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    Tendo em conta o que estudou, comente, relacionando-os, os textos seguintes:

Da Imitação de António Ferreira


A imitação tem sua autoridade
Em seguir só o antigo e escolhido
Ganha assi melhor nome e gravidade,
E com razão lh’ é mais louvor devido.
Mas s’ alguém se igualar à Antiguidade,
Porque imitado não será e seguido?
Eu a só meu Ferreira sempre imito
Igual em tudo a todo antigo esprito

Pero de Andrade Caminha

[No Renascimento] O princípio da imitação está sempre presente: imitação de Jesus


Cristo que constitui o modelo por excelência. Imitação dos antigos no domínio literário
[...] Imitação dos grandes do Renascimento no domínio da pintura italiana: o
maneirismo na pintura foi definido pelo próprio Vasari como à maneira de Rafaello,
ou à maneira de Miguelângelo.”

 Claude Gilbert Dubois, Le Manièrisme

1. O conceito de Maneirismo em Portugal data desde os meados do séc. XVI até aos
meados do séc. XVII. Este movimento artístico é herdado da pintura que sofre
alterações na sociedade e mentalidade. As classes económicas das sociedades de
Corte deixaram de ser guerreiras e passaram a ser fontes de poder. A pintura em
madeira dos altares vai representar cenas de devoção. Há novidades técnicas que
se refletem numa maior eficácia da pintura, o uso da tempura é utilizado para fixar
a cor. Utilizam-se produtos de origem animal e clara de ovo para fixar a tinta, que
dá mais brilho às cores. A arte deve representar a natureza, dar efeito de
profundidade para que a pintura crie outras dimensões daquela perspetiva. Tenta-
se imitar a natureza, procura-se que as figuras humanas exprimam os afetos e as
emoções.

Esta época artística aparece, porque se verifica, em determinados pintores desta


altura, uma forma diferente de aprender a imitação do real, há a preocupação de imitar o
real. Não há necessidade de reproduzir aquilo que se vê, mas reproduzir a partir de uma
representação do que se vê, ou seja, existem dois tipos de imitação: uma imitação mais
transparente, mais fácil de ler num esquema, que traduz as diferentes perspetivas do
autor em relação ao objeto, e uma imitação que pretende imitar, recriando de outra
maneira.

Nesta época encontramos vários autores, entre eles, Raffaello e Miguelângelo.


Raffaello está a tentar criar uma ilusão do real, já Parmigianino estaria a tentar
reproduzir uma ideia do real, aquilo que seria uma reprodução emocionante, passada
pela sua sensibilidade. Miguelângelo foi um pintor, escultor, considerado um dos
maiores criadores da História da Arte do Ocidente, da época de transição do
Renascimento para o Maneirismo, centrado na representação da figura humana, em
especial da masculina. No séc. XIII, na Itália, a pintura era relacionada à religião, a uma
intenção catequética, havia a preocupação de ter um objeto simbólico divinacional, onde
o crente fixava o seu pensamento na oração e religião. Deste modo, “O princípio da
imitação está sempre presente: imitação de Jesus Cristo que constitui o modelo por
excelência.”, ou seja, a religião serviu de ponto de partida para o Maneirismo, para uma
imitação da pintura definida “… pelo próprio Vasari como à maneira de Raffaello, ou à
maneira de Miguelàngelo”.

Pero de Andrade Caminha foi um fidalgo e poeta português que viveu durante a
época do Maneirismo. Era rival de Luís de Camões e dizia que a imitação é o princípio
gerados das obras culturais. Na sua obra Da Imitação de António Ferreira, vamos
buscar exemplos do antigo, pois ao imitar objetos da antiguidade garante-se autoridade,
como ele refere “a imagem tem sua autoridade/ em seguir só o antigo e escolhido”, a
consagração do autor faz-se a partir do antigo e do escolhido. Imitar grandes autores dá
autoridade, estatuto e prestígio a quem imita: “Ganha assi melhor nome e gravidade,/ E
com razão lh´ é mais louvor devido.”, “Mas s´alguém se igualar à/ Antiguidade/ Porque
imitado não será e seguido?”, mas se vier outro imitador que imite o imitador então
porque é que ele não poderá ser imitado e seguido?
Concluo que Pero de Andrade Caminha diz que Raffaello imita o real e outro irá
imitá-lo, tornar-se-á uma espécie de cadeia, onde uns se imitam aos outros, o que
resultará no conceito de Maneirismo que se baseia no princípio da imitação do real.

2-     Tendo em conta o que estudou comente, relacionando-os, os textos que se seguem:

“Vi por mandado de Sua Alteza este livro de Autos & Comedias Portuguesas, & não
tem nada contra a fee e bõs costumes, nem cousa por onde se não deva de imprimir. Fr.
Bertolameu Ferreyra”

Primeira parte dos Autos e Comédias portuguesas ... (1587)

Assi que desejando nós avisar & acõselhar os fieis Christãos, & assi prover daqui em
diante não leam nem tenham livros ou escritos de qualquer qualidade que sejam
repreovados, ou de hereges, ou sospeitos disso, ou de qualquer outra malicia contraira a
nossa sancta fé, ou à honestidade & decência de nossos costumes: ou que ao menos hão
mister alguma emenda & censura: por esta presente com autoridade Apostolica
aprovamos o dito Rol, & juntamente umas Regras que no princío delle se contem.”

 Rol dos livros que nestes reynos se prohibem.... (1564)

2. A censura em Portugal inicia-se em 1536, séc. XVI, com a vinda da Inquisição para
Portugal. Nesta época o processo de censura reúne três instâncias: Inquisição,
Desembargo do Paço e Ordinário (bispo de casa diocese) e para uma obra puder ser
publicada necessitava da aprovação destas identidades. No séc. XVIII, em 1719, a
seguir ao terramoto de Lisboa, Marquês de Pombal ganha puder e faz reformas no país.
Os jesuítas são expulsos de Portugal e o princípio inquisitório é reformado e reunido no
que se chamou a Real Mesa Censória, em 1768. Esta instituição tinha três objetivos
fundamentais, o de implementar, de facto, a soberania de Direito Divino, o de impedir a
entrada em Portugal de ideias contrárias à ideologia política do Absolutismo Iluminado
e o de eliminar influências dos seus inimigos, principalmente dos Jesuítas.
A censura pretendia controlar os textos, mas também controlar comportamentos,
controlar a heresia e impedir que fés diferentes do Cristianismo se propagassem no
território português. Constitui-se uma rede auxiliar da Real Mesa Censória, a Inquisição,
também conhecida como Tribunal do Santo Ofício.

A censura em Portugal exerce-se de duas maneiras, a censura preventiva e a


censura repressiva. A primeira é uma censura prévia das obras, que mais tarde elaborava
Índices Expurgatórios, era exercida pelo Conselho Geral do Santo Ofício, pelo
Ordinário da Diocese e pelo Desembargo do Paço, em 1576. A segunda controlava as
alfândegas, portos e visitas às livrarias públicas e particulares.

Com a censura tornou-se necessário estabelecer quais os livros ou autores


proibidos que não se podiam ler. Surge também a figura do denunciante, aquele que
acusava quando sabia de alguém que tivesse em sua posse um livro proibido. O livro era
confiscado, os bens da pessoa também e o denunciante recebia parte dos bens dessa
pessoa. Os livros proibidos eram compilados num rol de livros proibidos. O primeiro
em 1547, o segundo em 1551, com livros em português e o terceiro, publicado durante o
Concílio de Trento, em 1559, ficou conhecido como tridentino. As obras quando
publicadas requeriam sempre um autor, não podiam ser publicadas anonimamente, pois,
se fosse caso de a obra ser censurada, teria de haver um autor para punir e prender. No
Rol dos livros que nestes reynos se prohibem…. (1564), podemos observar que os livros
eram reprovados se houvesse “… qualquer outra malicia contraira a nossa sancta fé, ou
à honestidade & decência dos nossos costumes…”

O período que vai entre os índices proibitórios de 1564 e de 1581 pode


considerar-se o período de assentamento, em que a unidade de pensamento e de
expressão católica se firma. A censura exerce-se de todas as formas. O corte das folhas,
o riscar de palavras em livros já impressos e vindo de fora, através da guilhotina para
mutilar páginas ou até mesmo capítulos inteiros, ou simplesmente apenas um nome, do
autor, por exemplo, ou através da queima dos livros.

Podemos observar no excerto da Primeira parte dos Autos e Comédias


portuguesas … (1587): “Vi por mandado de Sua Alteza este livro de Autos & Comedias
Portuguesas, & não tem nada contra a fee e bõs costumes, nem cousa por onde se não
deva de imprimir”, que a obra foi aprovada por Sua Alteza, pois nela não se encontram
pontos que sejam necessários de proibir. A obra é totalmente aceite.
Concluo que todas as obras para serem aprovadas para publicação necessitam de
ser aprovadas pelas três instituições responsáveis, referidas acima. Se os livros tivessem
pontos que os tornassem ilícitos de serem lidos ou adquiridos pela população a obra não
era publicada, ou, caso já o tivesse sido, eram rasuradas as frases ou excertos proibidos.
Caso a obra fosse totalmente lícita, a mesma era publicada e podia ser adquirida
livremente, o que não significada que, posteriormente, pudesse ter algo proibido que
não tivesse sido detetado e a obra fosse proibida ou rasurada.

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