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Definição Classificação com base na idade

Três subgrupos de DA com base na idade de início surgiram a partir


Doença cutânea crônica, pruriginosa e inflamatória. É a principal
de estudos epidemiológicos: (AZULAY, 2017)
manifestação cutânea de alergia.
 Início precoce: definida como a DA que se manifesta
Esta foi definida por Cocca, em 1925, como a tendência hereditária
nos dois primeiros anos da vida. Este é o tipo mais comum
a desenvolver alergia a antígenos alimentares ou inalantes,
de DA, o qual se desenvolve durante os primeiros 6 meses
manifestando-se por eczema, asma ou rinite alérgica. Sinonímia:
de vida em 45% dos indivíduos afetados, durante o
eczema atópico, prurigo disseminado e prurigo diatésico. (AZULAY,
primeiro ano de vida em 60%, e antes de 5 anos de idade,
2017)
em 85%. Aproximadamente metade das crianças com o
A DA é uma doença genética complexa e paradigmática e é início da doença durante os primeiros 2 anos de vida
frequentemente acompanhada por outras doenças atópicas tais desenvolvem alérgenos específicos e anticorpos IgE até 2
como rinoconjuntivite alérgica e asma. Essas doenças podem anos de idade. Cerca de 60% dos lactentes e crianças
aparecer simultaneamente ou podem se desenvolver jovens com DA entram em remissão por volta dos 12 anos
sucessivamente (BOLOGNIA, 2015) de idade, mas em outros a atividade da doença persiste
na adolescência e na idade adulta.
De acordo com a nomenclatura atual em consenso com a Organização
Mundial de Alergia (OMA), o termo “atopia” é fortemente relacionado com
 Início tardio: definida como DA que começa depois da
a presença de anticorpos IgE específicos no soro, como documentado por
ensaios imunoenzimáticos positivos fluorescência ou testes cutâneos.
puberdade. Há poucos estudos epidemiológicos recentes
Portanto, uma forma de dermatite associada à IgE ou alérgica corresponde sobre DA no início da fase adulta. Aproximadamente 30%
a DA num senso estrito (formalmente conhecida como DA extrínseca). Os dos pacientes com DA estão na categoria não IgE
20%-30% dos pacientes com o fenótipo clínico da DA que não têm associada, e em adultos, a grande maioria desses doentes
nenhuma evidência de sensibilização por IgE são classificados como tendo é mulher.
DA não associada-IgE ou forma não alérgica da dermatite (anteriormente
conhecido como DA intrínseca). No entanto, a DA associada à IgE/alérgica  Início em idosos: uma subcategoria incomum de DA
“verdadeira” e a dermatite não associada/não alérgica têm sobreposição
que começa depois dos 60 anos de idade e foi identificada
substancial e não podem ser consideradas como duas doenças separadas,
por exemplo, esta última muitas vezes representa uma forma primitiva de
recentemente.
transição da DA IgE associada. (BOLOGNIA, 2015)
Etiologia e fatores de risco
Epidemiologia
As alterações fundamentais na fisiopatologia do eczema atópico
Nas últimas décadas, a frequência da doença atópica (rinite alérgica, permanecem desconhecidas. Múltiplos fatores parecem fazer parte
asma e eczema atópico) tem aumentado em todo o mundo. de um complexo mecanismo. Até o momento, os conhecimentos
(BOLOGNIA, 2015) indicam existir uma interação de fatores constitucionais e ambientais,
em que as imunidades humoral e celular ocupam lugar de destaque.
Sua prevalência varia em função da localização geográfica, das (AZULAY, 2017)
condições climáticas, do nível socioeconômico e da poluição.
(BOLOGNIA, 2015) Fatores ambientais

Em geral, a prevalência de DA em áreas rurais e de países de baixa Exposição maternas durante a gestação
renda é significativamente menor do que em suas contrapartes
urbanas e de alta renda, o que ilustra a importância do estilo de vida Apesar de vários questionamentos, documentou se relação direta
e do meio ambiente na patogênese da doença atópica. Esta entre estresse materno e o possível desenvolvimento e/ou
observação suporta a hipótese controversa da higiene, que postula evolução para DA na infância, possivelmente por interferência no
que a menor exposição a agentes infecciosos no início da infância desenvolvimento do sistema imunológico do feto (ANTUNES et al.,
aumenta a suscetibilidade a doenças alérgicas. (AZULAY, 2017) 2017)

Embora possa se manifestar em qualquer período etário, 60% dos Irritantes e agentes que causam prurido
casos de DA ocorrem no primeiro ano de vida. A DA assume forma
leve em 80% das crianças acometidas, e em 70% dos casos há Alguns agentes ambientais, como sabões e detergentes, agridem a
melhora gradual até o final da infância (ANTUNES et al., 2017) pele, interferem com a barreira cutânea e facilitam a interação entre
irritantes e alérgenos e o sistema imunológico, promovendo
A prevalência da dermatite atópica entre crianças brasileiras – inflamação. Destaca-se lauril sulfato de sódio e hidróxido de sódio
demonstram que, no Brasil, a prevalência da dermatite atópica é (ANTUNES et al., 2017)
similar à de outras partes do mundo, estando em torno de 10 a 15%.
(BOLOGNIA, 2015) Radiação ultravioleta

Estudos norte-americanos documentaram menor prevalência de DA


em locais com alta exposição à radiação ultravioleta (UV). Supõe-se
que seja decorrente de ação imunossupressora local, ou pela maior A barreira cutânea mecânica está localizada na camada superior da
transformação de vitamina D (ANTUNES et al., 2017) pele, o estrato córneo. A sua integridade é importante, pois além de
evitar a penetração de alérgenos, evita a perda excessiva de água
Poluentes atmosféricos transepidérmica (ANTUNES et al., 2017)
De maneira geral, há associação entre exposição a poluentes Na DA, há redução do conteúdo de ceramidas no estrato córneo e
externos e maior gravidade da DA. Viver em casas próximas a ruas as subfrações 1 e 3 das ceramidas estão reduzidas. Isto pode ser
de tráfego intenso associou-se à maior prevalência de DA e a decorrente do aumento da atividade enzimática
formas mais graves (ANTUNES et al., 2017) (esfingomielinadesacilase) ou ser consequente à redução da
produção de ceramidas pelos queratinócitos do estrato granuloso.
Genética (ANTUNES et al., 2017)
A ocorrência de história familial de atopia em até 70% dos casos de A filagrina e seus produtos de degradação (PCA e UCA) são muito
DA assegura o caráter hereditário, sendo provavelmente de herança importantes na manutenção do fator de hidratação natural (FHN),
poligênica. (AZULAY, 2017) sendo fundamental para a manutenção da integridade da barreira
cutânea, e consequentemente da hidratação da pele. Nos últimos
Dois grandes conjuntos de genes têm sido implicados na DA: (1) os
anos, estudos mostraram que as mutações com perda de função
genes que codificam as proteínas da epiderme, e (2) os genes que
no gene da filagrina afetam 20% a 50% dos pacientes com DA,
codificam proteínas com funções imunológicas que não são
produzindo nestes pacientes redução importante dos seus
específicos para a pele. (SOUTOR et al., 2017)
metabolitos, como o PCA e a UCA (ANTUNES et al., 2017)
Muitos loci de genes foram associados à dermatite atópica, incluindo
O pH ácido da pele ajuda a reduzir a expressão de duas proteínas
genes relacionados com aumento nos níveis da imunoglobulina E
estafilocócicas de superfície: o fator de aglutinação B e a proteína
(IgE) ou com ativação de linfócitos T. (SOUTOR et al., 2014)
de ligação à fibronectina (que se ligam no hospedeiro à citoqueratina
A filagrina, uma proteína importante para a função de barreira da e à fibronectina, respectivamente). O pH cutâneo ácido (4,5 a 5,5)
epiderme, também é um fator importante na patogênese da doença propicia a manutenção da flora bacteriana residente normal, que é
(SOUTOR et al., 2014) constituída por bactérias Gram-positivas (Staphylococcus sp, S.
epidermidis, Micrococcus luteus, Corynebacterium, Streptococcus
Mutações no gene da filagrina (FLG), o qual codifica uma proteína sp). Associados, o pH ácido e a presença da flora residente dificultam
que agrega filamentos de queratina durante a diferenciação terminal a colonização por bactérias patógenas, principalmente S. aureus.
da epiderme, são responsáveis por ictiose vulgar e representa um (ANTUNES et al., 2017)
dos principais fatores de predisposição para DA (SOUTOR et al.,
2014) A disfunção da barreira cutânea pode ser adquirida após exposição
a irritantes e perturbações mecânicas, como ocorre após exposição
Fisiopatologia a substâncias alcalinas (como por exemplo, sabonetes), cloro das
piscinas, banho com água aquecida e fricção exagerada. Estes
Na fisiopatologia da DA ocorre uma complexa interdependência fatores podem desencadear a inflamação pela liberação de citocinas
entre anormalidades das funções da barreira cutânea, mecanismos por meio dos queratinócitos danificados (ANTUNES et al., 2017)
de resposta imunológica e alterações genéticas. Esses fatores
determinam uma resposta de hipersensibilidade a elementos Geral do prejuízo na barreira epidérmica
encontrados no meio ambiente (ANTUNES et al., 2017)
 As mudanças no equilíbrio entre enzimas proteolíticas
Barreira cutânea e mecanismos alterados (p. ex., calicreína 7) e os seus homólogos antiproteásicos
(p. ex., o inibidor de serina protease LETKI) conduzem a
A barreira cutânea é composta por um conjunto de sistemas que um aumento líquido da atividade da protease, que acelera
protegem a pele da penetração de substâncias químicas alergênicas a degradação dos corneodesmossomos e das enzimas
e irritantes, assim como contra as infecções (bacterianas e virais). lipolíticas; um resultado é uma falha em gerar ceramidas
(ANTUNES et al., 2017) (BOLOGNIA, 2015)
Os sistemas estão intimamente relacionados e o desequilíbrio de um
 A deficiência de filagrina, que normalmente contribui para
pode gerar a ruptura dos mecanismos de barreira cutânea,
a montagem do invólucro cornificado e (via seus produtos
desencadeando o processo inflamatório. (ANTUNES et al., 2017)
de degradação) aumenta a capacidade de ligação de água
Estes sistemas são (ANTUNES et al., 2017) do estrato córneo; de nota, do tipo Th2 inflamação podem
diminuir a expressão de filagrina (BOLOGNIA, 2015)
 Barreira mecânica celular: composta por corneócitos;
 Manto lipídico: lipídios produzidos pelos corpos lamelares  Maturação perturbada de corpos lamelares,
da camada granulosa; Dos lipídios intercelulares, as potencialmente devido a variações no pH do estrato
ceramidas são as principais responsáveis pela retenção de córneo, assim como alterações no metabolismo lipídico
água no espaço intercelular epidérmico (BOLOGNIA, 2015)
 Manto ácido: pH ácido da superfície cutânea, entre 4,5 e
5,5, que dificulta a multiplicação de bactérias; e  Outras alterações na diferenciação epidérmica, incluindo
 Flora residente: flora bacteriana cutânea normal dificulta a alterações nas proteínas de envelope córneo (p. ex.,
colonização por bactérias patogênicas
involucrina, loricrina) e da composição lipídica (BOLOGNIA, Células dendríticas (DCs) e células de Langerhans (LCs) tornam-se
2015) ativadas pelo reconhecimento de antígenos derivados de agentes
patogênicos e, por consequência, promovem a indução de resposta
 Como um resultado da barreira epidérmica defeituoso, imune Th1, Th2, Th17 e Th22 em lesões agudas de DA (ANTUNES
não há aumento da penetração de substâncias irritantes et al., 2017)
ambientais e alérgenos na pele, provocando a inflamação
e sensibilização (BOLOGNIA, 2015) .Ao início da doença aguda, as citocinas Th2 e Th22, tais como IL -
4, IL-13 e IL-22, de modo sinérgico com a IL-17 de Th17, contribuem
para a inibição da diferenciação epidérmica de produtos génicos (tais
Alterações imunológicas como, filagrina [FLG], loricrina e corneodesmosina) (ANTUNES et al.,
2017)
A partir da ruptura da barreira física, se inicia uma resposta imune
inata rápida para evitar invasão e replicação microbiana. (ANTUNES O aumento abrupto de IL-31 induz prurido grave, para além dos seus
et al., 2017) efeitos inibitórios na diferenciação epidérmica, seguido da ação de
um arranhão por coçadura que agrava a deficiência da barreira A
Os queratinócitos e as células apresentadoras de antígenos da pele IL-22 também contribui para a hiperplasia epidérmica e impulsiona o
expressam uma série de receptores imunes inatos, entre os quais aumento de alguns peptídeos antimicrobianos (AMPs), tais como
os receptores Toll like (TLRs) são os mais conhecidos. A estimulação S100 e proteínas de beta-defensina humana (hBD), juntamente com
de TLRs por agentes microbianos ou lesões teciduais induz a IL-17 (ANTUNES et al., 2017)
liberação de peptídeos antimicrobianos, citocinas e quimiocinas que
aumentam a força da junção intercelular com o intuito de limitar a Na fase crônica da DA, predomina a resposta de tipo Th1. As células
penetração de alérgenos e micro-organismos. (ANTUNES et al., 2017) Th1 polarizadas produzem IFN-y, que confere proteção contra
agentes patogênicos intracelulares ativando células fagocíticas.
Estudos têm demonstrado que os pacientes com DA têm a função (ANTUNES et al., 2017)
dos TLR reduzida Um desequilíbrio do sistema imune adaptativo
mediado por várias células T desempenha papel fundamental na A inflamação crônica na DA está associada a níveis aumentados de
patogênese da DA. (ANTUNES et al., 2017) IL-5, do fator de estimulação de colônias granulocíticas e
macrofágicas, da IL-12 e do interferon (IFN- gama).
Os níveis de AMP-cíclico (AMPc) intracelulares estão diminuídos nos
macrófagos, basófilos e linfócitos. Os baixos níveis de AMPc podem As células Th1 polarizadas produzem IFN-γ, resultando na apoptose
ser responsáveis pelo aumento da liberação de histamina, diminuição ou modificação da função dos queratinócitos, tornando-os mais
dos linfócitos T supressores e aumento da produção de IgE. A antiga sensíveis aos sinais de ligação do fator de necrose tumoral (TNF),
hipótese do bloqueio dos receptores ẞ-adrenérgicos para justificar induzindo o processo inflamatório (ANTUNES et al., 2017)
a diminuição dos níveis intracelulares de AMPc na DA, assim como
Alteração na microbiota cutânea
a diminuição dos efeitos inibitórios das catecolaminas sobre a
multiplicação celular, com aumento de mitoses – o que explicaria a Nos pacientes com DA as infecções representam a principal
tendência à hiperplasia epidérmica que, por sua vez, é potencializada complicação, com frequência maior do que na população geral Na
pela coçadura – evoluiu com a constatação de um defeito associado pele do paciente com DA há suscetibilidade a infecções e também
ao aumento da atividade da enzima fosfodiesterase, degradadora de a colonizações por microrganismos que agravam a doença
AMPc. (ANTUNES et al., 2017)
Tradicionalmente, a exposição prolongada a agentes patogênicos O ato de coçar facilita a colonização bacteriana por provocar solução de
adapta as respostas imunes e impulsiona o desenvolvimento de um continuidade na barreira cutânea e expor a laminina e a fibronectina. Estas
ambiente de citocinas T helper (Th) 2 especializado: IL-4, IL-13 e IL- vão fixar as adesinas, que são receptores localizados na parede bacteriana,
3. (ANTUNES et al., 2017) promovendo maior aderência. (ANTUNES et al, 2017)

O anticorpo envolvido na imunopatologia do eczema atópico é a IgE, Staphylococcus aureus:


produzida pelos linfócitos B. O eczema atópico é associado à elevada
produção de IgE e à reatividade alterada da pele e das mucosas, Os S. aureus produzem hemolisinas (a-toxina e d-toxinas), leucocidina
com aumento da suscetibilidade a reações anafiláticas. (AZULAY, panton-valentine, toxinas esfoliativas, enterotoxinas e superantígenos
2017) (toxina 1 da síndrome do choque tóxico e enterotoxina B
estafilocócica) na superfície da pele, atuando na piora ou mesmo na
A inflamação aguda na DA está associada a um predomínio na expressão manutenção da doença. Os superantígenos têm a capacidade de
de IL-4 e IL-13 penetrar na pele, ligando-se a receptores do complexo principal de
A IL-4 diminui a expressão de vários genes que regulam a função da histocompatibilidade humana (MHC) e provocando a ativação
barreira epidérmica, os queratinócitos diferenciados na presença de IL-3 e policlonal de linfócitos T, com consequente liberação de citocinas.
IL-4 expressam menos filagrina, contribuindo para uma barreira cutânea Induzem a diferenciação dos linfócitos em Th2, aumentando a
defeituosa, permitindo a penetração de bactérias e alérgenos na pele, secreção da IL-31, que atua intensificando o prurido e controlando a
levando a infecções e sensibilização ao alérgeno (ANTUNES et al., 2017) expressão da filagrina (ANTUNES et al, 2017)
Os níveis séricos elevados de IL‐13 estão associados com o aumento de IL‐ Atuam, também, diretamente nos queratinócitos, levando à indução
31, promotora de prurido, essas citocinas foram correlacionados com a da expressão de moléculas de adesão e liberação do TNF-
gravidade da patologia (ANTUNES et al., 2017)
a(ANTUNES et al, 2017)
Os S. aureus também aumentam os receptores ß não funcionantes, Do nascimento até o sexto mês de vida é caracterizada por prurido
induzem apoptose de células e podem inibir a ação dos intenso e lesões cutâneas com eritema, pápulas, vesículas e
corticosteroides Por esta razão, a colonização bacteriana e a formação de crostas, que se localizam na face e poupam o maciço
liberação de enterotoxinas podem interferir na resposta de alguns central. Outros locais como face extensora dos membros e tronco
pacientes com DA aos corticosteroides e contribuírem para a falha podem ser acometidos. (ANTUNES et al, 2017)
terapêutica (ANTUNES et al, 2017)
Infecção secundária é comum e caracterizada por exsudação e
Fungos crostas melicéricas. (ANTUNES et al, 2017)

Os fungos também atuam como fatores desencadeantes de DA, Os surtos do eczema podem ser desencadeados por infecções
principalmente os do gênero Malassezia (ANTUNES et al, 2017) respiratórias, alterações climáticas, fatores emocionais e alimentos.
(ANTUNES et al, 2017)
Estudos recentes tentam explicar essa relação com a Malassezia
spp., e alguns demonstraram que este agente pode produzir Entre os 8 e 10 meses de idade as lesões acometem as regiões
proteínas que são imunogênicas, o que desencadeia a produção de extensoras dos membros, provavelmente pela fricção ocasionada
IgE e podem, até mesmo, induzir a liberação de citocinas inflamatória pelo ato de engatinhar ou mesmo se arrastar no chão. Os pacientes
(ANTUNES et al, 2017) que nesta fase apresentam eczema generalizado podem melhorar;
entretanto, o desaparecimento total da doença é pouco provável.
Influência psicossomática (ANTUNES et al, 2017)
A DA piora com alguns fatores externos tais como: estímulos Não é incomum a presença de dermatite seborreica, sobretudo nos
emocionais, físicos, químicos e biológicos, que provocam uma primeiros meses de vida, a associação de prurido e escamas típicas
resposta mais acentuada nestes pacientes (ANTUNES et al, 2017) de dermatite seborreica no couro cabeludo são sugestivas da
combinação das duas doenças (ANTUNES et al, 2017)
Demonstrou-se que o sistema neuroendócrino se apresenta
aumentado na pele dos pacientes com DA, onde a ligação das células Fase pré-puberal
endócrinas com a inervação da pele está mais desenvolvida e
apresenta maior penetração na epiderme. Esta inervação na DA,
pode desregular a produção de citocinas e outros fatores que
resultam na redução da defesa do hospedeiro. (ANTUNES et al, 2017)

Manifestações clínicas

A apresentação clínica da DA varia desde formas localizadas até as


disseminadas. São características clínicas, prurido, lesões crônicas ou
recidivantes, com distribuição e morfologia variável conforme a idade.
(ANTUNES et al, 2017)

A lesão clássica é o eczema, definido como uma inflamação cutânea,


com os seguintes achados clínicos: eritema, pápula, seropápula,
vesículas, escamas, crostas e liquenificação e achados histológicos
inespecíficos, como espongiose, acantose, paraqueratose, infiltrado
linfocitário e exocitose. (ANTUNES et al, 2017)

As características clínicas variam de acordo com a faixa etária do


paciente, porém um considerável número de pacientes apresenta Ocorre a partir dos 2 anos e persiste até a puberdade. As lesões
lesões características simultâneas de mais de uma faixa etária localizam-se principalmente nas regiões flexurais dos joelhos e dos
(ANTUNES et al, 2017) cotovelos, pescoço, pulsos e tornozelos.
Fase infantil As pápulas eritematosas e vesículas são substituídas gradualmente
por liquenificação (espessamento, escurecimento e acentuação dos
sulcos da pele). (ANTUNES et al, 2017)

O prurido está sempre presente e pode ser de difícil controle.


(ANTUNES et al, 2017)

É importante salientar que 60% dos pacientes apresentam melhora


importante ou desaparecimento total das lesões nesta fase da
doença (ANTUNES et al, 2017)
Fase adulta

Sinal de Hertoghe

Também é decorrente da coçadura constante, a porção distal lateral


dos supercílios pode ter diminuição de pelos, o que caracteriza este
sinal que é observado em menos da metade dos pacientes
(ANTUNES et al, 2017)

Asteatose ou xerose (pele seca)

Praticamente todos os pacientes com DA apresentam a pele


ressecada, que é um dos principais sinais observados na doença. A
simples presença da xerose desencadeia o prurido. (ANTUNES et al,
A fase adulta da DA é semelhante à fase pré-puberal, mas as lesões 2017)
são mais liquenificadas, principalmente em regiões flexurais e nas
A pele seca é decorrente de defeitos da barreira cutânea e acarreta
mãos. (ANTUNES et al, 2017)
aumento da TEWL e aumento da permeabilidade cutânea a fatores
A face e as mãos frequentemente são as regiões mais acometidas irritativos e alérgicos (ANTUNES et al, 2017)
nesta faixa etária. Lesões localizadas nos mamilos podem ocorrer
Pitiríase alba
com frequência nas mulheres e adolescentes jovens. (ANTUNES et
al, 2017) É comum em crianças e decorre do ressecamento da pele. Nos
Os pacientes que na infância apresentaram formas graves da doença pacientes atópicos estima-se estar presente em 40 a 60% dos
e alterações psicológicas importantes têm maior chance de casos, e é caracterizada por manchas hipocrômicas com bordas mal
persistência da doença na idade adulta. Este aspecto é importante, definidas, discretamente ásperas, localizadas principalmente na face,
pois chama à atenção para a necessidade de maior controle do nos membros superiores e inferiores e menos frequente no tronco.
quadro emocional nas crianças atópicas (ANTUNES et al, 2017) (ANTUNES et al, 2017)

Sinais cutâneos associados à dermatite atópica

Além das lesões clássicas eczematosas há diversos outros sinais


frequentes nos pacientes com DA. Os mais importantes são:
(ANTUNES et al, 2017)

Dupla prega ou prega infra-orbital de DennieMorgan

É comum em qualquer pessoa a presença de uma prega nas


pálpebras inferiores. No atópico, provavelmente devido à inflamação
e coçadura constantes, surgem duas ou até três pregas,
denominadas de Dennie-Morgan (ANTUNES et al, 2017)

Atualmente não são consideradas patognomônicas de DA, mas


fazem parte dos critérios diagnósticos menores (ANTUNES et al,
2017)
Ceratose pilar (Keratosis pilaris)

Cerca de 30% das crianças e adolescentes com DA apresentam


lesões ceratósicas foliculares nos braços, região malar e coxas. Estas
tendem a desaparecer ou melhorar na idade adulta. Esta
Dermatite crônica inespecífica de pés e mãos manifestação clínica também aparece em não atópicos(ANTUNES
et al, 2017)
São consequentes ao ressecamento e irritação destas regiões.
Devem ser diferenciados da dermatite alérgica de contato, através Eczema palpebral
do teste de contato, da tinha da mão (micológico direto) e da
psoríase (anatomopatológico). Clinicamente há descamação e Lesões eritematosas, descamativas e infiltradas nas pálpebras podem
eritema nas palmas e plantas, algumas vezes com fissuras ser devido a dermatite alérgica de contato, mas também são muito
(ANTUNES et al, 2017) comuns na DA (ANTUNES et al, 2017)

Quando atingem somente a ponta dos dedos, é denominada de


pulpite digital (ANTUNES et al, 2017)

Hiperlinearidade palmo-plantar
Escurecimento periorbital
Presença de acentuação das linhas palmares e plantares com menos
descamação (ANTUNES et al, 2017) Decorre do atrito pela coçadura; muitos pacientes apresentam
aumento da pigmentação periorbital, que é considerado sinal menor
da DA (ANTUNES et al, 2017)

Eczema de mamilos

Mais frequente em meninas, principalmente pelo maior atrito da


região com roupas que causam irritação ou alergia. (ANTUNES et
al, 2017)
Fissuras ou rágades Complicações
Mais comumente nas regiões infra-auriculares, infranasal e Infecções
retroauriculares, estas lesões são resultado da xerose e coçadura
(ANTUNES et al, 2017) Considerando-se que S. aureus coloniza a pele da grande maioria
dos pacientes com DA, não é surpreendente que o surgimento de
Queilites impetigo (que também pode ocorrer devido a Streptococcus
pyogenes) ocorre muito frequentemente (BOLOGNIA, 2015)
Mais acentuada no lábio inferior, pelo ato de lamber os mesmos ou
mordê-los. A alteração inicial é o ressecamento, e o paciente, na
tentativa de umedecer, acaba piorando pela ação da saliva
(ANTUNES et al, 2017)

Palidez facial

Mais da metade dos pacientes apresenta-se com palidez facial no


centro da face, decorrente de vasoconstricção periférica (ANTUNES
et al, 2017)

Ictiose vulgar

É genodermatose de amplo espectro, mas cerca de 20 a 30% dos


pacientes com DA apresentam escamas aderentes poligonais,
sobretudo localizadas nos membros inferiores, mas podem
acometer todo o tegumento e poupam as fossas cubitais e poplíteas.
É considerada a forma mais simples de ictiose, e é associada às Eczema herpético
mutações do gene da filagrina (ANTUNES et al, 2017)
Eczema herpético representa rápida disseminação de uma infecção
viral por herpes simples sobre a pele eczematosa dos pacientes com
DA. Ele inicialmente se desenvolve como uma erupção de vesículas,
mas indivíduos afetados mais frequentemente apresentam erosões
monomórficas com crosta hemorrágica (BOLOGNIA, 2015)

Eczema herpético é frequentemente generalizado e pode ocorrer


em qualquer local, com uma predileção pela cabeça, pescoço e
tronco. (BOLOGNIA, 2015)

Ele é frequentemente associado a o mal-estar, febre e


linfoadenopatia, e as complicações podem incluir a superinfecção
com S. aureus ou S. pyogenes, assim como queratoconjuntivite
herpética e meningoencefalite (BOLOGNIA, 2015)

Os pacientes com mutações no gene da filagrina e os que têm tanto


DA grave e asma têm um risco aumentado de eczema herpético,
e a diminuição da produção de peptídeos antimicrobianos podem
Dermografismo branco ter um papel patogênico. Os pacientes com DA também estão
predispostos para o desenvolvimento do molusco contagioso amplo,
Ao atritar a pele, a resposta fisiológica normal é de vasodilatação por vezes com várias centenas de lesões (BOLOGNIA, 2015)
com aparecimento de edema. No atópico ocorre o inverso, quadro
conhecido com dermografismo branco (ANTUNES et al, 2017)
Complicações oculares Intolerância alimentar
Palidez facial/eritema facial
Além do desenvolvimento de conjuntivite aguda como um Pitiríase alba
componente da rinoconjuntivite alérgica, o espectro da doença Prega infraorbital (linhas de
atópica ocular também inclui manifestações crônicas tais como a Dennie-Morgan)
queratoconjuntivite atópica (normalmente em adultos) e Prurido quando transpira
queratoconjuntivite vernal (acomentem as crianças que vivem em Queilite
climas quentes). (BOLOGNIA, 2015) Reatividade cutânea imediata (tipo
1)
Os sintomas incluem prurido ocular, ardor, lacrimejamento e Xerose
secreção de muco, muitas vezes em associação com hiperemia
conjuntival e (especialmente em queratoconjuntivite atópica)
Em 1994, Williams et al. propuseram critérios simplificados, conhecidos
blefarite que se manifesta como inchaço e descamação das
como critérios U.K. (United Kingdom): presença de prurido
pálpebras (BOLOGNIA, 2015)
cutâneo e três ou mais dos seguintes achados – envolvimento
Diagnóstico flexural, história de atopia respiratória, xerodermia e erupção cutânea
antes dos dois anos de vida.
O diagnóstico é basicamente clínico, corroborado muitas vezes por
A gravidade da DA é avaliada tanto pelo EASI (eczema area severity
uma história pessoal ou familial de atopia; eosinofilia e aumento da
index) quanto pelo SCORAD (scoring atopic dermatitis), que tem sido
IgE circulante podem reforçá-lo. (AZULAY, 2017)
empregado na validação de estudos clínicos para determinação de
eficácia terapêutica. Ambos avaliam a área da pele acometida e a
gravidade de uma lesão em especial, destacando-se: eritema, edema,
presença de crostas, sinais de escoriação e liquenificação. No
SCORAD, considera-se ainda a avaliação do paciente ou cuidador
incluindo perguntas sobre a qualidade do sono e intensidade do
prurido nos últimos três dias que antecederam a avaliação. As notas
podiam variar de zero a um máximo possível de 103 pontos.
(AZULAY, 2017)

A partir de 2007, foi proposto que as questões subjetivas fossem


eliminadas e uma nova pontuação de gravidade fosse atribuída,
denominando-se este “novo” critério SCORAD objetivo, assim
pontuado: (AZULAY, 2017)

 0 a 14: dermatite atópica leve

 15 a 40: dermatite atópica moderada


A confirmação diagnóstica é feita por meio dos critérios  Acima de 41: dermatite atópica grave. Neste contexto, a
apresentados na tradicional classificação de Hanifin e Rajka É soma total seria 83 e nos casos de dermatite grave e
necessária a associação de um mínimo de 3 critérios maiores a 3 desfigurante na face acrescentam-se 10 pontos; nesse
menores. (AZULAY, 2017) caso, a pontuação máxima será 93.
Características maiores (deve ter 3 Características menores (deve ter A biópsia cutânea é de pouca utilidade, e realizada eventualmente
ou mais) 3 ou mais) se houver dúvida diagnóstica. As caraterísticas observadas são
Prurido Catarata (anterior sbcapsular) espongiose, formação de vesículas, exocitose de linfócitos,
Morfologia e distribuições típicas Ceratocone paraceratose, e, eventualmente, acantose. A derme apresenta
Liquenificação flexural em adultos Ceratose pilar
infiltrado linfocitário, e a eosinofilia tissular é variável (AZULAY, 2017)
Envolvimento facial e extensor Conjuntivite- recorrente
em lactentes e crianças Gravidade da dermatite atópica conforme as características
Dermatite – crônica ou Dermatite das mãos – não
clínicas e psicossociais
cronicamente recorrente alérgica irritativa
História pessoal ou familiar de Dermatite dos mamilos
atopia – asma, rinite alérgica,
dermatite atópica
Dermografismo branco
Eczema – acentuação
perifolicular
Escurecimento periorbital
Hiperlinearidade palmar
Ictiose
IgE elevada
Infecções (cutâneas) –
Staphylococcus aureus, herpes
simples
Intolerância à lã
Exames laboratoriais  Dermatite de contato (irritativa ou alérgica): placas
eczematosas bem-delimitadas, em geral, localizadas nas
A avaliação laboratorial fornece subsídios à identificação dos agentes áreas de contato. (SOUTOR et al., 2017)
provocadores de DA, essencial na elaboração do plano de  Eczema disidrótico: vesículas profundas, não inflamatórias,
tratamento e orientação do paciente na prevenção ao contato com com 1 a 3 mm, sobre palmas das mãos e plantas dos pés.
alérgenos e outros fatores desencadeantes. Entre elas, destacam-se: (SOUTOR et al., 2017)
(ANTUNES et al, 2017)  Dermatose palmoplantar juvenil: descamação superficial
 Contagem de eosinófilos no sangue periférico e dos pés agravada pela transpiração. (SOUTOR et al., 2017)
níveis séricos de IgE total: A presença de eosinofilia e  Tinha do corpo: placas anelares bem-demarcadas
de níveis elevados de IgE sérica são frequentes em descamativas, frequentemente com bordas elevadas e
pacientes com DA. Entretanto, cerca de 20% deles não área central clarificada (SOUTOR et al., 2017)
apresentam alterações nos níveis de IgE e elevação do  Outros: dermatite numular, escabiose, dermatite pe- rioral,
número de eosinófilos e de IgE sérica podem estar síndromes de imunodeficiência, síndromes de deficiência
presentes em outras situações clínicas, tais como nutricional, exantema medicamentoso e doença do
parasitoses, reações a drogas e doenças infecciosas, enxerto versus hospedeiro. (SOUTOR et al., 2017)
caracterizando-se assim, como um dado laboratorial sem
especificidade para DA.

 O teste cutâneo de leitura imediata (TCLI) é método


simples, fácil, rápido e barato de identificar anticorpos da
classe IgE. Os TCLI pela técnica de puntura (prick test)
com aeroalérgenos e alérgenos alimentares são
normalmente utilizados como testes de primeira linha na
detecção de IgE específica para determinar o
envolvimento destes agentes no desencadeamento do
sintoma, devendo por suas características ser avaliado com
precaução

 O teste de contato para atopia (APT - atopy patch


test) é procedimento novo para a identificação de
alérgenos provocadores de lesões eczematosas nos
pacientes com DA. Em contraste com o TCLI, o APT
permite detectar sensibilização relevante na ausência de
IgE específica A resposta positiva ao APT representa a
expressão de reação imunológica mediada por linfócitos T
ou uma reação de fase tardia mediada por IgE. O APT
consiste na aplicação epicutânea de alérgenos de proteína
intactas, com o uso de dispositivos próprios. Referências

 Outros: Outros marcadores sorológicos vêm sendo ANTUNES, Adriana A. et al. Guia prático de atualização em dermatite atópica-
estudados no sentido de permitirem a confirmação do Parte I: etiopatogenia, clínica e diagnóstico. Posicionamento conjunto da
Associação Brasileira de Alergia e Imunologia e da Sociedade Brasileira de
diagnóstico de alergia alimentar em pacientes com DA ou
Pediatria. Arquivos de Asma, Alergia e Imunologia, 2017.
do seu acompanhamento, entretanto, poucos estão
disponíveis na prática clínica. Entre eles, destacamos: a Azulay, Rubem D. Dermatologia, 7ª edição. Disponível em: Minha Biblioteca,
quantificação de histamina liberada por basófilos, a Grupo GEN, 2017.
determinação dos níveis de anticorpos séricos IgG e IgG4 Bolognia, Jean. Dermatologia. Disponível em: Minha Biblioteca, (3rd edição).
específicos, a pesquisa e a quantificação de complexos Grupo GEN, 2015.
antígeno-anticorpo, a determinação da expressão de
Soutor, Carol, e Maria Hordinsky. Dermatologia Clínica. Disponível em:
CD63 em basófilos, a determinação dos níveis de Minha Biblioteca, Grupo A, 2014.
anticorpos IgA anti-gliadina, antitransglutaminase e anti-
endomísio

Diagnósticos diferenciais

 Dermatite seborreica: descamação amarela untuosa,


principalmente na cabeça, face e região do pescoço. Pode
ser disseminada na infância. Não tão pruriginosa quanto a
dermatite atópica. (SOUTOR et al., 2017)
 Psoríase: placas bem-delimitadas, persistentes, com
descamação sobrejacente. Nos lactentes, a região da fralda
é comumente afetada. (SOUTOR et al., 2017)

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