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Química Orgânica II

Aula 1

Estereoquímica em reações químicas

Bibliografia:
Química Orgânica – M. G. Constantino – v. 2 – Cap. 2.1-2.4
Organic Chemistry – Clayden, Greeves, Warren, Wothers – Cap. 34
Química Orgânica – Vollhardt & Schore – 4 ed.
Química Orgânica – Solomons & Fryhle – 8 ed.

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Relação entre isômeros:

Estereoquímica ⇒ dedica-se ao
estudo das relações tridimensionais
das moléculas orgânicas.

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1. Estereoisomerismo
Moléculas que apresentam a mesma fórmula estrutural, mas que são duas substâncias
diferentes. As estruturas diferem apenas na disposição espacial dos substituintes.
As moléculas são chamadas de estereoisômeros.

1.1. Isomerismo geométrico


• Observada em compostos com ligações dupla; também conhecido como isomerismo
cis/trans ou E/Z
(será discutido em mais detalhes na aula de alcenos)

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• Também é observado em compostos cíclicos (ver adiante).
1.2. Isomeria óptica
• Observada em moléculas quirais.

QUIRALIDADE é uma propriedade puramente geométrica. Uma molécula (ou qualquer


objeto) é quiral quando não é superponível à sua imagem em um espelho plano.

Quiral ⇒ do grego: χειροσ (quiros) = mão

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Moléculas quirais e relação objeto-imagem (enantiomerismo)
Analise a figura abaixo: o 2-bromobutano é uma molécula quiral, enquanto o 2-bromo-2-
metilbutano é aquiral (Construa modelos moleculares para verificar a relação de objeto-
imagem).

Compostos quirais ⇒ imagem especular não superponível


Compostos aquirais ⇒ imagem especular superponível

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Como determinar se uma molécula é quiral?

1. A condição necessária para uma molécula ser quiral é que ela não seja superponível a
sua imagem em um espelho plano.
2. A presença de um carbono estereogênico é condição suficiente, mas não exclusiva,
para a presença de quiralidade.
3. É necessário que não haja um plano de simetria na molécula!

CARBONO ESTEREOGÊNICO ⇒ átomo de carbono com 4 ligantes diferentes


PLANO DE SIMETRIA ⇒ plano imaginário que corta uma molécula em duas metades. Cada
metade é a imagem especular uma da outra.

Os dois enantiômeros do 2-
butanol (representados em
fórmula em perspectiva); a Os dois enantiômeros do 2-butanol não são
molécula apresenta um centro superponíveis e não há um plano de
estereogênico. simetria na molécula, portanto ela é quiral!

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Enantiômeros não são superponíveis!

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O 1,2-di-hidróxi-ciclopropano apresenta
carbonos estereogênicos mas não é quiral,
pois há um plano de simetria na molécula!
O 2,3-dibromobutano apresenta carbonos
estereogênicos mas não é quiral; também
há um plano de simetria na molécula!

UMA MOLÉCULA COM UM


PLANO DE SIMETRIA
NUNCA SERÁ QUIRAL!
Compostos espiro são quirais, pois não há
plano de simetria na molécula (veja que os
anéis estão perpendiculares um ao outro).

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Estereoisomerismo em moléculas cíclicas

Nos 1,3-dimetilcicloexanos isoméricos


não há plano de simetria e a molécula é
quiral

Nos 1,4-dimetilcicloexanos isoméricos


há plano de simetria e a molécula não é
quiral

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3. Qual a importância da quiralidade?
Nos sistemas biológicos existem inúmeras moléculas quirais. Exemplo: aminoácidos,
açúcares, DNA etc.

L-alanina
Os aminoácidos naturais
têm configuração definida.

Lactose
Um dissacarídeo formado
A dupla hélice da pela junção β-1,4’ de uma
molécula do DNA. molécula de D-galactose
e uma de D-glicose.

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O reconhecimento molecular em sistemas biológicos é fortemente dependente da estrutura
tridimensional das moléculas (exemplo: interação fármaco-receptor). Vários compostos com
atividades biológicas importantes são quirais e, frequentemente, a atividade está relacionada
a apenas um único estereoisômero.

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A (R)-(-)-carvona tem aroma de hortelã
enquanto seu enantiômero, (S)-(+)-
carvona tem aroma de cominho.

Talidomida
Fármaco utilizado durante a década de 60, na forma
racêmica, para aliviar a náusea matinal em mulheres
grávidas. Isto acarretou no nascimento de cerca de 12000
crianças com deformações congênitas!

isômero S é teratogênico e isômero R é sedativo e


analgésico

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3. Propriedades físicas dos enantiômeros
Enantiômeros possuem propriedades físicas e químicas idênticas, tais como ponto de
ebulição, ponto de fusão, velocidade de reação, densidade etc. No entanto, a interação de
cada enantiômero com a luz polarizada é diferente, e esta propriedade é chamada de
atividade óptica.

Compostos quirais desviam o plano da luz polarizada → são opticamente ativos


Compostos aquirais não desviam o plano da luz polarizada → são opticamente
inativos.

A interação da luz polarizada com uma substância quiral promove rotação do plano de polarização, e
essa rotação é chamada de rotação óptica. Quando o plano da luz plano polarizada passa por uma
solução contendo um enantiômero, esse plano rotaciona-se no sentido horário ou anti-horário:

Rotação (α) no sentido horário → enantiômero (+) → enantiômero dextrorrotatório


Rotação (α) no sentido anti-horário → enantiômero (-) → enantiômero levorrotatório

latim: dexter = direito e laevus = esquerdo 14


Polarímetro

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Rotação específica
O polarímetro mede o desvio óptico de um determinado composto. Compostos opticamente
ativos apresentam uma rotação específica característica.

rotação
específica
[α] = rotação específica
α = rotação observada
l = tamanho da cela em decímetros (dm)
c = concentração da solução em g mL-1
T é a temperatura em °C
λ = o comprimento de onda (lâmpada de sódio = 589,6 nm)

Exercício. Um composto (0,3 g) é dissolvido em clorofórmio em um volume total de 10 mL.


Quando esta solução é colocada em um tubo de 20 cm mostra rotação óptica observada de +
7,52o na linha do sódio a 25oC. Qual a rotação específica deste composto?

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Misturas equimolares de enantiômeros são opticamente inativas
Soluções contendo 50% de um enantiômero e 50% de outro enantiômero não promovem o
desvio da luz plano-polarizada; são, portanto, opticamente inativas. Quando existe uma
mistura racêmica, esta deve ser designada com o sinal (±).

Por exemplo: (±)-2-butanol.

Misturas racêmicas são misturas equimolares de


um par de enantiômeros; são opticamente inativas!

A designação D no símbolo da rotação


específica denota a utilização de uma
lâmpada de sódio no polarímetro, com
comprimento de onda (λ) igual a 589,6 nm.
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4. Excesso enantiomérico
Podem existir mistura enriquecidas em um dos enantiômeros e esta apresentará, portanto,
atividade óptica. É possível calcular a pureza óptica de uma mistura, considerando:

O excesso enantiomérico pode ser calculado:

O excesso enantiomérico de uma amostra de 2-butanol com rotação específica observada de


+ 6,76o é igual a 50%. O enantiômero enriquecido é o (S)-(+)-2-butanol (isômero
dextrorrotatório).

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5.2. Sistema D/L
Antes do desenvolvimento da técnica de difração de RX, a configuração absoluta das
moléculas quirais foi estabelecida arbitrariamente por Fischer e Rosanoff. Para isso, foi
utilizado a nomenclatura D e L, a qual ainda hoje é muito utilizada para açúcares e α-
aminoácidos.
Na época (década de 1890) foi atribuído para o arranjo estrutural do enantiômero dextrógiro
do gliceraldéido a letra D, e ao levógiro a letra L. As configurações dos outros compostos
quirais são estabelecidas através de reação para correlação química com as estruturas do
gliceraldeído.

O monossacarídeo cujo
estereocentro com maior número
(cadeia linear) tem a mesma
configuração do gliceraldeído D
ou L é denominado D ou L –
monossacarídeo.

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Projeções de Fischer
As projeções de Fischer são um modo simplificado de representar o carbono tetraédrico e
seus substituintes em duas dimensões. Ela é muito utilizada para representar açúcares e
aminoácidos.

Nas projeções de
Fischer as linhas
verticais
representam os
grupos orientados
para trás do plano
enquanto as linhas
horizontais os
grupos orientados
para frente do plano.

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6. Moléculas com mais de um centro estereogênico
O número total de estereoisômeros possíveis para um dado composto é dependente do
número de centros estereogênicos existente na estrutura molecular. Pode ser calculado por:

No de estereoisômeros possíveis = 2n

onde n = no de estereocentros

A molécula do colesterol possui 8 carbonos estereogênicos e poderia existir como


256 estereoisômeros possíveis; entretanto trata-se de um único estereoisômero!

(3S,8S,9S,10R,13R,14S,17R)-2,3,4,7,8,9,10,11,12,13,14,15,16,17-tetradecaidro-
10,13-dimetil-17-((R)-6-metil-heptan-2-il)-1H-ciclopenta[a]fenantren-3-ol

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Calcule o número de estereoisômeros possíveis para o 2,3-dibromopentano, desenhe
estruturas em projeção tridimensional e depois em Fischer para todos eles e atribua a
configuração de todos os carbonos estereogênicos.

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Compostos meso (ou mesógiros)
São compostos aquirais e opticamente inativos, pois existe um plano de simetria na molécula.
Considere as quatro estruturas como possíveis estereoisômeros para o 2,3-dibromobutano.

Estas duas estruturas representam


o mesmo composto – composto
meso – pois há um plano de
simetria que secciona a molécula
horizontalmente em duas partes
iguais.
São superponíveis!

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Também existem compostos meso cíclicos

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Os quatro estereoisômeros possíveis para o 3-bromo-2-butanol
(utilizando fórmulas em perspectiva)

Os quatro estereoisômeros possíveis para o 3-bromo-2-butanol


(utilizando projeções de Fischer)
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Exercício. Calcule o número de estereoisômeros possíveis para o ácido tartárico (ácido 2,3-
diidroxi-butanodióico), desenhe estruturas em projeção tridimensional e depois em Fischer
para todos eles e atribua a configuração de todos os carbonos estereogênicos.

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