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TOC Maio 2006 #74 27

Contabilidade
C om este artigo pretende abordar-se e
clarificar os aspectos relacionados
com o enquadramento normativo dos
custos de desmantelamento e do restauro de
locais contaminados, nomeadamente o seu
citadas e analisadas apenas as acima indica-
das, por serem as mais importantes.

Reconhecimento de custos de desmantelamento

reconhecimento, mensuração e divulgação As provisões para custos de desmantela-


nas contas das empresas. mento e de restauro de locais contaminados
Os custos de desmantelamento são custos enquadram-se nos parágrafos 16 a 38 da DC
relacionados com a desmontagem e re- n.º 29 em conjunção com os parágrafos 14 a
moção de instalações e equipamentos, lim- 35 da IAS 37 e com a IAS 16.
peza de terrenos e restauração ao seu esta- Segundo o parágrafo 14 da IAS 37, uma pro-
do original, que ocorrem quando uma em- visão deve ser reconhecida quando e so-
presa encerra os locais onde desenvolve a mente quando se verifiquem as três con-
sua actividade. dições seguintes:

Enquadramento
e contabilização de custos
de desmantelamento
Os custos de desmantelamento estão relacionados com a desmontagem e re-
moção de instalações e equipamentos, limpeza de terrenos e restauração ao
seu estado original. Este artigo aborda o reconhecimento, mensuração e divul-
gação nas contas das empresas desses custos.
Por Sónia Isabel Alves Malaca

Enquadramento normativo a) uma empresa tenha uma obrigação presen-


te (legal ou construtiva) como resultado de um
Algumas normas internacionais e nacionais acontecimento passado (segundo os parágrafos
podem aplicar-se a esta problemática, nome- 10 e 17, um acontecimento que cria obrigações
adamente, e a nível geral, as International é um acontecimento que cria uma obrigação le-
Accounting Standards (IAS) do International gal ou construtiva que faça com que uma em-
Accounting Standards Board (IASB) n.os 16 presa não tenha nenhuma alternativa realista Sónia Isabel Alves Malaca
sobre Activos Fixos Tangíveis e 37 sobre Pro- senão liquidar essa obrigação); • Mestre em Contabilidade
• TOC n.º 32 943
visões, Passivos Contingentes e Activos Con- b) seja provável (isto é, mais propenso do
tingentes. A nível mais específico e no âmbi- que não) que um exfluxo de recursos que
to nacional, aplica-se a Directriz Contabilísti- incorporem benefícios económicos será exi-
ca (DC) n.º 29 sobre Matérias Ambientais, da gido para liquidar a obrigação; e
Comissão de Normalização Contabilística, c) possa ser feita uma estimativa fiável da
norma que se interliga com as IAS, designa- quantia da obrigação.
damente as acima indicadas. De notar que Se uma destas condições não for satisfeita,
existem outras normas aplicáveis, mas serão não se deve reconhecer nenhuma provisão.
28 Contabilidade

Este parágrafo da IA 37 articula-se com o pa- data incerta). Conjugando com os parágrafos
rágrafo 16 da DC n.º 29 que enquadra o re- 16 e 23 da IAS 37, quando seja mais prová-
conhecimento dos custos de desmantela- vel do que não que uma obrigação presente
mento nos passivos de carácter ambiental, exista à data do balanço, a empresa reco-
isto é, «reconhece-se um passivo de carácter nhece uma provisão (se os critérios de re-
ambiental quando seja provável que uma conhecimento forem satisfeitos); um exfluxo
saída de recursos incorporando benefícios de recursos ou outro acontecimento é consi-
económicos resulte da liquidação de uma derado como provável se a probabilidade de
obrigação presente de carácter ambiental, que o acontecimento ocorrerá for maior do
que tenha surgido em consequência de que a probabilidade de isso não acontecer;
acontecimentos passados e se a quantia pe- e quando seja mais provável que nenhuma
la qual se fará essa liquidação puder ser obrigação presente exista à data do balanço,
mensurada de forma fiável. a empresa divulga um passivo contingente,
A natureza desta obrigação deve ser clara- a menos que a possibilidade de um exfluxo
mente definida e pode ser de dois tipos: de recursos que incorporem benefícios eco-
a) Legal ou contratual, se a entidade tiver nómicos seja remota.
uma obrigação legal ou contratual de evitar, Quando não é possível calcular uma esti-
reduzir ou reparar danos ambientais; ou mativa fiável dos custos ou se existir uma
b) Construtiva, se resultar da própria ac- possibilidade, menos que provável, de que
tuação da entidade, quando esta se tiver um dano ambiental deva ser reparado no fu-
comprometido a evitar, reduzir ou reparar turo, mas essa obrigação esteja ainda de-
danos ambientais e não puder deixar de o pendente da ocorrência de um aconteci-
fazer em virtude de, em consequência de mento incerto, não se deve reconhecer uma
declarações públicas sobre a sua estratégia provisão no Balanço, mas sim considerar-se
ou as suas intenções, ou de um padrão de que existe um passivo contingente e divul-
comportamento por ela estabelecido no gá-lo no Anexo ao Balanço e à Demons-
passado, a entidade tiver dado a entender a tração dos Resultados (parágrafos 20 e 21 da
terceiros que aceita a responsabilidade de DC n.º 29 em conjunto com os parágrafos
evitar, reduzir ou reparar danos ambientais.» 26, 27 e 28 da IAS 37).
O parágrafo 19 da DC n.º 29 refere que se re- O parágrafo 18 introdutório à IAS 37 define
conhece um passivo de carácter ambiental, passivo contingente como:
isto é, uma provisão, quando pode ser efec- a) uma possível obrigação que surja prove-
tuada uma estimativa fiável dos custos decor- niente de acontecimentos passados e cuja
rentes da obrigação subjacente (à data do existência somente será confirmada pela
Balanço, a natureza desta obrigação deve es- ocorrência ou não ocorrência de um ou
tar claramente definida e esta ser susceptível mais acontecimentos futuros incertos não
de originar uma saída de recursos incorpo- totalmente sob o controlo da empresa; ou
rando benefícios económicos, de quantia ou b) uma obrigação presente que surja de
acontecimentos passados mas que não é re-
conhecida porque:
- não é provável que um exfluxo de recur-
sos que incorporem benefícios económicos
será necessário para liquidar a obrigação; ou
- a quantia da obrigação não pode ser men-
surada com suficiente fiabilidade.
É de referir também o exposto no parágrafo
30 da IAS 37 que considera que os passivos
contingentes devem ser continuadamente
avaliados para determinar se um exfluxo de
recursos que incorporem benefícios econó-
micos se tornou provável e, caso isto acon-
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teça, deve ser reconhecida uma provisão A divulgação de custos de desmantelamento está prevista
nas demonstrações financeiras do período nos parágrafos 52 a 55 da DC n.º 29 e nos parágrafos 84
em que a alteração da probabilidade ocorra
(excepto nas circunstâncias extremamente
a 92 da IAS 37. No que respeita a provisões, a IAS 37 nos
raras em que nenhuma estimativa fiável pos- seus parágrafos 84 e 85 refere as divulgações a efectuar
sa ser feita). pela empresa para cada classe de provisões
Não será necessário divulgar qualquer pas-
sivo contingente se a possibilidade da enti- deve ser desmantelado e removido. Este
dade ter de incorrer num dispêndio de ca- dispêndio capitalizado é então amortizado
rácter ambiental for remota, ou se tal como parte da quantia depreciável do activo
dispêndio não for materialmente relevante relacionado. Este reconhecimento é de igual
(parágrafo 22 da DC n.º 29 e parágrafo 28 da forma contemplado na IAS 16. O parágrafo
IAS 37). 16, alínea c) desta norma, refere que o custo
A DC n.º 29 contempla especificamente nos de um item do activo fixo tangível compre-
seus parágrafos 44 a 46 o tratamento a dar ende, entre outros elementos, «a estimativa
às provisões para restauro de locais conta- inicial dos custos de desmantelamento e re-
minados e custos de desmantelamento. moção do item e de restauração do local no
Assim, deverão ser reconhecidos de acordo qual este está localizado, em cuja obrigação
com os critérios estabelecidos nos parágra- uma entidade incorre seja quando o item é
fos 16 a 19 desta DC, os dispêndios relacio- adquirido seja como consequência de ter usa-
nados com o restauro de locais, remoção do o item durante um determinado período
dos desperdícios acumulados, paragem ou para finalidades diferentes da produção de in-
remoção de activos imobilizados, em que a ventários durante esse período.»
entidade seja obrigada a incorrer. Caso se- Para finalizar, esta norma diz-nos também
jam satisfeitos os critérios mencionados na- que «as obrigações por custos contabilizados
queles parágrafos, a obrigação de incorrer de acordo com (…) a IAS 16 são reconheci-
em dispêndios deste tipo no futuro, deverá das e mensuradas de acordo com a IAS 37 -
ser contabilizada como uma provisão de ca- Provisões, Passivos Contingentes e Activos
rácter ambiental. Esta provisão deverá ser Contingentes (parágrafo 18).»
reconhecida na data em que tiver início a ac-
tividade da entidade e, consequentemente, Mensuração de custos de desmantelamento
surgir a obrigação, não devendo o reconhe-
cimento ser retardado até ao momento do No que respeita à mensuração destes custos,
termo da actividade ou do encerramento do esta enquadra-se nos parágrafos 39 a 51 da
local (nos termos dos parágrafos 41 e 45). DC n.º 29 e parágrafos 36 a 52 da IAS 37.
No que respeita a restauro de locais e custos Como já referido, «um passivo ambiental é
de desmantelamento relativos a operações a reconhecido quando puder ser feita uma es-
longo prazo, é dada preferência a este trata- timativa fiável dos dispêndios para liquidar
mento contabilístico, sendo permitida a a obrigação.» (parágrafo 39 da DC n.º 29).
opção de constituição gradual de uma pro- De acordo com os parágrafos 36 e 37 da IAS
visão para esses custos. A entidade pode re- 37, a quantia reconhecida como uma pro-
conhecer custos de encerramento a longo visão deve ser a melhor estimativa do
prazo durante o período relativo às ope- dispêndio necessário para liquidar a obri-
rações, em que uma fracção dos custos é im- gação presente na data do balanço, ou seja,
putada como gasto em cada período contabi- a quantia que uma empresa racionalmente
lístico, sendo o saldo resultante evidenciado pagaria para liquidar a obrigação à data do
separadamente como passivo (parágrafo 46). balanço ou para transferi-la para um tercei-
Segundo o parágrafo 45 da DC n.º 29, caso se- ro nesse momento. De modo semelhante, o
ja reconhecida a provisão de carácter am- parágrafo 40 da DC n.º 29 refere que «a
biental, o dispêndio estimado é incluído co- quantia desse passivo deve ser a melhor es-
mo parte do custo do activo relacionado que timativa do dispêndio exigido para liquidar
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a obrigação presente à data do Balanço, - segundo a alínea d), ao mensurar a pro-


com base na situação existente e tendo em visão, a empresa não deve tomar em consi-
conta a evolução futura da técnica e da le- deração ganhos da alienação esperada de
gislação, na medida em que seja provável a activos, mesmo se esta estiver intimamente
sua ocorrência.» ligada ao acontecimento que dá origem à
O parágrafo 41 da DC n.º 29 refere que, re- provisão. Em vez disso, a empresa deverá
lativamente à quantia total do passivo, deve reconhecer esses ganhos no momento es-
ser feita uma estimativa desta, independen- pecificado pela IAS que trata dos respectivos
temente da data em que a actividade da em- activos, inserindo-se nos parágrafos 67 a 72
presa cesse ou da data em que esse passivo da IAS 16 que tratam do desreconhecimen-
deva ser liquidado. É também permitida a to de activos fixos tangíveis (parágrafos 51 e
constituição gradual da quantia total do pas- 52 da IAS 37).
sivo ao longo do período durante o qual a Relativamente à quantia pela qual a pro-
empresa efectue as suas operações. visão deve ser constituída, o parágrafo 45 da
Na mensuração de uma provisão de custos IAS 37 refere que «quando o efeito do valor
de desmantelamento deverá ser tido em temporal do dinheiro for material, a quantia
conta pela empresa o estabelecido no pará- de uma provisão deve ser o valor presente
grafo (introdutório à IAS 37) n.º 6: dos dispêndios que se espera que sejam ne-
- de acordo com a alínea a) há que tomar em cessários para liquidar a obrigação.» Para
consideração os riscos e incertezas envolvi- completar, o parágrafo 47 da DC n.º 29 re-
dos, tendo sempre presente que a incerteza fere ainda que, para os passivos ambientais
não justifica a criação de provisões excessivas que não sejam liquidados num futuro próxi-
ou uma sobreavaliação deliberada de passi- mo (chamados de longo prazo), é permiti-
vos; a alínea c) exige tomar em consideração da, não sendo exigida, a sua mensuração
os acontecimentos futuros (tais como alte- pelo valor presente, isto é descontado, se a
rações na lei e alterações tecnológicas) que obrigação, a quantia e a data dos pagamen-
possam afectar a quantia necessária para li- tos estiverem fixados ou puderem ser deter-
quidar uma obrigação, para que sejam reflec- minados com fiabilidade. É também aceitá-
tidos na quantia de uma provisão, quando vel a mensuração ao custo corrente (ou se-
houver uma prova objectiva suficiente de que ja, o custo estimado não descontado).
estes ocorrerão (mencionado no parágrafo 48 A última parte deste parágrafo 47 da DC n.º
da IAS 37). A quantia reconhecida deverá re- 29 menciona que, caso o efeito do valor
flectir uma expectativa razoável de observa- temporal do dinheiro seja materialmente re-
dores tecnicamente qualificados e objectivos, levante, é mais adequado avaliar os passivos
tendo em conta toda a evidência disponível ambientais pelo seu valor presente, o que,
quanto à tecnologia que estará disponível, as- como se pode verificar, está de acordo com
sim como o efeito de nova legislação possível o disposto no parágrafo 45 da IAS 37. O pa-
será tido em consideração na mensuração de rágrafo 60 da IAS 37 estabelece ainda que,
uma obrigação existente quando exista quando se use o desconto, a quantia escri-
evidência objectiva suficiente de que a pro- turada de uma provisão aumenta em cada
mulgação da lei é virtualmente certa (pará- período para reflectir a passagem do tempo,
grafos 49 e 50 da IAS 37). sendo este aumento reconhecido como um
- a alínea b) refere que a empresa deve des- gasto com juros.
contar as provisões, quando o efeito do va- O parágrafo 48 da DC n.º 29 acrescenta ainda
lor temporal do dinheiro for materialmente que «o método escolhido deve ser divulgado
relevante, usando uma taxa (ou taxas) de no Anexo ao Balanço e à Demonstração dos
desconto antes de imposto que reflicta(m) Resultados. O custo que se espera seja incor-
as avaliações correntes de mercado do valor rido deverá basear-se num plano de depu-
temporal do dinheiro e os riscos específicos ração e/ou reparação dos danos causados pe-
do passivo que não tenham sido reflectidos la contaminação, específico para o local em
na melhor estimativa do dispêndio. causa. As quantias e o calendário dos paga-
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mentos a efectuar deverão basear-se em in- de qualquer exfluxo na liquidação seja re-
formações objectivas e verificáveis.» mota, caso em que não se faz qualquer di-
Segundo o estabelecido no parágrafo 59 da vulgação) aplica-se o parágrafo 86 da IAS
IAS 37, as provisões deverão ser revistas à 37. Assim, a empresa deverá divulgar para
data de cada balanço e ajustadas para re- cada classe de passivo contingente à data do
flectir a melhor estimativa corrente. A pro- balanço uma breve descrição da natureza do
visão deve ser revertida, caso deixe de ser passivo contingente e, quando praticável:
provável que será necessário um exfluxo de - uma estimativa do seu efeito financeiro,
recursos que incorporem benefícios econó- mensurado segundo os parágrafos 36 a 52
micos futuros para liquidar a obrigação. O da norma;
parágrafo 61 da norma acrescenta que a - uma indicação das incertezas que se rela-
provisão deve ser usada somente para os cionam com a quantia ou momento de
dispêndios relativos aos quais foi original- ocorrência de qualquer exfluxo; e
mente reconhecida. - a possibilidade de qualquer reembolso.
Já a DC n.º 29 refere-se mais concretamente
Divulgação de custos de desmantelamento à apresentação e divulgação nas demons-
trações financeiras das provisões e passivos
A divulgação de custos de desmantelamen- contingentes de carácter ambiental, onde se
to está prevista nos parágrafos 52 a 55 da DC inserem os relativos a custos de desmante-
n.º 29 e nos parágrafos 84 a 92 da IAS 37. lamento.
No que respeita a provisões, a IAS 37 nos Assim, e no seu parágrafo 54 sobre a apre-
seus parágrafos 84 e 85 refere as divul- sentação das provisões de carácter ambien-
gações a efectuar pela empresa para cada tal no Balanço, refere que devem ser apre-
classe de provisões, tais como: sentadas sob a rubrica “Outras provisões”(1).
- a quantia escriturada no começo e no fim No parágrafo 55 menciona as divulgações a
do período; efectuar no Anexo ao Balanço e à Demons-
- as provisões adicionais feitas no período, in- tração dos Resultados, na nota 48 no caso de
cluindo aumentos nas provisões existentes; contas individuais e na nota 50 no caso de
- as quantias usadas (isto é, incorridas e de- contas consolidadas, sob a epígrafe “Infor-
bitadas à provisão) durante o período; mações sobre matérias ambientais”, que en-
- quantias não usadas revertidas durante o tre outras, são as seguintes:
período; - Descrição dos critérios de mensuração
- o aumento durante o período na quantia adoptados e dos métodos utilizados no cál-
descontada proveniente da passagem do culo dos ajustamentos de valor, no que res-
tempo e o efeito de qualquer alteração na peita a matérias ambientais;
taxa de desconto; - Informações pormenorizadas sobre as pro-
- uma breve descrição da natureza da obri- visões de carácter ambiental incluídas na ru-
gação e do momento de ocorrência espera- brica “Outras provisões”(2);
do de quaisquer exfluxos de benefícios eco- - Passivos de carácter ambiental, material-
nómicos resultantes; mente relevantes, incluídos em cada uma
- uma indicação das incertezas acerca da das rubricas do Balanço com descrição da
quantia ou do momento de ocorrência des- respectiva natureza e indicação do prazo e
ses exfluxos, divulgando sempre que neces- condições da sua liquidação. Explicação dos
sário os principais pressupostos feitos com danos e das leis ou regulamentos que exi-
respeito a acontecimentos futuros; e
- a quantia de qualquer reembolso espera- A DC n.º 29 refere-se mais concretamente à apresen-
do, declarando a quantia de qualquer activo tação e divulgação nas demonstrações financeiras
que tenha sido reconhecido para esse re-
embolso esperado. das provisões e passivos contingentes de carácter am-
Relativamente às divulgações sobre passivos biental, onde se inserem os relativos a custos de des-
contingentes (a menos que a possibilidade mantelamento
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gem a sua reparação e as medidas de res- íu através do contrato de arrendamento dos


tauro ou prevenção adoptadas ou propos- terrenos onde se situam os parques éolicos.
tas. Caso os custos sejam estimados com ba- O terreno destinou-se inicialmente à reali-
se num intervalo de quantias, uma descrição zação de estudos e posteriormente à cons-
do modo de cálculo da estimativa, com in- trução e exploração de parques éolicos pa-
dicação de alterações esperadas na legis- ra produção de energia eléctrica, constituí-
lação ou na tecnologia existente reflectidas dos por aerogeradores, subestações, vias
nas quantias indicadas; de circulação, linhas de transporte de ener-
- Política contabilística adoptada no caso de gia e demais equipamentos de apoio. O
custos de longo prazo referentes ao restau- proprietário autorizou a empresa a efec-
ro dos locais, encerramento e desmantela- tuar nos terrenos arrendados todas as
mento. Se a entidade utiliza o método da obras necessárias à instalação dos parques
constituição gradual de provisão referido no éolicos, nomeadamente a implementação
parágrafo 46, a quantia total da provisão que de linhas aéreas ou subterrâneas para o
seria necessária para cobrir todos esses cus- transporte de energia entre os parques e a
tos a longo prazo. Deve divulgar também os rede eléctrica nacional.
dispêndios de carácter ambiental imputados Normalmente, os contratos de arrendamen-
a resultados e os dispêndios de carácter am- to responsabilizam o arrendatário no final
biental capitalizados; do contrato a repor o terreno no seu estado
- Quando se utilize o método do valor pre- inicial, no caso de desmantelamento dos
sente e o efeito do desconto seja material- parques éolicos (desmontagem e remoção
mente relevante, deve ser divulgada a quan- de instalações e equipamentos).
tia não descontada desse passivo e a taxa de São admitidas três hipóteses, para as quais o
desconto utilizada; registo dos custos de desmantelamento dos
- Passivos contingentes de carácter ambien- parques éolicos será distinto.
tal, incluindo informações descritivas com a) Hipótese 1 - A administração da empresa
pormenor suficiente para que a natureza do considera que a possibilidade de desmante-
seu carácter contingente seja entendida. Se lamento ao fim de 20 anos é provável, ou
as incertezas na mensuração forem de tal seja, existe uma maior probabilidade de
modo significativas que tornem impossível acontecer do que de não acontecer.
estimar a quantia de um passivo de carácter No quadro seguinte apresentam-se (em mi-
ambiental, isto deve ser referido, assim co- lhares de euros) os montantes estimados ao
mo as razões para tal e sempre que possí- valor corrente para os custos de desmante-
vel, com o intervalo de resultados possíveis. lamento e os montantes que a empresa es-
pera recuperar com a venda do equipamen-
Caso prático to desmantelado (sucata):

Expõe-se, de seguida, um exemplo prático Tipo Custo Valor


de estimado estimado
sobre as questões apresentadas, tendo como custo de venda
base o normativo já descrito. Desmantelamento de aerogeradores
Uma empresa cuja principal actividade é a e outros equipamentos 200 300
Custo de limpeza e reposição
produção e venda de energia eléctrica à re- do estado inicial do terreno 70 50
de eléctrica nacional por captação e apro- Totais 270 350
veitamento da energia éolica, é detentora de Perda potencial (80)
parques éolicos localizados em terrenos
arrendados (sobre os quais os activos estão Como a empresa está comprometida pelo
implementados), explorados pela empresa contrato a repor o terreno no estado original
para o desenvolvimento da sua actividade. (obrigação contratual) e existe uma estimati-
A contabilização dos custos de desmantela- va fiável da obrigação, sendo provável uma
mento dos parques éolicos decorre de uma saída de recursos incorporando benefícios
obrigação contratual que a empresa contra- económicos que resulta da liquidação dessa
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obrigação presente de carácter ambiental que


Este passivo contingente tem de ser divulgado na nota 48
surgiu em consequência de acontecimentos
passados, a situação enquadra-se nos pressu- do Anexo ao Balanço e à Demonstração dos Resultados,
postos de reconhecimento de uma provisão no caso de contas individuais (nota 50 no caso de contas
para custos de desmantelamento (de acordo consolidadas), sob a epígrafe “Informações sobre matérias
com o parágrafo 16 da DC n.º 29 conjugado
com o parágrafo 14 da IAS 37). ambientais”
Assim, os custos de desmantelamento, re- ta 29. A provisão deverá ser revertida, caso
moção de activos e restauração do local são deixe de ser provável que será necessário
incluídos no custo do activo relacionado. O um exfluxo de recursos que incorporem be-
custo total, estimado ao valor corrente (de nefícios económicos futuros para liquidar a
acordo com o parágrafo 45 da DC n.º 29 e obrigação.
parágrafo 16, alínea c) da IAS 16) deve ser Relativamente à provisão constituída, a em-
acrescido ao custo de construção das insta- presa terá de efectuar as divulgações aplicá-
lações e é amortizado da mesma forma que veis, referidas nos parágrafos 54 e 55 da DC
o resto das instalações. Em contrapartida, é n.º 29 e parágrafos 84 e 85 da IAS 37.
contabilizada uma provisão no mesmo mon- b) Hipótese 2 - Considera-se que a empre-
tante, que será utilizada quando os custos sa está obrigada a pagar no final do con-
forem incorridos. trato de arrendamento um preço de 400
Pela constituição da provisão: milhares de euros em consequência de
Debita conta 42 – nas respectivas subcontas, acordo celebrado com uma terceira enti-
por cada tipo de activo relacionado dade, para que esta lhe proceda ao des-
Credita conta 29 mantelamento de todo o equipamento; a
Pela amortização dos activos: empresa (conforme parágrafo 47 da DC
Debita conta 66 n.º 29 conjuntamente com parágrafo 45 da
Credita conta 48 IAS 37) terá de descontar essa quantia ao
Os custos de desmantelamento futuros valor presente, e o impacto anual do de-
serão compensados pela venda das máqui- senrolar do desconto da provisão deve ser
nas e transformadores. A empresa tem uma contabilizado como custo financeiro na
perda potencial de 80 milhares de euros. No demonstração dos resultados (de acordo
entanto, o montante da provisão a constituir com o parágrafo 60 da IAS 37).
será no montante total dos custos estimados Ainda no âmbito do parágrafo 47 da DC
de desmantelamento e reposição dos terre- n.º 29, o custo total descontado ao valor pre-
nos, isto é, de 270 milhares de euros, pois a sente deve ser incluído no custo de cons-
provisão deve ser constituída pelo montan- trução das instalações (activos fixos tangí-
te bruto, sem considerar os ganhos prove- veis) e é amortizado da mesma forma que o
nientes da venda dos materiais desmantela- resto das instalações, de acordo com o pa-
dos (de acordo com os parágrafos 51 e 52 rágrafo 45 da DC n.º 29 e parágrafo 16, alí-
da IAS 37). Estes ganhos serão devidamente nea c) da IAS 16, conforme já referido.
reconhecidos no momento da venda da su- Supondo que a taxa de juro é de três por
cata, isto é, quando os equipamentos sejam cento e que o contrato de arrendamento du-
desreconhecidos (segundo parágrafo 68 da ra 20 anos, o valor presente descontado(3) é
IAS 16). de 221,5 milhares de euros.
De acordo com o estabelecido no parágrafo Pela constituição da provisão:
59 da IAS 37, à data de cada balanço, quais- Debita conta 42 por 221,5 milhares de euros
quer actualizações no valor estimado da Credita conta 29 por 221,5 milhares de euros
provisão (neste caso, a mensuração é feita Pela amortização dos activos:
pelo valor corrente conforme parágrafo 47 Debita conta 66
da DC n.º 29) serão tomadas em conside- Credita conta 48
ração, sendo registadas em custos ou pro- Pelo desconto anual, a contabilização no
veitos do exercício em contrapartida da con- primeiro ano será:
34 Contabilidade

a empresa divulga um passivo contingente,


a menos que a possibilidade de um exfluxo
de recursos que incorporem benefícios eco-
nómicos seja remota, caso em que não se
contabiliza qualquer provisão para custos
de limpeza e reposição do estado inicial do
terreno, nem se divulga qualquer passivo
contingente (parágrafo 22 da DC n.º 29).
Este passivo contingente tem de ser divulgado
na nota 48 do Anexo ao Balanço e à Demons-
tração dos Resultados, no caso de contas indi-
viduais (nota 50 no caso de contas consolida-
das), sob a epígrafe “Informações sobre maté-
rias ambientais”, como já referido e conforme o
disposto no parágrafo 55 da DC n.º 29.

Conclusão

Debita conta 68 por 6,6 milhares de euros Poder-se-iam expor outras hipóteses com
(221,5x3%) pressupostos diferentes dos aqui apresenta-
Credita conta 29 por 6,6 milhares de euros dos, existem diversas nuances às quais as
Nos anos seguintes, far-se-ão lançamentos normas referidas seriam aplicáveis, mas não
idênticos ao anterior aplicando-se a taxa ao se pretendeu que esta análise fosse exausti-
montante da provisão acumulada até ao fi- va. Espera-se, no entanto, que os casos
nal do exercício anterior, ou seja, no início apresentados sejam úteis para a clarificação
do segundo ano, aplicam-se os três por cen- destas matérias para que cada vez mais se
to a 228,1 milhares de euros. consiga atingir a desejada imagem verdadei-
c) Hipótese 3 - Pressupõe-se que a adminis- ra e apropriada das demonstrações financei-
tração da empresa não tem uma obrigação ras, um dos objectivos inequívocos dos Téc-
contratual assumida com o proprietário do nicos Oficiais de Contas (TOC). ★
terreno (ou seja, o contrato de arrendamen-
to é omisso neste ponto) de incorrer no cus- (Texto recebido pela CTOC em Janeiro de 2006)
to de limpeza e reposição do estado inicial
do terreno e não está explícito que a em- Bibliografia
presa seja obrigada a suportar tal custo no
final do contrato. - Malaca, Sónia (2003). “O impacto das matérias am-
bientais na auditoria às demonstrações financeiras”,
Como uma das três condições para o reco- dissertação de Mestrado, Lisboa.
nhecimento de uma provisão não se verifi- - International Accounting Standards Board, IASB (re-
ca, que é a existência de uma obrigação pre- vista em 2003). “IAS 16 - Activos Fixos Tangíveis”, Lon-
sente (legal ou construtiva) como resultado dres.
de um acontecimento passado (disposto no - International Accounting Standards Board, IASB
(1998). “IAS 37 - Provisões, Passivos Contingentes e Ac-
parágrafo 14 da IAS 37 e também conforme tivos Contingentes”, Londres.
com parágrafo 16 da DC 29), não existe uma - Comissão de Normalização Contabilística, CNC
obrigação presente de carácter ambiental e (2002). “Directriz Contabilística 29 - Matérias Ambien-
estamos neste caso face a um passivo con- tais”, Lisboa.
tingente, não se reconhecendo uma pro-
visão.
O parágrafo 16, alínea b) e parágrafo 23, (1) Nova redacção dada pelo Decreto-Lei n.º 35/2005,
ambos da IAS 37 acrescentam também que de 17 de Fevereiro.
quando seja mais provável que nenhuma (2) Idem.
obrigação presente exista à data do balanço, (3) Cálculo do valor actual: 221,5 = 400/(1+0,03)20.

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