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Processo Nº 0101431-74.2020.8.19.0001
Processo Nº 0101431-74.2020.8.19.0001
Processo nº 0101431-74.2020.8.19.0001
Colenda Câmara,
Excelentíssimos Desembargadores,
I. BREVE RESUMO.
2. Segundo a inicial acusatória, “no dia 26 de maio de 2020, por volta das 16h30,
na Rua Cinco, Vila Theodoro, nesta Comarca, os denunciados foram presos em flagrante
quando, consciente e voluntariamente, trazia m consigo para fins de tráfico, sem
autorização e em desacordo com determinação legal e regulamentar, 1.576,02g (mil
quinhentos e setenta e seis gramas e dois decigramas) de massa, massa líquida aferida
por amostragem, de pó branco, distribuído por 1.720 (mi l setecentos e vinte) pequenos
sacos plásticos incolores, fechados por meio de dobras de papel, exibindo os inscritos
“TCP Complexo de Lages Mister de R$ 5,00” impressos com tinta preta , substância
identificada como COCAÍNA, entorpecente capaz de determinar dependência física ou
psíquica, de acordo com o laudo de exame de entorpecente carreado aos autos”.
3. Assinala, ainda, que “em momento anterior não precisado nos autos, mas
sendo certo que até o dia 26 de maio de 2020, por volta das 16h30, na Rua Cinco, Vila
Theodoro, nesta Comarca, os denunciados foram presos em flagrante quando consciente
e voluntariamente associaram-se entre si e a terceiras pessoas ainda não identificadas
nos autos, sendo certo que todas integrantes da malfadada facção criminosa
autodenominada “Terceiro Comando Puro”, com o fim de praticarem, de forma reiterada
ou não, o crime de tráfico ilícito de entorpecentes”.
demais elementos constantes dos autos, infere-se que os denunciados traziam a droga
consigo para fins de tráfico”.
“Eu não sei quem da P2 passou a informação mas o outro colega que
mora aqui na cidade que vai saber passar a informação, o outro policial
que estava comigo.”
12. Logo após, o Policial Rian Carlos Silva de Castro foi ouvido e asseverou
que: “(...) a P2 do 24 entrou em contato comigo e falou que estavam investigando eles
há um bom tempo já, investigando a princípio ELE, investigando no sentindo do tráfico
de drogas mesmo, (...) Ele faria distribuição na favelinha, na vila são José, e lá na vila
tem domínio de tráfico pela facção TCP. Ele não deixou em momento algum eu pegar o
celular dele e nem desbloquear em nenhum momento, não tinha nenhum indício que ele
estaria trabalhando como Uber, na hora falaram que a relação dos acusados era de marido
e mulher, ambos falaram, a acusada só falou que estava na companhia dele, que ele deu
a bolsa pra ela, então ela sabia que estava traficando drogas, não disse de onde estava
vindo as drogas”.
15. Não se mostra possível ou crível que este Órgão Julgador possa
corroborar com as infundadas declarações de ambos policiais que durante a
instrução não conseguiram nomear quem ou qual setor policial os teria
informado de que haveria vínculo ou habitualidade da recorrida em cometer tal
crime, quando em verdade, os depoimentos e provas exaustivamente apontam
para o contrário.
20. Em resposta a esta defesa, David narrou que: “Ela imaginou que tinha
droga, perguntou o que eu estaria levando na bolsa, começou a me indagar, ai
eu falei que tinha droga, antes ela não sabia, quando eu voltei do carro foi o
momento que ela começou a me indagar, ficou nervosa por causa da droga no
carro, ficando falando que não era pra eu fazer isso, que era coisa errada, disse
que ela era contra o tráfico de drogas, eu pedi pra ela sair do carro, e nesse
momento ela estava nervosa.” (g.n.)
21. Deste modo, não restam dúvidas a respeito de que o vínculo entre o
acusado e a recorrente era meramente afetivo e não associativo para fins
delituosos, de modo que a conclusão ministerial pela prática do crime de
associação ao tráfico de drogas decorreu exclusivamente da circunstância de
Fernanda estar em companhia do marido rumo à farmácia.
23. Esclarece ainda melhor a patroa da recorrida, Sra. Ana Carolina Lourenço
acerca de suas favoráveis condições pessoais: “a Fernanda trabalha pra mim desde
dezembro de 2016, ela trabalhava até a data da prisão, trabalhava de segunda à sexta
dormindo no trabalho direto, eu chego em casa sexta-feira, e com a pandemia eu não
tinha como ficar indo e voltando ai ela começou a ficar 15 dias seguidos e ia pra casa e
ficava uns 4 dias e voltava.”
24. Após ser indagada pela defesa, a referida testemunha narrou que:
25. O marido da Sra. Ana Carolina, o Sr. Rafael Gorestein, também corrobora
com o depoimento oferecido por sua esposa na instrução, em declaração às fls.
227, assinalando que: “Em seu favor tenho declarar que se trata de uma
trabalhadora dedicada e que em quase 4 anos de convívio, não temos registro
de qualquer evento que macule a sua conduta.” (g.n.)
26. Dito isso, como amplamente demonstrado nas linhas acima, não restou
comprovada uma associação para traficar, que somente se caracterizaria pela
estabilidade e permanência, elementos imprescindíveis para a adequação do
fato ao tipo penal do artigo 35 da lei federal n. 11.343/2006, segundo precedentes
do SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA:
III. DA DOSIMETRIA
28. A excelentíssima magistrada entendeu pela fixação da pena base da
recorrida no mínimo legal, aplicando a minorante prevista no parágrafo 4º do
artigo 33 da Lei 11.343/06, sob o fundamento de que: “A ré é primária e de bons
antecedentes, inexistindo qualquer indício de que pertença à organização
criminosa, nem tampouco que se dedique à prática de crimes ou que faça do
crime seu meio de vida.”
IV. DO PEDIDO
35. Ante todo o exposto, requer a manutenção da sentença absolutória, ante
a ausência de provas em relação a autoria da recorrida dos delitos descritos nos
artigos 33 e 35 da lei federal n. 11.343/06 com fundamento no artigo 386, inciso
VII do Código de Processo Penal.
Pede deferimento.