Você está na página 1de 3

UM OLHAR SOBRE A INDEPENDÊNCIA DA PSICOLOGIA NO BRASIL: AS

INTERFACES DE RESISTÊNCIA E AS LUTAS DEMOCRÁTICAS.

Naira Almeida Lopes Precioso Sampaio

A História da Psicologia foi marcada por diversos processos de estruturação e


consolidação como disciplina independente, desassociado da psiquiatria, das ciências sociais
e da pedagogia. No início do século XX, por exemplo, alguns respaldos teóricos
fundamentais da psicanálise já estavam consolidados, como por exemplo a noção de
inconsciente (LOUREIRO, 2013). Desta forma, no Brasil não foi diferente tais processos,
como ratificado pela “Exposição 50 anos da Psicologia no Brasil” produzido pelo CRP, a
Psicologia foi gradativamente compreendida como uma ciência cujo desenvolve técnicas,
teorias e práticas para orientar e integrar o desenvolvimento de acordo com as demandas
sociopolíticas. Nos anos 50, os primeiros pedidos de regulamentação da profissão e de
consultórios de psicopedagogia ocorreram. (CRP, 2011)
Ao passo que a legitimação da profissão ocorreu, na década de 60 pela A Lei 4119, as
transformações sociopolíticas promovidas pelas Ditadura Militar transformaram a estrutura
do mundo do trabalho e da educação, haja vista que a disciplina foi retirada do currículo do
segundo grau. Ademais, a reforma universitária possibilitou a proliferação das universidades
privadas no país, no entanto a ausência de possibilidades de atuação gerou o enfraquecimento
das possibilidades trabalhistas na área. Como consequência deste movimento, as escolas
tornaram-se uma espaço alternativo para atuação dos psicólogos, configurando-se um espaço
de resistência e produção de conhecimento científico e suas práticas (CRP, 2011).
Neste contexto, as políticas educacionais configuradas no tecnicismo a fim de podar o
pensamento crítico, gerou um movimento de restrição à liberdade de expressão individual e
da produção, gerando perspectivas idealistas e críticas. Sendo diante destas condições que
movimentos ligados a Psicologia Social ganharam protagonismo, como portadores da
bandeira crítica e das ideias libertárias (CRP, 2011). “A psicologia comunitária, como uma
intervenção dos psicólogos nas relações sociais das comunidades e movimentos sociais,
surgia como essa possibilidade” (SPINK; SPINK, 2013, p.509)
Destarte, a Psicologia Social é considerada como um resultado das demandas
sociohistóricas de seu período, sendo assim, possuem produções específicas que compõem
uma visão crítica sobre aspectos da natureza social que precisam ter intervenções (SPINK;
SPINK, 2013). Desta forma, as concepções sobre a exclusão social tornaram-se pauta dos
estudos científicos da psicologia, assim nos anos 70, as forças da esquerda obtiveram um
maior protagonismo frente aos espaços sociais.
Hoje, a discussão epistemológica não é mais um espaço erudito da filosofia da
ciência; os argumentos e contra-argumentos sobre a presença de múltiplos saberes, sobre o
que conta como conhecimento enquanto produto social e sobre os múltiplos caminhos de sua
produção, incluindo o senso comum, têm um impacto imediato na psicologia e,
especialmente, na psicologia social. Ao romper com as dicotomias instituídas na
modernidade clássica – tais como a cisão entre um mundo interno (a mente) e externo (a
natureza) que cristalizou a busca da objetividade pautada numa CONCEPÇÃO
REPRESENTACIONISTA do conhecimento–, as novas discussões na ciência geram também
rupturas no campo da psicologia social expressas por meio do termo “psicologia crítica”
Durante este mesmo período da década de 70, observa-se o aumento da repressão,
após AI-5, o Conselho Federal de Psicologia foi criado sob o controle do Ministério do
Trabalho, no entanto, apenas dois anos depois o Ministério do Trabalho convoca as primeiras
eleições do plenário, oficializando em 1975 o primeiro código de Ética profissional, o qual
foi reformulado em 1979. Neste sentido, a adesão do movimento contra a ditadura ganha
maiores proporções a partir da publicação da Revista de Psicologia, Ciência e Profissão.
(CRP, 2011).
Com o restabelecimento gradual das ordens democráticas, um novo conselho de ética
do profissional de Psicologia foi elaborado em Com as liberdades democráticas estabelecidas
no país, o Novo Código de Ética Profissional de 1987, redefinindo os direitos e deveres de
acordo com os princípios da Declaração de Direitos Humanos (1948). Durante este mesmo
ano, o Movimento da Luta Antimanicomial no Brasil teve início, manifestantes favoráveis à
saúde mental foram às ruas na cidade de São Paulo, objetivando uma sociedade sem
manicômios. A carta de Bauru que marcou o movimento contra a estrutura manicomial
estabelece à oposição a mercantilização da doença e do autoritarismo, como também a favor
da reforma sanitária.
Na década seguinte, em 1994, o Congresso Nacional Constituinte de Psicologia,
marcando assim os psicólogos indicaram o próprio rumo que a Psicologia deveria tomar no
país, como ciência e profissão.
talvez o movimento mais marcante da postura crítica no enfoquedos métodos seja a
presença cada vez mais nítida da reflexão sobre ética.Não nos referimos, aqui, ao uso
prescritivo de procedimentos de avaliaçãopor comitês de ética em pesquisa ou o uso
burocrático de consentimentosinformados. Ao contrário, situamos a reflexão ética como
decorrêncianecessária, quiçá inevitável, da compreensão de que nossas práticas científicassão
práticas sociais conseqüentes, intervenções que podem ora cristalizar,ora tornar aberto para
discussão o que tomamos como fatos sociais

REFERÊNCIAS:

BOCK, Ana; FORMADO, Odair. A psicologia no Brasil e suas relações com o Marxismo. In:
História da Psicologia: rumos e percursos. Rio de Janeiro: NAU, 2013.

Conselho Regional de Psicologia da 6ª Região. Exposição 50 anos da psicologia no Brasil:


A História da Psicologia no Brasil. São Paulo: CRPSP, 2011.

LOUREIRO, Inês. Luzes e Sombras - Freud e o Advento da Psicanálise.In: História da


Psicologia: rumos e percursos. Rio de Janeiro: NAU, 2013.

SPINK, Mary Jane; SPINK, Petter. A psicologia Social na atualidade. In: História da
Psicologia: rumos e percursos. Rio de Janeiro: NAU, 2013.

Você também pode gostar