INTERPRETAÇÃO DE TEXTO

Análise de texto – Técnica de leitura

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ANÁLISE DE TEXTO – TÉCNICA DE LEITURA

Texto

Obs.: Qualquer texto, por menor que ele seja, possui dois planos: conteúdo e expressão.
O plano do conteúdo é o que se diz (objeto de estudo da semântica); o plano da ex-
pressão é como se diz (objeto de estudo da estilística). Talvez, em algum momento
da sua vida, você tenha escutado a seguinte frase: “O que me deixou triste não foi o
que você falou, mas como você falou”.

Plano do conteúdo Plano da expressão

(O que se diz = semântica) (Como se diz = estilística)
1. Significação vocabular 1. Tipos de linguagem
2. Significação textual 2. Tipologias e gêneros textuais
COMPREENSÃO 3. Recursos de estilo
INTERPRETAÇÃO 4. Mecanismos de coesão
Reescritura

Obs.: As questões de texto do Cespe contemplam tanto o conteúdo do texto quanto a

expressão do texto (o que foi dito e como foi dito). As questões de reescritura cobram
os dois aspectos. As questões de reescritura, tão comuns, são aquelas em que o
examinador pega um trecho do texto, faz algumas intervenções e pede que a inter-
venção seja avaliada (tanto para semântica quanto para correção gramatical). Rees-
critura não é um conteúdo, mas sim um modo de se cobrarem vários conteúdos.

(PGDF/2021/ANALISTA)
5m

A palavra sonho significa muitas coisas diferentes: “o sonho da minha vida” e

“meu sonho de consumo” são expressões usadas pelas pessoas para dizer que
pretendem ou conseguiram alcançar algo. Todo mundo tem um sonho, no sentido
de plano futuro. Todo mundo deseja algo que não tem. Por que será que o sonho,
(5 ) fenômeno normalmente noturno que tanto pode evocar o prazer quanto o medo, é
justamente a palavra usada para designar tudo aquilo que se quer ter?
O repertório publicitário contemporâneo não tem dúvidas de que o sonho é a
força motriz de nossos comportamentos, a motivação íntima de nossa ação exterior.
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Desejo é o sinônimo mais preciso da palavra “sonho”. Na área de desembarque de

(10) um aeroporto nos Estados Unidos, uma foto enorme de um casal belo e sorridente,
velejando num mar caribenho em dia ensolarado, sob a frase enigmática: “Aonde
seus sonhos o levarão?”, embaixo o logotipo da empresa de cartão de crédito.
Deduz-se do anúncio que os sonhos são como veleiros, capazes de levar-nos a
lugares idílicos, perfeitos, altamente… desejáveis. As equações “sonho é igual a
(15) desejo, que é igual a dinheiro” têm como variável oculta a liberdade de ir, ser e
principalmente ter, liberdade que até os mais miseráveis podem experimentar no
mundo de regras frouxas do sonho noturno, mas que no sonho diurno é privilégio
apenas dos detentores de um mágico cartão plástico.
Entretanto, a rotina do trabalho diário e a falta de tempo para dormir e
(20) sonhar, que acometem a maioria dos trabalhadores, são cruciais para o mal-estar
da civilização contemporânea. É gritante o contraste entre a relevância
motivacional do sonho e sua banalização no mundo industrial globalizado. No
século XXI, a busca pelo sono perdido envolve rastreadores de sono, colchões high-
tech, máquinas de estimulação sonora, pijamas com biossensores, robôs para
(25) ajudar a dormir e uma cornucópia de remédios. A indústria da saúde do sono, um
setor que cresce aceleradamente, tem valor estimado entre 30 bilhões e 40 bilhões
de dólares. Mesmo assim impera a insônia. Se o tempo é sempre escasso, se
despertamos diariamente com o toque insistente do despertador, ainda sonolentos
e já atrasados para cumprir compromissos que se renovam ao infinito, se tão
(30)poucos se lembram de que sonham pela simples falta de oportunidade de
contemplar a vida interior, quando a insônia grassa e o bocejo se impõe, chega-se a
duvidar da sobrevivência do sonho.
E, no entanto, sonha-se. Sonha-se muito e a granel, sonha-se sofregamente
apesar das luzes e dos ruídos da cidade, da incessante faina da vida e da tristeza
das perspectivas. Sidarta Ribeiro. O oráculo da noite: a história e a ciência do sonho.
São Paulo:
Companhia das Letras, 2019, p. 19-20 (com adaptações)

Obs.: Observações sobre a leitura do texto: ao fazer simulados e questões de interpretação

de texto, recomenda-se, se possível, imprimir o material, porque ele é mais fidedigno
à realidade da prova e é possível manuseá-lo de forma mais concreta.
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Primeiro, recomenda-se ver a fonte do texto.

Em relação à frase “todo mundo deseja algo que não tem”, lembra-se do paradoxo do
desejo. No momento em que se obtém tal coisa, o desejo acaba, pois se concretizou e
desapareceu.
Percebe-se, no texto, dois sentidos de sonho: 1. Fenômeno noturno, que evoca o prazer
e o medo; 2. Representação daquilo que se deseja.
10m
O texto é uma análise da pluralidade de sentidos que a palavra “sonho” representa. Aquilo
que se sonha no sentido de desejar nem sempre é possível ter como consumo.
A leitura é um processo. Não se lê primeiro para entender depois.
15m
Ao ler “entretanto”, já se sabe que haverá uma ideia contrária. O “entretanto” é um
conector de natureza adversativa. Percebe-se que o texto vai abordar o sonho como fenô-
meno noturno.
Grassa: multiplica-se; torna-se popular.
20m
O texto faz essa distinção entre o sonho como fenômeno noturno e o sonho como ato de
desejar. Percebe-se uma análise social e econômica desse sonho como desejo e do mal-
-estar da civilização contemporânea, citando a falta de tempo para dormir, rotina de traba-
lho, indústria do sono. Perdeu-se a capacidade de sonhar. É interessante notar que o texto
termina com “no entanto, sonha-se”. O trecho “apesar das luzes e dos ruídos da cidade”
é o sonho como fenômeno noturno; “apesar da tristeza das perspectivas” é o sonho como
desejo, vontade.

DIRETO DO CONCURSO
1. O texto discute a noção de sonho vinculando-a à dimensão cultural e social do mundo
contemporâneo.

COMENTÁRIO
A noção de sonho é o tema; discutir é o propósito, finalidade; vinculando é o modo como o
autor do texto faz isso.

2. O texto aponta dois problemas relativos ao sonho: a sua hipervalorização pela cultura
consumista e a sua banalização pela indústria da saúde do sono.
25m
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3. O texto defende que o mal-estar da civilização contemporânea deve-se ao fato de que

desejo de consumo e sonho se confundem cada vez mais.

COMENTÁRIO
“Mal-estar” foi algo lido no texto. Recomenda-se a reler o trecho em que isso aprece.

Entretanto, a rotina do trabalho diário e a falta de tempo para dormir e (20) sonhar, que acometem
a maioria dos trabalhadores, são cruciais para o mal-estar da civilização contemporânea

4. A exposição de fatos e argumentos que estrutura o texto caracteriza-o como predomi-

nantemente dissertativo.

COMENTÁRIO
Essa é uma questão que cobra conceito e teoria. Texto dissertativo é aquele que o pro-
pósito é discorrer sobre um tema. No caso, é o texto dissertativo (mais especificamente,
dissertativo argumentativo, porque é uma análise com perspectiva autoral).

5. O texto trata da alteração do significado original da palavra “sonho”, que, com o passar dos
anos, assumiu diferentes sentidos, os quais remetem a um plano ou a um desejo no futuro.

COMENTÁRIO
Não foi a alteração do significado original da palavra. Os significados existem concomi-
tantemente.

6. Depreende-se do texto que a impossibilidade de dormir é uma constante do mundo contem-

porâneo e compromete quantitativa e qualitativamente a capacidade das pessoas de sonhar.

COMENTÁRIO
Recomenda-se não perder energia preocupando com o enunciado que começa com “de-
preende-se”. Busca-se avaliar a afirmação. O foco deve ser na afirmação.

7. Conforme o texto, o sonho noturno, por suas características, é um território de liberdade

acessível a todas as pessoas.
30m
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COMENTÁRIO
O sonho noturno é aquele que opõe ao sonho como sinônimo de desejar.
(...) liberdade que até os mais miseráveis podem experimentar no mundo de regras frou-
xas do sonho noturno, mas que no sonho diurno é privilégio apenas dos detentores de um
mágico cartão plástico.

8. Segundo o texto, apesar da profusão de produtos para o sono bem como do crescimen-
to rápido da indústria do sono, a recuperação do sono perdido ainda não foi alcançada
pela população.

COMENTÁRIO
Trecho do texto: “a insônia grassa e o bocejo se impõe”.

9. O vocábulo “gritante” (L. 21) está empregado com o mesmo sentido de chocante.

COMENTÁRIO
Trecho do texto: “É gritante o contraste entre a relevância motivacional do sonho e sua
banalização no mundo industrial globalizado.”.
Está no sentido de evidente.

10. A palavra “cornucópia” (L. 25) está empregada no texto com o sentido de abundância,
profusão, grande quantidade.

COMENTÁRIO
Essa é uma aula de significação vocabular.
Dica: o texto tem uma palavra X e pede para substituir pela palavra Y. Imagine que não se
saiba o que significa a palavra X, mas saiba o que é Y, a professora arriscaria; se souber o
que é X, mas não souber o que é Y, a dica é não arriscar; se souber o significado das duas,
o candidato fica feliz; se não souber nenhuma, fica triste.
Trecho no texto: “(...) uma cornucópia de remédios”.
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11. Sem prejuízo da informação originalmente veiculada pelo texto, a forma verbal “acome-
tem” (L. 20) poderia ser substituída por atacam, dados os sentidos do verbo acometer
e o contexto em que ele foi empregado no texto.

COMENTÁRIO
Outra questão de significação vocabular.
35m
Trecho do texto: “Entretanto, a rotina do trabalho diário e a falta de tempo para dormir e
(20) sonhar, que acometem a maioria dos trabalhadores.

12. O uso de reticências no trecho “altamente… desejáveis” (L. 14) reforça a expressivi-
dade do que o autor deseja sugerir com relação à intensificação da equivalência entre
sonho e desejo.

COMENTÁRIO
Reticências indicam pausa, interrupção. O examinador quer o efeito das reticências.
Trecho do texto: “Deduz-se do anúncio que os sonhos são como veleiros, capazes de le-
var-nos a lugares idílicos, perfeitos, altamente… desejáveis”.
No caso, o uso das reticências é um recurso de estilo, expressivo.

13. O trecho “privilégio apenas dos detentores de um mágico cartão plástico” (L. 17 E 18)
refere-se, textualmente, à “liberdade de ir, ser e principalmente ter” (L. 15 e 16)

COMENTÁRIO
Trecho do texto: “(...) a liberdade de ir, ser e principalmente ter, liberdade que até os mais
miseráveis podem experimentar no mundo de regras frouxas do sonho noturno, mas que
no sonho diurno é privilégio apenas dos detentores de um mágico cartão plástico.”

Resumo do que foi cobrado nas questões:

1. conteúdo
2. conteúdo
3. conteúdo
4. expressão; tipologia textual
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5. conteúdo
6. conteúdo
7. conteúdo
8. conteúdo
9. conteúdo
10. conteúdo
11. conteúdo
12. conteúdo
13. conteúdo

GABARITO
1. C
2. C
3. E
4. C
5. E
6. C
7. C
8. C
9. E
10. C
11. C
12. C
13. C

�Este material foi elaborado pela equipe pedagógica do Gran Cursos Online, de acordo com a aula
preparada e ministrada pela professora Tereza Cavalcanti.
A presente degravação tem como objetivo auxiliar no acompanhamento e na revisão do conteúdo
ministrado na videoaula. Não recomendamos a substituição do estudo em vídeo pela leitura exclu-
siva deste material.
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