APx2 - Literatura Brasileira 2 - Maria Eduarda Cordeiro Paganini - LET - NFR
Questão 1 Do meu ponto de vista, a utilização do adjetivo “sujo” no título do poema de Ferreira Gullar possui mais de uma significação. A primeira e, para mim, mais óbvia, tem relação com termos utilizados no texto. Vocabulários como “cu” e “bucetinha” são termos considerados “sujos” socialmente e, por isso, sujariam o texto. Entretanto, seu conteúdo extremamente carregado também pode ser a causa pela qual ele nomeia o poema como sujo. O poema não fala de coisas bonitas, mas é uma mensagem sobre o momento delicado pelo qual passa o autor. Nele, Ferreira Gullar refere-se à Ditadura que se passa no Brasil como uma noite escura, além de utilizar termos violentos e predominantemente palavras formadas pelas vogais “o” e “u”, o que aumenta o grau de nebulosidade e escuridão do poema. O uso de termos violentos ou que carregam um sentido negativo como “abismo de cheiros”, “abutre”, “aranha”, “arrastar”, “bufa”, “conspiração”, “canivete”, “destripá-la”, “devorála”, “gangsters”, “ordem”, “templo”, “treva”, “precipício”, “sol duro dos trópicos”, “azedo de lama”, “gente humilhada/ comendo pouco” (CEDERJ, 2012). O “Poema Sujo” não é sobre um futuro brilhante, mas sobre um passado do qual sente-se muita falta. Nele, o autor retoma suas memórias de infância e demonstra a falta que sente de seu passado, ao encontrar-se exilado em uma terra que não reconhece como sua, sofrendo de distância e de saudades. Por isso, o poema não é otimista e alguns podem considerar que não seja bonito, também. Questão 2
Questão 2
Guimarães Rosa escreve “A menina de lá” buscando desviar as palavras
de seus significados originais, precisando, por vezes, recriá-la. O autor mesmo diz que busca “limpar as palavras de seu significado original” e essa tarefa não parece nem um pouco fácil. Ao utilizar novas palavras ou as mesmas palavras em usos inéditos, o autor faz surgir uma linguagem em movimento, nunca estática. Isto muito se assemelha com as ideias de Deleuze sobre a sintaxe, por ela estar em constante devir (movimento). As palavras nunca são as mesmas e estão sempre em constante mudança, mas há momentos em que as palavras faltam e por vezes tentamos criar algo que consiga conter aquilo que se pretende dizer. A menina da estória, pura e, de certa maneira, ignorante de vida, dentro de seu mundo consegue criar palavras que contenham o significado que ela quer e isso mostra a genialidade do autor, ao conseguir contemplar um modo de vida infantil e traduzi-lo em palavras. Este movimento pode ser tomado como um desequilíbrio constante, mas, também, num movimento natural e necessário. Questão 4 Questão 3
Deleuze caracteriza o ato de escrever como um “eterno devir”, ou seja,
um movimento constante. Seu pensamento se aproxima muito da ideia de Heráclito de que um rio nunca é o mesmo rio que já se viu, posto que tudo está em movimento constante. Desta maneira, aquilo que se escreve nunca é exatamente aquilo que se escreve, pois, com o tempo as palavras podem tomar novos significados. Desta maneira, a literatura, como um todo, encontra- se em um movimento constante, uma vez que o livro que se leu há um século não é o mesmo livro que se lê hoje. Isso se dá devido às múltiplas possibilidades de interpretação que se têm de uma mesma palavra, levando-se em conta todo um contexto sócio-histórico e de vivência do leitor. Além disso, cada texto atravessa seu receptor de maneira diferente, então, num mesmo momento, um texto pode ser mais de um, o que comprova esse eterno movimento (devir) Deleuziano.