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CONTRABANDO E DESCAMINHO
ENQUANTO DELITOS ADUANEIROS SOB A
ÉGIDE DOS ARTIGOS 334 E 334-A DO CÓDIGO PENAL
lattes.cnpq.br/2384643284696946
INTRODUÇÃO
Com a promulgação da Lei Nº. 13.008/2014, que cindiu o aludido artigo 334 do CP,
Descaminho agora é 334. Contrabando agora é 334-A.
Nada obstante a previsão conjunta de ambos os delitos no mesmo antigo artigo, que atribuía
pena igual de reclusão de 1 a 4 anos para os dois, a natureza jurídica de um e de outro é diversa,
pois apenas o Descaminho pode ser considerado delito aduaneiro, pois lesa o Tesouro Pátrio
contrariando interesses de política econômica em sentido amplo, enquanto o Contrabando ofende e
desafia a própria soberania nacional, que é quem permite o comércio internacional de importação e
de exportação, na medida em que faz circular produto proibido.
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Não se tratam de delitos de criação recente, deles já se encontravam históricos vestígios na
Antiga Roma e Idade Média. Sendo certo que as figuras definidas no aludido antigo artigo 334 do
CP, já eram previstas no nosso próprio Código do Império.
Há alguns anos o STF tem se orientado não somente pela reafirmação das diferenças
existentes entre ambos os crimes sob foco. Tem outrossim, deixado de aplicar em seus julgamentos
o chamado princípio da insignificância penal, também conhecido como crime de bagatela, no que
concerne ao delito de entrada (importação irregular), de cigarros de origem estrangeira desprovidos
de documentação correta e, sobretudo recolhimento de tributos. Asseverando ser esta importação,
crime de Contrabando e não simplesmente de Descaminho.
Os mesmos perigos na questão do tabaco, também estão presentes noutros produtos como
os agropecuários, as bebidas e até mesmo os medicamentos.
A principal diferença entre ambos os institutos tipificados e sob análise está que no
Contrabando a mercadoria é simplesmente proibida de entrar ou sair do País, a exemplo de armas,
munições ou entorpecentes, enquanto no Descaminho a entrada ou a saída é permitida, todavia, há
fraude tributária, isto é, engano ao Fisco quanto ao recolhimento dos tributos devidos, quer total ou
parcialmente. Inexistindo, portanto, as formalidades alfandegárias.
Logo, há por óbvio, interesse estatal em face do erário, lesado em ambos os casos tanto na
exportação e/ou na importação de mercadoria proibida de circulação, muitas vezes até por questões
de saúde pública, conforme acima apontado, quanto na ausência de recolhimento fiscal,
prejudicando ademais a própria indústria nacional que enfrenta verdadeira concorrência desleal e a
sociedade com a fraude ao Tesouro Nacional.
Tratam-se de delitos comuns podendo ser cometidos por qualquer pessoa, a sujeição ativa,
porém, dificilmente é praticada por uma só pessoa, tendo o Estado como sujeito passivo e o
Servidor que participar do fato responde pelo crime tipificado no artigo 318 do CP que dispõe
“facilitar, com infração ao dever funcional, a prática de contrabando e descaminho”, logo, o
contrabandista responde pela conduta do artigo 334 – A (comum), enquanto o Servidor pela do
artigo 318, este, porém, é crime próprio exclusivo de cometimento por Servidor Público, lotado em
Repartição com dever funcional fiscalizatório.
Em ambos os casos são exigidos o dolo genérico, isto é, a clara intenção em importar ou
exportar mercadoria proibida de circulação no exemplo do Contrabando ou em fraudar buscando
iludir o Sujeito Ativo Tributante no todo ou em parte, no exemplo do Descaminho. Bastando a
vontade livre e consciente de praticar o fato, ciente de sua ilicitude.
Qualifica os crimes com penas aplicadas em dobro, se a conduta do agente é realizada por
meio de transporte aéreo, marítimo ou fluvial, nos termos do parágrafo 3º. de ambos os artigos 334
e 334-A, o motivo do alargamento punitivo é que através destes meios, a fiscalização estatal se
torna mais difícil, além do emprego delituoso ser mais sofisticado, tornando assim o crime mais
fácil de ser cometido, consequentemente, mais grave sua punição. Duas destas qualificadoras são
novas: a marítima e a fluvial, outrora só havia a aérea. O aprimoramento das formas de transporte,
além de alargar a conduta criminosa, pacifica intermináveis discussões jurisprudenciais e
doutrinárias, especialmente porque o Direito Penal é rígido no seu principio da tipicidade cerrada,
porque antes somente o transporte aéreo era considerado agravante de pena, se era via marítima ou
fluvial, não se aplicava.
Numa comparação superficial, tais falsificações e/ou omissões documentais poderiam ser
compreendidas como um verdadeiro „estelionato‟, na medida em que induz a erro, ou seja, engana
o Sujeito Ativo da relação tributária, tal qual descreve o artigo 171 do CP, por meio de verdadeira
falsidade material ou ideológica de tais documentos, conforme, aliás, também descrevem os artigos
297/299, do mesmo Código.
Cumpre ressaltar ademais que as práticas delituosas da supressão e/ou da redução tributária,
descritas no artigo 1º. da referida Lei Especial é crime material, isto é, de resultado, somente se
consumando se o sujeito efetivamente alcançar sua ação dolosa de suprimir e/ou de reduzir o
tributo. Enquanto que as condutas estampadas no seu artigo 2º. são formais ou de mera conduta,
independentemente do resultado.
PRINCIPAIS CAUSAS
DE FLORESCIMENTO DO
CONTRABANDO E DO DESCAMINHO
Para problemas recorrentes conforme acima apontados, também há soluções práticas, nem
sempre, porém, factíveis, assim vejamos:
d) Cooperação dos Países Vizinhos: De nada adianta um Estado exercer sua atividade de
fiscalização fronteiriça de modo austero, se seus vizinhos agem diametralmente diferentes,
isto é, a austeridade se torna vã;
Na medida em que, há diferença delituosa nos institutos sob análise, sendo o contrabando
mais grave do que o descaminho, é natural que o tratamento final do produto apreendido
dispensado a ambos seja também distinto.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ante a singela exposição de acima, podemos refletir que as questões aqui postas não são
novas, antes pelo contrário, já faziam parte das preocupações da Roma antiga e entre nós desde os
primórdios do Império.
Os motivos são inúmeros, apenas alguns poucos foram trazidos à colação neste trabalho
com possíveis soluções, todavia nenhuma delas de fácil execução, exigindo muita inteligência e
cooperação quer dos Estados envolvidos e lesados, quer das Sociedades.
Tais artigos distinguem bem as figuras penais. O Contrabando teve a sua pena relevada e
soma o transporte marítimo e fluvial, muito comuns na persecução também do Descaminho, ao
aéreo, já previsto primitivamente, no agravamento da pena em seus parágrafos 3º., em ambos os
artigos aqui estudados, pacificando discussões jurídicas ante a rigidez do princípio da tipicidade
cerrada.
Academicamente, porém, interessa de perto para àqueles que militam com os desafios da
mercancia internacional, a real existência cada vez mais forte apontada pela doutrina de um ramo
autônomo da ciência jurídica intitulado Direito Aduaneiro que se dissocia do Direito Tributário,
muito embora no Brasil a administração de ambos os ramos esteja entregue ao mesmo Órgão da
Administração Fazendária – Secretaria da Receita Federal – porque o Direito Aduaneiro se ocupa
principalmente dos trabalhos relacionados ao controle e fiscalização do comércio exterior,
merecendo especial atenção dos estudiosos e militantes do tema.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
Noronha, Magalhães E. – Direito Penal – Volume 4 – Editora Saraiva – São Paulo –1962;
Rocha, Paulo César Alves – Regulamento Aduaneiro Comentado – Editora Aduaneiras –
São Paulo – 16ª. Edição – 2012;
Trevisan, Rosaldo – Direito Aduaneiro e Direito Tributário: Distinções Básicas In Temas Atuais
de Direito Aduaneiro – Lex Editora – 1ª. Edição – 2008;
Wolkmer, Antonio Carlos – História do Direito no Brasil – Editora Forense – Rio de Janeiro - 6ª.
Edição – 2012.