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UNIP – UNIVERSIDADE PAULISTA

Instituto de Ciências Humanas


Curso de Psicologia

Representações sociais do psicólogo sobre o pós-término da


psicoterapia

Bruno Augusto Pinafo – RA 9933815-2


Hugo Lopes Gomes – RA 732670-0
Liane Alves Pimenta – RA 700327-7
Luciana Bertolli Ramondetti – RA 996475-4
Marília Lípolis Tavares – RA 905710-2

Campus Vargas – Ribeirão Preto/SP


Novembro - 2012
UNIP – UNIVERSIDADE PAULISTA
Instituto de Ciências Humanas
Curso de Psicologia

Representações sociais do psicólogo sobre o pós-término da


psicoterapia

Bruno Augusto Pinafo – RA 9933815-2


Hugo Lopes Gomes – RA 732670-0
Liane Alves Pimenta – RA 700327-7
Luciana Bertolli Ramondetti – RA 996475-4
Marília Lípolis Tavares – RA 905710-2

Relatório Científico Final


apresentado à disciplina
Psicologia Integrada

Orientadores: Profª Drª Milena Maria Sarti

Campus Vargas – Ribeirão Preto/SP


Novembro - 2012
RESUMO

GOMES, H. L; PIMENTA, L. A.; PINAFO, B. A., RAMONDETTI, L. B., TAVARES, M.


L., SARTI, M.M. (orientadora), De Tílio, R. (orientador). Representações sociais do
psicólogo sobre o pós-término da psicoterapia, Curso de Psicologia, Instituto de
Ciências Humana, UNIP – Universidade Paulista. Ribeirão Preto, 2012.

A prática psicoterapêutica é uma das ferramentas de trabalho mais difundidas do


profissional psicólogo. Prática que tem a confiança como uma de suas premissas
básicas visando o bom estabelecimento do vínculo terapeuta-paciente para que
assim floresçam as alianças emocionais necessárias para uma boa intervenção
psicoterapêutica. O fim da relação terapêutica para o psicólogo apresenta-se de
forma ampla, através da alta, abandono, encaminhamento e, também, morte do
paciente. Muitos trabalhos tratam do fim da relação paciente-profissional da saúde
acerca do tema morte/morrer em ambiente hospitalar e o impacto disso sobre a
equipe de saúde, com foco mais direcionado aos médicos e enfermeiros. Os estudos
voltados para a psicologia tendem a buscar os desdobramentos do fim da relação
psicoterapêutica que impactam o paciente. Neste estudo foram entrevistados 10
psicólogos, sendo 5 profissionais que atuam com a abordagem psicanalítica e 5
comportamentais sobre o pós-termino da relação terapêutica, afim de identificar
suas representações sociais sobre o fim da relação terapêutica. As seguintes
categorias foram estruturadas dentro de duas áreas temáticas: 1)Temática:
Concepções sobre o luto; Categorias: a) concepção pessoal; b) vivência pessoal; 2)
Temática: O fim da relação terapêutica; Categorias: a) Compartilhando experiências;
b) experiências difíceis; c) Sinalizadores de fim da relação; d) Reação ao Abandono;
e) decidiu por não mais atender o paciente; f) A influência do psicólogo; g) Questões
financeiras. Enquanto resultados, de maneira geral, os relatos sobre as vivências
profissionais dos psicólogos de ambas abordagens são similares. Os pontos de
divergência de uma e de outra abordagem sugerem mais uma diferenciação em
decorrência do tamanho das amostras estudadas, do que uma real diferença entre
suas representações sociais. A partir deste trabalho, sugere-se que novas pesquisas
sejam realizadas com foco no profissional psicólogo. Sobretudo porque como visto
aqui e em outros trabalhos a avaliação adequada dos fatores que envolvem o
processo terapêutico ajuda a melhor compreender a relação paciente-terapeuta, e a
fornecer subsídios para melhor formação dos terapeutas, sobretudo daqueles
iniciantes.

Palavras-chave: Representação social, relação terapêutica, pós-término da


psicoterapia, luto.
e-mail: hlg25@usp.br
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO 06

1.1. Objetivos 12

1.1.1. Objetivo Geral 12

1.1.2. Objetivos Específicos 12

1.2. Justificativas 12

2. MÉTODO 13

2.1. Sujeitos 13

2.2. Instrumento 13

2.3. Aparatos de Pesquisa 14

2.4. Procedimentos do estudo 14

2.5. Procedimento de Análise dos dados 14

2.6. Considerações éticas 15

3. RESULTADOS 16

3.1. Caracterização dos sujeitos 16

3.2. Categorização das respostas 17

3.2.1 Temática: Concepções sobre o luto 19

3.2.1.1 – Concepção pessoal 19

3.2.1.2 – Vivência profissional 20

3.2.2 – Temática: O fim da relação terapêutica 22

3.2.2.1 – Compartilhando experiências 22

3.2.2.2 – Experiências difíceis 24

3.2.2.3 – Sinalizadores do fim da relação 26

3.2.2.4 – Reação ao abandono 27

3.2.2.5 – Decidiu por não atender algum paciente 29


3.2.2.6 – A influência do psicólogo 31

3.2.2.7 – Questões financeiras 32

4. DISCUSSÃO 34

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS 40

6. REFERENCIAS 42

ANEXO A – Roteiro de Entrevista Semiestruturada 48

ANEXO B – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido 49

ANEXO C – Transcrições das Entrevistas 51


6

1. INTRODUÇÃO

Segundo Santi (1998), a psicologia surge enquanto ciência a partir de duas


premissas: 1) a noção clara da subjetividade privada, isto é, a verificação de que os
sujeitos são indivíduos livres, indivisíveis, diferentes e independentes dos demais; e
2) a crise desse sujeito frente a este novo olhar sobre si.
O princípio do século XVII, concomitante ao Renascimento, foi o período no
qual tomou corpo este modo de olhar a subjetividade, instalando-se assim uma
longa crise de subjetividade que se estendeu até o final do século XIX (SANTI,
1998). É no final do século XIX que surgem justamente, os principais projetos iniciais
de Psicologia: a Psicologia Experimental de Wundt, em 1879; e a Psicanálise de
Freud, em 1900.
Wundt, essencialmente, voltou sua compreensão para a ideia de que mente e
comportamento poderiam ser objetos de análise cientifica, bem como eram as
semelhanças entre os planetas, substâncias químicas e órgãos humanos. Seus
esforços ativeram-se à compreensão dos sentidos, especialmente à visão, e seus
colaboradores estudaram também a atenção, a emoção e memória. Valendo-se de
um método para compressão dos processos mentais, Wundt fez uso da
introspecção, referindo-se à observação e registro da natureza das próprias
percepções, pensamentos e sentimentos humanos. O método da introspecção
empregado por Wundt, e herdado da filosofia, foi incrementado pela
experimentação, avaliando a experiência das percepções subjetivas conscientes à
variações de estímulos físicos, por exemplo, sua intensidade. A dimensão de
avaliação proposta por Wundt foi amplamente criticada, sobretudo por suas
limitações na avaliação de eventos mentais muito rápidos, porém tais críticas
desempenharam um papel importante no desenvolvimento de perspectivas mais
modernas para a psicologia (ATKINSON et al.,2002).
Por outro lado, nos anos de 1900, os estudos de Freud repercutiram
fortemente no campo do conhecimento psicológico, sobretudo porque suas teorias
não partiam da análise experimental acadêmica, mas sim a partir de seus
conhecimentos nos atendimentos clínicos (FADIMAN; FRAGER, 1986). Tais teorias
revolucionaram a concepção e o tratamento de problemas emocionais, contrapondo-
se no momento histórico onde o objeto de estudo, era entendido sob uma visão
mecanicista e positivista (FADIMAN; FRAGER, 1986). Entre os conceitos
7

desenvolvidos por Freud, destacam-se concepção do aparelho psíquico e a teoria


das pulsões.
Assim, o desenvolvimento da ciência psicológica, bem como suas técnicas e
métodos de tratamento dos distúrbios psíquicos, isto é, suas técnicas psicoterápicas
seguiram por caminhos adjacentes a estas duas raízes epistemológicas.
Myers (1999) e Atkinson et al. (2002) entendem a psicoterapia como uma
interação de confiança e de carga emocional entre um terapeuta treinado e alguém
que sofre de dificuldades psicológicas. A partir disso, foram desenvolvidas, por
diferentes autores, técnicas de psicoterapia sendo que estas derivam das principais
teorias da psicologia, tais como psicanálise, humanista, comportamental e cognitiva.
Para a teoria psicodinâmica, a psicoterapia busca restaurar a ruptura do
equilíbrio dinâmico, diminuindo a ansiedade e outras emoções passadas
desagradáveis que estão reprimidas, buscando trazer estes sentimentos para o nível
consciente, local onde, segundo a teoria, os problemas podem ser trabalhados
(MYERS, 1999).
Ao contrário dos terapeutas das abordagens psicanalíticas, que buscam na
compreensão dos conflitos passados a solução dos problemas relativos ao
desequilíbrio das emoções, os terapeutas humanistas focalizam o presente, o futuro
e a condição consciente para promoção da autorrealização (MYERS, 1999), isso
feito através do contato com os seus sentimentos. Dentro das terapias humanistas, a
técnica rogeriana da terapia centrada na pessoa é a mais influente. Outro braço
importante da corrente humanista segue a Gestalt-terapia.
Assim, tanto a teoria psicanalítica quanto a teoria humanística, propõem a
diminuição dos problemas psicológicos a partir do aumento do autoconhecimento
(MYERS, 1999). Em contrapartida a estas duas teorias, surge a teoria
comportamental ou behaviorista, que tem seu ponto de partida histórico nos
propostos de John B. Watson em 1924, o chamado behaviorismo metodológico, e
seu suporte atual no behaviorismo radical proposto em 1953 por B. F. Skinner.
A análise do comportamento objetiva estudar a origem e a manutenção dos
problemas comportamentais, assim como as condições para alterá-los (BANACO,
1997). Centrando-se na sistemática investigação do comportamento, busca-se
através da análise funcional, contingências (antecedentes e consequentes) que
constituem relações funcionais. Essas alteram a probabilidade de um
comportamento ocorrer (MATOS, 2001). A psicoterapia é entendida por essa
8

abordagem como um processo complexo que ocorre em um contexto interpessoal,


onde terapeuta e cliente interagem num trabalho que visa aquisição de
autoconhecimento e mudanças (SHINOHARA, 2000).
Já na terapia cognitiva as reações emocionais são fruto de interação indireta
com os pensamentos da pessoa como resposta a um evento, ou seja, não é o
evento em si que promove uma determinada reação emocional, mas sim como o
indivíduo pensa este evento (MYERS, 1999).
Atkinson et al. (2002) afirmam que independente de suas diferenças teóricas,
as psicoterapias têm características básicas comuns, tais como: o desenvolvimento
de uma relação de auxílio entre duas pessoas, o paciente (cliente) e o terapeuta; o
estímulo a discussão de preocupações de foro íntimo, de emoções e experiências
sem a apreensão sobre julgamentos e inconfidencialidade; o oferecimento de
compreensão, confiança e empatia por parte do terapeuta para auxiliar o paciente a
desenvolver modos mais eficientes de lidar com seus problemas.
No atual contexto histórico é notória a evolução na busca dos tratamentos
psicoterápicos. Não existem dados epidemiológicos sobre a busca de psicoterapia
no Brasil, mas Peluso, Baruzzi e Blay (2001) apontam para o conhecimento da
grande demanda por atendimento psicológico nos serviços públicos.
Olfson e Pincus (1994) apresentam dados epidemiológicos a respeito da
psicoterapia nos Estados Unidos e apontaram que em 1987, 3,1% da população do
país fez uso de atendimentos psicoterápicos que geraram 79.5 milhões de visitas a
um custo total de 4,2 milhões de dólares, representando aproximadamente 8% dos
gastos com cuidados médicos naquele país.
As terapias podem ser realizadas em duas modalidades básicas: individual ou
em grupo. Exceto a psicoterapia psicanalítica tradicional, todas as terapias citadas
anteriormente podem ser realizadas em pequenos grupos, sob liderança de um
terapeuta, com vantagens, como a economia de dinheiro dos pacientes e de tempo
para o terapeuta, e desvantagens, como a diminuição do grau de envolvimento da
relação terapeuta-cliente (MYERS, 1999). Porém, Fuhriman e Burlingame (1994)
afirmam que em geral a terapia de grupo apresenta-se tão eficaz quanto a terapia
individual.
Dada a diversidade das abordagens psicoterapêuticas e suas específicas
maneiras de pensar os temas de investigação, decidimos por delimitar nossas ações
9

de pesquisa apenas para duas das abordagens da psicologia: a psicanálise


freudiana e a análise do comportamento (behaviorismo).
A crescente demanda por atendimentos e o número cada vez maior de
estudos que comprovam a eficácia da psicoterapia nos revelou então, um campo de
estudo bastante investigado pelas diversas correntes psicológicas: a relação
terapêutica.
Desse tema de estudo surgem de maneira direta outras divergências na área
psicológica como, por exemplo, o conceito de relação terapêutica para cada uma
destas correntes psicológicas.
Segundo várias vertentes da psicanálise, a relação terapêutica baseia-se
fundamentalmente nos processos de transferência e contratransferência. Conceitos
descritos por Freud respectivamente em 1895 nos “Estudos sobre Histeria” e 1910
em “As perspectivas futuras da terapêutica psicanalítica” (TANOUYE, 1999).
Transferência é descrita na psicanálise como um processo constituinte do
tratamento “mediante o qual os desejos inconscientes do analisando concernentes a
objetos externos passam a se repetir, no âmbito da relação analítica, na pessoa do
analista, colocado na posição desses diversos objetos” (ROUDINESCO; PLON,
1998).
Já o mecanismo da contratransferência é descrito por Laplanche e Pontalis
(2001) como sendo mais particularmente a “transferência do analista”, ou seja, o
conjunto de reações inconscientes que partem do analista em direção ao analisado.
O conceito em si não foi bem aceito inicialmente; somente na década de 1950 os
psicanalistas passaram a dar atenção ao tema, após algumas contribuições de
Racker, Heimann, Winnicott e outros (TANOUYE, 1999).
O tema relação terapêutica foi durante muito tempo desconsiderado como
sendo de real importância para o processo psicoterápico na análise comportamental.
Para esta abordagem, o ambiente terapêutico não era considerado um ambiente
natural, com isso, esperava-se que as técnicas fossem responsáveis pela
generalização dos resultados e não o ambiente (CONTE; BRANDÃO, 1999).
Atualmente, os analistas do comportamento aplicados à clínica consideram a
relação terapêutica como ambiente natural, ou seja, é possível avaliar “ao vivo” o
comportamento do cliente durante a sessão (CONTE; BRANDÃO, 1999). O
terapeuta torna-se parte do ambiente do cliente e tem condições de apresentar-lhe
10

as consequências de seu comportamento de forma a desenvolver em seu cotidiano


interações menos aversivas que aquelas preexistentes (ZAMIGNANI, 2000).
A interação aversiva é para Skinner (1953) a característica diferencial da
relação terapêutica frente às demais relações estabelecidas pelo cliente, pois esta
deve ser de fato uma audiência não punitiva, baseada apenas na utilização de
reforçamento.
Como já exposto anteriormente, o vínculo formado entre o terapeuta e o
paciente é cercado de diversas e inevitáveis cargas emocionais, para os dois lados.
Assim, o fim da relação terapêutica pode se dar por diferentes motivos e possuir
diferentes representações sociais. Para diversos autores da comunidade
psicanalíticas, o fim da relação terapêutica é a representação de um luto (SAIGH,
2009).
Segundo Freud (1976), o luto é uma reação à perda de um ente muito
querido, diante da qual o indivíduo pesaroso mobiliza sua libido para si mesmo,
esquecendo dos acontecimentos externos. Assim, apesar da realidade provar ao
indivíduo enlutado que o objeto amado já não existe, este deixa de se interessar por
tudo que não se relacione a essa pessoa. A retirada da libido investida no ser amado
é trabalhada pouco a pouco na vivência do luto, criando condições para que o ego
volte a ficar “livre e desinibido”.
Já para abordagem comportamental, o luto é, segundo Hoshino (2006), o
“deixar de se ter o que tinha”, ou seja, a perda de reforçadores positivos. Assim, o
luto é uma reação a uma mudança ambiental que implica em um conjunto de
respostas de interação com este meio que perdeu alguns de seus reforçadores.
Todavia, observa-se que os estudos relativos ao fim da relação terapêutica
tratam do luto do paciente. Assim, faltam investigações a respeito de como o
psicólogo representa as diferentes maneiras pelas quais ocorre o fim da relação
terapêutica.
Diferentes áreas do conhecimento científico vêm ao longo dos anos
publicando artigos relativos ao fim da relação terapêutica sob a ótica do profissional
da saúde. Costa e Lima (2005) investigaram como os profissionais de enfermagem
vivenciam o luto frente à morte de crianças/adolescentes hospitalizados, através de
pesquisa descritiva-exploratória com abordagem qualitativa. Spindola e Macedo
(1994) investigaram a morte para os profissionais da área de saúde no ambiente
hospitalar.
11

Além de não encontrarmos estudos tratando do fim da relação terapêutica


para o profissional psicólogo, quase que a totalidade de estudos que encontramos
para outros profissionais da saúde tratavam do fim da relação apenas sob o
processo de morte ou morrer.
Segundo Rodrigues (2004), no âmbito da saúde, há um crescente
desenvolvimento de estudos, pesquisas e instrumentos que auxiliam o profissional a
promover o aperfeiçoamento de suas habilidades e capacitação no atendimento ao
paciente fora de possibilidades terapêuticas. O autor ressalta a produção científica
nesta área, como uma ferramenta valorosa para a prática assistencial, beneficiando
tanto os profissionais, quanto os pacientes e seus familiares
Para o profissional de psicologia, a relação terapêutica pode se encerrar por
diversas outras maneiras que não pela morte.
No presente estudo trataremos o fim da relação terapêutica de forma mais
ampla, buscando entender como as diferentes formas de encerramento desse
vínculo afetam o profissional de psicologia. Entendendo que este vínculo pode ser
encerrado por alta, abandono, encaminhamento e, também, morte.
Como fenômeno social, o fim de uma relação pode ser compreendida a partir
dos diferentes vértices que a constituem. O vértice que expõe as percepções do fim
dessa relação por parte do psicólogo é fundamentalmente carente de estudos.
Para investigar esta temática buscamos na Psicologia Social Latino
Americana o suporte referencial para este estudo, entendendo o fenômeno das
representações sociais como objeto de análise das relações humanas. Onde é
necessária uma análise do coletivo, verificando assim a troca de conhecimentos que
a representação social é capaz de promover dentro do grupo. Sendo em grupo que
tais conhecimentos são legitimados (MOSCOVICI, 2005).
De acordo com Jodelet (1985), as representações sociais são uma
modalidade de conhecimento prático, orientada para a comunicação e para
compreensão do contexto social, material e ideativo em que vivemos. Sua
manifestação é reconhecida por elementos cognitivos – imagens, conceitos,
categorias, teorias –, porém não se reduzem apenas aos componentes cognitivos.
Ao serem socialmente elaboradas e compartilhadas, as representações sociais
contribuem para a construção de uma realidade comum, possibilitando a
comunicação. Assim, apesar de ser acessado através de seus conteúdos cognitivos,
as representações sociais, enquanto fenômeno social, devem ser compreendidas a
12

partir do seu contexto de produção. Obtendo-se, assim, a dimensão simbólica e


ideológica a que servem e formas de comunicação onde circulam.

1.1. Objetivos

1.1.1 Objetivo Geral

Este estudo pretende a partir de uma análise qualitativa identificar as


representações sociais de psicólogos das abordagens psicanalistas e
comportamentais sobre o pós-término da relação terapêutica.

1.1.2. Objetivos específicos

 Identificar como aspectos sociais, econômicos e culturais poderiam influenciar


as representações sociais sobre o fim da psicoterapia para o psicólogo;
 Identificar quais tipos de representações possui o psicólogo para as diferentes
formas de fim da psicoterapia;
 Verificar se o psicólogo consegue antecipar possíveis atos de abandono da
psicoterapia por parte do paciente; e
 Identificar quais ações o profissional toma para trabalhar o fim da relação
terapêutica.

1.2. Justificativa

Durante nossa busca de referencial sobre o tema proposto, encontramos


muitos trabalhos que se propuseram a discutir o fim da relação terapêutica para
diferentes profissionais da área da saúde. Em sua maior parte, tratavam do assunto
morte, em ambiente hospitalar e o impacto sobre a equipe de saúde, com foco mais
direcionado aos médicos e enfermeiros.
O estudo do fim da relação psicólogo-paciente também já produziu uma boa
quantidade de informações quando o foco do estudo foram as representações do
paciente.
A partir do reconhecimento do conceito de saúde humana sob a luz do bem
estar dos componentes físico, psíquico e social (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA
13

SAÚDE, 1987) e da aplicação deste conceito nas políticas públicas de saúde no


Brasil, o profissional de psicologia vem adquirindo um crescente papel na atenção à
população.
Assim, o presente trabalho justifica-se não apenas pelo preenchimento de
uma lacuna no conhecimento científico, como também pela relevância deste
conhecimento produzido na melhoria das ações de saúde promovidas pelo
profissional de psicologia.

2. MÉTODO

2.1 Sujeitos

Para a elaboração do trabalho foram entrevistados 10 psicólogos 1 que atuam


na prática psicoterapêutica individual na região de Ribeirão Preto/SP, sendo 5
psicólogos de orientação psicanalítica e outros 5 de orientação analítico
comportamental. Como critério de inclusão para o estudo foi adotado o tempo
mínimo de 3 anos de experiência profissional.

2.2 Instrumento
Os dados deste estudo foram obtidos através de entrevista semi-estruturada,
que tem como característica a utilização de um roteiro de questões previamente
elaborado, que, segundo Triviños (1987), baseia-se em teorias e hipóteses que se
relacionam com o tema da pesquisa e desta forma “[...] favorece não só a descrição
dos fenômenos sociais, mas também sua explicação e a compreensão de sua
totalidade [...]” (TRIVIÑOS, 1987, p. 152).
A hora e o local da entrevista foram escolhidos pelo sujeito da pesquisa.
Desta forma, pretendeu-se que esta fosse conduzida com flexibilidade e
possibilitasse que os participantes falassem livremente sobre suas representações
sociais do tema em tela.

1
Durante a elaboração do projeto foi proposta a realização de 12 entrevistas, sendo 6 entrevistados de cada
abordagem terapêutica. Entretanto, na fase final do estudo um dos integrantes do grupo de pesquisa abandonou a
disciplina, e por já nós encontrarmos em fase de análise de dados não foi possível realizar as entrevistas que
completariam a proposta inicial para o estudo.
14

O roteiro de questões (ANEXO A) foi construído pelos pesquisadores para


obter relatos sobre as representações sociais de psicólogos psicanalistas e
comportamentais acerca o pós-término da relação terapêutica.

2.3 Aparatos de Pesquisa

Foram utilizados nesta pesquisa: caneta, lápis, gravador e caderno de notas.

2.4 Procedimentos do estudo

O procedimento de obtenção de sujeitos para o estudo foi feito em duas


etapas: a primeira, um convite preliminar para participação do estudo, utilizando a
técnica da bola de neve (BIERNACKI; WALDFORD, 1981), que consiste em
identificar voluntários dentro das próprias redes de contatos do grupo de pesquisa, e
a segunda etapa, a obtenção do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
(TCLE – ANEXO B) e Entrevista.
Na primeira etapa do estudo verificamos o interesse do sujeito em participar,
e nos casos positivos solicitamos que o participante agendasse um local e a hora
para a realização da segunda etapa, obtenção do TCLE e realização da entrevista.
Desta forma buscamos garantir ao entrevistado seu conforto, segurança e sigilo.
Ressaltamos aos entrevistados que as entrevistas seriam gravadas e transcritas
posteriormente, e que teriam acesso a estes arquivos apenas os pesquisadores que
fizessem parte do estudo, bem como seus nomes não seriam citados em nenhum
trabalho ou publicação.

2.5 Procedimento de Análise dos dados

As entrevistas obtidas foram transcritas na íntegra e analisadas sob o


referencial metodológico da Análise de Conteúdo Temática (GOMES, 1994), o que
implica que após as entrevistas foram feitas a organização, exploração e
interpretação do material obtido. Os dados obtidos foram analisados sob o enfoque
qualitativo, buscando identificar no discurso as ideologias, tendências e
15

determinações das representações sociais de psicólogos sobre o pós-término da


psicoterapia.
De acordo com Bardin (2002), esta metodologia para análise do discurso,
Análise de Conteúdo Temática, assegura ao estudo a objetividade, sistematização e
influências aplicadas aos discursos diversos. Segundo o mesmo autor, o objeto da
análise de conteúdo é a palavra, desvendar o que há por trás das palavras: os
núcleos de sentido.
Segundo Bardin (2002), a descoberta destes núcleos de sentido passa por
três etapas de tratamento dos dados coletados:
 Pré-análise – nesta fase podemos entender como ponto central a
leitura flutuante do material coletado, a seleção dos relatos transcritos
de entrevista, a formulação das hipóteses e objetivos, a identificação
de índices e elaboração de indicadores e a formatação o material;
 Exploração do Material – é uma fase de codificação, na qual os
dados são agregados em unidade de registro e contexto, onde são
necessários alguns cuidados para garantir uma boa categorização, tais
como: homogeneidade, exclusão mútua, pertinência, fidelidade,
objetividade e produtividade; e
 Tratamento dos resultados obtidos e interpretação – esta fase
permite a constituição dos dados de acordo com a dimensão teórica
que se deseja, quantitativo e/ou qualitativo. Também comporta um
olhar sobre apontamentos do indivíduo ou da amostra (sujeitos).

2.6 Considerações éticas

Este trabalho foi delineado e executado obedecendo-se aos parâmetros


estabelecidos pela resolução do Conselho Nacional de Saúde (CNS) de número
196/96 (BRASIL-MS/CNS, 1996). Desta forma, dado o caráter questionador do
estudo, e por tratar-se de um tema tangente ao fim de uma relação social, que
poderia rememorar possíveis sentimentos conflituosos, entendemos que essa
proposta de estudo enquadrou-se na categoria de risco mínimo. Assim, caso o
entrevistado sofressem algum tipo de desconforto, físico ou psíquico, durante a
entrevista estava prevista a imediatamente interrupção da entrevista, preservando
assim o entrevistado e lhe prestando o acolhimento necessário. Caso fosse possível,
16

e o participante consentisse, a entrevista seria retomada, e ou agendaríamos uma


nova data e horário para nova entrevista.
A obtenção do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE - ANEXO
B) foi feita, em documento de consentimento devidamente aprovado pelo Centro de
Estudos e Pesquisa em Psicologia e Pedagogia (CEPPE); após leitura do Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido, foi feita a explicação completa dos objetivos da
pesquisa e o esclarecimento aos sujeitos dos aspectos legais, éticos e quaisquer
dúvidas que tivessem sobre o estudo que participariam.
Durante a obtenção do TCLE os sujeitos foram informados que as entrevistas
seriam gravadas, transcritas e analisadas.

3. RESULTADOS

3.1 Caracterização dos Sujeitos

Os 10 sujeitos participantes desta pesquisa caracterizam-se conforme


apresentado na TABELA 1 e TABELA 2, abaixo:

Tabela 1 – Caracterização dos Psicólogos – Analistas do Comportamento.


Duração
Tempo de Atende Local da
Sujeito Sexo Cidade da
Experiência (faixa etária) entrevista
entrevista
Adolescentes Ribeirão Residência da
CPT1 F 11 anos 18’00”
Adultos Preto/SP entrevistada
Adolescentes Ribeirão Residência da
CPT2 F 7 anos 22’11”
Adultos Preto/SP entrevistada
Consultório
Crianças Ribeirão
CPT3 F 6 anos do 21’46”
Adultos Preto/SP
entrevistada
Crianças Consultório
Ribeirão
CPT4 M 3 anos Adolescentes do 35’19”
Preto/SP
Adultos entrevistado
Consultório
Crianças Ribeirão
CPT5 F 3 anos do 38’42”
Adolescentes Preto/SP
entrevistado
17

Tabela 2 – Caracterização dos Psicólogos – Abordagem Psicanalista.


Duração
Tempo de Atende Local da
Sujeito Sexo Cidade da
Experiência (faixa etária) entrevista
entrevista
Consultório
Adolescentes Ribeirão
PSI1 M 29 anos do 37’42”
Adultos Preto/SP
entrevistado
Adolescentes Ribeirão Residência da
PSI2 F 30 Anos 27’20
Adultos Preto/SP entrevistada
Consultório
Adolescentes Ribeirão
PSI3 F 7 Anos do 24’12”
Adultos Preto/SP
entrevistada
Adolescentes Ribeirão Trabalho da
PSI4 F 9 anos 19’23”
Adultos Preto/SP entrevistada
Crianças Consultório
Ribeirão
PSI5 M 7 Anos Adolescentes do 31’12”
Preto/SP
Adultos entrevistada

3.2 Categorização das respostas

A forma como os indivíduos elaboraram suas respostas para os


questionamentos deste trabalho é produto da maneira como os mesmos refletiram,
argumentaram e verbalizaram suas percepções a respeito do final da relação
terapeuta-paciente em sua atuação profissional. A Análise de conteúdo temática
permitiu a identificação de duas áreas temáticas: 1) Concepções sobre o luto; 2) O
fim da relação terapêutica.

As categorias apresentadas para cada área temática como resultados deste


trabalho são representações das vivências de cada um. No intuito de proporcionar
uma melhor compreensão das categorizações, excertos das entrevistas serão
apresentados a seguir, agrupando-os em suas devidas categorias e subcategorias.
18

Quadro 1 – Quadro de Categorização


Nº de Citações Nº de Citações de
Área Temática Categorias Subcategorias de psicanalistas Comportamentalistas
Processo para o desenvolvimento 2 2
Concepção Pessoal Luto: Difícil processo 2 2
Luto: Condição onipresente 1 1
O luto do paciente - 2
Concepções sobre o Luto Parte de processo terapêutico 2 1
Mudança da carreira 1 1
Vivência profissional
Momento de avaliação - 1
Mobilizador de dificuldades profissionais 1 1
Tema de estudo 1 -
Em supervisão - 3
Compartilhando Em terapia 1 -
experiências Em supervisão e terapia 3 2
Não houve demanda - 1
Abandono 4 2
Inexperiência do Terapeuta 1 1
Experiências difíceis Suicídio 1 -
Decisão dos pais (atendimento a crianças) 1 1
Morte do paciente - 1
Ameaças de abandono 1 -
Falta de adesão 1 1
Sinalizadores de fim
Dificuldade de envolvimento 1 3
da relação
O fim da relação Avaliação do terapeuta - 1
terapêutica Comunicação direta - 1
Aceitação 2 -
Reação ao abandono
Tenta contato 3 5
Limitações pessoais em relação à demanda do 3 -
Decidiu por não mais paciente.
atender algum Decisão terapêutica 1 2
paciente Alta - 2
Nunca aconteceu 1 2
Falta de comprometimento - 1
A influência do
Problemas no manejo clínico 3 2
psicólogo
Dificuldades emocionais do terapeuta 1 -
Questões Negociação 3 5
Financeiras Justificativa para parar a terapia 1 -
19

3.2.1 TEMÁTICA: CONCEPÇÕES SOBRE O LUTO

3.2.1.1 – CONCEPÇÃO PESSOAL


3.2.1.1.1 – Processo para o desenvolvimento

“O luto... eu acho que é um processo extremamente importante para


tudo. Se você não consegue fazer o luto, você fica impedido em vários
tipos de desenvolvimento.” (PSI2)

“O luto é uma possibilidade saudável, onde a pessoa sente tristeza, é


um percurso natural da mente humana, a nós passamos por uma perda,
onde temos que elaborar esta perda, para poder ganhar uma outra
coisa, sendo assim durante a vida temos vários lutos e com isso vários
amadurecimentos.” (PSI 5)

“Então eu entendo o luto com uma fase maior, uma fase de


transformação. Que tem um sofrimento, mas também tem um
crescimento muito grande a partir disso. Mesmo na perda de alguém. Se
você perde alguém, você sofre, mas partir daquilo você amadurece,
ganha algumas coisas.” (CPT1)

“É um momento em que precisamos do tempo para nos ajudar a lapidar


a dificuldade, mas ao mesmo tempo é importante que você tenha um
repertório de comportamentos para preencher a sua vida que segue e
continuar da melhor maneira possível, até mesmo por ser um processo
natural.” (CPT 5)

3.2.1.1.2 – Luto: difícil processo

“Eu não acho fácil trabalhar o luto e nem viver o luto.” (PSI4)

“Do ponto de vista pessoal o que me vem a cabeça é muita tristeza,


muita tristeza, uma época difícil, de dor, e não sei, acho que é isso que
me vem mesmo.” (PSI3)
20

“Eu acho que tem vários tipos de luto, tem o luto por morte que foi uma
pessoa muito importante que eu perdi que foi meu avô quando eu tinha
18, 19 anos que foi quando eu tive meu primeiro contato com isso, né,
foi bem difícil e assim, era uma relação boa e acabou sendo superado
né.” (CPT2)

“Pessoal tá. [...].eu acho que é difícil para todo mundo, mas é um pouco
difícil de lidar, as pessoas geralmente não gostam de conversar muito
sobre isso.” (CPT3).

3.2.1.1.3 – Luto: Condição Onipresente

“Eu acho que o luto é uma experiência que a gente está vivendo o tempo
todo. Na vida e no trabalho. Na vida, por razões mais óbvias, porque a
gente nunca tem certeza de ganho. A gente tem muita perda na vida. E
no trabalho, a gente está lidando com isso o tempo todo, porque ou o
paciente está ali correndo o risco de interromper, ou por resistência, ou
porque não está dando certo mesmo.” (PSI 1)

“Para mim o luto faz parte do processo de convivência com a perda. Até
porque eu estou vivendo isso recentemente. Meu pai está em coma à
dois meses [...]. Mas viver o luto primeiro que a gente percebe que estas
fases, passar pelas fases do luto é inevitável.[...]. Mas o luto é um
processo natural.” (CPT4)

3.2.1.2 – VIVÊNCIA PROFISSIONAL


3.2.1.2.1 – O luto do paciente

“Isso varia muito, porque a gente sempre vai levar em conta pra analisar
a questão do luto a história de vida daquele cliente, as contingências que
aquele cliente está inserido né, então a gente vai lidando com isso de
uma maneira bem específica dependendo de cada cliente que a gente
vai tendo.” (CPT 3)
21

“Com respeito em primeiro lugar. Procurar entender se esse luto está


transitando normalmente ou se ele ficou preso a este luto em algum
momento, e em qual fase deste luto ele está.” (CPT4).

3.2.1.2.2 – Parte do processo terapêutico

“O objetivo do terapeuta e do analista é se tornar inútil. Isso significa que


quanto melhor for o trabalho com o paciente, com certeza eu vou me
tornar desnecessário ou inútil para ele. Então, quem vai trabalhar na
área tem que se haver com isso.” (PSI2)

“O luto acontece frequentemente, porém num paciente que as coisas


vão evoluindo e andando bem é mais tranquilo, ou seja, a pessoa esta
caminhando para o término de um processo de análise.” (PSI5)

“É importante trabalhar esse fim para que ele seja menos sofrido o
possível, pois existe a questão do vínculo para o paciente.” (CPT5)

3.2.1.2.3 – Mudança da carreira

“Então quando eu penso em luto pessoal, eu penso na perda de alguém,


quando eu penso em luto profissional como as minhas experiências são
sempre, foram sempre muito relacionadas a opções eu acho que não
causam tanta dor assim, é mais uma questão de reflexão isso, sobre um
caminho que tem mais a ver com minha área, que eu gosto.” (PSI3)

“Nas situações profissionais tem isso que eu disse das mudanças da


carreira.” (CPT1)

3.2.1.2.4 – Momento de avaliação

“Sei lá um momento de alta de um paciente, quando uma pessoa


desiste. Que eu acho que é um momento mais difícil. Quando desiste
22

você fica pesando. Eu sempre tenho este cuidado de pensar. Qual foi o
meu papel nisso? Ou não. É o momento da pessoa. Eu tento sempre
fazer uma análise cuidadosa para entender esse processo.” (CPT1)

3.2.1.2.5 – Mobilizador de dificuldades profissionais

“As vezes muito mal, mas isso acho que é meio geral, agora eu,
particularmente, tenho uma dificuldade muito grande com essa história”.
(PS1)

“Teve um paciente que encerrar a terapia foi muito difícil. Era um caso
que o paciente que usava drogas tinha sido abandonado pela família, foi
muito difícil passar por isso, pois eu tive que encerrar a terapia, pois eu
ia voltar para Ribeirão Preto. Foi um paciente que eu atendi na faculdade
e depois ele seguiu tratando comigo. Como eu era uma figura importante
na vida dele, e a experiência em lidar com essas situações era pouca, foi
difícil lidar com minhas preocupações.” (CPT2)

3.2.1.2.6 – Tema de estudo

“Eu sempre me interessei muito pelo tema morte. Eu estudei a morte e o


luto nos textos de Freud. Eu convivo muito com isso porque eu trabalho
em hospital, então a gente tem perdas. Eu acho assim, eu sempre
considerei um tema interessante e de difícil abordagem”. (PS4)

3.2.2 – TEMÁTICA: O FIM DA RELAÇÃO TERAPÊUTICA

3.2.2.1 – COMPARTILHANDO EXPERIÊNCIAS


3.2.2.1.1 – Em supervisão

“Na época em supervisão a gente entendeu que ela fazer terapia comigo
estava sendo pior para ela, e ai eu tive que ter essa conversa com ela.”
(CPT1)
23

“Precisei conversar com meu supervisor. Eu atendia o paciente e depois


a minha supervisora tinha que aguentar as minhas angústias.” (CPT2)

“Sim. [...] Porque ai os pais acabam tomando algumas decisões que não
ficam sobre o controle do terapeuta [...].Então os casos que me fizeram
discutir em supervisão a questão de perda mesmo, foram nesse sentido
né.” (CPT3)

3.2.2.1.2 – Em terapia

“Faço análise, quatro vezes por semana, faço análise há um bom tempo
na minha vida e discuto sim essas questões, pois acho que a pessoa
continua pensando na gente e a gente continua pensando na pessoa.”
(PSI5).

3.2.2.1.3 – Em supervisão e terapia

“Teve uma criança que eu atendi no aprimoramento, quando eu fui


contratada no HC eu precisei ficar mais uns seis meses com ela, eu
precisei terminar o atendimento.[...] E em supervisão a gente achou que
precisava parar e encaminhar ela porque não ia dar certo.[...] E agora na
minha gravidez eu tive de dispensar os meus pacientes, tive que
encaminhá-los porque eu não tinha a certeza de que eu ia voltar.[...]
Então estes dois casos foram sim tema ai da minha análise.” (PSI4).

“Mas eu acho que a gente aprende muito quando consegue


compreender o que fez um paciente parar um trabalho que ainda não
estava na hora de parar. Ai, a gente se utiliza tanto da análise, quanto da
supervisão. As duas são importantes nesse caso.” (PSI1)

“Sim várias vezes. Eu não lembro exatamente, nesses trinta anos,


quantos foram levados para a supervisão ou análise.” (PSI2)
24

“Eu acho que varias questões me fizeram discutir assim em terapia e


supervisão. A primeira é o quanto que a gente se vê esquivando de se
viver essa experiência de perda né?” (CPT3)

“Sim, tanto levei para minha supervisão, quanto para a minha terapia.
Aliás, estas duas coisas não podem faltar para um profissional da área
clínica.” (CPT5)

3.2.2.1.4 – Não houve demanda

“Então eu ainda não tive necessidade de recorrer a uma supervisão para


este processo.” (CPT4)

3.2.2.2 – EXPERIÊNCIAS DIFÍCEIS


3.2.2.2.1 – Abandono

“É quando acontece o abandono, a interrupção abrupta, muitas vezes


atribuída a uma questão de dinheiro, que muitas vezes não é isso.”
(PSI1)

“Mas às vezes nos surpreende, alguém que você está pensando que o
trabalho está indo bem e, abruptamente, a pessoa para.” (PSI2)

“[...] mas eu acho que a pior é quando você não sente nenhum sinal, é
algo muito inesperado, e que a pessoa faz sem dar chance de falar,
some e ainda deve, ai é uma mistura de sentimentos que dá, eu acho
que essa é a pior” (PSI3)

“O impasse, [...] o paciente argumenta questões para sair, mas que


para o terapeuta não faz sentido, e isso é muito ruim, tanto pra mim
quanto pra ele, pois o rompimento acontece sem que haja um comum
acordo, mas temos que respeitar qualquer decisão do paciente.” (PSI5)
25

“O mais difícil de se lidar neste processo pra mim como terapeuta, é


quando o paciente abandona o processo sem justificativa ou motivo.”
(CPT4)

“Eu acho que é quando a pessoa sai da terapia sem dar um feedback
pro terapeuta.” (CPT3)

3.2.2.2.2 – Inexperiência do terapeuta

“Bom pra mim foi quando eu não me sentir assim em condições mesmo
de atender.” (PSI4)

“Uma coisa difícil é se imaginar pouco assertivo na hora do


entendimento. Pensar que o paciente possa desistir por falta, por não
ter experiência suficiente, mas acho que isso é uma coisa associada a
falta de experiência.” (CPT2)

3.2.2.2.3 – Suicídio

“Ou quando o paciente, por exemplo, se mata. Eu acho que essa é a


forma mais difícil.” (PS2)

3.2.2.2.4 – Decisão dos pais (atendimento a crianças)

“Porque quando a mãe não quer mais trazer não tem mais o que fazer.
Às vezes você não tem uma ultima sessão com a criança, nem se
despediu.” (PSI4)

“O rompimento mais difícil é quando o trabalho é rompido pelo fato dos


pais ou responsável, não apresentar disponibilidade por diversos
motivos.” (CPT5)
26

3.2.2.2.5 – Morte do paciente

“No HC eu tralhava na geriatria e na cardiologia. Então lá eu tive vários


términos de relação por causa de morte do paciente. [...] Apesar de a
gente trabalhar no hospital na época, mesmo assim é difícil.” (CPT1)

3.2.2.3 – SINALIZADORES DO FIM DA RELAÇÃO


3.2.2.3.1 – Ameaças de Abandono

“O paciente está o tempo todo te dando dicas, que ele só vai ficar ali se
estiver muito suprido. Ele ameaça a gente.” (PS1)

3.2.2.3.2 – Falta de adesão

“Essa questão esta muito ligada à maturidade que você vai adquirindo
como terapeuta com o tempo, pois no começo você é mais flexível,
aceita mais as faltas e outras questões, já com o tempo, quando você
percebe que a pessoa esta começando a ir para o caminho de
interromper você já age de outra maneira.” (PS5)

“Sim. Pelas faltas recorrentes.” (CPT2)

3.2.2.3.3 – Dificuldades de envolvimento

“Eu acho que sim, em alguns casos sim. A gente percebe muitas vezes
no envolvimento do paciente assim com o atendimento, com você, vai
surgindo alguns sinais. É claro que cada um vai sinalizar de um jeito,
mas um certo distanciamento.” (PSI3)

“Ah! Sim. Existe clareza. A pessoa tem bastante dificuldade de falar


mais dela, de aprofundar nos temas. Então dá para perceber que ela tá
rodeando num mesmo assunto. Então ela não consegue aprofundar.
Não consegue discutir.” (CPT1)
27

“Às vezes o paciente não se coloca muito presente na sessão, tem


dificuldade de trabalhar algumas questões.” (CPT2)

“Uma cliente que procurou porque ela estava com problemas no


trabalho e ai a hora que foi vendo que ela também teria que fazer
algumas mudanças pra melhorar esse relacionamento ela sumiu. Ela
sumiu, não atendia mais o telefone, não voltava no retorno.” (CPT3)

3.2.2.3.4 – Avaliação do terapeuta

“Isso depende do paciente, mas da pra você ver do ponto de vista


comportamental é muito importante a gente ter uma leitura corporal do
paciente. Da coerência entre o comportamento verbal dele, e o
comportamento gestual.” (CPT4)

3.2.2.3.5 – Comunicação direta

“Sim, as crianças às vezes são diretas e falam sobre isto, por estar
desmotivada, por querer fazer outra atividade neste período. Outras
situações é que os pais sinalizam querer parar, pois o tempo da criança
está complicado, dificultando vir a terapia ou até mesmo o tempo dos
pais.” (CPT5)

3.2.2.4 – REAÇÃO AO ABANDONO


3.2.2.4.1 – Aceitação

“Eu não faço nada. Respeito. A pessoa tem direito de ir e vir quando
ela quiser.” (PSI1)

“Permitindo que o paciente faça o que ele quiser, ligar para o paciente
pode ser pior e nós ficamos quietinhos, pode ser que o paciente
retorne, pode ser que não, mas o paciente sabe que você vai estar ali,
caso ele precise retornar” (PSI5)
28

3.2.2.4.2 – Tenta contato

“Eu acho que eu ligaria para saber e se ela realmente parou, não há à
ser feito. Pois quando a pessoa vem e comunica, você tem chance de
entender melhor a situação, que pode ficar melhor tanto para você
como para o paciente. Mas se o paciente simplesmente abandona, não
há o que fazer.” (PSI2)

“Eu acho que depende também, em geral eu espero um pouco, eu


espero umas três semanas, o paciente não sinalizou não se
manifestou, nada, eu tento entrar em contato por telefone, pergunto se
ele ainda tem interesse em continuar, se eu podia entender que aquilo
é um sinal de que ele não viria mais e me coloco a disposição para
quando ele precisar ele então volte a entrar em contato, essa forma é
uma forma mais ou menos padrão né?” (PSI3)

“Como eu trabalho muito com criança, sei lá de repente parou de vir.


Eu nunca deixei de ligar, eu ligo na hora da sessão pra família e peço
para falar com a criança e pergunto: Olha, eu fiquei te esperando, eu
estou aqui no seu horário, o que foi que aconteceu? Então todas as
sessões que há falta eu nunca deixei de ligar. Sempre ligo.” (PSI4)

“Eu entro em contato com a pessoa. Pode acontecer da pessoa não ir


mais né. Ela simplesmente some. Então eu mesma ligo. Pergunto para
pessoa o que está acontecendo. Se ela falar: Ah acho que eu não vou
mais. Eu tomo o cuidado de sempre tentar marcar uma sessão de
encerramento, para finalizar o processo, avaliar o que ela conseguiu
até o momento, até a necessidade de continuar. Verificar se ela quer
um encaminhamento, então eu faço esse encaminhamento. Então eu
tento sempre fazer esta sessão de finalização.” (CPT1)

“Eu tento ligar, saber o que aconteceu. Converso um pouco pelo


telefone, mas o que é mais importante é que eu ligo para convidar para
29

uma sessão de encerramento. É importante fazer isso, tem uma função


colocar para o paciente o que foi feito até o momento.” (CPT2)

“O que eu costumo fazer, quando eu vejo que a pessoa parece que


não vai vir mais, eu sempre ligo, tento falar, me coloco a disposição.”
(CPT3)

“Eu ligo, eu procuro entrar em contato de varias formas, eu mando


email e peço para ele entrar em contato novamente e peço para vir
pelo menos uma vez, porque a gente teve uma sessão para começar,
então venha explicar pelo menos o que esta acontecendo , porque
você esta saindo.“(CPT4)

“Eu procuro entrar em contato por telefone, às vezes o histórico da


pessoa, nos informava que isso poderia acontecer. De maneira geral
eu procuro saber e conversar sobre, seja por telefone, pois é
importante fazermos um movimento, sem insistirmos, mas demonstrar
comprometimento com o caso e se possível negocia isto.” (CPT 5)

3.2.2.5 – DECIDIU POR NÃO ATENDER ALGUM PACIENTE


3.2.2.5.1 – Limitações pessoais em relação à demanda do paciente

“Eu estava sendo sincera, verdadeira não só com ela mas comigo, de
não me propor a fazer uma coisa que eu não achava que eu
conseguiria.” (PS3).

“O atendimento eu terminei por falta de condição minha mesmo de


continuar atendendo do que por acabar. E foi muito difícil, na verdade
ela era muito parecida comigo, ela era uma criança que me remetia a
criança que eu fui.” (PS4)

“Eu mesmo acabei me afastando, era um caso de um paciente


alcoolista muito caótico, a pessoa chegava bêbada na sessão, eu
sentia um desprezo muito grande, a mãe dele me procurou, eu
30

disfarcei e de alguma forma e quis dizer que não dava, não se hoje eu
faria isso, mas também não sei se hoje eu aceitaria pegar este caso,
este é problema do recém-formado, você aceita tudo o que aparece.”
(PS5).

3.2.2.5.2 – Decisão terapêutica

“A pessoa te dá indícios e acontece de ela te dizer. Te mostrar, não te


dizer, que ela, assim como uma pessoa que está em crescimento, que
ela precisa de uma ajuda para ser “mandada embora”, que ela não
seria capaz de fazer isso sozinha então eu já “pus para correr”. Mas
isso não porque eu “pus ela para correr”, é porque ela me deu sinais de
que era importante eu fazer isso, se não ela ficaria um tempo a mais do
que ela precisava.” (PS1).

“Sim, teve uma vez que eu decidi finalizar o processo terapêutico por
perceber que a relação comigo estava sendo prejudicial para a cliente.”
(CPT1).

“Em supervisão, a supervisora e eu decidimos que a gente não ia


prosseguir a terapia.” (CPT3)

3.2.2.5.3 – Alta

“Apenas por alta” (CPT4)

“É muito boa a sensação, pois os objetivos foram alcançados. É muito


bom você mostrar ao paciente como ele está se comportando frente às
situações antes problemas, os seus sentimentos, as consequências de
hoje em dia, como estão diferentes. Isso é também um exercício de
autoconfiança que você trabalha com o paciente, para ele sair da
terapia disposto a seguir lá fora de forma autônoma.” (CPT5)
31

3.2.2.5.4 – Nunca aconteceu

“Conscientemente, acho que a decisão nunca partiu de mim.” (PS2).

“Eu desistir de um paciente, nunca. Isso nunca aconteceu”. (CPT1)

“Sempre que encontrei minhas dificuldades pessoais e busquei


trabalha-las pessoalmente, em terapia ou supervisão. Realmente não
tive que encaminhar alguma paciente por limitação.” (CPT2).

3.2.2.6 – A INFLUÊNCIA DO PSICÓLOGO


3.2.2.6.1 – Falta de comprometimento

“A principal razão é realmente a falta de comprometimento com o


paciente. É sempre uma situação em que você está sendo avaliado
também pelo paciente, então a falta de comprometimento é percebido
pelo paciente.” (CPT2)

3.2.2.6.2 – Problemas no manejo clínico

“Eu acho que sempre tem alguma participação da gente. A relação é


de dois. Impossível... às vezes a gente pode detectar isso mais
facilmente, às vezes não dá, porque esbarra em algum ponto cego
que a gente tem. (PSI2)

“Eu acho que em psicanálise acontece muito isso, por que: “Ah, você
fala com a minha filha e não fala comigo”. Então o psicólogo precisa
dar retorno. Tô falando de retorno. Precisa dar retorno para os pais.”
(PSI4)

“Acho que todas as situações você tem influencia né, se você é muito
maleável ou se é muito rígido, se você vai auxiliá-lo negociando a
questão financeira.” (PSI5)
32

“Teve uma situação. É isso do momento da pessoa né? Então era


uma pessoa que tinha um transtorno grave, e que eu e o psiquiatra,
nos atendíamos bem em sintonia, conversávamos bastante. E ele deu
uma orientação para a pessoa, sobre desligar o computador, que ela
estava em um momento bem obsessivo com computador. Eu dei a
mesma orientação, só que aí comigo ela não reagiu tão bem. Por que
ela já estava brava com o psiquiatra, e também ficou brava comigo.
Eu fiz todo o processo de finalização. Até dei um suporte por telefone
por um tempo para a pessoa, mas acabou assim.” (CPT1)

“Eu acho que tem coisas no nosso comportamento, principalmente


quando a gente está com um cliente que sofre muito, se a gente não
for muito enfático, muito acolhedor, a pessoa não fica.” (CPT3)

3.2.2.6.3 – Dificuldades emocionais do terapeuta

“Eu acho que é quando o psicólogo não consegue mais lidar com
algum conflito ou alguma emoção, alguma reação que o paciente tem
e que vai te cutucar.” (PSI3)

3.2.2.7 – QUESTÕES FINANCEIRAS

3.2.2.7.1 – Negociação

“Acho que das várias vezes que aconteceu de um paciente que estou
atendendo passar por uma situação difícil financeira e querer parar
por isso, eu sempre oferecia a possibilidade de negociar o preço, ou
de ele ficar devendo e na hora que a situação melhorar, me pagar.
Como forma de ele poder continuar.” (PSI2)

“Na relação comigo, por exemplo, isso não necessariamente é o fim.


Eu não sou de baixar o preço, eu respeito minimamente a tabela dos
psicólogos. Acho que não precisa atender barato para conseguir
33

cliente, eu nunca fiz isso. Então não é isso, negociar como vai pagar,
dá pra negociar para que este não seja o motivo” (PSI4)

“O que mais influencia são os conflitos ente o terapeuta e paciente,


mais do que qualquer coisa, mais que a questão financeira, hoje eu
afirmo isso, quem quer fazer de fato terapia, de um jeito, negocia”
(PSI5)

“Agora, quando já começaram pode acontecer da pessoa ter uma


dificuldade financeira, sei lá, porque foi mandada embora do trabalho
ou porque a empresa que tem não está bem. Quando essas coisas
acontecem eu tento ao máximo negociar a terapia, pois já iniciei a
terapia com a pessoa a acho importante finalizar.” (CPT1)

“Como eu já disse anteriormente é, mas pode ser discutido para


pensar em uma condição possível para os dois lados. Existe um
limite, pois não pode ser um novo problema para o paciente, nem algo
que traga uma insatisfação para o terapeuta.” (CPT2)

“Eu sempre tento deixar isso muito claro, de que se a pessoa estiver
passando por algum problema é melhor a gente renegociar do que
interromper o atendimento, porque eu sei que a pessoa está
precisando.” (CPT3)

“Eu falo sobre o valor da sessão. Então eu faço uma primeira sessão
onde eu não cobro e que não tem duração muito bem definida,
geralmente entre uma hora e meia e até duas horas. Até para que a
paciente diga o quanto a questão financeira pesa para ele. Se pesa
eu peço para que ele faça uma proposta que seja dele. Mas que isso
não seja uma espécie de leilão. Então a gente define isso e
estabelece um prazo para rever isso.” (CPT4)
34

“E nesta hora o melhor a ser feito, é conversar, entender a realidade


da pessoa, se de fato ela está sem condições sendo este o motivo, o
melhor caminho é buscar uma alternativa negociando.” (CPT5)

3.2.2.7.2 – Justificativa para parar a terapia

“Eu acho que sim, eu acho que sim, mas também acho que as vezes
ele é o motivo mais socialmente aceito, então é fácil de se justificar o
término por isso do que entrar em outras questões da relação, então é
o que se dá pra falar, porque se imagina que é o que melhor é
ouvido.” (PSI3)

4. DISCUSSÃO

Esta pesquisa teve como objetivo identificar as representações sociais de


psicólogos das abordagens psicanalíticas e comportamentais sobre o pós-término
da relação terapêutica.
Baseados no conceito de representações sociais proposto por Moscovici
(2005, p.10), de que as representações sociais são:
“entidades quase tangíveis. Elas circulam, se entrecruzam e se
cristalizam continuamente através de uma palavra, dum gesto ou de
uma reunião, em nosso mundo quotidiano. Elas impregnam a maioria
das nossas relações estabelecidas, os objetos que nós produzimos
ou consumimos e as comunicações que estabelecemos”.
A partir dos relatos obtidos é possível distinguir dois grupos horizontes para
significação do processo do luto, um que se projeta sobre as vivências pessoais do
terapeuta e outro que se concentra na avaliação quanto profissional terapeuta.
Sob o ponto de vista das vivências pessoais, podemos notar que há uma
consonância entre as abordagens terapêuticas avaliadas no que concerne a
enxergar o luto como uma condição onipresente, de difícil vivência, mas que é parte
do desenvolvimento do ser humano. Já o processo do luto avaliado sob a ótica
profissional, isto é, como o fim da relação terapêutica, foi citado como parte do
processo terapêutico, que é avaliado tomando-se por base a situação do paciente,
sendo importante mobilizador de dificuldades profissionais que servem para uma
35

avaliação da atuação e da carreira. O luto também se constitui como um tema de


estudo nas suas mais diversas possibilidades (luto como morte e morrer; luto como
perda material; ou luto como fim de uma relação interpessoal).
Quanto às vivências profissionais, de maneira geral, os relatos dos psicólogos
das duas abordagens estudadas são bastante similares. Os pontos de divergência
de uma e de outra abordagem sugerem mais uma diferenciação em decorrência do
tamanho das amostras estudadas, do que uma real diferença entre suas
representações sociais. Essa hipótese é melhor visualizada ao avaliarmos as
entrevistas por completo e não apenas sobre seus diversos trechos.
Rebelo (2003) encontrou logo nos primeiros trabalhos de Freud – mais
precisamente em seus escritos dirigidos a Fliess de 1888 a 1893 - o tema sobre luto,
abordando a Melancolia e as Neuroses de Defesa. Segundo a autora, o tema foi
retomado apenas dezesseis anos depois, em Cinco Lições de Psicanálise (1909),
Contribuições para uma Discussão Sobre o Suicídio (1910) e Totem e Tabu (1913).
Freud desenvolve esse tema com mais profundidade somente em 1915 em Luto e
Melancolia.
A primeira referência de Freud ao luto considerou-o como “o desejo de
recuperar algo que foi perdido” (Freud, 1987, Vol. I, p. 247 apud REBELO, 2003). O
luto é referido como o afeto correspondente a este estado psicológico. O afeto é “a
expressão qualitativa da quantidade de energia pulsional e das suas variações”.
(LAPLANCHE & PONTALIS, 1990 apud REBELO, 2003). A pulsão exprime-se
sempre pelo afeto e pela representação a que se liga. Dessa forma, a pulsão (por
vezes referida como instinto) - descrita como a força biológica, inata, que origina a
dinâmica psicológica-, dá lugar à tensão, a qual impele o organismo para atividades
que provocam descargas, proporcionando prazer. Para Freud, “o luto ocorre sob a
influência da prova da realidade” (Freud, 1987, Vol. XX, p. 167), dado que é exigida
à pessoa enlutada a separação do objeto de vinculação, pela sua não mais
existência. No luto observa-se que é necessário que a libido se desprenda do objeto
perdido.
Para a análise do comportamento o luto refere-se principalmente à perda de
reforçadores positivos e à inserção de aversivos, tais como não ter mais contato com
a pessoa ou com o local onde se tinha relações de prazer e, também, relatar
situações de perdas pessoais ocorridas consigo mesmo. Além disso, para que os
comportamentos relacionados ao luto sejam modificados, é importante avaliar a
36

história de vida do indivíduo quanto à suas perdas. A presença de outros


reforçadores positivos e a alta frequência de comportamentos de fuga e esquiva, são
eficazes para lidar com essas situações (HOSHINO, 2006).
Em ambas as abordagens, observa-se concordância com as afirmações
acima, ou seja, o luto foi considerado, no âmbito pessoal dos terapeutas, como um
processo para o desenvolvimento, apesar de ser um processo difícil. Nota-se isso
pelo sofrimento associado à prova da realidade que, segundo Freud, ocorre no luto,
ou à perda de reforçadores, segundo a análise do comportamento.
Dos terapeutas entrevistados, 3 de abordagem psicodinâmica e 2 analistas do
comportamento compartilham suas experiências profissionais tanto na terapia
quanto na supervisão, enquanto que 3 analistas do comportamento fazem essa
análise do trabalho apenas em supervisão. Observa-se, assim, a importância da
supervisão clínica para fortalecer o embasamento teórico, estabelecer uma conduta
ética e garantir uma capacidade de atuação junto ao cliente (IRENO, 2007). Para a
psicanálise, diversos autores salientam a necessidade e pertinência da supervisão,
posto que o trabalho analítico caracteriza-se pela solidão, e a análise pessoal,
isoladamente, não conseguiria dar conta dessa necessidade de intercâmbio entre o
psicoterapeuta iniciante e um colega mais experiente (SARAIVA; NUNES, 2007).
Além disso, os mesmos autores pontuam que da solidão emergem incertezas e
dúvidas que colocam à prova o narcisismo do terapeuta, lançando-o em busca de
certezas ou garantias, quer por meio de um saber teórico, quer por meio do
desenvolvimento pessoal obtido pela sua própria análise pessoal.
Para a análise do comportamento, a supervisão é um processo de ensino-
aprendizagem, em que as habilidades terapêuticas são ensinadas, aprendidas e
refinadas (MOREIRA, 2003). Durante esse processo, o terapeuta deve ter um
aumento na frequência de respostas de auto-observação e autodescrição. Segundo
Moreira (2003), a auto-observação torna-se importante por permitir que o terapeuta
descreva seu próprio comportamento e identifique as variáveis das quais ele é
função, o que, resulta em autoconhecimento e autocontrole.
Entre as experiências difíceis, salienta-se a desistência da psicoterapia por
parte do cliente. Observou-se que, quando isso ocorre, há um incômodo por parte
dos entrevistados. O abandono em psicoterapia refere-se basicamente àquelas
situações de interrupção do tratamento sem qualquer justificativa prévia por parte do
cliente (BENETTI; CUNHA, 2008; LHULLIER; NUNES, 2004). Isso pode ocorrer por
37

dificuldades no desenvolvimento da aliança terapêutica ou algumas características


de personalidade que são apontadas como associadas a uma maior desistência da
terapia, tais como isolamento social, agressividade, traços sociopáticos e baixa
motivação (WALITZER; DERMEN; CONNORS, 1999).
Os quadros que são considerados com maior dificuldade de engajamento no
processo terapêutico e os que apresentam maior risco de abandono são os
transtornos de personalidade em geral, os estados psicóticos e a ocorrência de
ideação paranoide (BUENO et al., 2001), sendo os casos de personalidade
borderline de maior frequência de interrupção de tratamento em função das
características transferenciais de hostilidade e dificuldade de vinculação (ROMARO,
2002). Quanto ao estudo realizado observou-se que 4 psicanalistas e 2 analistas do
comportamento falaram sobre importantes situações de abandono.
Quanto à desistência da psicoterapia com base psicanalítica, Etchegoyen
(1987) diz que os motivos externos que levam à interrupção do tratamento são, na
maioria das vezes, associados a fatores internos, ou seja, à resistências, que,
geralmente, vêm do paciente. Nos casos de interrupção, o analista não pôde
resolvê-las. Também pode- se originar a desistência por parte do terapeuta.
Todos os analistas do comportamento disseram ligar para o paciente caso
este desista da terapia. Para estes, a desistência pode estar relacionada à falta de
aliança terapêutica, ou seja, o terapeuta ainda não se tornou um reforçador positivo
para o cliente. Sendo função terapêutica facilitar este processo (acesso a cobertos e
encobertos). Os comportamentos encobertos são aqueles que não podem ser
observados ou acessados diretamente. Estes só podem ser acessados pelo
comportamento aberto do terapeuta de discutir diretamente com o cliente se aquilo
que o terapeuta compreendeu ou concluiu corresponde ao que ele pretendeu
expressar (DELITT, 1993; BANACO, 1993).
Para ambas as abordagens é importante salientar que uma melhor
compreensão dos fatores envolvidos na eficácia dos atendimentos possibilitam
desenvolver subsídios para o aprimoramento técnico dos terapeutas e,
principalmente, dos terapeutas em formação (ARNOW et al., 2007; MELO;
GUIMARÃES, 2005).
Kohlenberg e Tsai (2001) afirmam que a terapia é um processo interacional
complexo. Prado e Meyer (2004 apud RAUE; GOLDFRIED, 1994) relatam que o
vínculo terapêutico é um meio para facilitar outros aspectos importantes do processo
38

de mudança; aumentar o valor reforçador do terapeuta, levando a um maior


engajamento na terapia; e também, modelar comportamentos adequados,
promovendo expectativas positivas e soluções para superar resistências.
Brito, Oliveira e Sousa (2003) realizaram um estudo de observação direta de
uma díade terapêutica composta por uma estagiária-terapeuta e cliente na clínica
comportamental. Foram analisados os 15 minutos iniciais de cada sessão, em
intervalos de tempo de 30 segundos, num total de 330 intervalos. Da relação foram
analisadas 22 categorias comportamentais, sendo oito categorias descritivas de
relatos verbais de sensações corporais tais como Verbaliza Medo de Morrer,
Verbaliza Palpitações, Verbaliza Sudorese relatadas pela cliente; seis categorias de
comportamentos não-verbais repetitivos tais como Punhos Fechados à Altura do
Peito, Apoiar a Cabeça nas Mãos; cinco categorias de respostas não-verbais da
cliente tais como Olhar Fixamente para a Terapeuta, Sorrir Enquanto a Terapeuta
Fala, Balançar a Cabeça Afirmativamente Enquanto a Terapeuta Fala e três
categorias do comportamento verbal da terapeuta tais como Perguntar os
Antecedentes, Comentar os Consequentes, Reforçar a Cliente. Conclui-se daí que o
investimento na relação terapêutica é fundamental para que as intervenções sejam
realizadas de forma eficaz. Isso provavelmente explica o fato de que 3 dos analistas
do comportamento entrevistados consideraram a dificuldade de envolvimento com a
terapia como um importante sinalizador do fim da relação, pois o analista do
comportamento preocupa-se significativamente com a dificuldade de envolvimento
terapêutico apresentada pelos pacientes (PRADO; MEYER, 2004).
Os entrevistados de abordagem psicanalítica consideram que os
sinalizadores do fim da relação terapêutica são relacionados às falas dos pacientes,
citadas sobre o abandono da terapia, falta de adesão e dificuldades de
envolvimento. Peres (2009 apud Freud, 1893/1996a) afirmou que o paciente precisa
colaborar para que sejam superadas as resistências que, durante o processo
psicoterapêutico, inconscientemente se impõem às lembranças das experiências
infantis e, assim, obliteram o acesso aos resíduos da sexualidade pré-genital. Além
disso, Freud apontou que uma falsa ligação do paciente com o psicoterapeuta,
denominado transferência, seria um obstáculo a essa transformação.
Peres (2009) relata a importância da aliança terapêutica para a psicoterapia.
Este termo foi utilizado primeiramente pela psicanalista norte-americana Elisabeth
Zetzel. A autora considera a aliança terapêutica como uma relação de trabalho que
39

se estabelece entre paciente e psicoterapeuta em prol do processo psicoterapêutico.


Tal relação se assenta nas funções autônomas do ego do primeiro, mas remete às
suas relações objetais infantis. Desse modo, também depende da capacidade do
segundo de demonstrar empatia e respeito, fornecendo, assim, parâmetros para a
ocorrência de uma identificação consistente a ponto de neutralizar as forças
instintivas que ressurgem com a transferência (PERES, 2009 apud ZETZEL, 1956).
Quanto à área temática: O fim da relação terapêutica, algumas categorias
foram sinalizadas, dentre elas o término por decisão do terapeuta.
Quatro dos 10 entrevistados disseram ter decidido por encerrar o processo
terapêutico por limitações pessoais em relação à demanda do paciente.
Outra questão abordada pelos entrevistados foi que o decidir pelo fim do
processo, é parte do processo, ou seja, os profissionais identificaram que a
persistência em atender o paciente poderia ser prejudicial para o paciente.
Como exemplo:
“Sim, teve uma vez que eu decidi finalizar o processo terapêutico por
perceber que a relação comigo estava sendo prejudicial para a cliente”.
(CPT1)
Obtivemos relatos de profissionais que não tiveram de decidir por finalizar a
terapia por iniciativa própria, apenas por alta.
Sobre o questionamento de a atuação do psicólogo causar o fim da terapia,
encontramos alguns apontamentos, como: falta de comprometimento com o
paciente, problemas no manejo clínico e por último, dificuldades emocionais do
terapeuta.
Lacan foi o primeiro autor do campo "psi" a teorizar sobre a aproximação
necessária entre ética e clínica, afirmando que a experiência psicanalítica é, antes
de tudo, uma experiência ética. "Os limites éticos da análise coincidem com os
limites de sua práxis" (Lacan, 1988, p. 32).  Lacan privilegia como princípio da ética
a relação singular do sujeito com o desejo. A clínica é entendida como uma
experiência que leva o sujeito ao confronto radical, com o que o constitui e a se
responsabilizar por esta dimensão, que causa sua ação, seu modo de estar no
mundo (FERREIRA; PENNA, 2006).
A fala de um dos entrevistados faz referência aos apontamentos de Lacan, ao
falar das dificuldades emocionais do terapeuta durante o processo terapêutico
(Confronto radical):
40

“Eu acho que é quando o psicólogo não consegue mais lidar com
algum conflito ou emoção, alguma reação que o paciente tem e vai te
cutucar”. (PSI3).

Como última hipótese para o fim da relação terapêutica, questionamos se


motivos financeiros seria um motivo para o término da terapia.
Como resultado, 9 dos 10 entrevistados falaram em negociação, ou seja que
a terapia não se encerraria necessariamente por motivos financeiros, que seria
possível negociar o valor ou o prazo para o pagamento das sessões.
Apenas um entrevistado colocou motivos financeiros como justificativa para
encerrar a terapia e, mesmo assim, de maneira relativa ou hesitante caracterizando
este motivo como o mais fácil ou mais socialmente aceito.

“Eu acho que sim, eu acho que sim, mas também acho que as vezes
ele é o motivo mais socialmente aceito, então é fácil de se justificar o
término por isso do que entrar em outras questões da relação, então é
o que se dá pra falar, porque se imagina que é o que melhor é
ouvido”(PSI3)

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta pesquisa permitiu evidenciar a partir de uma análise qualitativa, aspectos


relativos às representações sociais sobre o pós-término da psicoterapia.
A amostra de sujeitos entrevistados caracterizou-se por dez profissionais
psicólogos, com no mínimo três anos de atuação clínica, sendo que cinco atendem
sob orientação psicanalítica e cinco sob orientação comportamental. Sob o ponto de
vista científico, assegurou-se uma boa qualidade dos dados e uma análise de um
perfil social de classe profissional, mas, por outro lado, não é representativo da
população de profissionais psicólogos de Ribeirão Preto e região.
Na busca de referencial teórico sobre o tema, encontramos trabalhos que se
propuseram discutir o fim da relação terapêutica. Em sua maior parte, tratavam do
tema morte em ambiente hospitalar e o impacto sobre a equipe de saúde, com foco
mais direcionado aos médicos e enfermeiros.
41

A forma como os indivíduos elaboraram suas respostas para os


questionamentos deste trabalho foi produto da maneira como os mesmos refletiram,
argumentaram e verbalizaram suas percepções a respeito do final da relação
terapeuta-paciente em sua atuação profissional.

Vale salientar que o tema da pesquisa veio ao encontro do objetivo central do


trabalho, do qual se pode sugerir que o envolvimento dos sujeitos junto ao tema
deveu-se à ausência de estudos anteriores acerca do assunto. Assim, o presente
trabalho justificou-se não apenas pelo preenchimento de uma lacuna no
conhecimento científico, como também pela relevância deste conhecimento
produzido na melhoria das ações de saúde promovidas pelo profissional de
psicologia.
A partir deste trabalho, sugere-se que novas pesquisas sejam realizadas com
foco no profissional psicólogo. Sobretudo porque como visto aqui e em outros
trabalhos a avaliação adequada dos fatores que envolvem o processo terapêutico
ajuda a melhor compreender a relação paciente-terapeuta, e a fornecer subsídios
para melhor formação dos terapeutas, sobretudo daqueles iniciantes.
Este trabalho reafirmou o papel e a importância do trabalho desenvolvido por
profissionais psicólogos, baseado na crescente demanda por atendimentos e o
número cada vez maior de estudos que comprovaram a eficácia da psicoterapia.
Revelou-se então, um campo de estudo bastante investigado pelas diversas
correntes psicológicas: a relação terapêutica.
42

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48

ANEXO A – Roteiro de Entrevista Semiestruturada

1. Em qual abordagem você atua?


2. Há quanto tempo você atua como psicoterapeuta clínico?
3. Qual (s) faixa (s) etária(s) você atende? Atende alguma demanda especifica?
4. Poderia relatar brevemente sua trajetória profissional? (Experiência em
Clínica Privada; Instituição de Saúde; Instituição de Ensino)
5. Do ponto de vista pessoal, fale sobre o luto?
6. Como você vivência o luto em situações profissionais?
7. O fim de uma relação terapêutica em algum momento foi tema de supervisão
ou de alguma sessão com seu terapeuta (caso faça terapia ou tenha feito)?
Qual ou quais motivo(s) o levaram a discutir tais aspectos?
8. Entre as diversas formas de rompimento, qual é a mais difícil de ser
experienciada?
9. É possível perceber durante os atendimentos, indícios que o cliente queira
interromper a terapia?
10. Em situação de abandono da terapia como procede?
11. Na sua opinião, quais aspectos, podem influenciar o final de uma
psicoterapia?
12. Durante sua experiência profissional o término da terapia com os pacientes
aconteceu por quais razões?
13. De que maneira a atuação do psicólogo pode causar o fim da terapia?
(Houve alguma situação em que você se sentiu assim?)
14. Em alguma oportunidade a decisão pelo fim da terapia partiu de você? Como
foi tomar essa decisão? Que sensação você teve?
15. Você acredita que o motivo financeiro influencia no término de uma
psicoterapia? Por quê?
16. Você poderia citar algum caso que faça referência ao nosso tema de
pesquisa?
49

ANEXO B

UNIVERSIDADE PAULISTA – UNIP


Campus Indianópolis

Rua Dr. Bacelar, 1212 – 4º.andar – Vila Clementino


Comitê de Ética em Pesquisa - CEP CEP: 04026-002 – f. (11) 5586-4091
E-mail: cep@unip.br

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO


Pesquisadores: Bruno Augusto Pinafo, Hugo Lopes Gomes, Liane Alves Pimenta,
Luciana Bertolli Ramondetti, Marília Lípolis Tavares, Rafael Lucas da Silva e Rafael
De Tilio (pesquisador principal)
Título da pesquisa: Representações sociais do psicólogo sobre o pós-término da
psicoterapia
Nome do Participante: _______________________________________

Caro participante:
Gostaríamos de convidá-lo a participar como voluntário da pesquisa intitulada
“Representações sociais do psicólogo sobre o pós-término da psicoterapia”, que
refere-se a um Trabalho de Conclusão de Curso dos estudantes de Graduação do
curso de Psicologia da Universidade Paulista - UNIP. O objetivo deste estudo é
compreender as representações sociais de psicólogos, com experiência mínima de 3
anos de atuação sobre o pós-término da psicoterapia. Sua forma de participação
consiste em responder a uma entrevista que terá duração média de 30 minutos e
será gravada, transcrita e analisada.
Seu nome não será utilizado em qualquer fase da pesquisa o que garante seu
anonimato.
Não será cobrado nada; não haverá gastos nem riscos na sua participação
neste estudo; não estão previstos ressarcimentos ou indenizações; não haverá
benefícios imediatos na sua participação. Os resultados contribuirão para melhorar a
compreensão da prática psicoterápica, proporcionando um resultado que pode ser
usado para aperfeiçoar o atendimento clínico do profissional psicólogo e dos
50

serviços de saúde mental. Gostaríamos de deixar claro que sua participação é


voluntária e que poderá recusar-se a participar ou retirar seu consentimento, ou
ainda descontinuar sua participação se assim, o preferir.
Desde já agradecemos sua atenção e participação e colocamo-nos à
disposição para maiores informações.
Em caso de dúvida(s) e outros esclarecimentos sobre esta pesquisa você
poderá entrar em contato com a responsável principal Prof O. Rafael De Tilio no
telefone (16) 3602-6773.
Eu confirmo que _________________________________ explicou-me os
objetivos desta pesquisa, bem como, a forma de participação. As alternativas para
minha participação também foram discutidas. Eu li e compreendi este termo de
consentimento, portanto, eu concordo em dar meu consentimento para participar
como voluntário desta pesquisa.
_______________, ___ de _______ de 20__.

Assinatura do Participante

De acordo:
51

ANEXO C – Transcrições das entrevistas

Sujeito PSI1 – Abordagem Psicanalítica

Dados da Identificação do entrevistado


1. Nome do entrevistador: Luciana Bertolli Ramondetti (LBR)
2. Iniciais do entrevistado: PSI1
3. Sexo do entrevistado: Masculino
4. Tempo de duração: 37’42

Transcrição

LBR - Em qual abordagem você atua?


PSI1 - Na psicoterapia de orientação psicanalítica.

LBR - Há quanto tempo você atua como psicoterapeuta clínico?


PSI1 - Vinte e nove anos. Vinte oito, vinte nove anos.

LBR - Qual (s) faixa (s) etária(s) você atende? Atende alguma demanda especifica?
PSI1 - Atendo de 15, 16 anos para cima. Já atendi criança um tempo, mas me
especializei em adolescentes e adultos, apenas.

LBR – E demanda específica? Você não tem nenhuma que você...


PSI1 - Demanda específica? Não, assim, tem problemas que acontecem, mas
geralmente a pessoa quando chega, ela sempre chega com uma suposta razão pela
qual ela veio. Ai, no decorrer do trabalho é que vai ficando claro o que realmente
estava por trás daquilo. E a gente acaba descobrindo que nunca era aquilo que ela
pensava. E nem ela saberia dizer, quando ela vem, porque ela veio. Compete a
gente, através da formação, da experiência e do treino ir descobrindo para poder
mostrar para ela. Porque ela vem sem a menor condição de dizer o que ela tem. Ela
vem dizendo “n” outras coisas, depois a gente vai vendo juntos que as razões são
outras, que ela nem imagina. E ai, quando é possível num trabalho, a gente
entender e ajudá-la a entender, ai tudo muda. Ai ocorre uma relação terapêutica
52

propriamente dita. Só que, infelizmente, não é isso que acontece sempre. É isso que
a gente sempre tenta.
LBR – Esse é o objetivo?
PSI1 - É, é esse o objetivo. É muito bom quando acontece e muito frustrante quando
não acontece. Porque eu acho que tanto um quanto o outro dá tudo de si para que
aconteça. Então é muito frustrante quando não acontece, porque isso obriga a gente
lidar com as limitações, os fracassos, que são as feridas narcísicas mais doídas que
a gente tem. Então, a gente está sempre muito exposto a estar lidando com essas
dores. E provocando, porque se você não consegue ajudar, o outro entra em mais
desespero do que ele já está. Porque a esperança dele é de que alguém ajude, se
ele não encontra isso, ele fica mais doído do que ele já estava. E com a gente não é
diferente, acho que a gente fica pior ainda, pois temos uma cobrança: que é a de
conseguir. Quem não quer ser bom naquilo que faz, né?

LBR – Estamos chegando perto do tema...


PSI1 - Mas ai, inúmeras vezes a gente é obrigado que reconhecer que a gente não é
bom. A gente tenta ser, consegue ser, mas não é sempre não. Muitas vezes o
trabalho leva a gente reconhecer que a gente não é bom. Então, com uma pessoa a
gente consegue mais, com outras menos, com outras nada.

LBR – Você poderia relatar brevemente sua trajetória profissional? Assim, se foi
direto para clínica, ou se trabalhou em uma Instituição antes, ou se você sempre...
PSI1 - Eu fui direto para a clínica. Desde o início. Ai depois que eu já estava um
certo tempo, uns dez anos, talvez mais, uns doze, treze anos, eu fui para uma
Instituição também. Mas para trabalhar com clínica. Era um trabalho diferente do
que a gente faz em consultório. No consultório o objetivo é fazer a psicoterapia,
nessa orientação psicanalítica, sem tempo determinado, ou pré-determinado. E, na
Instituição é diferente. Porque na época que eu trabalhei na instituição ainda não
tinha o que tem agora de ser obrigatório o atendimento psicológico. Eu trabalhava
em uma que oferecia isso. Eu acho que era a única que oferecia, na época que
comecei a trabalhar nessa Instituição. E a procura foi muito grande. Quando as
pessoas ficaram sabendo da existência... então, ai eu me dei conta do quanto o
nosso trabalho é importante. Porque no consultório é diferente. Chegam as pessoas
que tem alguma condição de fazer o trabalho. E lá, era uma Instituição de saúde
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mesmo, privada e chegavam pacientes de classe média mais para baixo, mais baixa
do que média. E eu fiquei impressionado com a importância do nosso trabalho para
a população e não é uma população como a gente pensa que tem que ter um bom
nível social, cultural, intelectual... Sabe, pessoas analfabetas procurando pelo
trabalho e, assim, com uma condição de aproveitamento maior do que muitas que a
gente atende no consultório, com uma condição, em todos esse aspectos, melhor.
Então, isso é uma surpresa e eu tive uma surpresa. Foi lá que eu comecei a atender
crianças, que eu atendi durante um tempo. Foi muito bom porque, em função da
procura, tiveram que contratar mais psicólogos...

LBR – Abriu portas...


PSI1 - Isso foi muito satisfatório. Abriu. Mas não parou por ai, não adiantou
contratar, porque a demanda não parava. Então, eles instituíram que deveria ser em
grupo o trabalho. Então, fui me especializar em grupo, fiz uma formação, uma
especialização em trabalho de grupos operativos, para adaptar isso ao trabalho
terapêutico. E foram uns bons anos trabalhando com isso, até que mudou tudo
porque ela foi vendida e ocorreram uma série de coisas porque ela foi vendida, que
acho que não vem ao caso. Então, minha experiência em instituição foi essa.

LBR – Tá... Do ponto de vista pessoal, fale sobre o luto?


PSI1 - Eu acho que o luto é uma experiência que a gente está vivendo o tempo todo.
Na vida e no trabalho. Na vida, por razões mais óbvias, porque a gente nunca tem
certeza de ganho. A gente tem muita perda na vida. E no trabalho, a gente está
lidando com isso o tempo todo, porque ou o paciente está ali correndo o risco de
interromper, ou por resistência, ou porque não está dando certo mesmo. Ou então,
porque o luto está presente sempre, desde o começo: “Será que vai dar certo?”, já
existe ali um luto, que pode ser o luto da onipotência, da vontade de ajudar e você
perder essa tua condição de poder ajudar. Não sei se isso seria uma forma de luto,
mas acho que sim. Agora, então é frustrante, é um luto você perder um paciente
porque ele não deu conta, porque o trabalho não satisfez as expectativas dele. As
vezes o teu investimento emocional nele é maior que o dele em você. Então, essas
pessoas abandonam, com uma facilidade muito grande, o trabalho. As vezes, ela
abandona pelo medo de se evolver afetivamente, de perceber o envolvimento do
terapeuta e o medo do envolvimento dela, existe muito abandono por isso, também.
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Se a gente não perceber esses movimentos, o trabalho as vezes para quase que
antes de começar ou na hora que ele está começando. Eu já tive muito mais perdas
antes de eu entender isso melhor. Hoje, eu acho que isso é uma das coisas que a
gente tem que pegar logo no começo e já ir trabalhando para facilitar, para que o
trabalho caminhe. Então, o luto é fundamental desde o começo. Agora o luto, ele
está presente o tempo todo. Inclusive com aquele paciente que começa a melhorar,
pois quando ele começa a se sentir identificado, quando ele começa a sentir que ele
já está tendo um bom entendimento do que acontece com ele, então, ele já começa
a vislumbrar uma separação. E quando acontece essa melhora, esse
aproveitamento, é porque existe uma ligação forte entre nós dois. Então, já é doído
pensar na separação e isso aumenta com o desenvolver do trabalho. Se a gente não
percebe isso, corre o risco de ele ser prejudicado, interrompido... Então, a contra
partida disso é mostrar, é vivenciar que isso é uma condição natural e ver que aquilo
acontece, que todo mundo que chega é para ir embora, né? É sempre uma coisa
presente. E quanto mais a pessoa vai se desenvolvendo, mais próximo da
separação ele fica. Mas a compensação disso é o êxito, é a alegria que isso dá.
Então, é um luto que ele é bem elaborado, porque junto com ele vem o
reconhecimento do bom trabalho que fizemos. E a necessidade da separação em
função de não estar precisando mais. Tenho um paciente que vem três vezes por
semana, recentemente ele propôs uma redução, passar para duas. Alegou um
monte de coisa. E era tudo justificativa. Na verdade, ele não está precisando mais vir
três vezes. Ele está podendo ter duas. Então, daqui a pouco, ou ele já não vai
precisar de nenhuma, ou de muito menos. E eu notei nele um sofrimento muito
grande e da minha parte também, não tem como a gente separar o emocional do
intelectual. Eu acho que é tão importante que a gente tenha o luto bem trabalhado.
Não digo resolvido, pois não acho que essas coisas se resolvem, não. Eu acho que
elas são melhores enfrentadas, resolvidas não, sempre vai ter dor, sempre vai
sofrer. Mas eu acho que tem a possibilidade de aumentar a condição de lidar com
esse sofrimento. Falando no caso do profissional, terapeuta. Porque se você não
tem essa coisa mais bem trabalhada, mais bem compreendida dentro de você, isso
pode te dificultar até de se entregar no processo. Porque a consciência de que
aquilo vai ter fim, pode atrapalhar de que tenha começo, de que tenha continuidade,
não é? Como uma pessoa que, às vezes pode não conseguir viver plenamente, para
não ter um apego com a vida, prazer pela vida, porque ela tem a consciência de que
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a vida não é eterna. Então, para não lidar com esse sofrimento que ela lidaria diante
da morte, da doença, ela nem se entrega, nem vive, nem curte. Fica aquela questão:
o que é melhor? Aprender a lidar com o sofrimento ou deixar de viver intensamente?
É mais ou menos assim que eu penso...

LBR - Como você vivência o luto em situações profissionais?


PSI1 - As vez muito mal. Mas isso acho que é meio geral, agora eu, particularmente,
tenho uma dificuldade muito grande com essa história.

LBR – É?
PSI1 - É. Então, é sempre muito sofrido a perda, a separação, a interrupção de um
trabalho. Essa situação me pega muito, agora eu melhorei um pouquinho. Estou um
pouquinho mais solto com isso. (risos)

LBR - O fim de uma relação terapêutica em algum momento foi tema de supervisão
ou de alguma sessão com seu terapeuta (caso faça terapia ou tenha feito)? Qual ou
quais motivo(s) o levaram a discutir tais aspectos?
PSI1 - Sim. Muitas vezes. Eu sempre levei muito esse tema. Sabe por quê? Porque
isso para mim é visto hoje como um ganho. Eu trabalho muito isso, primeiro, como
eu disse, eu sofro muito. E eu acho que, as vezes, eu bloqueava. Então, o paciente
parou, eu tinha um bloqueio. Eu acho que agora, por ter uma facilidade de me
perceber melhor, eu não consigo ficar indiferente ao tanto de sofrimento que me
causa. Eu acho que, defensivamente, acabava o trabalho, eu deletava. Eu usava um
razão intelectual, uma justificativa defensiva para me convencer sobre aquilo e
ficava por isso mesmo. De uns tempos para cá, fui fazendo diferente. Eu fui tentando
entender, a fundo, o que foi aquele término. Não estou falando no processo de alta,
mas de interrupção. Pois eu acho que a gente aprende mais com a parada do
paciente, quando a gente leva isso a sério, e tenta compreender. Porque ninguém
para a toa. Ou para porque está na hora de parar, já está bom, porque tem muita
gente que vem com aquela expectativa, depois vai embora, numa boa. Isso
acontece também, foi difícil de entender isso, de entrar na minha cabeça. Via como
uma experiência muito frustrante. Hoje eu já vejo que não, que existem expectativas
diferentes. Mas eu acho que a gente aprende muito quando consegue compreender
o que fez um paciente parar um trabalho que ainda não estava na hora de parar. Ai,
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a gente se utiliza tanto da análise, quanto da supervisão. As duas são importantes


nesse caso. Para tentar entender o que levou aquilo. Pois na maioria das vezes, são
coisas que a gente não tem consciência. E que aprendendo sobre o que leva a
parar, te ajuda a trabalhar melhor. Então você começa a ter um alcance maior. Eu
comecei a prestar muita atenção no porquê o paciente para. Eu não saberia dizer,
há um tempo atrás o porque, eu pegava uma explicação... mas eu passei a
examinar isso de uma outra maneira: mais cautelosa, mais cuidadosa, mais
emocional. E ai, eu percebi que eu aprendi bem mais com as paradas e me tornei
menos limitado. Até para pegar esses movimentos em outros pacientes quando eles
ameaçam aparecer, então é como uma pesquisa que a gente faz. Ai eu vou lá,
investigar aquilo que eu aprendi com a outra frustração e, a surpresa, é que
trabalhando aquilo, o processo evolui. Então, eu acho que, nesse caso, a gente
aprende muito mais com o fracasso do que com o sucesso.

LBR - Entre as diversas formas de rompimento, qual é a mais difícil de ser


experienciada?
PSI1 - Eu acho que é aquela onde não tem entrega. Onde a pessoa não te dá
acesso à angústia, à dificuldade dela. Então, ela te deixa muito abandonado. É
quando acontece o abandono, a interrupção abrupta, muitas vezes atribuída a uma
questão de dinheiro, que muitas vezes não é isso. Mas é muito usado como
argumento. Ou alguma outra circunstância qualquer. Mas é quando a pessoa te
deixa desse jeito que eu fico. Hoje eu já não procuro depender dela para entender,
procuro entender dentro de mim. Mas é quando ela não te dá esse acesso, quando
ela não se abre, ou quando toca nessa ferida. Acho que o mais doído que me ocorre
recentemente é um paciente que interrompeu, e eu estava muito envolvido com ele.
Tanto é que eu estava fazendo um estudo sobre ele. Ele interrompeu e disse
simplesmente “não estou satisfeito”, “eu não sinto mais vontade de falar de mim para
você”. Eu estava muito envolvido, empenhado com o caso, disposto a ajudar. E até
acredito que poderia ser que estivesse... e que tenha feito esse corte, pois acho que
isso era como ele vinha funcionando na vida dele, nos relacionamentos amorosos,
no casamento. Então, eu notava que ele descartava muito as relações, com
facilidade, e recomeçava uma outra. E isso me intrigava nele e achava que como eu
estava estudando muito, levando muito para minha análise e supervisão, eu iria
ajudá-lo a ver isso melhor... Então, quando ele fez a mesma coisa comigo (risos), eu
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me senti muito “banana” (risos), eu fui mais um, ai eu entendi o que as pessoas
sentiam quando ele fazia isso. E fiquei com dó dela e pensei “coitada” (da esposa do
paciente).

LBR - Você já chegou a falar isso, mas a pergunta é: É possível perceber durante os
atendimentos, indícios que o cliente queira interromper a terapia?
PSI1 - “Ô”, é! Então, ai é que está. Entra no luto de novo. Depende de tua condição
de suportar esse “trem” chamado luto. Quando é muito traumático para você, você
deleta, nega. Você passa batido. O paciente está o tempo todo te dando dicas, que
ele só vai ficar ali se estiver muito suprido. Ele ameaça a gente. Se a gente esta
muito assustado, a gente não percebe a ameaça... e o medo? Medo da perda. E, as
vezes, não é a perda emocional, a perda do paciente. É perda do dinheiro mesmo,
do trabalho que você não sabe se vai ter outro. Dependendo de como está tua vida,
a demanda as vezes é grande, as vezes pequena, as vezes nem existe a procura. E
quando você está muito apertado, isso pesa muito. Ai! acho que já nem é tanto pelo
luto propriamente, mas pelo medo. Eu acho que às vezes é o medo de ter que fazer
o luto e a gente não percebe que o paciente está o tempo todo falando sobre isso. E
quando a condição de tolerar isso é pequena, a gente não percebe e não consegue
falar sobre isso com ele. E é fundamental que isso seja abordado desde o começo:
que nós estamos nos encontrando para nos separar. Então o paciente as vezes tem,
todos nós temos, isso de que estaremos juntos para sempre. Quem que não tem
isso na vida? Ninguém começa uma relação achando que vai até tanto tempo,
depois vai acabar e começar outra. Quando a gente começa, a gente quer que
aquilo seja... Então nessa relação de trabalho, é importante trabalhar isso, que a
gente está junto para poder deixar de estar. Então, na melhor das hipóteses, o que
melhor vai acontecer que é nós vamos nos separar. Com muita dor, se for um
processo bem sucedido, mas com muita alegria, que é o que compensa a dor,
porque nós vamos poder comemorar. Vai ser um investimento feito, você estará livre
do compromisso, livre do compromisso financeiro, do tempo que você gastou. Então,
tem muito esse lado, que ajuda a lidar com o outro, porque o outro é assustador.
Pois uma pessoa que tem muita dificuldade de perda, de abandono, ela tem terror,
por isso que a gente tem que abordar isso desde o começo. Agora, eu acho que
você me perguntou isso e eu não sei como te respondi: o luto fica mais difícil de
fazer, como nesse caso que eu citei, que foi doloroso para mim, eu demorei para me
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recuperar, nem sei se me recuperei. Porque eu senti que a pessoa não estava se
entregando e eu estava ali, acreditando que eu estava me dando ao máximo e ele
também. Bom, o luto é pior no nosso trabalho quando acontece essa “não entrega”.
Quando o outro não se entrega, pois quando existe, a troca é tanta, que ninguém sai
perdendo, os dois saem supridos, satisfeitos, triste também, mas é um luto bem
sucedido, um luto mais fácil de encarar, tolerar. Agora, aquele que é feito com
reserva, que você tem que lidar com a perda e alguém não se entregou totalmente,
e não precisa ser o outro não, pode ser a gente, por dificuldade, pois o paciente
mexe com algumas coisas que a gente não sabe lidar, a gente também não se
entregou a relação. Então, esses são mais dolorosos. Esses são mais difíceis
porque fica faltando, parece que vai “um pedaço junto”. Leva embora, alguém fica
devendo...

LBR – A melancolia, né?


PSI1 - É, entra mais em melancolia. É ai um passo para a melancolia. Diferente do
luto, que é uma experiência natural. Quando há a entrega, os dois saem bem
supridos um do outro. Ninguém fica devendo nada a ninguém, ao contrário, ficam
gratos um ao outro. Então entra a experiência da gratidão, que faz toda a diferença.
Quando ocorre o contrário, a ingratidão, o luto e ingratidão é terrível, uma pessoa
mais sensível padece, fica melancólica mesmo. Então, em nosso trabalho, a gente
está exposto a isso o tempo inteiro.

LBR - Em situação de abandono da terapia como procede?


PSI1 - Eu não faço nada. Respeito. A pessoa tem direito de ir e vir quando ela
quiser. E às vezes não é abandono que ela quer. Eu tive uma experiência que
deixou isso muito claro. Uma paciente que estava falando muito de parar a terapia,
de abandonar. Até eu fui entender que o que ela estava querendo me dizer é se ela
tinha liberdade de parar quando ela quisesse. Se ela não iria me deixar muito
magoado, frustrado a ponto de não poder contar mais comigo se ela precisasse de
mim um dia. Então, quando eu entendi essa ameaça toda de parar, essa vontade,
tinha mais a ver com esse desejo e necessidade de saber se ela tinha essa
liberdade, ela entendeu e ficou ainda muito tempo. Então, eu acho que é melhor ficar
de olho nisso, pois ninguém quer abandonar alguma coisa que ainda precisa. Só se
não estiver encontrando, pois ai está certo, vai abandonar e encontrar outro que dê.
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Mas se ela estiver tendo e mesmo assim for tentada a abandonar, convém dar uma
olhada para essa questão de liberdade. Acho que ela quis saber se ela tem essa
liberdade, se você aguenta. Porque é terrível para o paciente sentir que ele te
magoa, que ele te machuca, te estraga. A não ser aquele que é perverso e quer te
machucar, sadicamente, mas é outra coisa. Acredito que a pessoa, quando quer
abandonar, é um direito dela.

LBR - Na sua opinião, quais aspectos, podem influenciar o final de uma


psicoterapia?
PSI1 - Eu acho que o que pode mais influenciar é o medo do investimento afetivo. O
financeiro também, mas acho que ainda menos, pois o financeiro a gente não vai
lesar ninguém. Eu, pelo menos, trabalho de uma forma que não vá criar uma
angústia maior do que as que já tem. Acho que é o medo do quanto aquilo vai custar
afetivamente. Enquanto mais ela gostar, mais medo ela vai ter de perder, de crescer,
de sentir o ciúme que vai surgir. Acho que tudo isso influencia bastante e faz uma
diferença quando a gente já pega logo no início e já vai trabalhando. Eu acho que é
o medo da entrega, da relação, de não saber o que vai acontecer ali, do que vai
aparecer, porque é muito assustador. Olhando microscopicamente para uma
sessão, é uma situação de terror, onde ninguém sabe o que vai acontecer. Não tem
como saber. Então, acho que é o medo de não saber o que vem. E não só isso, mas
é acreditar que não vai dar conta de suportar passar por aquela experiência e
aprender alguma coisa que não sabe. Então, muitas vezes, é fugir do desconhecido,
não por que esse seja ruim, é por não acreditar que vai sobreviver a experiência de
desconhecimento. Muitas vezes a pessoa descobre que ela pode mais do que ela
achava, então faz diferença sempre pegar desde o começo e mostrar para o
paciente: “olha, você está vendo que você está conseguindo?”, porque isso vai
aumentando a confiança de ele ver que ele consegue mais do que ele acredita que
ele pode. Até de fazer a terapia, porque, se não, nem isso dá para fazer. E isso leva
a interrupção, a desistência e muitas vezes por causa de questões assim, que se a
gente percebe, a gente conversa, esclarece e o trabalho caminha.

LBR - Durante sua experiência profissional o término da terapia com os pacientes


aconteceu por quais razões?
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PSI1 - Olha, aconteceu pela pessoa ter ido até onde ela pretendia, queria. E
aconteceu por essa experiência que eu já falei, de estar devidamente suprida.
Então, ai, é uma separação, um luto mais tranquilo. Eu propor? Então, é que nunca
parte de um. Assim como qualquer outra relação, essa também. É uma coisa que
surge no campo da terapia. A pessoa te dá indícios e acontece de ela te dizer. Te
mostrar, não te dizer, que ela, assim como uma pessoa que está em crescimento,
que ela precisa de uma ajuda para ser “mandada embora”, que ela não seria capaz
de fazer isso sozinha então eu já “pus para correr”. Mas isso não porque eu “pus ela
para correr”, é porque ela me deu sinais de que era importante eu fazer isso, se não
ela ficaria um tempo a mais do que ela precisava. E essa pessoa tinha uma
experiência de um pai muito ausente e eu senti que fiz uma função que supriu algo
que ela não teve na história dela. Mas isso nós pudemos conversar e eu acho que
ela saiu daqui com isso mais bem suprido.

Tendo em vista que o tempo disponível do entrevistado já estava terminando,


bem como as perguntas restantes já haviam sido respondidas em outras respondas,
segui para a última pergunta.

LBR - Você poderia citar algum caso que faça referência ao nosso tema de
pesquisa? Acho que você citou alguns casos...
PSI1 - Acho que já citei sim. Eu acho que vocês pegaram uma questão central. Eu
acho que todo o processo depende disso. Então, depende de como você está com
sua condição de fazer luto, você trabalha bem ou mal, melhor ou pior, ou não
trabalha. Então, eu acho que foi muito bom, pois acho que a terapia depende disso,
dessa possibilidade de poder falar abertamente sobre isso com a pessoa, pois a
vezes ela tem medo da independência, de crescer, porque isso fica com um
abandono. Então é isso que eu tenho no momento.
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Sujeito PSI2 – Abordagem Psicanalítica

Dados da Identificação do entrevistado


1. Nome do entrevistador: Luciana Bertolli Ramondetti (LBR)
2. Iniciais do entrevistado: PSI2
3. Sexo do entrevistado: Feminino
4. Tempo de duração: 27’20

Transcrição

LBR - Em qual abordagem você atua?


PSI2 - Psicanalítica.

LBR - Há quanto tempo você atua como psicoterapeuta clínico?


PSI2 – Trinta anos.

Qual (s) faixa (s) etária(s) você atende? Atende alguma demanda especifica?
PSI2 – Atendo adolescente e adulto.

LBR – E demanda específica?


PSI2 – Não...

LBR – A que vier?


PSI2 – A que vier...

LBR - Poderia relatar brevemente sua trajetória profissional? (Experiência em


Clínica Privada; Instituição de Saúde; Instituição de Ensino)
PSI2 – A partir do quarto ano de faculdade, eu comecei a fazer estágio no Sanatório
Vicente de Paula, depois fiz, no quinto ano, continuei o estágio lá. Depois fiquei
trabalhando lá por mais cinco anos. Além de atender, coordenar o estágio e outras
atividades com os pacientes que aconteciam no sanatório. Isso não era oficialmente,
mas era uma espécie de residência também. Tinha atendimento tanto para paciente
que estava internado, como ambulatorial, para paciente que saia e pudesse
continuar sendo atendido. É que muitas dessas instituições, que recebe paciente
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para internar, depois que o paciente te alta ele fica solto. Nesse caso, a gente
oferecia essa possibilidade de continuar, o que era muito bom, pois evitava nova,
mais internações.

LBR – E continuou com a clínica...


PSI2 – É, ao mesmo tempo, começou o consultório particular, depois de um ano
mais ou menos de formada e continuo até hoje. Depois dei aula em universidade
durante uns dez anos. E atualmente eu dou aula, eventualmente, no IEP no curso de
extensão.

LBR - Do ponto de vista pessoal, fale sobre o luto?


PSI2 – O luto... eu acho que é um processo extremamente importante para tudo. Se
você não consegue fazer o luto, você fica impedido em vários tipos de
desenvolvimento. Por exemplo, para qualquer coisa, para simbolizar, eu preciso
elaborar o luto, preciso aceitar que uma coisa que estava ali, não está mais, para
poder representá-la psiquicamente. Se eu não aceito que a coisa que estava ali não
está mais, eu não consigo fazer a representação simbólica dessa coisa. Isso com
coisas, imagine com pessoas que envolve mais investimento, normalmente, do que
as coisas. É importante tanto para possíveis identificações, uma forma de elaborar o
luto é se apropriar de algo, uma qualidade do objeto perdido e isso vai fazer parte da
sua personalidade, posteriormente, de uma forma positiva. Se não, não fazendo o
luto, você fica identificado sempre com a morte, com o objeto morto, o que dificulta
relações posteriores. Mas fazer o luto envolve uma série de qualidades e recursos
psíquicos, desde aceitar que o objeto se foi provisoriamente ou definitivamente, pois
não é só quando uma pessoa morre que há uma separação definitiva, mas você vive
se encontrando e se separando das pessoas o tempo todo. Então, provisoriamente
ou definitivamente, envolve aceitar que a gente não tem o controle e que a pessoas
podem ir e vir, vir e ir embora da vida da gente. E, para isso, claro que envolve raiva,
frustração, principalmente quando a gente não quer que essa pessoa vá. Você tem
que superar essa fase, essa raiva e aceitar que isso é possível, que faz parte da
condição humana. E que nós também somos provisórios na vida dos outros, como
os também são. E isso não é um processo fácil. É um processo difícil e que a gente
está sempre as voltas com ele. É que a gente pensa em luto com as coisas mais
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dramáticas, mais definitivas, mas na verdade a gente faz luto a todo momento, todos
os dias.

LBR – Não só por morte e não só por pessoas...


PSI2 – Não. A gente vive se encontrando e se separando.

LBR - Como você vivência o luto em situações profissionais?


PSI2 – Então, tem uma coisa que o Bion fala, que eu acho muito interessante, que
pode parecer uma coisa muito chata a princípio, que é: Qual o objetivo do terapeuta,
do analista? O objetivo do terapeuta e do analista é se tornar inútil. Isso significa que
quanto melhor for o trabalho com o paciente, com certeza eu vou me tornar
desnecessário ou inútil para ele. Então, quem vai trabalhar na área tem que se haver
com isso. Isso não é no consultório. Os pais tem que se tornar inúteis, os
professores tem que se tornar inúteis. Por inútil, não quer dizer não importante.
Continua sendo importante, mas não necessário como foi a principio. Significa que
aquela pessoa vai estar mais instrumentalizada para seguir a diante, sem a ajuda ou
do professor, ou do pai, da mãe ou do analista.

LBR - O fim de uma relação terapêutica em algum momento foi tema de supervisão
ou de alguma sessão de terapia, sua, pessoal?
PSI2 – Sim várias vezes. Eu não lembro exatamente, nesses trinta anos, quantos
foram levados para a supervisão ou análise. Mas geralmente isso acontecia quando
era uma interrupção abrupta, inesperada. As vezes a gente percebe que aquele
paciente não vai durar, ou porque não se identificou com o processo, ou por
qualquer outro motivo, como defesa ou resistência. Mas as vezes nos surpreende,
alguém que você está pensando que o trabalho está indo bem e, abruptamente, a
pessoa para.

LBR – Tanto supervisão, como terapia pessoal?


PSI2 – Sim.

LBR - Entre as diversas formas de rompimento, qual é a mais difícil de ser


experienciada?
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PSI2 – Acho que é essa. Ou quando você acha que o trabalho está indo bem e de
repente você “cai das nuvens” e vê que não estava, porque o paciente para. Ou
então, justamente quando o paciente para porque está prestes a entrar numa
relação psicoterápica, que vai provavelmente propiciar mais mudanças e o medo
que a pessoa tem disso, o quanto ela é apegada a um jeito de ser, um lugar
conhecido. Então ela não consegue dar esse passo há uma frustração, pois você vê
que tinha toda a chance para a coisa caminhar bem e não acontece. Mas é um
direito que o paciente tem. A gente pode até querer que os pacientes melhorem... eu
acho que é impossível não desejar isso, que o trabalho caminhe bem. Mas o
importante é saber desse desejo e não achar que o paciente está ali para
corresponder a isso. Acho que são as situações mais difíceis. Ou quando o paciente,
por exemplo, se mata. Eu acho que essa é a forma mais difícil. Felizmente, eu tive
apenas uma experiência nesse sentindo e era uma paciente que foi duas ou três
sessões, era uma ação que estava começando e muitas coisas tinham sido omitidas
pela família e pelo psiquiatra que a encaminhou. Mas mesmo assim, foi uma
experiência difícil. Imagino alguém que você atende, como eu já supervisionei casos
de pessoas que atendiam o paciente fazia muito tempo e o paciente resolve um dia
acabar com a própria vida. É uma situação muito dolorosa.

LBR - É possível perceber durante os atendimentos, indícios que o cliente queira


interromper a terapia?
PSI2 – Claro. Muitas vezes é possível e quando você percebe, você tem a chance
de mostrar e trabalhar isso. Tanto para ele poder parar, como também para ele
poder ficar.

LBR – Para ele poder parar de uma forma melhor?


PSI2 – É, pelo menos sabendo por quê. Se a gente consegue perceber a tempo, né.
Por isso quando você leva um caso que o paciente parou e você não percebeu, para
a supervisão, ai você tem a chance de, revendo o material, de que havia sinais, você
não percebeu. Tem alguns que a gente está mais apto a perceber e, em outros
momentos, não é tudo que a gente dá conta de perceber e passa batido.

LBR - Em situação de abandono da terapia como procede?


PSI2 – Abandono como?
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LBR – Ele ir sem dizer nada, sumir.


PSI2 – Bom, se ele sumiu eu ligo mais uma vez para... se pessoa não deu nenhum
sinal, não avisou que iria parar, só para de ir... eu não lembro se isso já aconteceu.
Eu acho que eu ligaria para saber e se ela realmente parou, não há a ser feito. Pois
quando a pessoa vem e comunica, você tem chance de entender melhor a situação,
que pode ficar melhor tanto para você como para o paciente. Mas se o paciente
simplesmente abandona, não há o que fazer.

LBR - Na sua opinião, quais aspectos, podem influenciar o final de uma


psicoterapia?
PSI2 – Olha, ou porque a pessoa está insatisfeita, não correspondeu aos objetivos,
desejos que ele tinha em relação à terapia. E às vezes a gente nem sabe quais os
desejos que pessoa tem, as vezes é uma coisa impossível de oferecer nesse
processo. Ou porque, dentro daquilo que ela queria, ela já conseguiu, está bom. Ela
queria aquilo, você pode até achar que teriam muito mais coisas para ela ver, mas
se para ela está bom assim. Outra coisa também que leva a interrupção, a pessoa
pode mudar de cidade, pode estar numa situação econômica que não permite mais,
tempo não tem mais. Mas isso ai, questão do tempo e dinheiro, acho que são
justificativas mais superficiais, nunca é só por isso mesmo.

LBR - Durante sua experiência profissional o término da terapia com os pacientes


aconteceu por quais razões?
PSI2 – Acho que por todas essas que eu já falei. Ou porque a terapia não vinha de
encontro ao que ele desejava, embora eu costume perguntar o que ele espera da
terapia. Pois as vezes a pessoa espera uma coisa que eu não posso dar. Mas as
vezes o paciente fala que é aquilo que ele quer, mas não é. Inconscientemente ele
tem um desejo muito maior que aquele, que é de não ter mais dúvidas, não ter mais
angústias, não sofrer mais... E isso é uma coisa que não tem como oferecer. Ou
porque cumpriu aquilo que ele queria. Por exemplo, eu tinha uma paciente que ela
tinha uns trinta e poucos anos, era virgem e pesquisadora. O interessante é que na
pesquisa dela, ela tinha que passar várias horas vendo moscas de fruta se
reproduzirem. Enfim, com o processo ela acabou conhecendo num congresso um
homem, casou, mudou de país, satisfeita por ter casado. Tinha essa questão de ser
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virgem, de ter dificuldade de relacionamento. Era a queixa principal dela. Então para
ela, estava bom, naquele momento cumpriu o que ela queria e também porque ela ia
mudar para um lugar distante.

LBR - De que maneira a atuação do psicólogo pode causar o fim da terapia?(Houve


alguma situação em que você se sentiu assim?)
PSI2 – A sua situação? A minha?

LBR – É, de que maneira a atuação do psicólogo pode levar ao fim de uma terapia.
A forma como ele conduz, age... enfim.
PSI2 – Eu acho que sempre tem alguma participação da gente. A relação é de dois.
Impossível... As vezes a gente pode detectar isso mais facilmente, as vezes não dá,
porque esbarra em algum ponto cego que a gente tem. Mas a gente sempre está
implicado nessa situação, não tem como não estar implicado. Tanto na situação do
encontro, como da separação.

LBR - Em alguma oportunidade a decisão pelo fim da terapia partiu de você? Como
foi tomar essa decisão? Que sensação você teve?
PSI2 – Conscientemente, acho que a decisão nunca partiu de mim.

LBR – Nem numa alta?


PSI2 – É mais comum... ah não, teve, claro. Não é “alta” que a gente fala, mas
término daquela relação. Teve sim. Chegamos eu e a paciente, no caso, a
conclusão de que: o que nós duas podíamos fazer juntas, trabalhar juntas já tinha
sido feito. E que, pelo menos comigo, o trabalho analítico terminou. Mas mesmo
assim, a gente costuma marcar um prazo: seis meses... que pode se estender. Pois
nesse período, muitas coisas podem acontecer. O paciente pode regredir, podem vir
a tona os sentimentos ligados a separação, abandono, rejeição. Mas são coisas que
são ótimas para ir trabalhando. E se na data marcada a pessoas acredita que tenha
mais alguma coisa para trabalhar, a gente se vê mais um tempo e termina. Mas a
alta, com todas as aspas, pois não tem alta, mas término daquela relação, essa
“alta” não é muito frequente. Eu costumo brincar que é mais comum o paciente “dar
baixa”.
67

LBR – E para você, como foi, dar “alta”?


PSI2 – É um misto. Pois, embora seja um vínculo profissional, é claro que ocorre
também, vai acontecendo um relação emocional, o paciente se entrega contando
coisas muito íntimas dele... e você usa de sua intimidade psíquica também para falar
daquela intimidade. Então, eu acho que se assemelha quando um filho cresce. Um
misto de ficar satisfeito, mas ao mesmo tempo você tem que elaborar o luto. “Bom,
cresceu! Não precisa mais de mim.”

LBR - Você acredita que o motivo financeiro influencia no término de uma


psicoterapia? Por quê?
PSI2 – Olha, não sei. Acho que das várias vezes que aconteceu de um paciente que
estou atendendo passar por uma situação difícil financeira e querer parar por isso,
eu sempre oferecia a possibilidade de negociar o preço, ou de ele ficar devendo e na
hora que situação melhorar, me pagar. Como forma de ele poder continuar. Acho
que se eu assumi um compromisso com o paciente em uma situação, não vou
abandoná-lo porque ele sofreu um golpe qualquer financeiro. E as vezes é o
momento que ele mais precisa. Mas não é todo mundo que aceita. Tem gente que
não dá conta de receber essa ajuda. Tem gente que dá e vai em frente. Então, acho
que não é só dinheiro, acho que a questão é da facilidade ou da dificuldade que a
pessoa tem com as questões, por exemplo, de ser grata. Entra principalmente essa
questão e não o dinheiro. Pois se a pessoa tem dificuldade de ser grata, ela não
consegue receber isso. Ela vai achar que está fazendo uma dívida maior ainda do
que aquela que seria com o dinheiro mesmo.

LBR – Atrapalha até o andamento, depois...


PSI2 – É, ai não funciona. A gente até propõe e vê... e claro que quando isso é
proposto, esse negociação, é sempre um situação provisória. Não pode perder o
caráter de provisório nesse momento, pois se não você está decretando a falência
naquele momento e no resto da vida da pessoa. Que aquela situação econômica na
vida ela pode ser provisória, deve ser. Ela pode se recompor e arrumar novos
recursos, utilizar recursos que ela não tinha utilizado antes, para reverter a situação.

LBR - Você poderia citar algum caso que faça referência ao nosso tema de
pesquisa?
68

PSI2 – Tem tantos que é difícil pensar em um específico. Por exemplo o caso que
mostra essa questão do dinheiro. Teve, recentemente, duas pacientes que quando
vieram me procurar, elas tinha uma situação econômica muito boas. Uma,
conseguiu receber ajuda, renegociamos o preço de forma que ela pudesse me pagar
e ela continuou. Mas a outra não deu conta.

LBR – As duas tinham uma situação financeira boa, passaram para uma ruim e você
ofereceu uma negociação do preço e uma aceitou e a outra não?
PSI2 – Talvez essa que não conseguiu seja alguém que sempre tenha tido uma
situação financeira muito boa e sempre esteve acostumada a pagar, pelas coisas,
por serviços prestados e tudo mais. Então, a situação de não pagar algo ela não
suportasse. Pelo menos num primeiro momento, talvez um dia ela volte atrás e
consiga. A outra não, não era a família dela que era rica, ela casou com um homem
muito rico, mas ela nunca se sentiu tendo aquelas coisas todas. Então, era uma
pessoa que mais tranquilamente lida com isso, ou as próprias características dela de
ser uma pessoa mais livre para dar e receber.

LBR – Terminamos.
PSI2 – Terminamos?

LBR – Muito obrigada.


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Sujeito PSI3 – Abordagem Psicanalítica

Dados de identificação do entrevistado:


1. Nome do Entrevistador: Marília Lípolis Tavares
2. Iniciais do Entrevistado: PSI3
3. Sexo do Entrevistado: Feminino
4. Tempo de duração: 24’12”

Transcrição

MLT - Em qual abordagem você atua?


PSI3- Eu atuo com a psicanálise.

MLT- Há quanto tempo você atua como psicoterapeuta clínico?


PSI3 - Desde 2005, já faz 7 anos.

MLT- Qual (s) faixa (s) etária(s) você atende? Atende alguma demanda especifica?
PSI3 - Olha eu tenho todas as faixas etárias, desde crianças, adolescentes e
adultos. Mas hoje, o que mais me procura assim é adulto jovem, de 18, 19 até os 25.
Acho que se pegar a idade de todos eles estão concentrados nessa faixa.

MLT - Poderia relatar brevemente sua trajetória profissional? (Experiência em


Clínica Privada; Instituição de Saúde; Instituição de Ensino)
PSI3 - Eu comecei meu quadro na faculdade, né, eu fiz na UNIP, ai no ultimo ano
quase, quinto ano, eu fui fazendo algumas disciplinas, participando de algumas
pesquisas lá na USP e logo que eu me formei como eu já estava lá eu tive a
oportunidade de fazer, de prestar o mestrado né? Aí eu prestei mestrado, também
em psicologia, em uma área que chama saúde e doença por repetição e
intervenção, e fiz o mestrado, fiquei três anos fazendo, mas durante esses três anos
eu não tinha bolsa, então, eu precisava trabalhar, e ai eu trabalhei em vários lugares
fora da área, pra minha sustentação, trabalhei em banco, em empresas, aí na
metade do mestrado assim, fazia um ano e meio mais ou menos, eu consegui fixar
mais assim, trabalhava com RH, mas não gostava mais daquilo, ai eu consegui,
apareceu uma oportunidade de dar aula em uma universidade fora daqui, em
70

Descalvado. E ai eu comecei ficar só no consultório e dando aula, e assim foi até


hoje, de lá fui pra outra universidade, (...), fiquei na ... e na UNIP, e ai eu resolvi me
dar a chance de parar de viajar e fiquei só aqui no consultório e agora com a
pesquisa lá no HC, que eu comecei já faz um ano.

MLT - Do ponto de vista pessoal, fale sobre o luto?


PSI3 - Pessoal? Do ponto de vista pessoal o que me vem a cabeça é muita tristeza,
muita tristeza, uma época difícil, de dor, e não sei, acho que é isso que me vem
mesmo.

MLT - Como você vivência o luto em situações profissionais?


PSI3 - Bom, algumas vezes, é, acho que várias vezes a gente passa por
experiências de luto né? Até em você ter que escolher entre uma coisa e outra e
perder uma né? Então, algumas vezes foi com dor e outras vezes foi com essa cara
de opção assim, de ter que abrir mão de uma oportunidade pra investir em outra, e
ai eu tento ver como uma escolha que era necessária e que pra mim sempre precisa
ser bem pensada, entendeu? Então quando eu penso em luto pessoal, eu penso na
perda de alguém, quando eu penso em luto profissional como as minhas
experiências são sempre, foram sempre muito relacionadas a opções eu acho que
não causam tanta dor assim, é mais uma questão de reflexão isso, sobre um
caminho que tem mais a ver com minha área, que eu gosto.

MLT- O fim de uma relação terapêutica em algum momento foi tema de supervisão
ou de alguma sessão com seu terapeuta (caso faça terapia ou tenha feito)? Qual ou
quais motivo(s) o levaram a discutir tais aspectos?
PSI3 - Eu como terapeuta né? Eu acho que varias questões fizeram eu discutir
assim em terapia supervisão. A primeira é o quanto que a gente se vê esquivando
de se viver essa experiência de perda né? E, só que no consultório ela acontece de
diferentes formas, uma coisa é o paciente ir embora sem te avisar, te devendo
sessão e você nem sabe o que aconteceu, você ficar sozinho lá imaginando o que
pode ter se passado, agora outra coisa é você observar alguns sinais de que a
pessoa quer ir embora e ai isso gerar uma conversa. E a outra coisa, que eu acho
que é pior ainda, é quando você se sente um tanto quanto responsável por ter
mandado aquele paciente embora. Então acho que dá pra, não sei, visualizar assim
71

diferentes situações e diferentes sentimentos relacionados a cada uma delas, e


quando essas coisas surgem em terapia, é onde eu vou poder pensar né?
MLT - Você visualiza um pouco de fora a situação né?
PSI3 - No momento depois da sessão, quando você já esta um pouco mais né,
saciada ai você pode dividir com alguém inclusive, pensar melhor assim né? Ai eu
penso nessas diferenças, de riscos, situações, penso muitas vezes na tristeza de se
observar algumas deficiências, que sempre vão existir mas não é muito agradável
de você olhar e reconhecer, e por outro lado também da pra pensar na alegria de
ver um trabalho finalizado, ou seja, foi bem sucedido no sentido de você achar que
contribuiu e o paciente também achar, e de muitas dúvidas de quando a pessoa vai
embora e você não sabe o que que houve né? E ai aparece eu acho que uma certa
onipotência da nossa parte de imaginar que a gente devia saber o que está
acontecendo e que ele precisava de você, é uma certa é ferida meio em nos assim,
de como ele pode ter abandonado você, que ele podia ter comunicado você, e até
uma questão assim financeira, que de alguma maneira ela existe, porque é o nosso
trabalho então essa hora é a hora de pensar bastante eu acho.

MLT - Entre as diversas formas de rompimento, qual é a mais difícil de ser


experienciada?
PSI3 - Nossa, eu não sei a pior, mas a menos ruim é essa conversada e negociada
entre o paciente e o terapeuta, que dá pra você se dispedir, encerrar, mas mesmo
assim te faz pensar em um monte de coisas, você sente um monte de coisas, mas
eu acho que a pior é quando você não sente nenhum sinal, é algo muito inesperado,
e que a pessoa faz sem dar chance de falar, some e ainda deve, ai é uma mistura
de sentimentos que dá, eu acho que essa é a pior.

MLT - É possível perceber durante os atendimentos, indícios que o cliente queira


interromper a terapia?
PSI3 - Eu acho que sim, em alguns casos sim. A gente percebe muitas vezes o no
envolvimento do paciente assim com o atendimento, com você, vai surgindo alguns
sinais, é claro que cada um vai sinalizar de um jeito, mas um certo distanciamento,
umas frases em que você consegue notar isso, do tipo, “nossa, eu vim correndo”, ou
“nossa, está muito corrido”, “acho que eu já estou melhor”, “às vezes não sei o que
que eu faço quando eu chego aqui”, é “quero tirar férias e ai eu não sei como vai ser
72

depois”, então você vai percebendo assim, em alguns, né? Não sei se em todos ou
se a gente é que não consegue enxergar isso em todos, né? Faltas, atrasos, isso vai
sinalizando.

MLT - Em situação de abandono da terapia como procede?


PSI3 - Eu acho que depende também, em geral eu espero um pouco, eu espero
umas três semanas, o paciente não sinalizou não se manifestou, nada, eu tento
entrar em contato por telefone, pergunto se ele ainda tem interesse em continuar, se
eu podia entender que aquilo é um sinal de que ele não viria mais e me coloco a
disposição para quando ele precisar ele então volte a entrar em contato, essa forma
é uma forma mais ou menos padrão né?
MLT – E acontece deles voltarem depois?)
PSI3 - Não, nunca aconteceu, por enquanto não, assim, e tem alguns casos que a
gente não consegue entrar em contato assim, não te atendem, e ai você começa
entrar numa saia justa porque você quer finalizar, quer receber, e também está
cansativo ficar indo atrás, e ai eu paro pra pensar o quanto vai valer a pena, sabe, ai
muitas vezes, acho que quase todas as vezes eu sempre desisto.

MLT - Na sua opinião, quais aspectos, podem influenciar o final de uma


psicoterapia?
PSI3 - Ah, são tantos. Pode ser uma questão de alguma melhora de alguma queixa
que a pessoa tem e ela acha que é por conta daquilo e ela já está melhor, e vai
embora, porque a gente espera que o paciente fique com outro objetivo, de
autoconhecimento e tal, mas às vezes não é esse objetivo que ele tem na cabeça,
então isso é uma pena. Acho que uma outra coisa, é a dificuldade de estar com,
entre o paciente e o terapeuta, e assim, as vezes eu acho que é uma mão dupla
assim, tanto do terapeuta quanto do paciente, às vezes o encontro assim não
funciona, não conseguem ficar juntos, conversar, progredir, evoluir e ai acaba. Às
vezes pode ser também por um momento da terapia e que o paciente esta lidando
com algum conflito, alguma situação muito dolorida e por algum motivo ele não
aguenta, ele espana, e ai o terapeuta também acho que não da conta de que está
forçando a barra e ai acaba também. E acho que tem outras coisas eventuais assim,
né, mudança de cidade, dinheiro, umas coisas mais concretas assim, horário, coisas
mais concretas, acho que é a minoria, mas também influenciam.
73

MLT - Durante sua experiência profissional o término da terapia com os pacientes


aconteceu por quais razões?
PSI3 - Acho que todas essas, teve gente que foi embora porque mudou de cidade,
porque estava numa situação muito difícil financeiramente e que não pode continuar
e eu não tinha como mais baixar mais, porque já tinha feito todas as propostas né,
pode me pagar depois, mas não dava e ai foi embora, porque talvez eu também não
tenha dado conta do recado, de uma maneira firme suficiente, intensiva o suficiente,
talvez tenha sido essa questão. Ou porque também quando começou a aprofundar o
paciente espanou. Então eu acho que todas elas. Já teve gente que foi embora
muito bem, né?, que veio com um problema na cabeça, e conseguimos trabalhar
bastante, ai viu que estava bom, conversamos sobre um fim, foi um fim tranquilo,
amoroso, positivo, então acho que foi um pouco de tudo assim. A gente acha
também que é sempre com dor, com briga, mas tem muitas vezes assim, que dá pra
ser conversado, afetivo, uma separação amigável, nesses casos.

MLT - De que maneira a atuação do psicólogo pode causar o fim da terapia?(Houve


alguma situação em que você se sentiu assim?)
PSI3 - Eu acho que é quando o psicólogo não consegue mais lidar com algum
conflito ou alguma emoção, alguma reação que o paciente tem e que vai te cutucar.
Casos em que você se sente com pouca ferramenta pra poder trabalhar com aquilo,
ou por não entender, por não saber o que faz, ou por uma questão emocional, ou
por uma questão de falta de terapia na cabeça pra você estar de uma maneira mais
disponível para aquele caso, para aquela questão, enfim, simplesmente não ter uma
ligação de empatia amorosa com o paciente. E um exemplo desse é que eu acho
que mandei uma pessoa embora daqui porque eu não conseguia ter um aspecto
dela que eu pudesse falar nossa, isso me pega, isso me identifica, isso eu to vendo
que a gente pode trabalhar, não tinha e isso é muito ruim você dizer isso, parece
que você não é uma boa terapeuta, uma boa pessoa que é capaz de ver um
sofrimento além de qualquer coisa e ai não é fácil não. É difícil.
MLT - E ai nessa experiência, como que a pessoa reagiu? Foi mais difícil pra você
ou pra ela?)
PSI3 - Na verdade ela foi embora porque ela acabou mudando de cidade né. Mas eu
nunca oficialmente eu disse assim, olha, nunca não, uma vez eu disse, olha eu não
74

vou te atender porque eu acho que eu não vou poder te ajudar, tem uma pessoa
mais indicada do que eu, que foi o caso de uma menina que foi violentada, um caso
de abuso e a mãe de alguma maneira errada acobertava o pai. E a menina estava
sofrendo demais e ela já havia demonstrado isso, e eu me senti mal, e ai, eu não
quis porque eu não ia conseguir reagir a mãe por pura reação, então não deu. Mas
nessa outra paciente que eu não tive nenhuma identificação me despertava o
sentimento de não querer, nossa não tem um ponto que me liga, que me faz querer
ajudar, querer conversar, e ai fui aguentando a barra tentando pensar o que era
essas questões dentro de mim, na terapia, pra poder estra junto com ela, mas acho
que contribui um certo tempo, outro certo tempo acho que fui dando sinal de que não
ia mais, e ai acabou piorando muito no final, até porque chegou num momento da
vida dela muito difícil, e a mãe acabou tirando.

MLT - Em alguma oportunidade a decisão pelo fim da terapia partiu de você? Como
foi tomar essa decisão? Que sensação você teve?
PSI3 - Foi né, no caso dessa garota do abuso sexual, e ai, foi difícil porque eu falei
pra mãe né, que eu não poderia ajuda-la, e que eu ia encaminhar pra alguém que
trabalhava já, mais com essas questões e eu me senti em parte triste, mas em parte
muito aliviada porque eu estava sendo sincera, verdadeira não só com ela mas
comigo, de não me propor a fazer uma coisa que eu não achava que eu conseguiria.
Então eu me senti assim, honesta, que ao invés de tocar a coisa meia boca, parar.
Eu acho que, eu lembro sempre do Diloreto que foi um supervisor meu, professor,
supervisor de uma galera lá da USP, professor do Mauro, da Carmem, é um senhor
que trabalhou muito com crianças e ele vinha pra cá fazer supervisão, e ele sempre
batia nessa tecla assim, que o psicólogo, o terapeuta, ele precisa fazer uma
avaliação nas primeiras seções pra saber se ele quer aquele caso, se ele quer, se
ele pode, se ele da conta, se é a terapia mais indicada. Então eu acho que no
começo é mais difícil fazer isso, no começo da vida profissional, né?, porque você
quer atender, tem que ficar com a porta aberta e entre quem quiser, pelo amor de
Deus, mas ai quando você fica eu acho que você fica com assistente, vai sobrando
tempo, você vai vendo que não precisa ser assim, você vai ficando mais superior e
até pra poder trabalhar melhor. Então hoje eu não faço mais cheia de culpa, ou
cheia de tristeza, é claro que às vezes eu sinto, mas é muito mais uma questão de
execução, de um trabalho legal, do que uma falta de qualidade minha.
75

MLT - E tem situações assim que de repente você sinaliza para o paciente que ele
pode caminhar sozinho, mas que ele quer continuar?
PSI3 - Tem, assim porque, eu acho que assim, eu nunca tomei a iniciativa de falar
assim, olha chegou ate aqui onde você inicialmente você me falou que estava ruim
então agora você pode ir embora, eu nunca fiz isso, até porque outras questões vão
surgindo no meio do caminho, e ai eu acho que se a pessoa está vindo ela está
interessada em abordar outras questões, mas quando isso parte do paciente, ele
quer ir embora mas não vai, quer mas não vai, e parece que ele está fazendo um
pedido de autorização, ai a gente conversa sobre isso, eu tento mostrar isso pra ele,
que ele está vindo mas que se ele quiser ele pode ir embora, que ele sente que ele
ainda não foi ou o que ele sente que ele ainda está aqui e aí a gente vai
conversando sobre. E pra mim eu acho que essa é a parte mais, é o jeito mais
gostoso ou doloroso de fazer, e alguns pioram nesse momento, até pra você, porque
ele está seguro ou te deixa inseguro quanto ao final, mas eu não tenho né (.....) ,
mas aí eu acho que é o terapeuta que precisa bancar assim, as inseguranças, e
você tem que aguentar e ajudar o paciente a se desligar. E mostrar pra ele que pode
ir, confie no que existe ai dentro, sabe, demonstrar que foi legal.

MLT - Você acredita que o motivo financeiro influencia no término de uma


psicoterapia? Por quê?
PSI3 -Eu acho que sim, eu acho que sim, mas também acho que às vezes ele é o
motivo mais socialmente aceito, então é fácil de se justificar o término por isso do
que entrar em outras questões da relação, então é o que se dá pra falar, porque se
imagina-se que é o que melhor é ouvido, mas eu acho que a gente não pode deixar
de pensar que tem um fator social e assim concreto de que às vezes a pessoa não
tem mesmo, eu acho que tem uma tendência em ficar psicologizando demais, em
achar que nunca é só o dinheiro, pode não ser só o dinheiro, mas pode ser também
o dinheiro, eu acho.

MLT - Você poderia citar algum caso que faça referência ao nosso tema de
pesquisa?
PSI3 - Tenho, tem um caso de um rapaz que foi essa experiência de conversar
sobre o fim, ele veio aqui com diagnóstico de TOC, diagnosticado por um psiquiatra,
tomava algumas medicações e tinha crises assim, muito frequentes e muito dolorido,
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era sofrido, e foi um paciente difícil no começo porque ele tinha muita dificuldade de
poder pensar na parte emocional das coisas, não só no comportamento de abrir e
fechar, mas na parte emocional, na parte das fantasias que vinham a cabeça, mas
assim, aos poucos isso foi sendo possível, e a gente foi observando um momento
aqui, alí, e ele foi criando uma compreensão do que era virtual, e ai ele foi
melhorando, ele tirou os medicamentos, diminuiu, foi tendo um pouco mais de
controle sobre aquilo, não sumiu, mas ele conseguia se aguentar, conseguia sair
daqui e pensar sobre, e ai no final, quando a gente já estava nessa parte ele me
dizia que ele estava melhor e eu concordava né, nessa parte, que ele já tinha uma
compreensão de tudo que ele fazia, e aí ele queria ir embora, mas não queria, aí ele
queria fazer sessões de 15 em 15 dias, ao invés de duas vezes por semana, e aí ele
queria tirar férias, e começou a dar sinal que ele queria ir embora, que já estava tudo
bem, e ai eu falei pra ele que eu achava que ele queria ir embora mas não sabia
como e o que ele estava pensando, como ele estava com a ideia de ficar sem a
terapia e aí ele pode falar que tinha medo de uma recaída, que tinha medo de piorar
e de não ter com quem conversar sobre, e ai eu fui falando pra ele que mesmo que
a gente podia ter essa parada e que não iríamos morrer né, nem ele, nem eu, e que
qualquer coisa ele poderia retornar e a gente conversar de novo e assim foi. Ele foi
embora, casou e logo depois do casamento a gente já estava nesse processo e aí
ele deu um tempo e foi bom. Ele trouxe um, depois, ele trouxe uns dizeres assim,
sobre o fim e ai a gente meio que se despediu nesse clima assim. E hoje em dia eu
não sei como ele está, faz um ano e meio, mais ou menos, dois anos, a gente ficou
três anos juntos e faz uns dois anos que acabou e ai ele me mandou uns pacientes
ai, que chegam e dizem , ah, fulano de tal que me indicou, aí eu sempre lembro
dele, eu acho que ele sempre lembra também, e agora como eu estou lembrando
dele na entrevista né, então de alguma maneira acho que ficou, ficou um trabalho
legal assim, muito bom. É bom ter esse tipo de recordação na memória.
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Sujeito PSI4 – Abordagem Psicanalítica

Dados da Identificação do entrevistado


1. Nome do entrevistador: Liane Alves Pimenta (LAP)
2. Iniciais do entrevistado: PSI4
3. Sexo do entrevistado: Feminino
4. Tempo de duração: 19’23

Transcrição

LAP - Em qual abordagem você atua?


PSI4 - Psicanálise

LAP - Há quanto tempo você atua como psicoterapeuta clínico?


PSI4 - Bem, que eu me lembre eu comecei na clínica em 2003,há oito anos já.

LAP - Você atende alguma idade específica? Alguma demanda especifica?


PSI4 - Mais crianças e adolescentes. Tem sim uma demanda específica

LAP - Poderia relatar brevemente sua trajetória profissional?


PSI4 - Eu me formei de 99, entrei para o mestrado em 98 na verdade. Então antes
de acabar a faculdade eu optei por iniciar o mestrado. Concluí o mestrado em dois
anos e me formei em 99. Logo prestei aprimoramento para Psicólogo Hospitalar No
Hospital das Clinicas em Ribeirão, aí em 2000 mesmo no meio do ano saiu um
concurso. Eu prestei e passei pro setor de Oncologia do HC.
Já a minha clinica eu só abri três anos depois, antes eu fazia supervisão, mas ainda
não tinha clínica, fazia avaliação no hospital. Aí eu comecei a dar aula também em
2003, ai eu fiz o meu Doutorado que terminei em 2008. Especialização eu tenho.
Bom acho que é isso.

LAP - Bom mais hoje você continua com a clínica, dá aula...


PSI4 - Não, não a clínica não eu fechei não atendendo em clinica, particular, só
atendo a modalidade no HC de avaliação Neurológica e Neuropsicológica.
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LAP - Certo. Agora nós traremos algumas questões voltadas ao luto. Do seu ponto
de vista pessoal, poderia falar sobre o luto?
PSI4 - Então é luto geral ou enquanto relação terapêutica. Eu sempre me interessei
muito pelo tema morte. Ma eu estudei a morte e o luto nos textos de Freud. Eu
convivo muito com isso porque eu trabalho em hospital, então a gente tem perdas
não é. Eu acho assim, eu sempre considerei um tema interessante e de difícil
abordagem.

LAP - Percebi que você colocou aqui questões do âmbito profissional poderia falar
do luto de uma maneira mais pessoal?
PSI4 - Talvez o meu grande interesse por isso seja porque eu nunca tive ai grande
perdas na ainda na minha vida, eu tenho meus pais, meus avós, eu tive uma bisavó
até meus vinte e cinco anos de idade. Então eu tive poucas perdas. Na verdade eu
perdi a meu avô, uma prima minha que era quase uma irmã. Eu não acho fácil
trabalhar o luto e nem viver o luto. Eu trabalho com pequenas mortes: mortes com
uma mudança, uma perca de trabalho, mudança de vida. Então eu vivo mais o luto
neste sentido. Agora não tem assim nenhuma grande perda que tenha causado tão
grande impacto. Mais desta maneira assim, destes pequenos lutos. Mas eu tenho
muito medo sim de uma grande perda.

LAP - Agora a gente vai falar um pouquinho mais sobre relação terapêutica: O fim
de uma relação terapêutica em algum momento foi tema de supervisão ou de
alguma sessão com seu terapeuta? Qual ou quais motivos a levaram a discutir tais
aspectos?
PSI4 - Foi. Foi sim. Eu tenho dois momentos muito marcantes. Teve uma criança
que eu atendi no aprimoramento, quando eu fui contratada no HC eu precisei ficar
mais uns seis meses com ela, eu precisei terminar o atendimento. Mas o
atendimento eu terminei por falta de condição minha mesmo de continuar atendendo
do que por acabar. E foi muito difícil, na verdade ela era muito parecida comigo, ela
era uma criança que me remetia à criança que eu fui. E em supervisão a gente
achou que precisava parar e encaminhar ela porque não ia dar certo. Isso em
supervisão no aprimoramento. E foi assim muito difícil pra mim. Porque ouve
momentos em que eu me sentia incapaz. Esse foi o meu primeiro grande luto
profissional. E agora na minha gravidez eu tive de dispensar os meus pacientes, tive
79

que encaminhá-los porque eu não tinha a certeza de que eu ia voltar. E foi uma
grande perda porque tinha um paciente especificamente que estava comigo desde
2003. Quando eu entrei até quando eu parei. Aí quando eu parei a minha gravidez
foi em 2009, e até hoje pra mim pra mim é difícil, hoje eu lido com isso de forma
melhor, mas sempre que eu encontro a mãe dele ou ele, porque ele é paciente do
hospital ele quer me ver, a mãe dele pergunta se está tudo bem. Hoje ele ainda é
uma criança, mas ele era uma criança muito nova e eu senti muito porque eu sabia
que talvez eu não voltasse tão cedo, por isso eu encaminhei. Então estes dois casos
foram sim tema ai da minha análise.

LAP - Entre as diversas formas de rompimento, qual é a mais difícil de ser


vivenciada?
PSI4 - Bom pra mim foi quando eu não me senti assim em condições mesmo de
atender. Talvez hoje com mais idade, mais experiência talvez eu conseguisse, mas
naquela época foi muito difícil. E eu acho isso quando um rompimento acontece por
quando, quando não se ajusta o terapeuta com o paciente, mas é difícil, isso é difícil
acontecer. Porque a gente ta mais acostumada ao cliente não vir, de repente
desaparece, isso acontece. E comigo acontece bastante porque eu trabalho com
criança. Porque quando a mãe não quer mais trazer não tem mais o que fazer. Às
vezes você não tem uma ultima sessão com a criança, nem se despediu. Mas pra
mim eu achei mais difícil esta questão de eu não conseguir atender a pessoa.

LAP - E é possível perceber durante os atendimentos, indícios que o cliente queira


interromper a terapia?
PSI4 - Eu acho que é. Eu acredito que sim, a gente percebe na relação. Eu percebi
o fim da minha relação com a minha terapeuta. Neste momento eu estou sem
análise, em Janeiro eu finalizei a minha análise. Não por alta, eu resolvi que não
queria mais. Eu não sei se ela percebeu, eu acredito que sim. Eu acho que é
possível sim. Tanto o psicólogo quanto o cliente, não sei se o cliente percebe isso,
se tem este olhar atento. É possível sim. Agora se o psicólogo não percebe eu
acredito que alguma coisa está falha aí na comunicação

LAP - Em situação de abandono da terapia como procede?


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PSI4 - Como eu trabalho muito com criança, sei lá de repente parou de vir. Eu nunca
deixei de ligar, eu ligo na hora da sessão pra família e peço para falar com a criança
e pergunto: Olha eu fiquei te esperando, eu estou aqui no seu horário, o que foi que
aconteceu? Então todas as sessões que há falta eu nunca deixei de ligar. Sempre
ligo. Ai quando isso acontece e os pais dizem que vão trazer a criança e não trazem
ai eu suponho que ela não vai mais vir. Aí eu telefono também no horário da sessão
eu peço para que ela venha pelo menos mais uma vez. Mesmo que ela diga que não
vai pagar. Neste caso eu digo que não tem importância. Mesmo com adultos faço a
mesma coisa, quanto à questão é dinheiro: Ah não tenho dinheiro pra te pagar! Eu
digo: Olha então não paga, é só pra gente finalizar. É desta maneira que eu
procedo.

LAP - Em sua opinião, quais aspectos, podem influenciar o final de uma


psicoterapia?
PSI4 - Depende que tipo de fim. Em criança, por exemplo, tem a dificuldade com os
pais, a expectativa dos pais, da própria criança. Pode ser também a
indisponibilidade do profissional. Pode ser que o profissional não esteja disponível,
que o horário não seja bom para ele. Apesar de que este motivo é possível de
ajustes. Agora o término da minha análise, por exemplo, foi um pouco isso, eu não
conseguia mais fazer o mesmo número de sessões por semana, eu diminui por
conta da minha indisponibilidade. E eu ainda não tenho condições de voltar. De
repente ah! Vamos fazer aí duas vezes por semana, eu não consigo. E aí eu optei
por não fazer mais. Por isso estava muito ruim para a minha relação com ela, eu não
estava gostando. Então eu estou aguardando, tô dando um tempo.

LAP - Durante sua experiência profissional o término da terapia com os pacientes


aconteceu por quais razões?
PSI4 - Tem os problemas dos pais com a psicóloga, podem existir problemas que
nem é com a criança. Às vezes começa a discutir com os pais e aí eles somem.
Muitas vezes há problemas graves relacionados e a família não quer enxergar. Tem
problemas entre marido e mulher, Então um quer levar e o outro não quer, de
repente um quer levar a criança mais o outro não quer. Então pra começar uma
terapia tem que ter um engajamento, minimamente dos pais, quando há quebra é
muito complicado. Ou os pais querem ou o responsável quer ou fica difícil começar.
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LAP - De que maneira a atuação do psicólogo pode causar o fim da terapia?(Houve


alguma situação em que você se sentiu assim?)
PSI4 - Eu acho que em psicanálise acontece muito isso, por que: “ Ah, você fala com
a minha filha e não fala comigo. Então o psicólogo precisa dar retorno.Tô falando de
retorno, precisa dar retorno para os pais. Então eu faço as avaliações iniciais e a
gente dá uma previsão de três meses a quatro meses pra voltar a conversar e ai
nesse meio tempo a gente pode voltar a começar. Então eles tem que saber o
objetivo que eu procuro atingir. E não saber o que está acontecendo naquela sala,
porque o pai quer saber. Mas aquilo não é pra ele , então o que é pra ele, vai ser o
que é permitido. Porque eu preciso ter este espaço com a criança ou não consigo
trabalhar. E a gente excluir , porque a criança não esclarece duvida da família é um
motivo grande ai para terminar a terapia. Se não o maior mais um dos motivos para
terminar

LAP - Você acredita que o motivo financeiro influencia no término de uma


psicoterapia? Por quê?
PSI4 - Eu acho que às vezes não é uma influência direta, quando o paciente diz não
ter dinheiro a postura é outra. Posso negociar. Quando acontece o fim mesmo pelo
dinheiro, também pode ser falta de prioridade, não querer investir dinheiro nisso.
Pegar o seu dinheiro e investir em uma psicoterapia, você pode achar coisas mais
importantes. Mas também pode ser puramente financeiro. Na relação comigo, por
exemplo, isso não necessariamente é o fim. Eu não sou de baixar o preço, eu
respeito minimamente à tabela dos psicólogos. Acho que não precisa atender barato
para conseguir cliente, eu nunca fiz isso. Então não é isso, negociar como vai pagar,
dá pra negociar para que este não seja o motivo. Então eu tento contornar, mas por
vezes.

LAP - Uma ultima questão: Você poderia citar algum caso que faça referência ao
nosso tema de pesquisa?
PSI4 - Ah eu acho que tem aqueles casos também que há outro tipo de desajuste.
Por exemplo, o psicólogo quer a alta e o indivíduo diz que não, tem vezes em que
você identifica que a criança está bem, mas os pais insistem em continuar os
atendimentos, e muitas vezes isso também pode acontecer com adultos. Mas é isso.
82

LAP - Gostaria de agradecer a disponibilidade e o aceite em colaborar com a nossa


pesquisa. Obrigada.
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Sujeito PSI5 – Abordagem Psicanalítica

Dados da Identificação do entrevistado


1. Nome do entrevistador: Bruno Augusto Pinafo (BAP)
2. Iniciais do entrevistado: PSI5
3. Sexo do entrevistado: Masculino
4. Tempo de duração: 31’12

Transcrição

BAP - Em qual abordagem você atua?


PSI5 - Psicanálise.

BAP - É conhecido que dentro da psicanálise, existem correntes teóricas, qual você
utiliza?
PSI5 - Sempre trabalhei com Winicott, mas ultimamente estou trabalhando com os
vértices de Melaine Klein e Bion.

BAP - Há quanto tempo você atua como psicoterapeuta clínico?


PSI5 - Há sete anos.

BAP - Qual (s) faixa (s) etária(s) você atende? Atende alguma demanda especifica?
PSI5 - Mais adulto e adolescente, mas ultimamente tenho atendido crianças
também, crianças de idades variadas.

BAP - Poderia relatar brevemente sua trajetória profissional? (Experiência em


Clínica Privada; Instituição de Saúde; Instituição de Ensino)
PSI5 - Atuei e atuo com atendimento individual em consultório particular, já realizei
acompanhamento terapêutico durante um tempo, lecionei aulas em cursos técnicos
de radiologia e enfermagem; sempre em matérias relacionada a psicologia,
principalmente a psicologia da saúde.

BAP - Do ponto de vista pessoal, fale sobre o luto?


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PSI5 - O luto é uma possibilidade saudável, onde a pessoa sente tristeza, é um


percurso natural da mente humana, a nós passamos por uma perda, onde temos
que elaborar esta perda, para poder ganhar uma outra coisa, sendo assim durante a
vida temos vários lutos e com isso vários amadurecimentos.

BAP - Como você vivência o luto em situações profissionais?


PSI5 - O luto acontece frequentemente, porém num paciente que as coisas vão
evoluindo e andando bem é mais tranquilo, ou seja a pessoa esta caminhando para
o término de um processo de análise, apesar da questão do término ser algo
bastante questionável entre os psicanalistas. Já o paciente que abandona, some
sem dar motivo, este é mais complicado, mas acontece, é mais complicado nessas
situações repentinas de abandono e também em situações de impasse, onde eu
acho que a pessoa não deve parar e ela considera que sim. Isso é mais complicado.
Lembrando que acontece outras situações como pessoas que mudam de cidade, ou
seja abandonam por necessidade, desta forma também vivenciamos o luto.

BAP - O fim de uma relação terapêutica em algum momento foi tema de supervisão
ou de alguma sessão com seu terapeuta (caso faça terapia ou tenha feito)? Qual ou
quais motivo(s) o levaram a discutir tais aspectos?
PSI5 - Faço análise, quatro vezes por semana, faço análise há um bom tempo na
minha vida e discuto sim essas questões, pois acho que a pessoa continua
pensando na gente e a gente continua pensando na pessoa. Tem questões que
você acaba chegando a conclusão que poderia ter agido de uma outra forma com o
paciente, devido a experiência que vai adquirindo com o tempo, mas faz isso faz
parte da vida.

BAP - Entre as diversas formas de rompimento, qual é a mais difícil de ser


experienciada?
PSI5 - O impasse, ou seja, é um ponto de corte dentro da mente do paciente, mas
que para você não existe, o paciente argumenta questões para sair, mas que para o
terapeuta não faz sentido, e isso é muito ruim, tanto pra mim quanto pra ele, pois o
rompimento acontece sem que haja um comum acordo, mas temos que respeitar
qualquer decisão do paciente.
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BAP - É possível perceber durante os atendimentos, indícios que o cliente queira


interromper a terapia?
Sim, essa questão esta muito ligada a maturidade que você vai adquirindo como
terapeuta com o tempo, pois no começo você é mais flexível, aceita mais as faltas e
outras questões, já com o tempo, quando você percebe que a pessoa esta
começando a ir para o caminho de interromper você já age de outra maneira, sendo
mais incisivo, desta forma as coisas melhoram, mas haja treino para isso.

BAP - Em situação de abandono da terapia como procede?


PSI5 - Como todo mundo procede, permitindo que o paciente faça o que ele quiser,
ligar para o paciente pode ser pior e nós ficamos “quietinho”, pode ser que o
paciente retorna, pode ser que não, mas o paciente sabe que você vai estar ali, caso
ele precise retornar.

BAP - Na sua opinião, quais aspectos, podem influenciar o final de uma


psicoterapia?
PSI5 - O que mais influencia são os conflitos entre o terapeuta e paciente, mais do
que qualquer coisa, mais que a questão financeira, hoje eu afirmo isso, quem quer
fazer de fato terapia, da um jeito, negocia. A questão é que você mostra uma coisa
que a pessoa não quer enxergar, ou se enxerga não quer aceita, principalmente
patologias mais severas, por exemplo usuários de droga, quando você começa a
mostrar para ele que ele ta se destruindo, independente da abordagem, eu acredito.
A pessoa começa um processo de não aceitação, ai complica bastante. Já quando o
paciente suporta isso, aceita, ai é uma das coisas mais bonitas que eu já vi, ele
aceita que está se destruindo, acorda para o que está acontecendo, ai a coisa flui.

BAP - Durante sua experiência profissional o término da terapia com os pacientes


aconteceu por quais razões?
PSI5 - É acredito que mais pelas questões de impasse que havíamos comentado
nas questões anteriores. Já pela questão financeira acredito que muito pouco,
pensando que também as vezes as pessoas não queiram lhe falar isso, mas que eu
tenha notado ser por questão financeira muito pouco.
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BAP - De que maneira a atuação do psicólogo pode causar o fim da terapia?(Houve


alguma situação em que você se sentiu assim?)
PSI5 - Acho que todas as situações você tem influencia né, se você é muito
maleável ouse é muito rígido, se você vai auxiliá-lo negociando a questão financeira,
sendo que as vezes o próprio paciente relata que gasta muito dinheiro com outras
coisas e com a terapia está solicitando auxilio, então acredito o terapeuta influencia
de diversas formas em todos os casos.

BAP - Em alguma oportunidade a decisão pelo fim da terapia partiu de você? Como
foi tomar essa decisão? Que sensação você teve?
PSI5 - Tive duas situações que eu me lembre, onde eu mesmo acabei me
afastando, era um caso de um paciente alcoolista muito caótico, a pessoa chegava
bêbada na sessão, eu sentia um desprezo muito grande, a mãe dele me procurou,
eu disfarcei e de alguma forma e quis dizer que não dava, não se hoje eu faria isso,
mas também não sei se hoje eu aceitaria pegar este caso, este é problema do
recém formado, você aceita tudo o que aparece. Teve uma outra situação que a
pessoa criou uma dívida muito alta comigo e não teve como.

BAP - Você acredita que o motivo financeiro influencia no término de uma


psicoterapia? Por quê?
PSI5 - Na psicanálise nós temos dois perigos, o primeiro de achar que não é nada
financeiro, tem questões na história da psicanálise que a pessoa se endividou e foi
para o fundo do poço, para mim isso é perversão. E existe também o perigo de você
ficar no financeiro, este eu estou aprendendo mais agora, pois é necessário
conversar, analisar, talvez seja melhor você parar deixar a pessoa se reerguer
depois ela volta ou existe caso até de você negociar abaixar o preço, mas tem que
ser bem analisado, pois em algumas situações a pessoa te fala que está sem
dinheiro para o custo da terapia, mas está gastando por aí com um monte de coisa
menos importante, tem que ser analisado.

BAP - Você poderia citar algum caso que faça referência ao nosso tema de
pesquisa?
PSI5 - Sim, eu fiquei pensando em lembrar de alguma situação em que a pessoa
cria um ódio tão grande da gente, que ela some e não te paga. Por mais que não
87

tenha respondido a expectativa dela, ela some, parece que ela te coloca numa caixa
preta no fundo do mar.
Isso é muito ruim, afinal houve um contrato verbal, você mantem a ética. É uma
situação intima ou seja ela lhe conta questões extremamente pessoais, você
respeita, trabalha, dedica seu tempo a pessoa e ela some. Isso de fato é muito ruim.
Me lembrei de um caso que a pessoa chegou com a queixa sobre sua situação
conjugal, via tendo dificuldades. O fato é que tempos depois esta pessoa entrou no
vigilantes do peso, emagreceu, falou que sua vida com o marido melhorou, que eles
estavam bem, felizes, e ela sumiu, sem pagar ou seja, sobrou pra mim.
88

Sujeito CPT1 – Abordagem Comportamental

Dados de identificação do entrevistado:


1. Nome do Entrevistador: Hugo Lopes Gomes (HLG)
2. Iniciais do Entrevistado: CPT1
3. Sexo do Entrevistado: Feminino
4. Tempo de duração: 18’00”

Transcrição

HLG - Em qual abordagem você atua?


CPT1 – Na análise do comportamento

HLG – Por que você fala análise do comportamento quando todo mundo fala em
abordagem comportamental?
CPT1 – A abordagem comportamental era um termo utilizado a um tempo atrás, é
um termo correto também, mas a associação brasileira de análise do
comportamento já vem a algum tempo trocando este nome, então dentro dos
analista do comportamento, a gente está tirando esse nome comportamental que
tem certo preconceito das pessoas que pensam que a comportamental é aquela
comportamental associada ao Watson, a qual trabalha com a teoria psicologia SR,
que é a teoria estimulo- resposta, e a comportamental está muito associado a esta
teoria. Por conta disso teve esta mudança de nome, que atualmente nos
consideramos analistas do comportamento.

HLG - Há quanto tempo você atua como psicoterapeuta clínico?


CPT1 – Faz 11 anos

HLG - Qual (s) faixa (s) etária(s) você atende? Atende alguma demanda especifica?
CPT1 – eu atendo adolescente a partir de 14, 15 anos e idade adulta.

HLG – Crianças, você atendeu alguma vez?


CPT1 – Eu atendi no início do meu consultório, mas eu parei já faz uns nove anos.
89

HLG – Você poderia relatar assim de maneira breve a sua trajetória profissional?
Sua experiência na Clínica Privada; em Instituição de Saúde; Instituição de Ensino
superior.
CPT1 – Bom. Quer que fale desde período de estágio? Não, depois na parte
profissional?

HLG – É pode falar da parte profissional.


CPT1 – Tá, então logo que eu me formei eu fiz um aprimoramento em psicologia
clínica no Hospital das Clínicas da USP, que tem duração de dois anos, quarenta
horas semanais, então neste período não dava para investir muito em consultório,
mas mesmo assim eu abri o consultório e comecei a atender a noite. Na época
trabalhando um pouco mais com orientação profissional, atendendo adolescentes
com essa demanda específica de vestibular. Ai quando eu terminei o aprimoramento
eu também entrei no mestrado e logo depois eu entrei como contratada no Hospital
das Clínicas, trabalhando na área de geriatria e cardiologia. E na época eu e o
professor de lá, nos criamos um ambulatório de terapia comportamental, que existe
até hoje, que funciona até hoje. Aí logo que eu entrei na clínica, eu continuei na
clínica até hoje. Eu saí do HC, eu fiquei lá em torno de uns dois anos como
contratada né, tirando este dois anos de aprimoranda, mas atualmente eu trabalho
só no consultório.

HLG – Ok! E assim, do ponto de vista pessoal, você poderia falar um pouco sobre
luto?
CPT1 – Bom! É sempre um tema difícil de falar né? Eu acho que o luto, todos nós
vivenciamos em algum momento da nossa vida. É, assim como os meus clientes eu
também acho um momento difícil. Um momento que todas as vezes que eu passei
na minha vida eu me permiti sentir, me permiti chorar, me despedir. Inclusive nos
vários lutos que eu tive no decorrer da carreira. Sei lá. O luto com estudante. O luto
com ... As várias fazes da minha profissão. Então eu entendo o luto com uma fase
maior, uma fase de transformação. Que tem um sofrimento, mas também tem um
crescimento muito grande a partir disso. Mesmo na perda de alguém. Se você perde
alguém, você sofre, mas partir daquilo você amadurece, ganha algumas coisas.
90

HLG – É a próxima pergunta vinha de encontro a isso que você está falando né.
Como você vivência o luto em situações profissionais? Mais ou menos isso que você
já respondeu.
CPT1 – É. Nas situações profissionais tem isso que eu disse das mudanças da
carreira e também tem os momentos que a gente é...Sei lá um momento de alta de
um paciente, quando um pessoa desiste. Que eu acho que é um momento mais
difícil. Quando desiste você fica pesando. Eu sempre tenho este cuidado de pensar.
Qual foi o meu papel nisso? Ou não. É o momento da pessoa. Eu tento sempre fazer
uma análise cuidadosa para entender esse processo. E crescer com isso e de
preferência ajudar essa pessoa que está comigo em terapia a crescer também com
esse processo de despedida.

HLG – Então, o fim de alguma relação terapêutica sua foi por acaso motivo de tema
em supervisão ou sessão com seu próprio terapeuta, caso você tenha feito ou faça?
E quais motivos levaram você a discutir esse eventual aspecto da perda de uma
relação terapêutica em supervisão ou em terapia?
CPT1 – Tiveram casos bem específicos assim. Muito mais... Na verdade teve um
caso que me marcou mais, que foi um caso de uma pessoa que tinha tido uma
perda significativa, e ela estava me substituindo por essa pessoa que ela perdeu.
Então ela estava em uma situação de luto, na época em supervisão a gente
entendeu que ela fazer terapia comigo estava sendo pior para ela, e ai eu tive que
ter essa conversa com ela. Foi uma conversa muito difícil para mim, por que era um
momento que eu estava dando alta para essa pessoa. Na verdade encaminhando
para uma pessoa, que na verdade eu até tive contato depois e vi que teve sentido
fazer aquilo. Que realmente fez bem para ela essa despedida. Mas é uma decisão
difícil sempre. A alta em si não é tão difícil. Porque você vê que a pessoa tá bem,
não necessita mais da terapia. Mas, decidir parar quando as coisas não estão bem,
é muito mais difícil.

HLG – Foi durante a faculdade? Ou depois de já formada?


CPT1 – Já formada.

HLG - Entre as diferentes possibilidades de haver um rompimento na relação


terapêutica, qual é a mais difícil de ser experienciada, em sua opinião? Qual é a
91

experiência mais marcante de uma relação terapêutica. Pela morte do paciente. Pelo
paciente ter abandonado?
CPT1 – Então, eu tive experiências diferentes. No HC eu tralhava na geriatria e na
cardiologia. Então lá eu tive vários términos de relação por causa de morte do
paciente. No consultório isso nunca aconteceu. É eu penso que é muito difícil essa
fase da morte. Apesar de a gente trabalhar no hospital na época, mesmo assim é
difícil, quando você se apega mais ao paciente. Se apegar no sentido de atender
mais tempo, de terá já um vinculo com aquela pessoa, assim com tem com você.
Então paciente que você atende a mais de um ano. Fica um pouco mais difícil. No
consultório particular a experiência mais difícil é o processo de desistência.

HLG - É possível perceber durante os atendimentos, indícios que o cliente quer


interromper a terapia?
CPT1 – Ah! Sim. Existe clareza. A pessoa tem bastante dificuldade de falar mais
dela, de aprofundar nos temas. Então dá para perceber que ela tá rodeando num
mesmo assunto. Então ela não consegue aprofundar. Não consegue discutir. Eu
também percebo que alguns assuntos talvez sejam muito mais incômodos, por que
nós chegamos num momento da terapia que é mais difícil de falar daquele assunto,
ai uma hora esta pessoa pode interromper.

HLG – E assim, na situação de abandono da terapia como é que você procede?


CPT1 – Bom. Eu entro em contato com a pessoa. Pode acontecer da pessoa não ir
mais né. Ela simplesmente some. Então eu mesma ligo. Pergunto para pessoa o
que está acontecendo. Se ela falar: Ah acho que eu não vou mais. Eu tomo o
cuidado de sempre tentar marcar uma sessão de encerramento, para finalizar o
processo, avaliar o que ela conseguiu até o momento, até a necessidade de
continuar. Verificar se ela quer um encaminhamento, então eu faço esse
encaminhamento. Então eu tento sempre fazer esta sessão de finalização.

HLG – Você costuma ter sucesso? Assim, os pacientes retornam para fazer esta
sessão de finalização?
CPT1 – Voltam. A grande maioria volta. Se sente muito acolhido com isso de ter um
espaço sem cobrança. Você está chamando a pessoa independente dela continuar
92

a terapia. Você quer dar este suporte final, ensinar ela a terminar direito uma
relação. Este é o objetivo.

HLG – E você acaba, por exemplo, tendo algum tipo de sucesso nessa empreitada
de fazer com que o paciente se mantenha em tratamento?
CPT1 – Sim.

HLG – Quantos porcento você diria que estes casos ocorrem?


CPT1 – Olha! Isso de ligar, mostrar uma preocupação que é real com a pessoa no
momento que ela esta vivendo, em torno eu acho de uns 70% voltam e continuam
com a terapia. Entendem que é uma fase, que estavam meio desesperados, ou
outros motivos, às vezes são questões financeiras que a pessoa tá sem coragem de
falar, a gente rediscute, revê, e a pessoa continua.

HLG - Na sua opinião, quais aspectos, podem influenciar o final de uma


psicoterapia?
CPT1 – Tem isso, as vezes da questão financeira em si O fato serem assuntos que
são muito difíceis. Pessoas que às vezes tem pouco repertório pra... repertório de
autoconhecimento. Então quando eu começo fazer questionamentos relacionados a
isso a pessoa tem mais dificuldade. Isso pode interferir.

HLG - Durante sua experiência profissional o término da terapia com os pacientes


aconteceu por quais razões? Eh! Por quais razões aconteceram experiências de
termino de terapia com você? Que você pode lembrar?
CPT1 – Termino? Eh! Olha a grande maioria foi porque a pessoa estava em um
momento da vida dela que ela realmente não dava conta de mexer no tema
especifico. Então sei lá. Um cliente com TOC grave. E que ele tá com muita
dificuldade de enfrentamento, de lidar com as situações que ela está tendo naquele
momento, então isso algumas vezes leva ao término.

HLG – Que outros exemplos você pode dar? Você citou aqui no Hospital alguns
pacientes por morte.
93

CPT1 – Familiares que não conseguem levar mais, né! Isso é muito comum no
hospital. No consultório às vezes tem mudança de cidade, principalmente das
pessoas mais jovens.

HLG – E por sua parte assim? Algum tipo de paciente que você não conseguiu
atender? Limitação pessoal?
CPT1 - Não, nunca aconteceu. Teve esse caso em especial, que foi um caso único
que eu tinha contado antes, mas eu parar porque eu não dei conta, aquele caso era
mais complexo assim não! Isso nunca aconteceu. Já aconteceu de pessoas com
caso complexo, que tem uma história de mudar de terapeuta, e eles desistirem. Mas
eu desistir...vamos dizer assim eu desistir de um paciente, nunca. Isso nunca
aconteceu.

HLG - De que maneira a atuação do psicólogo pode causar o fim da terapia? Houve
alguma situação em que você se sentiu assim? A maneira como você atuou
provocou diretamente o fim da terapia? Qual tipo de atuação do psicólogo pode
causar?
CPT1 – teve uma situação. É isso do momento da pessoa né? Então era uma
pessoa que tinha um transtorno grave, e que eu e o psiquiatra, nos atendíamos bem
em sintonia, conversávamos bastante. E ele deu uma orientação para a pessoa,
sobre desligar o computador, que ela estava em um momento bem obsessivo com
computador. Eu dei a mesma orientação, só que aí comigo ela não reagiu tão bem.
Por que ela já estava brava com o psiquiatra, e também ficou brava comigo. Eu fiz
todo o processo de finalização. Até dei um suporte por telefone por um tempo para a
pessoa, mas acabou assim.

HLG - Em alguma oportunidade a decisão pelo fim da terapia partiu de você? Como
foi tomar essa decisão? Que sensação você teve?
CPT1 – Sim, teve uma vez que eu decidi finalizar o processo terapêutico por
perceber que a relação comigo estava sendo prejudicial para a cliente. Era uma
pessoa que tinha perdido uma pessoa e não estava melhorando com a terapia. Daí
discuti esse caso em supervisão e avaliamos o quanto ela estava de alguma
maneira me colocando no lugar dessa pessoa, aí decidi encaminhar para outra
pessoa. Foi uma decisão bem difícil, fique muito na dúvida se não estava
94

abandonando ela, mas fiz uma análise funcional muito detalhada e hoje tenho
certeza de que fiz o melhor para ela. Ela foi encaminhada para uma pessoa que
tinha outra idade e do sexo oposto, depois tive informações de que ela melhorou
bastante e também entendeu o motivo de eu ter feito o que fiz.

HLG - Você acredita que o motivo financeiro influencia no término de uma


psicoterapia? Por quê?
CPT1 – Com certeza. Terapia é algo bem caro e muitas vezes as pessoas nem
começam a fazer terapia porque não tem dinheiro. Agora, quando já começaram
pode acontecer da pessoa ter uma dificuldade financeira, sei lá, porque foi mandada
embora do trabalho ou porque a empresa que tem não está bem. Quando essas
coisas acontecem eu tento ao máximo renegociar a terapia pois já iniciei a terapia
com a pessoa e acho importante tentar finalizar. Devido a isso, poucas vezes tive
situações em que alguém deixou a terapia por causa disso, mas já aconteceu.

HLG - Você poderia citar algum caso que faça referência ao nosso tema de
pesquisa?
CPT1 – Sim, deixa um me lembrar, você quer dizer quanto a essa questão do luto?

HLG: É
CPT1 – Bom, acho que como já disse aquele caso que eu dei alta que foi uma
situação de luto e também caso em que eu sabia que a pessoa se beneficiaria muito
da terapia, mas ela desisti porque diz que não está aguentando vir nesse momento,
não está conseguindo organizar a vida e eu vejo que isso poderia melhorar muito.
Tento falar diretamente com a pessoa sobre isso, já que na abordagem
comportamental fazemos isso, mas, mesmo assim a pessoa desisti.
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Sujeito CPT2 – Abordagem Comportamental

Dados de identificação do entrevistado:


1. Nome do Entrevistador: Hugo Lopes Gomes (HLG)
2. Iniciais do Entrevistado: CPT2
3. Sexo do Entrevistado: Feminino
4. Tempo de duração: 22’11”

Transcrição

HLG – Primeiro eu queria te agradecer por estar participando dessa entrevista.


Primeiro eu queria saber em qual abordagem você atua?
CPT2 – Eu atendo na abordagem analítico-comportamental.

HLG – É, quanto tempo você trabalha como psicoterapeuta na área clínica?


CPT2 – 7 anos.

HLG – 7 anos?
CPT2 – É

HLG – E tem alguma faixa etária e alguma demanda específica que você atende ou
é geral?
CPT2 – É geral, só não atendo mais criança assim a área infantil eu atendia. Agora
eu deixei de atender.

HLG – Por algum motivo especial?


CPT2 – Eu gosto de criança, mas acho que ela demanda muito mais tempo, na
análise do comportamento você tem que ir na escola, tem que trabalhar com a
família, tem que trabalhar com a criança e trabalhando com a criança eu descobri
que eu gosto muito de trabalhar com os pais.

HLG – Hum, hum.


CPT2 – Mas eu gosto de trabalhar com a criança, mas para mim, as sessões mais
importantes eram com os pais.
96

HLG – Entendi. Você poderia relatar um breve histórico da sua trajetória profissional,
experiência clínica, se você teve alguma experiência em instituição de saúde,
instituição de ensino, como é que foi assim a sua trajetória da sua formação?
CPT2 – Olha eu estou com a clínica desde que eu sai da faculdade. Quando eu sai
da faculdade eu tinha dois clientes que os professores tinham indicado e eu comecei
na clínica, eu nunca trabalhei em instituição né, me formei em Bauru e de lá pra cá
só foi a clínica, todo o tempo da minha trajetória profissional foi a clínica.

HLG – É alguma formação acadêmica especial, como foi, alguma formação,


especialização.

CPT2 – Sim, eu fiz especialização no Psicolog que é na linha de análise do


comportamento e na minha faculdade também eu era bastante voltada para análise
do comportamento, eu tive uma formação muito forte que contemplava tudo, análise
do comportamento, análise experimental, então quando eu sai da faculdade, eu me
senti bastante apta a atual nessa abordagem e depois veio especialização, na
questão da clínica né, foi o que eu fiz.

HLG – Do ponto de vista pessoal eu queria que você falasse sobre o luto, que é o
objetivo do trabalho né
CPT2 – Do luto, como assim?

HLG – Do luto, não só da morte, mas como perda de aspectos gerais, uma
avaliação pessoal.
CPT2 – Eu acho uma coisa bem difícil assim, eu perdi poucas pessoas na minha
vida, o que eu mais perdi, eu tive muita falta, o que eu mais senti, é para falar nesse
sentido você diz?

HLG – É. Do ponto de vista pessoal.


CPT2 – Então, eu acho que tem vários tipos de luto, tem o luto por morte que foi
uma pessoa muito importante que eu perdi que foi meu avô quando eu tinha 18, 19
anos que foi quando eu tive meu primeiro contato com isso, né, foi bem difícil e
assim, era uma relação boa e acabou sendo superado né. Outro luto que eu tive
bastante forte mesmo. Foi o luto do fim da faculdade, de ter que terminar tudo e
97

deixar as amigas, deixar a condição de estudante, eu sofri acho que um ano mais ou
menos, foi bem forte e eu fiquei em Bauru, então para mim tudo cheirava a situação
de estudante assim foi mais difícil.

HLG – Como você vivência o luto em situações profissionais?


CPT2 – como assim?

HLG – O luto de uma maneira geral. Situações gerais que levam ao fim da relação
terapêutica.
CPT2 – Experiência de perder um paciente por morte eu nunca tive. Teve um
paciente que encerrar a terapia foi muito difícil. Era um caso que o paciente que
usava drogas tinha sido abandonado pela família, foi muito difícil passar por isso,
pois eu tive que encerrar a terapia, pois eu ia voltar para Ribeirão Preto. Foi um
paciente que eu atendi na faculdade e depois ele seguiu tratando comigo. Como eu
era uma figura importante na vida dele, e a experiência em lidar com essas
situações era pouca, foi difícil lidar com minhas preocupações.

HLG – O fim de uma relação terapêutica em algum momento foi tema de supervisão
ou de alguma sessão com seu terapeuta (caso faça terapia ou tenha feito)? Qual ou
quais motivo(s) o levaram a discutir tais aspectos?
CPT2 – Sim. Este caso foi um. Precisei conversar com meu supervisor. Eu atendia o
paciente e depois a minha supervisora tinha que aguentar as minhas angústias.
Uma coisa que eu precisei trabalhar muito pessoalmente também. Ver...entender
que tinham algumas coisas que eu precisava considerar melhor.

HLG – Entre as diversas formas de rompimento, qual é a mais difícil de ser


experienciada?
CPT2 – Nossa são tantas formas. Como eu não tenho experiência de ter perdido
nenhum paciente por morte, não sei como reagiria assim. Imagino que não seria
uma experiência fácil, mas não sei...Uma coisa difícil é se imaginar pouco assertivo
na hora do entendimento. Pensar que o paciente possa desistir por falta...por não ter
experiência suficiente, mas acho que isso é uma coisa associada a falta de
experiência. Colocar sobre si toda a responsabilidade pela desistência do paciente.
98

Com o tempo você começa a perceber que também há o tempo do paciente.


Enxergar o momento que seu paciente vive.

HLG – É possível perceber durante os atendimentos, indícios que o cliente queira


interromper a terapia?
CPT2 – Sim. Pelas faltas recorrentes. Às vezes o paciente não se coloca muito
presente na sessão, tem dificuldade de trabalhar algumas questões.

HLG – Em situação de abandono da terapia como procede?


CPT2 – Bom. Eu tento ligar, saber o que aconteceu. Converso um pouco pelo
telefone, mas o que é mais importante é que eu ligo para convidar para uma sessão
de encerramento. É importante fazer isso, tem uma função colocar para o paciente o
que foi feito até o momento.

HLG – Na sua opinião, quais aspectos, podem influenciar o final de uma


psicoterapia?
CPT2 – Como eu já disse antes é importante avaliar o momento do paciente. Mas
por parte do psicólogo acho que pode ser a atitude. Às vezes não ser
suficientemente acolhedor pode ser um aspecto a ser considerado. O paciente
busca algo no terapeuta que não encontra em geral nas pessoas. Em geral passa
por contar suas dúvidas e dificuldades sem crítica, sem ser apenas criticado. O
manejo clínico também pode ser um problema, isso é uma questão pior no começo
da carreira.

HLG – Durante sua experiência profissional o término da terapia com os pacientes


aconteceu por quais razões?
CPT2 – Em geral foi por alta, por entender que os objetivos do tratamento foram
atingidos e a paciente pode agora seguir por si só, tem condições de cuidar de suas
coisas. Estas situações são mais fáceis de lidar porque você sente o dever
cumprido. Muitas vezes a melhora do paciente acaba por estreitar as relações, mas
por alguns dias a gente fica um triste... triste não fica um pouco mais abalada, mais
passa logo. Também tem pacientes que vieram em algumas sessões e não voltam
mais. Na verdade relações que às vezes nem chegaram a começar de fato. Tem
também os aspectos financeiros, mas a gente sempre negocia. As vezes o paciente
99

perde o emprego e precisa negociar os entendimentos. Tive uma paciente uma vez
que entrou nesta situação, negociamos por um preço menor e ela se manteve em
terapia até terminar o seguro desemprego dela. Ela decidiu parar, pois priorizava
outras coisas mais importantes que a terapia, e com razão. Conhecendo ela não
aceitaria continuar sem me pagar por algum tempo, deixando para acertarmos no
futuro. E nesta situação não é válida, terapia não pode ser caridade.

HLG – De que maneira a atuação do psicólogo pode causar o fim da terapia?(Houve


alguma situação em que você se sentiu assim?)
CPT2 – A principal razão é realmente a falta de comprometimento com o paciente. É
sempre uma situação em que você está sendo avaliado também pelo paciente,
então a falta de comprometimento é percebido pelo paciente.

HLG – Em alguma oportunidade a decisão pelo fim da terapia partiu de você? Como
foi tomar essa decisão? Que sensação você teve?
CPT2 – Não. Você diz por alguma limitação minha, não! Sempre que encontrei
minhas dificuldades pessoais e busquei trabalha-las pessoalmente, em terapia ou
supervisão. Realmente não tive que encaminhar alguma paciente por limitação.

HLG – Você acredita que o motivo financeiro influencia no término de uma


psicoterapia? Por quê?
CPT2 – Certamente. Com eu já disse anteriormente é, mas pode ser discutido para
pensar em uma condição possível para os dois lados. Existe um limite, pois não
pode ser um novo problema para o paciente, nem algo que traga uma insatisfação
para o terapeuta. É delicado, mas negociável.

HLG – Você poderia citar algum caso que faça referência ao nosso tema de
pesquisa?
CPT2 – Aquele caso que já citei. Faz referência a dificuldade de lidar com o fim da
relação, mas acho que a experiência profissional acaba por aliviar as emoções com
relação a esta questão. Porém nunca estaremos preparados para todas as situações
que irão aparecer no consultório.
100

Sujeito CPT3 – Abordagem Comportamental

Dados de identificação do entrevistado:


1. Nome do Entrevistador: Marília Lípolis Tavares
2. Iniciais do Entrevistado: CPT3
3. Sexo do Entrevistado: Feminino
4. Tempo de duração: 21’46”

Transcrição

MLT - Em qual abordagem você atua?


CPT3 - Eu atuo na abordagem comportamental.

MLT- Há quanto tempo você atua como psicoterapeuta clínico?


CPT3- Eu atuo já vai fazer seis anos, porque eu comecei logo que eu me formei a
trabalhar com clínica.

MLT - Qual (s) faixa (s) etária(s) você atende? Atende alguma demanda especifica?
CPT3 - Geralmente eu atendo basicamente todas as faixas etárias, mas com o que
to trabalhando agora é mais com crianças e com adulto ne, dos vinte para cima. Na
verdade eu vou atendendo o que vai aparecendo, não tenho uma demanda
específica.

MLT - Poderia relatar brevemente sua trajetória profissional? (Experiência em


Clínica Privada; Instituição de Saúde; Instituição de Ensino).
CPT3 - Eu me formei no final de 2005 lá em Londrina na UEL, depois eu fui para
Campinas para fazer especialização. Fiz especialização no ITCR que é a clínica do
Hélio e no mesmo ano que eu comecei a especialização, eu comecei a trabalhar lá.
Eles formaram um grupo grande de psicólogo e me chamaram, convidaram para
fazer parte deste grupo, ai eu comecei a trabalhar com clínica especificamente.
Nesse ano de 2006, que foi logo que eu me formei, eu ainda tava prestando alguns
concursos e acabei passando em um. Então em 2007 e em 2008 eu trabalhava uma
parte do período da semana com a clínica em Campinas e ai alguns dias da semana
101

eu trabalhava na prefeitura de Mogi Guaçu na parte do CREAS, no serviço do


CREAS que é o centro de referencias especializado em assistência social, que
trabalha com crianças de violência né, com algumas coisas bem específicas. Ai
depois eu fiquei um ano na prefeitura e continuei com a clínica, eu sou também
supervisora de estágio lá de especialização do ITCR, eu comecei a ser supervisora
em 2007 e ai continuo até hoje, agora atendo só modalidade on line né, não mais
presencial. Esse ano comecei a dar aula no Moura Lacerda para turma de
psicodrama em psicopedagogia e continuo com a clínica.
Assim, o que eu mais tenho experiência mesmo é na clínica, na clínica privada que
foi onde eu fiz toda a minha trajetória profissional desde a minha formação.

MLT - Do ponto de vista pessoal, fale sobre o luto?


CPT3 - Pessoal tá. Eu acho que do ponto de vista pessoal, eu acho que é um tema
que, não sei, eu acho que é difícil para todo mundo, mas é um pouco difícil de lidar,
as pessoas geralmente não gostam de conversar muito sobre isso. A gente que é
psicólogo tem que olhar de uma outra maneira, entender de um outro jeito, mas
muitas vezes a nossa opinião é vista né, como uma coisa meio assustadora pelas
pessoas, como se a gente já estivesse preparado, fria. Uma postura muito fria em
relação a isso né. Como se a gente não fosse nem ligar quando acontece esse tipo
de situação né. Mas eu acho que pessoalmente, pra mim ainda é um pouco difícil
lidar com esse tema, porque eu não passei durante a minha vida inteira por muitas
situações com relação a isso né, então ainda é uma coisa que fica deixada um
pouco de lado, não é uma coisa que fica na minha cabeça, que eu tenho muito
contato com questões do luto.

MLT - Como você vivência o luto em situações profissionais?


CPT3 - Isso varia muito, porque a gente sempre vai levar em conta pra analisar a
questão do luto a história de vida daquele cliente, as contingências que aquele
cliente está inserido né, então a gente vai lidando com isso de uma maneira bem
específica dependendo de cada cliente que a gente vai tendo. Um exemplo: eu
atendi uma senhora que ela tinha uma doença degenerativa, que ela não vinha pra
terapia pra falar da doença degenerativa, porque pra ela o mais difícil era estar
perdendo os movimentos e não poder continua limpando a casa, não fazendo a
comida para o próprio marido, cuidando das coisas que ela sempre cuidou,
102

brincando com os netos. Então a questão do luto pra ela, na verdade, era mais a
perda dos movimentos do que até a possibilidade de não durar muito tempo, por
conta da doença né. Porque pra ela era pior ficar paralisada do que morrer né. Então
ai a gente vai lidando de uma forma específica com cada caso. Mas na minha vida
profissional também, as questões assim de perdas e tudo mais, elas sempre foram
relacionadas a outras coisas, então de perda de emprego, não de perda de uma
pessoa querida, na situação de morte mesmo né. Então eu sempre trabalhei mais
com outras questões, então um término de um namoro, perdeu o emprego, se
mudou de cidade, então são mais essas questões que eu tenho encontrado
atualmente nos meus atendimentos.

MLT - O fim de uma relação terapêutica em algum momento foi tema de supervisão
ou de alguma sessão com seu terapeuta (caso faça terapia ou tenha feito)? Qual ou
quais motivo(s) o levaram a discutir tais aspectos?
CPT3- Sim. Então, porque muitas vezes o que eu tenho bastante experiência de fim
de relação terapêutica é com criança. Porque ai os pais acabam tomando algumas
decisões que não ficam sobre o controle do terapeuta, então muitas vezes a gente
está atendendo, ai a criança apresenta uma melhora o pai vai lá e tira da terapia. Ou
então o pai quer um resultado muito rápido, e a gente sabe que as coisas não
acontecem rapidamente ai tira a criança da terapia também. Então os casos que me
fizeram discutir em supervisão a questão de perda mesmo, foram nesse sentido né.
Ou então algum cliente que fica muito abalado com a perda do emprego né, ou pelo
fim de um relacionamento, ai eu sempre discuto pra ver quais são as possibilidades
que a gente tem dentro ali daquele caso, pra ver a melhor maneira de atuar, pra eu
poder fazer um acolhimento mais efetivo, pra pessoa poder se sentir entendida,
compreendida. Então eu acho que é mais nesse sentindo. Mas assim, acho que
essas situações sempre são discutidas em supervisão.

MLT - Entre as diversas formas de rompimento, qual é a mais difícil de ser


experienciada?
CPT3 - Eu acho que é quando a pessoa sai da terapia sem dar um feedback pro
terapeuta. Porque claro que a gente tem que analisar o rompimento da terapia a
partir de tudo que vai acontecendo. Às vezes os clientes vêm pra terapia, porque
alguém pediu, não porque alguém tá meio que obrigando, não espontaneamente.
103

Não vem porque quer ou porque está procurando alguma mudança, então eu acho
que essa é a forma de rompimento mais difícil, porque ai também não deixa o
terapeuta saber se o problema também não está na relação terapêutica. Eu acho
que isso acaba dificultando bastante até a própria discriminação do terapeuta, se
tem alguma coisa do meu comportamento enquanto terapeuta que está produzindo
esse rompimento. É claro que daí discutindo nas supervisões a gente acaba
analisando algumas coisas e a gente até detecta não, será que foi porque eu puxei
muito aqui ou muito punitiva em um certo sentido e a pessoa não aguentou essa
análise que eu fiz, ou eu não soube entender ela do jeito que ela esperava que eu
fizesse né. Mas eu acho, que esse do cliente sair e não dar nenhuma satisfação é a
mais difícil. Já passei por isso de clientes que não atendem mais telefone, não
respondem e mail, você pode deixar milhões de recados no celular e a pessoa não
retorna, então eu acho que é uma situação muito difícil, porque coloca o terapeuta
numa posição até meio constrangedora né, porque tem clientes que as vezes até
rompem e não fazem o pagamento né, então a gente precisa ligar cobrando, então
fica muito difícil. Coloca a gente numa posição que as vezes nem tem muito
repertório para lidar, ficar cobrando, ficar ligando então é um pouco complicado.

MLT - É possível perceber durante os atendimentos, indícios que o cliente queira


interromper a terapia?
CPT3 - Então, isso aí depende muito. Depende também assim, eu acho que agora
eu consigo perceber isso muito melhor do que eu conseguia perceber antes, porque
a gente já vai ficando mais experiente, tem o manejo, a gente vai ficando mais
sensível a alguns sinais do comportamento do cliente, então isso aí a gente
consegue perceber. Porque, por exemplo, a gente vê aqueles clientes que vem com
uma queixa de dificuldade de relacionamento e a gente até explica pra ele que a
dificuldade também está na dificuldade dele lidar com ele mesmo e alguns clientes
não concordam muito com as análises e tudo mais, então esse cliente tem uma
probabilidade maior de sair. Ano passado eu tive duas situações em que isso
aconteceu. Uma cliente que procurou porque ela estava com problemas no trabalho
e ai a hora que foi vendo que ela também teria que fazer algumas mudanças pra
melhorar esse relacionamento ela sumiu. Ela sumiu, não atendia mais o telefone,
não voltava no retorno. O outro cliente que veio por conta de relacionamento
amoroso, onde ele estava passando por uma situação um pouco difícil, e aí ele
104

falava pra mim “eu sei tudo isso que você está me falando”, só que aí a hora que a
gente começou a discutir, tudo bem que você sabe, mas porque não faz, ai ele falou
também que não dava, que ele estava com muito trabalho. Então, é bastante comum
na verdade o cliente interromper, e ai aqueles clientes que a gente vê que não estão
aderindo muito, eu acho que a gente consegue perceber que uma hora ele vai
abandonar. Tem outro cliente que veio porque a namorada que obrigou, então ele
vinha, mal falava dos problemas, ele não queria falar e ai a hora que ele começou a
se abrir e tudo, ele desistiu também, não quis, não voltou mais.

MLT - Em situação de abandono da terapia como procede?


CPT3 - O que eu costumo fazer, quando eu vejo que a pessoa parece que não vai
vir mais, eu sempre ligo, tento falar, me coloco a disposição, tem alguns clientes que
até falam “vou dar uma parada, agora não está dando”, então eu sempre me coloco
a disposição, falo que qualquer coisa se precisar você pode entrar em contato, voltar
aqui, você tem meus telefones, então geralmente eu faço isso. Eu tento até marcar,
pra ver se a pessoa vem uma última vez pra gente entender os motivos, mas isso é
muito raro de acontecer, porque quando o cliente desiste, ele não vem mesmo, nem
para uma ultima conversa. Quando é criança também a mesma coisa, eu tento falar
com os pais, pra ver se os pais trazem pelo menos uma última vez, ás vezes a
criança nem sabe que vai acabar, aconteceu isso com um ‘clientinho’ que eu estava
atendendo que agora ele voltou, porque os problemas se intensificaram e aí a mãe
trouxe de volta, porque ai o que aconteceu, ela veio na sessão que era dele, nem
deixou eu falar com ele, veio pra falar que não ia mais trazer por conta de questões
dela com o pai do menino e ai ele não veio mais. Aí quando voltou ele falou pra mim:
“minha mãe falou que agora eu vou toda quinta-feira, né?”, então a gente vê que fica
uma coisa mal resolvida, até pra criança, a criança fica sem entender o que
aconteceu.

MLT- E nesses casos assim, você tem bastante cliente que volta ao tratamento ou
isso depende muito?)
CPT3 - Voltam bastante, tem alguns clientes que param e depois voltam, e tem
outros clientes que eu não sei se procuram outros profissionais ou se param mesmo.

MLT - Geralmente quando voltam é com a mesma queixa, intensificada?


105

CPT3 - A maioria das vezes volta à queixa, ou já são outros problemas em


consequência daquela primeira queixa ou então é aquele problema que veio como
queixa, só que muito mais intensa, que foi o que aconteceu com essa criança que eu
comentei, o problema tinha se intensificado muito mais, o que acaba dificultando e ai
eles procuram de volta.

MLT - Na sua opinião, quais aspectos, podem influenciar o final de uma


psicoterapia?
CPT3 - Eu acho o seguinte, como eu falei, quando a gente está lidando com
crianças, eu acho que quando os pais não veem o resultado muito imediato eles não
trazem mais a criança, eu acho que um dos motivos pode ser esse, a questão de
que às vezes a criança tem uma melhora e parou de incomodar tanto, aquele
comportamento inadequado diminuiu um pouco, aí os pais também acham que já é
o suficiente. A gente vê muito cliente nessa situação, principalmente lá em
Campinas, que eu atendia muita criança, que os pais assim que dava uma
melhoradinha já interrompia. Eu acho que a questão financeira influencia bastante,
por que às vezes o que acontece, o cliente vem pra fazer uma sessão, a gente
conversa, a gente define o valor, e o cliente aceita porque ele ta precisando, sem
avaliar se ele vai dar conta de pagar. Então, quando chega no meio do caminho, a
pessoa não consegue pagar, ai muitas vezes para de vir porque tem vergonha de
renegociar o preço com o terapeuta. Eu sempre tento deixar isso muito claro, de que
se a pessoa estiver passando por algum problema é melhor a gente renegociar do
que interromper o atendimento, porque eu sei que a pessoa está precisando. E tem
gente que para porque realmente não tem como, perde o emprego ou muda de
emprego e vai ganhar menos, tanto a gente sabe que manter a terapia é um custo
também, não é só o investimento emocional, tem o investimento financeiro também.
Eu acho que a questão financeira é um aspecto muito importante assim na questão
da finalização da terapia.

MLT - Você acha que é o principal?


CPT3 - Se não for o principal é um dos principais. A questão do cliente não vir por
iniciativa própria, eu acho que esse também é um dos principais, por exemplo, o
adolescente veio porque a mãe mandou, o namorado veio porque a namorada
mandou, sabe, eu acho que ai fica um pouco difícil porque a pessoa não está muito
106

disposta a discutir as questões que estão incomodando. Às vezes a pessoa até vem
obrigada, mas aí vem e gosta e ai engata, mas a maioria das vezes não da muito
certo, e a pessoa não fica muito tempo, às vezes fica um, dois meses, seis, oito
sessões, dai já da um jeito de se esquivar, porque a pessoa precisa estar preparada
pra enfrentar uma terapia porque não é fácil, de jeito nenhum, tem que ter muita
coragem, porque é mexer com coisas que às vezes estavam quietinhas, mas que
vão começar a se manifestar, então eu acho que esse é um dos aspectos que são
desenvolvidos também com essa questão. E também pode estra relacionado com a
resolução do problema. O cliente às vezes busca por um problema bem específico,
bem pontual e ai a gente resolve e pronto.

MLT - Nesses casos de resolução da queixa, você deixa em aberto de repente


outras questões a serem trabalhadas?
CPT3 - Sim, porque ai claro que a gente tenta analisar o comportamento do cliente
globalmente, por inteiro, então se o cliente apresenta uma queixa muito específica e
a gente vê que essa está relacionada com outras questões, a gente sempre
explicita, mas fica muito a critério do cliente continuar ou não, porque se ele tratou
de um problema muito específico, resolveu ele vai querer então a finalização, se ele
concordar que realmente essas outras questões que não foram discutidas na terapia
precisam ser resolvidas, precisam ser consertadas a gente da continuidade, mas
geralmente ocorre o encerramento mesmo.

MLT - Durante sua experiência profissional o término da terapia com os pacientes


aconteceu por quais razões?
CPT3 - Por abandono, mudança de cidade, dificuldade financeira entre outras.

MLT - De que maneira a atuação do psicólogo pode causar o fim da terapia?(Houve


alguma situação em que você se sentiu assim?)
CPT3 - Eu acho que tem coisas no nosso comportamento, principalmente quando a
gente está com um cliente que sofre muito, se a gente não for muito enfático, muito
acolhedor, a pessoa não fica. Então, o terapeuta que não consegue se colocar no
lugar do outro e entender seu sofrimento ou minimizá-lo porque os valores são
diferentes dos nossos, e tudo mais, eu acho que dificulta muito. Eu passei por uma
situação assim, que na verdade a gente não encerrou por conta disso, encerrou
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porque a minha análise é que ela não deu conta, porque eu atendi uma cliente que
tinha um sofrimento muito verdadeiro só que no começo eu tive dificuldade pra
aceitar que ela estava sofrendo realmente como ela estava sofrendo, porque uma
diferença de valores ai entra mais na questão pessoal do terapeuta, que era muito
grande, mas ai eu sempre pensava que pra ela esse sofrimento é muito verdadeiro,
o valor dela é diferente do meu, eu preciso entender que isso produz sofrimento, por
mais que eu ache que não precisaria, sabe, então eu acho que essa questão de
empatia a gente sempre tem que estar tentando exercitar, sempre, sempre. Porque
até o Hélio fala qual o objetivo sempre da primeira sessão? Fazer com que o cliente
volte na próxima, então eu preciso ser muito acolhedora, eu preciso tentar entender,
eu acho que uma das questões é essa, num primeiro contato você tentar ser bem
enfático, tentar entender o sofrimento daquele cliente. Outra questão que eu acho
que pode influenciar é se o terapeuta é muito punitivo. Se ele critica muito, se ele
acaba julgando o cliente nas situações, porque tem gente que fala, nem sei se eu
vou te contar porque eu não sei o que você vai pensar, então a gente precisa estar
sempre sob controle disso, porque o cliente pode contar uma coisa que você pensa
eu não vou puni-lo, mas você faz uma cara de desagrado. Esse é um dos motivos,
quando o terapeuta é muito inassertivo também, ai ele não consegue confrontar, ele
não consegue fazer as análises do cliente, então ai o cliente vê que a terapia não
está andando, ah, só eu que falo, ele não fala nada, tudo que eu falo ele acha que é
certo. Então eu acho que são algumas questões que acabam prejudicando o
andamento da terapia e que tem haver com a pessoa do terapeuta. Ou quando o
terapeuta vai atender uma demanda que ele não tem contato pra isso, eu acho que
isso também pode influenciar bastante.

MLT - Em alguma oportunidade a decisão pelo fim da terapia partiu de você? Como
foi tomar essa decisão? Que sensação você teve?
CPT3 - Teve um caso que eu lembro muito assim que era uma adolescente que ela
tinha uns doze ou treze anos, e que veio fazer a terapia porque a mãe achava que
ela deveria fazer a terapia, e ela chegava nas sessões e ficava muda, ela não
conversava, ela não queria contar nada, então era bem difícil. Aí, em supervisão, a
supervisora e eu decidimos que a gente não ia prosseguir a terapia. E foi muito difícil
falar com essa cliente, porque a mãe da cliente tinha um vínculo forte com a pessoa
que me indicou, que também tinha um vínculo comigo, e ai a menina não gostou de
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eu ter pontuado pra ela que a gente ia encerrar, porque eu achava que ela não via
muito proveito na terapia, tanto que ai ela continuou mais um tempo, mas ai depois
entrou de férias e depois disso ela não voltou mais. Foi a situação mais difícil que eu
passei em relação a término, porque envolvia outras coisas também, e a cliente não
recebeu bem, a mãe também não gostou, porque eu passei isso pra cliente e pra
mãe, porque a única coisa que ela conversava era sobre o cachorro, que ela
adorava cachorro e ela tinha vários cachorros e ela ficava contando que ensinava o
cachorro a buscar a bolinha, e ela só conversava disso. E eu sabia, porque eu
conversava com a mãe também, que ela tinha alguns problemas de amizades na
escola, que ela não tinha amigas, que ela tinha um déficit de atividades sociais, só
que quando eu tentava abordar esses assuntos ela se esquivava, não falava, e era
bem complicado. E eu também não sei era um pouco de dificuldade minha de lidar
com a cliente, eu acho que tinha isso também, eu acho que eu não soube variar meu
comportamento suficiente pra fazer com que ela se engajasse na terapia. Então eu
acho que foi a situação mais difícil que eu já passei.

MLT - Você acredita que o motivo financeiro influencia no término de uma


psicoterapia? Por quê?
CPT3 - Eu acho que a questão financeira influencia bastante, por que às vezes o
que acontece, o cliente vem pra fazer uma sessão, a gente conversa, a gente define
o valor, e o cliente aceita porque ele tá precisando, sem avaliar se ele vai dar conta
de pagar. Então, quando chega no meio do caminho, a pessoa não consegue pagar,
ai muitas vezes para de vir porque tem vergonha de renegociar o preço com o
terapeuta. Eu sempre tento deixar isso muito claro, de que se a pessoa estiver
passando por algum problema é melhor a gente renegociar do que interromper o
atendimento, porque eu sei que a pessoa está precisando. E tem gente que para
porque realmente não tem como, perde o emprego ou muda de emprego e vai
ganhar menos, tanto a gente sabe que manter a terapia é um custo também, não é
só o investimento emocional, tem o investimento financeiro também. Eu acho que a
questão financeira é um aspecto muito importante sim na questão da finalização da
terapia.

MLT - Você poderia citar algum caso que faça referência ao nosso tema de
pesquisa?
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CPT3 - Teve um cliente que foi positivo, então, o que aconteceu, ele tinha vinte anos
na época que ele veio procurar a terapia, e na primeira sessão a mãe dele veio
conversar também e eu estranhei, falei nossa, um moço de vinte anos e a mãe veio
conversar também. Aí ele veio porque ele era muito agressivo, tinha muitos
problemas em casa, com a namorada, com os pais, e ele queria, mas não queria
fazer a terapia. Ele veio porque eles tinham terminado, ele e a namorada, ai eles
voltaram e ele estava mal ainda. Aí no começo a gente foi discutindo essas questões
da namorada, e ele era muito agressivo, saia batendo porta, só que ele era um
menino muito legal, ele era muito inteligente e ai conforme a gente foi conversando
ele foi trazendo outras coisas, então não eram só problemas com a namorada, eram
problemas com o pai também, problemas na faculdade, que ele fazia um curso que
não ia bem de jeito nenhum, então a gente foi fazendo todo um percurso ai pra
trabalhar esse repertório agressivo, ensinar respostas novas, e ele foi produzindo
bons resultados, tanto que chegou uma época que ele acabou mudou de curso, foi
fazer um outro curso junto com a faculdade que ele ia mal, enfim, e logo que ele
começou fazer o outro curso ele logo começou fazer um estágio, então ele fazia uma
faculdade de manhã, o estágio a tarde e o outro curso a noite e com isso não
sobrava tempo deve vir pra terapia. E ai a gente decidiu encerrar. E a minha mãe
conhece a mãe dele, tanto que foi por isso que ele foi encaminhado pra mim e tudo
mais, mas eu nunca tive muito contato com ele, só conhecia de vista, então tudo o
que acontece com ele, ele manda um recado pra mim. Então ele conta pra mãe, que
conta pra minha mãe, pra minha mãe me contar. Então eu sempre sei das coisas
que estão acontecendo na vida dele e ele sempre me manda os recados. Foi uma
situação de perda, mas eu acho que das perdas ruins essa foi uma perda muito
positiva, pois a gente acabou encerrando porque realmente ele não tinha como vir,
porque era uma rotina muito puxada, mas ai o que eu posso observar daqui pra
frente, que vários resultados que a gente teve na época todos se mantém, então eu
acho que é um caso bem legal assim pra gente ver que nem sempre a perda é uma
coisa negativa, eu acho que no caso dele foi muito positivo, porque ele já estava
com um repertório ‘pré-requisito’ já pra enfrentar as outras situações, tanto que ele
se deu super bem assim, no final ele acabou terminando com essa namorada, que
era uma coisa que a gente discutia muito, que ele achava que ia acontecer, ele está
trabalhando, foi fazer intercâmbio pelo próprio trabalho, então assim, ele conseguiu
ir pra frente, eu achei que foi um caso bem positivo assim, que eu fico bastante
110

contente quando eu fico sabendo as novidades dele, porque foi uma perda, foi uma
interrupção, mas eu sempre tenho notícias dele, eu acho super legal. E como a
gente falou de vários casos que não deram certo, esse aqui pra encerrar foi bem
positivo. Isso é um diferencial, porque foi uma perda muito difícil pra terapeuta
porque eu gostava muito dele, ele era um cliente muito reforçador, porque a gente
discutia, ele pensava em casa, fazia as tentativas, então é muito legal, e foi muito
difícil pra terapeuta porque a gente acaba gostando dos clientes, e por mais que
tivesse coisas pra serem trabalhadas, ele saiu com um bom suporte, eu acho,
porque ele conseguiu fazer o resto da conversa com ele mesmo, porque na verdade
esse é o nosso objetivo né? Eu acho legal a gente pensar nesse lado também, que
nem sempre a perda é ruim. Não foi ruim, na época foi difícil, mas não foi ruim, foi
bom no final.
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Sujeito CPT4 – Abordagem Comportamental

Dados de identificação do CPT4 -


5. Nome do Entrevistador: Liane Alves Pimenta (LAP)
6. Iniciais do CPT4 - CPT4
7. Sexo do CPT4 - Masculino
8. Tempo de duração: 35’19”

Transcrição

LAP - Qual abordagem você atua?


CPT4 - Como analista do comportamento, na verdade seria mais próximo do que
antigamente era visto como Behaviorismo, o Behaviorismo Radical, mas hoje é mais
rotula como Análise do Comportamento.

LAP - Há quanto tempo você atua como psicoterapeuta clínico?


CPT4 - Há três anos

LAP - Você atende alguma idade específica? Alguma demanda especifica?


CPT4 - Não, em termos de faixa etária eu tenho restrições, eu não atendo crianças
menores de quatorze anos. Mas isso não é uma regra fixa, eu tenho pacientes na
faixa de 12 a 13 anos que eu consigo tratá-los de uma maneira mais digamos assim;
adulta, ou mais próximo de uma entrevista convencional do que fazendo avaliações
lúdicas ou intervenções lúdicas. Então desde que eu possa fazer uma intervenção
nos pacientes de maneira verbal, que nós possamos conversar diretamente sem a
necessidade de subterfúgios lúdicos, este tipo de paciente eu atendo. Então eu
tenho pacientes hoje predominantemente na faixa dos 19 aos 40 anos. Mas acima
desta faixa eu tenho alguns pacientes, acima de 40 até 70 anos. E tenho alguns
pacientes abaixo dos 14 anos.

LAP - Você pode relatar brevemente sua trajetória profissional?


CPT4 - Bom a minha trajetória profissional como psicólogo é simples, eu consegui
me graduar a três anos, mas não é a minha primeira formação. Na verdade eu sou
graduado em Física, me Pós graduei em Inteligência Artificial, fiz mestrado na área
112

de Inteligência Artificial na USP, depois em Física aplicada em medicina no


doutorado também na USP, ai me pós doutorei em Saúde Mental aqui no HC na
Psiquiatria, onde eu fazia um trabalho de uso da Inteligência Artificial para identificar
padrões de comportamento tanto na parte clínica quanto na neuroimagem de
pacientes esquizofrênicos. O contato com os pacientes junto com o conhecimento
que eu tinha de neurociência, me incentivou muito e me despertou a gostar deste
contato com o paciente, e a partir daí eu decidi que queria incorporar isso na minha
carreira, então eu passei a trabalhar em São Paulo fui pro Hospital Albert Einstein
trabalhar na área de Neurociência no Instituto do Cérebro e lá em São Paulo eu
ingressei na UNIP, para fazer o curso de graduação em Psicologia a noite, aí depois
de três anos eu consegui ainda trabalhando no Einstein eu vim, voltei para Ribeirão,
fiquei trabalhando a distância com a parte de planejamento cirúrgico para
neurocirurgias, mas ai eu tinha mais tempo para me dedicar ao curso, então eu
transferi o curso de Psicologia para cá e terminei o curso aqui. Então assim, a minha
trajetória foi um pouco anômala para um padrão: Ah eu queria fazer Psicologia!
Então eu continuo atuando em neurociências, eu sou colaborador de pesquisas no
Instituto de Ciências e Tecnologias de Sistemas Embarcados Críticos, que é onde
você trabalha com padrões de Software, programas de computador e circuitos
eletrônicos no caso comportamental. Isso no intuito de desempenhar algumas
tarefas no controle de doenças neurológicas. Então eu continuo desempenhando
algumas tarefas em pesquisa e fazendo clínica aqui. Então toda essa trajetória me
ajuda no atendimento, ao entender como o cérebro funciona, qual é a dinâmica e
conseguir deixar claro para os pacientes qual é o papel da intervenção terapêutica
na mudança como o próprio cérebro dele funciona, e conseguir estabelecer uma boa
relação tanto com os neurologistas como com os psiquiatras com quem estes
pacientes fazem o tratamento em alguns casos.

LAP - Do ponto de vista pessoal, você poderia falar sobre o luto?


CPT4 - Para mim o luto faz parte do processo de convivência com a perda. Até
porque eu estou vivendo isso recentemente. Meu pai está em como a dois meses,
ele tem uma doença frontal degenerativa intensa que se agravou muito e eu tenho
acompanhado isso de perto, e eu sei com o conhecimento que eu tenho eu sei o que
está acontecendo com ele. Mas viver o luto primeiro que a gente percebe que estas
fases, passar pelas fases do luto é inevitável. Pelos questionamentos, pela
113

autocrítica do que poderia ter feito para que aquilo fosse diferente, sentir a tristeza
que está envolvida no processo da perda. Mas o luto é um processo natural. Sem
passar por ele, se você se detiver em alguma fase desse processo você não
consegue superar o luto e isso vai começar a interferir na forma com que você
funciona afetivamente consigo mesmo, com as outras pessoas, com o trabalho e
como você interage com o mundo. Então passar pelo luto é um processo que não é
simples, mas que precisa ser feito.

LAP - Como você vivencia o luto em situações profissionais?


CPT4 - Com respeito em primeiro lugar. Procurar entender se esse luto está
transitando normalmente ou se ele ficou preso a este luto em algum momento, e em
qual fase deste luto ele está. Pra que? Para que possa neste processo terapêutico
retomar isso, passar por este luto, e todo o trânsito dele ao longo deste processo
para que ele consiga assimilar isso na vida dele como parte do processo. Então o
processo do luto para mim começa desta forma. Primeiro respeitando, acolhendo
este luto, entendendo onde o indivíduo está e como ele está passando. Se ele está
fluindo normalmente nesta dinâmica, até aceitar isso como parte da vida.

LAP - O fim de uma relação terapêutica em algum momento foi tema de supervisão:
CPT4 - Não. Para mim os temas de supervisão que eu ainda tenho, eu ainda passo
por supervisão, eu levo caso para a supervisão. Esta orientação é algo que você
nunca pode deixar de ter, é uma troca com o outro profissional. E serve para trocar
experiências, para que você possa ter uma expansão.
No caso dos encerramentos e da alta destes pacientes isso sempre foi um processo
tranquilo. Primeiro porque numa linha comportamental isso flui, o próprio processo
terapêutico é um processo pedagógico, onde o indivíduo aprende a identificar como
ele funciona e interage com o mundo e a medida em que ele consegue aprender
isso, entender e ter um certo domínio, um certo gerenciamento da forma com que
ele funciona ele mesmo já percebe que o que ele já tem já é suficiente para pra ele
dar conta. Não exatamente da queixa, mas da demanda real, porque o paciente
entra no processo com queixas, mas sem uma noção do que ele realmente precisa.
É muito difícil isso acontecer. Então ao longo do processo ele vai aprender a
identificar da queixa, o que é a demanda real dele, o que realmente precisa
modificar e conhecer dele mesmo para seguir em frente. E a medida em que ele
114

trabalha esta demanda, ele mesmo percebe que está num ponto onde ele da conta
daquilo sozinho . E ai a gente vai fazendo um distanciamento progressivo. Você vai
tornado as sessões, se é uma vez por semana, passa a ser uma vez a cada quinze
dias, uma sessão mensal até que ele possa dar conta sozinho. E ai esse
acompanhamento pode ser a distancia, durante um tempo a gente fica sempre a
disposição para um telefonema uma sessão eventual até que o individuo se sinta
apto a dar conta de tudo sozinho. Então eu ainda não tive necessidade de recorrer a
uma supervisão para este processo, mas já tive vários pacientes que tiveram alta,
até porque quando você trabalha numa linha comportamental dependendo das
queixas que o individuo tem e da demanda tem um processo mais rápido. Um ciclo
de mais ou menos um ano você tem pacientes que entraram com algum transtorno
de ansiedade por exemplo, uma fobia social, um pânico especifico e aquilo em um
ano você consegue minimizar o suficiente para que este individuo se sinta em
condições de dar conta disso sozinho.

LAP - Ente as diversas formas de rompimento, qual a mais difícil de ser


experienciada?
CPT4 - O mais difícil de se lidar neste processo pra mim como terapeuta, é quando
o paciente abandona o processo sem justificativa ou motivo. E isso eu sempre tento
fazer o contato com ele para tentar entender o que aconteceu, porque no que se
refere aos: Ah! É um problema financeiro deste paciente? A gente senta com ele,
conversa, negocia e processa restabelecer este processo para que isso não seja um
motivo para que a terapia termine. No caso da morte, se é um processo natural faz
parte da vida. Agora o suicídio é um pouco mais difícil. A gente precisa sempre parar
e rever até que ponto algo mais poderia ter sido feito para evitar que o paciente
chegasse a este ponto. Eu ainda não tive esta experiência do paciente estar em
terapia se suicidar. O que eu já experienciei foi o abandono sem justificativa
especifica. E eu pude perceber que isso é muito comum em pacientes que tem
algum transtorno de personalidade. São pacientes que vêm do psiquiatra para mim,
eles tem uma dificuldade muito grande de aderir. O que eu prefiro é observar junto
com ele é se abordagem terapêutica é a que ele se adéqua melhor. Se não eu
prefiro abordar isso com ele e encaminhá-lo para outro colega que eu acho que
possa ter maior afinidade. Geralmente quem tem uma adesão mais rápida a uma
abordagem comportamental na minha experiência são homens ou pessoas que tem
115

dificuldades de estabelecer contato com seu lado emocional, seus aspectos


emocionais. Estes indivíduos aderem melhor porque é mais difícil você chegar neles
pelos comportamentos que ele tem do que ele tá sentindo realmente a respeito de si
e da situação que ele esta vivendo.

LAP - Durante os atendimentos você acha que é possível ver indícios de que vai
haver rompimento?
CPT4 - Isso depende do paciente, mas da pra você ver do ponto de vista
comportamental é muito importante a gente ter uma leitura corporal do paciente. Da
coerência entre o comportamento verbal dele, e o comportamento gestual. Esta
coerência ou incoerência me da uma noção do que esta acontecendo do ponto de
vista encoberto. Então você percebe como ele esta se sentindo. Então a gente vai
percebendo algum destes indícios e tentando trabalhar, mas isso não significa
necessariamente que você vai conseguir evitar esta ruptura. Eu vivi duas vezes só
esta experiência de abandono, porque eu procuro nas três primeiras sessões
apresentar para o paciente como é processo terapêutico, o que eu preciso que ele
faça e qual é o meu papel. E tentar estabelecer com ele uma espécie de pacto
terapêutico. E isso tem evitado que eu incorpore paciente que terão dificuldades de
aderir a este tipo de abordagem comportamental.

LAP - Em caso de abandono de terapia como você procede?


CPT4 - Eu ligo, eu procuro entrar em contato de varias formas, eu mando e-mail e
peço para ele entrar em contato novamente e peço para vir pelo menos um vez,
porque a gente teve uma sessão para começar, então venha explicar pelo menos o
que esta acontecendo , porque você esta saindo. E deixar claro que isso não
envolve nem cobrança, nem punção, nem retaliação. É apenas pra gente poder
fazer um fechamento para que eu possa mais ou menos tentar entender o que esta
acontecendo e me colocar a disposição dele para algum direcionamento para outra
linha terapêutica ou alguma indicação que ele queira a respeito.

LAP - Nos já abordamos motivos que podem desencadear o fim da terapia. Você
tem algum outro que gostaria de ressaltar?
CPT4 - Bom um dos motivos de eu não trabalhar com crianças, é que por mais que
ela esteja tendo adesão ao processo terapêutico e ela goste da terapia, os pais tem
116

interferência neste processo. Então a chance de haver uma ruptura da terapia por
parte dos pais. Eu já vivenciei uma situação destas, um dois casos de abandono que
eu tive foi: Era um garoto, 14 anos que tinha algumas dificuldades. Os pais
trouxeram para o processo terapêutico, só que eles tinham construído com ele uma
realidade e uma relação de dependência muito forte. A medida em que ele foi
vivendo o processo terapêutico ele foi tomando consciência disso e começando a
trabalhar sua própria independência. A questionar os pais em varias atitudes, a
queres saber o porquê ele deveria agir ou deixar de agir de determinada maneira, e
os pais entenderam isso como um “complô”. Que eu estava colocando o filho contra
eles. Então mesmo tendo chamado os pais para participar de algumas sessões,
interagido com eles, explicado o que estava acontecendo, atuado individualmente
com pai e filho, mãe e filho e procurado trabalhar os conflitos que estavam
acontecendo, os pais achavam que a minha intervenção tava fazendo com que o
filho se tornasse um adolescente rebelde. Então o que fizeram? Decidiram que ele
deveria ir para um outro terapeuta que não abordasse a questão desta forma.
Porque você tinha um garoto de 14 anos com enurese noturna, era um menino
inseguro, tinha varias ideias de que estava sendo perseguido, que era muito
observado o tempo todo pelas outras pessoas. O que se fosse mantido, a chance de
ele desenvolver um quadro psicótico no futuro ou ter facilidade de adesão a drogas
que momentaneamente pudessem tira-lo desta situação era uma probabilidade que
não podia deixar de ser questionada. Então construir uma autonomia que desse
condições de ele sair sozinho, dele poder ir a lugares sozinho, a fazer as próprias
escolhas, a decidir qual filme ele queria assistir no cinema sem que o pai e a mãe
viessem a interferir. Ah então você esta transformando meu filho num rebelde, sendo
que a medida em que ele fazia isso a enurese desapareceu, ele começou a ganhar
auto- confiança para tomar as decisões sozinho. Então isso é um dos critérios que
eu uso quando eu recebo, então eu tenho dois pacientes que estão nesta faixa,
entre 13 e 14 anos. Então eu procuro ter uma conversa muito clara com os pais
sobre o que os pais querem desta terapia, o que eles estão imaginando que vai
acontecer. Se eles querem uma pessoa independente que funciona sozinha, ou u
bichinho de estimação? Então a medida em que eu esclareço isso com os pais é
que eu aceito este paciente, senão eu encaminho para outra pessoa que possa
fazer um trabalho diferente com o pais.
117

LAP - A nossa próxima pergunta seria falar sobre os motivos que ocasionaram o fim
da terapia. Um deles você acabou de relatar, poderia falar sobre o outro?
CPT4 - O outro foi: A paciente era do sexo feminino, ele chegou com queixa sobre a
convivência. Que ela tinha dificuldades em estruturar o relacionamento, que já tinha
mais de 35 anos de idade e não conseguia estabelecer relacionamentos fixos, e a
medida em que a gente foi trabalhando estes processo, foi se percebendo que ela
tinha vivido situações sexuais muito agressivas na juventude. A perda da virgindade
tinha acontecido de uma maneira muito desagradável para ela. Os namoros sempre
o sexo não era uma coisa no qual ela se sentia a vontade. Então a partir daí
percebeu-se que a demanda envolvia trabalhar mais a fundo a visão que ela tinha
do contato físico, do carinho e da sexualidade. E ela começou a não de sentir a
vontade para falar disso comigo porque eu era um homem. Então ela começou a
faltar as sessões, ai eu chamei para esta conversa de entendimento, propus que ela
conversasse com uma terapeuta. E ela então que isso não era algo que ela quisesse
e nem estava em condições de mexer. Então ela resolver parar definitivamente.
Então eu deixei indicações, caso ela em algum momento quisesse tratar deste
assunto.

LAP - Em algum momento o fim da terapia partiu de você?


CPT4 - Não. Apenas por alta.

LAP - Você acha motivos financeiros são motivos para o termino da terapia?
CPT4 - Pode , mas no meu caso não tem acontecido. Eu procuro negociar ao
máximo e tenho como critério: o bem estar do paciente Eu falo sobre o valor da
sessão. Então eu faço uma primeira sessão onde eu não cobro e que não tem
duração muito bem definida, geralmente entre uma hora e meia e ate duas horas.
Ate para que o paciente diga o quanto a questão financeira pesa pra ele. Se pesa eu
peço para que ele faça uma proposta que seja dele. Mas que isso não seja uma
espécie de leilão. Então a gente define isso e estabelece um prazo para rever isso.
Então eu chamo isso de financiamento afetivo, a gente estabelece um vinculo onde
o preço não seja um motivo para você não ter uma continuidade e um bom
tratamento.

LAP - Você pode citar algum caso que faça referencia ao nosso tema de pesquisa?
118

CPT4 - Olha eu vejo o seguinte, eu me tornei comportamental por causa da minha


formação com Neurociência, não que os outros aspectos e as outras abordagens, as
outras linhas possam não dar conta do paciente. Terapia, qualquer que seja ela,
qualquer interação muda às pessoas. Muda o terapeuta e muda o paciente. Não
existe processo isento. A gente poderia recorrer a varias explicações Neuro...
alguma coisa que pudesse dizer o porque isso acontece. Mas o principal disso é que
primeiro o terapeuta saiba que ele tem limites, ele não é um ser todo poderoso e
nem tem todas as condições e respostas. Segundo, o terapeuta para ter uma
condução adequada de seu paciente ele precisa estar sobre supervisão e terapia.
Eu não acredito num terapeuta que possa conduzir clinicamente e não estar
submetido a uma psicoterapia constante, porque você precisa estar com sua cabeça
em ordem, com suas emoções em ordem para que você possa atuar de uma
maneira a ser um catalisador dentro desta sessão terapêutica. Se esta havendo
muitas desistências, muitos abandonos de pacientes alguma coisa você não esta
fazendo como deveria ser feito. Porque as respostas não tem de vir de você e sim
dele. Ou se o tempo de alta destes paciente é muito alto e se estende demais ele
precisa parar e avaliar isso com quem? Com outro profissional da área, buscando
supervisão e manter-se dentro de uma terapia. Porque é um processo muito
cansativo, por mais que você diga que é tranquilo e algo que exige de você esteja
atendo a você e a ele. Então sem este suporte eu acho que problemas vão
aparecer.
119

Sujeito CPT5 – Abordagem Comportamental

Dados da Identificação do entrevistado


1. Nome do entrevistador: Bruno Augusto Pinafo (BAP)
2. Iniciais do entrevistado: CPT5
3. Sexo do entrevistado: Feminino
4. Tempo de duração: 38’42

Transcrição

BAP - Em qual abordagem você atua?


CPT5 - Eu atuo na abordagem da Análise do Comportamento.

BAP - Há quanto tempo você atua como psicoterapeuta clínica?


CPT5 - Possuo um percurso diferente, assim que sai da faculdade em 2000,
cliniquei por média de um ano e assim que estes pacientes tiveram alta, passei atuar
na área da educação. Fui diretora de escola, coordenadora pedagógica, atuei
durante alguns anos na área. Voltei a clinicar em fevereiro de 2010.

BAP - Qual (s) faixa (s) etária(s) você atende? Atende alguma demanda especifica?
CPT5 - Atendo o público infantil, atendo alguns adolescentes e apenas uma adulta.
Devido ao meu histórico na educação, sempre atuei na educação e desenvolvimento
infantil. Após fazer psicologia, fiz também pedagogia para obter conhecimento
voltado para educação. Porém ressalto que apesar de atender crianças, acabamos
atuando muito no contexto familiar, pois pela criança, temos contato com os pais, até
mesmo o fato de precisarmos do envolvimento dos pais no trabalho terapêutico.
Dessa forma acabamos envolvendo os pais e a família da criança.

BAP - Poderia relatar brevemente sua trajetória profissional? (Experiência em


Clínica Privada; Instituição de Saúde; Instituição de Ensino)
CPT5 - Graduei-me em 2000 em psicologia, porém no quarto ano do curso,
recebemos o título de bacharel, sendo assim me inseri num curso de
complementação pedagógica. Sendo assim quando terminei o quinto ano em
120

psicologia eu também obtive o título em pedagogia. Logo depois que me formei


comecei a trabalhar como coordenadora pedagógica em uma escola em Ribeirão
Preto. Após este trabalho fui ser auxiliar de sala de aula em outra escola, depois tive
minhas próprias turmas e lecionava aula até o quarto ano do ensino fundamental.
Neste período eu também atuei em um projeto no Hospital das Clínicas em Ribeirão
Preto, na área de atendimento a violência doméstica. Enquanto os adultos eram
atendidos, as crianças ficavam comigo, fazíamos um trabalho prévio para saber
como estava a criança frente a situação familiar de violência. Em 2007, entrei na
especialização em análise do comportamento, fui conhecer melhor sobre o
behaviorismo, junto a isso também atuei um pouco no Conselho Regional de
Psicologia, realizando alguns trabalhos que me deram bastante respaldo profissional
hoje em dia.

BAP - Do ponto de vista pessoal, fale sobre o luto?


CPT5 - Difícil, algo que bastante difícil, mas não insuportável, é superável. Para isso
hoje a abordagem que atuo nos faz entender melhor sobre a superação desta fase,
que é a questão do repertório comportamental. É um momento em que precisamos
do tempo para nos ajudar a LAPidar a dificuldade, mas ao mesmo tempo é
importante que você tenha um repertório de comportamentos para preencher a sua
vida que segue e continuar da melhor maneira possível, até mesmo por ser um
processo natural.

BAP - Como você vivência o luto em situações profissionais?


CPT5 - Acho que devemos atuar com bastante clareza, pois fazemos um contrato
com o cliente, sobre o objetivo e vamos trabalhar para que o objetivo se alcance. A
abordagem analítica comportamental possui uma característica de ser mais breve.
Sendo assim é importante verificarmos e no decorrer da psicoterapia sinalizar ao
paciente suas conquistas em relação ao repertório comportamental e averiguar a
visão dele, como ele está se sentindo frente as conquistas, as realizações e as
vezes ver se parte da pessoa achar que seria interessante o fim da terapia naquele
momento. Deixando sempre aberto que ele possa voltar quando sentir necessidade.
É importante trabalhar esse fim para que ele seja menos sofrido o possível, pois
existe a questão do vínculo para o paciente.
121

BAP - O fim de uma relação terapêutica em algum momento foi tema de supervisão
ou de alguma sessão com seu terapeuta (caso faça terapia ou tenha feito)? Quais
ou quais motivos(s), o levou a discutir tais aspectos?
CPT5 - Sim, tanto levei para minha supervisão, quanto para a minha terapia. Aliás,
estas duas coisas não podem faltar para um profissional da área clínica. Foi o caso
de uma criança de 9 anos, na época eu fazia o estágio clínico da faculdade, o
atendimento era voltado para outra abordagem, não era a comportamental, era a
abordagem centrada na pessoa de Carl Rogers. O fato é que nós havíamos atingido
os objetivos. O fato é que a criança solicitou voltar pouco tempo depois, mas a
questão era que a criança não apresentava nenhuma situação a ser resolvida, era
um caso de querer fazer terapia por prazer, vontade e não necessidade. Ao mesmo
tempo em que tive meu ego inflado, alguém querer prosseguir sem motivos
aparentes e mais por gostar dos encontros terapêuticos, mas não era esta a
questão. Então tivemos que conversar qual era a fundamentação do atendimento,
por isso levei para minha supervisão e também para minha terapia, pois aquilo me
causava dúvidas também. Mas fui bem orientado pelos profissionais da época e o
caso teve um encerramento saudável.

BAP - Entre as diversas formas de rompimento, qual é a mais difícil de ser


experienciada?
CPT5 - Por eu trabalhar com criança, vejo que o rompimento mais difícil é quando o
trabalho é rompido pelo fato dos pais ou responsável, não apresentar disponibilidade
por diversos motivos. Pois a criança depende dos pais, o tratamento infantil tem
muito envolvimento dos pais e também dependência em que irá trazer a criança, etc.
Então isso difícil, pois se vê a necessidade, mas por indisponibilidade dos pais, a
terapia é interrompida.

BAP - É possível perceber durante os atendimentos, indícios que o cliente queira


interromper a terapia?
CPT5 - Sim, as crianças às vezes são diretas e falam sobre isto, por estar
desmotivada, por querer fazer outra atividade neste período. Outras situações é que
os pais sinalizam querer parar, pois o tempo da criança está complicado, dificultando
vir a terapia ou até mesmo o tempo dos pais. E outras situações que você vê que
existe um desinteresse mesmo por parte dos pais. Quando a criança demanda mais
122

vezes de sessão durante a semana, alguns pais encontram dificuldades, então


ocorre sim. E o importante é você procurar investigar o motivo e conversar com o
paciente ou os pais sobre isso, é um papel importante do terapeuta, as vezes
podendo achar outra solução, negociar esta questão.

BAP - Em situação de abandono da terapia como procede?


CPT5 - Vivi poucas vezes esta experiência. Eu procuro entrar em contato por
telefone, as vezes o histórico da pessoa, nos informava que isso poderia acontecer.
De maneira geral eu procuro saber e conversar sobre, seja por telefone, pois é
importante fazermos um movimento, sem insistirmos, mas demonstrar
comprometimento com o caso e se possível negocia isto.

BAP - Na sua opinião, quais aspectos, podem influenciar o final de uma


psicoterapia?
CPT5 - Acredito que várias coisas. Uma relação mal construída, superficial, por se
tratar de crianças o meu caso, acredito que tenha que ser profissionais com
conhecimento específico infantil. Pois as demandas são diferentes e o desenvolver
da psicoterapia também. Tem casos de atendimento a crianças com necessidades
especiais, isso implica em maior conhecimento desta demanda específica,
diferenciada. Dentre outras coisas, por exemplo, como a questão financeira, por
isso é importante ser bem claro no contrato, sobre o compromisso e até a
disponibilidade da família em relação a isso. Particularmente eu procuro ser flexível
em relação a questão financeira, quando vejo que isto de fato é uma questão
considerável e procuro negociar.

BAP - Durante sua experiência profissional o término da terapia com os pacientes


aconteceu por quais razões?
CPT5 - Eu acredito que a maioria por objetivos alcançados.

BAP - De que maneira a atuação do psicólogo pode causar o fim da terapia?(Houve


alguma situação em que você se sentiu assim?)
CPT5 - De diversas maneiras, no meu caso aconteceu já por termos alcançado os
objetivos, eu comecei a sinalizar e conversar sobre o término, mas a pessoa disse
que teria mais demandas e gostaria de tratar outras questões. Então neste momento
123

você direciona para estas outras demandas e deixa isto bem claro para o paciente.
Pois ele entrou por um motivo e este nós já havíamos alcançado.

BAP - Em alguma oportunidade a decisão pelo fim da terapia partiu de você? Como
foi tomar essa decisão? Que sensação você teve?
CPT5 - É muito boa a sensação, pois os objetivos foram alcançados. É muito bom
você mostrar ao paciente como ele está se comportando frente às situações antes
problemas, os seus sentimentos, as consequências de hoje em dia, como estão
diferentes. Isso é também um exercício de autoconfiança que você trabalha com o
paciente, para ele sair da terapia disposto a seguir lá fora de forma autônoma.

BAP - Você acredita que o motivo financeiro influencia no término de uma


psicoterapia? Por quê?
CPT5 - Como dito anteriormente sim. Por isso é importante procurarmos saber sobre
o motivo do término quando parte do paciente, no meu caso mais especificamente
dos pais, quando se trata do motivo financeiro. E nesta hora o melhor a ser feito, é
conversar, entender a realidade da pessoa, se de fato ela está sem condições,
sendo este o motivo, o melhor caminho é buscar uma alternativa negociando.

BAP - Você poderia citar algum caso que faça referência ao nosso tema de
pesquisa?
CPT5 - Deixa-me pensar. Pra ser sincero eu senti muito mais quando eu deixei a
área da educação para trabalhar com clínica, esta mudança foi significativa,
pensando em perda. No mais, eu acredito que eu não tenha algum caso marcante,
obviamente sinto saudade, afinal de conta criamos certo vínculo, mas para
trabalharmos na clínica com esta esfera emocional, você tem que procurar se
envolver de forma profissional. Caso contrário, terá dificuldades, então é importante
sempre cuidar e estar atento a isto.

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