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H867a Hoy, Wayne K.

Administração educacional : teoria, pesquisa e prática /


Wayne K. Hoy, Cecil G. Miskel, C. John Tarter ; tradução:
Henrique de Oliveira Guerra ; revisão técnica: Márcia
Rosiello Zenker. – 9. ed. – Porto Alegre : AMGH, 2015.
xv, 519 p. : il. ; 25 cm.

ISBN 978-85-8055-494-6

1. Gestão educacional. 2. Administração – Liderança –


Tomada de decisão. I. Miskel, Cecil G. II. Tarter, C.
John. III. Título.

CDU 37.07

Catalogação na publicação: Poliana Sanchez de Araujo – CRB 10/2094

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Com suas diferentes percepções e escolhas,


os constituintes muitas vezes questionam
os educadores sobre a eficiência de suas
escolas. Os administradores devem respon-
der a esse desafio com o desenvolvimento
de perspectivas sobre eficiência coerentes e
sustentáveis. As autoridades escolares re-
latam ao público resultados que os educa-
dores acreditam representar suas práticas
inovadoras e seu desempenho. Para ilustrar
a qualidade e a produtividade, elas promo-
vem os resultados dos testes padronizados
de desempenho e as admissões pelas facul-
dades, bem como demonstram eficiência em
espetáculos artísticos, apresentações musi-
cais, feiras de ciências e eventos esportivos.
Um segundo desafio importante é que
definições sobre a eficiência organizacional
continuamente mudam, pois são influen-
ciadas pelas preferências dos círculos elei-
torais, que por sua vez refletem as mudan-
ças sociais. Durante a década de 1970, por
EFICIÊNCIA ESCOLAR – exemplo, as escolas enfatizaram o cresci-
mento emocional e social e a equidade para
DESAFIO ÀS PRÁTICAS todos os alunos, mas com os relatórios da
ADMINISTRATIVAS reforma do início dos anos de 1980, o pú-
blico começou a exigir uma ênfase na efi-
Tópicos de eficiência escolar representam ciência, no desempenho acadêmico e nas
um desafio fundamental e duradouro à habilidades para o mercado de trabalho
prática administrativa. Primeiro: não exis- (CUBAN, 1990; WIMPELBERG; TEDDLIE;
te uma definição amplamente aceita de STRINGFIELD, 1989). Durante a década de
eficiência escolar; diferentes constituintes 1990, bem como no novo século, o foco con-
exigem diferentes resultados de aprendi- tinua no desempenho acadêmico com forte
zagem. Alguns pais estão convencidos de impulso para maneiras de assegurar a res-
que escolas eficientes enfatizam habilida- ponsabilização. Assim, à medida que prefe-
des básicas para o sucesso na vida. Outros rências, práticas e teorias mudam, o desem-
acreditam em cultivar o desejo de apren- penho que hoje é julgado eficiente pode ser
der. Com base em informações de variadas considerado menos importante amanhã
precisão e completude, os pais decidem, (CAMERON, 1984, 2005). Para os adminis-
por exemplo, radicar-se em determinada tradores escolares, então, o objetivo de criar
área, porque sabem que a Escola de Ensino escolas eficientes é dinâmico, não estático;
Fundamental Lynn Cheney enfatiza as ha- o alvo de eficiência continua se movendo.
bilidades básicas e tem altas expectativas e Um terceiro desafio emerge de várias
padrões acadêmicos, ao passo que a Esco- partes interessadas, tais como pais, admi-
la de Ensino Fundamental John Dewey usa nistradores, alunos, professores, membros
alta qualidade motivacional, ensino prático do conselho escolar, empresários, formula-
e técnicas de aprendizagem com descoberta. dores de políticas, mídia e os contribuintes,

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com cada grupo muitas vezes oferecendo o risco da nação, o público deve apoiar os
preferências distintas e, muitas vezes, con- alunos e ajudá-los a alcançar grandes ex-
flitantes. Os administradores e os membros pectativas e elevados desempenhos aca-
do conselho de educação, por exemplo, gos- dêmicos. Em outras palavras, a comissão
tam de salientar como o dinheiro é alocado fez um apelo por níveis mais elevados de
e como os professores são avaliados. Em eficiência, em especial o desempenho estu-
contraste, os professores preferem enfatizar dantil, e por responsabilização mais forte.
o ensino e a aprendizagem, argumentando Uma nação em risco provocaria uma ex-
que a eficiência está enraizada em métodos plosão de atividade de reformas em nível
instrucionais, climas de sala de aula positi- estadual. Na tentativa de seguir as reco-
vos e relações com e entre os alunos. Con- mendações da comissão, por exemplo, mui-
tribuintes e membros do conselho podem tos estados alteraram seus requisitos para
preferir medidas de resultados e eficiência a formatura no ensino médio, ampliaram
como desempenho acadêmico e custo por o dia escolar e o ano letivo, estabeleceram
aluno. Cameron (2005, p. 312) está prova- novos caminhos de carreira para profes-
velmente correto ao observar com certo sores, criaram testes de competência para
pessimismo: “O consenso sobre o melhor, formatura e instituíram diversos tipos de
ou suficiente, conjunto de indicadores da diplomas para reconhecer diferentes níveis
eficiência é impossível de se obter”. de desempenho estudantil. Essa explosão
Em suma, administradores escolares de atividade durante a década de 1980 tor-
enfrentam três desafios básicos: nou-se conhecida como a “primeira onda”
de reforma educacional. Durante o final
• Como desenvolver uma definição prá- da década de 1980, a substância do movi-
tica do que é eficiência. mento de reforma mudou (VINOVSKIS,
• Como lidar com definições sobre efi- 1999) e uma segunda onda de atividade de
ciência que estejam em constante mo- reformas começou. A National Governors’
vimento. Association e o então presidente George H.
• Como responder às várias partes inte- Bush fizeram uma reunião na Cúpula Edu-
ressadas que detêm múltiplas defini- cacional de Charlottesville, em 1989. O foco
ções de eficiência. da reforma deles foi o estabelecimento de
objetivos educacionais de âmbito nacional,
com o objetivo de melhorar o desempenho
estudantil por meio de ensino exemplar em
UMA BREVE HISTÓRIA escolas seguras e ordeiras. A participação
DA REFORMA dos pais e a aprendizagem duradoura tam-
bém se tornaram objetivos básicos.
Para o desespero dos administradores Embora a lei No Child Left Behind fos-
escolares, o relatório Uma nação em ris- se supostamente reautorizada em 2007, os
co (UNITED STATES DEPARTMENT OF planos de reforma escolar se modificaram
EDUCATION, 1983) constatou que os ní- com a eleição do Presidente Barack Obama.
veis de desempenho acadêmico nas esco- Em março de 2010, a administração de Oba-
las norte-americanas não eram competiti- ma lançou Um plano de reforma: a reautoriza-
vos internacionalmente. Jacob E. Adams e ção da lei dos ensinos fundamental e médio (A
Michael W. Kirst (1999) afirmam que a Na- blueprint for reform: the reauthorization of the
tional Commission on Excellence in Edu- elementary and secondary education act), para
cation expandiu a definição de excelência descrever uma visão sobre a reautorização
para as escolas e o público. Para reduzir da NCLB, que muitas vezes é chamada de

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lei Race to the Top. Uma mudança impor- rosas intervenções nas escolas de pior
tante foi partir de um assim chamado sis- desempenho.
tema com base em punição para um que 4. Aumentar os padrões de exigência e pre-
premia um excelente crescimento de ensino miar a excelência: a lei Race to the Top
e dos alunos. O plano descrevia cinco prio- é uma série de subsídios competitivos
ridades (UNITED STATES DEPARTMENT para escolas que fornece incentivos
OF EDUCATION, 2010). para a excelência por meio de encorajar
os líderes locais e estaduais a cooperar
1. Alunos prontos para a faculdade e para a
em reformas, fazer escolhas difíceis e
carreira: independentemente de renda,
desenvolver planos globais para me-
raça, etnia ou linguagem de origem, ou
lhorar os resultados estudantis.
da situação de deficiência, cada aluno
5. Promover a melhoria contínua e a inova-
deve se graduar no ensino médio pron-
ção: além dos subsídios da Race to the
to para a faculdade ou uma carreira.
Top, um Fundo de Investimento na Ino-
Para cumprir esse objetivo, o plano
vação fornece aos líderes locais e sem
recomendava avaliações e subvenções de
fins lucrativos apoio para desenvolver
recuperação para melhorar as escolas.
e ampliar programas que têm demons-
O Ministro da Educação abriu mão da
trado sucesso, bem como para desco-
exigência de 100% de proficiência se
brir a próxima geração de soluções ino-
os estados adotassem seus próprios
vadoras.
programas de avaliação e responsabili-
zação e estivessem fazendo progressos Os esforços de reforma da década de
na preparação de formandos prontos 1980 realmente concentraram a atenção
para a faculdade ou para a carreira do público na aprendizagem acadêmica,
(DILLON, 2011). mas as novas políticas receberam fortes
2. Grandes professores e líderes em todas as críticas por serem fragmentadas e incoe-
escolas: a pesquisa é clara; professores rentes, por fazerem pouca coisa para alte-
com elevado desempenho fazem uma rar o conteúdo e os métodos de instrução,
diferença drástica no desempenho aca- por deixarem de envolver os professores e
dêmico. De fato, ter um professor ex- por ignorarem fatores diretamente relacio-
celente ano após ano reduz de modo nados com a aprendizagem e o desempe-
significativo as lacunas de desempenho nho (FUHRMAN; ELMORE; MASSELL,
(UNITED STATES DEPARTMENT OF 1993; SMITH; O’DAY, 1991; VINOVSKIS,
EDUCATION, 2010, p. 13). Para desen- 1999). Em reação a essas deficiências, uma
volver excelentes professores e líderes chamada terceira onda de reforma escolar
em todas as escolas, o plano propunha tornou-se firmemente estabelecida durante
um Fundo para o Aperfeiçoamento de a década de 1990. Conhecida como “refor-
Professores e Líderes, com subsídios ma sistêmica”, essa abordagem tentou unir
competitivos e novos caminhos para a as ondas de atividade anteriores com dois
preparação dos educadores. temas dominantes: mudança abrangente
3. Equidade e oportunidade para todos os de muitos elementos da escola simultanea-
alunos: todos os alunos devem ser in- mente e integrações de políticas e coerên-
cluídos em um sistema de responsabi- cia em torno de um conjunto de resultados
lização que ofereça apoio aos padrões claros (FUHRMAN; ELMORE; MASSELL,
de prontos para a faculdade e para a 1993). Sob o impulso da terceira onda de
carreira, forneça recompensas ao pro- reforma escolar, a concentração no desem-
gresso e ao sucesso e imponha rigo- penho escolar aumentou substancialmen-

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te, e a preocupação acentuada continua


hoje. Termos como “responsabilização”, SISTEMAS SOCIAIS E
“desempenho acadêmico”, “padrões de EFICIÊNCIA ESCOLAR
desempenho”, “avaliações”, “testes de alto
impacto”, “qualidade do professor” e “ta- Fazer perguntas globais sobre se uma esco-
xas de abandono estudantil” impregnaram la é eficiente ou ineficiente tem valor limi-
as conversas entre educadores, formula- tado. A eficiência não é uma coisa só. Por
dores de políticas, líderes empresariais e exemplo, indicadores de eficiência podem
o público em geral. Além disso, a reforma ser derivados para cada fase do ciclo de sis-
sistêmica e integral das escolas passou a temas abertos – entradas (o quão eficiente é
dominar o idioma sobre a melhoria esco- a escola na aquisição de recursos abstratos e
lar. O Race to the Top pode ser considerada fiscais?), transformações (o quão eficiente é
uma quarta onda da reforma, ampliando a a escola em suas operações internas?) e saí-
NCLB e se concentrando na excelência e na das (o quão eficiente é a escola na realização
contínua melhoria. Todas essas ideias são de seus objetivos acadêmicos e sociais?).
compatíveis com um modelo de sistema Em um momento ou outro, praticamente
social, que usaremos para apresentar as toda e qualquer entrada, transformação
principais concepções e a pesquisa sobre ou saída já foi utilizada como indicador da
eficiência organizacional e escolar.* eficiência organizacional. Em decorrência
disso, um modelo de sistema social pode
ser usado como guia teórico para aprimo-
TEORIA NA PRÁTICA
rar a nossa compreensão sobre eficiência
Com base na discussão anterior, considere o escolar e avaliar as ações necessárias para
sistema de escola em que você trabalha atual- promover a eficiência escolar. Esse ponto é
mente ou o distrito escolar em que você mora. ilustrado considerando cada fase do ciclo
Como a eficiência de seu sistema é determi- de sistemas abertos como uma categoria de
nada? O quão dinâmica é a noção de eficiência indicadores de eficiência.
escolar; ou seja, até que ponto a definição de
eficiência escolar mudou durante os últimos
10 anos? Como o seu sistema de ensino con- Critérios de entradas
vence o público de que está fazendo um bom
trabalho? Qual é o desempenho de seu distrito Entradas (ver Fig. 9.1) para as escolas in-
em comparação com outros distritos? Quais cluem componentes ambientais que in-
são os indícios? fluenciam a eficiência organizacional.
Entradas podem ser fiscais e abstratas. Re-
cursos fiscais comumente se referem a ri-
* N. de R.T.: As reformas educacionais modernas, no quezas tributáveis, dinheiro ou coisas que
Brasil, surgiram em 1930, no governo Getúlio Vargas. o dinheiro compra (COHEN; RAUDEN-
Na década de 1990, nasce a nova LDB – Lei das Diretri- BUSH; BALL, 2003). Exemplos incluem
zes Básicas, que fundou a Política Educacional Brasilei- qualificações formais do corpo docente e
ra. É nesse período que o Estado estabelece a descentra-
lização da educação, exercendo coordenação e controle
da administração, livros, bibliotecas, tec-
sobre ela, através do SAEB (Sistema de Avaliação da nologias instrucionais e instalações físicas.
Educação Básica), do ENEM (Exame Nacional do Ensi- Entradas abstratas são elementos como
no Médio) e do ENADE (Exame Nacional de Desempe- políticas e padrões educacionais estaduais
nho dos Estudantes). Da mesma forma que, nos Estados e locais, arranjos organizacionais, apoio pa-
Unidos, termos como eficácia, eficiência, competência,
avaliação do professor, qualidade escolar, entre outros,
rental e habilidades dos alunos. Os critérios
passam a aparecer no discurso de educadores, gestores de entradas não indicam a quantidade nem
educacionais, formuladores de políticas públicas e pais. a qualidade do trabalho realizado, mas em

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vez disso definem os limites ou a capacida- cluem, para alunos: desempenho acadêmi-
de para os processos de transformação e os co, criatividade, autoconfiança, aspirações,
resultados de desempenho do sistema. Em expectativas, formatura e taxas de abando-
outras palavras, os critérios de entradas no; para professores: satisfação no trabalho,
têm forte influência na capacidade inicial absenteísmo e rotatividade; para adminis-
da escola e em seu potencial para desempe- tradores, satisfação no trabalho, orçamen-
nho eficiente. Até recentemente, os modelos tos equilibrados e comprometimento com
de acreditação escolar depositavam muita a escola; e para a sociedade, as percepções
ênfase em indicadores de entradas; ou seja, de eficiência escolar. De uma perspectiva de
boas escolas tinham altas porcentagens de resultados de desempenhos ou objetivos,
professores experientes com títulos avança- uma escola é eficiente se os resultados de
dos, pessoal de apoio abundante, salas de suas atividades atenderem ou excederem os
aula com menos alunos, grandes bibliotecas seus objetivos.
com muitos livros e lindos prédios moder- Porém, um fator muitas vezes negligen-
nos e bem equipados. Em resumo, a eficiên- ciado nos modelos de objetivos ou resulta-
cia das escolas era julgada com base nesses dos é que organizações complexas como as
indicadores. escolas têm objetivos múltiplos e conflitan-
tes (HALL, 2002). Na superfície, o objetivo
de almejar que os educadores mantenham
Resultados de desempenho ambientes seguros e ordeiros nas escolas é
A eficiência organizacional tem sido de- incompatível com o objetivo de desenvol-
finida em termos de grau de obtenção de ver os valores de confiança, lealdade gru-
objetivos. A exemplo da definição de obje- pal e respeito entre os alunos. Da mesma
tivos individuais no Capítulo 4, objetivos forma, a crescente ênfase em padrões de
organizacionais podem ser definidos sim- desempenho e testes de alto impacto entra
plesmente como os estados desejados que em confronto com manter a satisfação de
a organização procura alcançar. Os objeti- trabalho do educador, resultado que conti-
vos fornecem direção e motivação, além de nua a atrair substancial interesse. As lógicas
reduzir a incerteza para os participantes e de eficiência utilitária, humanitária e orga-
representar padrões para avaliar a organi- nizacional apoiam a importância da satisfa-
zação. Como Scott (2003, p. 352) postula: ção no trabalho como um componente da
“Objetivos são usados para avaliar as ati- eficiência organizacional (SPECTOR, 1997).
vidades organizacionais, bem como para Pelo menos parcialmente, a satisfação no
motivá-las e encaminhá-las”. Objetivos e trabalho é um indicador de bom tratamento
sua realização relativa são essenciais na e pode refletir até que ponto a organização
definição de critérios para a eficiência or- escolar está funcionando bem.
ganizacional. As escolas contribuem com muito mais
No atual ambiente de política de educa- do que apenas o desempenho acadêmico
ção, os objetivos são refletidos nos padrões dos alunos, e o foco em um resultado tão
para julgar a qualidade e a quantidade dos estreito deixa de levar em conta a vasta
resultados de desempenho que as escolas gama de coisas que compõem o desempe-
produzem. Os resultados de desempenho nho positivo da escola. Não obstante, cada
constituem a quantidade dos serviços e vez mais, muitos pais e outros cidadãos,
produtos para alunos, educadores e outros formuladores de políticas e estudiosos de-
constituintes da escola, bem como a quali- finem os resultados de desempenho dese-
dade de cada produto. De uma perspectiva jados para as escolas de modo estreito; eles
de sistema social, saídas importantes in- igualam a eficiência escolar com o nível de

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desempenho acadêmico, conforme medido de desempenho das escolas estão relacio-


pelos testes padronizados. Esses importan- nados diretamente a entradas como despe-
tes círculos educacionais consideram que sas por aluno, características do professor,
as notas de testes têm valor intrínseco. As razão professor-aluno e características de
escolas com notas altas são consideradas alunos e famílias, ao passo que os resulta-
eficientes. Além disso, o crescimento do dos são as pontuações nos testes de desem-
desempenho como um resultado de valor penho (MONK; PLECKI, 1999). Em outras
agregado está sendo adicionado à definição palavras, o objetivo da pesquisa de função
de eficiência escolar (HECK, 2000). Usando de produção é de prever resultados como
uma linha de raciocínio de valor agregado, pontuação nos testes, em vez de explicar
Peter Mortimore (1998) sustenta que esco- como o resultado foi produzido. Em con-
las eficientes são aquelas em que os alunos sequência disso, a pesquisa de função de
obtêm pontuações mais altas em testes de produção ignora os processos transforma-
desempenho do que podia ser esperado cionais internos do sistema e utiliza apenas
com base em suas características. Por con- as entradas para prever as saídas.
seguinte, uma definição emergente de efi- A pesquisa de função de produção ga-
ciência escolar inclui tanto o nível quanto nhou popularidade em meados da década
a mudança no desempenho acadêmico. de 1960 quando James S. Coleman e colabo-
Em outras palavras, para as escolas serem radores (1966) conduziram um estudo alta-
julgadas eficientes, precisam mostrar altas mente influente refletindo essa abordagem,
notas em testes de desempenho e revelar Equality of educational opportunity. Popular-
ganhos substanciais para todos os seus alu- mente conhecido como o Relatório Cole-
nos. Como prova de sua popularidade, os man, continua a ser o maior levantamento
formuladores de políticas estão incluindo do sistema público educacional dos Estados
o critério do valor agregado em suas ini- Unidos já realizado. A conclusão mais sur-
ciativas de políticas. Por exemplo, escolas preendente foi a de que quando as variáveis
que recebem fundos da Lei No Child Left de background doméstico eram controladas,
Behind de 2001 (UNITED STATES, 2002) as entradas escolares ou indicadores de ca-
pacidade revelaram relações limitadas com
devem mostrar que seus alunos estão fa-
os resultados dos testes. As diferenças entre
zendo “PAA ou progresso anual adequa-
as bibliotecas escolares, a educação e a ex-
do”, ou seja, fazendo ganhos específicos no
periência dos professores, os níveis de des-
desempenho acadêmico a cada ano letivo.
pesa, os laboratórios, os ginásios e outros
Além disso, os formuladores de políticas
recursos convencionais tiveram fraca rela-
aparentemente confiam em abordagens de
ção com as diferenças no desempenho es-
entradas-saídas para prever e comparar os
tudantil (COHEN; RAUDENBUSH; BALL,
resultados de desempenho das escolas.
2003). Em contraste, o background domés-
tico dos alunos antes de entrar na escola
Pesquisas sobre importava mais do que as características de
capacidade das escolas. Com base nas con-
entradas e saídas
clusões mais recentes de Brian Rowan, Ri-
A pesquisa sobre entradas e saídas, ou es- chard Correnti e Robert J. Miller (2002), essa
tudos de função de produção, examinam conclusão precisa ser moderada. Eles cons-
como recursos ou entradas educacionais tataram que quando os alunos entram no
são transformados em resultados educacio- jardim de infância, seus níveis de desempe-
nais (RICE, 2002). Pesquisas sobre função nho estão moderadamente correlacionados
de produção pressupõem que os resultados com fatores do ambiente doméstico, como

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tamanho da família, estrutura familiar e atuais escolas vai melhorar a aprendizagem


status socioeconômico. Essas condições fa- do aluno.
miliares, evidentemente, produzem opor- Estudiosos como David H. Monk e
tunidades diferenciais para aprender antes Margaret L. Plecki (1999) criticam a pesqui-
de frequentar a escola. Tão logo os alunos sa sobre função de produção pela falta de
entram nos anos iniciais do ensino funda- um arcabouço teórico motriz que preveja,
mental, porém, os efeitos de background descreva e explique as conclusões. Outros
doméstico aparentemente se desvanecem, como Alan B. Krueger (2003) e Larry V.
e o crescimento de desempenho em grande Hedges, Richard Laine e Rob Greenwald
parte pode ser explicado pelos efeitos de di- (1994) contestam fortemente os métodos, as
ferenças instrucionais entre escolas e salas conclusões e as implicações dessa aborda-
de aula. Em outras palavras, as diferenças gem. Após reavaliar os dados de Hanushek
nas origens familiares são mais fortemente et al. (1994) constataram que a influência
correlacionadas com os níveis iniciais de das entradas escolares nos resultados de
desempenho estudantil do ensino funda- desempenho estudantil é consideravelmen-
mental do que com seus ganhos anuais de te mais consistente e positiva do que ale-
desempenho. No entanto, a aprendizagem gava Hanushek. Em um estudo de acom-
em casa é extremamente importante. panhamento, Greenwald, Hedges e Laine
Desde o Relatório Coleman, um gran- (1996) avaliaram os efeitos de três conjun-
de número de estudos adicionais sobre a tos de entradas no desempenho estudantil
função de produção tem sido realizado. – despesas (custos por aluno, salários dos
Um forte defensor da abordagem, Eric A. professores), características de background
Hanushek (1981, 1989, 1997), conclui que a dos professores ou indicadores de qualida-
pesquisa sobre função de produção na edu- de (capacidade, educação, experiência) e ta-
cação produziu resultados surpreendente- manho (da classe, da escola, do bairro). Eles
mente consistentes – variações nas despe- concluíram que, em geral, entradas escola-
sas escolares não estão sistematicamente res estão sistematicamente relacionadas ao
relacionadas com as variações no desem- desempenho acadêmico e que as magnitu-
penho dos alunos. Além disso, as escolas des dessas relações são grandes o suficiente
são organizações ineficientes porque não para serem importantes. Em particular, a
há nenhuma relação forte ou consistente maior conquista está associada com gastos
entre as variações nos recursos escolares e por aluno mais elevados, turmas e escolas
no desempenho dos alunos. Recentemente, menores e qualidade dos professores. J. D.
Hanushek (2003, p. F67) tornou-se ainda Finn e Charles M. Achilles (1999) fornecem
mais inflexível ao afirmar: um apoio substancial para a conclusão so-
bre o tamanho da turma. Suas conclusões
O tamanho das turmas diminuiu, a qualifi- obtidas no Projeto STAR (do inglês Stu-
cação dos professores melhorou e as despe- dent/Teacher Achievement Ratio) revelam
sas aumentaram. Infelizmente, existe pou- que os alunos, especialmente crianças de
ca evidência para sugerir que quaisquer
minoria e do centro da cidade, em turmas
mudanças significativas nos resultados
pequenas desde o jardim de infância até o
estudantis têm acompanhado esse cresci- o
4 ano tiveram melhor desempenho do que
mento em recursos dedicados às escolas.
aqueles em turmas habituais. Nye, Hedges
Em suma, Hanushek mantém que a e Konstantopoulos (2000), em sua análise
pesquisa sobre função de produção geral- dos dados do Tennessee, constataram que
mente detecta poucos indícios para apoiar os efeitos do tamanho da turma eram con-
a ideia de que gastar dinheiro adicional nas sistentes e grandes o suficiente para serem

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importantes para a política educacional. A congruência entre esses elementos inter-


Hanushek (2003) discordou com a implica- nos aumenta a habilidade do sistema de
ção política; ele argumentou que os ganhos assegurar os recursos necessários do am-
reais eram pequenos e que um estudo ex- biente (YUCHTMAN; SEASHORE, 1967),
perimental com falhas era insuficiente para de construir a capacidade do sistema trans-
uma reforma tão cara. formacional, e, finalmente, de melhorar a
Até mesmo os defensores das pesquisas eficácia. Em um teste empírico dessa hipó-
sobre função de produção como Hanushek tese de congruência nas escolas, John Tarter
(2003) reconhecem que as diferenças entre e Wayne Hoy (2004) verificaram apoio para
escolas e professores produzem mudanças essa relação. O desempenho estudantil e a
diferenciais e importantes no desempenho eficiência global da escola revelaram rela-
acadêmico. As escolas não são homogêneas ção positiva com os elementos do sistema
em seus efeitos sobre os alunos; as esco- social (estruturais, individuais, culturais
las diferem na eficiência dos seus esforços e políticos) à medida que esses elementos
para influenciar os resultados de desempe- eram consistentes uns com os outros. De
nho. Steven T. Bossert (1988) assevera que modo não surpreendente, os administrado-
estudos de entradas-saídas normalmente res educacionais dão grande importância à
não consideram como os alunos realmente manutenção da harmonia, porque conflitos
usam os recursos disponíveis da escola ou impedem a habilidade do sistema de atin-
como as escolas proporcionam serviços ins- gir níveis elevados.
trucionais para seus alunos. Com base em
raciocínio semelhante ao de Bossert, surgiu
uma nova linha de pesquisa, projetada para Modelos de eficiência escolar:
explicar como fatores domésticos, escolares melhoria do desempenho
e de sistema interno influenciam os resulta-
acadêmico
dos de desempenho das escolas.
Usando uma perspectiva de sistemas, a
pesquisa contemporânea não só considera
Critérios transformacionais entradas como também relaciona os proces-
Os critérios transformacionais são a quan- sos transformacionais de escolas e salas de
tidade, a qualidade e a consistência das aula com os resultados educacionais. Não
estruturas e dos processos internos que obstante as entradas, as práticas de ensino
transformam as entradas em resultados e aprendizagem e outras práticas de sala de
(ver Fig. 9.1). Exemplos de critérios trans- aula (métodos instrucionais, organização
formacionais são a estrutura e o conteúdo da sala de aula, oportunidades de aprender,
do currículo, a saúde do clima interpessoal, tempo de aprender), bem como as proprie-
os níveis de motivação de alunos e profes- dades escolares (cultura escolar, motivação,
sores, a liderança dos professores e admi- estrutura da escola e política) influenciam
nistradores, a qualidade e quantidade da saídas como satisfação no trabalho, taxas de
instrução, e a confiança, eficácia coletiva e formatura e desempenho estudantil.
otimismo acadêmico. Essa abordagem geral é mais comu-
Para maximizar a eficiência escolar, os mente chamada de pesquisa sobre escolas
elementos internos – ensino e aprendiza- eficientes, embora às vezes seja chamada
gem, estrutura escolar, cultura e clima esco- de pesquisa sobre processos-produtos ou
lares, poder e política e motivação – devem pesquisa sobre efeitos escolares. A maior
funcionar harmoniosamente para produzir parte dessa pesquisa usa procedimentos
os objetivos de desempenho desejados. transversais que se concentram no desem-

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penho estudantil em um único ponto no


tempo. Para avaliar os esforços de melho-
ria e o crescimento do aluno, Heck (2005)
adverte que métodos transversais são in-
sensíveis às mudanças que ocorrem den-
tro das escolas ao longo do tempo e reco-
menda o uso de estudos longitudinais que
atendam às experiências do aluno em uma
escola ao longo de um ano com um profes-
sor específico.
Para ilustrar a pesquisa de escolas efi-
cientes, agora vamos nos deter em exem-
plos recentes de modelos que explicam o
desempenho acadêmico. Embora as escolas
usem muitos resultados desejáveis para
avaliar a sua eficiência, a maioria concorda
que o desempenho acadêmico é um recurso
fundamental da eficiência escolar. Outros
defendem que descrições mais subjetivas
e globais do desempenho escolar fornecem
úteis indicadores de sucesso. Nossa posição
é a de que há muito a ser ganho de medi-
ções de eficiência tanto específicas e objeti-
vas quanto gerais e subjetivas. Primeiro, va-
mos examinar três exemplos da pesquisa de
Lee e Shute (2010), Bryk et al. (2010) e Hoy,
Tarter e Woolfolk Hoy (2006a, 2006b). Cada
um desses grupos desenvolve um modelo
bastante completo para explicar a eficiência
escolar em termos de desempenho estudan-
til. Assim, consideramos modelos mais glo-
bais e abrangentes de eficiência escolar, que
estejam preocupados não só com a quanti-
dade e a qualidade do desempenho escolar,
mas também com a capacidade da escola
para se adaptar ao seu ambiente e inovar
com estratégias que melhoram o desempe-
nho escolar. Por fim, também exploramos o
papel dos valores na concepção de organi-
zações eficientes.

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