Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
ADVOCACIA
Processo nº 0265193-38.2021.8.19.0001
1. DA TEMPESTIVIDADE.
2. De acordo com o que regula o artigo 1.026 do Código de Processo Civil, “os
embargos de declaração não possuem efeito suspensivo e interrompem o prazo para a
interposição de recurso”.
ADVOCACIA
ADVOCACIA
10. Por estas razões, o i. promotor de justiça concluiu que Carlos Noval
“contribuiu para a produção dos resultados ilícitos ao não se certificar sobre a possibilidade
de utilização dos módulos habitacionais – como estruturados – como dormitório para os
adolescentes. Além de não agir com dever jurídico de cuidado, a fim de determinar a adaptação
das instalações para receber os atletas da divisão de base, SIMPLESMENTE DIRIGINDO
SUAS EXIGÊNCIAS E SOLICITAÇÕES DIRETAMENTE AO DIRETOR DE MEIOS
DA ÉPOCA, PAULO ROBERTO DUTRA”. (grifo nosso)
11. Em continuidade, o Ministério Público aduz que “as instalações antes utilizadas
ADVOCACIA
pelos atletas profissionais ficavam justamente onde se iniciariam as obras do CT 2, por tal
razão, a NHJ precisou não só trocar os módulos, devido ao maior número de atletas, bem como
a destinação, pois seriam moradias, bem como mudá-los de lugar, procedendo à instalação no
lugar onde estavam por ocasião do incêndio, anteriormente utilizado como estacionamento”
e, encerra concluindo, mais uma vez, que o embargante “tinha plena ciência da situação
de total clandestinidade administrativa das estruturas modulares, que nunca contaram, na sua
gestão ou nas demais, com as devidasautorizações e licenças dos órgãos públicos”.
12. Por fim, o Parquet buscou sintetizar quais foram as contribuições causais de
cada denunciado para a ocorrência do resultado, destacando em relação ao
embargante:
13. No dia 19/01/2021, às fls. 3858, foi recebida a peça inaugural, tendo o
embargante apresentado sua resposta à acusação às fls. 4776-4799. Após analisar as
peças defensivas, o Juízo da 36ª Vara Criminal, às fls. 4837-4888, rejeitou a denúncia
em relação a Carlos Noval, ao argumento de que:
ADVOCACIA
(...)
as provas produzidas ao longo do Inquérito Policial dão conta de maneira
incontroversa que se CARLOS, de fato, ocupou cargo dentro da estrutura
organizacional do Clube diretamente vinculado ao futebol de base e, portanto,
ao CT2, desde março de2018 já não o fazia, portanto onze meses antes
do incêndio nãomais atuava como diretor do futebol de base, pelo que ainda
que pudesse, em algum momento, ter incrementado o risco que veio afinal a
se concretizar (e não parece ser o caso já que, torno a repetir, a mera opção e
implementação dos módulos habitacionaisnão gerou o incremento ilegal do
risco), não só não mais dispunhade meios para impedir o resultado como, em
onze meses, o mesmopoderia e deveria ter sido evitado por pessoas outras que
assumiram o futebol de base lhe sucedendo, estas sim com poderesde mando e
ingerência direta sobre o CT2 não só desde antes comoaté o efetivo momento
do evento letal.”
17. Segundo Luigi Ferrajoli, a acusação “deve ser completa, é dizer, integrada pela
informação de todos os indícios que a justificam, de forma que o imputado tenha a
ADVOCACIA
possibilidade de refutá-los”1.
21. No caso, como bem assinalado pela decisão que rejeitou a exordial, não
restou minimamente comprovado que a conduta atribuída ao embargante teria
incrementado o risco para a produção do resultado.
1 Luigi Ferrajoli. Derecho y razón. Teoria Del garantismo penal. 5. ed. Madrid: Trotta, 2001, p. 607 – tradução
livre
2 Maria Thereza de Assis Moura. Justa causa para a ação penal. Doutrina e Jurisprudência. SP: RT, 2001, p. 244
ADVOCACIA
ADVOCACIA
ADVOCACIA
26. Note-se que, para sustentar a inobservância de dever de cuidado por parte
de Carlos Noval, o acórdão embargado faz alusão ao e-mail de fls. 4104-4117, onde
dois dirigentes do clube dão “conta da precariedade das instalações elétricas do centro de
treinamento dos atletas de base e indica qie problema já era conhecido da gestão anterior”.
28. Aém disso, tem-se que o remetente e o destinatário do e-mail não fazem
parte da gerência do futebol de base. No caso, a correspondência foi enviada pelo Sr.
Luis Humberto Costa Tavares e recebida pelo Sr. Marcelo Helman, que,
respectivamente, ocupavam os cargos de Gerente Administrativo e Diretor
Administrativo do Centro de Treinamento.
ADVOCACIA
administrativas.
32. Por outro lado, denota-se que o Ministério Público, no intuito de mitigar o
sofrimento e a repercussão social gerada pelo trágico acidente, nitidamente efetuou
uma regressão infinita em busca do que causou o incêndio, vindo forçosamente a
responsabilizar uma série de pessoas por um resultado em que não tiveram
participação penal alguma.
33. O laudo pericial – prova de suma importância em casos como este - de fls.
1015, conclui que “o incêndio atingiuintegralmente o módulo habitacional, utilizado pelos
jogadores da base do Flamengo, gerando uma queima generalizada e carbonização de mobílias,
vestes, artefatos metálicos e elementos da estrutura, tendo sido determinado por um
fenômeno termo-elétrico no interior do aparelho de ar condicionado do quarto 06,
acarretando na morte dos 10 (dez) vítimas, que se encontravam carbonizadas, junto ao piso
dos quartos 02, 03, 05 e hall deentrada”. Partindo deste ponto, percebe-se que a denúncia
determinou como uma das causas do incêndio a “inobservância do dever de manutenção
adequada dasestruturas elétricas que forneciam energia ao aludido contêiner.”
ADVOCACIA
36. Deve-se frisar que Carlos Noval tinha plena possibilidade de confiar nas
atividades desempenhadas por aqueles que integravam os outros departamentos e
pelos demais denunciados que foram contratados, não por ele, para a execução do
serviço, dada a sua experiência, qualificação e capacidade, não sendo possível
atribuir qualquer incremento de risco ao embargante na medida em que a demanda
passou pelo crivo dos referidos engenheiros, que certamente detinham o dever e
expertise de atuar em respeito às normas de engenharia e segurança.
37. Com toda a venia possível, o “erro crasso” apontado pelo Ministério Público
ocorreu no momento em que denunciou o embargante, que sequer foi indiciado
pela autoridade policial, ante a inexistência elementos, ainda que indiciários,
capazes de demonstrar que a conduta ora atribuída teria incrementado risco ao
resultado, conforme bem salientou a e. Desembargadora Mônica tolledo.
38. Somado a isso, o Juízo a quo, com muito brilhantismo, assinalou na decisão
que rejeitou a exordial que o embargante, que deixou o cargo de diretor de futebol
de base 11 meses antes do incêndio sob análise, não detinha meios para impedir o
resultado, que “poderia e deveria ter sido evitado por pessoas outras que assumiram o futebol
de base lhe sucedendo, estas sim com poderes de mando e ingerência direta sobre o CT2 não só
desde antes como até o efetivo momento do evento letal”, não havendo que se falar em
agente garantidor, deixando a ele a sina de ser um eterno responsável pelo time de
base do futebol e , ainda, estendendo-lhe funções e responsabilidades que nunca lhe
foram confiadas.
ADVOCACIA
42. Ademais, entende-se, data venia, que o decurso de doze meses caracteriza
sim período suficientemente capaz de dissipar qualquer dever ou possibilidade de
agir do embargante, não podendo a denúncia ser recebida ao argumento de que “a
importância da conduta dos recorridos ainda permanece”, posto que, nos crimes culposos
o dever de cuidado se impõe a quem tem o poder de mudar, o que de fato o
embargante nunca possuia, seja pela função que ocupava, seja pela sua substituição
de funcão.
43. Sabe-se que o dever de agir apontado nas alíneas do §2.º do art. 13 do
Código Penal, assume o status de dever específico imposto apenas ao garantidor,
diferentemente daquele outro dever nascido, de forma imediata, da norma
preceptiva, contida na Parte Especial do Código, que obriga a todos a agir,
indistintamente, para evitar ou tentar evitar que o perigo que ronda o bemjurídico
tutelado pela norma efetive-se, transformando-se em dano. Não se enxerga no
referido dispositivo qualquer situação que impõe ao embargante a posição de
garantidor da evitabilidade do resultado trágico em tela.
44. Segundo o escólio de Paz Aguado, “nem toda omissão é jurídico- penalmente
ADVOCACIA
relevante, senão a omissão de uma ação ordenada e em tal sentido esperada pelo ordenamento
jurídico penal. Assim, pois, a essência da omissão não radica na simples inatividade, senão
em um ´não fazer` a ação esperada”5.
46. Segundo a lição de Juarez Tavares, “diz-se, na verdade, que os crimes omissivos
impróprios são crimes de omissão qualificada porque os sujeitos devem possuir uma qualidade
específica, que não é inerente e nem existe nas pessoas em geral. O sujeitodeve ter com a vítima
uma vinculação de tal ordem, para a proteção de seus bens jurídicos, que o situe na qualidade
de garantidor desses bens jurídicos.”6
47. Oportuno lembrar que o Código Penal adotou o critério das fontes formais
do dever de garantidor, deixando de lado a teoria das funções, preconizadas por
Armin Kaufmann, que defendia a tese de que seria o garantidor o agente que tivesse
uma relação estrita com a vítima (leia-se, titular do bem jurídico violado), mesmo que
não existisse qualquer obrigação legal entre eles. Ao que parece, o Parquet se baseou
nesta desarrimada teoria para atribuir ao embargante a qualidade de garantidor.
48. Vale ressaltar que a ocupação do cargo de Diretor de Futebol de Base não
transforma, automaticamente, o embargante em agente garantidor. Sem a existência
de previsão estatutária de que lhe caberia fiscalizar as atividades desempenhadas
pelas outras vice-presidências, bem como as estruturas do centro de treinamento,
não é cabível a presunção de que ele teria o dever de agir, requisito indispensável
para configuração do garantidor.
49. Além disso, é imperioso destacar que, conforme bem observado pelo Juízo
a quo, o embargante foi diretor de futebol de base, de junho de 2010 a março de 2018,
quando foi alçado à função de Diretor de Futebol Profissional, sendo certo que na
data dos fatos, 8 de fevereiro de 2019, já havia se passado cerca de 11 meses desde
que Carlos Noval não ocupava qualquer função relativa ao futebol de base.
ADVOCACIA
54. Não há qualquer motivo legal para reforma de decisão do Juízo de piso,
que analisou todo o contexto probatório e a participação individualizada de cada
denunciado, chegando a correta e fundamentada decisão de que não há elementos
mínimos, como qualquer base legal, que autorize a persecução penal do embargante.
55. Por estas razões é que se pode concluir pela inexistência de inobservância
de dever de cuidado por parte do embargante, restando ausente qualquer lastro
probatório acerca do elemento subjetivo do tipo – dolo ou culpa -, não tendo o Juízo a
quo e a e. Desembargadora Mônica Tolledo outra opção senão afirmar que
ADVOCACIA
58. Não é por menos que a Constituição da República, ao tratar dos direitose
garantias fundamentais do indivíduo, estabelece em seu art. 5°, LV, que “aos
litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o
contraditório e a ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes”.
59. O estatuto processual penal, no artigo 41, em respeito aos ditames acima
transcritos, não deixa margem a dúvidas ao impor que o fato criminoso seja exposto
com todas as suas circunstâncias.
ADVOCACIA
62. De tal maneira, resta claro que o ordenamento jurídico busca evitar que
surjam acusações vagas, confusas, imprecisas, em completa dissonância com os
princípios de garantia dirigidos à defesa do indivíduo.
63. Além disso, importante salientar que a doutrina7 afirma que o réu se
defende dos fatos narrados na exordial acusatória e não da capitulação jurídica
empregada. Esta consagrada posição, que no processo penal já pode ser considerada
como um dogma, traduz a predileção do Direito brasileiro pelos fatos, pela busca da
verdade, não tendo muita importância, ao menos no primeiro momento, a forma
jurídica reconhecida momentaneamente.
64. Por outro lado, não pode o réu, diante da complexidade e todos os ônus
sociais e emocionais que permeiam o processo penal, ficar refém de uma acusação
absolutamente lacônica, da qual não possa efetivamente se defender.
65. A imputação dos fatos, portanto, deve ser cristalina e objetiva, a ponto de a
defesa poder, fática e juridicamente, oferecer uma resistência àquela pretensão
acusatória.
7 Sobre o tema, na seara do direito processual penal militar, temos Enio Luiz Rossetto: do processo e do
julgamento na justiça militar em primeiro grau: uma abordagem crítica. In: Direito Penal Militar e
Processual Penal Militar. São Paulo, 2004. Disponível em
http://www.mpsp.mp.br/portal/page/portal/Escola_Superior/Biblioteca/Cadernos_Tematicos/direito
_penal_militar_e_processual_militar_penal.pdf. Acessado em 14 de setembro de 2019.
ADVOCACIA
68. Deste modo, quando a descrição do fato for perfunctória, isto é, sem a
devida profundidade – como no presente caso – à defesa carecerá possibilidadede
rebatê-lo, restando prejudicada desde o início
69. Sobre o tema, ensina Guilherme Nucci que, “embora a peça acusatória deva ser
concisa, todos os fatos devem ser bem descritos, em detalhes, sob pena de cerceamento de
defesa”9.
70. Com a devida venia, a denúncia, além de ser contraditória, não expõe em
quais elementos se baseou para imputar ao embargante a posição de garantidor e
ainda lhe atribuir uma inobservância de dever de cuidado. Ao que parece a acusação
se valeu de denúncia alternativa para atribuir a prática do crime de incêndio culposo
a uma pluralidade de réus, sem, contudo, pormenorizar de forma coerente a conduta
de cada um.
71. Não há uma linha sequer na inicial acusatória destinada a demonstrar essa
alegação. Simplesmente presume-se que Carlos Noval seria responsável pelo delito
supostamente praticado e de natureza culposa, em razão de ocupar, até março de
2018, o cargo de Diretor de Futebol de Base, sendo que no dia do fatojá não ocupava
mais essa função há cerca de um ano.
73. Porém, a narrativa dos fatos não se coaduna com os depoimentos prestados
em sede policial, sendo certo que o autor da contraditória denúncia não se atentou –
ou não deu importância – à ordem cronológica referente às mudanças de local onde
as vítimas ficavam hospedadas.
ADVOCACIA
75. Com efeito, cabe ao órgão acusatório narrar devidamente os fatos, sob pena
da denúncia restar manifestamente inepta, como no caso, onde descumprimento do
artigo 41 do Código de Processo Penal é patente, a ponto da e. Relatora assinalar que
a questão não está suficientemente esclarecida.
77. Em que pese o voto lavrado pela e. Relatora, o fato narrado na denúncia
não se coaduna com a verdade e, muito menos, com os depoimentos prestados em
sede policial, cabendo, mais uma vez, à defesa corrigir a confusa ordem de tempo e
lugar trazida na peça inicial - embora fosse de inteira responsabilidade da acusação
descrever de forma clara os fatos e sua responsabilização.
79. De fato, até o ano de 2016, época em que o CT 1 estava sendo construído,os
referidos atletas ficavam hospedados na aludida “casa antiga”, enquanto os
profissionais utilizavam módulos, produzidos pela empresa NOVOHORIZONTE
JACAREPAGUÁ IMPORTAÇÃO E EXPORTAÇÃO LTDA - NHJ, como aparato de
ADVOCACIA
descanso.
80. Neste ponto, é importante frisar que o termo “módulo utilizado como
aparato de descanso” nos remete a uma estrutura simples, utilizada unicamentepara
o descanso dos profissionais, o que não é verdade. Estes módulos eram compostos
por uma estrutura de primeira linha e eram o local onde sesituavam os setores de
imprensa, administrativo, cozinha, academia, dentre outros. Ou seja, não se tratava
de um local destinado apenas ao descanso dos profissionais
(https://www.youtube.com/watch?v=JQF3eM46R6s ).
83. Conforme fls. 1.373 e 3.137, o Clube de Regatas do Flamengo apresenta uma
estrutura organizacional avançada, passível de ser comparada à de grandes
empresas. Pode-se constatar que a instituição é completamente ramificada, sendo
evidente as delegações de funções dentro de cada “pasta”, onde cada uma é
composta por seu vice-presidente, diretor adjunto, gerente, etc.
84. Desse modo, para que fosse tomada qualquer decisão dentro do clube, o
assunto deveria ser submetido ao Conselho Diretor, que era composto pelo
presidente e os vice-presidentes, os quais possuíam poder estatutário para definir o
rumo a ser tomado (fls. 4430).
10O Clube de Regatas do Flamengo possui uma estrutura de gestão completamente ramificada, composta
pelo presidente, CEO, vice presidentes, diretores, gerentes e funcionários, conforme reza o estatuto da
entidade, sendo que cada vice presidente – e sua pasta- tinha a sua atribuição específica, como futebol,
marketing, finança, etc.
ADVOCACIA
87. No caso, em 2017 houve uma segunda mudança de local onde os atletasda
base ficariam hospedados, desta vez para o local onde infelizmente houve oincêndio.
De acordo com a própria denúncia, “as instalações antes utilizadas pelos atletas
profissionais ficavam JUSTAMENTE ONDE SE INICIARIAM AS OBRAS DO CT 2,
POR TAL RAZÃO, a NHJ precisou não só trocar os módulos, devido ao maior número de
atletas, bem como a destinação, pois seriam moradias, bem como mudá-los de lugar, procedendo
à instalação no lugar onde estavam por ocasião do incêndio, anteriormente utilizado como
estacionamento”.
88. Nesse sentido, conclui-se que essa segunda mudança foi realizada em
decorrência das obras que se iniciavam para criação do CT 2(conforme narra a
própria denúncia), ou seja, não foi solicitada, sugerida ou recomendada pelo
embargante, mas sim, como sempre foi, pelo setor ao qual era responsável a
organização/administração/obras do centro de treinamento. Ressalte-se que o
Carlos Noval atuava única e exclusivamente com o FUTEBOL de base.
ADVOCACIA
92. Ademais, saliente-se que a segunda mudança foi avaliada pela NHJ, que
informou que não seria cabível uma mera transformação ou adaptação dos
“contêineres utilizados como aparato de descanso”, “sendo necessária a troca dos
contêineres, o que foi realizado, tendo a sociedade empresária retirado 46 (quarenta e seis)
módulos e reinstalado novos 24 (vinte e quatro) módulos habitacionais, destinados a
alojamento dos atletas da divisão de base”11.
93. Deste modo, não fica difícil perceber uma clara confusão cronológica, que
compromete a imputação da suposta autoria dos fatos em análise, especialmente em
relação ao embargante, que em nada contribuiu ou participou com a segunda
mudança do alojamento da equipe de base.
11 Fls. 32
12 Fls. 30
13 Fls. 34
ADVOCACIA
97. Existem dois pontos que merecem destaque em relação a essa contradição.
Primeiramente, deve-se frisar, novamente, a impossibilidade de adequação de
Carlos Noval como agente garantidor, não havendo que se falar queele poderia ou
deveria se certificar sobre matéria da qual não detinha capacidade técnica, até
porque há 11 meses já não ocupava o cargo relativo aosatletas de base.
99. Por este motivo é que o clube possui diversos departamentos, cada um
composto por profissionais formados e capacitados para o desempenho de uma
função específica, e, ainda, quando necessário contratou empresas ou pessoas com
conhecimento técnico e legal necessários para suas demandas.
100. Como a própria denúncia narra, às fls. 33, dessa vez com acerto, “o
fluxograma das instalações seguiam a seguinte dinâmica: o futebol demandava a necessidade,
por exemplo, de mais quartos, mais alojamentos, essa demanda era direcionada à Diretoria
de Administração e esta passava para Paulo Dutra, na Diretoriade Meios, que repassava a
necessidade para a Diretoria de Patrimônio, que viabilizava junto à NHJ as instalações
solicitadas pelo DENUNCIADO MARCELO MAIA DE SÁ ou Paulo Dutra. O Diretor de
Meios era Paulo Dutra, que ficou até o ano de 2017, sendo substituído p elo DENUNCIADO
MARCIO GAROTTI.”
15 2. O simples fato de o réu figurar como um dos diretores de uma pessoa jurídica que, na condição de
participante de processo licitatório, teria, em tese, fraudado a licitação, não autoriza a instauração de
processo criminal, se não restar comprovado o vínculo entre a conduta e o agente, sob pena de se
reconhecer impropriamente a responsabilidade penal objetiva.
16 Este Corte Superior tem reiteradamente decidido ser inepta a denúncia que, mesmo em crimes societários
e de autoria coletiva ,atribui responsabilidade penal à pessoa física, levando em consideração apenas a
ADVOCACIA
106. Por fim, saliente-se que a própria denúncia, com a sua correta
contextualização fática, narra que:
5. DO PEDIDO.
qualidade dela dentro da empresa, deixando de demonstrar o vínculo desta com a conduta delituosa, por
configurar, além de ofensa à ampla defesa, ao contraditório e ao devido processo legal, responsabilidade
penal objetiva, repudiada pelo ordenamento jurídico pátrio.5. No caso dos autos, observa-se que não se
demonstrou de que forma os recorrentes concorreram para o fato delituoso imputado a eles na acusação,
tendo sido atribuída a conduta criminosa exclusivamente pelo fato de eles serem sócios-gerentes da
empresa.
ADVOCACIA