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AULA
chando na pontuação!
Helena Feres Hawad
Metas da aula
Explicar o emprego do ponto e vírgula, dos dois-
-pontos, dos parênteses e do travessão.
objetivos
INTRODUÇÃO Talvez você conheça a brincadeira popular que se faz com o seguinte texto:
Esse texto, apresentado assim, não faz sentido. No entanto, basta acrescen-
tar a ele dois sinais de pontuação para que fique perfeitamente claro. Tente
pontuá-lo antes de prosseguir na leitura desta introdução.
Para que o texto faça sentido, precisamos usar uma das seguintes possibili-
dades de pontuação:
• Um fazendeiro tinha um bezerro e a mãe. Do fazendeiro, era também
o pai do bezerro.
• Um fazendeiro tinha um bezerro e a mãe; do fazendeiro, era também
o pai do bezerro.
Na primeira alternativa, empregamos um ponto para criar um limite entre
duas frases distintas. Na segunda alternativa, mantivemos todo o texto como
uma só frase, mas a dividimos em duas partes, cada uma completa em si
mesma – para isso, empregamos o sinal ponto e vírgula. Em ambos os casos,
separamos o termo “do fazendeiro” com uma vírgula porque ele está em
ordem inversa (na ordem direta, a segunda parte do texto ficaria assim: “o
pai do bezerro também era do fazendeiro”).
Nesta aula, vamos estudar o uso do ponto e vírgula e de mais alguns sinais
de pontuação: os dois-pontos, os parênteses e o travessão. Com o que já
aprendeu na Aula 13 sobre o emprego da vírgula, você estará, após esta aula,
em condições de pontuar seus textos ainda melhor.
O ponto e vírgula
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nos faz menos falta, para escrever, do que estes.
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Empregar bem o ponto e vírgula pode tornar mais rica e sutil a
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pontuação e contribuir, assim, para a clareza de nosso texto. Usamos o
ponto e vírgula nas seguintes situações:
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Orações coor-
b) Para separar, num período, orações de mesma natureza (isto é, o r a -
denadas ções coordenadas) que tenham certa extensão.
São aquelas que Observe, no fragmento a seguir, do mesmo conto já citado de Eça
estão juntas inte-
grando uma frase, de Queirós, que as diversas orações que integram a frase são longas, e
porém são indepen-
dentes uma da outra
muitas contêm vírgulas. Veja como o ponto e vírgula é útil para a clareza
em sua estrutura do texto nesse caso:
gramatical (isto é,
nenhuma das duas é
Um largo sol aclarava o génio feliz: as seges passavam, rolando ao
um termo da outra).
Podem estar postas estalido do chicote; figuras risonhas passavam, conversando; os
em sequência sem pregões ganiam os seus gritos alegres; um cavalheiro de calção de
nenhum conectivo
entre elas, como por anta fazia ladear o seu cavalo, enfeitado de rosetas; e a rua estava
exemplo na frase cheia, ruidosa, viva, feliz e coberta de sol (QUEIRÓS, 2002, p. 48).
“Estava com pressa,
resolvi pegar um
táxi”, ou ser relacio- Mais uma vez, nesse exemplo, você nota que o emprego de vírgulas
nadas por um conec- ou pontos, no lugar do ponto e vírgula, seria possível. Você consegue,
tivo (chamado con-
junção), como por porém, ver a contribuição desse sinal para o bom funcionamento do
exemplo nas frases
“Estava com pressa, texto?
portanto resolvi
Se, por um lado, o autor tivesse usado vírgulas para separar as
pegar um táxi” ou
“Estava com pressa, orações coordenadas, a pausa criada por esses sinais poderia ser con-
mas esperei paciente-
mente o ônibus”. fundida pelo leitor com a pausa criada pelas outras vírgulas, usadas no
interior de cada parte da frase, tornando menos nítidos os limites entre
as orações coordenadas e dificultando o entendimento do texto. Se ele
tivesse empregado pontos, a separação entre as orações teria sido mais
completa, mais estanque, e se perderia um pouco a impressão de unidade
da cena descrita, de simultaneidade das diferentes ações observadas na
rua. O ponto e vírgula, portanto, revela-se a melhor opção nesse caso.
Outros trechos do mesmo conto apresentam situações semelhan-
tes às exemplificadas até aqui, como veremos na Atividade 1, antes de
examinar os dois casos restantes de emprego do ponto e vírgula.
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ATIVIDADE
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Atende ao Objetivo 1
I.
Lembrava-lhe o seu quarto, e a velha carteira com fecho
de prata, e a miniatura de sua mãe, que estava por cima
da barra do leito, a sala de jantar e o seu velho aparador
de pau-preto, e a grande caneca de água, cuja asa era uma
serpente irritada (QUEIRÓS, 2002, p. 44).
II.
“Não se atreveu a falar, explicar, pedir, desceu, pé ante pé”
(QUEIRÓS, 2002, p. 44).
Resposta comentada
A vírgula que poderia ser substituída por ponto e vírgula no frag-
mentoI se encontra entre “barra do leito” e “sala de jantar”. O trecho,
então, fica assim:
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Pontuação de lista
Quando escrevemos uma lista, empregamos ponto e vírgula após cada
! item,exceto o último, após o qual precisamos empregar ponto.
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ATIVIDADE
Atende ao Objetivo 1
O texto a seguir, adaptado para esta atividade, é parte das regras acadêmicas
do Cederj. Reescreva-o, organizando-o em forma de lista, com emprego do
ponto e vírgula. Empregue letras (a, b etc.) para iniciar cada item da lista.
Resposta comentada
Reescrito em forma de lista, o texto fica assim:
Para trancar alguma disciplina, o aluno deve
a)selecionarno Sistema Acadêmico o menu “trancamento”;
b) leratentamente todas as instruções da página;
c) selecionaras disciplinas que deseja trancar;
d) clicar em “confirmar trancamento” no fim da página.
Você deve ter notado que a leitura do texto é facilitada por essa
forma de organização, não é?
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[...] não era natural que elas viessem comprar, para si, casimiras
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pretas. E não: elas não usavam «amazonas», não queriam decerto
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estofar cadeiras com casimiras pretas, não havia homens em casa
delas; portanto aquela vinda ao armazém era um meio delicado
de o ver de perto, de lhe falar, e tinha o encanto penetrante de
uma mentira sentimental (QUEIRÓS, 2002, p. 34).
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ATIVIDADE
Atende ao Objetivo 1
Resposta comentada
Cada frase tem mais de uma possibilidade de posicionamento da
conjunção, como vemos a seguir, sempre com emprego do ponto
e vírgula:
a) As disciplinas têm muito conteúdo, portanto a observância do
cronograma de atividades é indispensável ao bom aproveitamento
do curso.
• As disciplinas têm muito conteúdo; a observância do cronogra-
ma de atividades, portanto, é indispensável ao bom aprovei-
tamento do curso.
• As disciplinas têm muito conteúdo; a observância do cronogra-
ma de atividades é, portanto, indispensável ao bom aprovei-
tamento do curso.
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• As disciplinas têm muito conteúdo; a observância do cronogra-
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ma de atividades é indispensável, portanto, ao bom aprovei-
tamento do curso.
• As disciplinas têm muito conteúdo; a observância do cronogra-
ma de atividades é indispensável ao bom aproveitamento do
curso, portanto.
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Uma conjunção especial: pois
A conjunção conclusiva pois é diferente das demais, porque nunca se
posiciona no início da oração em que se encontra. Veja esses exemplos:
• Todo professor é um modelo para seus alunos; ele deve, pois, ser
pontual e responsável.
• Todo professor é um modelo para seus alunos; ele deve ser pontual
e responsável, pois.
Essa conjunção sempre vem isolada por vírgulas, e as orações, nesse caso,
costumam ser separadas por ponto e vírgula.
Os dois-pontos
“Contestei sério:
– Ao contrário, ouço com interesse, e trata-se de pessoas de toda
a consideração e respeito” (MACHADO, 2008b, p. 27).
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“Era um cartão de loja de fazendas, um anúncio, com isto escrito
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nas costas, a lápis:
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‘Espere-me amanhã, na ponte das barcas de Niterói, à uma hora
da tarde’” (MACHADO, 2008b, p. 29).
É preciso ter cuidado com esse emprego dos dois pontos, pois eles
não podem ser usados se a enumeração for um complemento verbal ou
nominal, ou um predicativo ou um sujeito – assim comotambém não
empregamos vírgula nesses casos, conforme vimos na Aula 13. Compare
esses exemplos:
• Às portas os passageiros tinham posto o seu calçado: umas grossas
botas de montar, os sapatos brancos de um caçador, os botins cam-
bados de um estudante,umas botinas de mulher.
• Às portas os passageiros tinham posto umas grossas botas de mon-
tar, os sapatos brancos de um caçador, os botins cambados de um
estudante,umas botinas de mulher.
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ATIVIDADE
Atende ao Objetivo 2
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Resposta comentada
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Os dois-pontos devem ser empregados no segundo, no terceiro e
no quarto quadrinhos, com o seguinte resultado:
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O travessão e os parênteses
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• “Enfim – e este rasgo é capital – havia nele uma fibra castelhana, uma
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gota do sangue que circula nas páginas de Calderón, uma atitude
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moral que posso comparar, sem depressão nem riso, à do herói de
Cervantes“ (MACHADO, 2008b, p. 26).
• Enfim (e este rasgo é capital) havia nele uma fibra castelhana, uma gota
do sangue que circula nas páginas de Calderón, uma atitude moral
que posso comparar, sem depressão nem riso, à do herói de Cervantes.
ATIVIDADE
Atende ao Objetivo 3
Resposta comentada
Na versão original do texto, a pontuação usada é a seguinte:
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• Não era dado a moças, tivera uma afeição única na vida (aos
vinte e cinco anos, casou e enviuvou ao cabo de cinco semanas
para não casar mais).
• Não era dado a moças – tivera uma afeição única na vida: aos
vinte e cinco anos, casou e enviuvou ao cabo de cinco semanas
para não casar mais.
• Não era dado a moças, tivera uma afeição única na vida: aos
vinte e cinco anos, casou e enviuvou ao cabo de cinco semanas
– para não casar mais.
• Não era dado a moças, tivera uma afeição única na vida: aos
vinte e cinco anos, casou e enviuvou ao cabo de cinco semanas
(para não casar mais).
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Conclusão
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Enfatizamos diversas vezes, ao longo de todo o nosso curso, que
o trabalho de escrever é um processo de tomada de decisões. No que se
refere à pontuação, não seria diferente. Com relação a ela, há poucas
regras fixas, e bastante flexibilidade para as opções do produtor do texto.
Como você deve ter notado nesta aula, os detalhes da pontuação
de um texto podem ser bem sutis, e diferentes escolhas nesse terreno
produzem diferentes efeitos de sentido. O ideal é lançar mão, de modo
equilibrado, de todo o leque dos diferentes sinais de pontuação que
existem a nosso dispor, a fim de obter as melhores soluções possíveis em
cada contexto especifico.
Atividade final
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Resposta comentada
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comunicação, fato observado e registrado entre os índios
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brasileiros desde a carta de Pero Vaz de Caminha, em
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1500 ; as trombetas, instrumentos maiores e de forma
alongada, são feitas de troncos de palmeira, cascas de
vegetais, trançado de taquara, madeira e bambu. Os
índios Juruna, originários da região do Xingu, possuem
trombetas de guerra que têm, como caixa de ressonân-
cia, um crânio humano (Adaptado de GASPAR, 2012).
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