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C om este artigo pretende abordar-se e
clarificar os aspectos relacionados
com o enquadramento normativo dos
custos de desmantelamento e do restauro de
locais contaminados, nomeadamente o seu
citadas e analisadas apenas as acima indica-
das, por serem as mais importantes.
Enquadramento
e contabilização de custos
de desmantelamento
Os custos de desmantelamento estão relacionados com a desmontagem e re-
moção de instalações e equipamentos, limpeza de terrenos e restauração ao
seu estado original. Este artigo aborda o reconhecimento, mensuração e divul-
gação nas contas das empresas desses custos.
Por Sónia Isabel Alves Malaca
Este parágrafo da IA 37 articula-se com o pa- data incerta). Conjugando com os parágrafos
rágrafo 16 da DC n.º 29 que enquadra o re- 16 e 23 da IAS 37, quando seja mais prová-
conhecimento dos custos de desmantela- vel do que não que uma obrigação presente
mento nos passivos de carácter ambiental, exista à data do balanço, a empresa reco-
isto é, «reconhece-se um passivo de carácter nhece uma provisão (se os critérios de re-
ambiental quando seja provável que uma conhecimento forem satisfeitos); um exfluxo
saída de recursos incorporando benefícios de recursos ou outro acontecimento é consi-
económicos resulte da liquidação de uma derado como provável se a probabilidade de
obrigação presente de carácter ambiental, que o acontecimento ocorrerá for maior do
que tenha surgido em consequência de que a probabilidade de isso não acontecer;
acontecimentos passados e se a quantia pe- e quando seja mais provável que nenhuma
la qual se fará essa liquidação puder ser obrigação presente exista à data do balanço,
mensurada de forma fiável. a empresa divulga um passivo contingente,
A natureza desta obrigação deve ser clara- a menos que a possibilidade de um exfluxo
mente definida e pode ser de dois tipos: de recursos que incorporem benefícios eco-
a) Legal ou contratual, se a entidade tiver nómicos seja remota.
uma obrigação legal ou contratual de evitar, Quando não é possível calcular uma esti-
reduzir ou reparar danos ambientais; ou mativa fiável dos custos ou se existir uma
b) Construtiva, se resultar da própria ac- possibilidade, menos que provável, de que
tuação da entidade, quando esta se tiver um dano ambiental deva ser reparado no fu-
comprometido a evitar, reduzir ou reparar turo, mas essa obrigação esteja ainda de-
danos ambientais e não puder deixar de o pendente da ocorrência de um aconteci-
fazer em virtude de, em consequência de mento incerto, não se deve reconhecer uma
declarações públicas sobre a sua estratégia provisão no Balanço, mas sim considerar-se
ou as suas intenções, ou de um padrão de que existe um passivo contingente e divul-
comportamento por ela estabelecido no gá-lo no Anexo ao Balanço e à Demons-
passado, a entidade tiver dado a entender a tração dos Resultados (parágrafos 20 e 21 da
terceiros que aceita a responsabilidade de DC n.º 29 em conjunto com os parágrafos
evitar, reduzir ou reparar danos ambientais.» 26, 27 e 28 da IAS 37).
O parágrafo 19 da DC n.º 29 refere que se re- O parágrafo 18 introdutório à IAS 37 define
conhece um passivo de carácter ambiental, passivo contingente como:
isto é, uma provisão, quando pode ser efec- a) uma possível obrigação que surja prove-
tuada uma estimativa fiável dos custos decor- niente de acontecimentos passados e cuja
rentes da obrigação subjacente (à data do existência somente será confirmada pela
Balanço, a natureza desta obrigação deve es- ocorrência ou não ocorrência de um ou
tar claramente definida e esta ser susceptível mais acontecimentos futuros incertos não
de originar uma saída de recursos incorpo- totalmente sob o controlo da empresa; ou
rando benefícios económicos, de quantia ou b) uma obrigação presente que surja de
acontecimentos passados mas que não é re-
conhecida porque:
- não é provável que um exfluxo de recur-
sos que incorporem benefícios económicos
será necessário para liquidar a obrigação; ou
- a quantia da obrigação não pode ser men-
surada com suficiente fiabilidade.
É de referir também o exposto no parágrafo
30 da IAS 37 que considera que os passivos
contingentes devem ser continuadamente
avaliados para determinar se um exfluxo de
recursos que incorporem benefícios econó-
micos se tornou provável e, caso isto acon-
TOC Maio 2006 #74 29
teça, deve ser reconhecida uma provisão A divulgação de custos de desmantelamento está prevista
nas demonstrações financeiras do período nos parágrafos 52 a 55 da DC n.º 29 e nos parágrafos 84
em que a alteração da probabilidade ocorra
(excepto nas circunstâncias extremamente
a 92 da IAS 37. No que respeita a provisões, a IAS 37 nos
raras em que nenhuma estimativa fiável pos- seus parágrafos 84 e 85 refere as divulgações a efectuar
sa ser feita). pela empresa para cada classe de provisões
Não será necessário divulgar qualquer pas-
sivo contingente se a possibilidade da enti- deve ser desmantelado e removido. Este
dade ter de incorrer num dispêndio de ca- dispêndio capitalizado é então amortizado
rácter ambiental for remota, ou se tal como parte da quantia depreciável do activo
dispêndio não for materialmente relevante relacionado. Este reconhecimento é de igual
(parágrafo 22 da DC n.º 29 e parágrafo 28 da forma contemplado na IAS 16. O parágrafo
IAS 37). 16, alínea c) desta norma, refere que o custo
A DC n.º 29 contempla especificamente nos de um item do activo fixo tangível compre-
seus parágrafos 44 a 46 o tratamento a dar ende, entre outros elementos, «a estimativa
às provisões para restauro de locais conta- inicial dos custos de desmantelamento e re-
minados e custos de desmantelamento. moção do item e de restauração do local no
Assim, deverão ser reconhecidos de acordo qual este está localizado, em cuja obrigação
com os critérios estabelecidos nos parágra- uma entidade incorre seja quando o item é
fos 16 a 19 desta DC, os dispêndios relacio- adquirido seja como consequência de ter usa-
nados com o restauro de locais, remoção do o item durante um determinado período
dos desperdícios acumulados, paragem ou para finalidades diferentes da produção de in-
remoção de activos imobilizados, em que a ventários durante esse período.»
entidade seja obrigada a incorrer. Caso se- Para finalizar, esta norma diz-nos também
jam satisfeitos os critérios mencionados na- que «as obrigações por custos contabilizados
queles parágrafos, a obrigação de incorrer de acordo com (…) a IAS 16 são reconheci-
em dispêndios deste tipo no futuro, deverá das e mensuradas de acordo com a IAS 37 -
ser contabilizada como uma provisão de ca- Provisões, Passivos Contingentes e Activos
rácter ambiental. Esta provisão deverá ser Contingentes (parágrafo 18).»
reconhecida na data em que tiver início a ac-
tividade da entidade e, consequentemente, Mensuração de custos de desmantelamento
surgir a obrigação, não devendo o reconhe-
cimento ser retardado até ao momento do No que respeita à mensuração destes custos,
termo da actividade ou do encerramento do esta enquadra-se nos parágrafos 39 a 51 da
local (nos termos dos parágrafos 41 e 45). DC n.º 29 e parágrafos 36 a 52 da IAS 37.
No que respeita a restauro de locais e custos Como já referido, «um passivo ambiental é
de desmantelamento relativos a operações a reconhecido quando puder ser feita uma es-
longo prazo, é dada preferência a este trata- timativa fiável dos dispêndios para liquidar
mento contabilístico, sendo permitida a a obrigação.» (parágrafo 39 da DC n.º 29).
opção de constituição gradual de uma pro- De acordo com os parágrafos 36 e 37 da IAS
visão para esses custos. A entidade pode re- 37, a quantia reconhecida como uma pro-
conhecer custos de encerramento a longo visão deve ser a melhor estimativa do
prazo durante o período relativo às ope- dispêndio necessário para liquidar a obri-
rações, em que uma fracção dos custos é im- gação presente na data do balanço, ou seja,
putada como gasto em cada período contabi- a quantia que uma empresa racionalmente
lístico, sendo o saldo resultante evidenciado pagaria para liquidar a obrigação à data do
separadamente como passivo (parágrafo 46). balanço ou para transferi-la para um tercei-
Segundo o parágrafo 45 da DC n.º 29, caso se- ro nesse momento. De modo semelhante, o
ja reconhecida a provisão de carácter am- parágrafo 40 da DC n.º 29 refere que «a
biental, o dispêndio estimado é incluído co- quantia desse passivo deve ser a melhor es-
mo parte do custo do activo relacionado que timativa do dispêndio exigido para liquidar
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mentos a efectuar deverão basear-se em in- de qualquer exfluxo na liquidação seja re-
formações objectivas e verificáveis.» mota, caso em que não se faz qualquer di-
Segundo o estabelecido no parágrafo 59 da vulgação) aplica-se o parágrafo 86 da IAS
IAS 37, as provisões deverão ser revistas à 37. Assim, a empresa deverá divulgar para
data de cada balanço e ajustadas para re- cada classe de passivo contingente à data do
flectir a melhor estimativa corrente. A pro- balanço uma breve descrição da natureza do
visão deve ser revertida, caso deixe de ser passivo contingente e, quando praticável:
provável que será necessário um exfluxo de - uma estimativa do seu efeito financeiro,
recursos que incorporem benefícios econó- mensurado segundo os parágrafos 36 a 52
micos futuros para liquidar a obrigação. O da norma;
parágrafo 61 da norma acrescenta que a - uma indicação das incertezas que se rela-
provisão deve ser usada somente para os cionam com a quantia ou momento de
dispêndios relativos aos quais foi original- ocorrência de qualquer exfluxo; e
mente reconhecida. - a possibilidade de qualquer reembolso.
Já a DC n.º 29 refere-se mais concretamente
Divulgação de custos de desmantelamento à apresentação e divulgação nas demons-
trações financeiras das provisões e passivos
A divulgação de custos de desmantelamen- contingentes de carácter ambiental, onde se
to está prevista nos parágrafos 52 a 55 da DC inserem os relativos a custos de desmante-
n.º 29 e nos parágrafos 84 a 92 da IAS 37. lamento.
No que respeita a provisões, a IAS 37 nos Assim, e no seu parágrafo 54 sobre a apre-
seus parágrafos 84 e 85 refere as divul- sentação das provisões de carácter ambien-
gações a efectuar pela empresa para cada tal no Balanço, refere que devem ser apre-
classe de provisões, tais como: sentadas sob a rubrica “Outras provisões”(1).
- a quantia escriturada no começo e no fim No parágrafo 55 menciona as divulgações a
do período; efectuar no Anexo ao Balanço e à Demons-
- as provisões adicionais feitas no período, in- tração dos Resultados, na nota 48 no caso de
cluindo aumentos nas provisões existentes; contas individuais e na nota 50 no caso de
- as quantias usadas (isto é, incorridas e de- contas consolidadas, sob a epígrafe “Infor-
bitadas à provisão) durante o período; mações sobre matérias ambientais”, que en-
- quantias não usadas revertidas durante o tre outras, são as seguintes:
período; - Descrição dos critérios de mensuração
- o aumento durante o período na quantia adoptados e dos métodos utilizados no cál-
descontada proveniente da passagem do culo dos ajustamentos de valor, no que res-
tempo e o efeito de qualquer alteração na peita a matérias ambientais;
taxa de desconto; - Informações pormenorizadas sobre as pro-
- uma breve descrição da natureza da obri- visões de carácter ambiental incluídas na ru-
gação e do momento de ocorrência espera- brica “Outras provisões”(2);
do de quaisquer exfluxos de benefícios eco- - Passivos de carácter ambiental, material-
nómicos resultantes; mente relevantes, incluídos em cada uma
- uma indicação das incertezas acerca da das rubricas do Balanço com descrição da
quantia ou do momento de ocorrência des- respectiva natureza e indicação do prazo e
ses exfluxos, divulgando sempre que neces- condições da sua liquidação. Explicação dos
sário os principais pressupostos feitos com danos e das leis ou regulamentos que exi-
respeito a acontecimentos futuros; e
- a quantia de qualquer reembolso espera- A DC n.º 29 refere-se mais concretamente à apresen-
do, declarando a quantia de qualquer activo tação e divulgação nas demonstrações financeiras
que tenha sido reconhecido para esse re-
embolso esperado. das provisões e passivos contingentes de carácter am-
Relativamente às divulgações sobre passivos biental, onde se inserem os relativos a custos de des-
contingentes (a menos que a possibilidade mantelamento
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Conclusão
Debita conta 68 por 6,6 milhares de euros Poder-se-iam expor outras hipóteses com
(221,5x3%) pressupostos diferentes dos aqui apresenta-
Credita conta 29 por 6,6 milhares de euros dos, existem diversas nuances às quais as
Nos anos seguintes, far-se-ão lançamentos normas referidas seriam aplicáveis, mas não
idênticos ao anterior aplicando-se a taxa ao se pretendeu que esta análise fosse exausti-
montante da provisão acumulada até ao fi- va. Espera-se, no entanto, que os casos
nal do exercício anterior, ou seja, no início apresentados sejam úteis para a clarificação
do segundo ano, aplicam-se os três por cen- destas matérias para que cada vez mais se
to a 228,1 milhares de euros. consiga atingir a desejada imagem verdadei-
c) Hipótese 3 - Pressupõe-se que a adminis- ra e apropriada das demonstrações financei-
tração da empresa não tem uma obrigação ras, um dos objectivos inequívocos dos Téc-
contratual assumida com o proprietário do nicos Oficiais de Contas (TOC). ★
terreno (ou seja, o contrato de arrendamen-
to é omisso neste ponto) de incorrer no cus- (Texto recebido pela CTOC em Janeiro de 2006)
to de limpeza e reposição do estado inicial
do terreno e não está explícito que a em- Bibliografia
presa seja obrigada a suportar tal custo no
final do contrato. - Malaca, Sónia (2003). “O impacto das matérias am-
bientais na auditoria às demonstrações financeiras”,
Como uma das três condições para o reco- dissertação de Mestrado, Lisboa.
nhecimento de uma provisão não se verifi- - International Accounting Standards Board, IASB (re-
ca, que é a existência de uma obrigação pre- vista em 2003). “IAS 16 - Activos Fixos Tangíveis”, Lon-
sente (legal ou construtiva) como resultado dres.
de um acontecimento passado (disposto no - International Accounting Standards Board, IASB
(1998). “IAS 37 - Provisões, Passivos Contingentes e Ac-
parágrafo 14 da IAS 37 e também conforme tivos Contingentes”, Londres.
com parágrafo 16 da DC 29), não existe uma - Comissão de Normalização Contabilística, CNC
obrigação presente de carácter ambiental e (2002). “Directriz Contabilística 29 - Matérias Ambien-
estamos neste caso face a um passivo con- tais”, Lisboa.
tingente, não se reconhecendo uma pro-
visão.
O parágrafo 16, alínea b) e parágrafo 23, (1) Nova redacção dada pelo Decreto-Lei n.º 35/2005,
ambos da IAS 37 acrescentam também que de 17 de Fevereiro.
quando seja mais provável que nenhuma (2) Idem.
obrigação presente exista à data do balanço, (3) Cálculo do valor actual: 221,5 = 400/(1+0,03)20.