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Mariana Daniel, 105187, PA4

É muito comum recorreremos a operações lógicas para resolver problemas ou


situações no dia a dia, seja de forma consciente ou inconsciente. Retiramos conclusões
com base nas informações e evidências que já possuímos, e ganhamos conhecimento
novo através das operações lógicas que desenvolvemos. Este processo denomina-se
raciocínio.

Contudo, não raciocinamos sempre da mesma forma, sofremos influência dos


recursos que estão disponíveis no momento. Se partimos de uma afirmação geral para
uma conclusão lógica estamos a raciocinar dedutivamente, por outro lado, se partimos
de um conjunto limitado de observações, inferimos de modo a formular uma conclusão
que provavelmente explica os factos iniciais.

No contexto do raciocínio dedutivo, em particular do raciocínio condicional,


destaca-se um fenómeno que tem vindo a ser estudado – viés da confirmação. Segundo
Rozyman et al. (2003) é um viés de cognição que privilegia a perspetiva ou o
conhecimento do próprio em detrimento da dos restantes. Este é um fenómeno
omnipresente, pois os seres humanos têm uma tendência natural para ler, procurar e
considerar informação que apoie as suas crenças. Não procuram ativamente evidências
que contradizem as suas opiniões, contudo, mesmo que se deparem com factos que
refutem as suas perspetivas, o comportamento mantém-se (Nickerson, 1998). Esta
atitude levanta vários problemas, uma vez que não consideram a parcialidade dos seus
pensamentos, ou seja, o seu conhecimento fica incompleto, parcial e egocêntrico.
Qualquer ideia que queiram expor a outrem fazem-no com base em pesquisas que a
comprovem, e não em informação que desconfirme o conhecimento armazenado.

Observa-se uma tendência natural do ser humano para a confirmação,


particularmente evidenciada na Tarefa da Seleção de Cartões de Wason – 4 cartões com
um número de um lado e uma letra do outro foram apresentados a um conjunto de
participantes (S, 3, A, 2). Foi-lhes questionado qual o cartão/cartões que teriam de virar
para testar a hipótese “se de um lado é uma consoante, do outro é um número par.” O
primeiro instinto foi confirmar a regra, selecionando o cartão com a consoante, contudo
se selecionassem o cartão com o número ímpar, mais rapidamente se comprovaria que a
hipótese era falsa. Esta tarefa comprovou o fenómeno do viés da confirmação.

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Após alguma reflexão, conclui que apresento um viés da confirmação, no que
concerne ao vegetarianismo/veganismo. Quando estava no processo de transição de
dieta, procurei muitos artigos, vi vários vídeos e segui nas redes sociais muitas pessoas
que já o eram para confirmar e aumentar o meu conhecimento prévio sobre o tema,
garantindo que estava a adotar a posição mais correta. Mesmo que encontrasse alguém,
na internet ou no meu dia a dia, que me tentasse demover desta decisão, com
factos/evidências de que uma dieta omnívora era o mais acertado, nunca deixava que
isso influenciasse as minhas crenças contrárias.

Ao explorar este fenómeno encontrei um artigo que abordava a relação entre o


viés da confirmação e os “double-standards” – “Confirmation Bias and the Sexual
Double Standard” (Marks & Fraley, 2006) –, o que suscitou a minha curiosidade, por
ser um assunto tão comum e comentado ao longo dos tempos.

Neste artigo, foram criados dois experimentos para testar a hipótese de que as
pessoas tinham mais tendência para considerar informação que confirma e não que
desconfirma a existência de double standards/padrões sexuais (o homem é elogiado e a
mulher é criticada). Criaram uma vinheta na qual um homem e uma mulher reportaram
as suas histórias sexuais. Nas partilhas foram mencionados tanto comentários negativos
como positivos (de igual frequência para ambos os sexos) relativamente à sua atividade
sexual. No primeiro experimento, foi solicitado aos participantes que apontassem a
quantidade de comentários negativos e positivos que memorizaram e no segundo, que
escrevessem os comentários tecidos tanto ao homem, como à mulher. Observou-se que
no primeiro estudo, os participantes apontaram um maior número de afirmações
negativas direcionadas à mulher, em comparação com o homem e no segundo
experimento, os participantes escreveram mais comentários negativos sobre a história
sexual da mulher do que a do homem, e demostraram mais dificuldade em relembrar
exemplos de comentários positivos dirigidos à mulher. Estes resultados corroboram a
hipótese inicial de que as pessoas tendem a memorizar mais facilmente informação que
confirme a existência de “double standards”. A crença na diferença entre os sexos levou
os participantes a selecionarem, inconscientemente ou conscientemente, informação que
a apoiasse.

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Marks, M. J., & Fraley, R. C. (2006). Confirmation Bias and the Sexual Double
Standard. Sex Roles:A Journal of Research, 54 (1-2), 19-26.
https://doi.org/10.1007/s11199-006-8866-9

Nickerson RS (1998) Confirmation bias: an ubiquitous phenomenon in many


guises. Review of General Psychology 2: 175–220.

Royzman, E. B., Cassidy, K. W., & Baron, J. (2003). “I know, you know”: Epistemic
egocentrism in children and adults. Review of General Psychology, 7(1), 38–65.
https://doi. org/10.1037/1089-2680.7.1.38

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