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1. INTRODUÇÃO 06
1.1. Objetivos 12
1.2. Justificativas 12
2. MÉTODO 13
2.1. Sujeitos 13
2.2. Instrumento 13
3. RESULTADOS 16
4. DISCUSSÃO 34
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS 40
6. REFERENCIAS 42
1. INTRODUÇÃO
1.1. Objetivos
1.2. Justificativa
2. MÉTODO
2.1 Sujeitos
2.2 Instrumento
Os dados deste estudo foram obtidos através de entrevista semi-estruturada,
que tem como característica a utilização de um roteiro de questões previamente
elaborado, que, segundo Triviños (1987), baseia-se em teorias e hipóteses que se
relacionam com o tema da pesquisa e desta forma “[...] favorece não só a descrição
dos fenômenos sociais, mas também sua explicação e a compreensão de sua
totalidade [...]” (TRIVIÑOS, 1987, p. 152).
A hora e o local da entrevista foram escolhidos pelo sujeito da pesquisa.
Desta forma, pretendeu-se que esta fosse conduzida com flexibilidade e
possibilitasse que os participantes falassem livremente sobre suas representações
sociais do tema em tela.
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Durante a elaboração do projeto foi proposta a realização de 12 entrevistas, sendo 6 entrevistados de cada
abordagem terapêutica. Entretanto, na fase final do estudo um dos integrantes do grupo de pesquisa abandonou a
disciplina, e por já nós encontrarmos em fase de análise de dados não foi possível realizar as entrevistas que
completariam a proposta inicial para o estudo.
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3. RESULTADOS
“Eu não acho fácil trabalhar o luto e nem viver o luto.” (PSI4)
“Eu acho que tem vários tipos de luto, tem o luto por morte que foi uma
pessoa muito importante que eu perdi que foi meu avô quando eu tinha
18, 19 anos que foi quando eu tive meu primeiro contato com isso, né,
foi bem difícil e assim, era uma relação boa e acabou sendo superado
né.” (CPT2)
“Pessoal tá. [...].eu acho que é difícil para todo mundo, mas é um pouco
difícil de lidar, as pessoas geralmente não gostam de conversar muito
sobre isso.” (CPT3).
“Eu acho que o luto é uma experiência que a gente está vivendo o tempo
todo. Na vida e no trabalho. Na vida, por razões mais óbvias, porque a
gente nunca tem certeza de ganho. A gente tem muita perda na vida. E
no trabalho, a gente está lidando com isso o tempo todo, porque ou o
paciente está ali correndo o risco de interromper, ou por resistência, ou
porque não está dando certo mesmo.” (PSI 1)
“Para mim o luto faz parte do processo de convivência com a perda. Até
porque eu estou vivendo isso recentemente. Meu pai está em coma à
dois meses [...]. Mas viver o luto primeiro que a gente percebe que estas
fases, passar pelas fases do luto é inevitável.[...]. Mas o luto é um
processo natural.” (CPT4)
“Isso varia muito, porque a gente sempre vai levar em conta pra analisar
a questão do luto a história de vida daquele cliente, as contingências que
aquele cliente está inserido né, então a gente vai lidando com isso de
uma maneira bem específica dependendo de cada cliente que a gente
vai tendo.” (CPT 3)
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“É importante trabalhar esse fim para que ele seja menos sofrido o
possível, pois existe a questão do vínculo para o paciente.” (CPT5)
você fica pesando. Eu sempre tenho este cuidado de pensar. Qual foi o
meu papel nisso? Ou não. É o momento da pessoa. Eu tento sempre
fazer uma análise cuidadosa para entender esse processo.” (CPT1)
“As vezes muito mal, mas isso acho que é meio geral, agora eu,
particularmente, tenho uma dificuldade muito grande com essa história”.
(PS1)
“Teve um paciente que encerrar a terapia foi muito difícil. Era um caso
que o paciente que usava drogas tinha sido abandonado pela família, foi
muito difícil passar por isso, pois eu tive que encerrar a terapia, pois eu
ia voltar para Ribeirão Preto. Foi um paciente que eu atendi na faculdade
e depois ele seguiu tratando comigo. Como eu era uma figura importante
na vida dele, e a experiência em lidar com essas situações era pouca, foi
difícil lidar com minhas preocupações.” (CPT2)
“Na época em supervisão a gente entendeu que ela fazer terapia comigo
estava sendo pior para ela, e ai eu tive que ter essa conversa com ela.”
(CPT1)
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“Sim. [...] Porque ai os pais acabam tomando algumas decisões que não
ficam sobre o controle do terapeuta [...].Então os casos que me fizeram
discutir em supervisão a questão de perda mesmo, foram nesse sentido
né.” (CPT3)
3.2.2.1.2 – Em terapia
“Faço análise, quatro vezes por semana, faço análise há um bom tempo
na minha vida e discuto sim essas questões, pois acho que a pessoa
continua pensando na gente e a gente continua pensando na pessoa.”
(PSI5).
“Sim, tanto levei para minha supervisão, quanto para a minha terapia.
Aliás, estas duas coisas não podem faltar para um profissional da área
clínica.” (CPT5)
“Mas às vezes nos surpreende, alguém que você está pensando que o
trabalho está indo bem e, abruptamente, a pessoa para.” (PSI2)
“[...] mas eu acho que a pior é quando você não sente nenhum sinal, é
algo muito inesperado, e que a pessoa faz sem dar chance de falar,
some e ainda deve, ai é uma mistura de sentimentos que dá, eu acho
que essa é a pior” (PSI3)
“Eu acho que é quando a pessoa sai da terapia sem dar um feedback
pro terapeuta.” (CPT3)
“Bom pra mim foi quando eu não me sentir assim em condições mesmo
de atender.” (PSI4)
3.2.2.2.3 – Suicídio
“Porque quando a mãe não quer mais trazer não tem mais o que fazer.
Às vezes você não tem uma ultima sessão com a criança, nem se
despediu.” (PSI4)
“O paciente está o tempo todo te dando dicas, que ele só vai ficar ali se
estiver muito suprido. Ele ameaça a gente.” (PS1)
“Essa questão esta muito ligada à maturidade que você vai adquirindo
como terapeuta com o tempo, pois no começo você é mais flexível,
aceita mais as faltas e outras questões, já com o tempo, quando você
percebe que a pessoa esta começando a ir para o caminho de
interromper você já age de outra maneira.” (PS5)
“Eu acho que sim, em alguns casos sim. A gente percebe muitas vezes
no envolvimento do paciente assim com o atendimento, com você, vai
surgindo alguns sinais. É claro que cada um vai sinalizar de um jeito,
mas um certo distanciamento.” (PSI3)
“Sim, as crianças às vezes são diretas e falam sobre isto, por estar
desmotivada, por querer fazer outra atividade neste período. Outras
situações é que os pais sinalizam querer parar, pois o tempo da criança
está complicado, dificultando vir a terapia ou até mesmo o tempo dos
pais.” (CPT5)
“Eu não faço nada. Respeito. A pessoa tem direito de ir e vir quando
ela quiser.” (PSI1)
“Permitindo que o paciente faça o que ele quiser, ligar para o paciente
pode ser pior e nós ficamos quietinhos, pode ser que o paciente
retorne, pode ser que não, mas o paciente sabe que você vai estar ali,
caso ele precise retornar” (PSI5)
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“Eu acho que eu ligaria para saber e se ela realmente parou, não há à
ser feito. Pois quando a pessoa vem e comunica, você tem chance de
entender melhor a situação, que pode ficar melhor tanto para você
como para o paciente. Mas se o paciente simplesmente abandona, não
há o que fazer.” (PSI2)
“Eu estava sendo sincera, verdadeira não só com ela mas comigo, de
não me propor a fazer uma coisa que eu não achava que eu
conseguiria.” (PS3).
disfarcei e de alguma forma e quis dizer que não dava, não se hoje eu
faria isso, mas também não sei se hoje eu aceitaria pegar este caso,
este é problema do recém-formado, você aceita tudo o que aparece.”
(PS5).
“Sim, teve uma vez que eu decidi finalizar o processo terapêutico por
perceber que a relação comigo estava sendo prejudicial para a cliente.”
(CPT1).
3.2.2.5.3 – Alta
“Eu acho que em psicanálise acontece muito isso, por que: “Ah, você
fala com a minha filha e não fala comigo”. Então o psicólogo precisa
dar retorno. Tô falando de retorno. Precisa dar retorno para os pais.”
(PSI4)
“Acho que todas as situações você tem influencia né, se você é muito
maleável ou se é muito rígido, se você vai auxiliá-lo negociando a
questão financeira.” (PSI5)
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“Eu acho que é quando o psicólogo não consegue mais lidar com
algum conflito ou alguma emoção, alguma reação que o paciente tem
e que vai te cutucar.” (PSI3)
3.2.2.7.1 – Negociação
“Acho que das várias vezes que aconteceu de um paciente que estou
atendendo passar por uma situação difícil financeira e querer parar
por isso, eu sempre oferecia a possibilidade de negociar o preço, ou
de ele ficar devendo e na hora que a situação melhorar, me pagar.
Como forma de ele poder continuar.” (PSI2)
cliente, eu nunca fiz isso. Então não é isso, negociar como vai pagar,
dá pra negociar para que este não seja o motivo” (PSI4)
“Eu sempre tento deixar isso muito claro, de que se a pessoa estiver
passando por algum problema é melhor a gente renegociar do que
interromper o atendimento, porque eu sei que a pessoa está
precisando.” (CPT3)
“Eu falo sobre o valor da sessão. Então eu faço uma primeira sessão
onde eu não cobro e que não tem duração muito bem definida,
geralmente entre uma hora e meia e até duas horas. Até para que a
paciente diga o quanto a questão financeira pesa para ele. Se pesa
eu peço para que ele faça uma proposta que seja dele. Mas que isso
não seja uma espécie de leilão. Então a gente define isso e
estabelece um prazo para rever isso.” (CPT4)
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“Eu acho que sim, eu acho que sim, mas também acho que as vezes
ele é o motivo mais socialmente aceito, então é fácil de se justificar o
término por isso do que entrar em outras questões da relação, então é
o que se dá pra falar, porque se imagina que é o que melhor é
ouvido.” (PSI3)
4. DISCUSSÃO
“Eu acho que é quando o psicólogo não consegue mais lidar com
algum conflito ou emoção, alguma reação que o paciente tem e vai te
cutucar”. (PSI3).
“Eu acho que sim, eu acho que sim, mas também acho que as vezes
ele é o motivo mais socialmente aceito, então é fácil de se justificar o
término por isso do que entrar em outras questões da relação, então é
o que se dá pra falar, porque se imagina que é o que melhor é
ouvido”(PSI3)
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
ARNOW, B. A.; BLASEY, C.; MANBER, R.; et al. Drouputs versus completers among
chronically depressed outpatients. J. Affect Disord, 2007, 97: 197-202.
FREUD, S. Luto e Melancolia. In: ______, Edição Standart Brasileira das Obras
Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1976. v. 14.
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FUHRIMAN, A.; BURLINGAME, G.M. Group psychoterapy: research and practice. In:
______ (Eds.). Handbook of group psychotherapy: an empirical and clinical
synthesis. New York: John Wiley, 1994, 499 p.
ANEXO B
Caro participante:
Gostaríamos de convidá-lo a participar como voluntário da pesquisa intitulada
“Representações sociais do psicólogo sobre o pós-término da psicoterapia”, que
refere-se a um Trabalho de Conclusão de Curso dos estudantes de Graduação do
curso de Psicologia da Universidade Paulista - UNIP. O objetivo deste estudo é
compreender as representações sociais de psicólogos, com experiência mínima de 3
anos de atuação sobre o pós-término da psicoterapia. Sua forma de participação
consiste em responder a uma entrevista que terá duração média de 30 minutos e
será gravada, transcrita e analisada.
Seu nome não será utilizado em qualquer fase da pesquisa o que garante seu
anonimato.
Não será cobrado nada; não haverá gastos nem riscos na sua participação
neste estudo; não estão previstos ressarcimentos ou indenizações; não haverá
benefícios imediatos na sua participação. Os resultados contribuirão para melhorar a
compreensão da prática psicoterápica, proporcionando um resultado que pode ser
usado para aperfeiçoar o atendimento clínico do profissional psicólogo e dos
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Assinatura do Participante
De acordo:
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Transcrição
LBR - Qual (s) faixa (s) etária(s) você atende? Atende alguma demanda especifica?
PSI1 - Atendo de 15, 16 anos para cima. Já atendi criança um tempo, mas me
especializei em adolescentes e adultos, apenas.
propriamente dita. Só que, infelizmente, não é isso que acontece sempre. É isso que
a gente sempre tenta.
LBR – Esse é o objetivo?
PSI1 - É, é esse o objetivo. É muito bom quando acontece e muito frustrante quando
não acontece. Porque eu acho que tanto um quanto o outro dá tudo de si para que
aconteça. Então é muito frustrante quando não acontece, porque isso obriga a gente
lidar com as limitações, os fracassos, que são as feridas narcísicas mais doídas que
a gente tem. Então, a gente está sempre muito exposto a estar lidando com essas
dores. E provocando, porque se você não consegue ajudar, o outro entra em mais
desespero do que ele já está. Porque a esperança dele é de que alguém ajude, se
ele não encontra isso, ele fica mais doído do que ele já estava. E com a gente não é
diferente, acho que a gente fica pior ainda, pois temos uma cobrança: que é a de
conseguir. Quem não quer ser bom naquilo que faz, né?
LBR – Você poderia relatar brevemente sua trajetória profissional? Assim, se foi
direto para clínica, ou se trabalhou em uma Instituição antes, ou se você sempre...
PSI1 - Eu fui direto para a clínica. Desde o início. Ai depois que eu já estava um
certo tempo, uns dez anos, talvez mais, uns doze, treze anos, eu fui para uma
Instituição também. Mas para trabalhar com clínica. Era um trabalho diferente do
que a gente faz em consultório. No consultório o objetivo é fazer a psicoterapia,
nessa orientação psicanalítica, sem tempo determinado, ou pré-determinado. E, na
Instituição é diferente. Porque na época que eu trabalhei na instituição ainda não
tinha o que tem agora de ser obrigatório o atendimento psicológico. Eu trabalhava
em uma que oferecia isso. Eu acho que era a única que oferecia, na época que
comecei a trabalhar nessa Instituição. E a procura foi muito grande. Quando as
pessoas ficaram sabendo da existência... então, ai eu me dei conta do quanto o
nosso trabalho é importante. Porque no consultório é diferente. Chegam as pessoas
que tem alguma condição de fazer o trabalho. E lá, era uma Instituição de saúde
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mesmo, privada e chegavam pacientes de classe média mais para baixo, mais baixa
do que média. E eu fiquei impressionado com a importância do nosso trabalho para
a população e não é uma população como a gente pensa que tem que ter um bom
nível social, cultural, intelectual... Sabe, pessoas analfabetas procurando pelo
trabalho e, assim, com uma condição de aproveitamento maior do que muitas que a
gente atende no consultório, com uma condição, em todos esse aspectos, melhor.
Então, isso é uma surpresa e eu tive uma surpresa. Foi lá que eu comecei a atender
crianças, que eu atendi durante um tempo. Foi muito bom porque, em função da
procura, tiveram que contratar mais psicólogos...
Se a gente não perceber esses movimentos, o trabalho as vezes para quase que
antes de começar ou na hora que ele está começando. Eu já tive muito mais perdas
antes de eu entender isso melhor. Hoje, eu acho que isso é uma das coisas que a
gente tem que pegar logo no começo e já ir trabalhando para facilitar, para que o
trabalho caminhe. Então, o luto é fundamental desde o começo. Agora o luto, ele
está presente o tempo todo. Inclusive com aquele paciente que começa a melhorar,
pois quando ele começa a se sentir identificado, quando ele começa a sentir que ele
já está tendo um bom entendimento do que acontece com ele, então, ele já começa
a vislumbrar uma separação. E quando acontece essa melhora, esse
aproveitamento, é porque existe uma ligação forte entre nós dois. Então, já é doído
pensar na separação e isso aumenta com o desenvolver do trabalho. Se a gente não
percebe isso, corre o risco de ele ser prejudicado, interrompido... Então, a contra
partida disso é mostrar, é vivenciar que isso é uma condição natural e ver que aquilo
acontece, que todo mundo que chega é para ir embora, né? É sempre uma coisa
presente. E quanto mais a pessoa vai se desenvolvendo, mais próximo da
separação ele fica. Mas a compensação disso é o êxito, é a alegria que isso dá.
Então, é um luto que ele é bem elaborado, porque junto com ele vem o
reconhecimento do bom trabalho que fizemos. E a necessidade da separação em
função de não estar precisando mais. Tenho um paciente que vem três vezes por
semana, recentemente ele propôs uma redução, passar para duas. Alegou um
monte de coisa. E era tudo justificativa. Na verdade, ele não está precisando mais vir
três vezes. Ele está podendo ter duas. Então, daqui a pouco, ou ele já não vai
precisar de nenhuma, ou de muito menos. E eu notei nele um sofrimento muito
grande e da minha parte também, não tem como a gente separar o emocional do
intelectual. Eu acho que é tão importante que a gente tenha o luto bem trabalhado.
Não digo resolvido, pois não acho que essas coisas se resolvem, não. Eu acho que
elas são melhores enfrentadas, resolvidas não, sempre vai ter dor, sempre vai
sofrer. Mas eu acho que tem a possibilidade de aumentar a condição de lidar com
esse sofrimento. Falando no caso do profissional, terapeuta. Porque se você não
tem essa coisa mais bem trabalhada, mais bem compreendida dentro de você, isso
pode te dificultar até de se entregar no processo. Porque a consciência de que
aquilo vai ter fim, pode atrapalhar de que tenha começo, de que tenha continuidade,
não é? Como uma pessoa que, às vezes pode não conseguir viver plenamente, para
não ter um apego com a vida, prazer pela vida, porque ela tem a consciência de que
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a vida não é eterna. Então, para não lidar com esse sofrimento que ela lidaria diante
da morte, da doença, ela nem se entrega, nem vive, nem curte. Fica aquela questão:
o que é melhor? Aprender a lidar com o sofrimento ou deixar de viver intensamente?
É mais ou menos assim que eu penso...
LBR – É?
PSI1 - É. Então, é sempre muito sofrido a perda, a separação, a interrupção de um
trabalho. Essa situação me pega muito, agora eu melhorei um pouquinho. Estou um
pouquinho mais solto com isso. (risos)
LBR - O fim de uma relação terapêutica em algum momento foi tema de supervisão
ou de alguma sessão com seu terapeuta (caso faça terapia ou tenha feito)? Qual ou
quais motivo(s) o levaram a discutir tais aspectos?
PSI1 - Sim. Muitas vezes. Eu sempre levei muito esse tema. Sabe por quê? Porque
isso para mim é visto hoje como um ganho. Eu trabalho muito isso, primeiro, como
eu disse, eu sofro muito. E eu acho que, as vezes, eu bloqueava. Então, o paciente
parou, eu tinha um bloqueio. Eu acho que agora, por ter uma facilidade de me
perceber melhor, eu não consigo ficar indiferente ao tanto de sofrimento que me
causa. Eu acho que, defensivamente, acabava o trabalho, eu deletava. Eu usava um
razão intelectual, uma justificativa defensiva para me convencer sobre aquilo e
ficava por isso mesmo. De uns tempos para cá, fui fazendo diferente. Eu fui tentando
entender, a fundo, o que foi aquele término. Não estou falando no processo de alta,
mas de interrupção. Pois eu acho que a gente aprende mais com a parada do
paciente, quando a gente leva isso a sério, e tenta compreender. Porque ninguém
para a toa. Ou para porque está na hora de parar, já está bom, porque tem muita
gente que vem com aquela expectativa, depois vai embora, numa boa. Isso
acontece também, foi difícil de entender isso, de entrar na minha cabeça. Via como
uma experiência muito frustrante. Hoje eu já vejo que não, que existem expectativas
diferentes. Mas eu acho que a gente aprende muito quando consegue compreender
o que fez um paciente parar um trabalho que ainda não estava na hora de parar. Ai,
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me senti muito “banana” (risos), eu fui mais um, ai eu entendi o que as pessoas
sentiam quando ele fazia isso. E fiquei com dó dela e pensei “coitada” (da esposa do
paciente).
LBR - Você já chegou a falar isso, mas a pergunta é: É possível perceber durante os
atendimentos, indícios que o cliente queira interromper a terapia?
PSI1 - “Ô”, é! Então, ai é que está. Entra no luto de novo. Depende de tua condição
de suportar esse “trem” chamado luto. Quando é muito traumático para você, você
deleta, nega. Você passa batido. O paciente está o tempo todo te dando dicas, que
ele só vai ficar ali se estiver muito suprido. Ele ameaça a gente. Se a gente esta
muito assustado, a gente não percebe a ameaça... e o medo? Medo da perda. E, as
vezes, não é a perda emocional, a perda do paciente. É perda do dinheiro mesmo,
do trabalho que você não sabe se vai ter outro. Dependendo de como está tua vida,
a demanda as vezes é grande, as vezes pequena, as vezes nem existe a procura. E
quando você está muito apertado, isso pesa muito. Ai! acho que já nem é tanto pelo
luto propriamente, mas pelo medo. Eu acho que às vezes é o medo de ter que fazer
o luto e a gente não percebe que o paciente está o tempo todo falando sobre isso. E
quando a condição de tolerar isso é pequena, a gente não percebe e não consegue
falar sobre isso com ele. E é fundamental que isso seja abordado desde o começo:
que nós estamos nos encontrando para nos separar. Então o paciente as vezes tem,
todos nós temos, isso de que estaremos juntos para sempre. Quem que não tem
isso na vida? Ninguém começa uma relação achando que vai até tanto tempo,
depois vai acabar e começar outra. Quando a gente começa, a gente quer que
aquilo seja... Então nessa relação de trabalho, é importante trabalhar isso, que a
gente está junto para poder deixar de estar. Então, na melhor das hipóteses, o que
melhor vai acontecer que é nós vamos nos separar. Com muita dor, se for um
processo bem sucedido, mas com muita alegria, que é o que compensa a dor,
porque nós vamos poder comemorar. Vai ser um investimento feito, você estará livre
do compromisso, livre do compromisso financeiro, do tempo que você gastou. Então,
tem muito esse lado, que ajuda a lidar com o outro, porque o outro é assustador.
Pois uma pessoa que tem muita dificuldade de perda, de abandono, ela tem terror,
por isso que a gente tem que abordar isso desde o começo. Agora, eu acho que
você me perguntou isso e eu não sei como te respondi: o luto fica mais difícil de
fazer, como nesse caso que eu citei, que foi doloroso para mim, eu demorei para me
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recuperar, nem sei se me recuperei. Porque eu senti que a pessoa não estava se
entregando e eu estava ali, acreditando que eu estava me dando ao máximo e ele
também. Bom, o luto é pior no nosso trabalho quando acontece essa “não entrega”.
Quando o outro não se entrega, pois quando existe, a troca é tanta, que ninguém sai
perdendo, os dois saem supridos, satisfeitos, triste também, mas é um luto bem
sucedido, um luto mais fácil de encarar, tolerar. Agora, aquele que é feito com
reserva, que você tem que lidar com a perda e alguém não se entregou totalmente,
e não precisa ser o outro não, pode ser a gente, por dificuldade, pois o paciente
mexe com algumas coisas que a gente não sabe lidar, a gente também não se
entregou a relação. Então, esses são mais dolorosos. Esses são mais difíceis
porque fica faltando, parece que vai “um pedaço junto”. Leva embora, alguém fica
devendo...
Mas se ela estiver tendo e mesmo assim for tentada a abandonar, convém dar uma
olhada para essa questão de liberdade. Acho que ela quis saber se ela tem essa
liberdade, se você aguenta. Porque é terrível para o paciente sentir que ele te
magoa, que ele te machuca, te estraga. A não ser aquele que é perverso e quer te
machucar, sadicamente, mas é outra coisa. Acredito que a pessoa, quando quer
abandonar, é um direito dela.
PSI1 - Olha, aconteceu pela pessoa ter ido até onde ela pretendia, queria. E
aconteceu por essa experiência que eu já falei, de estar devidamente suprida.
Então, ai, é uma separação, um luto mais tranquilo. Eu propor? Então, é que nunca
parte de um. Assim como qualquer outra relação, essa também. É uma coisa que
surge no campo da terapia. A pessoa te dá indícios e acontece de ela te dizer. Te
mostrar, não te dizer, que ela, assim como uma pessoa que está em crescimento,
que ela precisa de uma ajuda para ser “mandada embora”, que ela não seria capaz
de fazer isso sozinha então eu já “pus para correr”. Mas isso não porque eu “pus ela
para correr”, é porque ela me deu sinais de que era importante eu fazer isso, se não
ela ficaria um tempo a mais do que ela precisava. E essa pessoa tinha uma
experiência de um pai muito ausente e eu senti que fiz uma função que supriu algo
que ela não teve na história dela. Mas isso nós pudemos conversar e eu acho que
ela saiu daqui com isso mais bem suprido.
LBR - Você poderia citar algum caso que faça referência ao nosso tema de
pesquisa? Acho que você citou alguns casos...
PSI1 - Acho que já citei sim. Eu acho que vocês pegaram uma questão central. Eu
acho que todo o processo depende disso. Então, depende de como você está com
sua condição de fazer luto, você trabalha bem ou mal, melhor ou pior, ou não
trabalha. Então, eu acho que foi muito bom, pois acho que a terapia depende disso,
dessa possibilidade de poder falar abertamente sobre isso com a pessoa, pois a
vezes ela tem medo da independência, de crescer, porque isso fica com um
abandono. Então é isso que eu tenho no momento.
61
Transcrição
Qual (s) faixa (s) etária(s) você atende? Atende alguma demanda especifica?
PSI2 – Atendo adolescente e adulto.
para internar, depois que o paciente te alta ele fica solto. Nesse caso, a gente
oferecia essa possibilidade de continuar, o que era muito bom, pois evitava nova,
mais internações.
dramáticas, mais definitivas, mas na verdade a gente faz luto a todo momento, todos
os dias.
LBR - O fim de uma relação terapêutica em algum momento foi tema de supervisão
ou de alguma sessão de terapia, sua, pessoal?
PSI2 – Sim várias vezes. Eu não lembro exatamente, nesses trinta anos, quantos
foram levados para a supervisão ou análise. Mas geralmente isso acontecia quando
era uma interrupção abrupta, inesperada. As vezes a gente percebe que aquele
paciente não vai durar, ou porque não se identificou com o processo, ou por
qualquer outro motivo, como defesa ou resistência. Mas as vezes nos surpreende,
alguém que você está pensando que o trabalho está indo bem e, abruptamente, a
pessoa para.
PSI2 – Acho que é essa. Ou quando você acha que o trabalho está indo bem e de
repente você “cai das nuvens” e vê que não estava, porque o paciente para. Ou
então, justamente quando o paciente para porque está prestes a entrar numa
relação psicoterápica, que vai provavelmente propiciar mais mudanças e o medo
que a pessoa tem disso, o quanto ela é apegada a um jeito de ser, um lugar
conhecido. Então ela não consegue dar esse passo há uma frustração, pois você vê
que tinha toda a chance para a coisa caminhar bem e não acontece. Mas é um
direito que o paciente tem. A gente pode até querer que os pacientes melhorem... eu
acho que é impossível não desejar isso, que o trabalho caminhe bem. Mas o
importante é saber desse desejo e não achar que o paciente está ali para
corresponder a isso. Acho que são as situações mais difíceis. Ou quando o paciente,
por exemplo, se mata. Eu acho que essa é a forma mais difícil. Felizmente, eu tive
apenas uma experiência nesse sentindo e era uma paciente que foi duas ou três
sessões, era uma ação que estava começando e muitas coisas tinham sido omitidas
pela família e pelo psiquiatra que a encaminhou. Mas mesmo assim, foi uma
experiência difícil. Imagino alguém que você atende, como eu já supervisionei casos
de pessoas que atendiam o paciente fazia muito tempo e o paciente resolve um dia
acabar com a própria vida. É uma situação muito dolorosa.
virgem, de ter dificuldade de relacionamento. Era a queixa principal dela. Então para
ela, estava bom, naquele momento cumpriu o que ela queria e também porque ela ia
mudar para um lugar distante.
LBR – É, de que maneira a atuação do psicólogo pode levar ao fim de uma terapia.
A forma como ele conduz, age... enfim.
PSI2 – Eu acho que sempre tem alguma participação da gente. A relação é de dois.
Impossível... As vezes a gente pode detectar isso mais facilmente, as vezes não dá,
porque esbarra em algum ponto cego que a gente tem. Mas a gente sempre está
implicado nessa situação, não tem como não estar implicado. Tanto na situação do
encontro, como da separação.
LBR - Em alguma oportunidade a decisão pelo fim da terapia partiu de você? Como
foi tomar essa decisão? Que sensação você teve?
PSI2 – Conscientemente, acho que a decisão nunca partiu de mim.
LBR - Você poderia citar algum caso que faça referência ao nosso tema de
pesquisa?
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PSI2 – Tem tantos que é difícil pensar em um específico. Por exemplo o caso que
mostra essa questão do dinheiro. Teve, recentemente, duas pacientes que quando
vieram me procurar, elas tinha uma situação econômica muito boas. Uma,
conseguiu receber ajuda, renegociamos o preço de forma que ela pudesse me pagar
e ela continuou. Mas a outra não deu conta.
LBR – As duas tinham uma situação financeira boa, passaram para uma ruim e você
ofereceu uma negociação do preço e uma aceitou e a outra não?
PSI2 – Talvez essa que não conseguiu seja alguém que sempre tenha tido uma
situação financeira muito boa e sempre esteve acostumada a pagar, pelas coisas,
por serviços prestados e tudo mais. Então, a situação de não pagar algo ela não
suportasse. Pelo menos num primeiro momento, talvez um dia ela volte atrás e
consiga. A outra não, não era a família dela que era rica, ela casou com um homem
muito rico, mas ela nunca se sentiu tendo aquelas coisas todas. Então, era uma
pessoa que mais tranquilamente lida com isso, ou as próprias características dela de
ser uma pessoa mais livre para dar e receber.
LBR – Terminamos.
PSI2 – Terminamos?
Transcrição
MLT- Qual (s) faixa (s) etária(s) você atende? Atende alguma demanda especifica?
PSI3 - Olha eu tenho todas as faixas etárias, desde crianças, adolescentes e
adultos. Mas hoje, o que mais me procura assim é adulto jovem, de 18, 19 até os 25.
Acho que se pegar a idade de todos eles estão concentrados nessa faixa.
MLT- O fim de uma relação terapêutica em algum momento foi tema de supervisão
ou de alguma sessão com seu terapeuta (caso faça terapia ou tenha feito)? Qual ou
quais motivo(s) o levaram a discutir tais aspectos?
PSI3 - Eu como terapeuta né? Eu acho que varias questões fizeram eu discutir
assim em terapia supervisão. A primeira é o quanto que a gente se vê esquivando
de se viver essa experiência de perda né? E, só que no consultório ela acontece de
diferentes formas, uma coisa é o paciente ir embora sem te avisar, te devendo
sessão e você nem sabe o que aconteceu, você ficar sozinho lá imaginando o que
pode ter se passado, agora outra coisa é você observar alguns sinais de que a
pessoa quer ir embora e ai isso gerar uma conversa. E a outra coisa, que eu acho
que é pior ainda, é quando você se sente um tanto quanto responsável por ter
mandado aquele paciente embora. Então acho que dá pra, não sei, visualizar assim
71
depois”, então você vai percebendo assim, em alguns, né? Não sei se em todos ou
se a gente é que não consegue enxergar isso em todos, né? Faltas, atrasos, isso vai
sinalizando.
vou te atender porque eu acho que eu não vou poder te ajudar, tem uma pessoa
mais indicada do que eu, que foi o caso de uma menina que foi violentada, um caso
de abuso e a mãe de alguma maneira errada acobertava o pai. E a menina estava
sofrendo demais e ela já havia demonstrado isso, e eu me senti mal, e ai, eu não
quis porque eu não ia conseguir reagir a mãe por pura reação, então não deu. Mas
nessa outra paciente que eu não tive nenhuma identificação me despertava o
sentimento de não querer, nossa não tem um ponto que me liga, que me faz querer
ajudar, querer conversar, e ai fui aguentando a barra tentando pensar o que era
essas questões dentro de mim, na terapia, pra poder estra junto com ela, mas acho
que contribui um certo tempo, outro certo tempo acho que fui dando sinal de que não
ia mais, e ai acabou piorando muito no final, até porque chegou num momento da
vida dela muito difícil, e a mãe acabou tirando.
MLT - Em alguma oportunidade a decisão pelo fim da terapia partiu de você? Como
foi tomar essa decisão? Que sensação você teve?
PSI3 - Foi né, no caso dessa garota do abuso sexual, e ai, foi difícil porque eu falei
pra mãe né, que eu não poderia ajuda-la, e que eu ia encaminhar pra alguém que
trabalhava já, mais com essas questões e eu me senti em parte triste, mas em parte
muito aliviada porque eu estava sendo sincera, verdadeira não só com ela mas
comigo, de não me propor a fazer uma coisa que eu não achava que eu conseguiria.
Então eu me senti assim, honesta, que ao invés de tocar a coisa meia boca, parar.
Eu acho que, eu lembro sempre do Diloreto que foi um supervisor meu, professor,
supervisor de uma galera lá da USP, professor do Mauro, da Carmem, é um senhor
que trabalhou muito com crianças e ele vinha pra cá fazer supervisão, e ele sempre
batia nessa tecla assim, que o psicólogo, o terapeuta, ele precisa fazer uma
avaliação nas primeiras seções pra saber se ele quer aquele caso, se ele quer, se
ele pode, se ele da conta, se é a terapia mais indicada. Então eu acho que no
começo é mais difícil fazer isso, no começo da vida profissional, né?, porque você
quer atender, tem que ficar com a porta aberta e entre quem quiser, pelo amor de
Deus, mas ai quando você fica eu acho que você fica com assistente, vai sobrando
tempo, você vai vendo que não precisa ser assim, você vai ficando mais superior e
até pra poder trabalhar melhor. Então hoje eu não faço mais cheia de culpa, ou
cheia de tristeza, é claro que às vezes eu sinto, mas é muito mais uma questão de
execução, de um trabalho legal, do que uma falta de qualidade minha.
75
MLT - E tem situações assim que de repente você sinaliza para o paciente que ele
pode caminhar sozinho, mas que ele quer continuar?
PSI3 - Tem, assim porque, eu acho que assim, eu nunca tomei a iniciativa de falar
assim, olha chegou ate aqui onde você inicialmente você me falou que estava ruim
então agora você pode ir embora, eu nunca fiz isso, até porque outras questões vão
surgindo no meio do caminho, e ai eu acho que se a pessoa está vindo ela está
interessada em abordar outras questões, mas quando isso parte do paciente, ele
quer ir embora mas não vai, quer mas não vai, e parece que ele está fazendo um
pedido de autorização, ai a gente conversa sobre isso, eu tento mostrar isso pra ele,
que ele está vindo mas que se ele quiser ele pode ir embora, que ele sente que ele
ainda não foi ou o que ele sente que ele ainda está aqui e aí a gente vai
conversando sobre. E pra mim eu acho que essa é a parte mais, é o jeito mais
gostoso ou doloroso de fazer, e alguns pioram nesse momento, até pra você, porque
ele está seguro ou te deixa inseguro quanto ao final, mas eu não tenho né (.....) ,
mas aí eu acho que é o terapeuta que precisa bancar assim, as inseguranças, e
você tem que aguentar e ajudar o paciente a se desligar. E mostrar pra ele que pode
ir, confie no que existe ai dentro, sabe, demonstrar que foi legal.
MLT - Você poderia citar algum caso que faça referência ao nosso tema de
pesquisa?
PSI3 - Tenho, tem um caso de um rapaz que foi essa experiência de conversar
sobre o fim, ele veio aqui com diagnóstico de TOC, diagnosticado por um psiquiatra,
tomava algumas medicações e tinha crises assim, muito frequentes e muito dolorido,
76
era sofrido, e foi um paciente difícil no começo porque ele tinha muita dificuldade de
poder pensar na parte emocional das coisas, não só no comportamento de abrir e
fechar, mas na parte emocional, na parte das fantasias que vinham a cabeça, mas
assim, aos poucos isso foi sendo possível, e a gente foi observando um momento
aqui, alí, e ele foi criando uma compreensão do que era virtual, e ai ele foi
melhorando, ele tirou os medicamentos, diminuiu, foi tendo um pouco mais de
controle sobre aquilo, não sumiu, mas ele conseguia se aguentar, conseguia sair
daqui e pensar sobre, e ai no final, quando a gente já estava nessa parte ele me
dizia que ele estava melhor e eu concordava né, nessa parte, que ele já tinha uma
compreensão de tudo que ele fazia, e aí ele queria ir embora, mas não queria, aí ele
queria fazer sessões de 15 em 15 dias, ao invés de duas vezes por semana, e aí ele
queria tirar férias, e começou a dar sinal que ele queria ir embora, que já estava tudo
bem, e ai eu falei pra ele que eu achava que ele queria ir embora mas não sabia
como e o que ele estava pensando, como ele estava com a ideia de ficar sem a
terapia e aí ele pode falar que tinha medo de uma recaída, que tinha medo de piorar
e de não ter com quem conversar sobre, e ai eu fui falando pra ele que mesmo que
a gente podia ter essa parada e que não iríamos morrer né, nem ele, nem eu, e que
qualquer coisa ele poderia retornar e a gente conversar de novo e assim foi. Ele foi
embora, casou e logo depois do casamento a gente já estava nesse processo e aí
ele deu um tempo e foi bom. Ele trouxe um, depois, ele trouxe uns dizeres assim,
sobre o fim e ai a gente meio que se despediu nesse clima assim. E hoje em dia eu
não sei como ele está, faz um ano e meio, mais ou menos, dois anos, a gente ficou
três anos juntos e faz uns dois anos que acabou e ai ele me mandou uns pacientes
ai, que chegam e dizem , ah, fulano de tal que me indicou, aí eu sempre lembro
dele, eu acho que ele sempre lembra também, e agora como eu estou lembrando
dele na entrevista né, então de alguma maneira acho que ficou, ficou um trabalho
legal assim, muito bom. É bom ter esse tipo de recordação na memória.
77
Transcrição
LAP - Certo. Agora nós traremos algumas questões voltadas ao luto. Do seu ponto
de vista pessoal, poderia falar sobre o luto?
PSI4 - Então é luto geral ou enquanto relação terapêutica. Eu sempre me interessei
muito pelo tema morte. Ma eu estudei a morte e o luto nos textos de Freud. Eu
convivo muito com isso porque eu trabalho em hospital, então a gente tem perdas
não é. Eu acho assim, eu sempre considerei um tema interessante e de difícil
abordagem.
LAP - Percebi que você colocou aqui questões do âmbito profissional poderia falar
do luto de uma maneira mais pessoal?
PSI4 - Talvez o meu grande interesse por isso seja porque eu nunca tive ai grande
perdas na ainda na minha vida, eu tenho meus pais, meus avós, eu tive uma bisavó
até meus vinte e cinco anos de idade. Então eu tive poucas perdas. Na verdade eu
perdi a meu avô, uma prima minha que era quase uma irmã. Eu não acho fácil
trabalhar o luto e nem viver o luto. Eu trabalho com pequenas mortes: mortes com
uma mudança, uma perca de trabalho, mudança de vida. Então eu vivo mais o luto
neste sentido. Agora não tem assim nenhuma grande perda que tenha causado tão
grande impacto. Mais desta maneira assim, destes pequenos lutos. Mas eu tenho
muito medo sim de uma grande perda.
LAP - Agora a gente vai falar um pouquinho mais sobre relação terapêutica: O fim
de uma relação terapêutica em algum momento foi tema de supervisão ou de
alguma sessão com seu terapeuta? Qual ou quais motivos a levaram a discutir tais
aspectos?
PSI4 - Foi. Foi sim. Eu tenho dois momentos muito marcantes. Teve uma criança
que eu atendi no aprimoramento, quando eu fui contratada no HC eu precisei ficar
mais uns seis meses com ela, eu precisei terminar o atendimento. Mas o
atendimento eu terminei por falta de condição minha mesmo de continuar atendendo
do que por acabar. E foi muito difícil, na verdade ela era muito parecida comigo, ela
era uma criança que me remetia à criança que eu fui. E em supervisão a gente
achou que precisava parar e encaminhar ela porque não ia dar certo. Isso em
supervisão no aprimoramento. E foi assim muito difícil pra mim. Porque ouve
momentos em que eu me sentia incapaz. Esse foi o meu primeiro grande luto
profissional. E agora na minha gravidez eu tive de dispensar os meus pacientes, tive
79
que encaminhá-los porque eu não tinha a certeza de que eu ia voltar. E foi uma
grande perda porque tinha um paciente especificamente que estava comigo desde
2003. Quando eu entrei até quando eu parei. Aí quando eu parei a minha gravidez
foi em 2009, e até hoje pra mim pra mim é difícil, hoje eu lido com isso de forma
melhor, mas sempre que eu encontro a mãe dele ou ele, porque ele é paciente do
hospital ele quer me ver, a mãe dele pergunta se está tudo bem. Hoje ele ainda é
uma criança, mas ele era uma criança muito nova e eu senti muito porque eu sabia
que talvez eu não voltasse tão cedo, por isso eu encaminhei. Então estes dois casos
foram sim tema ai da minha análise.
PSI4 - Como eu trabalho muito com criança, sei lá de repente parou de vir. Eu nunca
deixei de ligar, eu ligo na hora da sessão pra família e peço para falar com a criança
e pergunto: Olha eu fiquei te esperando, eu estou aqui no seu horário, o que foi que
aconteceu? Então todas as sessões que há falta eu nunca deixei de ligar. Sempre
ligo. Ai quando isso acontece e os pais dizem que vão trazer a criança e não trazem
ai eu suponho que ela não vai mais vir. Aí eu telefono também no horário da sessão
eu peço para que ela venha pelo menos mais uma vez. Mesmo que ela diga que não
vai pagar. Neste caso eu digo que não tem importância. Mesmo com adultos faço a
mesma coisa, quanto à questão é dinheiro: Ah não tenho dinheiro pra te pagar! Eu
digo: Olha então não paga, é só pra gente finalizar. É desta maneira que eu
procedo.
LAP - Uma ultima questão: Você poderia citar algum caso que faça referência ao
nosso tema de pesquisa?
PSI4 - Ah eu acho que tem aqueles casos também que há outro tipo de desajuste.
Por exemplo, o psicólogo quer a alta e o indivíduo diz que não, tem vezes em que
você identifica que a criança está bem, mas os pais insistem em continuar os
atendimentos, e muitas vezes isso também pode acontecer com adultos. Mas é isso.
82
Transcrição
BAP - É conhecido que dentro da psicanálise, existem correntes teóricas, qual você
utiliza?
PSI5 - Sempre trabalhei com Winicott, mas ultimamente estou trabalhando com os
vértices de Melaine Klein e Bion.
BAP - Qual (s) faixa (s) etária(s) você atende? Atende alguma demanda especifica?
PSI5 - Mais adulto e adolescente, mas ultimamente tenho atendido crianças
também, crianças de idades variadas.
BAP - O fim de uma relação terapêutica em algum momento foi tema de supervisão
ou de alguma sessão com seu terapeuta (caso faça terapia ou tenha feito)? Qual ou
quais motivo(s) o levaram a discutir tais aspectos?
PSI5 - Faço análise, quatro vezes por semana, faço análise há um bom tempo na
minha vida e discuto sim essas questões, pois acho que a pessoa continua
pensando na gente e a gente continua pensando na pessoa. Tem questões que
você acaba chegando a conclusão que poderia ter agido de uma outra forma com o
paciente, devido a experiência que vai adquirindo com o tempo, mas faz isso faz
parte da vida.
BAP - Em alguma oportunidade a decisão pelo fim da terapia partiu de você? Como
foi tomar essa decisão? Que sensação você teve?
PSI5 - Tive duas situações que eu me lembre, onde eu mesmo acabei me
afastando, era um caso de um paciente alcoolista muito caótico, a pessoa chegava
bêbada na sessão, eu sentia um desprezo muito grande, a mãe dele me procurou,
eu disfarcei e de alguma forma e quis dizer que não dava, não se hoje eu faria isso,
mas também não sei se hoje eu aceitaria pegar este caso, este é problema do
recém formado, você aceita tudo o que aparece. Teve uma outra situação que a
pessoa criou uma dívida muito alta comigo e não teve como.
BAP - Você poderia citar algum caso que faça referência ao nosso tema de
pesquisa?
PSI5 - Sim, eu fiquei pensando em lembrar de alguma situação em que a pessoa
cria um ódio tão grande da gente, que ela some e não te paga. Por mais que não
87
tenha respondido a expectativa dela, ela some, parece que ela te coloca numa caixa
preta no fundo do mar.
Isso é muito ruim, afinal houve um contrato verbal, você mantem a ética. É uma
situação intima ou seja ela lhe conta questões extremamente pessoais, você
respeita, trabalha, dedica seu tempo a pessoa e ela some. Isso de fato é muito ruim.
Me lembrei de um caso que a pessoa chegou com a queixa sobre sua situação
conjugal, via tendo dificuldades. O fato é que tempos depois esta pessoa entrou no
vigilantes do peso, emagreceu, falou que sua vida com o marido melhorou, que eles
estavam bem, felizes, e ela sumiu, sem pagar ou seja, sobrou pra mim.
88
Transcrição
HLG – Por que você fala análise do comportamento quando todo mundo fala em
abordagem comportamental?
CPT1 – A abordagem comportamental era um termo utilizado a um tempo atrás, é
um termo correto também, mas a associação brasileira de análise do
comportamento já vem a algum tempo trocando este nome, então dentro dos
analista do comportamento, a gente está tirando esse nome comportamental que
tem certo preconceito das pessoas que pensam que a comportamental é aquela
comportamental associada ao Watson, a qual trabalha com a teoria psicologia SR,
que é a teoria estimulo- resposta, e a comportamental está muito associado a esta
teoria. Por conta disso teve esta mudança de nome, que atualmente nos
consideramos analistas do comportamento.
HLG - Qual (s) faixa (s) etária(s) você atende? Atende alguma demanda especifica?
CPT1 – eu atendo adolescente a partir de 14, 15 anos e idade adulta.
HLG – Você poderia relatar assim de maneira breve a sua trajetória profissional?
Sua experiência na Clínica Privada; em Instituição de Saúde; Instituição de Ensino
superior.
CPT1 – Bom. Quer que fale desde período de estágio? Não, depois na parte
profissional?
HLG – Ok! E assim, do ponto de vista pessoal, você poderia falar um pouco sobre
luto?
CPT1 – Bom! É sempre um tema difícil de falar né? Eu acho que o luto, todos nós
vivenciamos em algum momento da nossa vida. É, assim como os meus clientes eu
também acho um momento difícil. Um momento que todas as vezes que eu passei
na minha vida eu me permiti sentir, me permiti chorar, me despedir. Inclusive nos
vários lutos que eu tive no decorrer da carreira. Sei lá. O luto com estudante. O luto
com ... As várias fazes da minha profissão. Então eu entendo o luto com uma fase
maior, uma fase de transformação. Que tem um sofrimento, mas também tem um
crescimento muito grande a partir disso. Mesmo na perda de alguém. Se você perde
alguém, você sofre, mas partir daquilo você amadurece, ganha algumas coisas.
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HLG – É a próxima pergunta vinha de encontro a isso que você está falando né.
Como você vivência o luto em situações profissionais? Mais ou menos isso que você
já respondeu.
CPT1 – É. Nas situações profissionais tem isso que eu disse das mudanças da
carreira e também tem os momentos que a gente é...Sei lá um momento de alta de
um paciente, quando um pessoa desiste. Que eu acho que é um momento mais
difícil. Quando desiste você fica pesando. Eu sempre tenho este cuidado de pensar.
Qual foi o meu papel nisso? Ou não. É o momento da pessoa. Eu tento sempre fazer
uma análise cuidadosa para entender esse processo. E crescer com isso e de
preferência ajudar essa pessoa que está comigo em terapia a crescer também com
esse processo de despedida.
HLG – Então, o fim de alguma relação terapêutica sua foi por acaso motivo de tema
em supervisão ou sessão com seu próprio terapeuta, caso você tenha feito ou faça?
E quais motivos levaram você a discutir esse eventual aspecto da perda de uma
relação terapêutica em supervisão ou em terapia?
CPT1 – Tiveram casos bem específicos assim. Muito mais... Na verdade teve um
caso que me marcou mais, que foi um caso de uma pessoa que tinha tido uma
perda significativa, e ela estava me substituindo por essa pessoa que ela perdeu.
Então ela estava em uma situação de luto, na época em supervisão a gente
entendeu que ela fazer terapia comigo estava sendo pior para ela, e ai eu tive que
ter essa conversa com ela. Foi uma conversa muito difícil para mim, por que era um
momento que eu estava dando alta para essa pessoa. Na verdade encaminhando
para uma pessoa, que na verdade eu até tive contato depois e vi que teve sentido
fazer aquilo. Que realmente fez bem para ela essa despedida. Mas é uma decisão
difícil sempre. A alta em si não é tão difícil. Porque você vê que a pessoa tá bem,
não necessita mais da terapia. Mas, decidir parar quando as coisas não estão bem,
é muito mais difícil.
experiência mais marcante de uma relação terapêutica. Pela morte do paciente. Pelo
paciente ter abandonado?
CPT1 – Então, eu tive experiências diferentes. No HC eu tralhava na geriatria e na
cardiologia. Então lá eu tive vários términos de relação por causa de morte do
paciente. No consultório isso nunca aconteceu. É eu penso que é muito difícil essa
fase da morte. Apesar de a gente trabalhar no hospital na época, mesmo assim é
difícil, quando você se apega mais ao paciente. Se apegar no sentido de atender
mais tempo, de terá já um vinculo com aquela pessoa, assim com tem com você.
Então paciente que você atende a mais de um ano. Fica um pouco mais difícil. No
consultório particular a experiência mais difícil é o processo de desistência.
HLG – Você costuma ter sucesso? Assim, os pacientes retornam para fazer esta
sessão de finalização?
CPT1 – Voltam. A grande maioria volta. Se sente muito acolhido com isso de ter um
espaço sem cobrança. Você está chamando a pessoa independente dela continuar
92
a terapia. Você quer dar este suporte final, ensinar ela a terminar direito uma
relação. Este é o objetivo.
HLG – E você acaba, por exemplo, tendo algum tipo de sucesso nessa empreitada
de fazer com que o paciente se mantenha em tratamento?
CPT1 – Sim.
HLG – Que outros exemplos você pode dar? Você citou aqui no Hospital alguns
pacientes por morte.
93
CPT1 – Familiares que não conseguem levar mais, né! Isso é muito comum no
hospital. No consultório às vezes tem mudança de cidade, principalmente das
pessoas mais jovens.
HLG – E por sua parte assim? Algum tipo de paciente que você não conseguiu
atender? Limitação pessoal?
CPT1 - Não, nunca aconteceu. Teve esse caso em especial, que foi um caso único
que eu tinha contado antes, mas eu parar porque eu não dei conta, aquele caso era
mais complexo assim não! Isso nunca aconteceu. Já aconteceu de pessoas com
caso complexo, que tem uma história de mudar de terapeuta, e eles desistirem. Mas
eu desistir...vamos dizer assim eu desistir de um paciente, nunca. Isso nunca
aconteceu.
HLG - De que maneira a atuação do psicólogo pode causar o fim da terapia? Houve
alguma situação em que você se sentiu assim? A maneira como você atuou
provocou diretamente o fim da terapia? Qual tipo de atuação do psicólogo pode
causar?
CPT1 – teve uma situação. É isso do momento da pessoa né? Então era uma
pessoa que tinha um transtorno grave, e que eu e o psiquiatra, nos atendíamos bem
em sintonia, conversávamos bastante. E ele deu uma orientação para a pessoa,
sobre desligar o computador, que ela estava em um momento bem obsessivo com
computador. Eu dei a mesma orientação, só que aí comigo ela não reagiu tão bem.
Por que ela já estava brava com o psiquiatra, e também ficou brava comigo. Eu fiz
todo o processo de finalização. Até dei um suporte por telefone por um tempo para a
pessoa, mas acabou assim.
HLG - Em alguma oportunidade a decisão pelo fim da terapia partiu de você? Como
foi tomar essa decisão? Que sensação você teve?
CPT1 – Sim, teve uma vez que eu decidi finalizar o processo terapêutico por
perceber que a relação comigo estava sendo prejudicial para a cliente. Era uma
pessoa que tinha perdido uma pessoa e não estava melhorando com a terapia. Daí
discuti esse caso em supervisão e avaliamos o quanto ela estava de alguma
maneira me colocando no lugar dessa pessoa, aí decidi encaminhar para outra
pessoa. Foi uma decisão bem difícil, fique muito na dúvida se não estava
94
abandonando ela, mas fiz uma análise funcional muito detalhada e hoje tenho
certeza de que fiz o melhor para ela. Ela foi encaminhada para uma pessoa que
tinha outra idade e do sexo oposto, depois tive informações de que ela melhorou
bastante e também entendeu o motivo de eu ter feito o que fiz.
HLG - Você poderia citar algum caso que faça referência ao nosso tema de
pesquisa?
CPT1 – Sim, deixa um me lembrar, você quer dizer quanto a essa questão do luto?
HLG: É
CPT1 – Bom, acho que como já disse aquele caso que eu dei alta que foi uma
situação de luto e também caso em que eu sabia que a pessoa se beneficiaria muito
da terapia, mas ela desisti porque diz que não está aguentando vir nesse momento,
não está conseguindo organizar a vida e eu vejo que isso poderia melhorar muito.
Tento falar diretamente com a pessoa sobre isso, já que na abordagem
comportamental fazemos isso, mas, mesmo assim a pessoa desisti.
95
Transcrição
HLG – 7 anos?
CPT2 – É
HLG – E tem alguma faixa etária e alguma demanda específica que você atende ou
é geral?
CPT2 – É geral, só não atendo mais criança assim a área infantil eu atendia. Agora
eu deixei de atender.
HLG – Entendi. Você poderia relatar um breve histórico da sua trajetória profissional,
experiência clínica, se você teve alguma experiência em instituição de saúde,
instituição de ensino, como é que foi assim a sua trajetória da sua formação?
CPT2 – Olha eu estou com a clínica desde que eu sai da faculdade. Quando eu sai
da faculdade eu tinha dois clientes que os professores tinham indicado e eu comecei
na clínica, eu nunca trabalhei em instituição né, me formei em Bauru e de lá pra cá
só foi a clínica, todo o tempo da minha trajetória profissional foi a clínica.
HLG – Do ponto de vista pessoal eu queria que você falasse sobre o luto, que é o
objetivo do trabalho né
CPT2 – Do luto, como assim?
HLG – Do luto, não só da morte, mas como perda de aspectos gerais, uma
avaliação pessoal.
CPT2 – Eu acho uma coisa bem difícil assim, eu perdi poucas pessoas na minha
vida, o que eu mais perdi, eu tive muita falta, o que eu mais senti, é para falar nesse
sentido você diz?
deixar as amigas, deixar a condição de estudante, eu sofri acho que um ano mais ou
menos, foi bem forte e eu fiquei em Bauru, então para mim tudo cheirava a situação
de estudante assim foi mais difícil.
HLG – O luto de uma maneira geral. Situações gerais que levam ao fim da relação
terapêutica.
CPT2 – Experiência de perder um paciente por morte eu nunca tive. Teve um
paciente que encerrar a terapia foi muito difícil. Era um caso que o paciente que
usava drogas tinha sido abandonado pela família, foi muito difícil passar por isso,
pois eu tive que encerrar a terapia, pois eu ia voltar para Ribeirão Preto. Foi um
paciente que eu atendi na faculdade e depois ele seguiu tratando comigo. Como eu
era uma figura importante na vida dele, e a experiência em lidar com essas
situações era pouca, foi difícil lidar com minhas preocupações.
HLG – O fim de uma relação terapêutica em algum momento foi tema de supervisão
ou de alguma sessão com seu terapeuta (caso faça terapia ou tenha feito)? Qual ou
quais motivo(s) o levaram a discutir tais aspectos?
CPT2 – Sim. Este caso foi um. Precisei conversar com meu supervisor. Eu atendia o
paciente e depois a minha supervisora tinha que aguentar as minhas angústias.
Uma coisa que eu precisei trabalhar muito pessoalmente também. Ver...entender
que tinham algumas coisas que eu precisava considerar melhor.
perde o emprego e precisa negociar os entendimentos. Tive uma paciente uma vez
que entrou nesta situação, negociamos por um preço menor e ela se manteve em
terapia até terminar o seguro desemprego dela. Ela decidiu parar, pois priorizava
outras coisas mais importantes que a terapia, e com razão. Conhecendo ela não
aceitaria continuar sem me pagar por algum tempo, deixando para acertarmos no
futuro. E nesta situação não é válida, terapia não pode ser caridade.
HLG – Em alguma oportunidade a decisão pelo fim da terapia partiu de você? Como
foi tomar essa decisão? Que sensação você teve?
CPT2 – Não. Você diz por alguma limitação minha, não! Sempre que encontrei
minhas dificuldades pessoais e busquei trabalha-las pessoalmente, em terapia ou
supervisão. Realmente não tive que encaminhar alguma paciente por limitação.
HLG – Você poderia citar algum caso que faça referência ao nosso tema de
pesquisa?
CPT2 – Aquele caso que já citei. Faz referência a dificuldade de lidar com o fim da
relação, mas acho que a experiência profissional acaba por aliviar as emoções com
relação a esta questão. Porém nunca estaremos preparados para todas as situações
que irão aparecer no consultório.
100
Transcrição
MLT - Qual (s) faixa (s) etária(s) você atende? Atende alguma demanda especifica?
CPT3 - Geralmente eu atendo basicamente todas as faixas etárias, mas com o que
to trabalhando agora é mais com crianças e com adulto ne, dos vinte para cima. Na
verdade eu vou atendendo o que vai aparecendo, não tenho uma demanda
específica.
brincando com os netos. Então a questão do luto pra ela, na verdade, era mais a
perda dos movimentos do que até a possibilidade de não durar muito tempo, por
conta da doença né. Porque pra ela era pior ficar paralisada do que morrer né. Então
ai a gente vai lidando de uma forma específica com cada caso. Mas na minha vida
profissional também, as questões assim de perdas e tudo mais, elas sempre foram
relacionadas a outras coisas, então de perda de emprego, não de perda de uma
pessoa querida, na situação de morte mesmo né. Então eu sempre trabalhei mais
com outras questões, então um término de um namoro, perdeu o emprego, se
mudou de cidade, então são mais essas questões que eu tenho encontrado
atualmente nos meus atendimentos.
MLT - O fim de uma relação terapêutica em algum momento foi tema de supervisão
ou de alguma sessão com seu terapeuta (caso faça terapia ou tenha feito)? Qual ou
quais motivo(s) o levaram a discutir tais aspectos?
CPT3- Sim. Então, porque muitas vezes o que eu tenho bastante experiência de fim
de relação terapêutica é com criança. Porque ai os pais acabam tomando algumas
decisões que não ficam sobre o controle do terapeuta, então muitas vezes a gente
está atendendo, ai a criança apresenta uma melhora o pai vai lá e tira da terapia. Ou
então o pai quer um resultado muito rápido, e a gente sabe que as coisas não
acontecem rapidamente ai tira a criança da terapia também. Então os casos que me
fizeram discutir em supervisão a questão de perda mesmo, foram nesse sentido né.
Ou então algum cliente que fica muito abalado com a perda do emprego né, ou pelo
fim de um relacionamento, ai eu sempre discuto pra ver quais são as possibilidades
que a gente tem dentro ali daquele caso, pra ver a melhor maneira de atuar, pra eu
poder fazer um acolhimento mais efetivo, pra pessoa poder se sentir entendida,
compreendida. Então eu acho que é mais nesse sentindo. Mas assim, acho que
essas situações sempre são discutidas em supervisão.
Não vem porque quer ou porque está procurando alguma mudança, então eu acho
que essa é a forma de rompimento mais difícil, porque ai também não deixa o
terapeuta saber se o problema também não está na relação terapêutica. Eu acho
que isso acaba dificultando bastante até a própria discriminação do terapeuta, se
tem alguma coisa do meu comportamento enquanto terapeuta que está produzindo
esse rompimento. É claro que daí discutindo nas supervisões a gente acaba
analisando algumas coisas e a gente até detecta não, será que foi porque eu puxei
muito aqui ou muito punitiva em um certo sentido e a pessoa não aguentou essa
análise que eu fiz, ou eu não soube entender ela do jeito que ela esperava que eu
fizesse né. Mas eu acho, que esse do cliente sair e não dar nenhuma satisfação é a
mais difícil. Já passei por isso de clientes que não atendem mais telefone, não
respondem e mail, você pode deixar milhões de recados no celular e a pessoa não
retorna, então eu acho que é uma situação muito difícil, porque coloca o terapeuta
numa posição até meio constrangedora né, porque tem clientes que as vezes até
rompem e não fazem o pagamento né, então a gente precisa ligar cobrando, então
fica muito difícil. Coloca a gente numa posição que as vezes nem tem muito
repertório para lidar, ficar cobrando, ficar ligando então é um pouco complicado.
falava pra mim “eu sei tudo isso que você está me falando”, só que aí a hora que a
gente começou a discutir, tudo bem que você sabe, mas porque não faz, ai ele falou
também que não dava, que ele estava com muito trabalho. Então, é bastante comum
na verdade o cliente interromper, e ai aqueles clientes que a gente vê que não estão
aderindo muito, eu acho que a gente consegue perceber que uma hora ele vai
abandonar. Tem outro cliente que veio porque a namorada que obrigou, então ele
vinha, mal falava dos problemas, ele não queria falar e ai a hora que ele começou a
se abrir e tudo, ele desistiu também, não quis, não voltou mais.
MLT- E nesses casos assim, você tem bastante cliente que volta ao tratamento ou
isso depende muito?)
CPT3 - Voltam bastante, tem alguns clientes que param e depois voltam, e tem
outros clientes que eu não sei se procuram outros profissionais ou se param mesmo.
disposta a discutir as questões que estão incomodando. Às vezes a pessoa até vem
obrigada, mas aí vem e gosta e ai engata, mas a maioria das vezes não da muito
certo, e a pessoa não fica muito tempo, às vezes fica um, dois meses, seis, oito
sessões, dai já da um jeito de se esquivar, porque a pessoa precisa estar preparada
pra enfrentar uma terapia porque não é fácil, de jeito nenhum, tem que ter muita
coragem, porque é mexer com coisas que às vezes estavam quietinhas, mas que
vão começar a se manifestar, então eu acho que esse é um dos aspectos que são
desenvolvidos também com essa questão. E também pode estra relacionado com a
resolução do problema. O cliente às vezes busca por um problema bem específico,
bem pontual e ai a gente resolve e pronto.
porque a minha análise é que ela não deu conta, porque eu atendi uma cliente que
tinha um sofrimento muito verdadeiro só que no começo eu tive dificuldade pra
aceitar que ela estava sofrendo realmente como ela estava sofrendo, porque uma
diferença de valores ai entra mais na questão pessoal do terapeuta, que era muito
grande, mas ai eu sempre pensava que pra ela esse sofrimento é muito verdadeiro,
o valor dela é diferente do meu, eu preciso entender que isso produz sofrimento, por
mais que eu ache que não precisaria, sabe, então eu acho que essa questão de
empatia a gente sempre tem que estar tentando exercitar, sempre, sempre. Porque
até o Hélio fala qual o objetivo sempre da primeira sessão? Fazer com que o cliente
volte na próxima, então eu preciso ser muito acolhedora, eu preciso tentar entender,
eu acho que uma das questões é essa, num primeiro contato você tentar ser bem
enfático, tentar entender o sofrimento daquele cliente. Outra questão que eu acho
que pode influenciar é se o terapeuta é muito punitivo. Se ele critica muito, se ele
acaba julgando o cliente nas situações, porque tem gente que fala, nem sei se eu
vou te contar porque eu não sei o que você vai pensar, então a gente precisa estar
sempre sob controle disso, porque o cliente pode contar uma coisa que você pensa
eu não vou puni-lo, mas você faz uma cara de desagrado. Esse é um dos motivos,
quando o terapeuta é muito inassertivo também, ai ele não consegue confrontar, ele
não consegue fazer as análises do cliente, então ai o cliente vê que a terapia não
está andando, ah, só eu que falo, ele não fala nada, tudo que eu falo ele acha que é
certo. Então eu acho que são algumas questões que acabam prejudicando o
andamento da terapia e que tem haver com a pessoa do terapeuta. Ou quando o
terapeuta vai atender uma demanda que ele não tem contato pra isso, eu acho que
isso também pode influenciar bastante.
MLT - Em alguma oportunidade a decisão pelo fim da terapia partiu de você? Como
foi tomar essa decisão? Que sensação você teve?
CPT3 - Teve um caso que eu lembro muito assim que era uma adolescente que ela
tinha uns doze ou treze anos, e que veio fazer a terapia porque a mãe achava que
ela deveria fazer a terapia, e ela chegava nas sessões e ficava muda, ela não
conversava, ela não queria contar nada, então era bem difícil. Aí, em supervisão, a
supervisora e eu decidimos que a gente não ia prosseguir a terapia. E foi muito difícil
falar com essa cliente, porque a mãe da cliente tinha um vínculo forte com a pessoa
que me indicou, que também tinha um vínculo comigo, e ai a menina não gostou de
108
eu ter pontuado pra ela que a gente ia encerrar, porque eu achava que ela não via
muito proveito na terapia, tanto que ai ela continuou mais um tempo, mas ai depois
entrou de férias e depois disso ela não voltou mais. Foi a situação mais difícil que eu
passei em relação a término, porque envolvia outras coisas também, e a cliente não
recebeu bem, a mãe também não gostou, porque eu passei isso pra cliente e pra
mãe, porque a única coisa que ela conversava era sobre o cachorro, que ela
adorava cachorro e ela tinha vários cachorros e ela ficava contando que ensinava o
cachorro a buscar a bolinha, e ela só conversava disso. E eu sabia, porque eu
conversava com a mãe também, que ela tinha alguns problemas de amizades na
escola, que ela não tinha amigas, que ela tinha um déficit de atividades sociais, só
que quando eu tentava abordar esses assuntos ela se esquivava, não falava, e era
bem complicado. E eu também não sei era um pouco de dificuldade minha de lidar
com a cliente, eu acho que tinha isso também, eu acho que eu não soube variar meu
comportamento suficiente pra fazer com que ela se engajasse na terapia. Então eu
acho que foi a situação mais difícil que eu já passei.
MLT - Você poderia citar algum caso que faça referência ao nosso tema de
pesquisa?
109
CPT3 - Teve um cliente que foi positivo, então, o que aconteceu, ele tinha vinte anos
na época que ele veio procurar a terapia, e na primeira sessão a mãe dele veio
conversar também e eu estranhei, falei nossa, um moço de vinte anos e a mãe veio
conversar também. Aí ele veio porque ele era muito agressivo, tinha muitos
problemas em casa, com a namorada, com os pais, e ele queria, mas não queria
fazer a terapia. Ele veio porque eles tinham terminado, ele e a namorada, ai eles
voltaram e ele estava mal ainda. Aí no começo a gente foi discutindo essas questões
da namorada, e ele era muito agressivo, saia batendo porta, só que ele era um
menino muito legal, ele era muito inteligente e ai conforme a gente foi conversando
ele foi trazendo outras coisas, então não eram só problemas com a namorada, eram
problemas com o pai também, problemas na faculdade, que ele fazia um curso que
não ia bem de jeito nenhum, então a gente foi fazendo todo um percurso ai pra
trabalhar esse repertório agressivo, ensinar respostas novas, e ele foi produzindo
bons resultados, tanto que chegou uma época que ele acabou mudou de curso, foi
fazer um outro curso junto com a faculdade que ele ia mal, enfim, e logo que ele
começou fazer o outro curso ele logo começou fazer um estágio, então ele fazia uma
faculdade de manhã, o estágio a tarde e o outro curso a noite e com isso não
sobrava tempo deve vir pra terapia. E ai a gente decidiu encerrar. E a minha mãe
conhece a mãe dele, tanto que foi por isso que ele foi encaminhado pra mim e tudo
mais, mas eu nunca tive muito contato com ele, só conhecia de vista, então tudo o
que acontece com ele, ele manda um recado pra mim. Então ele conta pra mãe, que
conta pra minha mãe, pra minha mãe me contar. Então eu sempre sei das coisas
que estão acontecendo na vida dele e ele sempre me manda os recados. Foi uma
situação de perda, mas eu acho que das perdas ruins essa foi uma perda muito
positiva, pois a gente acabou encerrando porque realmente ele não tinha como vir,
porque era uma rotina muito puxada, mas ai o que eu posso observar daqui pra
frente, que vários resultados que a gente teve na época todos se mantém, então eu
acho que é um caso bem legal assim pra gente ver que nem sempre a perda é uma
coisa negativa, eu acho que no caso dele foi muito positivo, porque ele já estava
com um repertório ‘pré-requisito’ já pra enfrentar as outras situações, tanto que ele
se deu super bem assim, no final ele acabou terminando com essa namorada, que
era uma coisa que a gente discutia muito, que ele achava que ia acontecer, ele está
trabalhando, foi fazer intercâmbio pelo próprio trabalho, então assim, ele conseguiu
ir pra frente, eu achei que foi um caso bem positivo assim, que eu fico bastante
110
contente quando eu fico sabendo as novidades dele, porque foi uma perda, foi uma
interrupção, mas eu sempre tenho notícias dele, eu acho super legal. E como a
gente falou de vários casos que não deram certo, esse aqui pra encerrar foi bem
positivo. Isso é um diferencial, porque foi uma perda muito difícil pra terapeuta
porque eu gostava muito dele, ele era um cliente muito reforçador, porque a gente
discutia, ele pensava em casa, fazia as tentativas, então é muito legal, e foi muito
difícil pra terapeuta porque a gente acaba gostando dos clientes, e por mais que
tivesse coisas pra serem trabalhadas, ele saiu com um bom suporte, eu acho,
porque ele conseguiu fazer o resto da conversa com ele mesmo, porque na verdade
esse é o nosso objetivo né? Eu acho legal a gente pensar nesse lado também, que
nem sempre a perda é ruim. Não foi ruim, na época foi difícil, mas não foi ruim, foi
bom no final.
111
Transcrição
autocrítica do que poderia ter feito para que aquilo fosse diferente, sentir a tristeza
que está envolvida no processo da perda. Mas o luto é um processo natural. Sem
passar por ele, se você se detiver em alguma fase desse processo você não
consegue superar o luto e isso vai começar a interferir na forma com que você
funciona afetivamente consigo mesmo, com as outras pessoas, com o trabalho e
como você interage com o mundo. Então passar pelo luto é um processo que não é
simples, mas que precisa ser feito.
LAP - O fim de uma relação terapêutica em algum momento foi tema de supervisão:
CPT4 - Não. Para mim os temas de supervisão que eu ainda tenho, eu ainda passo
por supervisão, eu levo caso para a supervisão. Esta orientação é algo que você
nunca pode deixar de ter, é uma troca com o outro profissional. E serve para trocar
experiências, para que você possa ter uma expansão.
No caso dos encerramentos e da alta destes pacientes isso sempre foi um processo
tranquilo. Primeiro porque numa linha comportamental isso flui, o próprio processo
terapêutico é um processo pedagógico, onde o indivíduo aprende a identificar como
ele funciona e interage com o mundo e a medida em que ele consegue aprender
isso, entender e ter um certo domínio, um certo gerenciamento da forma com que
ele funciona ele mesmo já percebe que o que ele já tem já é suficiente para pra ele
dar conta. Não exatamente da queixa, mas da demanda real, porque o paciente
entra no processo com queixas, mas sem uma noção do que ele realmente precisa.
É muito difícil isso acontecer. Então ao longo do processo ele vai aprender a
identificar da queixa, o que é a demanda real dele, o que realmente precisa
modificar e conhecer dele mesmo para seguir em frente. E a medida em que ele
114
trabalha esta demanda, ele mesmo percebe que está num ponto onde ele da conta
daquilo sozinho . E ai a gente vai fazendo um distanciamento progressivo. Você vai
tornado as sessões, se é uma vez por semana, passa a ser uma vez a cada quinze
dias, uma sessão mensal até que ele possa dar conta sozinho. E ai esse
acompanhamento pode ser a distancia, durante um tempo a gente fica sempre a
disposição para um telefonema uma sessão eventual até que o individuo se sinta
apto a dar conta de tudo sozinho. Então eu ainda não tive necessidade de recorrer a
uma supervisão para este processo, mas já tive vários pacientes que tiveram alta,
até porque quando você trabalha numa linha comportamental dependendo das
queixas que o individuo tem e da demanda tem um processo mais rápido. Um ciclo
de mais ou menos um ano você tem pacientes que entraram com algum transtorno
de ansiedade por exemplo, uma fobia social, um pânico especifico e aquilo em um
ano você consegue minimizar o suficiente para que este individuo se sinta em
condições de dar conta disso sozinho.
LAP - Durante os atendimentos você acha que é possível ver indícios de que vai
haver rompimento?
CPT4 - Isso depende do paciente, mas da pra você ver do ponto de vista
comportamental é muito importante a gente ter uma leitura corporal do paciente. Da
coerência entre o comportamento verbal dele, e o comportamento gestual. Esta
coerência ou incoerência me da uma noção do que esta acontecendo do ponto de
vista encoberto. Então você percebe como ele esta se sentindo. Então a gente vai
percebendo algum destes indícios e tentando trabalhar, mas isso não significa
necessariamente que você vai conseguir evitar esta ruptura. Eu vivi duas vezes só
esta experiência de abandono, porque eu procuro nas três primeiras sessões
apresentar para o paciente como é processo terapêutico, o que eu preciso que ele
faça e qual é o meu papel. E tentar estabelecer com ele uma espécie de pacto
terapêutico. E isso tem evitado que eu incorpore paciente que terão dificuldades de
aderir a este tipo de abordagem comportamental.
LAP - Nos já abordamos motivos que podem desencadear o fim da terapia. Você
tem algum outro que gostaria de ressaltar?
CPT4 - Bom um dos motivos de eu não trabalhar com crianças, é que por mais que
ela esteja tendo adesão ao processo terapêutico e ela goste da terapia, os pais tem
116
interferência neste processo. Então a chance de haver uma ruptura da terapia por
parte dos pais. Eu já vivenciei uma situação destas, um dois casos de abandono que
eu tive foi: Era um garoto, 14 anos que tinha algumas dificuldades. Os pais
trouxeram para o processo terapêutico, só que eles tinham construído com ele uma
realidade e uma relação de dependência muito forte. A medida em que ele foi
vivendo o processo terapêutico ele foi tomando consciência disso e começando a
trabalhar sua própria independência. A questionar os pais em varias atitudes, a
queres saber o porquê ele deveria agir ou deixar de agir de determinada maneira, e
os pais entenderam isso como um “complô”. Que eu estava colocando o filho contra
eles. Então mesmo tendo chamado os pais para participar de algumas sessões,
interagido com eles, explicado o que estava acontecendo, atuado individualmente
com pai e filho, mãe e filho e procurado trabalhar os conflitos que estavam
acontecendo, os pais achavam que a minha intervenção tava fazendo com que o
filho se tornasse um adolescente rebelde. Então o que fizeram? Decidiram que ele
deveria ir para um outro terapeuta que não abordasse a questão desta forma.
Porque você tinha um garoto de 14 anos com enurese noturna, era um menino
inseguro, tinha varias ideias de que estava sendo perseguido, que era muito
observado o tempo todo pelas outras pessoas. O que se fosse mantido, a chance de
ele desenvolver um quadro psicótico no futuro ou ter facilidade de adesão a drogas
que momentaneamente pudessem tira-lo desta situação era uma probabilidade que
não podia deixar de ser questionada. Então construir uma autonomia que desse
condições de ele sair sozinho, dele poder ir a lugares sozinho, a fazer as próprias
escolhas, a decidir qual filme ele queria assistir no cinema sem que o pai e a mãe
viessem a interferir. Ah então você esta transformando meu filho num rebelde, sendo
que a medida em que ele fazia isso a enurese desapareceu, ele começou a ganhar
auto- confiança para tomar as decisões sozinho. Então isso é um dos critérios que
eu uso quando eu recebo, então eu tenho dois pacientes que estão nesta faixa,
entre 13 e 14 anos. Então eu procuro ter uma conversa muito clara com os pais
sobre o que os pais querem desta terapia, o que eles estão imaginando que vai
acontecer. Se eles querem uma pessoa independente que funciona sozinha, ou u
bichinho de estimação? Então a medida em que eu esclareço isso com os pais é
que eu aceito este paciente, senão eu encaminho para outra pessoa que possa
fazer um trabalho diferente com o pais.
117
LAP - A nossa próxima pergunta seria falar sobre os motivos que ocasionaram o fim
da terapia. Um deles você acabou de relatar, poderia falar sobre o outro?
CPT4 - O outro foi: A paciente era do sexo feminino, ele chegou com queixa sobre a
convivência. Que ela tinha dificuldades em estruturar o relacionamento, que já tinha
mais de 35 anos de idade e não conseguia estabelecer relacionamentos fixos, e a
medida em que a gente foi trabalhando estes processo, foi se percebendo que ela
tinha vivido situações sexuais muito agressivas na juventude. A perda da virgindade
tinha acontecido de uma maneira muito desagradável para ela. Os namoros sempre
o sexo não era uma coisa no qual ela se sentia a vontade. Então a partir daí
percebeu-se que a demanda envolvia trabalhar mais a fundo a visão que ela tinha
do contato físico, do carinho e da sexualidade. E ela começou a não de sentir a
vontade para falar disso comigo porque eu era um homem. Então ela começou a
faltar as sessões, ai eu chamei para esta conversa de entendimento, propus que ela
conversasse com uma terapeuta. E ela então que isso não era algo que ela quisesse
e nem estava em condições de mexer. Então ela resolver parar definitivamente.
Então eu deixei indicações, caso ela em algum momento quisesse tratar deste
assunto.
LAP - Você acha motivos financeiros são motivos para o termino da terapia?
CPT4 - Pode , mas no meu caso não tem acontecido. Eu procuro negociar ao
máximo e tenho como critério: o bem estar do paciente Eu falo sobre o valor da
sessão. Então eu faço uma primeira sessão onde eu não cobro e que não tem
duração muito bem definida, geralmente entre uma hora e meia e ate duas horas.
Ate para que o paciente diga o quanto a questão financeira pesa pra ele. Se pesa eu
peço para que ele faça uma proposta que seja dele. Mas que isso não seja uma
espécie de leilão. Então a gente define isso e estabelece um prazo para rever isso.
Então eu chamo isso de financiamento afetivo, a gente estabelece um vinculo onde
o preço não seja um motivo para você não ter uma continuidade e um bom
tratamento.
LAP - Você pode citar algum caso que faça referencia ao nosso tema de pesquisa?
118
Transcrição
BAP - Qual (s) faixa (s) etária(s) você atende? Atende alguma demanda especifica?
CPT5 - Atendo o público infantil, atendo alguns adolescentes e apenas uma adulta.
Devido ao meu histórico na educação, sempre atuei na educação e desenvolvimento
infantil. Após fazer psicologia, fiz também pedagogia para obter conhecimento
voltado para educação. Porém ressalto que apesar de atender crianças, acabamos
atuando muito no contexto familiar, pois pela criança, temos contato com os pais, até
mesmo o fato de precisarmos do envolvimento dos pais no trabalho terapêutico.
Dessa forma acabamos envolvendo os pais e a família da criança.
BAP - O fim de uma relação terapêutica em algum momento foi tema de supervisão
ou de alguma sessão com seu terapeuta (caso faça terapia ou tenha feito)? Quais
ou quais motivos(s), o levou a discutir tais aspectos?
CPT5 - Sim, tanto levei para minha supervisão, quanto para a minha terapia. Aliás,
estas duas coisas não podem faltar para um profissional da área clínica. Foi o caso
de uma criança de 9 anos, na época eu fazia o estágio clínico da faculdade, o
atendimento era voltado para outra abordagem, não era a comportamental, era a
abordagem centrada na pessoa de Carl Rogers. O fato é que nós havíamos atingido
os objetivos. O fato é que a criança solicitou voltar pouco tempo depois, mas a
questão era que a criança não apresentava nenhuma situação a ser resolvida, era
um caso de querer fazer terapia por prazer, vontade e não necessidade. Ao mesmo
tempo em que tive meu ego inflado, alguém querer prosseguir sem motivos
aparentes e mais por gostar dos encontros terapêuticos, mas não era esta a
questão. Então tivemos que conversar qual era a fundamentação do atendimento,
por isso levei para minha supervisão e também para minha terapia, pois aquilo me
causava dúvidas também. Mas fui bem orientado pelos profissionais da época e o
caso teve um encerramento saudável.
você direciona para estas outras demandas e deixa isto bem claro para o paciente.
Pois ele entrou por um motivo e este nós já havíamos alcançado.
BAP - Em alguma oportunidade a decisão pelo fim da terapia partiu de você? Como
foi tomar essa decisão? Que sensação você teve?
CPT5 - É muito boa a sensação, pois os objetivos foram alcançados. É muito bom
você mostrar ao paciente como ele está se comportando frente às situações antes
problemas, os seus sentimentos, as consequências de hoje em dia, como estão
diferentes. Isso é também um exercício de autoconfiança que você trabalha com o
paciente, para ele sair da terapia disposto a seguir lá fora de forma autônoma.
BAP - Você poderia citar algum caso que faça referência ao nosso tema de
pesquisa?
CPT5 - Deixa-me pensar. Pra ser sincero eu senti muito mais quando eu deixei a
área da educação para trabalhar com clínica, esta mudança foi significativa,
pensando em perda. No mais, eu acredito que eu não tenha algum caso marcante,
obviamente sinto saudade, afinal de conta criamos certo vínculo, mas para
trabalharmos na clínica com esta esfera emocional, você tem que procurar se
envolver de forma profissional. Caso contrário, terá dificuldades, então é importante
sempre cuidar e estar atento a isto.