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MATERIAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL I

PROF. ALEXANDRE MARIOTTI

COMO DISTINGUIR ENTRE PRINCÍPIOS E REGRAS?

Trata-se, reconhece CANOTILHO, de uma tarefa particularmente complexa , para a


qual são sugeridos diversos critérios (“Direito Constitucional e Teoria da Constituição”, p.
1034-1035). Podemos começar com um lista de critérios de identificação:
a. Grau de abstração: os princípios são normas com um grau de abstração
relativamente elevado, enquanto as regras possuem um grau reduzido de
abstração.
b. Grau de determinabilidade na aplicação do caso concreto: os princípios, por serem
vagos e indeterminados, carecem de mediações concretizadoras (do legislador? do
juiz?), enquanto as regras são suscetíveis de aplicação direta.
c. Caráter de fundamentabilidade: os princípios são normas de natureza fundamental
no ordenamento jurídico devido à sua posição hierárquica no sistema das fontes do
direito ou à sua importância dentro do sistema jurídico.
d. “Proximidade” da idéia de direito: os princípios são “standards” juridicamente
vinculantes que se radicam na idéia de “justiça” (DWORKIN) ou de “direito”
(LARENZ); as regras podem possuir um conteúdo meramente funcional.
e. Natureza normogenética: os princípios são fundamentos de regras.
É fácil ver que tais critérios, assim enunciados, propiciam conclusões contraditórias: o
que pode ser identificado como um princípio com base nos critérios (a) e (b) pode não sê-lo
se seguidos os critérios (c) e (d), e vice-versa. Essa constatação reforçam a arguta
observação de BOBBIO: muitas divergências sobre a natureza, origem e
fundamentos dos princípios dependem exclusivamente do fato de que os diversos
opinantes se referem, embora usando a mesma denominação, a fenômenos
diversos (Princìpi Generali di Diritto. In: “Novissimo Digesto Italiano”, p. 894) – observação
que pode ser estendida à distinção entre princípios e regras.
Embora não me pareça correto, nem possível, elaborar uma distinção absoluta entre
essas duas espécies de normas – uma “escala cromática” me parece uma metáfora mais
adequada ao caso que “separar o joio do trigo” -, é possível identificar algumas diferenças
qualitativas destacadas pelos autores mais importantes e recolhidas na síntese de
CANOTILHO – que resultam em uma lista de critérios de aplicação:
a. Princípios são normas jurídicas de otimização, compatíveis com vários graus de
concretização, consoante condicionamentos fáticos e doutrinários; regras são
normas que prescrevem imperativamente uma exigência, que é ou não é cumprida
(in all or nothing at all fashion, diz DWORKIN)
b. A convivência entre princípios é conflitual, enquanto a convivência entre regras é
antinômica: princípios coexistem, regras excluem-se.
c. Os princípios podem ser ponderados entre si, consoante o seu peso ( dimension of
weight, diz DWORKIN), enquanto a regra, se “vale”, não deixa espaço para outra,
deve ser cumprida na medida exata de suas prescrições.
d. Enfim, os princípios suscitam problemas de “validade” e peso, enquanto as regras
colocam apenas questões de “validade”.

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