Você está na página 1de 27

Índice 02

Editorial 03
A Palavra do Venerável 04
Regularidade e Reconhecimento: Os “Princípios Básicos” da Grande Loja Unida da Inglaterra 06
A Marcha do Aprendiz Maçom 10
Quem foi Salomão? 12
O Balandrau na Maçonaria 14
O Rito Irlandês por Philip Crossle 16
O Terno Preto, o Balandrau e o Irmão Terrível na Maçonaria Adonhiramita 19
Leitura recomendada 23
Calendário de Atividades 2° Semestre de 2017 EV 24
Administração do Biênio 2017-2019 25
Junte-se a Nós! 26
Créditos 27

REVISTA UM QUARTO DE HORA – ANO II – NÚMERO 21 – JULHO DE 2017 2


Amados Irmãos e Amigos,

A revista UM QUARTO DE HORA chega ao exemplar


número 21 neste mês de julho. Julho é assim denominado em
homenagem ao imperador romano Gaius Julius Cesar, que dentre
outros fatos ficou imortalizado pela expressão alea jacta est (a sorte está
lançada) proferida por ele antes de atravessar o Rubicão e ingressar em
Roma para se tornar imperador.
A maioria das Lojas federadas ao Grande Oriente do Brasil vive um
momento de igual importância, pois este é o mês em que os novos Veneráveis
Mestres e suas respectivas administrações iniciam uma jornada pelos próximos dois anos.
Da mesma forma que o imperador romano tinha preocupação com o futuro é
compreensível que os novos Veneráveis Mestres sintam alguma ansiedade em função da
responsabilidade do cargo, mas felizmente, e ao contrário do célebre general, a sociedade
maçônica é formada por Irmãos, que certamente estarão colaborando para o sucesso das novas
administrações.
Doutrinariamente nossa sublime instituição também possui seus “Brutus”, porém, eles existem
dentro de cada um de nós, e não externamente. Nesse sentido, o constante desbastar e esquadrejar de
nossas Pedras Brutas tem sido, ao longo dos séculos, um antídoto eficaz para combater esse “inimigo”.
A revista UM QUARTO DE HORA deseja sinceramente a todos os Veneráveis Mestres recém
empossados e suas respectivas administrações êxito e sucesso, e que seu labor seja efetivamente
transformado em “novos progressos para a Maçonaria”.
Ressalto, como de costume, que os textos aqui publicados não refletem a posição oficial do
Grande Oriente do Brasil, do Excelso Conselho da Maçonaria Adonhiramita, ou do Supremo Conselho
Adonhiramita do Brasil sobre os temas abordados, tratando-se única e exclusivamente das opiniões
individuais de seus autores.
Desejo a todos uma boa leitura!
SERGIO EMILIÃO
Editor

REVISTA UM QUARTO DE HORA – ANO II – NÚMERO 21 – JULHO DE 2017 3


A PALAVRA DO VENERÁVEL

Ao buscar palavras que ao menos se mutuamente. Quanto mais aborrecidas


pudessem tentar traduzir para os Amados Irmãos estiverem, mais forte terão que gritar para ouvir
como vejo, por que amo, quão grande é o meu um ao outro, através da grande distância”.
respeito, e o que pretendo para com a mui Querida Meus Amados Irmãos, é assim que vejo a
Augusta e Respeitável Loja Simbólica Scripta et nossa querida Loja, a qual nos ensina a termos
Veritas nesta nossa Administração do biênio sempre nossos corações bem próximos ao de cada
2017/2019, deparei com uma belíssima Irmão; que nos relembra a cada dia o que viemos
mensagem de Mahatma Gandhi, vinda como uma aqui fazer; que nos concede as ferramentas para
Luz do Oriente a me dizer: eis o que pensas... vencermos nossas paixões; e onde os gritos dos
“Pra que gritar? aborrecimentos nos exortam a submetermos
Um dia, um pensador indiano fez a nossas vontades, e a fazermos novos progressos
seguinte pergunta a seus discípulos: Por que as na Maçonaria.
pessoas gritam quando estão aborrecidas? A síntese disso é o Amor. Amor em
Gritamos porque perdemos a calma, disse um simples, mas grandiosos gestos de cada Amado
deles. Irmão.
Mas, por que gritar quando a outra Amor este, percebido e sentido sob
pessoa está ao seu lado? questionou novamente o diversas atitudes: em um ósculo fraterno; em uma
pensador. forma peculiar de cada Irmão dar o seu “boa
Bem, gritamos porque desejamos que a noite”; em um leve soar de sino; no socorro a
outra pessoa nos ouça, retrucou outro discípulo. quem precisar; em uma música harmônica
E o mestre volta a perguntar: colocada com a certeza de que irá agradar a
Então não é possível falar-lhe em voz determinado Irmão; em se Venerar o Venerável;
baixa? no esmero com as Instruções; na elaboração da
Várias outras respostas surgiram, mas Revista Um Quarto de Hora; ao “Decanar” por
nenhuma convenceu o pensador. mais de 3 minutos; ao presidir uma Instalação; ao
Então ele esclareceu: circular compenetradamente com a Caridade; ao
Vocês sabem por que se grita com uma Orar e estudar as Leis; ao secretariar e
pessoa quando se está aborrecido? O fato é que, magistralmente registrar; ao vigiar e cuidar das
quando duas pessoas estão aborrecidas, seus Colunas; ao ter a “Chave do Cofre”, contar e
corações se afastam muito. Para cobrir esta guardar o fruto da colheita; ao carimbar e anunciar
distância precisam gritar para poderem escutar- os aniversariantes; ao esculpir Malhetes e circular

REVISTA UM QUARTO DE HORA – ANO II – NÚMERO 21 – JULHO DE 2017 4


como um Mago; ao verificar se podemos começar profícuo para a Glória do Grande Arquiteto do
os trabalhos; ao dispor todos os apetrechos para a Universo.
realização dos nossos Augustos Trabalhos; ao Meus Amados Irmãos, bem baixinho vos
Ostentar a Bandeira nacional; ao Ostentar o falo:
Estandarte; ao calar e observar por sermos “Oh! Quão bom e suave é que os Irmãos vivam
Eternos Aprendizes. em união”!
A união e o Amor que norteiam nossa
Loja, me dá a certeza de termos um trabalho

REVISTA UM QUARTO DE HORA – ANO II – NÚMERO 21 – JULHO DE 2017 5


REGULARIDADE E RECONHECIMENTO: OS “PRINCÍPIOS
BÁSICOS” DA GRANDE LOJA UNIDA DA INGLATERRA – 1929 e
1989

Introdução Grande Loja de York, e depois entre a Grande


A questão da “regularidade e Loja dos Antigos e dos Modernos.
reconhecimento” é uma das mais espinhosas que No entanto, gradualmente, as oposições
existem para os maçons brasileiros. Como para foram se acertando e em 1813, época em que
alguns maçons brasileiros a questão de Maçonaria de inspiração francesa (ou mais
regularidade é baseada nas diretrizes da Grande precisamente franco-alemã, com o Rito Escocês
Loja Unida da Inglaterra, vamos tentar expor com Retificado e o Rito Escocês Antigo e Aceito)
um pouco mais de clareza e de forma mais estava se expandindo em toda a Europa após a
objetiva possível, quais são os princípios básicos Revolução e o Império de Napoleão Bonaparte, as
de regularidade e reconhecimento adotados na duas Grandes Lojas Inglesas se reconciliaram
Inglaterra, inicialmente em 1929 e a versão atual para formar a Grande Loja Unida da Inglaterra.
de 1989, para que possamos comparar de modo E foi assim que, a fim de esclarecer as
bem simples. coisas em 1929 (época em que o Império
Na Inglaterra do final do século 17 e início Britânico sofreu uma grande crise e buscou
do século 18, a maçonaria viveu duas grandes referências), que a Grande Loja Unida da
divisões: Inglaterra publicou seus “Princípios Básicos”.
Durante todo o século XVIII, tivemos uma Estes princípios acabaram fazendo com
maçonaria “Moderna” baseada no “projeto de que as Grandes Lojas reconhecidas pela Grande
James Anderson” e nos valores do Iluminismo, e Loja Unida da Inglaterra (estas a reconheceriam
uma maçonaria “Antiga” rejeitando as em contrapartida a sua preeminência como “Loja-
Constituições de Anderson e se apoiando nas Mãe do Mundo”) fossem também reconhecidas
“Antigas Constituições”, que proclamava: por todas as outras.
“Vocês devem honrar a Deus e Sua Santa De modo que após esta breve introdução
Igreja e não permitir a heresia, cisma ou erro em você possa formar a sua própria opinião, seguem
seus pensamentos, ensinando os homens os “Princípios Básicos para o reconhecimento”
desacreditados”. emitidos pela Grande Loja Unida da Inglaterra em
Isso vai cristalizar o primeiro cisma na 1929:
oposição entre a Grande Loja de Londres e da

REVISTA UM QUARTO DE HORA – ANO II – NÚMERO 21 – JULHO DE 2017 6


Basic Principles for Grand Lodge Recognition (Aprendiz, Companheiro e Mestre) dentro de sua
(1929) jurisdição, e que não pode depender nem
“É desejo do Mui Respeitável Grão- compartilhar de maneira nenhuma sua
Mestre deste corpo, emitir uma declaração de autoridade com um Supremo Conselho ou outro
princípios básicos sobre os quais esta Grande Poder que reivindique controle ou supervisão
Loja pode reconhecer qualquer Grande Loja que sobre esses graus.
solicitar ser reconhecida pela jurisdição inglesa, 6 – Que as três Grandes Luzes da
este Gabinete de Propósitos Gerais cumpre com Maçonaria (ou seja, o Livro da Lei Sagrada, o
satisfação. Esquadro e Compasso) estarão sempre expostos
O resultado, como se segue, foi aprovado quando a Grande Loja ou suas Lojas
pelo Grão-Mestre e será a base de um subordinados estejam em trabalho, sendo o
questionário que será enviado a cada jurisdição primeiro entre eles, o Livro da Lei Sagrada.
que solicitar o reconhecimento Inglês. 7 – Que a discussão de assuntos políticos
Este Gabinete deseja que não somente as ou religiosos estejam estritamente proibidos
obediências, mas o conjunto geral de todos os dentro de loja.
irmãos da jurisdição do Grão-Mestre, sejam 8 – Que os princípios dos Antigos
plenamente informados destes princípios básicos Landmarks e os usos e costumes da Fraternidade
da Maçonaria em que a Grande Loja da sejam rigorosamente observados.
Inglaterra irá seguir ao longo em sua história. Aims and Relationships of the Craft (1938)
1 – Regularidade de origem, ou seja, cada Em agosto de 1938, foi realizada uma
Grande Loja deve ter sido legalmente constituída conferência entre as Grandes Lojas da Inglaterra,
por uma Grande Loja devidamente reconhecida Irlanda e Escócia, que fizeram um acordo e
ou por três ou mais lojas regularmente emitiram uma declaração idêntica em termos,
constituídas. chamada de “Objetivos e Relacionamentos do
2 – A crença no Grande Arquiteto Do Ofício”, com as seguintes posições:
Universo e Sua Vontade revelada será uma 1 – De tempos em tempos, a Grande Loja
condição essencial para a admissão de seus Unida da Inglaterra julga necessário estabelecer
membros. de forma precisa os objetivos da Maçonaria como
3 – Que todos os iniciados prestem seus praticado de forma consistente sob a sua
juramentos, a vista do Livro da Lei Sagrada, Jurisdição desde que ela surgiu como um corpo
simbolizando a revelação do Alto que atinge a organizado em 1717 e também para definir os
consciência do indivíduo em particular que está princípios administrativos de suas relações com
sendo iniciado. outras Grandes Lojas com as quais está em
4 – Que os membros da Grande Loja e das acordo fraternal.
Lojas individuais sejam exclusivamente homens, 2 – Tendo em vista as representações
e que nenhuma Grande Loja deve manter recebidas e as declarações recentemente
relações maçônicas com lojas mistas ou com publicadas que distorcem ou obscurecem os
obediências que aceitem mulheres como seus verdadeiros objetos da Maçonaria, é novamente
membros. considerado necessário enfatizar certos
5 – Que a Grande Loja mantenha princípios fundamentais da Ordem.
jurisdição soberana sobre as Lojas que estão sob 3 – A primeira condição de admissão e de
o seu controle, ou seja, deve ser uma organização adesão à Ordem é a crença em um Ser Supremo.
responsável, independente e governada por ela Isto é essencial e não admite transigência.
mesma, exercendo sua autoridade única e 4 – A Bíblia, referida pelos maçons como
indiscutível sobre os graus simbólicos do ofício o Volume da Lei Sagrada, deve estar sempre

REVISTA UM QUARTO DE HORA – ANO II – NÚMERO 21 – JULHO DE 2017 7


aberta nas Lojas. Todo candidato é necessário 10 – Em mais de uma ocasião, a Grande
assumir a sua obrigação sobre esse livro ou sobre Loja recusou, e continuará a recusar, a participar
o volume que é utilizado pelo seu credo em Conferências, com as chamadas Associações
particular, para dar um caráter sagrado ao Internacionais, alegando representar a
juramento ou promessa realizada sobre ele. Maçonaria, que admitem membros de Corpos que
5 – Todo aquele que entra na Maçonaria não estão em acordo com os princípios sobre os
é, desde o princípio, estritamente proibido de quais a Grande Loja é estabilizada. A Grande
admitir qualquer ato que possa ter tendência a Loja não admite tal reivindicação, nem suas
subverter a paz e a boa ordem da sociedade; Ele opiniões podem ser representadas por qualquer
deve cumprir a devida obediência à lei do estado Associação.
em que reside ou que lhe ampara, e nunca deve 11 – Não há segredo em relação a nenhum
ser negligente na fidelidade devida ao Soberano dos princípios básicos da Maçonaria, alguns dos
de sua terra natal. quais já foram expostos acima. A Grande Loja
6 – Enquanto a Maçonaria Inglesa orienta sempre considerará o reconhecimento das
cada um dos seus membros, sobre os deveres de Grandes Lojas que declaram e praticam, e podem
lealdade e de cidadania, também reserva ao mostrar que consistentemente declararam e
indivíduo o direito de manter sua própria opinião praticaram esses princípios estabelecidos e
em relação aos assuntos públicos. Mas em inalterados, mas em nenhuma circunstância ele
nenhuma Loja, nem em qualquer momento em sua entrará em discussão com qualquer nova visão ou
qualidade de Maçom, é permitido discutir ou interpretação variada destes. Eles devem ser
emitir suas opiniões sobre questões teológicas ou aceitos e praticados de todo o coração e em sua
políticas. totalidade por aqueles que desejam ser
7 – A Grande Loja deve sempre se recusar reconhecidos como maçons pela Grande Loja
a expressar qualquer opinião sobre questões de Unida da Inglaterra.
política de Estado estrangeiro ou nacional, e não As três Grandes Lojas estavam convictas
permitir que seu nome seja associado a qualquer de que é somente pela rígida aderência a esta
ação, por mais humanitária que possa parecer, política que a Maçonaria tem sobrevivido as
ou que infrinja sua inalterável política de se constantes mudanças nas doutrinas do mundo
manter distante de todas as questões que possam exterior, e são compelidos a registrar sua
afetar as relações entre um governo e outro, ou completa desaprovação por qualquer ação que
entre partidos políticos, ou questões sobre teorias possa permitir o desvio dos princípios básicos da
rivais de governo. Maçonaria. Eles possuem uma forte opinião, de
8 – A Grande Loja está ciente de que que qualquer uma das três Grandes Lojas, não
existem Corpos, denominando-se Maçons, que podem manter um relacionamento com aqueles
não aderem a esses princípios, e enquanto essa que não seguem os Landmarks da Ordem, que
atitude exista, a Grande Loja da Inglaterra deve enfrentar a sua irregularidade.
recusa absolutamente ter qualquer relação com Basic Principles for Grand Lodge Recognition
tais Corpos, ou considerá-los como Maçons. (1989)
9 – A Grande Loja da Inglaterra é um As questões de reconhecimento ganharam
Corpo soberano e independente que exerce a atenção do mundo maçônico após a queda do
Maçonaria apenas dentro dos três Graus e Muro de Berlim. Algum progresso ocorreu em
somente dentro dos limites definidos em sua 1989 (tal como o problema do despertar da
Constituição como “pura e antiga Maçonaria”. Maçonaria nos países europeus onde era proibido)
Ela não reconhece ou admite a existência de que provavelmente causou a alteração de alguns
qualquer autoridade maçônica superior. pontos importantes:

REVISTA UM QUARTO DE HORA – ANO II – NÚMERO 21 – JULHO DE 2017 8


A Grande Loja Unida da Inglaterra ainda plena vista do Livro da Lei Sagrada (a Bíblia) ou
não reconhece obediências mistas ou femininas, sobre o livro que o candidato considere como
mas no texto não está excluído a possibilidade de sagrado.
que ele reconhecerá algum dia. 5 – As três grandes luzes da Maçonaria
A Fé em Deus e Sua vontade revelada, (que são o Livro da Lei Sagrada, o Esquadro e
expressa na Bíblia, foi substituída por simples Compasso) devem estar expostos quando a
“crença em um Ser Supremo”. Grande Loja ou suas lojas subordinadas forem
O Rito Escocês não está mais diretamente abertas.
envolvido. Mas em vez disso, todo o contato com 6 – Discussões políticas e religiosas
obediências “excomungadas” pela GLUI, devem ser proibidas em suas lojas.
permanece explicitamente proibido para quem 7 – Devem aderir aos princípios
pretende obter o reconhecimento. estabelecidos (os Antigos Landmarks) e os
Apesar destas pequenas alterações para costumes do Ofício e insistir para que eles sejam
questão de regularidade, não mudou muito as observados dentro de suas lojas.
fronteiras a serem transpassadas para o Conclusão
reconhecimento da Grande Loja da Inglaterra. A motivação do texto acima é trazer
Veremos agora o “novo documento” de 1989: informações sobre como a Inglaterra parametriza
A Maçonaria é praticada sob a autoridade as questões de regularidade maçônica e assim
de numerosas grandes lojas independentes onde cada um possa tirar sua própria conclusão sobre
os princípios e as regras são semelhantes aos as obediências maçônicas brasileiras, se estas
estabelecidos pela Grande Loja Unida da trabalham de modo regular ou não. E ainda,
Inglaterra ao longo de sua história: afastar invenções criadas por membros que
Para ser reconhecido pela Grande Loja possuem uma intenção separatista, de modo a
Unida da Inglaterra, uma Grande Loja deve criar desavenças. O artigo 5º do Aims and
respeitar as seguintes regras: Relationships of the Craft (1938) diz que “é
1 – Deve ter sido legalmente constituída estritamente proibido de admitir qualquer ato que
por uma Grande Loja Regular ou por três ou mais possa ter tendência a subverter a paz e a boa
lojas particulares, se cada uma delas tenha sido ordem da sociedade”.
legitimada por uma Grande Loja regular. Um ponto a observar é que a regularidade
2 – Deve ser verdadeiramente de trabalho não é o mesmo que reconhecimento
independente e autônoma e manter a autoridade com a Inglaterra, que é um processo mais
incontestável sobre a Maçonaria base (ou seja, os complexo, principalmente quando há mais de uma
graus simbólicos de Aprendiz, Companheiro e Obediência Maçônica trabalhando em conjunto
Mestre) dentro da sua jurisdição, e não sob a no país. Mas este ponto não vamos comentar pois
dependência, nem compartilhar seu poder de já foi incansavelmente debatido pelos meios de
maneira alguma com um outro corpo maçônico. comunicação utilizados pelos maçons brasileiros.
3 – Os maçons sob a sua jurisdição devem
acreditar em um Ser Supremo. Fonte
4 – Todos os maçons sob a sua jurisdição, Texto de autoria de Luciano B. Rodrigues,
devem tomar as suas obrigações, sobre ou em publicado em www.oprumodehiram.com.br

REVISTA UM QUARTO DE HORA – ANO II – NÚMERO 21 – JULHO DE 2017 9


A MARCHA DO APRENDIZ MAÇOM

Introdução corresponder um igual passo do pé direito


Cada um dos três Graus Simbólicos tem (atividade, vontade, ação) em esquadro, ou seja,
sua Marcha particular. A Marcha, acompanhada em acordo perfeito com o primeiro.
dos Sinais especiais em cada degrau, é obrigatória Reportando-se ao zodíaco os seus três
para todos os Maçons que entram no Templo passos correspondem aos três signos, carneiro,
quando os trabalhos são abertos. O significado touro e gêmeos. No primeiro passo
maçônico da Marcha corresponde a técnica correspondente a o signo do carneiro que está sob
adotada nos três Graus Simbólicos para o a influência de Marte evoca a ideia de “luta”.
candidato à perfeição caminhar do Ocidente para Touro, que inspira o segundo passo, exprime o
o Oriente isto é, das trevas para a Luz. trabalho perseverante e desinteressado. Quanto
Desenvolvimento Gêmeos, que está sob a influência de Mercúrio, é
A Marcha do Aprendiz é composta de três considerado signo da fraternidade. Se nos
passos iguais e retilíneos, formando uma reportarmos aos Elementos, o Carneiro é o signo
esquadria, começando com o pé esquerdo e do Fogo, Touro o signo da Terra e Gêmeos o
apoiado pelo direito, porque ele foi colocado no signo do Ar, indicando o primeiro passo o ardor,
“caminho certo”, porque foi “Iniciado”. o segundo a concentração e o terceiro a
O Esquadro representa fundamentalmente inteligência.
a faculdade do juízo que nos permite comprovar a Os três passos de sua Marcha, os três anos
retidão ou a sua falta, ou seja, a forma octogonal do Aprendiz e ainda lembrando as três Viagens da
das seis faces que tratamos de lapidar a Pedra Iniciação, são evidentemente o símbolo do tríplice
Bruta, assim como a de suas arestas e dos oito período que marcará as etapas de seu estudo e de
ângulos triedros nos quais elas se unem, como o seu progresso.
objetivo de fazer com que a pedra se torne Estes três períodos referem-se
retangular, como deve ser toda pedra destinada a particularmente às três Artes fundamentais (a
formar parte de um edifício. Gramática, a Lógica e a Retórica) a cujo estudo
É por intermédio do Esquadro que nossos deve aplicar-se, ainda que deva contentar-se com
esforços para realizar o ideal ao qual nos dominar unicamente a primeira, por ser a
propusemos podem ser constantemente perfeição da segunda e da terceira,
comprovados e retificados. Isto é feito de maneira respectivamente, o objeto do domínio dos
que estejam realmente encaminhados na direção Companheiros e Mestres.
do ideal e que a cada passo do pé esquerdo A primeira entre as sete "Artes Liberais" -
(passividade, inteligência, pensamento), deve a Gramática - refere-se ao conhecimento das

REVISTA UM QUARTO DE HORA – ANO II – NÚMERO 21 – JULHO DE 2017 10


letras (em grego gramática significa "sinais, retificando invenies occultum lapidem -
caracteres ou letras"), isto é, ao conhecimento dos VITRIOL. Devemos adentrar a realidade do
princípios ou elementos simbólicos com os quais próprio mundo objetivo, e não contentar-nos com
é representada a Verdade. Neste estudo é onde seu estudo ou exame puramente exterior. Então,
principalmente deve ser demonstrada a retificando constantemente nossa visão e os
capacidade do Aprendiz, que ainda não sabe ler esforços de nossa inteligência como demonstra a
nem escrever a linguagem da Verdade, senão que cuidadosa retidão dos três passos da Marcha do
se exercita tanto num como no outro, soletrando Aprendiz atingiremos o conhecimento da
ou estudando uma por uma as letras ou princípios Verdade que nos liberta da ilusão.
elementares nos quais pode resumir-se e nos quais Conclusão
pode ser traçada a origem de todas as coisas. Concluímos que para podermos atingir a
Há também, evidente referência dos três Perfeição e podermos caminhar do Ocidente para
passos do Aprendiz ao conhecimento dos três o Oriente devemos primeiramente sermos
primeiros "números" ou princípios matemáticos Iniciados, dando assim o primeiro passo na busca
do Universo: o número Um, ou seja, a Unidade do do conhecimento.
Todo; o número Dois, ou seja, a dualidade da Com base na simbologia maçônica da
manifestação, e o número Três, ou seja, o ternário Marcha na retidão do Esquadro e no trabalho
da Perfeição. perseverante possamos cada vez mais nos
Este conhecimento filosófico dos três desbastar a fim de nos tornarmos uma Pedra
números é de verdadeira e fundamental Polida, e que todo o Símbolo, todo o Rito (que são
importância, enquanto compendia e sintetiza em os símbolos em ação) perdem o seu valor e não
si todo o conhecimento relativo ao mistério passam de “afetação” desde que deixam de ser
supremo das coisas. Pitágoras o expressou respeitados exatamente como deveriam ser.
admiravelmente nas palavras: A Unidade é a lei
de Deus (ou seja, do primeiro princípio, da causa
imanente e pré-antinômica), o número (nascido da Bibliografia
multiplicação da Unidade e por meio da Ritual do Aprendiz Maçom.
dualidade) é a Lei do Universo, a evolução A Simbólica Maçônica, de Jules Boucher, Ed.
(expressão da Lei do Ternário) é a Lei da Pensamento, São Paulo, 14º ed., 2000.
Natureza. Manual do Aprendiz Maçom: Introdução ao
Ou, segundo as palavras de Ramaseum de estudo da Ordem e da Doutrina Maçônica, de
Tebas: “Tudo está contido e se conserve no um, Aldo Lavagnini.
tudo se modifica e se transforma por três: a
mônada criou a díade, a díade produziu a tríade, NE: Texto de autoria desconhecida ou não
e a tríade brilha no universo inteiro”. informada
Cabe aqui citar o axioma hermético da
"Câmara de Reflexões": visita interiora terrae:

REVISTA UM QUARTO DE HORA – ANO II – NÚMERO 21 – JULHO DE 2017 11


QUEM FOI SALOMÃO?

Segundo o relato bíblico, Salomão foi o para suprir a corte com alimentos, dividiu o reino
mais rico e poderoso dos reis judeus. Sob seu em 12 distritos, cada um com a responsabilidade
reinado, Israel atingiu o máximo esplendor. Da de fornecer provisões por um mês; promoveu um
linhagem de Judá, era o segundo filho de David e próspero comércio marítimo; e manteve um
Batseba e foi ungido rei antes da morte de seu pai, poderoso exército que submeteu os heteus,
por se temer que seu irmão Adonias, filho de amorreus, fereseus, heveus e jebuseus, tornando-
David com Hagite, usurpasse o trono, prometido os tributários de Israel.
a Salomão. Após a morte de David, para Tal como sua Sabedoria, seu harém era
consolidar o seu reinado, Salomão mandou matar proverbial: segundo a Bíblia, tinha 700 esposas e
seu principal rival, seu meio-irmão Adonias, e o 300 concubinas!
general Joabe, além de depor o sacerdote Abiatar, Atribui-se a Salomão a autoria de três
por serem, ambos, aliados de Adonias. Joabe e livros bíblicos: Provérbios, Cântico dos Cânticos
Abiatar foram substituídos, respectivamente, por (Cantares de Salomão) e Eclesiastes, além dos
Benaia e Zadoque, leais a Salomão. Salmos 72 e 127.
Em sonho, Deus concedeu-lhe a Sabedoria Ainda sob o ponto de vista religioso, quiçá
que pedira, a qual logo se revelou, no famoso por respeitar as crenças de seus vizinhos e das
caso, conhecido como o “Julgamento de várias tribos que governava, não se mostrou um
Salomão”, das duas mulheres que reclamavam a monoteísta ortodoxo, pois a despeito de ter
mesma criança como filho. A Rainha de Sabá, construído o afamado Templo de Salomão para
atraída por sua reputação, fez longa viagem para cultuar o Deus dos judeus, edificou também
conhecer sua Sabedoria. Em seus quarenta anos templos a Astarte ou Astarote, deusa dos sidônios;
de reinado, Salomão demonstrou ser um excelente a Milcom, deus dos amonitas; a Camós, deusa dos
político e administrador. moabitas; e a Moloc, deus dos amonitas.
Como político, fez alianças com o Egito, Para sustentar a luxuosa corte de Salomão,
casando-se com a filha do Faraó; com Hiram, rei o povo vivia oprimido e descontente com os
da cidade-estado fenícia de Tiro; com Balkis, a pesados tributos que eram devidos e recolhidos
Rainha de Sabá; com os moabitas, amonitas, aos cofres governamentais. Essa política
iduméios, sidônios e heteus, casando-se com econômica, mantida por seu filho e sucessor
mulheres dessas nações. Roboão, foi a causa da separação das tribos que
Como administrador, fortificou Jerusalém e constituíam o Estado judeu. Somente as tribos de
embelezou-a com edifícios reais; reconstruiu as Judá e Benjamim permaneceram fiéis a Roboão,
cidades de Gezer, Betorom, Baalate e Tadmor; constituindo, ao sul, o reino de Judá, com

REVISTA UM QUARTO DE HORA – ANO II – NÚMERO 21 – JULHO DE 2017 12


Jerusalém como capital. As outras tribos, sob a Censurado por se unir a mulheres que, ao invés de
liderança de Jeroboão, formaram ao norte o reino se converterem ao Deus dos judeus, fizeram-no
de Israel, com capital em Siquém, posteriormente afastar-se dele, cultuando outros deuses.
transferida para Samaria. O reino de Israel Para a Maçonaria, Salomão é mais
sobreviveu 208 anos (930 a 722 a.C.). Com a importante pelo que simboliza – a Sabedoria – do
queda de Samaria, a maioria de seus habitantes foi que propriamente pelo que foi ou fez. Salomão é
levada cativa para a Assíria. Já o reino de Judá personificado, nas Lojas maçônicas, pelo
durou 343 anos (929 a 586 a.C.). Com a Venerável Mestre e pela deusa Minerva, deusa e
destruição de Jerusalém pelo rei caldeu símbolo da Sabedoria.
Nabucodonosor, a maioria de seus habitantes foi
levada prisioneira para a Babilônia. Fonte
Segundo a tradição judaica e cristã, Excertos do livro (em elaboração) “Maçonaria
Salomão é, ao mesmo tempo, adorado e para Maçons, Simpatizantes, Curiosos e
censurado. Adorado por sua sabedoria, pelos Detratores”, Almir Sant’Anna Cruz
escritos que produziu e pelo templo que construiu.

REVISTA UM QUARTO DE HORA – ANO II – NÚMERO 21 – JULHO DE 2017 13


O BALANDRAU NA MAÇONARIA

Muitos são os maçons brasileiros Analisando a “Carta de Bolonha” e tantos


defensores do balandrau. Mas afinal, qual a outros documentos existentes do segundo
origem dessa vestimenta na maçonaria? milênio, vê-se claramente que já no século XI a
O célebre escritor José Castellani escreveu maçonaria operativa era dividida entre os que
que o balandrau era a indumentária dos membros trabalhavam com “pedra” e os que trabalhavam
do Collegia Fabrorum, e que os maçons com “madeira”. Em resumo, os que trabalhavam
operativos medievais, do século XIII em diante, com “pedra”, que eram maiores em número e em
também utilizavam a túnica negra. serviços, eram os maçons operativos, dos quais
Com todo o respeito ao saudoso Irmão somos os legítimos herdeiros. Enquanto que a
Castellani e suas obras, que tanto acrescentaram Carbonária surgiu como herdeira daqueles que
para a literatura e cultura maçônica brasileira, trabalhavam na madeira.
permita-nos discordar de tal afirmação. Nos A Carbonária se fazia presente de forma
parece que se trata de teoria feita de forma intensa na Itália, França e Portugal, e era
inversa, ou seja, apenas para justificar um governada pelo General francês Joaquim Murat,
costume arraigado, ao invés de buscar sua origem. cunhado de Napoleão Bonaparte e tido como rei
Afinal de contas, não existe qualquer indício de de Nápoles. Os carbonários eram conhecidos pelo
que os membros do Collegia Fabrorum ou uso de uma túnica preta com a imagem do punhal
mesmo os maçons operativos medievais de São Constantino bordada no peito esquerdo –
realmente utilizavam balandrau. Em que se baseia Sim, um balandrau.
essa afirmação? A impressão é de que apenas se Joaquim Murat tratou de iniciar na Carbonária seu
afirmou o uso pelos membros da maçonaria filho, “príncipe” Charles Lucien Murat. Em 1815,
operativa para justificar o uso pelos maçons o príncipe Murat teve que se exilar por conta do
especulativos, sem qualquer fundamento histórico assassinato de seu pai, vivendo então na Áustria,
para ilustrar tal teoria. Veneza e por último nos Estados Unidos. Só
Em verdade, a origem do balandrau na conseguiu retornar à França em 1848. Em 1852,
maçonaria é outra. Podemos dizer que herdamos Murat assumiu como Grão-Mestre do Grande
o balandrau de uma instituição “prima”: A Oriente da França, cargo em que permaneceu até
Carbonária. 1862.

REVISTA UM QUARTO DE HORA – ANO II – NÚMERO 21 – JULHO DE 2017 14


Nesses 10 anos como Grão-Mestre, Inglaterra, Irlanda, Escócia e Alemanha, países
Lucien Murat realizou uma grande revolução no em que a maçonaria é tão antiga e originária das
Grande Oriente da França, o qual cresceu como antigas Guildas quanto na Itália, França e
nunca em número de Lojas e notoriedade. Foi Portugal, ao mesmo tempo em que esses
também nesse período que vários traços da antiga primeiros não tiveram a presença da Carbonária
Carbonária foram implementados na maçonaria em seus territórios, enquanto Itália, França e
francesa, entre eles o uso do balandrau. Os Portugal tiveram.
maçons do Grande Oriente do Brasil, que tão Com base em tais relatos e análises
estreitos laços possuíam e tanta influência sofriam históricas, conclui-se que a afirmação de que o
da maçonaria francesa, a qual havia sempre balandrau é uma herança da maçonaria operativa,
servido de exemplo e fonte dos Ritos então apesar de valorizar simbolicamente o balandrau, é
praticados no Brasil – Escocês, Adonhiramita e totalmente falsa. Fica evidente a influência que a
Moderno – logo também aderiram ao balandrau. Carbonária, através de Lucien Murat, exerceu
Porém, em janeiro de 1862, o rei Napoleão sobre o Grande Oriente da França e,
III declara o Marechal Bernard Pierre Magnan, consequentemente, sobre a Maçonaria Brasileira,
um profano, como Grão-Mestre do Grande sendo o balandrau o mais visível indício disso.
Oriente da França. O Marechal Magnan é iniciado Porém, não se deve deixar de concordar
e elevado até ao grau 33 do Rito Escocês em com o Irmão Castellani em uma coisa: a
apenas dois dias. Magnan desfaz muitas das verdadeira vestimenta do maçom é o AVENTAL.
mudanças promovidas por Lucien Murat. No Sem ele, o maçom não trabalha
entanto, o balandrau já havia caído nas graças dos
irmãos brasileiros. Fonte
Uma das evidências que constata que o Texto de autoria de Kennyo Ismail publicado em
balandrau não teve origem no Collegia Fraborum www.deldebbio.com.br/2017/06/05/o-balandrau-
ou na maçonaria operativa é de que é um traje na-maconaria/
totalmente desconhecido na maçonaria da

REVISTA UM QUARTO DE HORA – ANO II – NÚMERO 21 – JULHO DE 2017 15


O RITO IRLANDÊS POR PHILIP CROSSLE

Philip Crossle foi bibliotecário da Grande modificar e até mesmo melhorá-las, a fim de se
Loja da Irlanda, é um historiador brilhante que ajustar à prática irlandesa, mas também em um
nos ilumina ainda hoje, graças ao seu livro co- esforço para esclarecer a história do ofícios, bem
escrito com John Herron Lepper “História da como as obrigações e os regulamentos. Como não
Grande Loja dos Maçons Antigos e Aceitos da se conhecia claramente o número de Lojas que
Irlanda”, publicada em Dublin em 1925 e tinha a Irlanda em 1725, a partir de 1731 o Grão-
reeditada em 1987. O artigo de Renaissance Mestre, Lord Kingston pede por meio de
Traditionnelle retoma em síntese as suas correspondência às Lojas, sem dúvida muito
pesquisas, e desde o início Crossle afirma que a numerosas, que reclamem oficialmente suas
Maçonaria irlandesa não é simplesmente patentes. Um estudo do Dr. Chetwode Crawley
originária da Maçonaria inglesa, e que ela foi fornece o seguinte inventário:
capaz de se desenvolver em solo irlandês em Lojas Inglesas dos Modernos e das Ilhas
paralelo com o seu desenvolvimento em outros Britânicas: 355
países e a exemplo do ofício de pedreiro nos Lojas fora das ilhas: 196
tempos medievais, que se desenvolveu um pouco Lojas Inglesas dos Antigos: 258
por toda parte. A prática da Maçonaria irlandesa Lojas Escocesas: 284
se efetua em harmonia com a Maçonaria Mundial, Totalizando 1093 Lojas enquanto
mas sempre quis ficar mais perto das Old Chetwode Crawley contará 815 só na Irlanda!
Charges, as “Antigas Constituições”. Existe uma Entra-se em seguida, neste artigo nas
noção de que esta Maçonaria irlandesa fora especificidades ao mesmo tempo históricas,
importada por volta de 1725 da Inglaterra. Na geográficas e sociológicas da Maçonaria
verdade, estas são as “Constituições dos Maçons irlandesa. Assim, ele nos explicou que durante
Francos” de 1730 em Dublin que semeiam a muito tempo os maçons irlandeses de origem celta
dúvida e isso se você acredita na dedicatória do eram mais numerosos que aqueles de origem
autor John Pennell a Lord St Georges, e que diz: inglesa, e essas especificidades afetarão a redação
“Estas Constituições, meu senhor, têm origem de suas constituições por Pennell. Este é o
primariamente na compilação dos antigos primeiro título das constituições de Anderson e de
arquivos dos Franco-maçons, e elas foram Pennell que serão comparados:
adaptadas para uso das Lojas na Grã-Bretanha, Anderson de 1723
pelo mui sábio James Anderson, M.A.” Claro, “1. Sobre Deus e a Religião
estas são as Constituições de Anderson de 1723, Um Maçom é obrigado, por dever de
de que fala Pennell, mas ele vai se aplicar em ofício, a obedecer a Lei Moral; e se ele

REVISTA UM QUARTO DE HORA – ANO II – NÚMERO 21 – JULHO DE 2017 16


compreende corretamente a Arte, nunca será um 1730, os maçons irlandeses desejam ficar mais
estúpido ateu nem um libertino irreligioso. Muito perto do espírito das antigas constituições, o que
embora em tempos antigos os Maçons fossem também tende a mostrar, de acordo com o autor, a
obrigados em cada país a adotar a religião influência inglesa sobre a Maçonaria irlandesa é
daquele país ou nação, qualquer que ela fosse, relativamente pequena, que ela não foi
hoje pensa-se mais acertado somente obrigá-los simplesmente importada, e que foi forjada e
a adotar aquela religião com a qual todos os formatada antes dessa data de 1725. Note-se
homens concordam, guardando suas opiniões também que as Lojas irlandesas, não têm título
particulares para si próprio, isto é, serem homens distintivo, mas simplesmente os números de
bons e leais, ou homens de honra e honestidade, matrícula. Philipp Crossle irá então nos propor o
qualquer que seja a denominação ou convicção estudo do nascimento do Rito irlandês, através do
que os possam distinguir. Por isso a Maçonaria estudo da Loja No. 163 de Birr.
se torna um centro da união e um meio de Primeiro Período
conciliar uma verdadeira amizade entre pessoas Em 1797 e conforme descrito por Pennell
que de outra forma permaneceriam em perpétua já em 1730, encontra-se, e isso sem dúvida da
distância”. forma antiga, 3 graus:
Pennell, 1730 1: Aprendiz ou Irmão (Apprentice or
“1. Sobre Deus e a Religião Brother) – 2: Companheiro de Ofício
Um Maçom é obrigado, por dever de (Fellowcraft) – 3: Parte de Mestre (M.M.)
ofício, a obedecer a Lei Moral; e não ser um Nos dois primeiros Graus encontra-se a
estúpido ateu nem libertino irreligioso. Isso quer quase totalidade do ensino maçônico,
dizer que os maçons devem ser homens de bem e principalmente a lenda hoje tradicional do
leais ou homens de honra e integridade, Terceiro Grau e quanto ao Terceiro Grau descrito
quaisquer que sejam as denominações ou por Pennell, ele corresponde é um pouco mais aos
confissões que ajudam a distingui-los. Por isso a Graus atuais de Mestre Instalado, do Real Arco e
Maçonaria se torna um centro da união e um Maçom da cruz vermelha.
meio de conciliar uma verdadeira amizade entre Segundo Período
pessoas que de outra forma permaneceriam em Parece que a partir de 1744 em Dublin, de
perpétua distância”. 1750-1760 em outras cidades, e em 1800 em Birr,
O conceito de uma religião única continua a hierarquia dos graus era a seguinte:
presente, e pode-se notar também, brevemente, 1: Aprendiz ou Companheiro de Ofício ou
mas significativamente, que a oração feita na ainda Entered and Crafted (Aceito e considerado
recepção de um novo Irmão, que não é encontrada homem do ofício) – 2: Master Mason (Mestre
em Anderson é mantida no lado irlandês, evitando Maçom) – 3: Royal Arch (Real Arco)
deixar a cada um as suas próprias opiniões. Ela Assistimos então neste período uma
apresenta um pedido a Deus, de permitir que o espécie de fusão dos Graus de Aprendiz e
novo Aprendiz possa descobrir “os mistérios da Companheiro, o Segundo Grau e, muito
santidade e do cristianismo, em nome e por amor importante, tornando-se conforme vimos o de
de Jesus Cristo, nosso Senhor e Salvador …” E Mestre Maçom.
sempre dentro do mesmo espírito, as passagens Terceiro Período
devidas à Reforma inglesa que induziam à Provavelmente, começando por volta de
separação em relação ao poder apostólico 1790 e em Dublin ocorre uma nova mutação que
romano, não aplicável aos irlandeses e não vai ver o Primeiro Grau, o de Entered and Crafted
desejada por eles, não aparecem muito bem nestas que acabamos de ver, mutação que será revelada
Constituições. Na verdade, mais uma vez, em

REVISTA UM QUARTO DE HORA – ANO II – NÚMERO 21 – JULHO DE 2017 17


em 1840, onde os Graus passarão a ser Ele é formado devido à introdução da
distribuídos da seguinte forma: Cavalaria Templária na Maçonaria. Aí se
1° grupo: Composto pelos Graus 1 e 2 do encontram os Graus de:
primeiro e segundo períodos produzindo uma 1: Marca Negra – 2: Templários (quatro
Maçonaria Azul em 3 Graus: 1: Aprendiz – 2: Graus) – 3: Passagem do Mediterrâneo – 4: Malta
Companheiro de Ofício – 3: Mestre Maçom. – 5: Cruz Vermelha de Constantino – 6: Cavaleiro
de Patmos
O grau 3 do primeiro e segundo períodos Finalmente, note-se que um Grau que
será usado por si próprio para formar os grupos 2 conheceu grande sucesso na Irlanda no final do
e 3, e eu os encaminho ao texto de Renaissance século XVIII e início do século XIX, o do Real
tradicional sobre as especificidades da Instalação, Arco e Cavaleiro Templário (sacerdote do Arco
mas mesmo assim voltaremos em breve. Real e Cavaleiro Templário) deveria ser o último
2° grupo Grau à imagem daquele da Rosa Cruz no
1: Past-Master (hoje Mestre Instalado) – continente. Também nesta edição 121 de
2: Excelente Maçom – 3: Mui Excelente Maçom Renaissance Traditionnelle e os números 125 e
– 4: Maçom do Arco (Arch Mason) – 5: Maçom 126, Philip Crossle desenvolverá o estudo de três
do Arco Real períodos e é isso que tentaremos fazer com ele em
3° grupo nosso trabalho futuro.
1: Maçom da Arca (Ark Mason) – 5:
Companheiro de Marca – 3: Mestre da Marca – 4: Fontes
Maçom do Ataque ou do Combate – 5: Passagem História da Grande Loja de Maçons Livres e
de Babilônia (ou Cruz Vermelha de Daniel) – 6: Aceitos da Irlanda, Volume 1
Passagem do Jordão – 7: Ordem Real (ou azul da Renaissance tradicional n° 121 – janeiro 2000
Prússia) pag. 5 – XXXI Volume
4° grupo Tradução de J. Filardo publicada em
www.bibliot3ca.wordpress.com/o-rito-irlandes/

REVISTA UM QUARTO DE HORA – ANO II – NÚMERO 21 – JULHO DE 2017 18


O TERNO PRETO, O BALANDRAU E O IRMÃO TERRÍVEL NA
MAÇONARIA ADONHIRAMITA

Noutro dia um Amado Irmão me No início dos tempos o homem


procurou para conversar sobre a obrigatoriedade desenvolveu suas vestimentas de acordo com as
de uso do terno preto na Maçonaria Adonhiramita, necessidades do ambiente em que vivia, com o
sobre a consequente proibição do balandrau em objetivo de proteger o corpo das variações
nosso Rito, e sobre a utilização deste último pelo climáticas e da própria agressividade do meio.
Irmão Terrível nas Sessões Magnas de Iniciação. Com o passar do tempo, à medida em que foi se
Percebi então o quão interessante, e mesmo urbanizando, estas necessidades básicas foram se
intrigante para alguns, é o assunto, e resolvi transformando e cedendo lugar a padrões de
abordá-lo neste artigo. identificação visual: fardas para militares, ternos
Julgo que para começar nossa análise seja para executivos, hábitos para clérigos e por aí
adequado abordarmos o “porque” da escolha do afora. Certamente foi neste contexto que a
terno como “uniforme” na Maçonaria e não de Maçonaria Especulativa adotou o terno como
outra vestimenta qualquer. E este aspecto também vestimenta oficial. Em qualquer ponto do planeta,
possui um forte simbolismo. mesmo nos países em que as túnicas são a
Não obstante vivermos num país de clima vestimenta comum aos homens, uma pessoa
tropical, no qual certamente roupas mais leves são vestindo terno se destaca das demais, parecendo
aconselháveis, não vemos um magistrado usar “diferente”, com ares de seriedade e dignidade ao
bermudas, um executivo usando camiseta do tipo mesmo tempo.
regata em reuniões, ou o Presidente da República O terno, portanto, é o “uniforme” de
vestindo camisas polo em compromissos oficiais. ocasiões formais utilizado pelo mundo ocidental,
E isso se dá por uma razão muito simples: a e a interpretação sensorial de seu uso é comum a
necessidade de formalidade em determinadas todas as sociedades independentemente da
ocasiões. Entenda-se, portanto, formalidade como cultura, é um padrão universal que não possui
um misto de dignidade, seriedade e boa barreiras quanto à identificação imediata dos
apresentação, que são conceitos associados ao uso motivos de seu uso: a formalidade. As sociedades
do terno nas civilizações ocidentais, ou seja, o uso europeias após a Revolução Industrial passaram a
de ternos é um padrão comportamental associar o terno a indivíduos bem-sucedidos, à
considerado como boa apresentação em todas as aristocracia, a um padrão de vida mais elevado.
sociedades ocidentais. Me parece que estes motivos sejam os que
levaram a Maçonaria a adota-lo, afinal, somos

REVISTA UM QUARTO DE HORA – ANO II – NÚMERO 21 – JULHO DE 2017 19


homens livres e de bons costumes, e creio que o egípcio que significa literalmente “Filhos da
terno como vestimenta ainda é a opção que Luz”.
melhor traduz visualmente estes conceitos. Ao Foi um Irmão nosso do passado, Isaac
exigir o uso do terno por todos os Maçons a Newton, que iniciou as pesquisas sobre a refração
Maçonaria está praticando simbolicamente, e da luz utilizando um prisma ótico, e criando
através do entendimento conceitual do observador ambiente propício para o surgimento de uma
externo, uma espécie de “nivelamento por cima”, ciência atual que se denomina Cromoterapia, que
transformando seus membros visualmente em dentre outras coisas estuda o efeito causado pela
cidadãos de êxito, muito embora tenhamos que percepção das cores pelos seres humanos e sua
convir que “nem sempre o hábito faz o monge”. influência através da decodificação desses
Talvez seja uma postura elitista, mas a Maçonaria estímulos sensoriais pelo cérebro.
sempre se comportou como elite. Compreendidas Um dos pressupostos dos estudos de
as razões que levaram os ritualistas a adotarem o Newton é que o que percebemos como branco é o
terno como indumentária dos Maçons, nos resta resultado da reflexão total das ondas luminosas,
saber por que razão a Maçonaria Adonhiramita enquanto que o que percebemos como preto é,
torna obrigatório o uso da cor preta, enquanto opostamente, a absorção total do espectro da luz.
outros Ritos permitem o uso de tons escuros. Embora possa parecer paradoxal é exatamente
A Maçonaria Adonhiramita recebe muitos isso: o branco é a “ausência” de luz, já que a
adjetivos: ortodoxa, radical, rigorosa, tradicional, superfície assim percebida não retém qualquer
e talvez seja mesmo um pouco de cada. Mas comprimento de onda luminosa, refletindo-a
sempre há argumentos que baseiam as regras, e no integralmente; enquanto que o preto é a
caso específico da Maçonaria Adonhiramita “concentração” extrema do espectro luminoso,
praticamente todos são de caráter místico- retida ao nível máximo pela superfície. Sabemos
esotérico, que julgo ser a melhor definição de também que as ondas de luz possuem massa
nosso Rito. Assim ocorre com a escolha do preto. infinitesimal, e que são atraídas
Talvez nossa curiosidade não tenha nos gravitacionalmente como sugeria Einstein. Os
conduzido a uma investigação maior, mas tenho buracos negros, vejam bem, “negros” funcionam
certeza que todos nós já percebemos uma espécie assim, “sugam” toda matéria, incluindo a luz.
de “padrão” no uso da cor preta em trajes O preto, portanto, sob o ponto de vista
sacerdotais, monásticos e nas togas dos Iniciático, pode ser compreendido como a
magistrados. Não deve ser por acaso. E por “ausência da forma”, o “Estado Primordial” – “No
incrível que pareça, apesar da disparidade de princípio, criou Deus os céus e a terra. A terra,
funções, a razão é bem parecida. porém, estava sem forma e vazia; havia trevas
Os místicos da antiguidade possuíam sobre a face do abismo, e o Espírito de Deus
conhecimentos fantásticos, e a ciência vem pairava por sobre as águas. Disse Deus: Haja
comprovando isso através dos séculos. Alguns luz; e houve luz”. (Gênesis I: 1-3) – parece que a
conceitos que eram tratados como superstições há Bíblia tinha razão. O preto, pois, está relacionado
algum tempo se tornaram fatos comprovados à imensidão do “útero universal”.
cientificamente nos dias de hoje, o que só faz O preto, de acordo com as observações de
aumentar meu respeito pelos sábios da Newton, é condutor e portador da luz que guarda
antiguidade. E assim ocorre com a percepção da em si. Simboliza o mistério da Vida, a estrutura
luz, tão cara a nós Maços, “Filhos da Luz”, ou Cósmica sem delimitação e em constante
Phremessen, como afirmara Madame Blavatski expansão. Representa o caos com ordem – Ordo
ao defender que a denominação “Franco-Maçom” ab Chaos – e ainda sob o aspecto esotérico
nada mais é que uma corruptela deste vocábulo representa o princípio elétrico, a morte e o

REVISTA UM QUARTO DE HORA – ANO II – NÚMERO 21 – JULHO DE 2017 20


renascimento espiritual; ao mesmo tempo vácuo e forte simbolismo, bastante significativo para
matriz formadora da luz, a raiz das energias nosso Rito, e que abordarei em outra oportunidade
ancestrais. A igreja católica afirma que os padres para não me afastar do tema. Não é possível obter
usam batinas pretas para representar a morte para efeito energético potencializado utilizando
a vida profana, e conosco não é diferente: quaisquer outras cores que não sejam o preto e o
“morremos” como profanos para “renascer” como branco, ainda que estas sejam complementares,
Iniciados. como o vermelho e o verde, por exemplo, já que
Os místicos do passado consideravam a no caso de cores complementares elas se
cor preta como símbolo da energia telúrica, uma “anulam”.
cor que não doa nem recebe, não proporcionando Ainda assim a adoção do balandrau como
qualquer troca de energias, totalmente neutra, e, traje maçônico possui inúmeros defensores,
portanto, adequada para qualquer trabalho mesmo em praticantes de nosso Rito. Mas creio
metafísico. que sua utilização é pretendida apenas por
Bem, já entendemos que há razões comodidade, e não por qualquer princípio
esotéricas para escolha da cor preta em nossos Iniciático, místico, esotérico ou mesmo histórico.
ternos pelos ritualistas, mas os balandraus Sendo certo, inclusive, que só é utilizado como tal
também são pretos. Por que a Maçonaria nos dias de hoje entre os Maçons brasileiros. Mas
Adonhiramita não permite seu uso? resta a pergunta: e quanto ao Irmão Terrível? Ele
O Universo é dual. Toda manifestação não usa balandrau? Por que ele pode e os demais
possui opostos que se complementam, o Yin e o Irmãos não?
Yang. O Pavimento Mosaico nos recorda isso com Primeiramente devemos registrar que o
suas lajotas pretas e brancas. Vejam bem! Pretas cargo de “Irmão Terrível”, correspondendo ao 1°
e brancas, e não de outra cor qualquer. E é essa Experto (que fica fora dos Templos) só atua nas
exatamente a resposta: a necessidade de Sessões Magnas de Iniciação, e jamais nas
complementação, da harmonização constante dos Sessões Ordinárias. Isto é um fator relevante.
opostos: Luz e trevas, as duas manifestações O Irmão Terrível, que possui atuação das
primordiais do Universo. Mas o que isso tem a ver mais dramáticas em nosso Rito, na verdade faz
com o uso dos ternos? alusão a um determinado ícone do simbolismo
Não se usa o paletó dos ternos sobre o filosófico ocidental: o “Anjo da Morte”, ou
tronco nu. É necessário usar camisa por baixo. E simplesmente “Morte”. Na iconografia medieval,
é aí que surge a complementação: nossas camisas que permanece vívida até nossos dias, o Anjo da
são brancas. Se a “capa” energética formada por Morte era representado como um homem trajando
nossos paletós absorve as energias na sua uma túnica negra com um capuz da mesma cor lhe
superfície preta, a superfície branca de nossas cobrindo o rosto, e segurando uma foice numa das
camisas, mais próximas a nossos Chakras, reflete mãos. A figura do Irmão Terrível é exatamente
essas energias para fora de nosso corpo através de igual, sendo acrescentado apenas o avental e
sua reflexão total. Isso não seria possível usando substituindo a foice pela espada, para que a
um balandrau, que não possui qualquer abertura, alegoria possa ser inserida em nossa Doutrina.
e se caracteriza como um enorme manto que Alguns o enxergam como uma representação dos
“esconde” quem o usa, cobrindo inclusive sua carrascos e torturadores da Idade Média, mas
cabeça com um capuz. Este, aliás, é outro motivo notem que estes não usavam balandrau, usavam
pelo qual nós Adonhiramitas não usamos capuzes ou máscaras apenas com o objetivo de
balandrau: a cobertura de nossas cabeças é preservar sua identidade, já que a função que
efetuada por meio de chapéu, obviamente falando exerciam não era das mais queridas ou aceitas.
dos Mestres Maçons. E os chapéus possuem outro Apesar de representarem a morte de certa forma,

REVISTA UM QUARTO DE HORA – ANO II – NÚMERO 21 – JULHO DE 2017 21


não é a eles que nossos Rituais aludem por uma Iniciados senão a transição entre dois estados de
razão muito simples: os carrascos estão consciência, ao qual só teremos acesso em
associados à punição, ao castigo, enquanto que a conformidade com nossos méritos? A mensagem
morte, esotericamente falando, representa uma que o Ritual pretende transmitir é que se Caim, o
“passagem”. “Irmão traidor”, numa alusão ao primeiro crime
E é exatamente a esta “passagem” que o cometido pela humanidade segundo o relato
Irmão Terrível conduz o neófito. Tal qual bíblico, não se mostrou fiel ao cumprimento do
Caronte, o “Barqueiro das Almas” da mitologia juramento de sigilo prestado, e logo não mais
greco-romana, ele conduz o candidato à morte digno de ser considerado Maçom, que o
Iniciática da Câmara das Reflexões, e logo após o “renascimento Iniciático” lhe seja confiscado, e
leva para o renascimento no interior de nossos que a “morte” o retorne ao estado profano para
Templos. nova purificação – revertere ad loco tuum. A
É verdade que nosso Rito tem como privação da Vida Iniciática não é um castigo, é
peculiaridade a “Cena da Traição”, que é apenas a consequência natural de seus atos.
protagonizada exatamente pelo Irmão Terrível, e O Irmão Terrível, portanto, é um símbolo,
que nessa ocasião ele age literalmente como um uma personagem externa a nossos Rituais de
carrasco. Mas notem também que nesse caso ele Sessões Ordinárias, que só efetua seu trabalho nas
atua não como um vingador ou executor de recepções de novos Maçons, e que não atua no dia
justiça. Ele age como o guardião dos segredos da a dia de nossos trabalhos. De mais a mais, como
Ordem, dos quais, segundo o Ritual, é o fiel seria distinguido como tal se todos nós usássemos
depositário. Afinal, o que é a morte para nós os mesmos trajes durante as Sessões?

REVISTA UM QUARTO DE HORA – ANO II – NÚMERO 21 – JULHO DE 2017 22


A literatura dedicada ao Rito Adonhiramita é
escassa, o que devemos considerar uma consequência
natural em virtude da desproporção existente entre o número
de praticantes de nosso Rito, se comparado ao Rito Escocês
Antigo e Aceito, recordista de publicações no Brasil, por exemplo.
No entanto, existem peculiaridades – se não houvesse não
haveria Ritos – e esta lacuna acaba por dificultar o entendimento dos
fundamentos, principalmente relacionados à nossa liturgia e ritualística,
tanto para Aprendizes quanto para os Mestres mais experientes.
Por outro lado, com a profusão do fenômeno de comunicação denominado
internet, a oferta de informações obtida através do mais simples mecanismo de busca
é espantosa, e aí surge a indagação: o que é confiável?
Por essa razão, a Revista UM QUARTO DE HORA se propõe a divulgar
publicações de autores confiáveis, cuja leitura de suas obras em nosso entendimento irá
auxiliar os Maçons praticantes de nosso Rito na formação de juízo acerca de nossa sublime
Doutrina.
Nossa Revista não possui qualquer fim lucrativo, e, portanto, as matérias publicadas aqui não
têm o objetivo de promover autores ou editoras em especial, pretendemos apenas sugerir a leitura de obras
que possam proporcionar algo de bom, de útil e de glorioso.

TEMPLO MAÇÔNICO

O espaço em que nós Maçons realizamos acordo com os diversos Ritos praticados
nossas Sessões, e que denominamos Templo, regularmente no Brasil.
possui um rico simbolismo e diversos É, portanto, uma leitura das mais
ensinamentos espalhados de modo interessantes, que nos leva a “enxergar”
visível e ao mesmo tempo oculto em aquilo que normalmente “não vemos”
suas paredes, pisos, tetos e decoração. nos locais onde nos reunimos.
À medida em que vamos nos É uma obra que cativa o leitor
familiarizando com este espaço, e independentemente do Grau com o qual
investigando a origem dos símbolos ali se encontra decorado, acrescentando
distribuídos, enriquecemos nosso muito, e com certeza, ao que supomos
conhecimento, e ampliamos nosso já saber.
entendimento sobre a Maçonaria e sua TEMPLO MAÇÔNICO, de
Doutrina. Jorge Barnsley Pessôa Filho,
Jorge Barnsley Pessoa Filho se publicado pela Editora Madras, é a
propõe nessa obra a desvendar as leitura recomendada da revista UM
origens e fundamentos que norteiam a QUARTO DE HORA deste mês.
configuração física dos Templos
Maçônicos da atualidade, interpretando-os de

REVISTA UM QUARTO DE HORA – ANO II – NÚMERO 21 – JULHO DE 2017 23


MÊS DIA GRAU CLASSIFICAÇÃO

7 1 Sessão Extraordinária
14 1 Sessão Ordinária
JULHO
21 1 Sessão Ordinária
28 1 Sessão de Finanças
4 1 Sessão Ordinária
11 1 Sessão Ordinária
AGOSTO
18 1 Sessão Ordinária
25 2 Sessão Magna de Elevação
1 2 Sessão Ordinária
8 Suspensão dos Trabalhos
SETEMBRO 15 1 Sessão Magna de Aniversário da Loja
22 2 Sessão Ordinária
29 3 Sessão Ordinária
6 2 Sessão Ordinária
13 Suspensão dos Trabalhos
OUTUBRO
20 2 Sessão Ordinária
27 1 Sessão de Finanças
3 Suspensão dos Trabalhos
10 1 Sessão Magna em Comemoração 300 Anos GLU Inglaterra
NOVEMBRO
17 2 Sessão Ordinária
24 2 Sessão Ordinária
1 2 Sessão Ordinária
DEZEMBRO 8 1 Sessão Ordinária
15 Suspensão dos Trabalhos

Observações:
a) O Calendário poderá sofrer alterações em conformidade com a necessidade dos Trabalhos
11 Grau de Aprendiz Maçom
8 Grau de Companheiro Maçom
1 Grau de Mestre Maçom
4 Trabalhos Suspensos

REVISTA UM QUARTO DE HORA – ANO II – NÚMERO 21 – JULHO DE 2017 24


Aug e Resp Loj Simb SCRIPTA ET VERITAS, N° 1.641
Grande Benfeitora da Ordem – Fundada em 10.09.1965
Federada ao Grande Oriente do Brasil – GOB
Jurisdicionada ao Grande Oriente do Brasil no Rio de Janeiro – GOB-RJ
RITO ADONHIRAMITA
Palácio Maçônico da Rua do Lavradio, n°97, Templo n°6, Centro, Oriente do Rio de Janeiro
Sessões todas as sextas-feiras, às 19:30h

COMPOSIÇÃO DA ADMINISTRAÇÃO
BIÊNIO 2017 – 2019 EV

SWAMI CAETANO DASILVA


Venerável Mestre
FERNANDO SANTOS PEDROZA DE ANDRADE SIDNEY COELHO DE CARVALHO
1° Vigilante 2° Vigilante
SERGIO ANTONIO MACHADO EMILIÃO ARLINDO JORGE DE CAMPOS
Orador Secretário
REYNALDO PASSOS CALAZA ISAAC DOMINGOS DA SILVA
Tesoureiro Chanceler

COMPOSIÇÃO DOS DEMAIS CARGOS

HENRIQUE DA SILVA PEREIRA


Cobridor Interno
CARLOS ALBERTO BORGES DA SILVA PAULO EDUARDO MIRANDA CUNHA
Mestre de Cerimônias Hospitaleiro
THIAGO DE ASSIS SOUZA FLAMARION GOMES TAVARES
Arquiteto 2° Experto
ALBERTO JOSÉ PINHEIRO GRAÇA LEONARDO HERMÍNIO EPEL
Mestre de Harmonia Porta Estandarte
LUÍS CLÁUDIO PEREIRA DERBLY
Porta Bandeira
LEONARDO HERMÍNIO EPEL
Garante de Amizade – Manitoba – Canadá
WINSTON DE MATTOS
Deputado Estadual

REVISTA UM QUARTO DE HORA – ANO II – NÚMERO 21 – JULHO DE 2017 25


Você Amado Irmão, praticante de qualquer Rito
Maçônico, e não apenas o Adonhiramita, membro regular de
outras Lojas, e que tem prestigiado esta publicação, não se sente
também impelido a participar de nossa empreitada?
Nossa revista, como o Amado Irmão bem sabe, não possui
qualquer finalidade lucrativa ou comercial, e não tem outro objetivo que
não seja o de fomentar o debate e a pesquisa sobre a Doutrina de nossa
sublime Ordem, exercendo desta forma, e ao mesmo tempo, a máxima do
Livre Pensamento, permitindo aos Amados Irmãos tornarem públicas suas ideias
sobre a simbologia e a História de nossa Ordem, além de estimular a prática do nobre
ideal de todos os Maçons de “aprender para saber, e saber para ensinar”.
Se este também é seu sentimento, e o Amado Irmão possui alguma Peça de
Arquitetura que gostaria de compartilhar com outros Maçons, junte-se a nós!
Neste sentido, a ARLS SCRIPTA ET VERITAS, n° 1.641, Grande Benfeitora
da Ordem, não apenas abre as portas de nosso sagrado Templo para honradamente receber o Amado
Irmão em nossas Sessões nos auxiliando em nossos Trabalhos, mas também franqueia as
páginas da revista digital UM QUARTO DE HORA, para publicação de sua opinião sobre
qualquer tema de interesse Maçônico relacionado ao Grau de Aprendiz Maçom.
Para que seu texto seja publicado em nossa revista basta enviá-lo em meio digital para o
endereço eletrônico “quartodehora@scriptaetveritas.com.br”, acompanhado de uma fotografia sua nos
formatos JPEG ou PNG, e um pequeno currículo maçônico nos moldes do exemplo abaixo:

NOME CIVIL (PROFANO)


Nome Histórico (se for o caso)
Grau Maçônico
Loja a que Pertence e Oriente
Rito que pratica
Data da Iniciação
Comendas e condecorações

Não hesite! Sozinhos nada podemos, mas juntos de tudo somos capazes! Esperamos por você
em nosso próximo número!

Fraternalmente,

SERGIO EMILIÃO
Editor

REVISTA UM QUARTO DE HORA – ANO II – NÚMERO 21 – JULHO DE 2017 26


A presente publicação foi produzida com o software
Microsoft Office Professional Plus 2013©, utilizando as fontes
Calibri e Times New Roman, corpos 12, 16, e 24 em espaçamento
simples.
As imagens utilizadas foram retiradas da internet, sendo portanto
de domínio público; e dos CD ROMs da série “Clipart Maçônica”
comercializados pela empresa Arte da Leitura, e editadas com a utilização do
software gráfico vetorial CorelDRAW X8©.
As fotografias dos AAm IIrm foram colhidas no acervo fotográfico da
Loja, ou disponibilizadas pelos próprios Amados Irmãos.
O conteúdo da publicação é Iniciático e não pode ser divulgado no meio profano.
Comentários, críticas, sugestões e colaborações de textos podem ser encaminhados
Para o e-mail: quartodehora@scriptaet.com.br.

UM QUARTO DE HORA é uma publicação periódica e sem fins lucrativos, editada pela
Augusta e Respeitável Loja Simbólica SCRIPTA ET VERITAS, N° 1641, Grande Benfeitora da
Ordem, praticante do Rito Adonhiramita, fundada em 10 de setembro de 1965, federada ao
Grande Oriente do Brasil – GOB, e jurisdicionada ao Grande Oriente do Brasil no Rio de Janeiro
– GOB-RJ. A Loja funciona todas as sextas-feiras, às 19:30 horas, no Templo n° 6 do Palácio
Maçônico da Rua do Lavradio, n° 97, Centro, Rio de Janeiro, RJ.

Edições anteriores podem ser solicitadas pelo Amado Irmão através do nosso e-mail
quartodehora@scriptaetveritas.com.br, ou ainda baixadas diretamente do nosso site
www.scriptaetveritas.com.br.

Capa: Retábulo Adonhiramita – Sergio Emilião


Arte, compilação, revisão e diagramação – Sergio Emilião

Rio de Janeiro, julho de 2017 EV

Visite nossa página na internet em www.scriptaetveritas.com.br

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA
NÃO PODE SER VENDIDO

REVISTA UM QUARTO DE HORA – ANO II – NÚMERO 21 – JULHO DE 2017 27

Você também pode gostar