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INSTITUTO POLITÉCNICO DO CÁVADO E DO AVE

ESCOLA SUPERIOR DE GESTÃO


LICENCIATURA EM FISCALIDADE

10. Contabilidade versus Fiscalidade


TRIBUTAÇÃO DO RENDIMENTO DAS PESSOAS COLETIVAS (IRC)

Luís Filipe Esteves


Barcelos, 2022/2023
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CONTABILIDADE / FISCALIDADE

Tema: Relação existente entre o resultado contabilístico e o resultado


fiscal; Modelos de relação existentes entre Contabilidade e Fiscalidade.

✓ Legislação comercial: art.os 18.º, 29.º e segs. do Código Comercial; art.º


65.º do Código das Sociedades Comerciais (prestação de contas…) e art.º
3.º do DL n.º 158/2009 (1), de 13/07.

✓ Legislação fiscal (IR): art.os 17.º e 123.º do Código do Imposto sobre o


Rendimento das Pessoas Colectivas (CIRC) e art.º 117.º do Código do
Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Singulares (CIRS).

(1) DL n.º 159/2009 – Adaptação do CIRC ao Sistema de Normalização Contabilística


(SNC), tendo até aí (2009) vigorado o Plano Oficial de Contabilidade (POC).
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CONTABILIDADE / FISCALIDADE

✓ Relação entre a contabilidade e a fiscalidade é bilateral (influências


mútuas).

✓ Resultado contabilístico traduz o resultado, lucro ou prejuízo das


operações da empresa em conformidade com os princípios do SNC

DF Imagem Verdadeira e Apropriada


✓ Resultado fiscal é o Lucro Tributável (ou Prejuízo Fiscal), base da
liquidação do IRC (em rigor será a matéria coletável …).

✓ Problemática: Reconhecimento da autonomia da contabilidade, como


também da fiscalidade, procurando a adequada coordenação e
harmonização (ajustamentos…).
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CONTABILIDADE / FISCALIDADE

Há diferentes modos de conceber as relações entre a contabilidade e a


fiscalidade.

Em abstrato, é possível uma configuração normativa segundo dois modelos


fundamentais:

• Modelo de desconexão formal – completa independência / autonomia da


fiscalidade face à contabilidade; autonomia das DF, não existindo
subordinação ou conexão do LT com o lucro contabilístico;

• Modelo de conexão formal (financial conformity) – resultado contabilístico é


a base do apuramento do resultado fiscal (LT) (dependência).

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CONTABILIDADE / FISCALIDADE

Uma aplicação rígida do modelo de conexão formal (de “balanço único”),


implicaria uma total concordância entre resultados (contabilístico e fiscal).

Na prática, adopta-se a conexão formal em padrões mais moderados e de


maior flexibilidade, ou seja, o resultado apurado segundo as normas
contabilísticas é tido como um ponto de partida, sendo, posteriormente,
ajustado segundo regras fiscais, no sentido da determinação do resultado
fiscal.

Pode, assim, suceder que a contabilidade sofra pressões e influências da


fiscalidade e o resultado contabilístico ser apurado considerando inúmeros
critérios fiscais que, muitas vezes, não são os mais adequados numa
perspetiva económico-financeira. 5
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CONTABILIDADE / FISCALIDADE

Em Portugal, está instituído o modelo de conexão formal, na sua vertente


mais flexível / moderada, no relacionamento entre a contabilidade e a
fiscalidade, podendo falar-se, assim, da adoção de um modelo de
dependência parcial do resultado fiscal face ao resultado contabilístico.

A lei fiscal reconhece e absorve os méritos do resultado apurado segundo as


regras contabilísticas, vendo na contabilidade e no trabalho desenvolvido
pelos CC e ROC, uma base sólida e fiável que suporte a determinação do
resultado fiscal.

A lei fiscal assume o resultado contabilístico como um “valor” de onde se


deve partir no apuramento do LT (ponto de partida).
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CONTABILIDADE / FISCALIDADE

✓ Modelo de dependência parcial, ou seja, a tributação encontra-se


dependente da contabilidade, pois parte do resultado aí apurado, mas
apenas parcialmente porque àquele resultado são efetuados inúmeros
ajustamentos fiscais.
✓ Outras soluções possíveis seriam:
• Modelo de dependência total (ou de conexão formal rígida): tributação incide
diretamente sobre o resultado contabilístico sem quaisquer correções fiscais
(identificação total);
• Modelo de autonomia (ou de desconexão formal): tributação assenta apenas
em critérios fiscais, desprezando-se a generalidade dos elementos
contabilísticos (separação absoluta).

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CONTABILIDADE / FISCALIDADE
✓ Modelos alternativos têm pouco acolhimento a nível mundial, o que se
compreende:

• Dependência Total – Não tem em conta as especificidades próprias da


fiscalidade…

• Autonomia – Despreza as valiosas informações da contabilidade, a qual é ainda o


melhor instrumento para aferir sobre o lucro de uma empresa. Acresce a
desvantagem de aumentar a carga administrativa inerente à quantificação do
imposto a pagar, pois, no limite, terão que ser preparadas duas contabilidades (dois
balanços), uma de acordo com a normalização contabilística e outra de acordo com
a “normalização fiscal”. Permite, no entanto, uma maior autonomia entre
contabilidade e fiscalidade, proporcionando informação contabilística mais fiável.
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CONTABILIDADE / FISCALIDADE

Segundo Morais (Apontamentos ao IRC, Almedina, 2007):

“(…) as duas visões de lucro não se identificam, pelo que os valores do lucro
contabilístico e do lucro fiscal dificilmente coincidirão. Não porque
correspondam a realidades substancialmente diversas, mas, apenas, porque
é diferente o prisma de avaliação (os concretos interesses em causa) que
preside à quantificação de cada um deles.”.

É essa diferença de interesses que está na base das correções fiscais a


realizar ao resultado contabilístico para se chegar ao resultado fiscal (critérios
contabilísticos que não encontram correspondência nas normas fiscais).

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CONTABILIDADE / FISCALIDADE

“Fins” da fiscalidade que influenciam a não dedutibilidade de gastos ou


mesmo a tributação autónoma de determinados encargos:

✓ Repressão da fuga e evasão fiscal;

✓ Carácter “moralista” a incutir no comportamento dos contribuintes;


✓ Salvaguarda da autonomia patrimonial societária;
✓ Maximização das receitas fiscais tendo por limite constitucional a tributação
do lucro real como critério de justiça fiscal;

✓ Simplificação da matéria coletável e praticabilidade das soluções legais.

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CONTABILIDADE / FISCALIDADE

Dado que a tributação das pessoas coletivas incide (fundamentalmente…) sobre


o lucro real (CRP), a contabilidade, enquanto instrumento de medida dessa
realidade, assume grande relevância em IRC.

Note-se, porém, que para servir os interesses da fiscalidade, mais


concretamente o apuramento do LT em sede de IRC, “a contabilidade deve”
estar organizada de acordo com a normalização contabilística e com as
disposições do CIRC refletir todas as operações realizadas pelo SP (…).

O incumprimento do disposto no art.º 17.º, n.º 3, poderá legitimar a AT à


aplicação de Métodos Indiretos, conforme o disposto no art.º 87.º, al. b) e art.º
88.º LGT e art.º 16.º do Código do IRC → Apuramento do LT com recurso a
presunções/estimativas…
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CONTABILIDADE / FISCALIDADE

Conclui-se que o resultado fiscal (Lucro Tributável – LT) é determinado em


função do resultado contabilístico (RLP) evidenciado na Demonstração
Resultados, depois de efetuados os devidos ajustamentos (Q07/DR22).

É deste modo que se faz a conciliação entre a contabilidade e a fiscalidade,


sendo que a lógica do modelo de relação, teoricamente, deveria conduzir a
uma situação de independência entre as duas áreas.

Contudo, na prática, denota-se por vezes uma certa subordinação da


contabilidade à fiscalidade, o que até se compreende atendendo às
consequências do incumprimento das regras do CIRC…

↑ Q07 / ↑ Coleta (↑ “Custos” / ↓ RLP)


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CONTABILIDADE / FISCALIDADE

Sendo certo que não existe uma identificação total entre contabilidade e
fiscalidade, também não se verifica a existência de uma separação absoluta.

Assim, no essencial, como referido, optou-se em sede de IRC por uma


solução intermédia, porventura a mais sensata e realista, de fazer reportar, na
origem, o LT ao resultado contabilístico (RLP) ao qual se introduzem, extra-
contabilisticamente, as correções – positivas ou negativas – de acordo com o
disposto no Código do IRC, as quais têm subjacentes os objetivos e
condicionalismos próprios da fiscalidade, por vezes distintos dos da
contabilidade.

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CONTABILIDADE / FISCALIDADE

A adoção do modelo de dependência parcial tem duas importantes


consequências:

- Por um lado, sempre que a lei fiscal (Código do IRC e demais legislação
complementar) imponha regras de apuramento diferentes das previstas na
contabilidade, é necessário proceder aos necessários ajustamentos fiscais,
positivos ou negativos;

- Por outro lado, caso contrário, i.e., caso a lei fiscal não disponha de modo
diferente, devem ser seguidas as regras da contabilidade, devendo
obrigatoriamente ser seguidas essa regras, sob pena da AT poder efetuar
correções fiscais por incumprimento do normativo contabilístico.
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LUCRO / VARIAÇÕES PATRIMONIAIS

Art.º 3.º, n.º 2: “(…) lucro consiste na diferença entre os valores do


património líquido no fim e no início do período de tributação, com as
correções estabelecidas neste Código”.

LUCRO = PL f – PL i
Acolhe-se em sede de IRC, na linha do que sucede noutras legislações, uma
noção extensiva de lucro, no âmbito da teoria do incremento patrimonial (ou
teoria do rendimento-acréscimo).
Relativamente ao regime fiscal anterior, o IRC funde, através da noção de
Lucro, a base de incidência dos vários impostos abolidos com a sua entrada
em vigor (tributação parcelar).
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LUCRO / VARIAÇÕES PATRIMONIAIS

Visa-se dar um tratamento equitativo aos vários tipos de rendimento,


tributando-se, por exemplo, os subsídios não destinados à exploração e as
mais e menos-valias realizadas – entenda-se “realização” em sentido amplo,
ou seja, incluindo-se no conceito os ganhos involuntários que decorrem de
expropriações e de indemnizações.
Tendo em conta a noção ampla de rendimento, poderia tomar-se como ponto
de partida da tributação o resultado apurado através da diferença entre os
Capitais Próprios no fim e no início do exercício.

LUCRO = CP f – CP i (Balanço)

✓ A opção será, contudo, partir do RLP → Demonstração dos Resultados


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LUCRO / VARIAÇÕES PATRIMONIAIS

Depreende-se que, em princípio, toda e qualquer variação patrimonial (VP)


modificativa (que não seja meramente permutativa) integra o conceito de
Lucro, sendo, como tal, relevante para efeitos fiscais.

✓ Seria assim, não fossem as importantes exceções previstas no art.º


21.º, n.º 1 (VP+) e no art.º 24.º, n.º 1 (VP-) (a desenvolver posteriormente…)
Art.º 17.º, n.º 1: LT “(…) é constituído pela soma algébrica do RLE e das
VP+/- verificadas no mesmo período e não refletidas naquele resultado,
determinados com base na contabilidade e eventualmente corrigidos nos
termos deste Código.”

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LUCRO / VARIAÇÕES PATRIMONIAIS

✓ A generalidade das VP estão refletidas no RLP, porquanto estão incluídas


nas classes 6 (Gastos / VP-) ou 7 (Rendimentos / VP+), logo, ao considerar-
se o RLP como ponto de partida para a determinação do LT, estarão a
considerar-se implicitamente para efeitos fiscais as referidas VP.
❖ Porém, há outras que não estão refletidas no RLP, contabilizadas nas
classes 5 ou 8, e que deverão também ser consideradas para efeitos de
determinação do LT em sede de IRC (teoria do incremento patrimonial,
conceito de lucro previsto no art.º 3.º, n.º 2), sem prejuízo, uma vez mais,
das exceções previstas nos artigos 21.º e 24.º.

➢ O tema das variações patrimoniais será analisado posteriormente.


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LUCRO / CORREÇÕES FISCAIS

É uma evidência que quantos mais factos patrimoniais estiverem absorvidos


no resultado contabilístico que não tenham, pelas normas fiscais, a mesma
base de reconhecimento, mais correções se terão de efetuar ao primeiro para
se chegar ao Lucro tributável.
✓ Ou seja, quantos mais critérios fiscais forem adotados pela contabilidade,
menos correções se terão de fazer o que tem “vantagens” pois gera um
menor esforço na elaboração da DR22 e pode minorar a existência de
atritos ou divergências com a AT.

✓ Demonstrações Financeiras não refletem os interesses dos demais utentes


da informação financeira (qualidade da informação pode ficar inquinada…).
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IMPOSTOS DIFERIDOS

Problemática da contabilização dos impostos diferidos: tema intrinsecamente


relacionado com a dicotomia entre a contabilidade e a fiscalidade.

De facto, a necessidade de relevar na contabilidade impostos diferidos deriva,


precisamente, das divergências existentes entre as bases contabilística e
fiscal de ativos e passivos, mas não todas as divergências, apenas aquelas
que sejam passíveis de serem revertidas em períodos económicos futuros
(NCRF 25).
Pretende-se refletir na contabilidade os efeitos dessas diferenças, sobre
períodos de tributação futuros, aquando da ocorrência dos factos que as
originaram.
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IMPOSTOS DIFERIDOS

Dois tipos de diferenças:

- Permanentes: aquelas cujos efeitos se esgotam no próprio exercício em que


ocorrem, sendo irrelevantes pois não têm qualquer efeito fiscal sobre
períodos de tributação subsequentes;
- Temporárias: resultam de factos reconhecidos na contabilidade que não são
fiscalmente aceites, mas podem ser revertidos no futuro, ou as que resultam
de um desfasamento temporal entre o reconhecimento contabilístico e a sua
aceitação fiscal, havendo que reconhecer impostos diferidos.

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IMPOSTOS DIFERIDOS

Diferenças temporárias podem ser:

- Dedutíveis: quando há recuperação em períodos futuros – ativos por


impostos diferidos;

- Tributáveis: que têm um impacto negativo em períodos futuros – passivos


por impostos diferidos.
Resumindo: Passivos por impostos diferidos são as quantias de imposto, pagáveis
em períodos futuros com respeito a diferenças temporárias tributáveis
(revalorizações…) ; Ativos por impostos diferidos são as quantias de imposto
recuperáveis em períodos futuros respeitantes a diferenças temporárias dedutíveis
(excesso deprec., amort. e PI), reporte de PF e de créditos fiscais não utilizados.

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IMPOSTOS DIFERIDOS

- Contabilização de impostos diferidos é o reflexo contabilístico das


discrepâncias existentes entre a base contabilística e a base fiscal.

- Imposto diferido (ativo ou passivo) a reconhecer é o que resulta da


aplicação da taxa de IRC à diferença entre as bases contabilística e fiscal.
- Os efeitos nos resultados contabilísticos decorrentes da contabilização de
impostos diferidos devem ser anulados na DR22, dado que o IRC não é
aceite como gasto para efeitos fiscais (acrescer no campo 725 e deduzir no
campo 766).

- Em rigor, a base da tributação é o RAI e não o RLP…

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IMPOSTOS DIFERIDOS

- Art.º 23.º-A, n.º 1, al. a) (…)

- Campo 725: Tal como o IRC estimado para o período (inclui: IRC, derrama, derrama
estadual, tributações autónomas, IRC exercícios anteriores, juros compensatórios, …; saldo devedor da
subconta 8121),
também não concorre para a formação do LT o imposto diferido
que figure na subconta 8122 (saldo devedor), pelo que tem que ser acrescido
neste campo (passivos por impostos diferidos) (o imposto diferido está a influenciar
negativamente o RLP).
- Campo 766: Se o saldo da conta 8122 for credor (ativos por impostos diferidos), a
correção (dedução) é feita neste campo (o imposto diferido está a influenciar
positivamente o RLP).

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REGRAS DETERMINAÇÃO LT

Art.os 17.º a 52.º do CIRC: Núcleo central do código, relativo à determinação


do lucro tributável das entidades residentes que exercem, a título principal,
atividades empresariais (ou de natureza comercial, industrial ou agrícola –
art.º 3.º, n.º 4).

Normas cuja influência se projeta não só em contribuintes de IRC residentes


(incluindo os que não exercem a título principal…, no caso de auferirem
rendimentos empresariais), mas também em contribuintes de IRC não
residentes c/ EE em TN e em contribuintes da categoria B de IRS tributados
pelo regime da contabilidade (art.º 32.º, CIRS).

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REGRAS DETERMINAÇÃO LT

Art.º 17.º, n.º 1: LT “(…) é constituído pela soma algébrica do RLE e das
VP+/- (…), determinados com base na contabilidade e eventualmente
corrigidos nos termos deste Código.”
“O lucro tributável das pessoas coletivas e outras entidades mencionadas na
alínea a) do n.º 1 do artigo 3.º é constituído pela soma algébrica do resultado
líquido do período e das variações patrimoniais positivas e negativas
verificadas no mesmo período e não refletidas naquele resultado,
determinados com base na contabilidade e eventualmente corrigidos nos
termos deste Código.”

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DR22 – Q07 (Determinação do LT)

Resultado +/-
Líquido do +/-
Variações Correções Fiscais
Exercício Patrimoniais

Variações patrimoniais positivas Correções fiscais positivas e


e negativas não refletidas no negativas [ou acréscimos (↑) e
RLP, salvo exceções… (a deduções (↓)] ao RLP
desenvolver oportunamente) (desenvolvimentos mais adiante) Lucro
tributável

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Q07 DR22
A contabilidade é a base do apuramento do LT (DR22/Q07/C701 - RLP).

Porém, há determinados gastos contabilísticos (GC) que não são gastos


fiscais (GF) (e vive versa) e determinados rendimentos contabilísticos (RC)
que não são rendimentos fiscais (RF) (e vice versa) → Correções Fiscais

GC ≠ GF ► ↑ Q07 (CF+)
GF ≠ GC ► ↓ Q07 (CF-)

RC ≠ RF ► ↓ Q07 (CF-)
RF ≠ RC ► ↑ Q07 (CF+)

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REGRAS DETERMINAÇÃO LT

Art. 17.º, n.º 3: “De modo a permitir o apuramento do LT, a contabilidade


deve:

a) Estar organizada de acordo com a normalização contabilística (…), sem


prejuízo da observância das disposições previstas neste Código;

b) Refletir todas as operações realizadas pelo SP e estar organizada de


modo a que os resultados das operações e VP sujeitas ao regime geral do
IRC possam claramente distinguir-se dos das restantes.”

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REGRAS DETERMINAÇÃO LT (CONTABILIDADE)

Art.º 123.º, CIRC (Alterado pelo DL n.º 28/2019)


“N.º 1 – As sociedades (…) e os EE dos não residentes “(…) são obrigadas a
dispor de contabilidade organizada nos termos da lei comercial e fiscal que,
além dos requisitos indicados no n.º 3 do art. 17.º, permita o controlo do LT.”
“N.º 2 – Na execução da contabilidade deve observar-se em especial o
seguinte:
a) Todos os lançamentos devem estar apoiados em documentos
justificativos, datados e suscetíveis de serem apresentados sempre que
necessário;
b) As operações devem ser registadas cronologicamente, sem emendas ou
rasuras, devendo quaisquer erros ser objeto de regularização contabilística
logo que descobertos.”
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REGRAS DETERMINAÇÃO LT (CONTABILIDADE)
Art.º 123.º, CIRC (Alterado pelo DL n.º 28/2019)
“N.º 3 – Não são permitidos atrasos na contabilidade superiores a 90 dias,
contados do último dia do mês a que as operações respeitam.” (Alterado)
“N.º 4 – Os livros, registos contabilísticos e respetivos documentos de suporte
devem ser conservados em boa ordem durante o prazo de 10 anos.”
(Revogado)
“N.º 5 – Quando a contabilidade for estabelecida por meios informáticos , a
obrigação de conservação prevista no n.º anterior é extensiva à documentação
relativa à análise, programação e execução dos tratamentos informáticos.”
(Revogado)

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REGRAS DETERMINAÇÃO LT (CONTABILIDADE)
Art.º 123.º, CIRC (Alterado pelo DL n.º 28/2019):
N.º 6 – Documentos de suporte podem, após 3 períodos de tributação, ser
substituídos por microfilmes (autorização do DGI). (Revogado)
N.º 7 – Arquivamento em suporte eletrónico de faturas, talões, ou outros
documentos com relevância fiscal emitidos, desde que processados por
computador. (Revogado)
N.º 8 – Software deve ter capacidade de exportação de ficheiros (SAFT).
N.º 9 – Programas de faturação: Certificação da AT. (Revogado)
❖ Na prática as normas revogadas não desapareceram, tendo antes mudado
de sítio… (matéria em causa passou a estar regulada no DL n.º 28/2019).
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CONTABILIDADE / FISCALIDADE

No Código do IRC, é notória a preocupação do legislador em aproximar


(conciliar) a contabilidade e a fiscalidade, nomeadamente na relevância que é
dada ao RLP (ponto de partida…) e aos conceitos contabilísticos, daí que a
contabilidade deva ser encarada como algo fulcral a ter em conta na
abordagem de questões fiscais, sobretudo em sede de IRC (art.º 17.º, n.º 3 e
art.º 123.º).
Atenda-se, por exemplo, ao disposto no n.º 10 do art.º 120.º e no n.º 5 do art.º
121.º, onde se refere que os elementos constantes das declarações (DR22 e
DAICF/IES) devem “concordar exatamente com os obtidos na contabilidade”.

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CONTABILIDADE / FISCALIDADE

A proximidade entre a contabilidade e a fiscalidade está patente, desde logo,


no facto de, na falta de disposições fiscais em contrário, se acolherem, em
sede de IRC, as regras e soluções da contabilidade (SNC, NCRF e NIC).

Nota: A principal incógnita que se colocou no momento de adaptar o CIRC ao


SNC (adaptação processada pelo DL n.º 159/2009) prendeu-se com a
adoção pela contabilidade do “modelo do justo valor” em detrimento “princípio
do custo histórico”, este último tradicionalmente sagrado para a fiscalidade.

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CONTABILIDADE / FISCALIDADE

A este respeito, verifica-se que só residualmente o CIRC acolheu tal modelo


contabilístico, conforme se depreende do teor do art. 18.º, n.º 9:
“Os ajustamentos decorrentes da aplicação do justo valor não concorrem para a formação LT
(…) excepto quando: (…).”

A aceitação fiscal do justo valor resumiu-se, na prática, a:

- Instrumentos financeiros em que há fiabilidade na determinação do justo valor, exigindo-se,


no caso de instrumentos de capital próprio, a cotação em bolsa (e desde que o nível de
participação não seja igual ou superior a 5%...);

- Ativos biológicos consumíveis e produtos agrícolas colhidos de ativos biológicos no


momento da colheita.

art.º 20.º, n.º 1, als. f) e g) e art.º 23.º, n.º 1, als. j) e k)


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CONTABILIDADE / FISCALIDADE

Ainda assim, com a adaptação do CIRC ao SNC verificou-se uma maior


convergência (aproximação) entre a contabilidade e a fiscalidade do que a
existente quando vigorava o POC, de que são exemplos:
- A aceitação do Valor Realizável Líquido no cálculo dos ajustamentos em inventários
(antes: valor de mercado → preço de venda);
- O novo regime aplicável aos instrumentos financeiros derivados e às operações de
cobertura;
- O novo regime fiscal aplicável aos contratos de construção;
- A inexistência de regras fiscais quanto às despesas com I&D.
- Aceitação das provisões para garantias a clientes.

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CONTABILIDADE / FISCALIDADE
No entanto, continuam a existir áreas em que se preservaram os interesses e
as perspetivas próprias da fiscalidade, nomeadamente:
- No regime das depreciações e amortizações (mera adaptação terminológica);
- No regime das mais e menos-valias fiscais (e do reinvestimento dos valores de
realização);
- Na valorização das vendas e prestações de serviços (valor nominal da contraprestação,
sem ter em conta diferimentos decorrentes do efeito financeiro);
- Nos pagamentos com base em ações a trabalhadores (o gasto só é aceite quando os
direitos ou opções forem exercidos);
- Nas perdas por imparidade (apenas são dedutíveis as respeitantes a créditos… e as
resultantes de desvalorizações excecionais ocorridas nos ativos tipificados, derivadas de
causas anormais devidamente comprovadas).
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CONTABILIDADE / FISCALIDADE

Algo indesejável, são as intromissões (ingerências) da fiscalidade na


contabilidade, situação que, com a adaptação do CIRC ao SNC, não terá
desaparecido por completo, mas, pelo menos, se atenuou (emancipação da
contabilidade…), nomeadamente nas situações seguintes:
- Regime das fusões: contabilização com base no método do custo deixou de
ser obrigatória…

- Correções ao VPT: adquirente deixou de ser obrigado a contabilizar a


aquisição pelo VPT…

- Recuperação de depreciações não aceites fiscalmente: deixou de ser


necessária a regularização contabilística…
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CONTABILIDADE / FISCALIDADE

Nota final
Ter em conta que, no universo empresarial português, a percentagem de
empresas que está sujeita ao regime geral do SNC e à generalidade das
NCRF é deveras reduzida.
✓ NCRF-PE (…)
✓ NC-ME (…)

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