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Vou contar a minha “ odisseia” de tentar comprar um carro usado…

Não correu muito bem, vim para casa de bicicleta….

Maravilhoso era ter uma bola de cristal , mas se isso é uma utopia, podemos tentar encontrar
algumas pistas para esse santo Graal , mas para isso precisamos de saber o que analisar, onde
procurar, quais as fontes disponíveis e saber interpretar os dados, mas cada “coisa” a seu tempo.

Normalmente a economia é feita de ciclos económicos e dependendo da origem da mesma, a


repercussão nos mercados em valor e em tempo, varia, é tipo a pedrada no charco , tudo
depende do tamanho da pedra….

Recessão onde procurar os sinais?

Quem já comprou um carro usado, também procurou indicadores que lhe conseguissem
afiançar o estado da viatura e não ter de gastar num futuro próximo dinheiro numa oficina ( é
sempre um dor de cabeça) , e quais são alguns indicadores?

A título de exemplo, os calços de travão, o número de quilómetros , o estado da pintura, a


mecânica geral e os pneus ….

Como não sou especialista em automóveis, não me vou “esticar” , mas acho que deu para
perceber a ideia

Vamos analisar agora cada um deles pormenorizadamente, fica apenas a nota que a ordem é
completamente aleatória

1- Os nossos calços de travão, são a venda de casas / construção de novas / preços /


oferta e procura

O Pib dos “estates” está assente em 2 pilares ( não são os únicos, mas são dos mais importantes)
, o consumo interno e o sector da construção destinado a habitação.

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Normalmente a construção de casas demora meses ou até anos, dependendo do tipo de
complexo habitacional que estamos a falar, por isso ao mínimo sinal de “arrefecimento da
economia” não são iniciados grandes projetos, começando a cair os índices de construção .

Neste exemplo podemos ver que a construção atingiu o pico em abril e caiu 22,75%,
recuperando um pouco em agosto. Em 2008 o índice de construções novas caiu 80%….

Neste momento estamos em valores pré covid, primeiro sinal de alarme de que os calços de
travão estão meios gastos….

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2. Os nossos quilómetros serão os lucros das empresas e o seu comportamento em bolsa

Talvez não seja a melhor comparação ( mas não me lembrei de outra melhor, vá lá tenham
paciência, já tinha dito que não sou expert em automóveis) , mas para mim não faz grande
diferença o número de quilómetros, mas sim como são feitos ( auto estrada ou em paralelos) e
qual o tipo de condução de que quem conduz o automóvel (o típico acelera dos semáforos ou
condução cuidada, tipo “velhinha de 80 anos)

É exatamente o paralelismo que quero fazer com a “condução “ das empresas e como isso
poderá ajudar na resiliência das empresas nos mercados conturbados que se avizinham

As empresas estão altamente alavancas em crédito e isso é o reflexo do “dinheiro barato” e


crédito fácil, acaba por ser o resultado da política expansionista do FED nos últimos 14 anos.

Assim importa perceber os lucros das empresas em função do PIB

O alarme soou em 2019, mas foi silenciado por causa do covid , em julho de 2020 começou o
“Money printing” e percebemos que os lucros foram subindo até janeiro de 2022, quando torna
a soar o alarme.

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O que me preocupa verdadeiramente não é a redução dos lucros, mas sim a alavancagem da
divida .

Mas este problema da redução de lucros irá gerar um novo problema que é o desemprego , que
para mim será o estado da pintura do novo bólide ….

3. Agora vamos tentar analisar a pintura da viatura , que será o nosso desemprego

Uma decisão logica será cortar “postos de trabalho” quando os “ quilómetros” começam a ser
muitos e os lucros baixam, a via mais fácil de responder aos investidores que exigem resultados,
será cortar nos gastos de mão de obra em que normalmente são a maior fatia dos gastos
operacionais das empresas .

Mas esta decisão “enferma “ na teoria da pescada de rabo na boca , mais desemprego, menos
consumo, menos lucros , menos dividendos, blá, blá , bla, vocês já sabem esta conversa de cor
e salteado…

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Mas vamos aos dados:

Estamos em níveis dos mais baixos dos últimos 60 anos, mas parece que a curva que “inverter”
, mas estamos a falar de valores muito baixos

Ainda e é prematuro falar de inversão de tendência , contudo devemos ter presente a previsão
do FED para 4 % em 2022 e 6 % em 2023

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Conclusão, a pintura da viatura até nem está muito mal, é a “força do tempo”….

4 – Vamos analisar a mecânica geral , que será a nossa curva invertida das yields

Para mim o motor do automóvel é o “coração”, atribuo essa mesma características à inversão
das curvas na economia , 2 e 10 anos e 5 e 30 anos .

Já escrevi sobre isto em abril , irei colocar pequenos excertos que acho pertinente, do que foi
escrito

Uma curva de rendimento do Tesouro dos EUA invertida, onde os títulos do Tesouro de curto
prazo têm taxas mais elevadas do que os títulos do Tesouro de longo prazo, são sempre uma
boa “bola de cristal nos últimos 50 anos.

Ocorreram oito inversões das curvas de juros desde a Segunda Guerra Mundial e todas elas
foram a bola de cristal de uma recessão económica no prazo de 2 anos.

Curva de juros invertida e o mercado de ações

As ações geralmente apresentam bom desempenho após uma inversão da curva de rendimento,
de acordo com dados históricos devido aos sucessivos estímulos, mas piora antes de melhorar.

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O SP500 subiu em média 2% após três meses de inversão da curva de juros, 6% após seis meses,
10, % após um ano e 16 % após dois anos.

Após 6 meses subiu 18 %, se bem que já os perdeu….

Curva de rendimento invertida e ouro

A análise histórica mostra que os investidores não investem logo em ouros nos meses seguintes
à inversão.

Os retornos médios do ouro após 3 meses da inversão da curva são negativos (-3,5%), e apenas
em um caso (após a inversão da curva em dezembro de 2005) o ouro deu retornos positivos
após 3 meses.

Os retornos após 6 meses são ligeiramente positivos (1%), após 1 ano situam-se em 7% e após
2 anos em 34%.

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Continua a funcionar a bola de cristal …

Curva de juros invertida e o dólar

A análise histórica mostra desempenho misto do dólar nos períodos posteriores à inversão da
curva.

Os retornos médios do índice do dólar americano ( DXY ) são apenas ligeiramente positivos em
3 e 6 meses e após 1 e 2 anos da inversão da curva.

Aqui a bola de cristal falhou, onde se lê “ligeiramente” deveria ser exponencialmente”

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Após a analises dos gráficos chego à seguinte conclusão a Bola de cristal funciona, mas é a
mecânica está toda “lixada”…

5- Vamos analisar os pneus do automóvel e que será o LEI

Lei é Leading Economic Index, agradeço ao Igor a dica que deu este fim de semana sobre este
indicador a aconselho a visualização do vídeo dele.

Mas afinal o que é o índice Económico Líder (LEI) do Conference Board?

É um indicador económico americano que tenta prever o comportamento da atividade


económica a 7 meses

A título de curiosidade

Os dez “componentes” do The Conference Board Leading Economic Index® para os EUA incluem:
Média de horas semanais na fabricação; Média semanal de pedidos iniciais de seguro-
desemprego; Novos pedidos de fabricantes de bens de consumo e materiais; Índice ISM ® de
Novos Pedidos; Novos pedidos de fabricantes de bens de capital não relacionados à defesa,
excluindo pedidos de aeronaves; Licenças de construção para novas unidades habitacionais
privadas; Índice S&P 500 ® de Preços de Ações; Leading Credit Index ™ ; Spread de juros (títulos
do Tesouro de 10 anos menos taxa de fundos federais); Expectativas médias do consumidor para
condições de negócios.

Em 22 de setembro saiu o novo reporte e passo a citar

“O LEI dos EUA caiu pelo sexto mês consecutivo, potencialmente sinalizando uma

recessão”, “Entre os componentes do índice, apenas os pedidos iniciais de seguro-desemprego

e o spread de rendimento contribuíram positivamente nos últimos seis meses – e a contribuição

do spread de rendimento diminuiu recentemente.”

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Este indicador também prevê as recessões , riscos a vermelho

E se verificarem desde o ano de 2000 que este indicador apenas em 4 vezes assinalou recessão….

Conclusão , vou comprar uma bicicleta, este carro não serve….

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