UMA LIGA ENVELHECIDA OU SUPERENVELHECIDA

FONTE: Callister Jr. e Rethwisch (2016, p. 374)

Dessa forma, é possível obter diferentes propriedades mecânicas para


diferentes microestruturas, dependendo do uso do tratamento térmico adequado.

184
TÓPICO 3 — TRATAMENTOS TÉRMICOS EM AÇOS

LEITURA COMPLEMENTAR

FRAGILIZAÇÃO AO REVENIDO

Introdução

A fragilização ao revenido é a redução da tenacidade, em temperaturas


próximas do ambiente, devido à alteração metalúrgica, que pode ocorrer em
alguns aços de baixa liga Cr-Mo, como resultado da exposição em longo prazo na
faixa de temperaturas de 340 °C a 580 °C.

Essa alteração causa um deslocamento para cima na temperatura de


transição dúctil-frágil do aço, conforme pode ser constatado pelo teste de impacto
tipo Charpy. Embora a perda de tenacidade não seja evidente na temperatura de
operação, o equipamento que é fragilizado pelo revenido pode ser suscetível a
fraturas frágeis, nas temperaturas baixas, que ocorrem durante a partida e a parada.

A fragilização ao revenido é um processo de perda de tenacidade que os


aços baixa liga Cr-Mo, tipicamente utilizados na fabricação de vasos, reatores
e permutadores de calor de alta pressão, apresentam quando expostos durante
algum tempo a temperaturas entre 340 °C e 580 °C, sendo função da composição
química do aço, presença de elementos fragilizantes, tais como Si, Mn, P, Sn, Sb e
As, e da microestrutura do aço.

As características mais marcantes são:

• A fragilização por revenido é uma mudança metalúrgica que não é prontamente


aparente, mas pode ser confirmada e monitorada através de testes de impacto
em corpos de prova do aço.
• Danos causados por fragilização ao revenido podem resultar em fratura frágil
e danos catastróficos.
• A fragilização ao revenido é caracterizada por um deslocamento para cima na
temperatura de transição dúctil-frágil, medida em um teste de impacto Charpy
com entalhe em V (V notch), em comparação com o material não fragilizado.
• Manifesta-se por uma fragilização intergranular sob altas taxas de deformação
em temperaturas abaixo de 175 °C, devido à precipitação de impurezas
nos contornos de grãos, com aumento na temperatura de transição do
comportamento dúctil-frágil.
• Em geral, o nível máximo de fragilização ocorre após cerca de 50.000 horas
de operação.
• As fractografias de microscopia eletrônica de material fragilizado com
severidade pelo revenido mostram principalmente trincas intergranulares
devido à presença e segregação de impurezas nos limites de grãos.

185
UNIDADE 3 — TRATAMENTOS TÉRMICOS

Os fatores críticos desse mecanismo de deterioração são:

• Composição do aço liga; histórico térmico do material (tratamentos térmicos


durante a fabricação); temperatura de trabalho do metal e tempo de exposição
são fatores críticos.
• A suscetibilidade à fragilização ao revenido é largamente determinada pela
presença dos elementos de liga tais como Manganês e Silício, e os elementos
considerados impurezas Fósforo, Estanho, Antimônio e Arsênico.
• A fragilização pelo revenido de aços 2.25Cr-1Mo se desenvolve mais
rapidamente a 482 °C (900 °F) do que na faixa de 427 °C a 440 °C (800 °F a 850
°F), mas o dano é mais severo após exposição em longo prazo a 440 °C (850 °F).
• Algumas fragilizações podem ocorrer durante os tratamentos térmicos de
fabricação, mas a maioria dos danos ocorre ao longo de muitos anos de serviço
na faixa de temperatura de fragilização.
• Essa forma de dano, fragilização pelo revenido, reduz significativamente a
integridade estrutural de um componente contendo uma trinca, devido à
perda de tenacidade.

Os materiais afetados são os seguintes:

• Principalmente os aços de baixa liga 2.25Cr-1Mo, 3Cr-1Mo (em menor grau) e


a aços de baixa liga de alta resistência como os aços Cr-Mo-V.
• Os aços 2.25Cr-1Mo de geração mais antiga, isto é, fabricados antes de 1972
podem ser particularmente suscetíveis.
• Os aços liga C-0.5Mo, 1Cr-0.5Mo e 1.25Cr-0.5Mo não são significativamente
afetados pela fragilização ao revenido. Entretanto, outros mecanismos de
danos causados por altas temperaturas promovem mudanças que podem
alterar a tenacidade ou ductilidade em alta temperatura desses materiais.
Consulte as Normas API 934-C e API 934-D para informações adicionais.
• Os materiais consumíveis de solda são geralmente mais afetados.

Prevenção da fragilização pelo revenido em materiais existentes

A fragilização por revenido não pode ser evitada se o material contiver


níveis críticos de impurezas de elementos fragilizantes e está exposto na faixa de
temperatura de fragilização, 340 ºC e 580 °C.

a) Para minimizar a possibilidade de fratura frágil durante a partida e parada,


muitos refinadores usam sequência de pressurização própria para limitar
a pressão do sistema a cerca de 25% da pressão máxima de projeto, em
temperaturas abaixo de uma Temperatura Mínima de Pressurização (MPT –
Minimum Pressurization Temperature). Note que o MPT não é um único ponto,
mas sim um faixa de pressão-temperatura que define condições seguras de
operação, para minimizar a probabilidade de fratura frágil.

186
TÓPICO 3 — TRATAMENTOS TÉRMICOS EM AÇOS

b) A MPT geralmente varia de 171 ºC (350 ºF) para os aços mais antigos e mais
altamente fragilizados, até abaixo de 52 ºC (125 ºF) ou menos para aços mais
novos, resistentes à fragilização ao revenido.
c) Se forem necessários reparos de solda, os efeitos da fragilização por revenido
podem ser temporariamente revertidos por aquecimento a 620 °C (1150 °F) por
duas horas por polegada de espessura, e resfriamento rápido à temperatura
ambiente. É importante notar que a refragilização ocorrerá ao longo do tempo,
se o material é reexposto à faixa de temperatura de fragilização.

FONTE: Adaptado de <http://www.petroblog.com.br/wp-content/uploads/Fragiliza%C3%A7%-


C3%A3o-ao-revenido.pdf>. Acesso em: 17 dez. 2020.

187
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:

• Diversos tratamentos térmicos podem ser aplicados em aços.

• Os principais tratamentos térmicos aplicados em aços são recozimento,


normalização, têmpera, revenido, martêmpera e austêmpera.

• O objetivo do recozimento é alívio de tensões residuais, aumento da


tenacidade, ductilidade e usinagem do material, bem como a produção de
microestrutura específica, e seu resfriamento é feito dentro do forno.

• O tratamento de recozimento pode ser dividido em pleno, subcrítico, alívio


de tensões e em caixa. Os três primeiros diferenciam-se pelos patamares de
temperaturas aplicados enquanto o último diz respeito a atmosfera protetora
que é aplicada.

• O microconstituinte esferoidita é o produto do recozimento para esferoidização.

• O processo de normalização é muito semelhante ao recozimento pleno,


porém com o objetivo de formação de uma estrutura mais refinada e com
melhores propriedades de resistência mecânica e dureza. O seu resfriamento
é realizado ao ar.

• O tratamento térmico de têmpera constitui-se de um resfriamento brusco


visando à obtenção de martensita, normalmente é realizado em meio aquoso
ou em óleo, ou até mesmo em salmoura.

• A temperabilidade é a facilidade do material em produzir martensita através


do seu resfriamento e que essa propriedade é afetada pela temperatura e
tempo de austenitização, bem como os elementos de ligas do material.

• O ensaio Jominy é o ensaio realizado para verificar a temperabilidade da peça


e ele consiste em um corpo de prova cilíndrico que exposto a um jato de água
à temperatura ambiente. Posteriormente, são feitas marcações para verificar
a dureza do material.

• Apesar de muito aplicada na indústria, dificilmente o produto da têmpera é


utilizado sem o tratamento térmico de revenimento.

• O revenido tem diversos estágios em função da temperatura, e o que definirá


a temperatura de revenido será a dureza final pretendida.

• A fragilidade ao revenido ocorre normalmente em aços ligados, devido à


segregação dos elementos de liga e de impurezas no contorno de grão, em
uma faixa específica de temperaturas.
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• O produto da têmpera é a martensita, enquanto o produto do revenido é a
martensita revenida.

• O tratamento de martêmpera é uma alternativa ao tradicional tratamento de


têmpera, onde um patamar de temperatura é executado acima da temperatura
martensítica, com o objetivo de homogeneizar a temperatura de toda a peça,
seguido de um resfriamento.

• A austêmpera é outro tratamento alternativo à têmpera, que visa à obtenção


de uma estrutura bainítica, através de um patamar mais longo, logo acima da
temperatura de transformação martensítica.

• O tratamento de patenteamento visa à obtenção de perlita fina ou bainita


superior, através de um patamar em temperaturas próximas a 450 e 500 °C.

• O endurecimento por envelhecimento pode ocorrer através de dois


tratamentos térmicos distintos, de solubilização e de precipitação.

CHAMADA

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AUTOATIVIDADE

1 O tratamento térmico de têmpera tem uma grande importância industrial.


A têmpera em aços ligas altera propriedades mecânicas. Sobre a têmpera,
assinale a alternativa CORRETA:
FONTE: <https://bit.ly/3pTYfEq>. Acesso em: 10 fev. 2021.

a) ( ) A têmpera produz um aumento da ductilidade de ligas de aço.


b) ( ) A têmpera provoca uma redução das tensões internas.
c) ( ) A têmpera reduz a resistência à tração.
d) ( ) A têmpera aumenta a dureza.

2 Os tratamentos térmicos em metais consistem em um aquecimento e


resfriamento realizado, com o intuito de alterar as suas propriedades físicas
e mecânicas, sem mudar sua composição química. No que diz respeito aos
tratamentos térmicos, analise as sentenças a seguir:
FONTE: Adaptado de <https://www.qconcursos.com/questoes-de-concursos/disciplinas/
mecanica-mecanica/questoes?page=29>. Acesso em: 10 fev. 2021.

I- O alívio de tensões surgidas nos trabalhos de deformação a frio, soldagem


ou usinagem em materiais metálicos é feito com a têmpera.
II- Recozimento é um processo de tratamento térmico do aço destinado à
obtenção de dureza, diminuindo seu desgaste, e baseia-se no resfriamento
brusco após o aço ser retirado do forno.
III- O revenimento tem a finalidade de corrigir a dureza excessiva da têmpera
e aliviar ou remover as tensões internas. O revenimento é, portanto, um
processo sempre posterior à têmpera.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) Somente a sentença I está correta.
b) ( ) Somente a sentença II está correta.
c) ( ) Somente a sentença III está correta.
d) ( ) As sentenças II e III estão corretas.

3 O tratamento térmico de recozimento possui algumas variações, dependendo


da estrutura que se deseja obter. Neste sentido, explique o que é o recozimento
subcrítico? Qual é a estrutura que se deseja obter?

4 Quais são as diferenças na temperatura de aquecimento entre os tratamentos


de normalização, recozimento pleno e esferoidização? Por que no recozimento
pleno não se utiliza o aquecimento acima da linha Acm?

5 A temperabilidade é a capacidade do material em formar martensita. Quais são


os fatores que afetam a temperabilidade dos aços? De que forma eles agem?

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6 Normalmente, quando falamos do tratamento térmico de têmpera, devemos
também falar do tratamento térmico de revenimento. Neste sentido, qual é
a função do revenido? Disserte sobre a fragilidade ao azul.

7 No diagrama TRC (CCT) a seguir, desenhe as curvas que geram os tratamentos


de normalização, recozimento pleno e têmpera (seguido de revenido). Qual é
o objetivo e quais são as estruturas resultantes de cada tratamento?

FONTE: Adaptado de Callister Jr. e Rethwisch (2016)

FONTE: Adaptado de Callister Jr. e Rethwisch (2016)

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8 Tratamentos térmicos nos aços é uma prática comum realizada, com o
objetivo de alterar os níveis de resistência mecânica, dureza, ductilidade e
tenacidade. Dessa forma, com relação aos tratamentos térmicos, assinale a
alternativa CORRETA:
FONTE: Adaptado de <https://bit.ly/2MmUcmz>. Acesso em: 10 fev. 2021>.

a) ( ) Os tratamentos térmicos apenas são realizados quando se deseja


aumentar a dureza e a resistência mecânica dos aços.
b) ( ) Em composição de 0,76% de C, a microestrutura formada pelo
resfriamento lento e controlado do aço consiste em camadas alternadas
de ferrita e cementita. Essa estrutura é conhecida por perlita.
c) ( ) Temperabilidade é um termo empregado para descrever a habilidade
de uma liga ser endurecida pela formação da cementita.
d) ( ) Ligas de aço hipereutetoides contém entre 0,0022% e 0,76% de carbono
em sua composição.

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REFERÊNCIAS
ASM International. Asm handbook: Heat Treating.10. ed. Russell Township:
ASM Intl, 1991.

CALLISTER JR; W. D.; RETHWISCH, D. G. Ciência e engenharia de materiais:


uma introdução. 9. ed. São Paulo: LTC, 2016.

CHIAVERINI, V. Aços e ferros fundidos. 7. ed. São Paulo: ABM, 2008.

CHIAVERINI, V. Aços e ferros fundidos. 6. ed. São Paulo: ABM, 1998.

SHACKELFORD, J. F. Introdução à ciência dos materiais. 6. ed. São Paulo: Pearson


Education do Brasil, 2008.

SMITH, W. F.; HASHEMI, J. Fundamentos de engenharia e ciência dos materiais.


Porto Alegre: AMGH, 2013.

TOTTEN, G. E. Steel heat treatment handbook. 2. ed. Boca Raton: Taylor & Francis
Group, 2006.

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