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a INTRODUÇÃO À FISCALIDADE 

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  Finalmente, deve notar-se que a decisão de aplicação desta forma de tributação indirecta é de com-
 
petência específica do director de finanças da área do domicílio do contribuinte e não pode ser dele-
 
gada a outros funcionários. Isto mesmo fica expresso no nº6 deste artigo 89-A da LGT. Esta norma
A tabela serve, assim, para determinar o conceito de Rendimento Padrão, isto é, o rendimento que,
compreende-se à luz de um sistema que procura gerar constantemente equilíbrios internos e garan-
em princípio, deverá estar associado ao contribuinte quando este evidencie determinadas manifesta-
tias de aplicação: a atribuição de competência exclusiva ao director de finanças supõe o estabeleci-
ções patrimoniais.
mento de um nível de exigência e rigor superior, uma vez que estamos perante uma decisão
Se assim não for haverá lugar a uma correcção tributária, que se repercutirá em sede de categoria G
altamente penalizadora para o sujeito passivo e onde acresce ainda uma clara inversão do ónus da
do IRS (incrementos patrimoniais).
prova. Desta forma, garantir que a decisão é tomada pelo director de finanças da área do domicilio
Em termos técnico-jurídicos, deve ser sublinhado que apenas se haverá lugar a avaliação indirecta
do sujeito passivo assume, antes de mais, uma característica de garantia de aplicação correta e pro-
da matéria colectável em duas situações distintas:
porcional desta metodologia de tributação.
a) Não se verificou entrega da declaração de rendimentos e estamos perante as manifestações de
Finalmente, dada a estrita relação (estatística, social, económica, etc.) entre o fenómeno das mani-
fortuna constantes da tabela.
festações de fortuna e alguns ilícitos criminais (especialmente no âmbito da criminalidade econó-
b) Houve entrega da declaração de rendimentos e verifica-se uma desproporção superior a 30%
mica e tributária), o legislador estabeleceu uma obrigatoriedade de comunicação entre a autoridade
entre o rendimento declarado e o rendimento padrão (calculado nos termos do nº4 do art. 89-A da
fiscal e a autoridade criminal (neste caso o Ministério Público, enquanto dominus da acção penal)
LGT).
  quando se leve a cabo a forma de tributação prevista neste artigo.
Nestas situações verifica-se uma inversão do ónus da prova, tal como definido na LGT, cabendo ao Assim, o nº10 do art. 89º-A da LGT estabelece que “a decisão de avaliação da matéria colectável
contribuinte invocar as razões específicas que levaram a evidenciar as manifestações de fortuna com recurso ao método indirecto constante deste artigo, após tornar-se definitiva, deve ser comuni-
referidas, quando o seu rendimento padrão não as suporta economicamente. cada pelo director de finanças ao Ministério Público e, tratando-se de funcionário ou titular de cargo
Isso mesmo fica claro no nº3 do art. 89-A da LGT ao estatuir que “verificadas as situações previstas sob tutela de entidade pública, também à tutela destes para efeitos de averiguações no âmbito da res-

G no n.º 1 deste artigo, bem como na alínea f) do n.º 1 do artigo 87.º, cabe ao sujeito passivo a com-
provação de que correspondem à realidade os rendimentos declarados e de que é outra a fonte das
pectiva competência”.
Deve ressalvar-se que não há aqui nenhuma presunção de culpa sobre o sujeito passivo em matéria
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manifestações de fortuna ou do acréscimo de património ou da despesa efectuada”. criminal. Nem poderia, atento o regime constitucional e legal vigente em matéria penal. O que se
  trata, objectivamente, é de estabelecer um dever de comunicação à autoridade tributária, numa maté-
Torna-se evidente, assim, que nas situações acima mencionadas a aplicação da tributação indirecta ria que se encontra frequentemente relacionada com ilícitos como a fraude fiscal ou o branquea-
não é absoluta ou automática. Depende sempre, como toda a tributação por métodos indirectos, de mento de capitais.
audição prévia do contribuinte, onde este pode (e deve, por inversão do ónus da prova) fazer prova e De resto, é um mero dever de comunicação que está em causa. Não implica nenhuma inversão do
explicação da origem das manifestações de fortuna evidenciadas (doação, herança, cedência gratui- ónus da prova ou qualquer distorção do princípio da presunção de inocência. Nem sequer, deve
ta, etc.). sublinhar-se, obriga o Ministério Público à abertura de qualquer inquérito: após receber a informa-
  ção da autoridade fiscal, cabe ao MP – e não à administração fiscal – analisar o contexto e os factos
Devem ainda sublinhar-se três elementos essenciais na aplicação deste regime jurídico-tributário: em que se levou a cabo a avaliação indirecta da matéria colectável do contribuinte, derivando daí
1) O acréscimo à matéria colectável em sede de IRS deve reportar-se ao ano em que é determi- (ou não) a existência de indícios criminais que sustentem a abertura de um inquérito-crime, nos
nada a titularidade do bem em causa ou a autoria da despesa realizada. temos previstos no Código de Processo Penal.
2) Quando o valor dos bens não estiver definido (valor de aquisição) deve atender-se ao valor de  
mercado devendo ser considerado, quando existir, o valor indicado pelas associações dos respecti-  
 
vos sectores ou áreas de negócio.
 
3) Da decisão de tributação indirecta por esta via (manifestações de fortuna) cabe recurso para o  
tribunal tributário de 1ª instância, tendo este recurso efeito suspensivo e devendo tramitar como pro-
cesso urgente. IV
 

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