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TJBA

PJe - Processo Judicial Eletrônico

29/02/2024

Número: 8124665-65.2022.8.05.0001
Classe: AÇÃO PENAL - PROCEDIMENTO ORDINÁRIO
Órgão julgador: 10ª VARA CRIMINAL DA COMARCA DE SALVADOR
Última distribuição : 19/08/2022
Valor da causa: R$ 0,00
Assuntos: Receptação, Roubo Majorado, Adulteração de Sinal Identificador de Veículo Automotor
Segredo de justiça? NÃO
Justiça gratuita? NÃO
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? NÃO
Partes Procurador/Terceiro vinculado
Ministério Público do Estado da Bahia (AUTORIDADE)
JEAN SOUZA DE JESUS (REU)
NATANAEL DE JESUS DOS SANTOS (REU) REBECCA LIMA SANTOS registrado(a) civilmente como
REBECCA LIMA SANTOS (ADVOGADO)
JOAO MARCELO MUNIZ DA SILVA (REU) REBECCA LIMA SANTOS registrado(a) civilmente como
REBECCA LIMA SANTOS (ADVOGADO)
BONJOUR COMERCIO DE COMBUSTIVEIS E
LUBRIFICANTES LTDA (TERCEIRO INTERESSADO)
CB/PM ALEXSANDRO JESUS (TESTEMUNHA)
SD/PM RANIERI SOUZA DE SANTANA (TESTEMUNHA)
SD/PM ANDRE DAVI NUNES (TESTEMUNHA)
CAIO SENA DAMASCENO (TESTEMUNHA)
CAELSON DE JESUS SANTOS (TESTEMUNHA)
MATEUS DOS SANTOS AVELINO (TESTEMUNHA)
JULIO CESAR DAMASCENO DOS SANTOS (TESTEMUNHA)
JONAS BASTOS DE BRITO (TESTEMUNHA)
VALDOMIRO CONCEICAO SANTOS FILHO (TESTEMUNHA)
ALEXSANDRA COSTA LEAO (TESTEMUNHA)
FRANCISCO BORGES DE SOUZA NETO (TESTEMUNHA)
AIALA KASSIA DA CRUZ SANTANA (TESTEMUNHA)
DANILO DE JESUS SANTOS (TESTEMUNHA)
JOSE RAIMUNDO SANTOS JUNIOR (TESTEMUNHA)
Documentos
Id. Data da Documento Tipo
Assinatura
43129 15/02/2024 20:06 _ ALEGAÇÕES FINAIS_MINISTÉRIO PÚBLICO Petição
4644
10ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA CRIMINAL – 2º PROMOTOR

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUÍZ DE DIREITO DA 10ª VARA


CRIMINAL DA COMARCA DE SALVADOR/BA

Autos n. 8124665-65.2022.8.05.0001
Assunto: Roubo Majorado
Autor: Ministério Público do Estado da Bahia
Réus: Jean Souza de Jesus e outro.

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DA BAHIA, por intermédio do


Promotor de Justiça signatário, com atribuições nesta comarca, nos autos da AÇÃO
PENAL em epígrafe, proposta contra JEAN SOUZA DE JESUS, NATANAEL DE
JESUS DOS SANTOS e JOAO MARCELO MUNIZ DA SILVA, vem, à presença de
V. Exa., no prazo legal, oferecer ALEGAÇÕES FINAIS, nos termos seguintes:

Os réus acima qualificados foram denunciados como incursos nas penas do art.
157, § 2º, inciso II, do código Penal, tendo também Natanel de Jesus Santos, sido
denunciado como incurso nos arts. art. 180 e art. 311, na forma do art. 69, todos do
Código Penal, em razão de no dia 07 de junho de 2022, por volta das 21h40m, utilizando
um veículo CHEVROLET/ONIX, PLUS LT2, placa policial RFX2D44/MG, cor prata,
com restrição de furto/roubo e ostentando placa adulterada, mediante grave ameaça
exercida com o emprego de simulacro de arma de fogo, terem subtraído R$ 150,00 (cento
e cinquenta reais) de gasolina do posto de combustível Bonjour, localizado no Jardim das
Margaridas, nesta capital.

Consignou-se que os réus pararam o veículo para abastecer, ocasião que, ao


término do processo, o réu Jean, empunhando um simulacro de arma de fogo em direção
ao frentista Caio Damasceno, afirmou que não pagariam pela gasolina. Ocorre que, já de
posse do combustível, ao começarem a empreender fuga, foram surpreendidos por uma

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guarnição da polícia militar que passava no local, tendo sido feita a apreensão dos réus,
de posse da res furtivae.

Ao conferir as informações do carro, observou-se que o mesmo estava com a placa


clonada, sendo a original RCR4H11, que, em consulta, tratava-se de veículo roubado,
com licença da cidade de Camaçari/BA, com informação de que havia sido roubado em
25/02/2022, com registro de BO nº 0112534/2022, tendo Natanael pagado R$ 6.000,00
(seis mil reais) na sua aquisição.

A denúncia foi recebida em 22 de agosto de 2022 (ID Num. 225642734 - Pág. 1).

Os réus foram citados pessoalmente e apresentaram respostas à acusação (ID


381564845 - Pág. 1; 228800547 - Pág. 1 e 228800531 - Pág. 1).

Durante a audiência de instrução procedeu-se a oitiva da vítima, das testemunhas


de acusação, das testemunhas de defesa, e, por fim, ao interrogatório dos acusados.

Logo após, foi dado vista ao Ministério Público para apresentação de alegações
finais.

Eis, em apertada síntese, o relatório.

Preliminarmente, observa-se que o feito se encontra em ordem, sem nulidades


passíveis de reconhecimento, motivo por que se passa ao exame de mérito.

Vencida a fase instrutória, tem-se que as provas coligidas nos autos evidenciam a
responsabilidade dos Réus Jean Souza de Jesus, Natanael de Jesus dos Santos e João
Marcelo Muniz da Silva pelo crime de roubo majorado, sendo, assim, de rigor, as suas
condenações.

A materialidade dos delitos encontra-se devidamente consubstanciada através do


auto de exibição e apreensão (Num. 223418246 - Pág. 12), que evidencia que no momento
da prisão em flagrante os réus estavam de posse do carro com registro de furto/roubo, que
havia acabado de ser abastecido, bem assim do simulacro de arma de fogo, o que é

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confirmado pelos depoimentos colhidos na fase policial e ratificados em juízo.

Por sua vez, a autoria também restou claramente demonstrada nos autos, pelos
depoimentos colhidos, pela prisão em flagrante logo após o abastecimento, em posse do
simulacro utilizado para constranger a vítima e do veículo com restrição de furto/roubo e
com sinais de adulteração, que armazenava a gasolina roubada.

A vítima, frentista do posto, Caio Sena Damasceno, quando ouvida em Juízo,


confirmou todos os fatos da denúncia. Vejamos, a propósito, trechos de seu depoimento
colhido na audiência por videoconferência:

“Na noite do ocorrido, por volta das nove horas da noite,


eu fui efetuar o abastecimento de um carro, tinha um mais
ou menos umas 4 pessoas junto comigo na pista, porém,
como eu era novato eu fui receber o carro pra poder
abastecer. Foi quando eu só avistei 2 pessoas do um do
banco do motorista e um do banco do carona, pediram
para ver o que eu vou colocar R$ 150,00 de gasolina
comum, eu ainda lembro da época. Coloquei o bico no
carro, enquanto eu fui cobrá-los com a maquininha de
cartão de crédito, um parceiro meu foi ficar no bico para
ficar de olho, caso derramasse algum tipo de combustível,
ele fechar e efetuar a segurança. Os dois rapazes ficaram
mexendo no celular falando que a forma de pagamento
seria em Pix, que a gente aceitava na época, que a gente
gera um QR Code na maquininha. Então aguardei eles
abrindo o aplicativo para poder fazer o pagamento por
Pix. Só que eu percebi que eles ficaram enrolando um
pouco, entreva no aplicativo saia, entrava em outro.
Pronto, o abastecimento terminou, a bomba parou de
contar, foi quando o meu parceiro fechou o tanque e o que
estava no banco do carona apontou uma arma para mim,
e pediu que eu não corresse. Eu fiquei parado, que eu
fiquei em choque com o que tinha acontecido, foi quando

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meu parceiro viu que o que estava acontecendo pelo


retrovisor e ele correu para trás do carro. Foi quando o
que estava com a arma apontada para mim olhou para trás
para tentar saber onde ele (meu parceiro) tinha ido. Foi
nessa hora que eu corri para fora do posto e o outro rapaz
também correu. Aí estavam passando, acho que duas ou
três viaturas da polícia na rua, fazendo rondas, e quando
eu corri, eles me avistaram correndo e o carro efetuando
uma possível fuga do posto. Aí as duas viaturas pararam
em frente ao carro e efetuaram a apreensão do carro. Aí
eu dei uma volta no posto, que tem uma rua logo atrás do
posto. Quando eu voltei, eu já tinha visto o carro parado,
e umas 3 viaturas já abordando os 3 três rapazes do carro.
[...] (O posto fica) no jardim das margaridas. Posto
bonjour. {...] (O veículo) era um modelo ônix sedan, na cor
prata. (Transcrição livre – Caio Sena Damasceno, ID
Num. 413054159 - Pág. 1)

A vítima informou que, mesmo à noite, conseguiu ver que o carona estava com
uma arma, do tipo pistola. Ademais, completou que quando ele correu, os réus começaram
a sair com o veículo, de modo que quando a polícia chegou, já estavam na saída, e não
mais perto da bomba de abastecimento. Informou que o que estava dirigindo era mais
gordinho, e que o que estava no banco do carona era mais magro, porém com a pele mais
escura.

O Policial Militar Ranieri Souza de Santana, em depoimento prestado em juízo


afirmou que:

“Eu era o motorista da viatura. [...] Estávamos em


deslocamento normal. Eu vi a correria, pessoas assustadas
e correndo para dentro de um vão do posto. Não sei
precisar o que era aquilo, se era uma sala, ou um
escritório... Sinalizei com o colega que tinha alguma coisa
estranha. Abordamos o veículo, no que abordamos o

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veículo, aí um dos funcionários, um rapaz, não me recordo


o nome dele, falou que tinha havido uma tentativa de
assalto ali. Aí sinalizou que o abastecimento não havia
sido pago, e, segundo ele, isso não foi presenciado por nós,
foi a fala dele, ele tinha visto uma arma, então foi feito a
abordagem, foi encontrado no veículo um simulacro de
arma de fogo, não uma arma de fogo, propriamente dita, e
eles foram conduzidos à delegacia. E na delegacia foi feita
uma averiguação no veículo, uma averiguação um pouco
mais minuciosa, foi quando foi descoberto que o veículo se
tratava de um veículo adulterado. Até então não tínhamos
ciência de nada disso. (Transcrição livre – SD/PM Ranieri
Souza de Santana, ID Num. 413054159 - Pág. 1)

O Policial André Davi Nunes, por sua vez, afirmou que:

Fui passando com viatura em ronda, (Inaudível) fizemos a


abordagem, encontramos uma das pessoas que estavam
envolvidas na situação, em posse de uma arma,
conduzimos para a delegacia. Chegando na delegacia, o
comandante da nossa guarnição fez uma verificação no
carro e constatou que o carro tinha uma irregularidade.
Me parece, na época, que era clonado. Não posso precisar
essa informação, mas tinha uma irregularidade no carro
também. Foi apresentado à autoridade competente. [...]
Foi à noite, mas o horário preciso eu não sei. [...] (O posto
fica) na área da Itinga, entre Itinga e Lauro de Freitas ali,
agora exatamente aonde não (sei informar), porque a
gente cobre a cidade de Salvador praticamente toda. Fazia
ronda nessa época em todos os locais. [...] Era um carro
hatch, era um carro de passeio. [...] Puxando a mente, eu
diria que era um carro prata, um carro claro, de prata a
cinza. A gente estava passando em ronda, os funcionários
começaram a correr. E assim, todos eles correndo... Dois

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ou três correndo, a gente achou estranho. [....] Eles


pararam para abastecer, na saída eles deram voz de
assalto. [...] Três homens (estavam dentro do veículo). [...]
Puxando pela memória, me parece que (a arma) estava no
assoalho do carro. [...] Era um simulacro. (Transcrição
livre – SD/PM André Davi Nunes, ID Num. 413054159 -
Pág. 1)

O CB/PM Alex Sandro Jesus Santos, com riqueza de detalhes, afirmou que:

Eu comandava a guarnição, a gente já estava na região de


Itinga, Jardim das Margaridas, porque, através da
CICOM, alguns indivíduos estavam cometendo assalto na
região, aí nós estávamos fazendo diligência. Ao passar
pelo posto, percebemos uma movimentação dos frentistas
correndo para loja de conveniência. E tinha um carro na
bomba. Essa movimentação nos chamou atenção. Pois
saíram correndo rápido, o que ensejou a gente fazer a
abordagem no veículo que estava no posto, onde se
encontravam três indivíduos dentro do veículo. Fizemos a
abordagem. Nos indivíduos, na busca pessoal não
encontramos nada. Quando fizemos a busca no carro,
embaixo do banco do carona, encontramos um simulacro
de arma de fogo, uma pistola. Ao conversar com o
frentista, eles falaram que os indivíduos pediram para
abastecer o carro, depois que abasteceu. O carona, quem
se encontrava no carona era Jean, mostrou a arma para o
frentista e anunciou o assalto. Nesse ínterim, a gente ia
passando, ele percebeu, o frentista saiu correndo. Aí a
gente fez a abordagem, pronto. [...] Era um ônix prata. [...]
Eram três rapazes. Natanael o motorista, Jean no carona,
ao lado do motorista, e João no banco de trás. [....] Tem
alguns sinais no veículo que diz se o carro é adulterado ou
não. Um dos sinais foi a placa do carro. A gente tem um
aplicativo que lê o QR code e diz a placa, qual é a da frente,

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onde foi feito, só que o QR code estava pinado, então não


tem condições de ler, já é um sinal de alteração. Fomos
para outros sinais, o cinto de segurança estava sem a
etiqueta, que todo o carro tem a etiqueta que identifica.
Fomos ao bloco do motor, olhamos o número do chassi do
bloco do motor, quando jogou no sistema dava a placa, que
não correspondia com a que estava no veículo. Dava a
placa de outro Ônix que tinha sido roubado, acho que dois
meses antes, em Camaçari, então aquele carro estava com
placa clonada. [...] Quando a gente mostrou esses sinais,
que estava de adulteração, aí ele (Natanael) falou que
comprou esse carro por R$ 6.000,00, que tinha
conhecimento que o carro era adulterado. [...] No carro
foram encontrados, se eu me recordo, tinha cartão e tinha
três celulares.(Transcrição livre – CB/PM Alex Sandro
Jesus Santos, ID Num. 428403721 - Pág. 1)

As testemunhas, Jonas Bastos de Brito (ID Num. 428403721 - Pág. 1), arrolada
pela defesa de João Marcelo; Aiala Kassia da Cruz Santana (ID Num. 428403721 - Pág.
1), arrolada pela defesa de Natanael; e Saiaca (ID Num. 428403721 - Pág. 1), arrolada
pela defesa de Jean Souza de Jesus; nada colaboraram com a elucidação dos fatos,
limitando-se a expor acerca da índole e vida pregresso dos réus.

O Réu Jean Souza de Jesus, quando interrogado pelo Juízo, declara:

Eu estava no banco do motorista. A gente estava indo em


uma festa, realmente, a gente passou pelo posto, abasteceu
o carro e pagou. Pagou a gasolina. Se eu não me lembro,
foi R$ 150,00 de gasolina que a gente botou, não me
recordo muito bem também não. A gente botou a gasolina
no carro e foi. A gente estava saindo já para poder ir para
festa, ficava do lado na Itinga. Aí a gente pegou e foi

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surpreendido pela polícia. [...] (Eu) não sabia. Não tinha


como saber que o carro era clonado, se era roubado... Não
sabia disso, não. A gente pegou o carro para poder sair.
Juntou eu, Natanael e Marcelinho. A gente ia na festa, na
festa não, em um reggae pegar as mulheres e sair para a
festa. Parou ali para abastecer o carro. (Transcrição livre
– Jean Souza de Jesus, ID Num. 428403721 - Pág. 1)

O Réu Jean informou que o veículo era um ônix, e que quem o conduzia era
Natanael. Ademais, afirmou que o abastecimento foi pago por Natanael, e que o mesmo
acredita que tenha sido no cartão. Complementou que os policiais nem lhes pegaram mais
dentro do posto. Que já estavam saindo

O réu Natanael de Jesus dos Santos, em seu interrogatório, narra:

Esse carro eu comprei pela OLX, um Ônix. Eu dei R$


6.000,00 de entrada e fiquei pagando R$ 628,00 das
parcelas. O carro estava a R$ 72.000,00. Eu dei R$
6.000,00 de entrada e fiquei pagando ainda por cima um
tempo. Lá na delegacia eu apresentei os comprovantes dos
pagamentos que eu fiz para a vítima e mandei a conversa,
também pela OLX.[...] Eu parei num posto que eu tenho
costume de abastecer o carro, as viaturas estavam
passando, rendeu a gente, abordou. Segundo ele, falou que
o frentista correu. Eu não vi. Só vi o frentista passar por
trás da bomba, que o frentista estava abastecendo. Em
momento nenhum nós arrastamos. Eu que estava no
volante, (não) arrastei o carro para sair sem pagar a
gasolina. (Paguei) R$ 150,00 de gasolina em dinheiro.
(Transcrição livre – Natanael de Jesus dos Santos, ID Num.
428403721 - Pág. 1)

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O réu Natanael informou que os cartões encontrados no carro eram seus, e que os
celulares eram um de cada. Informou não ter conhecimento do simulacro, tendo o mesmo
sido apresentado na delegacia. O réu, entretanto, a princípio afirmou que, saindo do posto,
iriam pra casa. No mais, negou ter adulterado qualquer sinal do veículo, bem como ter
conhecimento da procedência do carro, não sabendo precisar qual a placa do mesmo.

Por fim, o réu João Marcelo Muniz da Silva afirma que:

Natanael estava dirigindo, Jean no carona, eu estava no


banco do fundo. Aí, a gente passou nesse posto para
abastecer. Os policiais, realmente, eles falaram que
estavam fazendo ronda lá. Eles passaram pelo local,
abordaram o carro. Aí o frentista estava indo para o fundo
para abastecer o carro. Quando a gente acabou de
abastecer, Natanael fez o pagamento, os policiais
abordaram o carro, nos mandou deitar no chão, aí fizeram
isso. Levou a gente pra delegacia, e lá eles apresentaram
o simulacro. [...]A gente estava indo pra uma festa [...] A
gente tava dando uma volta, entendeu? Para beber, ali
estávamos dando uma volta mesmo. (Transcrição livre –
João Marcelo Muniz da Silva, ID Num. 428403721 - Pág.
1)

Conforme se vê, a prova da autoria dos crimes de roubo majorado por parte
dos réus é clara e inconteste, e, de igual modo, se confirma a autoria do crime de
receptação pelo denunciado Natanael de Jesus dos Santos, carecendo de provas,
entretanto, quanto ao crime de adulteração de sinal de veículo automotor.

A vítima narra, com riqueza de detalhes, toda a ação criminosa, desde a


chegada dos mesmos ao posto de gasolina, a atuação quanto à escolha do método de
pagamento, a subtração da gasolina, o anúncio de que não pagariam portando o simulacro
de arma de fogo, o início da fuga e a prisão em flagrante na posse da res furtiva e do
simulacro de arma de fogo.

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Ademais, a vítima afirma categoricamente que o réu Jean, que estava no banco do
carona, foi quem lhe apontou o simulacro, pedindo que não corresse, ocasião em que
informou que não pagaria a gasolina. Durante o flagrante, e na busca no interior do
veículo, os policiais encontraram o simulacro de arma de fogo no assoalho, embaixo do
banco do carona, onde estava o denunciado Jean, confirmando a versão da vítima.

Cumpre destacar que o crime de roubo se consumou, ante a inversão da posse


sobre a res furtiva, que passou da vítima para os acusados, uma vez que o carro foi
abastecido, e os denunciados já estavam em fuga quando foram flagrados e presos.

Dessa maneira, provada a autoria do crime de roubo, em concurso de agentes, a


condenação de impõe.

De igual maneira restou comprovada, de forma clara, a autoria do crime de


receptação imputada ao denunciado Natanel de Jesus Santos. Conforme apurado, o
acusado conduzia o veículo com restrição de roubo/furto registado no BO nº
0112534/2022, ostentando placa policial de outro veículo, sendo que o réu portava, no
momento da prisão, certificado de registro de automóvel diverso.

O réu Natanel confessa a posse e a condução de veículo no momento da prisão,


negando, todavia, ter conhecimento de sua origem ilícita, alegando haver adquirido
através de um aplicativo de vendas on line. Ocorre que o réu não apresenta qualquer prova
que ampare ou legitime a posse a veículo.

Destaca-se que é entendimento pacífico na Jurisprudência do STJ, no


sentido de que, apreendido o bem na posse do agente, como in casu, cabe-lhe provar sua
origem lícita. Neste sentido, colacionam-se o seguinte precedente:

PENAL E PROCESSUAL PENAL. AGRAVO REGIMENTAL EM HABEAS CORPUS.


RECEPTAÇÃO DOLOSA. ART. 180, CAPUT, DO CÓDIGO PENAL. PEDIDO DE
DESCLASSIFICAÇÃO PARA A MODALIDADE CULPOSA. ART. 180, § 3.º, DO
CÓDIGO PENAL. BEM APREENDIDO NA POSSE DO AGENTE. ÔNUS DA DEFESA
DE APRESENTAR PROVA DA ORIGEM LÍCITA DO BEM OU DA CONDUTA
CULPOSA DO AGENTE. ART. 156, DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL. TRIBUNAL

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LOCAL JULGOU ESTAR DEMONSTRADO O DOLO. REEXAME FÁTICO-


PROBATÓRIO INVIÁVEL. REGIME PRISIONAL INICIAL. MODALIDADE FECHADA.
MOTIVAÇÃO IDÔNEA. MAUS ANTECEDENTES E REINCIDÊNCIA. ART. 33, § § 2.º
E 3.º, DO CÓDIGO PENAL. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO.
- Após a análise do conjunto fático-probatório trazido aos autos, as
instâncias ordinárias concluíram pela autoria do delito, inclusive, com a
indicação da existência de dolo na conduta.
- Para se proceder à desclassificação do delito para a conduta prevista na
forma culposa, seria necessário reformar o quadro fático-probatório firmado na
origem, tarefa inviável no habeas corpus.
- A conclusão das instâncias ordinárias está em sintonia com a
jurisprudência consolidada desta Corte, segundo a qual, quanto ao delito de
receptação, uma vez apreendido o bem em poder do agente, cabe à defesa a
apresentação de prova acerca da origem lícita do bem, ou de sua conduta
culposa, nos termos do disposto no art. 156, do Código de Processo Penal.
- O agravante tem maus antecedentes e é reincidente, de maneira que, a
despeito de a sua pena definitiva não ultrapassar o patamar de 4 anos de
reclusão, impõe-se a manutenção do regime prisional inicial fechado, nos
termos do art. 33, § § 2.º e 3.º, do Código Penal.
- Agravo regimental desprovido. (AgRg no HC n. 727.955/SP, relator
Ministro Reynaldo Soares da Fonseca, Quinta Turma, julgado em 29/3/2022,
DJe de 31/3/2022.).

No que se refere ao crime de adulteração de sinais identificadores do veículo,


não há prova de sua autoria, razão pela qual impõe-se a absolvição.

Destaca-se, ademais, que o réu JOAO MARCELO MUNIZ DA SILVA é


reincidente, eis que conta com condenação com trânsito em julgado em data anterior ao
cometimento deste novo crime, conforme comprovam os documentos que seguem
anexos, extraídos do SEUU e do E-saj, razão pela qual deve incidir na pena a agravante
do art. 61, I, do CP.

Posto isto, requer o Ministério Público que a ação seja julgada procedente em
parte, para condenar os denunciados Jean Souza de Jesus e João Marcelo Muniz da
Silva nas penas dos art. 157, § 2º, inciso II, do Código Penal, e Natanael de Jesus dos
Santos como incurso nas penas dos arts. 157, § 2º, inciso II, e 180, “caput”, em concurso

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https://pje.tjba.jus.br/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=24021520064889100000417320085
Número do documento: 24021520064889100000417320085
10ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA CRIMINAL – 2º PROMOTOR

material, nos termos do art. 69, todos do CP, absolvendo-o da imputação pelo crime
tipificado no art. 311 do CP, por ausência de prova de sua autoria.

Salvador, 15 de fevereiro de 2024.

José Vicente Santos Lima.


Promotor de Justiça

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