Você está na página 1de 26

Livros didáticos do

PNLD:
marcadores temporais e
relações com a cultura
japonesa
no Brasil
Professor Dr. Edilson Chaves
O LIVRO DIDÁTICO: QUESTÕES INICIAIS
A trajetória do livro como material didático no Brasil é marcada por
inúmeras controvérsias. Para Bárbara Freitag, por exemplo:

“Poder-se-ia mesmo afirmar que o livro didático não tem uma


história própria no Brasil. Sua história não passa de uma seqüência
de decretos, leis e medidas governamentais que se sucedem, a partir
de 1930, de forma aparentemente desordenada, e sem a correção ou
a crítica de outros setores da sociedade. (partidos, sindicatos,
associações de pais e mestres, associações de alunos, equipes
cientificas, etc.). (FREITAG et ali, 1997, p. 11).
INFOGRÁFICO – PNLD: MARCOS TEMPORAIS
Decreto-Lei nº 1.006, Decreto-Lei nº 8.460, ACORDO (MEC) e
O Estado cria o de 26/12/45.
de 30/12/38, o Estado a Agência Norte-
institui a Comissão Estado consolida a
Instituto Nacional Americana para o
Nacional do Livro legislação sobre as
do Livro (INL). condições de: Desenvolvimento
Didático (CNLD).
-produção Internacional
PRIMEIRA
Órgão que passou a - importação e (Usaid) permite a
POLÍTICA de
- utilização do livro criação da
legislar a política legislação e controle didático.
sobre produção e O professor passar a
Comissão do Livro
do livro didático. circulação do livro escolher os livros para Técnico e Livro
didático no País. utilização em sala de Didático (Colted)
aula.

1929 1938 1945 1966


O CASO DAS LÍNGUAS: PÁTRIA E CIVILIZAÇÃO
(Guerra, Educação, Justiça e Trabalho)
(Assimilação e integração dos japoneses no Brasil)

1932 – Ensino de língua estrangeira para menores de dez anos foi


proibido;

1939 – O limite sobe para 14 anos;

1940 - Proibido publicação de periódicos em japonês. Decretou-se


fechamento de escolas estrangeiras e os materiais didático e jornais
deveriam ser escritos em língua Portuguesa. (SHIZUNO, p. 84)
OS PROBLEMAS DO NACIONALISMO - BRASIL

“Japonês continua podendo fazer tudo: pode


trabalhar, pescar, jogar futebol. Só não pode
falar japonês. E quem não souber português não
pode falar nada.” (MORAIS, 2000, p. 46)
Resposta do delegado do distrito de Penápolis, São Paulo a um feirante em 1942, ano do rompimento das relações diplomáticas entre o
Brasil e o Japão.
Comissão Nacional do Livro Didático (CNLD)
Instalação
PRIMEIRO Sobre circulação e
A ata da primeira apropriação
reunião - exercer fiscalização
19 de julho de 1940. PROBLEMA COM OS
apresentou os sobre a literatura MATERIAIS IMPORTADOS
dois principais didática nacional; Conselho de Imigração e
objetivos de Não autorizar obras Colonização
Ministro com ofensa à Nação
Gustavo Os livros impressos em língua
Gustavo Capanema estrangeira, produzidos no
Capanema com a SEGUNDO país ou importados ficam
CNLD sujeitos à apreensão por parte
do Ministério de Educação
- Relacionado aos
erros técnicos

1940
- Língua japonesa, nos seus primórdios,
como uma língua de imigração – a
língua materna dos descendentes (1908-
1941) - nacionalismo e sentimento de
lealdade

- No pós-guerra, transmitido como


língua de herança aos descendentes
VERTENTES HISTÓRICAS bilíngues. (1946 – 1979) formação de
colônias independentes – O que era utilizado
E LINGÜÍSTICA para ensinar?

- Atualmente ensinado como língua


estrangeira. (1980 - atual)
(MORALES, 2008)
SOBRE MATERIAIS DIDÁTICOS E MÉTODOS DE ENSINO UTILIZADOS NO BRASIL
(SUENAGA, 2005)

1937: Nihongo 1981: Nippongo 1991: Ichi, Ni, San, Nihongo PROVOCAÇÕES
de Hanashimashō (Série 1, 2,
Dokuhon (Livro de Kaiwa (Diálogos em 3: Vamos Falar em Japonês)
Leitura em Japonês) Língua Japonesa) Edição Revisada
1993: Jacarandá Um Estado da arte
1995 - 1996: Ipê ou do conhecimento
1961: Nippongo 1986: Ichi, Ni, San,
1998 - 1999: Paineira sobre produção de
(Língua Japonesa) Nihongo de
materiais didáticos
Hanashimashō (Série 1992: Juniahen Nihongo

1, 2, 3: Vamos Falar
(Língua Japonesa Versão em colônias
Juniores)
em Japonês) japonesas – Língua
1994: Kiso Nihongo (Língua
Materna ou Língua
Japonesa Básica)
de Herança.

DÉCADAS DE 1930-60 DÉCADA DE 1980 DÉCADA DE 1990


FIM do convênio Decreto nº 77.107/76 DESTAQUE:
MEC/USAid. - Extinção do INL
Devido à insuficiência
- Fundação Nacional de recursos para
Programa do Livro do Material Escolar atender todos os alunos
Didático para o Ensino (Fename). do ensino fundamental
Fundamental (Plidef). da rede pública, a
- Os recursos provêm grande maioria das
do Fundo Nacional escolas municipais é
Destaque: de Desenvolvimento excluída do programa.
Os Estados e o Fundo da Educação
do Livro Didático (FNDE)

1971 1976
DESTAQUE: Criação de um grupo de
CRIAÇÃO da FAE – trabalho encarregado de examinar
problemas relativos aos livros
Fundação de Assistência ao didáticos.

Estudante (substitui a Avanços:


- proposta de participação de
FENAME e incorpora o professores na escolha dos livros;
- Inclusão das demais séries do ensino
PLIDEF) fundamental.
- Mercado editorial define “o que é
livro didático” no Brasil – Tradição
escolar

1983
CONTEXTO: FIM DA DITADURA CIVIL-MILITAR
1964-1985
Livros didáticos alvos de denúncias - Resquícios da ditadura civil-militar
“Essas discussões encontraram um solo fértil nas universidades brasileiras e entidades de
classe, que fomentaram encontros, congressos e pesquisas realizadas em programas de
pós-graduação, principalmente os de educação. Tais pesquisas foram fundamentais para
conhecer os livros didáticos que chegavam às escolas e, ao mesmo tempo, gerar uma
pressão social em torno desse material, levando o Estado brasileiro a perceber a
necessidade da constituição de um mecanismo que o permitisse exercer seu papel de
consumidor, exigindo qualidades mínimas para o material a adquirir”
(SOARES; OLIVEIRA, 2019)
1985

NASCE O PNLD
PROGRAMA NACIONAL DO LIVRO
DIDÁTICO
“Universalização” Processo de avalição (FNDE) assume O PNLD amplia, de
dos livros didáticos integralmente a forma gradativa, o
Procedimentos: execução do PNLD.
Contempladas as atendimento aos
Livros que MEC passa a adquirir, alunos portadores
disciplinas de:
apresentam erros de forma continuada,
- Matemática; de deficiência
conceituais, indução livros didáticos de
- Língua a erros, visual que estão nas
alfabetização, língua
Portuguesa desatualização, salas de aula do
portuguesa,
- 1996 preconceito ou matemática, ciências,
ensino regular das
- Ciências discriminação de estudos sociais, história escolas públicas,
- 1997 qualquer tipo são e geografia para todos com livro didático
- Geografia e excluídos do Guia do os alunos de 1ª a 8ª em Braille.
Livro Didático. série do ensino
História
fundamental público.

1995 1996 1997 2001


DECRETO 7.084 DEFINIÇÃO DE COTEJAMENTO
PNLD como política de ABRANGÊNCIA:
Estado.
Escolas de educação Sistema de autorização de
- Critérios construídos básica pública das livro didático no Japão -
pelas universidades redes: Conselho de Autorização e
Pesquisa de Livros Didáticos
públicas – com formação
conselho oficial do
de equipe de avaliadores - Municipais; Ministério da Educação,
– inclusive com - Estaduais composto por professores
profissionais da - Federais universitários, professores
Educação Básica. - Distrito Federal do ensino médio

FUTURAS INVESTIGAÇÕES
ANTES E DEPOIS DE 2017
PRINCIPAIS MUDANÇAS
A BNCC afetou os
livros didáticos e esses
o currículo escolar
COMO ERA – PNLD 2018 – ENSINO MÉDIO

Arte Biologia Espanhol Filosofia

Física Geografia História Inglês

Língua
Matemática Química Sociologia
Portuguesa
COMO FICOU O PNLD
ENSINO MÉDIO APÓS
A BNCC?
OBJETO 1
OBJETO 2
PROJETOS OBJETO 3
INTEGRADORES E DE OBRAS POR ÁREA DO
OBRAS DE FORMAÇÃO
VIDA 2021 CONHECIMENTO E
CONTINUADA
ESPECIFICOS - 2022

OBJETO 4
RECURSOS OBJETO 5
EDUCACIONAIS OBRAS LITERÁRIAS
DIGITAIS
“NOVO” PNLD –
ENSINO MÉDIO
ESTRUTURA
Linguagens e
suas Ciências Ciências da
Tecnologias Humanas e Natureza e
Sociais suas
Componentes Tecnologias
curriculares:
Aplicadas
Língua
Portuguesa,
AREAS DO Língua Inglesa,
CONHECIMENTO Arte e Educação
Física

Biologia,
Matemática e Física e
suas Química
Tecnologias
OUTROS MERCADOS DE LIVROS ESPECIALIZADOS
Mangás

Almanaques – Fontoura (caso de tradução para japonês)

2ª Colônia em crescimento demográfico – Paraná


Curitiba – 1909
Cambará – 1910 (Colônia Pacífica e Norte-Paranaense – Vila japonesa
1920
Ribeirão Claro – 1912
Bandeirantes, Santa Mariana, Cornélio Procópio, Uraí e Assaí
MUITO OBRIGADO!
REFERÊNCIAS
BATISTA, Antônio Augusto Gomes. Recomendações para uma política pública de livros didáticos. Brasília:
Ministério da Educação, Secretaria de Educação Fundamental, 2001

BRASIL. Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação: Histórico.


http://www.fnde.gov.br/component/k2/item/518-hist%C3%B3rico acesso: 24 out. 2021

CHAVES, Edilson Aparecido. A música caipira em aulas de História: questões e possibilidades. 2006.
Dissertação (Mestrado em Educação) – Programa de Pós-Graduação em Educação, Universidade Federal do
Paraná, Curitiba, 2006.

FERREIRA, Marieta de Moraes e OLIVEIRA, Margarida Maria dias de. Dicionário de Ensino de História. Rio
de Janeiro: FGV Editora, 2019.

FREITAG, B. A; MOTTA, Valéria Rodrigues; COSTA, Wanderly Ferreira da. O livro didático em questão. 3ª
ed. São Paulo: Cortez, 1997.
MORAIS, Fernando. Corações sujos. São Paulo : Companhia das Letras, 2000

MORALES, Leiko Matsubara. Cem anos de imigração japonesa no Brasil: o japonês como ensino de
língua estrangeira. 2008. Tese (Doutorado em Semiótica e Lingüística Geral) - Faculdade de Filosofia,
Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2009. doi:10.11606/T.8.2009.tde-
28052010-140321. Acesso em: 2022-03-10.

SCZIP, Rossano Rafaelle. De quem é esse currículo? Hegemonia e contra-hegemonia no ensino de


história na base nacional comum curricular. Dissertação (Mestrado em Ensino de História) – Graduação
em Ensino de História - ProfHistória, Setor de Ciências Humanas, Universidade Federal do Paraná,
Curitiba, 2020.

SHIZUNO, Elena Camargo. Bandeirantes do Oriente ou Perigo Amarelo: os imigrantes japoneses e a


DOPS na década de 40. Dissertação (Mestrado em História) – Programa de Pós-graduação em História,
Departamento de História da Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2001.

SUENAGA, Sandra. Kyozai Kara miru burajiru no nihongo kyoiku no hensen (A mudança no
ensino da língua japonesa no Brasil à partir dos materiais didáticos). Dissertação de mestrado em
Linguística Aplicada à Língua Japonesa. Defendida na Universiade de Waseda. Tóquio, 2005.
Para citar este material:
CHAVES, Edilson. Livros didáticos do PNLD: marcadores temporais e
relações com a cultura japonesa no Brasil. Grupo de Estudos sobre o
Ensino de Língua Japonesa no Brasil. IFPR/NPPD/UFPR. Março de
2022.

Você também pode gostar